Posts da categoria “Divagações”

O detector de partículas

2025-04-19 00:00:00 +0000

Poucos minutos antes das 14h, entramos na fila para o “passeio lunar” – botar as crianças num colete, penduradas com roldanas e contrapesos, pra sentir a diferença gravitacional. Enquanto esperávamos, dei uma olhada nas outras exposições do museu de ciências e notei uma mesa de vidro com uma janela quadrada, cuidadosamente iluminada. Quando olhei dentro, havia uma fina camada de névoa e, nela, incontáveis rastros surgiam e desapareciam. Eram rastros de todos os tipos – uns sinuosos, outros retos e grossos, outros longos e finos. O texto ao redor da caixa dizia que aquilo era uma câmara de nuvens, e as linhas eram o resultado de partículas de radiação ionizante cruzando a névoa. Lembrei de já ter visto um vídeo disso, há muito tempo, mas sempre achei que fosse coisa complicada de laboratório e nunca imaginei ver uma dessas com meus próprios olhos.

Duas demissões

2025-03-11 00:00:00 +0000

1 de Novembro de 2013

Faltavam alguns minutos pra reunião com o chefe - o dono da agência. Era tempo suficiente pra imprimir a planilha com o modelo de controle de horas do time. Desde que comecei a trabalhar como diretor de projetos em agências de publicidade sempre me incomodou a falta de controle sobre esse tipo de custo. Era um problema simples de resolver.

Entrei na sala do chefe, coloquei o papel em cima da mesa e, antes que eu pudesse começar a falar, ele foi direto ao assunto:

“Então, Tinoco, nós estamos te demitindo.”

É impossível descrever o que acontece na sua mente depois de ouvir essa frase. O raciocínio lógico vai direto pro buraco que se abre no seu estômago, e você fica lá, paralisado. A única memória que fica é a do trauma. Ele continuou falando, mas eu só olhava pro meu papel com o controle de horas e pensava no tempo que perdi naquilo. Pensei também que agora fazia sentido o comportamento frio dos outros diretores da agência comigo na última semana - todo mundo já devia saber. Aí me lembrei que era sexta-feira, e fiquei pensando na recomendação do meu antigo RH de que você nunca faz demissões na sexta-feira, pra pessoa poder usar outros dias úteis da semana pra buscar ajuda.

O chefe concluiu dizendo alguma coisa sobre eu ir procurar terapia, o que eu achei incrivelmente ofensivo. E aí ele se levantou e me deu um abraço, que eu, incapaz de raciocinar, aceitei. Me arrependo disso até hoje.

Voltei pra minha mesa e, catatônico, peguei minhas coisas e saí. A agência ficava a alguns quarteirões da Paulista, então andei até o MASP e me sentei no parque do lado oposto da avenida. Eu olhava as centenas de pessoas ao meu redor e só conseguia pensar que todas elas tinham um trabalho - exceto eu. Todas elas tinham um lugar pra ir ou algo pra fazer, e eu era o sem-propósito, sentado no parque em dia de semana, sem ter pra onde ir. Completamente sozinho no meu fracasso. Foi o sentimento mais desolador que tive até hoje.

Comecei a andar de volta pra casa e acabei fazendo o trajeto inteiro a pé - uma caminhada de quase 3 horas, com a cabeça vazia e cheia, e com o coração entre o abandono e a desesperança. Enquanto passava por um dos viadutos da Av. Santo Amaro, tirei a foto abaixo, e postei no Instagram com a legenda: “pra onde ir agora?”

Rua com a pintura de "devagar" no asfalto, mas sem as duas primeiras letras


4 de Março de 2025

Eu e Bethania descemos do trem na Union Station, como sempre - mas ao invés da preguiça matinal usual, estávamos ambos incrivelmente tensos. Descemos até o saguão do desembarque. Um beijo rápido, um olhar sério, um “boa sorte” austero, e ela vai pra saída norte e eu pra saída sul - trabalhamos em prédios diferentes, mas no mesmo banco, e naquele dia com a mesma missão amarga: mandar gente embora.

Mesmo com pandemia (e um mandato inteiro de um certo presidente, laranja, burro e fascista, no sul da fronteira) - tivemos uma longa bonança no trabalho que, como tudo que é bom, havia chegado ao fim. Era hora da infame “reestruturação”. Bethania trabalha no RH, então o trabalho dela era apoiar um monte de executivos na execução das demissões. Ela fez quase tudo: os pacotes, os novos organogramas e, naquele dia, as fatídicas reuniões. Já eu tive mais sorte: meu chefe é quem iria chamar os escolhidos pra bater um papo na salinha.

Desci até o saguão do prédio pra pegar um café. Enquanto espero na fila, vejo passar a diretora de tecnologia e, com ela, a Suzanne, líder de um dos times de desenvolvimento. Mas elas iam andando em direção à saída. A diretora de vestido e salto alto, e só com o crachá na mão. Suzanne estava de jaqueta, touca e mochila. Ela me viu e, num leve aceno de cabeça, confirmou o que eu suspeitava.

De volta ao terceiro andar, era bem óbvio que todo mundo já sabia o que estava acontecendo. Os sorrisos sumiram. Todo mundo passava pelo corredor se entreolhando. Foi, de longe, a manhã mais pesada desde que comecei a trabalhar no banco.

Meu chefe manda uma mensagem pra mim e pro outro diretor com gente pra demitir, relembrando os horários das reuniões pras demissões do nosso time. “Eu vou falar com eles e, de lá, eles devem ir direto pro elevador. Preciso que vocês passem na mesa deles pra pegar as coisas deles e trazer pra cá”. Pra evitar encontrar com as pessoas, a gente combinou um local próximo da salinha pra deixar os pertences de cada um.

Um dos meus programadores - vou chamá-lo de Madureira - era o primeiro da lista. Com dois anos de banco, ele era tão ruim de serviço que ficou sem bônus de performance por dois anos seguidos. Eu botei ele no PRP (“Plano de Recuperação de Performance”), envolvi o RH, dei carta de advertência, fiz absolutamente tudo que poderia ter feito, e nada. É bem provável que ele tenha um segundo emprego e estava só enrolando no nosso. De todos os ângulos era uma demissão correta, mas a única coisa que eu conseguia pensar era no filho dele, que nasceu ano passado. Ainda tenho a foto dele no meu telefone.

“Madureira chegou aqui”, disse meu chefe. Fui até a mesa dele. Peguei a jaqueta, guardei as coisas da mesa na mochila. O café da caneca dele ainda estava quente. Me lembrei de novo do filho dele.


Depois da longa caminhada pela Santo Amaro, repensei (e reconstruí) toda a minha carreira fazendo de tudo pra nunca mais passar por isso de novo. Nessa, eu acertei. No meio das mudanças, fiz o meu filme politicamente, e levei uma relocação de cargo lateral, com mais destaque. Meu trabalho ficou ainda melhor.

Na época da minha demissão, eu pensava muito em como seria bom ter estabilidade durante cortes de pessoal. Nessa, eu errei. A gente se sente horrível do mesmo jeito.

Como a depressão me levou às drogas

2025-01-02 00:00:00 +0000

Uma das coisas estereotípicas que fizemos na última visita ao Brasil foi visitar médicos, já que o “SUS Canadense” nem passa perto da variedade e acessibilidade que o BR oferece.

Levamos o Tom numa pediatra. No início eu torci o nariz porque achei que era um desses “médicos de Instagram”, mas a Bê garantiou que não era só fachada e, de fato, depois de umas consultas virtuais, ela parecia mesmo ter uma abordagem super moderna e focada no que há de mais recente em pesquisa científica. Aí aproveitamos a ida pro Brasil pra uma consulta presencial.

Parte da abordagem diferenciada dela é avaliar não somente o moleque, mas também a família - tanto que, pra discutir o desenvolvimento do Tom, ela fez inúmeras perguntas sobre a nossa abordagem como pais. Na idade dele ainda há uma dependência grande nossa para coisas como regulação emocional, comportamentos pró-sociais, etc. Inevitavelmente, a conversa chegou na minha depressão. A médica me fez as perguntas básicas de medicação, e emendou com um comentário surpreendentemente bem informado:

“O duro da depressão nos pais é que ela é uma forma de congelamento. O emocional fica todo paralisado. E aí os filhos chegam pra gente cheios de energia, nos pedindo vida, e aí não temos como corresponder”.

Eu penso muito em como é difícil explicar depressão pra quem nunca passou por isso. É tipo explicar cores pra quem é cego. Por isso, foi um certo alívio ver que eu estava com alguém que, de fato, compreende as nuances do problema - o que me deixou à vontade pra me abrir um pouco na resposta:

“Pois é, a minha maior dor de pai é essa, a de não conseguir corresponder a ele”.

Aí eu olho pra pediatra e ela tá com lágrimas nos olhos. Olho pra Bê, também com lágrimas nos olhos. E eu lá, emocionalmente analfabeto, pensando: “peraí, é pra eu chorar também?”

Choros à parte, a consulta segue e ela, casualmente, solta a prescrição mais inesperada de todas:

“Ok, pra tratar a depressão você deveria começar a usar a canábis”

Meme do "blinking guy"

Eu tava esperando ela continuar a frase com algo tipo “agora olha ali pra câmera escondida”, mas ela confirmou que a coisa era séria: “Pode ser só o CBD, que é o princípio ativo que não te deixa chapado. A dose é de 20mg no mínimo e pode aumentar até 60mg no máximo. Onde vocês moram é legalizado, não é?”


Lá em 2018 eu já não ia bem de saúde mental, e acabei indo visitar o Dr. Google pra explorar possíveis tratamentos com embasamento científico. Foi a época que experimentei com meditação, com ótimos resultados, mas que não deu pra sustentar pela falta de tempo(*). E, veja você, desde aquela época as pesquisa já indicavam o CBD como um tratamento promissor.

Maconha tem, basicamente, dois princípios ativos: o THC, que afeta a mente e te deixa doidão, e o CBD, que afeta o corpo de forma calmante e que, supostamente, tem efeito ansiolítico e antidepressivo. Aqui tem mais detalhes.

Na época o Canadá estava há alguns meses do parlamento passar a legalização. Com isso, a polícia já não ligava mais pro assunto, o que provocou um certo boom de lojinhas abrindo pelas cidades. E nessa, confesso, resolvi queimar a largada (hein, pegou essa) e comprei um frasquinho com 300mg de óleo de CBD. Um grande erro, já que, sem garantia de procedência, muito possivelmente me venderam azeite de oliva, já que ele não fez nenhum efeito e, portanto, considerei o tratamento inefetivo.

Depois da legalização eu experimentei a coisa novamente algumas vezes. Eu estava tentando achar uma alternativa mais saudável do que o álcool para momentos recreativos. E fumar é ruim, suja o pulmão e é pouco prático, então eu fui de comestíveis - ou, mais especificamente, “bebíveis”.

Duas latinhas de bebidas com CBD

Aqui eu cometi outro erro. As opções que experimentei eram todas baseadas só em THC. Aí eu tomava, ficava doidão e super ansioso e paranóico. Só me sobrou concluir que não tinha vocação pra maconheiro e desistir. Mal sabia eu que isso é efeito conhecido de se tomar THC sem CBD junto, já que o CBD “modula” o THC e minimiza efeitos nocivos como - adivinha? - ansiedade.

Mas só fui descobrir isso agora, seis anos depois, depois da pediatra ter me soltado essa recomendação estapafúrdia. Fui no Dr. Google novamente e, depois de me atualizar das últimas pesquisas sobre o assunto, finalmente percebi os erros anteriores.

Chegou, então, a hora de dar uma nova tentativa na alface do capeta - dessa vez sob recomendações médicas.


A experiência do dispensário (a “loja de maconha”) é uma coisa muito surreal. A começar pela aparência: a lei manda que o estabelecimento não tenha vitrine e que o interior não seja visível da rua, então eles sempre tem uma certa aura de mistério. Aí você entra e a coisa tem uma estética meio loja de maquiagem meio desenho do Scooby Doo. Tem produto de todo tipo: acessórios, roupas, parafernália pra fazer baseado e o escambau. Mas tudo detrás do balcão, então você escolhe o que quer e um cara da loja pega pra você. E é no dispensário que eu sempre recebo, de longe, o melhor atendimento de todos os lugares nos quais faço compras. Todos os funcionários são incrivelmente simpáticos e te atendem super bem.

Outra coisa legal é o público que está na loja quando vou lá. Como já dizia o Rappa, de fato, “vem maluco, vem madame, vem maurício, vem atriz” pra comprar. Outro dia eu tava na fila logo atrás de uma velhinha com cara de quem saiu de casa pra ir pro bingo.


Dentre os muitos aspectos nocivos da depressão, um que eu acho particularmente complicado é a perda da sua referência pessoal de humor. Uma pessoa saudável tem seu patamar “padrão” de temperamento; dias normais, dias bons e dias ruins. Na depressão, os dias ruins lentamente se tornam o “novo normal” e, de tanto oscilar entre dias não-tão-ruins e dias péssimos, você acaba achando que a vida sempre foi assim.

Meu dia “normal” era estar cansado o tempo todo, como se seus braços e pernas pesassem o dobro e como se tivessem escamas coladas nos olhos, deixando tudo meio borrado e sem cor. Tomo um café pra dar uma animada e… nada. Tudo é irritante, nada tem um lado bom. “Aff, a Bê estacionou o carro errado de novo”. “Que saco esse povo do trabalho sem iniciativa pra nada”. “E esses brinquedos estúpidos do Tom, entupindo o meio ambiente de plástico inútil”, e por aí vai. Coisas anteriormente prazeirosas, como ouvir música, ficam sem sal ou, também, irritantes.

Comecei com uma dose pequena de 25mg de CBD. Levou uma hora e meia pros efeitos aparecerem, e as primeiras impressões foram, basicamente, a surpreendente lembrança de como eram meus dias normais. “Caralho, era assim que eu me sentia normalmente??”. O corpo volta a ter ânimo pra se mover. Os olhos vêem melhor. Você volta a ter vontade das coisas, volta a estar presente na própria vida, a registrar a felicidade quando algo feliz acontece. As coisas irritantes, como o menino dando faniquito pra ir pra escola, ainda irritam, mas agora elas tem dois lados: “criança é assim mesmo, logo passa”, ao invés de “minha sina é lidar com isso até a morte chegar”. E tudo com zero efeitos psicoativos, então dá pra trabalhar, dirigir, brincar de Lego com o menino pela vigésima vez, tudo sem problemas.

Bethania resumiu bem a coisa outro dia, ao olhar pra mim e dizer: “Ei, você voltou!”.


Tudo é lindo e promissor por enquanto, mas vale reforçar pontos importantes:

  • Resultados de curto prazo não adiantam nada se não forem sustentáveis no longo prazo - ainda preciso ver se meu corpo não vai desenvolver tolerância e, especialmente, como eu reajo sob abstinência (um cenário bem plausível se, por exemplo, eu viajar de férias).
  • Isto não é uma recomendação médica e o que está funcionando pra mim pode não funcionar pra você.

(*) - outro motivo que me desanimou da meditação é que comecei a usar o método dum cara chamado Culadasa, no seu livro “The Mind Illuminated”. O livro é excelente, didático e com viés científico ao invés de místico, o que eu prefiro. Aí vai que no meio de aprender o método do Culadasa, estoura um escândalo de que ele estava traindo a esposa e gastando uma grana preta com amantes e prostitutas (é sério)

A hipótese de Grime-Tinoco

2024-11-01 00:00:00 +0000

Um mito famoso da ciência da computação é de que você precisa ser bom de matemática pra ser um bom programador. Eu sou prova viva desse mito, com dois diplomas de tecnologia, e se você me der uma conta de restaurante pra dividir, eu vou passar apertado. No entanto, um dos canais do YouTube que eu mais gosto de frequentar (no meu raríssimo tempo livre) é o Numberphile, cujo conteúdo é nada menos do que doutores em matemática falando de temas de matemática.

Até certo ponto, é bem justificável o meu interesse. Primeiramente, o trabalho tá incrivelmente tedioso e essa é uma maneira fácil de dar aquela coçadinha nos neurônios. Além disso, eu curto bastante áreas do conhecimento que eu não faço ideia de como funcionam; uma coisa que aprendi com a maturidade é que, quando você se dedica a prestar um pouquinho de atenção à formas de pensar muito diferentes da sua, acaba achando um mundo de aprendizado interessante e surpreendente. Aí volta e meia me vejo procurando saber coisas sobre culinária, ou literatura norte-americana, ou dramaturgia, ou sobre… matemática.

E tem altos cantos do conhecimento matemático que são fascinantes. Um deles é quando você considera o aspecto linguístico dos números, em como eles descrevem o universo em que vivemos - frequentemente, de formas misteriosas. Pegue qualquer círculo em qualquer ponto do universo e, em todos eles, a razão entre a circunferência e o diâmetro é sempre o mesmo número - aquele, o mais famoso número irracional. Ou em como alguns números não podem ser fatorados em nenhum outro número a não ser um ou eles mesmos. E não tem padrão pra sua ocorrência, nem fórmula pra calculá-los todos, o que leva alguns malucos a investirem milhões de dólares em equipamento só pra bater o recorde do maior número primo já encontrado.

Na prática, era pros vídeos do Numberphile serem chatíssimos. Pra começar, o formato é de aula à moda antiga: um professor rascunhando conceitos complicados em uma grande folha de papel. Mas os caras pegam bem leve, vão revelando os problemas aos poucos, de forma bem didática, pra leigos como eu. Com uma vida dedicada à matemática, é de se esperar que eles sejam bastante interessados pelos temas, e é aí que o Numberphile te pega - a empolgação deles vira interesse em você.

É daí o motivo do meu professor predileto do Numberphile ser o Dr. James Grime. Magrelo, esquisito, dentes amarelados… ele definitivamente não é o padrão YouTuber. Mas nenhum dos matemáticos do canal fala com tanta paixão quanto ele. Qualquer explicação, das mais banais, e ele tá lá com um sorriso enorme estampado no rosto. O brilho nos olhos é inconfundível, é o de quem é obviamente completamente apaixonado pelo tema, de quem deriva uma felicidade imensa daqueles momentos de imersão na sua arte.

Hoje à tarde, vendo um dos vídeos dele, eu me toquei que faz muito tempo que não me sinto assim com nada.

Quatro anos e meio depois (ou: retrospectiva 2020, 2021, 2022, 2023, 2024)

2024-10-23 00:00:00 +0000

Desci do ônibus - vermelho, não me lembro a linha - num canto bem velho do centro de Belo Horizonte, e andei até o andar inferior de uma galeria praticamente escondida do movimento da rua, até ver um velho balcão de madeira e várias pessoas esperando do lado de fora. Era ali o lugar da “melhor feijoada da cidade”, segundo a dica dos meus amigos. A dica parecia boa: pela velhice da mobília o lugar claramente existia há décadas, e a fila era razoavelmente grande para o padrão “biroscas de Beagá”. A senhora que me atendeu por uma janelinha na parede também parecia parada no tempo. Ela me deu uma comanda e falou pra eu me sentar.

E então eu acordei.

Eram quatro da manhã. Eu estava no meu quarto, oito mil quilômetros pro norte de Minas Gerais. Meu queixo doía de ranger os dentes - coisa que eu normalmente não fazia, mas que começou a acontecer por conta da vortioxetina. Fiquei pensando se esses sonhos vívidos também são por causa do remédio. Talvez o meu subconsciente esteja um pouco mais próximo da superfície? E que curioso ver que ele está inventando restaurante secreto de feijoada na minha cidade natal.

Olhei pro teto e continuei a pensar. Desde que me mudei pro Canadá, meu foco era exclusivamente o futuro, em refazer a vida por aqui, absorver a cultura daqui, e talvez eu tenha errado um pouco a mão e me desconectado demais do meu passado - que por isso vem pipocando de madrugada sem aviso.

Foi daí que veio a ideia. Chegou a hora de voltar com o blog.


À pretexto de organizar as ideias, comecei uma lista das coisas marcantes que aconteceram nos últimos quatro anos. Levei semanas pra listar tudo. Nem eu fazia ideia de quanta coisa rolou em tão pouco tempo.

2020

Janeiro

Finalmente saiu a cidadania. No dia 23 eu e Bethania nos tornamos, oficialmente, canadenses. Além disso, decidi me tornar vegetariano.

Eu e Bethania com o juiz que concede a cidadania

Fevereiro

Nasceu o Tom. De cesárea, às 3:14 da tarde.

Tom, ainda com algumas horas de vida

O nascimento foi sem problemas, mas o leite demorou a vir e ele perdeu muito peso no primeiro dia. No segundo ele já tava tomando fórmula e ficou tudo bem - mas, pela primeira vez na vida, eu chorei de alívio.

Março

A OMS declara, oficialmente, o coronavírus como pandemia. Ninguém sabe quando sai vacina, como é a transmissão, nada. Pra piorar, o povo ainda inventa de fazer panic buying e começa a esvaziar prateleira de supermercado achando que é o apocalipse. E a gente com um recém-nascido em casa e um monte de incertezas.

Prateleiras vazias de supermercado

Maio

Aniversário de Bethania. A comemoração é online, obviamente. E o presente…

Cartão de aniversário que diz: "Eu queria te dar um cruzeiro de aniversário, mas estava fora do meu orçamento então fui de segunda opção. A parte do orçamento está riscada e eu escrevi em cima: "estávamos no meio da porra da pandemia"

O bom (?) de ter um recém nascido numa pandemia é que não sobra muito tempo pra ter medo.

Agosto

Com seis meses de vida, o brinquedo preferido do Tom são… livros. Eu passo horas lendo pra ele.

Vários livros infantis espalhados pelo chão"

Setembro

Pavlov começa a se comportar bem esquisito. O veterinário diz que é demência canina. Toda noite ele anda sem rumo pela casa, para num canto, fica desorientado e começa a chorar.

Comecei a dormir no sofá da sala de tevê, com Pavlov ao lado, num cercadinho que reaproveitamos do Tom, pra acudí-lo durante a noite e limpar eventuais cocôs e xixis.

Dezembro

Primeiro Natal e primeiro ano novo do Tom. Tudo ainda no Zoom, sob lockdown.

Completei um ano sem comer carne. Médico pede um exame de sangue. Meu colesterol está nas alturas.


2021

Janeiro

14 anos e dois continentes depois, meu grande companheiro canino se foi. Adeus, Pavlov.

Pavlov, o cachorro, coberto de neve"

Morreu sem dor, nas mãos do veterinário e com Bethania. Abriram uma exceção do isolamento da pandemia para ela poder acompanhar. A gata ficou uma semana na porta de casa, esperando seu amigo voltar.

Fevereiro

Primeiro aniversário do Tom - um ano! A família inteira acompanha a festinha… pela webcam.

Uns dias depois, ligo pro meu pai (72 anos, grupo de risco pra COVID) aos berros porque o imbecil do cunhado bolsonarista dele foi lá, no meio da pandemia, ainda sem vacina, pra visitá-lo e ver um jogo do Galo.

Neste mês também acabou a licença maternidade de Bethania. Sem vacina e sem opções melhores, temos que mandar o Tom para a creche. Por conta do isolamento, é a primeira vez que ele fica em outro lugar e com outras pessoas. E não podemos nem entrar no lugar pra ver como é.

Março

O movimento anti-máscara começa a ficar bem evidente. Vou no shopping e tem uma menina passeando sem máscara e gritando “o vírus não existe!”. Vou no supermercado e tem uma senhora, sem máscara, e com o nariz escorrendo. Nas notícias do Brasil eu tenho um amigo que quase morreu de COVID, outro com o sogro em uma UTI improvisada (a UTI normal estava lotada), outro com o tio no hospital com 30% de capacidade pulmonar.

Abril

  • Primeiro alívio: meu pai recebe a primeira dose da vacina pra COVID.
  • O sogro do meu amigo morre na UTI improvisada.
  • Tom, que ainda não sabia engatinhar, resolve começar a andar de uma vez.
  • Meu bairro sobe na fila da prioridade da vacina da COVID porque é uma das regiões com maior taxa de infecção de Ontário. No dia 21 eu, finalmente, recebo minha primeira dose da vacina (Moderna). Mas nem celebro porque, no Brasil, o cunhado do amigo que perdeu o sogro morre também.
  • No dia 22 tivemos que tirar o Tom da creche às pressas porque descobriram que um dos pais estava mentindo pros funcionários e mandando o filho pra creche enquanto tinha gente em casa com sintomas.

Maio

Tom segue firme na fixação com livros, então dei pra ele umas cartinhas com palavras. Ele pega a cartinha escrito “hello” e acena… mesmo que eu não leia o que está na carta.

Junho

Tomei minha segunda dose da vacina (Moderna, novamente). É também o segundo ano seguido que uma mamãe-canário faz ninho na janela do banheiro.

Canário sentado no ninho"

Julho

O trabalho, antes estressante, agora está extremamente estressante. Passo semanas acordando de madrugada com o cérebro fritando. Então comecei a me sentir fisicamente mal, a ponto de tirar dois dias de licença por conta de estresse.

Comecei a me consultar com uma psicóloga.

Setembro

No trabalho tava rolando um town hall do departamento. Eu fiquei em casa, então tava acompanhando pelo celular. Aí fui ao banheiro. De repente, anunciam meu nome…

Foi assim que recebi meu primeiro prêmio de performance sentado na privada.

Além disso, votei pela primeira vez como cidadão canadense. Essa não deu pra fazer de dentro do banheiro.

As sessões com a psicóloga continuam. Achei que ela ia me ajudar com o estresse, mas ela desconfiou que o buraco era um pouco mais embaixo. Resultado: comecei a tomar vortioxetina - um antidepressivo.

Outubro

Troquei de time no trabalho. Assumi uma posição de líder de squad, num dos times mais reconhecidos no banco.

Tom continua obcecado com livros. Teve um final de semana que ele só quis brincar com livros.

Tom no chão cercado de livros infantis

Além disso, foi nesse mês que ele respondeu, pela primeira vez, o “eu te amo” que eu sempre falo pra ele na hora de dormir.

Novembro

Levei o Tom à biblioteca pela primeira vez. Foi glorioso. Precisei arrancá-lo das prateleiras na hora de ir embora.

Dezembro

Tomei meu booster de COVID. Agora estamos triplamente vacinados… exceto pelo Tom, já que ainda não tem vacina pediátrica. A gente que sabe de ciência sabe que a priorização está correta - o coração ainda não entende.


2022

Janeiro

Começaram a pipocar casos de COVID na creche do Tom. Infelizmente, o governo da província é do partido conservador, e eles mudaram as regras pra declarar um outbreak e fechar a creche, então tudo continua funcionando como se nada estivesse acontecendo.

Foi também neste mês que os imbecis do Freedom Convoy (Carreata da Liberdade) fecharam Ottawa por mais de uma semana.

Fevereiro

A creche mandou uma mensagem avisando que duas crianças da sala do Tom testaram positivo pra COVID. No dia seguinte ele acordou do cochilo com febre. Não deu outra…

Exame positivo de COVID

Demos muita sorte. Ele teve febre, uma noite ruim se revirando na cama, e no dia seguinte estava… ótimo. Criança é igual Wolverine mesmo. Eu, vacinado, não tive sintomas. Bethania, mesmo vacinada, ficou bem doente. Me lembrei do amigo brasileiro que quase morreu na UTI no ano passado; não fosse a vacina, a Bê teria ido pelo mesmo caminho.

No total foram nove casos na sala do Tom, mais 3 na sala vizinha, e 2 na sala dos garotos mais velhos. Felizmente, nenhum grave.

Março

Tom arrumou um espaço na sua obsessão com livros pra outra obsessão: podcasts… de gente lendo livros.

Abril

Começou a palhaçada de voltar presencialmente ao escritório. Por enquanto, duas vezes por semana.

Maio

Meu pai vem nos visitar no Canadá. Levou 2 anos e 2 meses pro Tom, finalmente, conhecer o vovô pessoalmente.

Com ele veio também meu irmão, pra morar aqui enquanto completa a faculdade. Foi pro Centennial College, assim como eu, mas ainda 100% remoto por conta do COVID.

Junho

Com a pandemia razoavelmente sob controle, consideramos os riscos e finalmente matamos a vontade represada de viajar e fomos pra um resort em Punta Cana. O menino se esbaldou na piscina, e eu nas caipirinhas all-inclusive.

Praia em Punta Cana

Julho

Recebi notícias de uma velha amiga do Brasil. Ela reservou um quarto de hotel e tomou três caixas de comprimidos de Clonazepan.

Deixou um filho de dois anos.

Volta e meia eu vejo fotos antigas da turma e lá está ela nas fotos. A memória daqueles dias agora é um pouco irreal. Ela estava lá, ela não está mais aqui.

É preciso falar muito mais do que falamos sobre saúde mental.

Agosto

Nunca imaginei que isso ia acontecer comigo. Sempre me pareceu algo contra meus princípios, mas uns amigos me chamaram pra experimentar e eu acabei concordando. Eu não achei que fosse gostar mas, acabou sendo… bom, muito bom.

Eu fui acampar… e gostei.

Setembro

Reparei que ando visitando a loja de bebidas um pouco mais do que o usual.

Outubro

No trabalho rolou reestruturação - meu chefe saiu, botaram outro diretor sênior, ele queria que eu assumisse o time todo como diretor técnico. O novo diretorzão me passava zero confiança, e a posição nova seria uma bucha 90% gerencial e 10% técnica. Cuidadosamente, disse que não. E então, por algum motivo, fui parar em outra posição: back-end practice lead. Meio que um especialista técnico, que não faz parte de time nenhum, mas que suporta todos os times.

No fim do mês, finalmente acabou o pesadelo político brasileiro. Eu e vários amigos votamos em Toronto. A fila do consulado estava ENORME.

Novembro

O bilionário idiota comprou o Twitter - então fui forçado a me mudar pro Mastodon.

Levamos o Tom ao seu primeiro jogo de hóquei - Marlies vs Cleveland. Foi a primeira vez que cantei o hino nacional canadense com meu filho nos braços.


2023

Janeiro

Primeira visita ao Brasil com o Tom. Fizemos uma viagem de férias pra praia (Santo André, litoral da Bahia), e as famílias foram nos encontrar por lá.

Foi uma experiência e tanto - não só pela aventura de voar por 10 horas com uma criança:

  • Como diabos você explica pros parentes e pro povo do hotel por que você conversa com seu filho em inglês?
  • Como lidar com seu filho estreitando laços com a família… sabendo que em alguns dias você vai levá-lo embora e passar anos sem ver aquelas pessoas novamente?
  • Como processar a diferença entre expectativa e realidade de como as pessoas vão lidar com seu filho?
  • Como voltar, dirigir seu carro, dormir confortavelmente na sua casa climatizada de três andares, depois de andar pelas ruas esburacadas do vilarejo que te hospedou e ver as casas de tijolo à vista das pessoas que te atenderam?

A rua principal do vilarejo de Santo André, na Bahia

É assustador o tamanho do privilégio do Tom, obtido simplesmente por ele ter nascido no Canadá.

Outra experiência é a de aumentar ainda mais a confusão mental de imigrante ao se tornar visitante do lugar que antes era seu lar. Tanto que, enquanto escrevia esse post, eu me esqueci completamente da minha visita anterior, no natal de 2018. Nas palavras do psicanalista Ronnie Von: “significa”.

Fevereiro

Tom fez 3 anos - finalmente, com uma festa de verdade.

Bethania continua revelando superpoderes novos desde que virou mãe. As decorações da festa foram importadas do Brasil, e ela ainda descobriu que uma das artistas do YouTube que o Tom adora - Catie, do Super Simple Songs - é daqui de Toronto… e que ela faz festinhas de criança.

Eu dava tudo pra ver o que se passou na cabeça do Tom ao ver a internet se materializando na frente dele na festinha.

Abril

No dia 9, aniversário da famosa batalha de Vimy Ridge, decidi parar de beber.

A justificativa oficial são as novas recomendações do governo Canadense sobre consumo de álcool, que agora dizem que nenhuma quantidade é segura para consumo. Aí eu junto isso com a idade, a necessidade de estar saudável pro Tom, o histórico de câncer na família e o argumento é até bem sólido.

Na prática, o que aconteceu foi que o vinho de sexta havia se espalhado pro sábado, e tinha também as cervejas do final de quinta que iam até o final do domingo, e também tinha uma eventual garrafa de uísque que desaparecia em um mês, entre outras coisas.

Desde então, vão aí mais de 560 dias sem beber. Já o vegetarianismo… esse eu nem lembro quando se perdeu, infelizmente. Entre a picanha e a cachaça, venceu a picanha.

Julho

Meu banco resolve que vai comprar o braço canadense do HSBC e que, ao invés de fazer uma migração gradual dos clientes, vão fazer tudo em um final de semana, no ano seguinte. Nasce o “Projeto Topázio”. E lá vou eu tocar uma parte da migração.

Agosto

Numa tentativa de mudar meus hábitos - particularmente o de passar horas no celular - comecei a considerar alternativas pra ocupar meu tempo.

É um problema de solução fácil: livros, séries, podcasts, exercício físico, etc… então é óbvio que ignorei estas alternativas e decidi foi comprar um novo instrumento musical.

OP-1 Field

Este é o OP-1 Field. É uma mistura maluca de sintetizador, bateria eletrônica, sampler e um mundo de outras coisas. É um dos meus brinquedos favoritos.

Setembro

Numa tarde ensolarada de sexta eu resolvi dar uma volta de bicicleta. Caí e quebrei o cotovelo…

Selfie em frente ao espelho, com o braço engessado numa tipóia

Numa nota menos dolorida, foi nesse mês que eu confirmei que o Tom, de fato, está aprendendo a ler sozinho. Eu já desconfiava há algum tempo, até que um dia estávamos no Google Imagens e, entre uma pesquisa e outra, o Google mostrou o menu de pesquisas recentes. E ele disse:

_ Eu quero ver fotos da Taylor Swift!

Achei estranha a mudança de ideia repentina… até ver que uma das opções do menu era, de fato, o nome da Taylor Swift. Testei mais umas três vezes pra confirmar, e ele apontou corretamente o nome dela em todas elas.

Outubro

Meu brinquedo preferido passa a ser o brinquedo preferido do Tom. No início ele não gostava do OP-1, até eu mostrar que dava pra gravar a voz dele e tocá-la no teclado…

OP-1 Field

Hoje o Tom tem uma coleção particular de samples só dele. Ele chama de “the sounds I like”.

Novembro

A namorada do meu irmão veio visitá-lo. No meio do caminho ela se sente meio mal, e quando o voo faz uma escala ela aproveita pra fazer um teste de COVID, que dá positivo. Foi o caos, com quarentena no porão por uma semana e o escambau.

No trabalho, o “projeto topázio” segue a todo vapor… e eu basicamente tenho que voltar a fazer meu trabalho antigo de líder de time. O que é ótimo, já que eu posso ser produtivo num projeto de alta visibilidade.

2024

Janeiro

Meu irmão, já formado, voltou pro Brasil.

Fevereiro

Vovô veio visitar pro aniversário do Tom, que fez quatro anos.

Março

A primavera veio chegando e meu humor estava bem melhor do que nos últimos anos. Resolvi me dar alta dos antidepressivos.

Abril

Fim do “Projeto Topázio”. Pela primeira vez eu trabalhei noites e finais de semana desde que me mudei pro Canadá. Mas valeu a pena - nunca antes na história o nosso banco havia comprado outro, fechado a compra numa sexta-feira, e começado a operar com todos os clientes e contas migrados na terça-feira seguinte. Aprendi bastante e ganhei bons pontinhos com os chefes.

Obviamente, teve muito perrengue. Alguns exemplos:

  • Tinha um outro time fazendo outro pedaço da migração, e a gente tinha que ajudá-los porque “somos todos uma mesma empresa” e etc. Eles tinham um programador que não entendia como usar a tecnologia do time dele mesmo, e quando eu ia explicar que não tinha como fazer o que ele queria, ele… ficava puto comigo.
  • Além de liderar o trabalho técnico do meu time, eu tinha que reportar status das tarefas pro PMO do programa. O PMO coordenava as tarefas e prazos usando, obviamente, um Excel compartilhado na rede. Como o projeto envolvia o banco todo, o Excel era gigante, dezenas de milhares de linhas. E quem era o corno que tinha que atualizar o Excel pro nosso time? Esse que vos fala, naturalmente. Imagina o sarcasmo do universo ao me botar em reunião com os consultores de gestão do banco me cobrando que a linha 17.344 da planilha tava desatualizada…
  • Outra jogada genial dos consultores: as tarefas do Excel eram automaticamente transformadas em lembretes por email. Assim sendo, a gente botava no Excel a lista das tarefas e horários de início, e na hora de executar a tarefa, a gente recebia um email automático lembrando a gente da data que a gente mesmo forneceu.
  • Sabe de que jeito a gente testou se a migração deu certo? Usando a minha própria conta corrente pessoal. Botei o número dela num dos arquivos da migração e trocamos só o nome da conta, pra ver se ele seria importado corretamente. Até hoje, ao invés de “Conta corrente do Zé”, minha conta tá lá batizada de “Conro S Sac Halden” (longa história).
  • Fizemos um moooonte de migrações de teste antes do dia D - todas elas com dados anonimizados de clientes. Acontece que num dos arquivos de transferências bancárias o povo se esqueceu de anonimizar um campo de texto com a finalidade da transferência. Imagina a crise de riso, minha e do resto do time, enquanto tentávamos descobrir qual o problema numa transferência cuja finalidade era “dinheiro para o fundo da rinoplastia do cachorro”…

Maio

Fomos passar o aniversário da Bê na Disney. O menino se esbaldou, já eu tive que lidar com guardinha da TSA gritando comigo no aeroporto e guardinha da Disney olhando pra minha cara, ignorando meu “good morning”, e insistindo em falar comigo em espanhol. E, naturalmente, foi na Flórida que vi o Cybertruck pela primeira vez…

No último dia de viagem eu matei uma vontade de muitas décadas: quando eu era criança minha mãe me levava num pediatra que tinha uma reprodução de “O Carnaval do Arlequim”, quadro do pintor espanhol Joan Miró, na sala de espera. Esse quadro é uma das minhas lembranças de infância mais antigas. Outro dia eu fui ver o quadro na Wikipedia e descobri que ele fica exposto em um museu de arte em Buffalo, no norte do estado de Nova Iorque… e a 3 horinhas de carro aqui de casa.

O Carnaval do Arlequim, de Joan Miró

Junho

Confirmamos que o Tom está oficialmente lendo por conta própria.

Além disso, voltei a ver a psicóloga. Meu estado mental não estava dos melhores.

Agosto

O fim de uma era: Tom está oficialmente “formado” na creche.

As mães dos coleguinhas de sala dele organizaram um piquenique no último dia, no parquinho em frente à creche, e um dos pais trouxe uma câmera e uma plaquinha dizendo “último dia” pros meninos tirarem uma foto. Lá pelas nove da noite ele mandou as fotos no WhatsApp e lá estava o Tom, completamente moleque, boca suja de bolo, sem camisa e descalço. Chorei por mais esse fim, esse começo, e esse amor maluco de ser pai.

Setembro

Primeiro dia de escola. Levou 45 minutos pra ele conseguir parar de chorar, largar a minha perna e finalmente ir pra sala de aula - e só porque a diretora veio ajudar. Uma santa. Lidou com ele com a maior paciência do mundo. Srta. Gad, fica aqui imortalizada a minha eterna gratidão a você.

Felizmente, o drama durou só uma semana. Ele ainda reclama de ir pra aula, mas se anima todo quando a gente aposta corrida quando sai do carro pra ver quem chega primeiro, e volta animadíssimo com as professoras e a aula de música e de ter aprendido letras em caixa alta e caixa baixa. As professoras, coitadas, estão passando perrengue porque o menino é muito cheio de energia pro ritmo de sala de aula, então ele não para quieto, larga o almoço pela metade pra ir brincar… outro dia elas estavam de cabelo em pé porque ele, provavelmente entediado, abriu a porta da sala e estava indo embora pro pátio brincar.

Logo depois do problema da escola se resolver, me liga a minha irmã pra avisar que meu pai foi parar no hospital. Acordou muito cansado, aí botou o oxímetro pra ver se estava tudo bem e os batimentos cardíacos estavam muuuuito abaixo do normal. Ganhou de brinde um marcapasso. Felizmente, a cirurgia foi simples e correu sem problemas. “Agora sou híbrido”, disse ele, seguindo a tradição familiar de fazer piadinha pra lidar com as emoções difíceis. Tradição que eu também carrego, já que batizei o grupo de WhatsApp que usamos pra trocar notícias da internação com o peculiar nome de… “Haja Coração!”

No fim do mês, meu cérebro definitivamente já não fabricava mais o caldinho de serotonina que dá disposição pra tocar a vida. Na consulta da psicóloga, o gênio aqui finalmente resolveu comentar que havia parado com o remédio, e ela, educadamente, me colocou a par da minha estupidez…

_ Você lembra que seu antidepressivo leva seis meses pra parar de fazer efeito?

_ Pois é, eu não lembrava disso.

_ Quando você parou de tomar o remédio?

_ Uhhh… há seis meses…

Fica a dica, amiguinhos. Não parem de tomar antidepressivos por conta própria.

Outubro

Uma tempestade solar resolveu bater por aqui bem no dia do meu aniversário, e ganhei uma inesperada aurora boreal de presente.

Aurora boreal


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Retrospectiva 2019

2019-12-19 05:09:39 +0000

...também conhecido como "o último ano antes de eu ser pai" - o que me deixa curioso pra descobrir o que diabos vou escrever na retrospectiva 2020.

Tom nem nasceu e eu já tou exausto. Os últimos sete meses foram basicamente de preparativos pra chegada dele: pintar quarto, montar móvel, fazer chá de bebê, trocar carro, ler livro, fazer exame, preencher papelada de licença maternidade, e pedalar 30km pra achar Toddy pra Bethania (esse post tá nos rascunhos, uma hora sai).

É sério, eu ando muito estressado. A correria é tamanha que eu tive que me impor um limite onde, às nove da noite, eu me forço a parar de resolver coisa.

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Como trabalho atrai trabalho, no banco eu estou prestes a ser promovido.

Essa história começou do jeito mais cômico possível. Um belo dia, o chefe veio apresentar um cara novo que havia sido contratado e ele veio na minha mesa e me apresentou como "esse é o Joe, o líder do time", e eu pensei "como assim líder do time?". E aí eu notei que todo mundo andava me tratando como líder do time, já que todas as buchas sem dono começaram a vir parar no meu colo porque, em várias delas, eu era o único que dava um jeito e resolvia. O bom é que meu bônus esse ano foi bem gordinho.

Importante lembrar que, em 2013, eu fui demitido duas vezes no mesmo ano. Tem uma moral da história aí, mas ainda não sei bem qual.

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Teve também baby moon: em setembro passamos uma semana e meia em Paris. Que cidade fantástica.

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Ninguém reparou, mas eu passei esse ano inteiro sem usar o Instagram. Facebook, então, foi sumariamente deletado.

Parece bobagem mas esse é um dilema meio sério. Por um lado, eu estou cada vez mais convencido de que as redes sociais estão para a saúde mental assim como os cigarros estão para a saúde pulmonar, e que ainda estamos nos anos cinquenta achando que fumar é super legal e sem a menor noção das consequências. Além disso, não usar produtos do filho da puta do Zuckerberg é uma forma de consumo ético que tenho tentado praticar.

Por outro lado, esse é mais um passo que me distancia do Brasil. Os filhos dos meus amigos estão todos crescendo e eu não vejo nada. Fulano viajou, sicrano separou, beltrano pode até ter mudado de sexo e eu jamais saberei. E ok, eu poderia usar o meu tempo pra ir falar com cada um deles e saber o que anda acontecendo mas... será que eu não deveria investir meu tempo de socialização aqui no Canadá?

Vida de imigrante é um saguão de aeroporto infinito, você numa fila, seus parentes e amigos lá longe, dando tchau, e a fila não anda, e você no eterno limbo entre o foi e o ficou.

--

E pra fechar o ano, recebemos e-mail do ministério da imigração marcando a famosa provinha, que é nada mais nada menos do que o penúltimo passo do processo de obtenção de cidadania. Depois, é só jurar fidelidade à Rainha da Inglaterra.

Eu nunca, nem nos meus sonhos mais malucos, imaginei que teria um filho canadense - muito menos um filho de pais canadenses.

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Há exatos dez anos eu escrevi a retrospectiva de 2009 em formato de um review do disco "Black Sea", do guitarrista vienense Christian Fennesz.

Hoje, após basicamente surtar de estresse, eu me sentei na sala, no escuro, e botei o "Black Sea" pra tocar de novo. E então voltei a me sentar, sozinho, na praia cinzenta de uma década atrás - meu lugar seguro - cujo som eu descrevi de forma bem precisa:

...sons de tom frio e monocromático, sons de um longo trajeto cujo destino é obscuro

O destino continua obscuro. E aqui vai uma coisa que ninguém posta no Instagram: eu estou com muito medo do que vem por aí.

Eu até tentei falar desse medo com outras pessoas, mas não deu muito certo. Por exemplo, quando comentei do stress com meu pai, ele respondeu: "isso não é nada, já passaram por perrengues muito piores".

É por isso que, na praia, eu me sento sozinho, e me sinto sozinho.

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Entendendo o voo da gaivota

2019-09-25 02:36:35 +0000

Hoje de manhã fui andar com o cachorro e o céu estava mais ou menos assim.

Pra completar a cena, eis que passa uma revoada de gaivotas, voando pro norte por algum motivo. Deviam é ir pro sul e ir parar no México, pra fugir do frio que vem chegando lentamente. E comer guacamole, obviamente.

Esse ano eu parei de usar celular e fone de ouvido ao andar com o cachorro, pra exercitar mindfulness (como fala isso em português?). E me peguei achando aquela cena bem bonita... e então pensando no quanto é estranho a gente achar a natureza bonita. Isso é pré-programado, talvez? O que determina o que é bonito ou feio? E por que a maior parte das coisas naturais nos parece agradável?

Daí o sonso aqui se lembrou de uma frase de Picasso que eu e a Bê vimos no museu de Picasso, no Japão (pois é), e que há meses está escrita no nosso mural de giz da cozinha. Ele diz:

Todo mundo quer entender arte. Por que ninguém tenta entender o canto dos pássaros? Por que as pessoas adoram a noite, as flores, tudo ao seu redor, sem tentar entender essas coisas? Mas quando se trata de uma pintura, as pessoas tem que entender...

Daí foquei em uma das gaivotas. Observei o movimento das asas, às vezes batendo pra se deslocar, outras vezes imóveis e apenas planando ao sabor da brisa. E aí me lembrei de quando era criança e cenas como essas despertavam aquele desejo infantil de como seria legal se a gente pudesse voar. E então lembrei que há muito tempo eu não sentia mais esse tipo de desejo, justamente por que é infantil e eu não sou mais criança.

E então pensei no meu filho, ainda crescendo na barriga da Bê. Pensei em como ele vai passar por todas essas coisas. Em como ele vai sentir esse desejo na sua forma mais autêntica, sem compromisso com a realidade física do nosso mundo duro e pesado. Pra ele, voar vai ser sim uma possibilidade bem palpável. E então fiz um esforço para sentir a mesma coisa: olhei para a gaivota e pensei em como seria fantástico estar lá, acima de tudo, ao sabor do vento.

Quando meu filho olhar para a gaivota e voar com ela em sua mente, eu quero estar junto com ele.

Como falar inglês

2019-06-27 03:07:07 +0000

"Art and creativity have always been a conversation between a human being and a mystery"

Essa frase é de um podcast do TED que entrevista Elizabeth Gilbert, a autora daquele livro "Comer, Rezar, Amar". Eu ouvi isso no carro outro dia, mas não me lembro muito mais do que era o tema da entrevista porque, conforme a autora ia falando, eu acabei me distraindo com a forma que ela discursava sobre o tema. Há muito tempo eu não ouvia um inglês tão bem estruturado, tão eloquente e elegante.

E aí você se vê lá no fundinho da curva do efeito Dunning-Kruger, mais uma vez: quando você finalmente acha que aprendeu inglês, depois de quatro anos vivendo em inglês, vê que ainda falta muito pra você aprender inglês.

Os desafios de viver numa nova língua nem são exatamente difíceis, mas você tem que lidar com as coisas mais estapafúrdias possíveis. Por exemplo, quando cheguei ao Canadá eu tinha medo de falar ao telefone. É sério. Ouvir uma língua semi-desconhecida em áudio de péssima qualidade prejudicava muito o entendimento. Também vivenciei experiências traumáticas na fila do Subway (o restaurante, não o metrô), lotado e barulhento, com o atendente gritando o nome de todos os ingredientes que eu poderia botar no meu sanduíche, e eu sem entender absolutamente nada. Mas isso passa mais ou menos nos primeiros seis meses.

Aí você já começa a se soltar no trabalho e vem o segundo desafio: entender o inglês com sotaque. Quando eu achei que tava finalmente me acostumando com o sotaque indiano e asiático, entrou um escocês no meu time. Sabe quando você finalmente derrota o chefão no videogame, mas aí ele ressuscita com duas barrinhas de energia? Pois é.

https://www.youtube.com/watch?v=73uATsa8y5Y

Demora, mas você finalmente chega num nível aceitável de fala e compreensão. Mas minha meta era mais ousada, o que eu queria mesmo é domínio total da língua. Conversar com alguém e ser confundido com um nativo. Conseguir ler um livro e diferenciar um bom autor de um autor mediano. Entender poesia em inglês. Não basta zerar o joguinho, eu queria abrir 100% do mapa e coletar todos os bônus e fases secretas. Mas, meu amigo... o jogo é grande. O jogo é muito grande.

É preciso:

  • Aprender o peso e a cor das palavras. Seria amazing mais maravilhoso do que awesome?
  • Aprender as expressões idiomáticas que usam conceitos de coisas que você não necessariamente conhece. Se você não entende de baseball, não vai conseguir entender a metáfora das bases para indicar o nível de intimidade sexual, por exemplo.
  • Aprender a reconhecer os detalhes de intonação que ditam o fim das falas em uma conversa. Achei que só o mandarim tinha essa palhaçada...
  • Desaprender os significados implícitos que existem no português e não existem no inglês. Uma vez um amigo me ofereceu algo e eu respondi com um thanks (que, em português, num contexto onde você não aceitou fisicamente a oferta, significa "não, obrigado"). Ele ficou lá, parado, sem saber se eu queria ou não, até desfazermos o mal entendido.

E enquanto você bate cabeça com todas essas coisas, várias interações do dia-a-dia ressaltam ainda mais o tamanho do buraco que você está tentando preencher. Por exemplo, outro dia eu me senti confiante com a língua e fui tentar entender as letras de um gênio do rap chamado MF Doom:

Try the straight pliers, if not—the vice grips
A real price-saver way to acquire nice whips
What a steal for real on wheels of steel
Stunner, a funner summer number-one meal deal-bummer

Aí tu não entende nada, vai no Genius e vê que o verso acima fala sobre roubar carros, além de conter referências às paradas musicais do rádio e também aos combos do McDonalds, e vice grips tem o duplo sentido de ser uma ferramenta e uma referência ao domínio do vício, e what a steal é usado no sentido figurado ("uma pechincha") e literal ao mesmo tempo... e não somente as frases rimam entre si como as sílabas também. MF Doom é uma espécie de Chico Buarque gangsta.

Mas o desafio final das músicas em inglês é o dancehall jamaicano. A Jamaica tem o sotaque mais incrível do caribe, pena que é absolutamente incompreensível. Sinta a poesia de Reggie Stepper no seu clássico "Cuh Oonuh":

Set of satellite, oonuh set of munu-cunu
Set of idiot, oonuh set of damn tukoo
Set of masquerade, oonuh set of damn Junkanoo
A wha' oonuh a try? A wha' oonuh a try? A wha' oonuh a try fi do?

Demora, mas chega um dia em que alguma coisa desperta no seu cérebro e você vai falar alguma coisa complicada e a frase simplesmente rola naturalmente da sua língua e você fica "peraí, como foi que eu fiz isso?". Essa é a beleza do subconsciente: ele tá lá no fundão da mente, inacessível, mas a insistência na atividade consciente de botar a cabeça pra funcionar em inglês acaba, pouco a pouco, reprogramando também o subconsciente. Aí acaba aquele processo manual de "pensar em português -> traduzir -> falar em inglês", e as frases começam a já nascer anglófonas. Isso seria lindo... se não tivesse o efeito colateral de estragar o português. É quando você começa a se pegar falando coisas bizarras do tipo "preciso salvar dinheiro pra consertar o carro", ou quando demora meses pra conseguir escrever um post em português no seu blog. Não tem jeito: pra ir pro céu, tem que morrer.

Mas é bem provável que eu já esteja a caminho do céu. Quando penso na entrevista do "Comer, Rezar, Amar", preciso considerar também o fato de eu conseguir distinguir o quanto o inglês da autora é bom. Saber da própria ignorância é também uma forma de saber, e isso é muito positivo. E aí é que está o detalhe crucial para aprender uma língua: se você só pensar no que não sabe ou no que não consegue, aprender se torna traumático; em contrapartida, quando o desconhecido desperta uma curiosidade, que quando resolvida gera uma satisfação, aprender se torna prazeiroso - e nossos cérebros adoram um prazerzinho.

Hoje mesmo eu tive um desses. Tem um show de hip-hop/beats da NTS que eu curto bastante chamado "Tuesday Trips". Semana passada, NahhG, o cara que produz o show, postou no Twitter que o próximo show seria no dia do seu aniversário e pediu umas mensagens de voz com parabéns pra botar entre as músicas. Como esse ano eu adotei uma política pessoal de não economizar elogios pras coisas que eu gosto, mandei a minha. Tá lá no show dessa semana, bem na marca dos 50 minutos. Quando ouvi de volta a gravação, fiquei surpreso ao ver o quanto meu inglês - gravado rapidinho no celular, entre duas reuniões de trabalho - ficou excelente. Outra agradável surpresa foi que a gravação ficou coincidentemente posicionada logo depois de uma batida com samples de um funk carioca sobre "bucetada na pistola"...

Assim sendo, seguimos aqui nesta eterna sequência de pânico e alívio linguístico, aspirando pelo dia onde vou afirmar com segurança que, sim, eu finalmente atingi o nível máximo de domínio da língua - que é facilmente definido em português por uma das minhas frases preferidas: "eu manjo das putarias".

Sobre espaço-tempo, buracos negros e visitas ao Brasil

2018-12-29 19:50:54 +0000

Às onze da manhã do dia 22 de dezembro o avião finalmente tocou o solo do aeroporto de Guarulhos. Catei malas e mochilas e, no instante em que passei da porta do avião pra fora, sou recebido por aquela onda quente e úmida de trinta graus de calor paulistano. Meu corpo se retraiu todo. Olhei pro lado e Bethania estava suspirando, emocionada: "Ahhh que delícia!".

Depois de quatro anos, eu estava de volta ao Brasil.

Quando expliquei aqui as razões que me fizeram abandonar o país, uma delas era a falta de afinidade com as coisas locais - incluindo o calor. Assim, meus trinta primeiros segundos de volta correram exatamente como eu esperava. Já o resto foi uma montanha-russa de coisas que ainda não sei bem definir direito.

Quando decidi me mudar foi bem fácil enumerar os motivos pelos quais eu achava que aquilo era a melhor coisa a se fazer. Voltar ao Brasil deixou bem claro o quanto essa reflexão havia sido incompleta. Começando pela minha premissa de que "você não é onde você mora", ou de que eu estaria começando uma vida nova em outro lugar, ou - e principalmente - de que é preciso olhar pra frente e deixar pra trás o que passou. Eu analisei bastante o espaço, mas me esqueci completamente do tempo e de como ele espalha quem eu sou ao longo de quarenta anos. Eu sou o menino que cresceu em Belo Horizonte, o jovem que amadureceu em São Paulo, e hoje o adulto que vive no Canadá, todos ao mesmo tempo, irrevogavelmente unidos e coexistindo nessa dobrinha pessoal de espaço-tempo chamada eu.

Nos meus quatro anos de Canadá eu ignorei completamente - e intencionalmente - esse passado, achando que era assim que se adapta a uma nova realidade. Aí a gente foi comer um pão de queijo em Guarulhos e eu me peguei nostálgico ao ouvir a mocinha do caixa perguntar se eu queria "CPF na nota" (nem lembrava mais que havia isso). Cada coisa - das mais simples - que eu via ou ouvia ressuscitava anos de memórias esquecidas nos porões da minha cabeça. Andar pelo embarque de Guarulhos e voltar de Confins pela Linha Verde me lembrava os inúmeros voos da minha época de consultoria. As ruas de Beagá, então, eram prateleiras inteiras de incontáveis pedaços meus, todos voltando a cada esquina, a cada ladeira, a cada prédio onde um dia estive, ou até mesmo os que hoje deram lugar à farmácia ou supermercado. Por exemplo: a Igreja São José, no centro, não era só a igreja - era aquele domingo onde saí do meu plantão de suporte no provedor de internet onde estagiava e fui encontrar com a minha nova namorada, que foi acompanhar a avó na missa. Eu achava que era impossível se sentir em casa onde você não mora mais. Que bom que me enganei.


A programação da viagem era basicamente passar tempo com a família no Natal, mas havia uma coisa que eu decidi que queria fazer: visitar o túmulo da minha mãe.

Eu acho que nunca mencionei minha mãe aqui no blog. Ela tinha um personalidade enorme, um sorriso fácil e um amor infinito pelos filhos. Em 1993 ela foi diagnosticada com câncer de mama, e morreu cinco anos depois. Como a família na época era toda espírita, a crença é de que a morte não existe, e então não se falou muito mais sobre isso. Foi mais ou menos nesse período que eu comecei a enterrar minhas memórias. Mas, felizmente, quando você enterra coisas férteis elas acabam brotando novamente.

Voltar ao cemitério, mesmo décadas depois, foi trazendo o dia do enterro todo de volta. O lugar do velório estava lá, do mesmo jeito. Eu me lembrei dos parentes chegando, das flores, até do que minha mãe vestia (uma camiseta do Menino Maluquinho - a pedido dela) quando foi sepultada, mas quando penso no que eu sentia, a resposta é... nada. O mesmo "nada" que senti quando desliguei o telefone no dia anterior, quando meu pai ligou do hospital, para contar que ela havia morrido. Quando ouvi a notícia eu fiquei sem reação por alguns segundos, com a cabeça sobrecarregada, e então alguma coisa se arrebentou dentro de mim, e sobrou apenas o nada. Um buraco negro no meu espaço-tempo pessoal. Um nada tão grande que eu nunca chorei a morte dela, até hoje.

Essa volta ao Brasil me despertou incontáveis memórias em praticamente todos os lugares onde estive. Mas quando me vi novamente de pé, sobre o túmulo dela, na semana passada, eu não senti... nada.

Bom, parece que este pedaço meu eu vou ter que resgatar de outro lugar.


Na quinta de manhã o meu voo de volta finalmente pousou em Toronto. No instante em que pisei fora do avião, fui recebido pela brisa seca de Dezembro em seus zero graus. Fechei os olhos, respirei fundo, e disse baixinho para mim mesmo, sorrindo, enquanto expirava:

"hell yeah".

Retrospectiva 2018

2018-12-19 15:01:03 +0000

O que dizer desse ano que mal passou e já considero pacas?

Posso começar dizendo que esse ano viajamos bastante. Além do Japão, passamos uma semana no México, para fugir do inverno. Fomos naquele esquema de resort com tudo incluído e, três dias de resort depois, concluímos que esse não é o nosso esquema, alugamos um carro e saímos passeando por conta própria. É assustador o quanto o México não-turístico é idêntico ao Brasil - enquanto eu dirigia na estrada para Playa Del Carmen eu podia jurar que estava no Recife, na BR 101.

Uma das coisas que tentamos fazer foi ir à Cozumel, mas o destino não deixou. Eu cheguei a comprar a passagem da balsa pra ir pra lá e, na véspera, enquanto googlava um pouco das notícias locais, vi uma delas contando de quando a balsa explodiu... "que coisa, deixa eu ver quando foi isso", pensei, achando que se tratava de uma notícia antiga. Aí vi que a matéria era do mesmo dia...

Depois de remarcarmos a passagem (em outra balsa, naturalmente), finalmente embarcamos pra ilha e, na hora de desembarcar, a minha ressaca mais desidratação bateu de repente e eu simplesmente desmaiei. Bethania, coitada, quase surtou. Tudo que vimos de Cozumel foi o porto, enquanto eu me recuperava pra voltarmos. Agora, vou ter que aguentar a gozação da Bê toda vez que entramos num barco: "tá tudo bem aí né? não vai desmaiar dessa vez?".

Além de visitar os good hombres da América Central, fizemos um bocado de passeios de carro - vários em Ontário mesmo, e também um feriadão onde dirigimos 800km até Chicago, que é absolutamente incrível. A viagem foi toda errada: teve bate-boca com a locadora do carro, teve o fato de que estava tendo a famosíssima Maratona de Chicago quando chegamos lá (e não sabíamos) e tava tudo interditado, teve chuva, era pra ter sido um saco e foi fantástico.

O aniversário da Bê este ano foi no lugar predileto dela: Nova Iorque. Essa deve ter sido a nossa quinta vez em NYC e ainda tem tanta coisa pra fazer por lá que vamos voltar muitas outras vezes ainda.

E, pra fechar o ano, estou prestes a fazer uma coisa que eu não faço há quatro anos: visitar o Brasil. Sendo bem sincero, eu não tenho a menor vontade de ir ao Brasil. O principal motivo que me faria voltar - matar saudade das pessoas - nem conta, já que, felizmente, família e amigos vem nos visitar frequentemente. Outro dia eu fiz a conta e, em média, tínhamos visitantes aqui em casa de três em três meses. Só estamos indo dessa vez por motivos familiares mesmo, e eu ainda estou sem saber como vou me sentir por lá. Por todos os motivos que já detalhei exaustivamente por aqui, ir pro Brasil me parece algo como visitar uma ex-namorada.


Se você se incomodou com esse último parágrafo, eu entendo. Eu me mudei há quatro anos, e a cada ano que passa eu continuo saindo mais e mais do país. A internet permite que eu continue tendo contato com todo mundo que ficou, e o que parece uma bênção tem se transformado lentamente, dolorosamente, em uma eterna despedida de aeroporto. Cada whatsapp onde você vê que não está mais ali é mais um aceno de alguém querido, vendo você entrar na fila do embarque. As eleições só pioraram as despedidas. Mas é natural, é a vida no Brasil se ajeitando sem sua presença. E o mundo gira indiferente à tudo que é especial pra você.

Uma das coisas que nenhum post de blog, nenhum guia de imigração, nenhum livro sobre multiculturalismo me ensinou foi que ser um imigrante significa não pertencer, de fato, a lugar nenhum. No trabalho tem um grupinho fechado no Slack (o programa de mensagens que a gente usa) onde o pessoal combina a cervejinha de quinta-feira. A esmagadora maioria dos nossos grupos sociais aqui no Canadá são outros brasileiros imigrantes, mas esse do trabalho é diferente porque a maioria é nascida e criada por aqui, então o happy hour de quinta é uma oportunidade especial de conviver com o "Canadense da gema" em seu habitat natural. Por mais que eu tenha me integrado bem nesse ambiente, tem sempre aquele momento da noite onde o assunto baldeia para alguma coisa que só os nativos entendem e você bóia na conversa porque não passou a adolescência ouvindo Tragically Hip (a "Legião Urbana" local), ou você não passou pela famosa tempestade de gelo de 2012 onde Toronto inteira ficou sem luz elétrica por dias, ou algo assim.

É o preço que se paga.


Já que o post entrou nas vibes pesadas, falemos da depressão que eu comentei aqui anteriormente. Felizmente, tudo continua sob controle, mas eu continuo estudando minuciosamente a minha própria cabeça pra entender o que influencia o problema. Um fator que tem se mostrado cada vez mais crucial é a meditação, que ganhou até um post só pra ela. No meu caso, ela é incrivelmente efetiva. Até me dei de presente de natal o livro "The Mind Illuminated" ("A Mente Iluminada", ainda sem tradução para o português), que é escrito por um PhD em neurosciência (!!) que se aposentou da academia e hoje é, digamos, um "monge budista faixa-preta". Esse approach científico do assunto me pareceu bem interessante: segundo ele, há uma forte correlação entre os estados mentais descritos pela bioquímica cerebral e os estados mentais descritos pelos adeptos da meditação. Mas não acredite nele; melhor seguir um conselho do próprio Buda:

Não acredite cegamente no que digo. Não creia porque outros convenceram você. Não acredite em nada que vê, lê ou ouve de outras pessoas - sejam elas autoridades, religiosos, ou seus textos. Não dependa somente da lógica, ou da especulação. Não julgue pelas aparências, nem seja enganado por elas. Não abra mão da sua autoridade e siga a vontade dos outros às cegas. Isto leva apenas à desilusão. Descubra por sua conta o que é a verdade, o que é real.

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O Primo recomenda: meditação

2018-10-11 17:07:45 +0000

[caption id="attachment_8649" width="258" align="aligncenter"] O "mascote" do fórum sobre meditação no Reddit[/caption]

Nas minhas muitas noites insones, googlando coisas sobre saúde mental, reparei que meditação aparecia em várias listas de possíveis tratamentos para depressão e ansiedade. Vi, inclusive, revisão de literatura científica sobre os benefícios de meditar, com tudo apontando para uma considerável redução dos sintomas depressivos. Então, resolvi me comprometer a fazer pelo menos as 10 sessões grátis dum aplicativo de meditação guiada (o Headspace - mas há opções em português), só pra ver como é. Afinal, eu não tinha nada a perder: iria custar zero reais e consumir apenas dez minutos do meu dia.

Quando comecei, além de uma certa descrença de que ia fazer alguma diferença, eu também tinha todas aquelas dúvidas comuns de quem não conhece/nunca tentou meditar: é só isso mesmo, sentar e se concentrar na respiração? E se eu não conseguir sossegar meus pensamentos? E se eu não conseguir ficar sentado sem minha perna ficar dormente? E se der uma coceira maluca nas costas no meio da sessão? E se o único tempo que eu tiver for no metrô indo pro trabalho? Curiosamente, as respostas que eu achava para todas estas perguntas era sempre a mesma: "não tem problema". No início eu achava isso meio largado demais, achava que as sessões tinham que "dar certo" e que eu tinha que conseguir me sentar sem incômodos ou distrações e ficar 100% do tempo não pensando em nada. Mas resolvi confiar nas instruções e continuei fazendo as minhas sessões porcas, tentando concentrar apenas na minha respiração, vendo a minha cabeça resolver relembrar todas as falas do filme Matrix no meio da sessão por 200 vezes e tendo que voltar a focar na respiração 200 vezes. Porque é isso que os guias de meditação que eu li dizem que você tem que fazer quando se distrai:

Devido ao hábito, os pensamentos seguramente invadirão sua prática. Quando surgirem, apenas libere-os ao expirar, sem se identificar com eles, sem responder emocionalmente a eles. Observe o pensamento emergir, passar diante de você e depois desaparecer. Então, deixe que sua atenção repouse, não entorpecida e preguiçosa, mas à vontade.

E aí aconteceu o que sempre acontece quando você faz uma coisa muitas vezes: você fica bom naquilo. Graças à minha mente muito distraída, eu acidentalmente acabei me treinando a largar distrações. Além disso, no processo de largar esses pensamentos, você também aprende a simplesmente observar o que acontece na sua cabeça sem fazer juízo de valor ("sem se identificar com eles, sem responder emocionalmente a eles"), e isso torna o processo de conviver consigo mesmo incrivelmente mais leve. Aí a ficha caiu: é por isso que "não tem problema" se distrair duzentas vezes numa sessão, ou perder a concentração porque a gata tá arranhando a porta do quarto ou porque sua perna direita está toda dormente. O lance é aproveitar esses problemas pra treinar como se dissociar deles. O grande barato da meditação não é não pensar em nada, e sim aprender a postura certa pra lidar com as coisas que você pensa. O importante não é o destino, e sim a jornada.

Quando as 10 sessões grátis do aplicativo acabaram eu, como era de se esperar, continuei o hábito por conta própria. Todo dia de manhã eu acordo, tomo um banho, e medito por vinte minutos, inclusive nos finais de semana. Os efeitos disso são bem notáveis, dá pra perceber que alguma coisa no meu cérebro andou se reorganizando. A minha concentração no trabalho, por exemplo, ficou meio "sobrenatural"; eu consigo me manter focado por muito mais tempo - o que vale ouro pra quem trabalha com software. O meu sono não mudou de quantidade, mas parece ter ficado mais... eficiente. No início eu andei tendo uns pesadelos muito esquisitos, mas foi coisa de uma semana e acabou passando - talvez efeito da tal reorganização cerebral. Na hora de dormir ficou bem mais fácil pegar no sono, mas às vezes a insônia ainda bate e eu acordo lá pelas três, quatro da manhã, e acabo desistindo de tentar voltar a dormir e vou meditar às cinco... e mesmo assim não fico sonolento o dia todo. E se eu dou aquela dormidinha esperta de meia hora no trem, ao voltar pra casa, eu fico novo em folha. E o meu humor e disposição geral pras coisas está de volta ao normal. A vida voltou a ter gosto.

Claro que esse é o meu caso pessoal, e pode ser que você experimente e não seja essas coisas todas pra você, mas no meu caso fez muita diferença. Acho demais que todo mundo devia tentar, afinal, basta se sentar, fechar os olhos e... respirar.

TNT, Sete Lagoas, e isolamento musical

2018-03-13 04:20:03 +0000

Hoje o TNT, o famoso álbum do Tortoise, fez 20 anos.

Eu ouço música todo santo dia. Muita música. Meus ouvidos de quase 40 anos devem ter dezenas de milhares de álbuns no seu odômetro, fácil fácil. E se você me perguntar qual álbum eu levaria para uma ilha deserta, é o TNT.

O TNT me lembra uma história de quase duas décadas atrás. Eu estava em Sete Lagoas, terra natal do meu pai, com o primo que indiretamente dá nome a este blog e cujo gosto musical é bem parecido com o meu: "esquisito", na nomenclatura das pessoas normais. Como Sete Lagoas é uma cidade do interior, musicalmente ela é dominada pelo mainstream, sertanejo e similares, mas naquele dia a banda brasileira mais irmã do Tortoise que existe, o Hurtmold, ia tocar na cidade. Graças à minha fissura com backups e curadoria digital, o registro desse dia tá aqui no blog também. O que não tá registrado é um detalhe que me lembro até hoje. Enquanto esperávamos o show, alguém botou pra tocar o TNT.

Ironicamente, música é um negócio que eu amo profundamente, mas que me isola de todo mundo. É que não dá pra chegar no trabalho e falar "cara, tu já ouviu o mix do Sakamoto na NTS onde ele toca até uma do Dilla?". Eu ainda não decidi como me sinto com isso, ou se deveria tentar sair da minha bolha e procurar outras pessoas com gosto musical parecido pra compartilhar mais e tornar a experiência menos introvertida. E é por isso que eu me lembrei do TNT tocando em Sete Lagoas antes do show do Hurtmold - naquela tarde eu estava ouvindo um dos discos mais importantes da minha vida com um monte de outras pessoas.

A Bê costuma dizer que música pra mim não tem vínculo com memória afetiva, que eu busco é criatividade e inovação sonora. Essa parte da criatividade é muito verdade, mas eu tenho sim meus vários momentos de memória afetiva vinculados à música. Por exemplo, ouvir Fennesz e Cocteau Twins me lembra imediatamente dos meus projetos de consultoria no interior de São Paulo (Windturn City, alguém lembra?). Me lembro, inclusive, de ouvir o Donuts, o disco mágico do J Dilla - aquele que mencionei ali atrás - numa das minhas viagens semanais de quatro horas de ônibus pra chegar no trabalho; me lembro até hoje do buzão cruzando a Dutra e eu sentado na janela, maravilhado com a ingenuidade despretensiosa nos meus fones. E o TNT me lembra aquela tarde em Sete Lagoas. Me lembro de olhar em volta e ver todo mundo, sem exceção, curtindo a música - que de fato calhou perfeitamente pra uma tarde de sol e boa música entre amigos. E, principalmente, me lembro de me sentir no meu mundo musical, mas sem estar isolado do mundo.

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Retrospectiva 2016

2016-12-29 03:47:38 +0000

É bem possível que o blog se transforme em um "arquivo de retrospectivas" - é a única coisa com alguma previsibilidade por aqui.

Mas tem motivo: reler as retrospectivas anteriores ajuda a dar perspectiva de como a vida vai. E de fato ela "vem em ondas, como mar". Em 2009 as coisas não pareciam muito boas, dado que eu descrevia o ano como "vazio, ácido e difícil". Já em 2016 foi o extremo oposto: foi um ano cheio, saboroso e recompensador. Dá até vergonha falar tão bem do ano que absolutamente todo mundo detestou.

O melhor de 2016: Trudeau disse "sim"

O ponto alto do ano foi, sem dúvida, receber o e-mail abaixo: a confirmação de que, sim, agora somos residentes permanentes no Canadá.

Você deve ter notado que o e-mail é endereçado à Bê... é que ela é quem foi a aplicante principal dessa vez, já que, com mestrado e um ano de trabalho no Canadá, a pontuação dela era muito melhor que a minha. "Fui eu quem conseguiu a nossa residência permanente!", ela fica se gabando. Vou ter que aguentar ouvir isso o resto da vida - o que farei feliz e infinitamente grato. É libertador o alívio que dá não ter mais uma contagem regressiva no meu passaporte e finalmente ganhar todos os direitos do imigrante, como trabalhar sem restrições de tempo/local, ter acesso total à saúde pública daqui e poder reclamar do Maple Leafs perdendo no hóquei.

Outra coisa boa resolvida este ano: acabou a faculdade. Sinceramente, eu não aguentava mais, pelos motivos que expliquei no post anterior. Eu sonhei bastante sobre como seria meu último dia de aula, fiquei com vontade de sair da sala e fazer o Ai Weiwei em frente à escola, mas eu estaria sendo injusto com o lugar que, apesar dos percalços, serviu de degrau pro lugar onde estou hoje. Então apenas entreguei meu último trabalho e fiquei alguns minutos vendo a neve cair enquanto a Bê chegava pra me buscar.

Detalhe: é um troço bobo, mas tenho orgulho das minhas notas. Vou concluir o curso com honors e um GPA (a média daqui) de 4.2 em 4.5.

Ainda não liberaram a maconha, mas já estamos viajando

Mas nem tudo foi estudo. Em setembro, no começo do último semestre, eu matei uma semana de aula para viajar para Banff, na província de Alberta. Quando fui pedir uns dias de folga pro chefe, a resposta dele foi: "eu jamais impediria alguém de viajar para Banff".

Chegando lá ficou fácil entender porquê. A foto abaixo não é nenhum ponto turístico, é apenas uma foto do meu celular no meio da estrada.

Nunca falei tanto palavrão olhando pra paisagens quanto em Banff. Mesmo com tempo nublado em todos os dias, tudo que a gente via era "putaquepariu que lindo", "caralho que foda isso", etc. As fotos não fazem justiça ao quão lindo é aquele lugar.

Essa é uma das melhores coisas de morar no exterior: as viagens. Como praticamente tudo ao seu redor é novo, até mesmo uma viagem curtinha de carro fica super interessante. Como a que fizemos em fevereiro, uma road trip para St. Catherines, onde ficamos num AirBnb fazendo boneco de neve no quintal.

[video src="/assets/wp-content/uploads/2016/12/snowman.mp4" width="400" height="224"][/video]

A gente viajou um bocado esse ano - e, curiosamente, mais no outono e no inverno do que no verão. O que de certa forma faz sentido, já que nos meses quentes temos o "lado B" de Toronto. A cidade vira outra: todo mundo está nas ruas e nos parques, tem um monte de coisa acontecendo na cidade, simplesmente não dá pra não aproveitar. E, ao contrário do que muita gente pensa, no inverno tem muita programação pra fazer ao ar livre - só precisa de mais roupa.

[caption id="attachment_8552" align="aligncenter" width="535"] Piquenique na Toronto Island[/caption]

Com tanta viagem e dia de verão nem dá tempo de ter saudades do Brasil. As visitas também contribuem para isso; andei fazendo as contas e em 2016 não passamos nem três meses seguidos sem receber alguma visita brasileira, seja família ou amigos.

Mas não se pode ter tudo; conforme entram as novidades e alegrias, algumas coisas inevitavelmente vão ficando pra trás.

As distâncias e as perdas

O meu tempo por aqui acabou fazendo aflorar um tipo novo de distância - uma distância ideológica, e essa não há visita que supere. A coisa é complicada e tentar explicá-la vai acabar me rotulando como prepotente, mas o resumo da história é que, ao olhar o Brasil se transformando - como aconteceu com a crise toda de 2016, você vê a coisa de um jeito se estiver de dentro, e outra completamente diferente se estiver de fora. Quando as visitas brasileiras chegavam e o assunto era o Brasil, por exemplo, eu não entendia várias opiniões da conversa, e as minhas opiniões também não eram lá muito bem entendidas. No fim, achei por bem parar de acompanhar as notícias brasileiras e de opinar sobre elas nos WhatsApps e Facebooks da vida. Como diria a finada (e amada) avó da Bê, "o silêncio é a base da prosperidade".

Por outro lado, um entendimento que melhorou ainda mais esse ano foi o do inglês. A transformação do cérebro quando confrontado com uma vida bilíngue é simplesmente fascinante: quando eu saio pra andar com o cachorro e penso na vida, os pensamentos agora saem numa mistura maluca de inglês com português que does not make sense mas que funciona beautifully. Ano passado a cachola ainda sofria pra alternar entre o português e o ingles, e a boca ainda engasgava entre os dois modos de falar. Hoje é bem mais natural.

O lado ruim dessa história é que isso é o começo de um lento e inevitável adeus ao português. Eu nem tinha reparado, mas escrevi este post seguindo, inconscientemente, o detestável esquema da "redação hambúrger" que aprendi ano passado num dos cursos da faculdade - especialmente a regrinha de que cada parágrafo deve começar com uma "frase-sumário" e depois discorrer sobre ela. É que o inglês é uma língua quadrada, dura, porém eficiente, seguindo fielmente sua raiz germânica, enquanto o português tem, literalmente, uma raiz "romântica" (ou seja, do romano/latim), e isso lhe confere uma expressividade inacreditável. E é isso que todos os meus textos em português vão perder lentamente ao longo dos anos. Vou sentir saudade de usar frases deliciosamente ingênuas, profundamente expressivas e inegavelmente brasileiras no meu dia-a-dia, como por exemplo, dizer que "esse cara manja dos paranauês".

Conclusão - ou, "quem não planeja, é planejado"

Quem me conhece sabe que eu sou bom de planejamento. Quando fomos pra Banff, por exemplo, eu montei um cronograma da viagem inteirinha, dia a dia, com hora de início e fim de todos os itens da programação*. Meus amigos começaram a viagem me zoando... e terminaram me agradecendo.

Há dois anos, quando decidimos vir pro Canadá, é claro que tinha planejamento de longo prazo. A meta de 2016 era eu me formar já com algum emprego engatilhado para 2017, e depois conseguir residência permanente só lá pra 2018. O emprego garantido veio seis meses antes do previsto, e a residência permanente veio anos antes do previsto.

Para 2017, com a residência estabilizada por aqui, ficam liberados os planos nórdicos de longo prazo, como comprar imóveis e tal. Considerando que não tem inverno no mercado imobiliário daqui - ou seja, os preços estão pegando fogo - ano que vem provavelmente teremos um repeteco da mesma novela que foi a compra do meu apê de São Paulo (que, por sinal, estamos vendendo, viu?). E tem também uma "meta secreta", que será revelada no momento apropriado :)

* - O segredo pra um bom cronograma de viagem são duas coisas: encher os prazos de "gordura", alocando o dobro ou triplo do tempo pra cada coisa, e deixar espaços para acomodar mudanças de roteiro. Planejamento não é pra ser seguido à risca, isso é lenda. Planejamento é para servir de referência na hora de mudar de rota, porque a única certeza que você pode ter sobre o futuro é que você vai ter que mudar o planejado. E quanto às gorduras no cronograma, como diria o meu grande mestre de gerenciamento de projetos, ainda na minha época de consultoria... "cronograma sem margem de erro já nasce atrasado".
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A saga do community college canadense

2016-12-08 05:01:22 +0000

Essa é uma boa vantagem de se mudar pro exterior: todo mundo acha que você está no topo do mundo, acendendo charuto com nota de 100 dólares e tal. Quando eu falo que vim "estudar fora", nêgo acha que fui fazer mestrado em Harvard. Na verdade, eu fiz um curso que não vale nem um bacharelado em uma escola que não é nem uma faculdade.

Bem-vindos ao mundo do community college!

Prólogo: Como assim "community college"?

O community college é tipo uma "meia-universidade". É um conceito difícil de entender porque não tem equivalente no Brasil. Na terra da Dilma do Temer, mesmo que você estude numa uniesquina da vida, no fim tu ganha um diploma e recebe o grau de bacharel, reconhecido pelo MEC e tudo. No caso do college, ele te dá um título de "meio-bacharel", já que o curso tem metade da duração (2 anos). Pra piorar a confusão, o título que o aluno recebe no final chama-se... diploma.

Meu caso é menos pior: como meu curso tem 3 anos, no fim eu receberei um glorioso... (soem os tambores)... advanced diploma de engenharia de software. E como eu já tenho um bacharelado, eu consigo completar o curso em 2 anos e ainda fazer dois semestres de estágio (o tal do co-op que já comentei aqui).

O público-alvo do community college é, basicamente, a sobra do público-alvo das universidades - gente que não passou, que não consegue pagar, etc. Por isso, quando me matriculei, já vim esperando o pior.

O curso termina semana que vem e, depois de seis semestres, posso afirmar que minhas expectativas foram totalmente superadas... para pior, obviamente. Pra vocês sentirem o drama, vou contar pra vocês os causos separados por curso.

Curso: "Comunicação acadêmica"
Proposta do curso: Ensinar inglês no contexto acadêmico, como escrever relatórios, etc.
O que aprendi: Como provar que não colei ao escrever minha "redação-hambúrguer".

No meio do semestre, o professor sorteou uns temas e deu um trabalho de pesquisa pra fazer em casa. Coisa séria, tinha que escrever cinco páginas no "padrão ABNT" daqui, citar outros textos, troço cheio das nove horas. Como eu gosto de escrever (e de padrões), fiz um textão fuderoso, formatei impecavelmente, e mandei.

Na semana seguinte, chega um email do professor me chamando pra uma reunião com ele antes da aula. O email não mencionava o motivo nem nada. Achei esquisito, mas confirmei. Chegando lá, o cara me solta a bomba...

- Então, como você bem sabe, a minha turma só tem estudantes internacionais e eu sei que o nível geral de inglês é bem básico...

"Bem básico" é elogio - muita gente na minha turma simplesmente não conseguia se comunicar em inglês. Sem exagero: se o prédio pegasse fogo e a pessoa precisasse discar 911 pra pedir socorro, ela morreria queimada. Mas o meu college não quer perder matrículas, então aceita esse povo mesmo assim.

O professor continuou:

- Eu recebi as redações da turma e não entendi nada, porque praticamente todas elas vieram com um inglês impecável. Então estou achando que não foram eles que escreveram. A sua redação, particularmente, estava muito boa, então eu preciso que você me prove que foi você mesmo que escreveu.

E aí ele me fez um monte de perguntas sobre o tema, sobre por que eu escrevi o que escrevi, e acabou convencido. O resto da turma ficou com zero e levou um belo torra.

Essa história da cola - ou "desonestidade acadêmica", em termos mais educados - é uma das coisas que mais me incomodou.

Curso: "Negócios e tecnologia da informação"
Proposta do curso: Ensinar tudo aquilo que todo bom programador não se interessa em saber.
O que aprendi: Tudo sobre náutica e sobre o mercado imobiliário de Toronto.

Bob, o professor deste curso, ficava se gabando o tempo todo de ser o coordenador do curso de Gerenciamento de Projetos da Universidade de Toronto (a "UFMG" ou "USP" daqui, em termos de reputação). No entanto, todas as aulas do Bob se resumiram a:

  • Bob contando que tem um barco e de tudo que faz com o bendito barco.
  • Bob contando de quando ele trabalhava na Xerox em 1980.
  • Bob contando que vendeu a casa e comprou um apartamento.
  • Bob contando que tem uma namorada - que também vendeu a casa e comprou um apartamento.
  • Repita os assuntos acima até a exaustão.

Mas o mais legal foram as provas que fizemos, que tinham uma inovação surpreendente: questões repetidas. O cara reaproveitava questões de provas passadas nas provas seguintes. Não era nem uma paráfrase - as questões eram idênticas. E, pra melhorar ainda mais: as questões eram todas copiadas da internet, do site da editora do livro que ele (não) usava no curso.

Eu parei de assistir a aula do Bob logo no primeiro mês do curso. E fiquei aliviado de não ter torrado dinheiro e tempo na Universidade de Toronto...

Curso: "Conceitos avançados de bancos de dados"
Proposta do curso: Ensinar conceitos básicos de bancos de dados.
O que aprendi: Sempre pode piorar.

Esse curso foi tão ruim, mas tão ruim, que no lugar das minhas anotações de aula eu fiz uma lista das cagadas do professor, pra reclamar depois. Saca só a lista:

  • Numa aula, ele projetou uma lista com uns 25 itens sem o menor sentido e falou: "isso é o trabalho de conclusão de curso de vocês". Depois, ao invés de mandar pra todos uma cópia da lista, ele mandou a gente anotar manualmente os itens, porque assim a gente seria "forçado a prestar atenção neles". Na semana seguinte, como ninguém tinha entendido o que ele queria que fizéssemos, uns alunos foram tirar as dúvidas com ele. Ele ficou furioso: "mas eu já falei!!!"
  • Numa aula prática, ele deu pra turma uns 10 exercícios... todos com a mesma resposta. Pra piorar, o enunciado das questões era algo tipo "escreva uma consulta para extrair dados da tabela XYZ". Adivinha se ele deu pra gente a estrutura e/ou o conteúdo da tabela XYZ?
  • Vários exercícios de "extraia os dados do banco de dados" não tinham resposta ou a resposta era um conjunto de dados vazio, tipo, "escreva uma consulta para calcular o total de vendas do usuário John Smith", e a tabela de dados nem tinha um John Smith.
  • Várias aulas terminaram mais cedo porque ele olhou pra turma e falou: "vocês estão com cara de cansados".
  • No meio do curso ele inventou de usar uma ferramenta da Adobe para aulas online. Aí ele passava metade do tempo da aula configurando a ferramenta, enquanto a gente olhava pra parede. Na segunda metade da aula o troço não funcionava e, quando a gente questionava, ele respondia: "vai digitando aí!".

Curso: "Tecnologias emergentes"
Proposta do curso: Falar do que há de mais recente no mercado de software. Só que o professor usava slides com dados de 2001...
O que aprendi: A pagar o pato da turma que fica copiando trabalho.

Quase teve guerra civil nesse curso. Logo no começo do semestre o professor deu um trabalho em grupo pra turma, e obviamente a cola foi desenfreada. Por algum motivo eu me esmerei muito mais do que o normal com esse trabalho e entreguei o código-fonte mais lindo da minha vida, um primor de software, Bill Gates ficaria orgulhoso.

Na semana seguinte da entrega do trabalho, o professor mandou um e-mail cabeludíssimo pra turma toda, dizendo que tinha analisado minuciosamente todo mundo que colou e que ia mandar os nomes todos pra coordenação do curso caso as pessoas não assumissem a cola. Nem precisa dizer que eu fiquei rindo até a orelha quando vi esse e-mail.

Minha alegria durou só até o dia da próxima aula. O professor voltou atrás do nada e decidiu que, como tinha muita cola, ele ia cancelar o trabalho e redistribuir os pontos de outro jeito. Eu quase surtei - juntamente com a outra meia dúzia (literalmente) de gente que tinha feito o trabalho honestamente, e só depois de muita briga com o bendito do professor é que ele aceitou manter as coisas como estavam.

Cursos: "Integração de sistemas" e "Data warehouse"
Proposta dos cursos: Não sei, parei de me importar com isso.
O que aprendi: A ignorar o fato de que eu paguei o salário desses professores inúteis com o dólar a R$ 3.

Esses foram, de longe, os "melhores dos piores" cursos. Toda semana tinha uma aula teórica e uma aula prática, cada um com um professor. O da teoria chegava na aula atrasado, projetava o primeiro slide, depois tergiversava o resto da aula sobre como esse conhecimento é importante para o mercado, que os salários são ótimos, que a gente tinha muito que aprender aquilo... basicamente, passava a aula falando que o conteúdo era muito importante e não explicava a porra do conteúdo. Aí a aula acabava, ele notava que não passou do primeiro slide, e mandava o povo ler as coisas em casa.

Um dia ele deu uma prova e eu fiz uma pergunta sobre uma das questões. A resposta dele foi rir da minha cara - literalmente - e dizer que "se eu prestasse atenção nas aulas eu saberia". Eu escrevi uma reclamação formal no papel da prova, dizendo que essa não era a postura que eu esperava de um professor. Ele me respondeu por e-mail alguns dias depois, reclamando que a culpa era minha de ficar o tempo todo no laptop durante as aulas.

Detalhe: o laptop é porque, ao invés de usar lápis e papel, eu faço as anotações das aulas no Evernote. Ou melhor, fazia, porque depois dessa palhaçada eu desisti de frequentar as aulas desse cara.

Ah, e tem o professor da aula prática, que era ainda mais perdido - mas perdido no nível de confundir o dia/horário da aula e simplesmente não aparecer, e de quando aparecer, entrar na sala e perguntar "o que eu tenho que ensinar hoje mesmo?".

Mas é tudo choro e ranger de dentes nesse seu curso?

Apesar da maior parte dos professores serem desastrosamente ruins, os bons deram cursos bem produtivos. Nunca vou me esquecer da primeira aula de programação de jogos pra web, por exemplo: logo na primeira aula o cara botou a gente pra usar umas DEZ ferramentas/linguagens/tecnologias diferentes logo na primeira meia hora de aula - basicamente, ensinando a coisa mais importante em desenvolvimento de software: ficar confortável quando tu não tem a menor idéia do que está fazendo.

Teve também um professor de "APIs e microsserviços" que protagonizou um dos momentos mais satisfatórios do curso. No final do semestre ele resolveu que, ao invés de uma prova final, a turma faria um projeto de software e teria que integrar umas três tecnologias diferentes e demonstrar no último dia de aula. A turma foi praticamente toda contra, com a desculpa de que já tinha "trabalhos demais", mas o motivo real deles quererem a prova é que ela é mais fácil pra colar...

Quando o professor anunciou o trabalho, um dos alunos - obviamente um dos grandes coladores - fez uma cara de coitadinho e um discurso triste de que ele tinha num-sei-quantos trabalhos pra entregar nas próximas semanas. O professor deu a resposta mais linda de todas:

"Amigão, o choro é livre. Imagina se você tá no trabalho, seu chefe chega pra você e fala 'cara, eu preciso que você faça um projeto integrando esse e esse sistema, é pra daqui a duas semanas'. Você vai virar pra ele e falar 'ah cara, não quero fazer isso não, será que tem como você me dar uma prova ao invés disso'?"

Entre todos os alunos com quem convivi, salva-se só algo tipo 2% da turma. Destaque para - sem bairrismo, juro! - a turma da américa do sul e da américa central:

  • Fui fazer um trabalho de Java com uma venezuelana e empaquei numa parada maluca que o professor não sabia explicar e cuja documentação online parecia grego. A menina ficou acordada até as três da manhã só pra resolver o negócio.
  • Tinha também o "mexicano mágico": no grupo do curso de Android eu estava fazendo o papel de "arquiteto de software" e volta e meia eu soltava umas ideias meio vagas, tipo "isso aqui devia ser um singleton" ou "podíamos usar Retrofit nessa integração". O cara pegava essas frases soltas e, sem pedir explicações, aprendia as paradas por conta própria e, alguns dias depois me aparecia com os troços lindamente integrados no projeto e funcionando redondinhos.
  • Num dos meus empregos de meio-período, na escola mesmo, trabalhei com uma brasileira que fazia o design das telas do sistema e eu implementava. Normalmente, designer costuma ignorar a parte técnica, pedir uns troços impossíveis de implementar e depois reclamar que não tá bom. Essa menina era o oposto - ela lia a documentação técnica do projeto, entendia o que era possível ou não e só depois desenhava. Chegava a escorrer uma lagriminha de alegria quando ela me mandava um layout novo...
  • Por fim, o melhor programador que conheci ao longo destes dois últimos anos por aqui foi um colega paulistano. Trabalhei com ele num projeto onde deram pra gente um sistema antiquado e pediram pra acrescentar um monte de novas funcionalidades. O cara sugeriu reescrever o sistema do zero usando uma tecnologia mais moderna. Pra provar que essa seria a solução mais eficiente, refez o sistema inteiro... em DOIS DIAS.

Epílogo - Valeu a pena?

Bom, esse calvário todo foi a forma que eu escolhi pra me atualizar pra trabalhar de novo com software sem quebrar (muito) as minhas economias, usar os estágios pra pavimentar o caminho pra um bom emprego, conseguir um visto de trabalho pra digníssima e também os futuros requisitos pra residência permanente. E todos os objetivos foram cumpridos.

Pensando racionalmente, acho que a minha decepção é um tanto quanto injusta. Eu não podia mesmo esperar educação nível MIT pagando o preço de Uniesquina. No entanto, não sei se recomendaria esse mesmo caminho para outras pessoas. Talvez valesse mais a pena economizar mais um bocado e pagar por um mestrado ao invés de outra (meia) graduação.

Mas o que importa é que deu certo, estou plugado de novo na Matrix, e não pretendo mais tomar a pílula azul.

Velhice e videogames

2014-07-30 18:37:40 +0000

Envelhecer é uma experiência bem... interessante. Você fica melhor em um monte de coisas, em outras você fica pior, e com certeza você fica assustado ao ver o tanto que agora precisa rolar o mouse no campo "ano de nascimento" ao preencher um formulário online.

Outro lado ruim da idade é que o mundo começa a ficar realmente entediante, porque você percebe que as novidades de hoje raramente são, de fato, novidades, e sim as mesmas coisas de décadas atrás, só que disfarçadas com outro nome. Você olha pros hipsters e vê exatamente o que o seu pai e sua mãe usavam nas suas fotos de infância. Os filmes reciclam infinitamente as mesmas histórias de "o bem vence o mal", "o casal sofre mas fica junto no final", "o herói quase morre mas no fim explode tudo e ainda dá um beijo na mocinha", etc, etc. Os heróis dos seus livros e quadrinhos (que ainda eram de papel) da infância surgem no cinema, em reboots e mais reboots, como se Hollywood fosse um grande computador com defeito. Na música, então... você finalmente entende porque Cazuza falava do "futuro repetindo o passado", do "museu de grandes novidades".

E se você envelhece mas continua jogando videogames, aí meu amigo... aí a rebordosa é ainda pior, porque além do repeteco de histórias você tem também o repeteco de mecânicas e artifícios de jogo, de clichês, de enredos, de tanta coisa... todos os first person shooters são iguais, todos os RPGs são iguais... e todos batem recordes de vendas, porque a molecada pega o Call of Duty: Ghosts, que é IDÊNTICO A TODOS OS OUTROS DA SÉRIE, e acha do caralho porque "agora dá pra jogar com personagem mulher, cara!". E a mesma molecada, quando confrontada com o genialíssimo e inovador Portal, reclama que "pô, não dá pra atirar em ninguém?".

screenshot do Portal

Mas o problema não é a molecada, e nem a mentalidade de "na minha época era melhor". O problema é que os trintões como eu jogaram os pais e avôs dos FPSs, dos RPGs, dos jogos com sandbox e open world, então a novidade deles já não é mais novidade pra nós.

Outra questão que aflige o gamer balzaquiano é que a idade traz - felizmente! - o refinamento dos prazeres. Aos vinte anos a gente até topava encher a cara de Skol e vinho Chapinha; agora curtimos apreciar um cabernet sauvignon e a cerveja tem que respeitar a Reinheitsgebot - e nos jogos acontece a mesma coisa. A gente não fica satisfeito só com explosões e gráficos fantabulósicos: o jogo tem que ter uma boa história. Videogame, convenhamos, não é filme pornô. Recentemente joguei a trilogia Mass Effect, que é um bom exemplo disso: a mistura de shooter com RPG é bem básica, mas a profundidade da história é fantástica e, pra completar, é construída num universo tão criativo e minucioso que ouso dizer que é melhor que o de Star Wars ou do Senhor dos Anéis: é uma obra-prima de ficção científica. Paradoxalmente, eu morria de tédio nas partes de combate e passava horas explorando as opções de diálogos com cada personagem e conhecendo mais sobre cada raça alienígena - e são dezenas (clique na imagem abaixo), todas com uma história complexa e interessantíssima - e quando vou visitar meu irmão (de 12 anos) ele dá skip em todos os diálogos dos seus jogos...

Mass Effect characters wallpaper

Há problemas também no universo multiplayer: quando jovens, nossos modems não transmitiam a mais de 14.4 kb/s e o jogo online estava na sua infância. Hoje estamos no paraíso multijogador, com internet rápida e sem fio e centenas de milhares de pessoas conectadas te esperando... e eu simplesmente não tenho saco. Recentemente baixei o beta do Destiny, o FPS online da Bungie que está surfando a crista da onda do hype para seu lançamento em setembro. Primeiro você só tem acesso aos modos cooperative, onde não vi cooperação nenhuma: às vezes aparecia um outro jogador, fazia uma dancinha na minha frente (sério!) e saía correndo sozinho. Aí cheguei na parte de deathmatch e a idade pesou mesmo. Quando jovem eu botava um hard techno nos fones e passava horas online no Quake 3 tranquilamente. Hoje em dia, pra conseguir um resultado minimamente relevante jogando contra a molecada, é preciso fazer um esforço enorme. Não é divertido ficar o tempo todo tenso, correndo feito louco pelo mapa, em estado de alerta total e incessante porque basta uma bobeira de uma fração de segundo pra alguém lhe explodir a fuça.

(pra não dizer que não gostei de nada, a trilha sonora do Destiny me agradou bastante :) é um ambient bem espacial e relaxante).

Por sinal esta é outra coisa que vem com a idade e que transforma sua experiência de jogar: você passa a buscar sossego e tranquilidade ao invés de agitação. Esse ano eu ganhei o Watch Dogs de presente de Dia dos Namorados, e ele tem uma funcionalidade bem inovadora: como o jogo tem temática hacker, uma das coisas que dá pra fazer é invadir o jogo de outra pessoa, numa mistura bem criativa do single player com o multiplayer: você está lá, cuidando da sua vida, sozinho no mundo do jogo, e de repente surge a mensagem "you are being hacked", e você tem que procurar o jogador que se conectou pela internet ao seu Playstation e "invadiu" seu jogo para eliminá-lo. Acontece que, no meu caso, toda vez que eu era invadido a sensação era realmente de que estavam se intrometendo no meu momento de jogo single player, e ao invés de ser emocionante eu achava aquilo extremamente irritante.

Watch Dogs online hacking

Felizmente, o mercado dos jogos cresceu o suficiente para poder ter nichos onde o gamer trintão consegue achar algo interessante - em especial na comunidade indie. Tem muita gente boa inovando e criando obras de arte em forma de jogo, como o sublime Journey (que o Bruno explicou melhor do que eu explicaria neste post). E recentemente encontrei uma preciosidade independente que vai consumir todas as minhas horas de jogo daqui pra frente: o Euro Truck Simulator 2.

O nome diz tudo que você precisa saber sobre o jogo: o Euro Truck Simulator é um simulador de caminhões ambientado na Europa. Só isso. Ele não é multiplayer, você não aposta corrida com ninguém, o caminhão não tem turbo nem nenhuma firula intergalática: exatamente como na vida real, você simplesmente transporta carga de um canto a outro, dirigindo a prosaicos 80 km/h nas autobahns alemãs ou nas charmosas estradinhas francesas. Sua maior preocupação é respeitar os limites de velocidade, dar seta antes de fazer as curvas e parar de 12 em 12 horas para dormir. Pra passar o tempo, o rádio do caminhão, convenientemente, pega streaming de estações de rádio reais europeias, deixando a experiência ainda mais envolvente e, principalmente, relaxante.

Euro Truck Simulator screenshot

E assim as novas e velhas gerações de jogadores vão convivendo, cada uma no seu mundinho particular. A molecada, vermelha de raiva, martela os botões do controle e segue gritando impropérios aos n00bs em seus headsets. Nós, os gamers de trinta e muitos anos, abrimos uma Heineken e calmamente transportamos uma caçamba de areia de Dusseldorf para Stutgard. E o mundo segue girando até o dia em que, finalmente, chegará o nosso inevitável game over.

Retrospectiva 2013

2013-12-20 15:28:26 +0000

Eu me lembro de tudo desse dia - menos do ano. Um chute mais ou menos calculado diria que foi há dezessete anos, em 1996. Eu tinha 18 anos e estava começando a faculdade.

Eram seis e pouco da manhã de uma terça-feira e eu seguia com mais uma tentativa frustrada de me acostumar a fazer exercícios físicos: havia me matriculado numa aula de natação na piscina do Colégio Santo Agostinho, ainda em Belo Horizonte, onde estudei durante o ensino fundamental. Mas naquele ano eu já era maior de idade e tinha um Uno Mille 1.0, que por sua vez tinha uma coisa muito importante: um toca-fitas com auto-reverse.

Morrendo de sono, irritado e arrependido da ideia idiota de fazer natação de madrugada, resolvi colocar a fita com uma cópia do "Millions now living will never die", do Tortoise, que havia sido lançado naquele ano. Eu nunca havia ouvido Tortoise até aquele dia, por isso gravei a fita de um dos CDs do meu primo.

Importante lembrar que, no ano de 1996, desvendar o universo musical não era fácil como hoje. Mas, felizmente, a minha tendência de não-conformidade musical já estava valendo: enquanto todos os meus amigos achavam o rock do Metallica o máximo, eu gostava era de ver os videoclipes da madrugada na MTV. Lembro que foi assim que cheguei ao Sonic Youth, por exemplo: vi o clipe de Little Trouble Girl e fiquei fascinado com aquele som "errado" das guitarras, e a atmosfera ao mesmo tempo familiar e incômoda que elas construíam. O lado B do universo musical ia ficando cada vez mais fascinante.

Felizmente meus primos estavam na mesma pegada, e foi com eles que eu ouvi falar pela primeira vez em uma coisa chamada pós-rock, e foi daí que eu cheguei ao Tortoise.

Os 20 minutos do trajeto de carro até o colégio encaixaram certinho com "Djed", a longa e intrincada faixa que abre o álbum. Ela começa como uma banda normal de baixos e guitarras mas de repente um dos bateristas assume um vibrafone e a música se transfigura, metamorfoseando timbre, ritmo e estrutura. "Rapaz, isso é bom mesmo", pensava eu enquanto estacionava o carro e a música ia acabando.

Aí veio a segunda faixa, chamada Glass Museum, que é o motivo de eu estar escrevendo este post enorme e relembrando esta manhã sonolenta dos meus dezoito anos - e tudo que aconteceu desde então. Eu já ia descer do carro e ir pra aula quando Glass Museum começou a tocar.

Mas, como disse, eu não sou bom de memórias. Não me lembro de muita coisa nessa vida. Esqueço quantos anos de casado eu tenho, nunca lembrei o dia do aniversário de nenhum amigo... mas me lembro perfeitamente dos cinco primeiros segundos de Glass Museum naquela manhã. Lembro da sombra que a árvore do canteiro central fazia sobre o capô do Uno Mille, parado a 45 graus na rua íngreme do colégio. Lembro do display âmbar e de todos os botões da frente do toca-fitas, do macete de apertar "FW" e "REW" ao mesmo tempo pra ele inverter o lado da fita. E nunca vou esquecer do arrepio que me subiu dos calcanhares até a nuca por cinco longos segundos. Foi a maior epifania musical que já tive na vida.

O motivo técnico de tamanha surpresa é que, musicalmente falando, logo no início Glass Museum quebra todas as "regras informais" do rock que eu havia ouvido até aquele dia. O compasso da música passava longe do "um dois três quatro" básico, a mistura das guitarras com o vibrafone era inédita, a estrutura não seguia o clássico "verso-refrão-verso" de sempre. Aquilo era completamente diferente de tudo que eu já havia ouvido - e por isso era incrivelmente lindo.

E o mais interessante desta nova beleza é que ela evidenciava todo um novo universo de criatividade estética que só é possível encontrar quando se sai do lugar comum musical. Musicalmente falando, naquele momento eu me senti como um cego que passou de repente a enxergar e que fica, ao mesmo tempo, assustado e fascinado porque descobriu que o mundo não é apenas aquilo que ele achava que era: ele é muito mais. Foi uma espécie de expansão sensorial do meu conhecimento musical.

Não demorou muito e eu desisti de fazer aulas de natação de manhã cedo. Por outro lado as madrugadas na MTV e as cópias piratas em fitas cassete aumentaram drasticamente. E o Tortoise transformou-se na minha banda preferida.

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Daí tudo foi mudando. Mudou a cidade onde moro, mudou meu estado civil, mudou até meu emprego - duas vezes só este ano, e vai mudar ainda uma terceira vez, quando eu arrumar outro trabalho. Este talvez tenha sido o evento mais marcante de 2013: deixei a publicidade em novembro e não pretendo voltar.

2013, definitivamente, não foi um ano bom. Talvez ele tenha sido o pior ano desde que comecei a fazer retrospectivas aqui no blog. Tentando entender onde foi que a coisa toda começou a dar errado, passei algum tempo revendo posts antigos e levei um susto grande ao perceber que, no processo de me tornar uma pessoa completamente diferente do moleque de dezessete anos atrás, aconteceu uma mudança muito, muito séria: eu parei de sonhar.

O principal motivo disso é o tanto de podridão que vi ao longo destes últimos anos. Eu tive que lidar com situações estapafúrdias e com um sem-número de gente má e oportunista, e isso foi profundamente desgastante. Em 2013, por exemplo, eu cheguei a ter um chefe que estava roubando dinheiro da agência. E como diz o ditado, quando você olha pro abismo o abismo olha de volta para você, e acabei me contaminando com essa visão torpe de mundo. Bethania até me apelidou de Boris, o personagem neurótico e misantropo do "Tudo Pode Dar Certo", do Woody Allen.

Mas este pessimismo todo é apenas o sonho de antigamente com a polaridade negativa. Basta inverter. Está na hora de me reacostumar a ver o mundo com aquele olhar mais simples de dezessete anos atrás.

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No mês passado, enquanto fazia uma pausa no envio de currículos pra dar uma passada de olho no Facebook, vi que o SESC anunciou nada menos do que quatro shows seguidos do Tortoise em São Paulo. Não pensei duas vezes e comprei ingresso para ir a todos eles, mesmo porque a promessa era de um setlist diferente em cada um dos dias.

Com isso eu comecei a pensar na possibilidade de realizar um sonho antigo: ouvir Glass Museum ao vivo. O impulso inicial foi de não alimentar muitas esperanças disso acontecer. "Expectativas levam ao desapontamento!", era o que eu sempre dizia. Além do mais, àquela altura a banda já tinha décadas de estrada e repertório suficiente pra não precisar ficar ressuscitando músicas dos primeiros álbuns.

Apesar dos ingressos esgotados, muita gente não foi e logo no primeiro dia eu consegui me sentar na primeira fileira, e o teatro do SESC era tão bom que eu me sentia como se a banda estivesse tocando na sala da minha própria casa. E foi assim que vi o show em todos os quatro dias: colado na banda e confortavelmente sentado numa poltrona tipo de cinema.

Foi demais. O Tortoise é outra coisa ao vivo. Começa pelo fato de que o setup deles, além dos vibrafones e sintetizadores, usa duas baterias completas, uma de frente pra outra, no meio do palco. Quando eles as tocaram, juntas, em "Monica" - que é uma das músicas que eu também queria muito ver ao vivo, depois que vi este vídeo deles tocando em Barcelona - eu fiquei maravilhado. Ao longo dos shows muitas outras coisas ficaram evidentes. Por exemplo, eu nunca tinha reparado em como as músicas do Standards - o disco com a bandeira dos EUA na capa - soam mesmo norte-americanas, e isso só ficou evidente quando finalmente vi aquelas caras branquelas, caucasianas, fazendo a música acontecer. Também entendi um pouco mais do álbum mais recente, o "Beacons of Ancestorship", que com sua pegada mais barulhenta e guitarreira está de fato reverenciando as estrelas ancestrais do punk rock. E essa epifania toda veio só pelo fato do John Herndon ter tocado num dos dias usando uma camiseta do Black Flag.

Mas no meio disso tudo o sonho de Glass Museum continuava: em todos os silêncios que precediam uma nova música, eu olhava pra guitarra de Jeff Parker, pra ver se ele daria as mesmas seis notas que ouvi dentro do meu Fiat Uno, naquela manhã de 1996, e que iniciaram um novo ciclo na minha vida.

Foi no terceiro show, o de sábado. Naquele momento o péssimo ano de 2013 foi, oficialmente, encerrado. Dezessete anos depois, chegou a hora de voltar a sonhar.

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2012 - 2011 - 2010 - 2009 (b) - 2008 2007 2006 2005

Resumo das coisas que pensei ao pedalar 46km

2013-07-20 22:58:33 +0000

(Todas as fotos são do meu Instagram)

Primeiros 5km - Depois que acordei e vi que a previsão do tempo dizia, basicamente, que "the winter is coming" (vem aí recordes de frio e chuva na semana que vem), achei por bem aproveitar o último dia de sol. O roteiro que imediatamente me veio à cabeça foi percorrer a Ciclovia do rio Pinheiros, inteira, entrando pela estação Santo Amaro e saindo pela Vila Olímpia.

Estes 5km são o trecho de rua que percorro até a estação Santo Amaro. Normalmente é lá que eu me preocupo com o vento e decido se vou começar pedalando pro norte ou pro sul, mas dessa vez pensei: "não faz diferença, nesse circuito de hoje eu vou me ferrar de qualquer jeito". Então entrei na ciclovia, coloquei os fones, apontei a bike para o sul e comecei a pedalar.

Do km 5 ao km 12
Me sinto:
Ótimo
Dores: Nenhuma

Ciclovia

Este trecho vai até o "final pobre" da ciclovia, que fica em Interlagos. Eu chamo de "final pobre" não por preconceito, é porque o estado da ciclovia aqui pra baixo é tenebroso em comparação com o "trecho nobre" (ao norte da Vila Olímpia, já já falo dele). O asfalto é mal preservado, a pintura está velha e horrível. Mas o vento, meus amigos, o vento estava a favor e eu fiz esse trecho numa média de deliciosos 40km/h. É como naquelas questões de física do colégio, quando o professor dava um problema de mecânica clássica e te falava pra desconsiderar o atrito. Mas ao invés de curtir, a única coisa que eu pensava era que esse vento a favor logo logo seria um vento contra - e eu iria percorrer toda a extensão da ciclovia com Deus flutuando na minha frente e me soprando de volta pra trás, como naquelas ilustrações do século XIX.

Do km 12 ao km 20
Me sinto:
Um cara esforçado
Dores: Nenhuma

Eu esperava vento contra, mas o que encontrei foi o pior vento contra de toda a história dos ventos contra da ciclovia. Se você não tem costume de pedalar isso pode parecer exagero, mas eu te provo com um dado bem simples: minha velocidade média de 40km/h caiu pela metade e eu estava lá, bufando a 20km/h e me sentindo como se estivesse subindo o Everest. Mas a coisa toda só estava começando e eu ainda tinha bastante gás.

Os outros ciclistas desistiam de forçar e subiam em ritmo de passeio. Alguns estavam parando no acostamento pra descansar.

Do km 20 ao km 25
Me sinto:
Um cara esforçado e também persistente
Dores: Punhos meio doloridos do guidão, mas tranquilo.

Ponte Estaiada

É nesse trecho que eu passo debaixo da Ponte Estaiada, principal cartão postal da rede Globo de São Paulo. Isso me lembou uma das primeiras vezes que vim à ciclovia, ainda com uma bicicleta "genérica" daquelas de comprar em supermercado. Lembro que nos primeiros quilômetros eu pensava, empolgado: "cara, como isso é divertido!". A diversão durou até meu pneu dianteiro furar, pouco antes da Ponte...

Foi um balde de água fria daqueles. E isso me lembrou de todas as outras inúmeras vezes que tentei fazer algum tipo de exercício e alguma coisa atrapalhava. Quando era jovem e morava em Belo Horizonte eu tentei correr na rua um monte de vezes: numa delas chovia todo dia, outra vez eu tropecei e ralei os dois joelhos, e em todas as vezes eu me sentia injustiçado pelo destino.

Felizmente, depois de adulto, adotei uma regra simples para a vida: para todo e qualquer problema da minha vida, inclusive - e especialmente - os problemas causados por "má sorte" ou "injustiças", o culpado sempre sou eu mesmo. Pneu furou? Culpa minha, que não me planejei para isso e não trouxe um kit de reparo ou uma bombinha de ar de emergência (qualquer ciclista sério sempre sai de casa com um desses). Choveu? Culpa minha, que não viu a previsão do tempo e/ou trouxe uma roupa impermeável pra se proteger.

Pensar assim me fez parar com mimimi e ser mais esperto e criativo em relação às coisas da vida. Ou pelo menos era a intenção: adivinha se eu havia lembrado de trazer meu kit de reparo de pneus...

Do km 25 ao km 30
Me sinto:
Suave na nave.
Dores: Nenhuma. Ou seja, na hora que eu parar...

Chegada dos ciclistas na Estação Vila Olímpia

Passei a estação Vila Olímpia e cheguei no "trecho nobre" da ciclovia. Gente bonita, bicicletas importadas, asfalto novinho e pintadinho, tudo na mais perfeita vibe coxinha. Mas o mais legal é que, mesmo usando uma Caloi 10 vagabunda, sem sapatilha, e equipada na base do DealExtreme, nenhuma bike fashion de 10 mil reais havia me ultrapassado. Na verdade nenhuma bike tinha me ultrapassado desde que entrei na ciclovia.

Lembrei dos meus primeiros dias de academia, pouco mais de um ano atrás. Eu estava gordo e sem preparo físico, e com um longo histórico de tentativas fracassadas de emagrecer. Só que dessa vez eu decidi que tentaria duas coisas novas:

  • Para exercícios, o método "calma, cara" - Eu não ia cair na conversa dos professores de academia que ficam gritando "VAAAAI BOTA MAIS PESO NESSA PORRA AÊ". Eu iria devagar. Sem forçar. Pegar pouco peso, aumentar carga só quando eu me sentisse definitivamente confortável. É como diz o ditado gringo: "slow and steady wins the race". Isso foi essencial pra que eu não mandasse os treinadores da academia para lugares não muito felizes durante os treinos, e também pra que eu não me frustrasse ao não ver nenhum resultado após me matar de treinar.
  • Para dieta, um único e simples indicador: calorias - Eu não sei como não percebi isso esses anos todos. Emagrecer é matemática simples: se você comer menos calorias do que gasta, você emagrece. Caso contrário, engorda. A única coisa que faltava no meu caso era contar as malditas calorias. Aí instalei o FatSecret no meu telefone e passei a anotar tudo que comia e os exercícios que fazia. E me pesava todo dia. Aí o óbvio aconteceu: nos dias em que eu comia menos do que gastava, eu emagrecia. E pela primeira vez eu tive a certeza diária do que ia acontecer com o meu peso - porque, afinal, eu estava medindo.

Resultado: perdi 13kg em um ano.

Antes e depois

Lembro que nas minhas primeiras idas à ciclovia eu via meu desempenho e me achava o máximo - e então algum triatleta maluco passava voando por mim. Mas ao invés de me frustrar eu segui firme no método "calma, cara" - tão distraidamente que só hoje reparei no quanto meu preparo físico está ótimo.

Do km 30 ao km 35
Me sinto:
Lance Armstrong (sem o doping)
Dores: Meio dolorido, mas só quando me mexo.

Bicicletas estacionadas no final da ciclovia

Como já ia aí mais de uma hora de ciclovia, tomei um gelzinho de maltodextrina (basicamente um carboidrato de fácil absorção) pra manter o nível de energia até a volta pra casa. Da primeira vez que tomei isso foi muito engraçado: era um dia em que tinha me alimentado mal e estava morrendo lá pelo km 15, aí tomei o gel e ele me deu um boost de energia tão absurdo que entendi Lance Armstrong perfeitamente.

Esse trecho é a reta final da ciclovia, um trecho sem nenhuma lombada que vai até o Villa-Lobos e tem um retão no final. Era pra eu estar morrendo com o vento contra, mas estava tão bem que outra ciclista até pegou carona em mim até o final da pista.

Esse negócio de pegar carona no vácuo de outro ciclista, que vai na frente "cortando" o vento pra você, é muito divertido. Eu nunca entendi aqueles papos de estratégia de equipes no Tour de France até ver a diferença absurda que faz ter alguém abrindo o vento na sua frente. Tanto que não é incomum que os ciclistas do rio Pinheiros façam uns pequenos pelotões involuntários e revezem entre si, mesmo que não se conheçam. Normalmente eu sou o "caroneiro", mas hoje eu reboquei uns dois ou três.

No fim da pista o pessoal normalmente para pra tomar uma água e descansar. Já eu, quando percebi que não tinha sequer colocado o pé no chão desde que entrei na ciclovia, inventei de completar todo o trajeto sem parar.

Do km 35 ao km 40
Me sinto:
Runner's high!
Dores: Não ouviu? Runner's high!

Nessa hora eu estava bem no trecho que menciono neste post, de 2012, que escrevi quando estava afundado em insônia e stress. Mas agora o cenário é outro: troquei de trabalho e foi como se eu tivesse trocado o inferno pelo céu. É triste como a gente se acostuma com uma vida miserável sem perceber.

No post eu menciono que, ao começar a descer a ciclovia de volta, com o vento novamente a favor, eu me senti relaxado pela única vez naquela semana. Dessa vez eu estava relaxado, feliz, leve, passarinhos assobiando que a vida é bela enquanto pétalas de flores levitavam na brisa suave e o asfalto da ciclovia reluzia em um milhão de luzes tal qual estrelas de uma galáxia distante.

Tudo culpa das endorfinas que inundaram meu cérebro. Na real mesmo eu estava é todo dolorido, desviando de cocô de capivara, vendo urubus sobrevoando a pista e sentindo o cheiro fétido do rio.

Do km 40 ao km 46
Me sinto:
Zumbi.
Dores: Dói tudo!

Ciclovia

Finalmente cheguei na estação Vila Olímpia, o ponto onde iria sair da ciclovia e voltar pra casa pela Berrini e Chucri Zaidan. No instante em que eu parei a bicicleta, os 40km cobraram seu preço: músculos que eu nem sabia que existiam gritavam de dor. As coxas fraquejavam. A bunda se sentia sodomizada pelo selim, e eu tinha dúvidas se conseguiria ter filhos no futuro. Empurrar a bicicleta escada acima para subir a passarela e sair da ciclovia foi uma espécie de décimo-terceiro trabalho de Hércules. A única posição que não doía muito era, ironicamente, sentado e pedalando. Então respirei fundo e saí Berrini abaixo, desviando dos ônibus.

Eu uso frequentemente a bicicleta no meio do trânsito, durante a semana, pra ir pra academia. O que mais me deixa surpreso é que os motoqueiros são o veículo que mais respeita bicicleta. Reduzem pra você passar (mesmo no corredor), tomam o maior cuidado contigo. Até puxam papo no farol. Outra coisa bizarra é o quanto os pedestres ignoram as bicicletas. É como se você não fosse um veículo: a pessoa atravessa a rua e praticamente salta na sua frente, esperando você desviar dela.

Com o ritmo ditado pelos faróis da Berrini, e após sofrer com os calombos das mal pavimentadas e insistentemente remendadas ruas paulistanas, finalmente cheguei em casa.

Tempo total: 1 hora e 50 minutos
Distância total: 46,1 quilômetros
Velocidade média: 25km/h
Frequência cardíaca média: 159 bpm
Calorias ingeridas: 326 kcal (um Gatorade e um sachê de maltodextrina)
Calorias consumidas: 1596 kcal

Observações pertinentes e oportunas sobre assuntos totalmente aleatórios

2013-01-23 21:01:53 +0000

Achei que tinha desenvolvido uma tolerância à cafeína depois que comecei a ficar com sono logo depois de beber café espresso. Mas aí reparei que a forma que bebo cafeína é que faz diferença no tanto que ele me acorda.

Donde temos a seguinte escala:

  • Espresso - Efeito nulo ou negativo (me dá sono)
  • Café de coador - Efeito leve. Os cafés ruins de escritório (estilo 'café de asa de barata'), sem açúcar, são um pouquinho mais eficientes.
  • Café solúvel - Efeito considerável. Destaque para o Nestlé DuoGrão (a.k.a. "do ogrão"), que mistura café solúvel com pó de café puro. A cafeína lhe dá um tabefe na cara quando você bebe.
  • Café americano (aquele do Starbucks) - Efeito bastante consideravel, mesmo no tamanho pequeno ("tall"). No final do copo eu já estou me sentindo meio Papaléguas.

- - - -

Estava vendo minha music library e pensando: é praticamente um milagre eu não usar drogas. Nos últimos tempos eu ando ouvindo muuuuita música de noiado/frito/v1d4l0k4. Exemplos:

  • Mad Lib: Discos com 50 faixas de 1 minuto cada, todas feitas de uma brisa das mais abstratas. É filosofia stoner, versão musical.
  • Ras G: Eu ouço e dá pra imaginar o próprio Ras no meio da nuvem de fumaça, falando, arrastado: "Dude.... duuuude... u feelin this?..." (ps.: a faixa 11 do disco se chama "jus feel")
  • Emeralds: A música se repete, repete, repete, repete, repete... e então o ácido bate.
  • OOIOO: Versão japonesa do Santo Daime.
  • Rustie: É tipo o cara que cheira uma linha e sai andando pela pista de dança se sentindo o próprio Alexandre Frota.
  • SugarBeats: Tu toma um "E" e aquele show de funk (não o carioca, o de James Brown) subitamente fica... crocante.

- - - -

Eu continuo naquelas de contratar gente, o que significa ver milhares de CVs, o que significa ver coisas bizarras como:

  • Gente que manda CV e no cabeçalho, logo debaixo do nome, vem o nome artístico.
  • Gente que coloca hashtags no subject do email. Tipo: #Curriculo #Vaga #Projetos.
  • Teve uma menina que incluiu uma citação de Mary Poppins no final do CV. Dizia assim:

Em cada trabalho a ser feito há um elemento de diversão. Você acha a diversão e - pronto! - o trabalho vira um lazer!

- - - -

Num fim de semana desses aí fomos conhecer Campos do Jordão. Sim, tá no verão, mas os dias estavam chuvosos e frios (a.k.a. "verão em São Paulo").

As pessoas chamam Campos do Jordão de "a Suíça brasileira". Na verdade é uma "Suíça wannabe", como bem definiu Bethania. Os caras fazem os telhados pontudinhos, servem fondue por tudo que é canto e - voilá! - eis a Suíça... versão brega.

Pra piorar, a cidade não funciona/não entrega:

  • No posto de informações turísticas, logo na porta da cidade, ao ser perguntada sobre opções de turismo para dias chuvosos como aquele, a mocinha respondeu: "então né... chovendo assim é complicado..."
  • Agendamos uma visita à fábrica da Baden Baden, quando o tour começou a mocinha disse que não teríamos acesso à fábrica por questões de segurança e o "tour" foi ela levando a gente pra ver uns barris de cerveja e lendo uma timeline com a história da cervejaria pregada na parede. Durou 10 minutos. No final deram dois copos de cerveja pra cada um, possivelmente pra ver se, bebendo, a gente esquecia aquela picaretagem.
  • O Palácio da Boa vista fecha pro almoço (bem na hora que chegamos lá). Aí, pra não perder a viagem, resolvemos ir ao Café do Palácio, que - surpresa! - não tinha café.
  • A aclamada "Fazenda Lenz Gourmet" é uma terrível armadilha pra turistas: de gourmet só o nome, porque o garçom errou tudo do nosso pedido, do ponto da carne às bebidas. A "área de lazer" da fazenda é deprimente, parece um galpão abandonado.

(Anti) Retrospectiva 2012

2012-12-17 03:49:20 +0000

Sendo bem sincero com vocês:

Eu passei as últimas duas horas olhando pro computador e tentando escrever uma retrospectiva desse ano. Desisti.

Digamos que 2012 foi um ano de perdas. Muitas. Perdi brigas, perdi fé, perdi esperanças, perdi sono, perdi 13kg (sim!) e mais um monte de coisa. E, principalmente, perdi a vontade de ficar me desgastando dia após dia.

Então achei que, ao invés de ficar remoendo um ano complicado neste post, era melhor botar uma meta para o ano que vem. Isso deu muito certo em 2010, inclusive.

Assim sendo, declaro para todos os fins que, em 2013, minha meta é me divertir.

Não estou falando de virar um doido inconsequente. A ideia aqui é batalhar forte como batalhei em 2012, mas com o espírito mais leve. Sofrer menos e comemorar mais. Priorizar mais as voltinhas de 50km na ciclovia da marginal do que o trampo de fim de semana. Tomar mais cervejas nas noites de terça com os caras. Se der insônia, ir jogar videogame de madrugada. Ouvir mais música boa, ver mais filmes bons, fugir como louco de qualquer momento de tédio. Trampar sério, mas não tão à sério.

Menos businessman, mais hustler.

No fim todos estaremos mortos, é tudo irrelevante. Foda-se.

Então vem, 2013. Já vou chegar beliscando a sua bunda.

Uma centena de metros em uma linha reta perfeita

2012-10-31 05:26:23 +0000

Debaixo do proverbial sol de meio-dia de sábado e já uns 15 quilômetros haviam ficado pra trás: os primeiros até a estação Santo Amaro e, de lá, os restantes lado a lado à fedorenta margem do Rio Pinheiros. Sempre ao norte, até o fim da ciclovia, onde tem um posto de apoio debaixo do viaduto que salta sobre a estação Ceasa do trem.

Comprar uma bicicleta - a clássica Caloi 10, mas no modelo 2012 - foi uma grande ideia. Na verdade foi inevitável, depois que entendi que existe um mundo além das mountain bikes e que esse é um mundo de bikes speed, que me ultrapassaram tantas vezes quando fui me aventurar na ciclovia usando a bike tosca de supermercado que eu precisava experimentar como era isso de bicicletas feitas pra voar pelo asfalto liso, ao invés de sofrer em trilhas poeirentas ou de despencar morro abaixo. Nunca vou me esquecer de quando montei na Caloi 10 pela primeira vez: arredia e instável quando lenta, algumas pedaladas depois e eu fascinado com o quanto ela corria. "Isso é um foguete", pensava.

Pedalar pro norte na ciclovia é normalmente contra o vento, portanto bem sofrido e mais devagar, mas aí você para no posto de apoio e bebe uma água e checa o celular, com a desculpa de ver se aquele app de GPS tá mapeando certo o trajeto, mas que no fundo é pra aliviar a consciência de que ninguém te ligou com alguma bomba no trabalho. O que me remete aos momentos antes de sair pra pedalar. Eu trançando pela casa, inquieto, com um nó no estômago, sem entender se aquilo era ansiedade para sair logo de casa e pedalar ou se era o resultado da semana caótica e da insônia da última quinta-feira. Eu nem me lembro do que eu via na tevê às quatro da manhã de quinta, pra tentar pela décima nona vez ocupar a cabeça com algo que me acalmasse - ou com qualquer outra coisa que não fosse a angústia de ver as horas passando e nenhum sinal de sono, mesmo estando exausto do trabalho, e esse dilema do cansado-mas-aceso dando um aperto no peito, exatamente igual ao que eu sentia na manhã de sábado, capacete da bike na mão, garrafa d'água na outra, decidindo ir logo pra rua pra ver se aquilo passava independentemente da causa.

Então eu fui, e assei no sol de meio-dia, e suei e cheguei bem cansado no posto de apoio e no meu celular não tinha nenhum telefonema do trabalho, só umas notificações do Facebook que nem quis ver pra não quebrar a sensação de que aquele momento ali era só meu.

Era só meu e o caminho da volta ia ser com vento a favor, e ainda restava uma boa meia hora do podcast de Drum'n Bass nos fones. Eu devo boa parte dos 10 quilos que perdi nos últimos meses à precisa curadoria de DJ Risky em seu podcast (semi) semanal. "Risky killin' it from every single angle!", diz uma das suas muitas vinhetas. O sentimento é de que você pode levantar qualquer peso na academia, correr qualquer distância, e de que a violência do esforço de músculos cansados na verdade é uma delícia e vai ser ótimo esmigalhar os pedais e acelerar ciclovia abaixo com vento a favor. É um foguete a Caloi, com vento a favor então é ainda mais. E ninguém me ligou, então eu estava livre.

Nos primeiros metros de retorno à ciclovia o velocímetro passou fácil dos 30 quilômetros por hora, e à frente só a longa reta que termina na ponte Cidade Universitária, nenhum outro ciclista por perto. Larguei o guidão, respirei fundo o ar podre do rio Pinheiros e abri os braços por alguns instantes. Antes arredia e instável, agora a Caloi 10 seguiu quase uma centena de metros em uma linha reta perfeita, e me senti relaxado.

Foi o único momento da semana inteira em que me senti relaxado.

No fim das contas acabei exagerando e pedalei cinquenta quilômetros no total - uma ida e volta completa em toda a extensão da ciclovia. Cheguei em casa e demorei umas 2 horas só pra conseguir levantar do sofá e tomar um banho. Com corpo e mente com cansaço finalmente sincronizado, alternei cochilos e sono noturno picado até o final do domingo - mas pelo menos dormi alguma coisa.

Durou só até essa madrugada de terça pra quarta. São duas da manhã e nem tentei ir dormir ainda.

2012 não está sendo fácil. 2012 não está sendo nada fácil.

Você não precisa nem do seu nome

2012-08-19 14:47:34 +0000

Toda vez que eu escuto o podcast do The Hype Machine eu acabo tendo altos insights, não apenas sobre música mas sobre um monte de coisas.

O podcast tem um quadro onde eles entrevistam gente da "blogosfera musical" e pedem indicações musicais. Na edição de agosto os entrevistados foram os caras do No Fear of Pop, e eles contaram uma história fantástica...

Eles receberam um email anônimo, de uma linha, dizendo apenas: "oi, eu sou um produtor anônimo e esta é uma das minhas músicas". Foram ver e a faixa era tipo um pós-UK-grime estilo Burial, mas muito bem produzido, e então eles acabaram postando a música. E a partir daí toda semana foram recebendo outros emails anônimos com mais faixas.

E acabou que esse cara totalmente anônimo foi a recomendação musical deles no Hype Machine. Foi curioso ouvir o locutor anunciando: "All right, let's check it out, this is 'unknown' on Hype Machine Radio".

Pensa bem: um cara anônimo produziu umas coisas em casa, mandou um email pra um casal de blogueiros berlinenses e isso foi parar em vários outros ouvidos mundo afora - simplesmente surfando no hype. Não foi preciso nenhuma divulgação, jabá, publicidade, endosso de celebridade, nada. Não precisou nem do nome do compositor.

E é interessante como a "máquina do hype" é poderosa. No mesmo podcast comentaram sobre o disco novo do Tame Impala que sai em outubro e dizendo que a banda soltou alguns singles online e os blogs todos repostaram. E só então me toquei que eu nunca vi sequer um bannerzinho em flash em nenhum canto da internet dizendo "Ouça o novo do Tame Impala". O fato é que, fora do mainstream, simplesmente não existe publicidade para bandas e ainda assim o Tame Impala lotou o Cine Jóia aqui em SP semana passada.

O que me leva a crer que há uma grande chance de que a minha nova profissão não exista mais daqui a algumas décadas.

Delírio sobre viagens de avião

2012-05-17 03:17:30 +0000

Um dia desses eu tive a ideia de colocar a coleção inteira de Sandman no iPad, pra ler no avião. E que ideia boa: tenho devorado as edições, fascinado. Nunca vi quadrinhos tão bem escritos.

Coincidentemente, lá pela edição 43, Sandman decide viajar à maneira dos mortais e embarca ele mesmo num avião com sua irmã caçula, Delirium.

Delirium é desenhada como uma menina meio maluquinha, de cabelo colorido e esgadanhado, de olhos cada um de uma cor. Como era de se esperar, Delirium não costuma fazer muito sentido quando fala, mas é dela o comentário mais sensato sobre voar de avião que já vi:

Sabe qual a melhor coisa sobre aviões? Digo, além dos amendoins nos saquinhos prateados.

É olhar as nuvens pela janela e pensar que eu poderia andar ali. Que talvez seja um lugar especial onde tudo está bem.

E às vezes eu ando de verdade nas nuvens, mas é só frio e molhado e vazio, mas quando você vê de dentro do avião é um mundo especial... e eu gosto disso.

Acho que é por isso que sempre escolho voar sentado na janela.

(Além do mais, quem sabe um dia desses eu não vejo uma menininha passeando entre as nuvens?)

Silêncio

2012-02-26 07:09:56 +0000

Se você parar pra pensar, a ideia usual que se tem do silêncio é uma ausência, um vazio.

Daí hoje de madrugada eu aproveitei a quietude da cidade pra pensar nisso e percebi que há um aspecto que normalmente a gente não considera: o do silêncio como uma possibilidade. A falta de sons como a chance de qualquer um deles.

Talvez seja isso que John Cage pensou ao conceber 4'33, sua composição mais famosa, composta unicamente de silêncio. Não usar nenhum som não significa nada, na verdade implica em um universo interpretativo onde tudo é possível.

Alem disso, a não-coisa não existe apenas para que a coisa ao qual ela contrasta exista. Se a sombra é a ausência de luz, isso não faz com que a sombra seja uma não-coisa, pois ela é também um conceito concreto, mesmo que seja feita da ausência de algo. Mas no universo sonoro o silêncio - a não-coisa que define o som - é, por alguma razão, desvalorizado ou até desconsiderado.

Da próxima vez em que tiver a (rara) oportunidade de ouvir o silencio, observe como ele é aquilo que "podia ter sido e que não foi"*. Talvez nisto esteja a base da sua intrínseca beleza.

* - Aproveitando aqui a frase de Manuel Bandeira, para descrever o indescritível.

Retrospectiva 2011

2011-12-10 05:45:19 +0000

Nada poderia me preparar para 2011. E, de certa forma, não fosse tudo que vivi nas últimas décadas e eu não estaria pronto para 2011.

O ano começou comigo pulando de cabeça num mercado completamente novo: o da publicidade. E aí os dias começaram a virar sagas épicas de caos, suor e muito, MUITO trabalho. Eu nunca trabalhei tanto quanto em 2011: meu horário "normal" de sair da agência é lá pelas nove da noite. Trabalhei várias madrugadas, trabalhei finais de semana, trabalhei até no carnaval.

Mas trabalhei todos os dias com gosto e com sangue no olho: eu não estava mais limitado a apenas sugerir coisas pro meu cliente e rezar pra ele ter a boa vontade (ou os colhões) de implementar. Ao contrário dos dias de consultoria, aquilo ali era a minha operação, meus projetos, minha equipe - minhas entregas.

Junte a isso o fato de eu estar finalmente trabalhando com o que eu sempre quis (internet) e pronto: eis um homem totalmente pilhado.

Tão pilhado que me envolvi até mais do que devia, e 2011 acabou também sendo o ano onde eu menos dormi. Eu já estou quase desenvolvendo um padrão de insônia onde eu durmo lá pela meia-noite, acordo pontualmente às 4 da manhã e não consigo mais pegar no sono porque fico pensando em trabalho. E o meu colesterol só tá em ordem graças às estatinas.

Parte disso é justificado porque 2011 foi o ano dos problemas estapafúrdios: tive que lidar com fornecedor tentando me dar o cano, fornecedor abandonando projeto no meio, cliente reclamando porque puseram palavrão em código-fonte de site, princípio de incêndio em aparelho de ar condicionado (sério!) e até sabotagem em projeto. Eu fiz trabalho de psicólogo, diretor de arte, arquiteto de informação, atendimento, mestre de obra, RH, financeiro... fui até organizador de buffet para eventos. Carreguei caixa e montei computador, em pleno sábado, no dia em que tivemos que nos mudar do prédio em Recife porque não cabia mais todo mundo no anterior.

Mas todo o suor, stress e noites mal dormidas compensaram. Estou fechando o ano com centenas de projetos entregues, a grande maioria sem atrasos ou problemas de qualidade. Os problemas críticos da operação todos sumiram. Mesmo com a equipe triplicando de tamanho, o custo do homem/hora quase não variou e a rentabilidade da operação tá tinindo. E em menos de um ano de agência eu fui promovido a diretor.

E o mais legal: no meio desse caos todo eu ainda arrumei tempo (e dinheiro) para, finalmente, comprar um apartamento. A mudança deve ser antes do natal, bem na véspera da festa de fim de ano da agência.

Falando em festa, a imagem aí embaixo é o convite. O tema desse ano vai ser "Las Vegas":

Vegas, baby!

Simbólico. O destino me deu boas cartas este ano - e, modéstia às favas, eu joguei bem pra caralho.

A falácia do gerenciamento de projetos segundo o PMI

2011-10-13 04:56:07 +0000

Bem, este vai ser um post polêmico (e longo). Mas eu preciso botar isso pra fora.

Primeiramente, antes que você me acuse de não saber do que estou falando, é importante mencionar que eu, além de possuir a certificação de PMP, já dei inúmeros treinamentos e implantei vários escritórios de projeto Brasil afora nos meus sete anos de consultoria. Mas durante este tempo todo eu ficava com um incômodo estranho, uma sensação de que havia algo errado com o gerenciamento de projetos aos modos do Project Management Institute - o famoso PMI - e de sua "bíblia", o PMBOK, até então o "estado da arte" em GP. Tudo era complexo demais, as pessoas se perdiam no método e gastavam mais tempo montando documentação e estudando cronogramas do que efetivamente entregando os projetos. Pra piorar, eu fui trabalhar numa agência e quando cheguei, achei inúmeros projetos, a maioria com prazos ridículos para acontecer, sem documentação formal, sem tratamento de riscos, tocados por gerentes de projeto sem nenhum treinamento... e que ficavam prontos, às dezenas.

E foi então que a ficha caiu e consegui identificar a razão do meu incômodo. Ela é meio complicada de explicar, mas vamos lá.

Problema número 1: As práticas do PMI foram concebidas com foco nos meios, e não nos fins.

A impressão que dá é que o PMI atacou o problema de "como gerenciar um projeto" como bons engenheiros: dividiram o problema em partes menores - escopo, tempo, custo, etc. - e se enfiaram numa análise minuciosa de tudo que precisa ser feito em cada uma dessas partes - o que resultou nas mais de 450 páginas cheias de fluxogramas aracnídeos do PMBOK.

O PMBOK já está em sua quarta edição e até agora ninguém se tocou que ele foi feito em cima da pergunta errada. A certa deveria ser: "O que é que faz um projeto dar errado?". Porque, apesar de cada projeto ser único, eu aposto que uma boa pesquisa encontraria vários problemas iguais ocorrendo em projetos de mercados e/ou produtos diferentes. Aí você analisaria estes problemas, detectaria suas causas e só então estabeleceria um jeito padronizado de agir.

Se você não sabe o que quer resolver, acaba sendo genérico demais para cobrir todas as possibilidades ou minucioso demais tentando tapar todos os possíveis furos. É como se você tivesse que instruir alguém a fazer uma longa viagem a pé e, sem saber nada sobre o caminho por onde a pessoa vai passar, você fala que a pessoa pode levar roupas de calor, de frio, de chuva, uma bóia pra se tiver um rio, um esqui pra se tiver neve, etc., etc., e ela passa dias decidindo e sai com 150 quilos de bagagem e não consegue chegar ao destino porque não aguenta arrastar toda aquela traquitana.

Só que, infelizmente, a galera que montou o PMBOK fez um belo trabalho e concebeu um framework de gestão que, apesar de complexo, é muito bem amarrado, tanto que chega a ser fascinante. O que nos leva ao...

Problema número 2: As pessoas se deslumbram com o framework do PMBOK

Imagine que você é um daqueles caras formado em alguma ciência exata, como engenharia ou computação. Você naturalmente gosta de um desafio intelectual, então acaba se dando bem na sua profissão e, algumas promoções depois, acaba caindo num cargo de gerente de projeto (porque todos os concorrentes da sua empresa também tem um). De repente todo aquele seu conhecimento técnico passa a não valer de nada, porque seu trabalho mudou da água pro vinho e você tem que lidar com pessoas, processos e políticas ao invés de diagramas e softwares. Seus dias de trabalho ficam bem desconfortáveis.

Aí você, como bom engenheiro, vai buscar um "manual" que te explique como lidar com aquilo tudo. E você quer logo o melhor que existe. Então não demora muito até você chegar ao PMBOK.

Já na primeira leitura você começa a ver todas aquelas coisas que está tendo problemas para lidar, todas elas rotuladas, descritas e categorizadas. Aquela bagunça de gente onde você não sabe quem manda em quem no projeto vira uma "estrutura matricial balanceada". Aqueles momentos onde você não sabe se deve mandar um email ou ligar para a pessoa viram "comunicações formais escritas" ou "horizontais formais orais" ou "verticais informais escritas". Aquele livro mágico te dá um prisma para você entender esse mundo novo todo - e ainda por cima te dá todo o processo para lidar com seus projetos. É como o Player's Handbook para projetos.

E pra completar, te dizem que, se você aprender direitinho o que tem no PMBOK, pode fazer uma prova super difícil, de 400 perguntas, que vai te certificar como um disputadíssimo Project Management Professional. Pronto: está lançado o teu novo desafio intelectual.

E pronto, você foi convertido.

Só que, como eu disse ali em cima no problema 1, todo esse framework é montado em cima de uma premissa errada. Mas ao invés da pessoa perceber isto, ela acaba enfiando a cabeça mais e mais nele. Pior, ela adota o mesmo modelo mental usado pelo PMI para conceber o PMBOK como seu próprio modelo mental para tocar os projetos. Assim, ao invés de focar em resolver os problemas do projeto, o gerente acaba achando que a solução está em novos fluxos, formulários, categorizações, modelos de priorização, etc, etc, "ensimesmando-se" no método cada vez mais ao invés de focar nos resultados desejados e estruturar seu plano de ação a partir deles.

Durante a minha carreira eu cansei de ver gerentes de projeto com PMPs, MSCs, PHDs e o escambau, conhecedores de tudo que existe por aí em termos de metodologias, processos, frameworks, softwares e o escambau... todos eles incapazes de gerenciar um projeto. Uns eram muito bunda-moles, outros tinham problemas sérios de relacionamento... um deles, que conheci recentemente, quando questionado por que seu projeto ia mal, respondia, indignado, que "não estão me dando condições de cumprir todos os ritos da metodologia".

"Puxa, mas não é possível que ninguém se toca disso no mercado", você deve estar pensando. Acontece que, quando você olha por aí pra ver o que os "grandes especialistas" do assunto estão dizendo, fica horrorizado porque ELES não somente são os maiores punheteiros de metodologia que existe, como também estão usando esta ilusão coletiva para ganhar dinheiro. O que nos leva ao...

Problema número 3: A comunidade de gerenciamento de projetos em torno do PMI é repleta de picaretas.

OK, sei que esta é uma acusação séria, mas ela fica mais fácil de entender à luz dos problemas 1 e 2 que eu expus anteriormente.

Sob a ótica que estou defendendo neste texto, o bom profissional de gerenciamento de projetos deveria ser aquele que entrega resultados. Aquele que pega projetos de risco e consegue concluí-los, aquele que tem uma consistência de entregas bem-sucedidas ao longo de sua carreira, aquele que consegue mobilizar bem as equipes, aquele que garante o ROI do capital investido. Acontece que, em todos os meus anos trabalhando com gerenciamento de projetos, eu nunca vi nenhum dos tais fodões do GP falando em resultados dos seus projetos. Na verdade eu nunca vi nenhum desses fodões dando detalhes de NENHUM projeto que tenha entregue. Mas vejo esses caras o tempo todo punhetando metodologia com cara de deslumbrados.

A maior autoridade do Gerenciamento de Projetos no Brasil hoje em dia é Ricardo Vargas. No site tem a biografia dele. Diz lá que ele foi responsável por mais de 80 "major projects" compondo um portifólio de investimentos de "over 18 billion dollars". Mas foi ele quem tocou os projetos? E qual foi o ROI destes 18 bilhões investidos? Por essa mesma ótica eu posso falar que, com nove meses de agência, sou responsável por centenas de projetos (são meus GPs quem tocam, mas em última instância eu sou o responsável), compondo um portifólio de investimento de vários milhões de reais (valor pago pelos clientes, somado). Ou seja, sem falar em ROI é fácil ficar expondo números grandes por aí. Mas ao invés de focar nessas coisas, a biografia de Ricardinho fala de seus inúmeros títulos, certificações, as suas empresas e os seus inúmeros livros escritos - livros estes que foram o que o alavancou para a fama.

Os outros nomes poderosos do GP no Brasil também costumam ser conhecidos por suas palestras e treinamentos. Uma vez, quando o PMI lançou o "standard para Gerenciamento de Portifólios", eu fui fazer um treinamento de gestão de portifólio com um desses fodões do mercado. Foi o pior treinamento que já fiz em toda a minha vida: o cara gastou 10 minutos lendo o fluxograma do livro e depois passou o resto do tempo repetindo coisas sobre gerenciamento de projetos (era um treinamento de portifólio!), mostrando videozinhos motivacionais, falando de coisas nada a ver. Eu desci tanto o pau no formulário de avaliação do curso que o pessoal da escola chegou a me telefonar pra saber o que tinha sido tão errado.

No ano retrasado, Rita Mulcahy veio ao Brasil para uma palestra. Rita é uma personalidade mundial do gerenciamento de projetos - se você estudou para a certificação PMP, com certeza usou o "Livro da Rita", já que ela é autora do melhor livro preparatório para o exame. Um amigo meu foi ver a (disputadíssima) palestra dela e ficou horrorizado: foi basicamente uma palestra de auto-ajuda, cheia de "dinâmicas de integração", piadinhas, lições de moral estilo Paulo Coelho.ppt... e nenhum resultado de projeto foi mencionado.

De fato, se você for ver a programação dos grandes eventos e seminários de GP que acontecem todo ano, no Brasil ou no mundo, vai ver como também nestes casos a falta de foco em resultados e a masturbação metodológica é predominante. Em novembro tem o Congresso Brasileiro de GP, no Ceará. São três dias de palestras. Apenas UMA delas é um estudo de caso - que eu aposto que vai focar na metodologia usada na gestão do projeto e não no que ele entregou. Eu já cheguei ao absurdo de ver eventos desses cuja programação incluía palestras sobre o gerenciamento dos jogos panamericanos do Rio - que foram cheios de atrasos e que custaram mais de 10 vezes o que foi previsto!

Aí você pergunta: "então ferrou, como é que eu vou tocar meus projetos então?". Bom, lá na firrrma o que tem dado certo é:

1) Ignorar quase tudo do PMI e usar metodologias ágeis, como o Scrum. A turminha de agile acertou muito a mão, mesmo porque eles partiram da premissa certa para montar sua forma de trabalho.

Isso fica bem óbvio no Agile Manifesto:

Estamos descobrindo maneiras melhores de desenvolver software, fazendo-o nós mesmos e ajudando outros a fazerem o mesmo. Através deste trabalho, passamos a valorizar:

Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas

Software em funcionamento mais que documentação abrangente

Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos

Responder a mudanças mais que seguir um plano

Percebe que, nas entrelinhas dos últimos quatro parágrafos, eles não somente elencam os principais problemas de projetos de software como também proclamam um modo de trabalho focado nos fins, nos resultados, ao invés dos meios?

Importante: este post não é propaganda gratuita de Scrum - mesmo porque o Scrum, apesar de eficaz, tem problemas bem parecidos com o PMI, como por exemplo uma "indústria de certificação" onde basta você fazer um treinamento de 16 horas para se tornar um Certified ScrumMaster. É ridículo.

2) Formalizar só o que for estritamente necessário, tomando muito cuidado pra não "solucionar problemas que não existem" e adicionar complexidade onde não precisa. Por exemplo: para vários projetos pequenos lá da agência um simples email de "briefing" do trabalho vale como declaração de escopo do projeto. Porque no tempo que eu levaria para montar uma WBS, dicionário da WBS, declaração formal de escopo e não-escopo, já passou metade do prazo e o escopo já vai ter mudado todo...

Pra descobrir o que tem que ser formalizado e documentado, sugiro uma regra simples: se a falta de formalização de alguma coisa é causa de problemas nos projetos, formalize. Caso contrário, deixe como está. É como dizem: "se não está quebrado, não conserte".

3) Selecionar GPs com "sangue no olho", mesmo sem conhecimento do método. Sabe aquele cara que pode nunca ter tido um treinamento de GP na vida, mas que tem sabe avaliar um problema, tem uma atenção obsessiva para datas (mesmo sem cronograma) e um carisma tamanho que a equipe do projeto toda come na mão dele? Esse cara vale mais do que qualquer metodologia de projeto. Porque na hora em que tudo dá errado o que você precisa mesmo é de alguém que demonstre liderança, que pegue o touro pelo chifre, que articule com todo mundo no olho do furacão e faça o que for preciso pra entregar.

Além do mais, é fácil dar conhecimento do método para um GP - basta botá-lo em treinamentos. Já "sangue no olho", foco nos resultados, ou o cara tem ou não tem, não há treinamento ou coaching no mundo que implante isso, especialmente nos viciados em metodologia.

Pronto, falei. Agora me xingue aí nos comentários, afinal estamos na internet é pra isso :)

Minha primeira demissão

2011-05-06 04:27:09 +0000

Primeiramente é bom esclarecer que não, eu não fui demitido. Na verdade eu estava é do outro lado da mesa: um dos meus gerentes de projeto pisou feio na bola e, como o problema era recorrente e não se resolvia mesmo depois de um monte de feedbacks e segundas chances, acabei obrigado a desligá-lo.

Antes de assumir cargos de gestão eu, como muita gente, achava que ser chefe é uma função de tirano: manda prender e manda soltar ao seu bel prazer. E junto dessa tirania costuma vir a impressão de que uma demissão é "coisa que chefe tem um prazer perverso em fazer".

Mas pra mim vocês não fazem idéia do quanto isso é distante da verdade.

Na noite anterior à demissão eu já estava fritando e mal dormi. E nessa eu sei que o sono não vai vir fácil, porque o tempo todo eu fico pensando que, em algum lugar dessa cidade, alguém chegou em casa desempregado, sentindo-se um fracassado, e com uma incerteza em relação ao futuro tão grande quanto a angústia que se acomoda dentro dela. E que fui eu o responsável por isso.

Não que a demissão tenha sido injusta - porque não foi. Na verdade eu até fui paciente demais: tolerei atitudes que não devia ter tolerado, tolerei coisas que inclusive poderiam ter comprometido meu trabalho. Mas com a mesma clareza com a qual eu entendo todos os fatos que justificam a demissão, eu também entendo como essa pessoa deve estar se sentindo.

Mas é a vida. "It's all in the game, yo", diria Omar Little - num contexto criminoso, é verdade, mas nem por isso menos brutal.

O valuation-tion, o valuation... (e os sites de compra coletiva)

2011-03-27 15:45:26 +0000

Daí que o Facebook outro dia foi avaliado em 75 bilhões de dólares. Setenta e cinco. Bilhões.

A boa notícia é que não, isso não é uma segunda bolha de internet, então eu não devo perder meu novo emprego. A má notícia é que, na verdade, isso é tipo um esquema de pirâmide para venture capitalists. De qualquer forma, sempre tem alguém que perde muito dinheiro nessas histórias de "eu acho que tal coisa vale tanto".

E na real, eu acho um erro terrível estimar o valor de qualquer empresa de internet. Pra começar, você está usando métodos de valuation criados para um tipo de "ecossistema econômico" que é completamente diferente do que existe hoje na internet. Coisas que tem muito valor no offline podem não valer tanto assim no online, como por exemplo - ahá! - a informação.

"Ah, mas o Google tem ganhado muito dinheiro lidando justamente com informação", você deve estar pensando. Na verdade o grande segredo do Google é prover os meios de acesso à informação relevante e, na sequência, colocar os anunciantes pra venderem seus produtos no lugar onde as pessoas estão procurando por eles. O segredo de ganhar dinheiro com a internet continua sendo o de sempre: usar o meio digital para provocar um negócio no mundo real.

E o Facebook ainda está engatinhando neste sentido...

Update: perguntaram nos comentários o que eu acho do Groupon, avaliado em 25 bilhões, e que de fato provoca negócios no mundo real. Só que aí existe um problema muito sério... tanto que em 1962 (veja bem, quarenta e nove anos atrás), David Ogilvy já falava da falácia dos descontos, em seu livro "Confissões de um publicitário" (grifos meus):

Hoje em dia o mundo da publicidade enfrenta quatro problemas com dimensões críticas.

O primeiro problema é que os fabricantes de produtos de largo consumo, que sempre foram o fundamento da publicidade, estão gastando hoje duas vezes mais em acordos de descontos do que em publicidade. Eles estão obtendo volume através do desconto de preços, em vez de usar a publicidade para construir marcas fortes. (...)

Andrew Ehrenberg, da London Business School, é dono de uma das maiores inteligências do marketing hoje em dia. Ele relata que uma oferta de preço reduzido pode levar as pessoas a experimentarem uma marca, mas elas voltam para suas marcas habituais como se nada tivesse acontecido. (...)

Promoções de desconto são como drogas. Pergunte a um gerente de produto viciado o que aconteceu com seu market share depois que o delírio do desconto acabou. Ele mudará de assunto. Pergunte-lhe se o acordo incrementou os seus lucros. Mais uma vez ele vai mudar de assunto.

Ou seja, no caso do Groupon e demais sites de compra coletiva, o que se tem é o uso do meio digital pra provocar um problema de negócio no mundo real.

Por que é idiotice jogar na Mega Sena

2010-10-07 14:33:45 +0000

É sempre assim. Basta o prêmio da loteria chegar nos nove dígitos e começa o frenesi. Um exemplo é o tweet abaixo, de Pedro Jansen, redator de mão cheia que eu nunca imaginei que seria capturado pela febre do ouro.

Tweet de @pedrojansen

O problema é que a maioria das pessoas que joga na Mega Sena torna-se uma espécie de "extremista religioso" do dia da aposta até o dia do sorteio. É como o evangélico que prega um adesivo escrito "Deus Proverá" na traseira do seu carro e depois senta-se, com o coração cheio de suspiros, esperando a provisão divina chegar. E enquanto isso o pau quebrando lá fora.

Nada errado em ter esperanças. O problema são esperanças sem fundamento. Esperar que a vida melhore por força do acaso é ignorar as três leis básicas do movimento, em especial a primeira (a da inércia) e a terceira (a de ação e reação), brilhantemente descritas por Isaac Newton no século XVII. It's science, bitches, são fatos e não chances. O apostador espera uma reação milionária para uma ação de R$ 2. Espera que a inércia seja vencida pela força de uma ínfima probabilidade de 0,000002%.

Hoje de manhã meus colegas de trabalho comentavam do acertador gaúcho que levou o último prêmio. O único comentário que fiz: "Amigos, é mais provável que vocês fiquem ricos trabalhando". Isso de certa forma resume bem o que penso: eu prefiro esperar que venha coisa boa das coisas sobre as quais eu tenho controle, sobre as coisas que estou fazendo força para que se movam. E esperar o prêmio da loteria é perigoso porque normalmente desvia a mente destas coisas. Gera um delírio, uma ilusão - como a "chapação" de Jansen.

Esse é também o problema da maioria das religiões. Nada contra nenhuma delas, devo dizer - mesmo porque devo grande parte de quem sou hoje por anos e anos de vivência religiosa na minha adolescência. O problema é só a transferência de responsabilidade sobre o seu destino para "terceiros", como Deus, o destino, os espíritos obsessores/exus e outras criaturas sobrenaturais.

Por isso, não se engane. Nosso mundo é material e, portanto, determinístico. Se quer vencer nele, será pelas suas regras, exatas, cartesianas. Você pode até não saber jogar direito com elas - mas jogue.

Dos acidentes genéricos e demais ferimentos infantis

2010-07-23 01:13:37 +0000

Eu confesso ter um certo trauma de ver crianças se machucando.

Com certeza você já viu a cena. A criança está correndo/pulando/girando ou qualquer outro verbo de movimento. E sempre risonha, naquela alegria incrivelmente convincente - porque é de fato genuína e porque nós, quando adultos, normalmente estamos desacostumados com ela.

image E aí, de repente, o inesperado: um tombo, a trombada na árvore, o escorregão. O corpinho desajeitado se estatela no chão. Às vezes o crânio até emite um som seco, enquanto repica no asfalto. E aí tudo pausa pra mim. É por um instante, mas é um instante tétrico aonde não se sabe a extensão do dano (usualmente nenhum, porque há vasta prova empírica que bêbado e criança REALMENTE tem anjo da guarda). É como um gato de schrödinger instantâneo, aonde, por uma fração de segundo, a criança está morta e viva ao mesmo tempo.

Mas o pior é quando a criança não começa a chorar de imediato e, ao invés disso, se levanta, olhinhos cerrados, rosto todo contorcido, respiração presa porque a dor é intensa demais, e fica completamente imóvel nesta posição porque o cérebro está absolutamente inundado por sofrimento. Isto é especialmente ruim por causa da expectativa de que, em alguns instantes, com absoluta certeza, ela vai respirar fundo e emitir o pior de todos os sons que existem em todo o mundo: o primeiro berro do choro de dor. O berro da mais autêntica, da mais intensa dor. Dor que, de fato, alguns minutos depois já vai ter sido esquecida pela criança que vai voltar a correr/pular/girar como se nada tivesse acontecido, mas que nos instantes em que existir no sistema nervoso daquela criança, será vivida como a mais lancinante de todas, será expressa com eloquência que adulto algum é capaz de reproduzir.

(P.s.: Peço desculpas pela imagem que ilustra este post: é a mais velha e manjada que existe, é daquelas que aparecem em PowerPoint de auto-ajuda e tudo. Mas é que é difícil achar fotos relacionadas ao tema – por razões óbvias. A que usei, inclusive, é parte de uma exposição temática chamada “End Times”, de uma fotógrafa chamada Jill Greenberg, que gerou uma polêmica absurda na época. Jill, deliberadamente, fazia as crianças chorarem dando a elas um pirulito e, de repente, retirando-o das mãos delas)

Living the Paulistano dream

2010-07-12 16:22:15 +0000

Oito da manhã de qualquer dia da semana e São Paulo está gelada, coisa de uns treze graus. Na garagem do prédio eu me despeço de Bethania, ela vai em direção ao carro, eu vou em direção ao ponto de ônibus.

As ruas estão cheias do barulho de cidade enquanto eu coloco meus fones de ouvido, que são recobertos por uma espuma semi-rígida, parecida com aquelas que operários usam em minas de carvão, altos-fornos e outros lugares barulhentos. Você espreme a espuma para que ela entre no seu canal auditivo e depois, lentamente, ela vai voltando ao tamanho normal e vedando seu ouvido de todos os ruídos externos. Este é um dos momentos mais divertidos do meu dia: conforme os fones vão tapando o ouvido, o volume do som do mundo vai lentamente abaixando até o ponto onde não se ouve mais nada.

E então eu posso escolher a trilha sonora da minha manhã.

Isto é meticulosamente planejado desde o dia anterior. Como agora eu não divido táxis com colegas de trabalho nem sou limitado pela internet horrivelmente lenta dos hotéis, eu posso entupir meu telefone de discos novos e lançamentos que eu passei o último ano inteiro sem tempo para ouvir. E é uma delícia quando se acerta na escolha do playlist da manhã. Outro dia ouvi Further, o novo dos Chemical Brothers, um disco claramente megalomaníaco com uma faixa épica atrás de outra, e desci do meu ônibus na Av. Paulista me sentindo praticamente um deus.

Aí eu entro na estação Brigadeiro para pegar o metrô e completar o trecho final da minha viagem. São só duas estações, mas este é o segundo momento mais divertido do dia, porque – e eis aí uma das minhas bizarrices mais úteis -  eu simplesmente adoro metrô. Tubos gigantes transportando multidões pelos subterrâneos, passando invisíveis pela bagunça do trânsito na superfície. O metrô é uma das obras-primas da engenharia.

Diferentemente de Brasília, aonde estou encerrando um projeto de 12 meses(*), em São Paulo eu lidero não apenas um, mas dois projetos diferentes. Como os clientes não são do governo, o ritmo e a pressão são pesados. Mas algo me faz responder a eles com uma obstinação que eu nem sabia que tinha. Claro que em Brasília eu não ficava moleirando, mas é como se o espírito da capital federal, com sua arquitetura fria e todos aqueles espaços vazios despertasse uma sensação de paradeza, então eu tinha que fazer força pra ir levando os dias. Porque a sensação é nefasta, contagiosa. Já em São Paulo eu saio do metrô me acotovelando com rios de gente na Avenida Paulista, todos querendo andar mais rápido, chegar à algum lugar, fazer, resolver. Aí eu subo pro trabalho e tá todo mundo querendo chegar a algum lugar, fazer resolver. O espírito é contagiante, e como ainda tem a minha vontade de fazer parte da turba apressada, eis aí a razão de eu entrar e sair de ônibus e engarrafamento com um sorriso no rosto.

Muita gente não entende meu amor por São Paulo, mas ele é simples de explicar. São Paulo não é a cidade onde estou porque nasci ou porque meus pais se mudaram pra ela e eu tive que ir junto. Não é a cidade que me foi colocada nas fuças para que eu vivesse – foi a cidade que eu escolhi. E escolhi do jeito que ela é hoje: suja, com trânsito, com violência, com clima cinzento, com preços altos, tudo incluído. Isto faz toda a diferença. Eu não espero que São Paulo se adapte aos meus sonhos ou anseios – e, sem expectativa, não há desapontamento.

(*) – Pois é, nem falei do fim do projeto de Brasília, meu maior até hoje (e o segundo maior da minha empresa em 2009). Nove pessoas sob minha responsabilidade, alguns milhões de reais em jogo. No fim está tudo entregue no prazo, a meta foi batida, o cliente não pára de elogiar a equipe, e pelo que minha equipe andou escrevendo no LinkedIn (“líder versátil”, “controle consistente do projeto a todo momento”, “mantém a equipe unida e focada nos objetivos do projeto”…) acho que mandei bem. Valeu cada noite mal dormida.

Por sinal nunca tive insônia em São Paulo. Não me surpreende.

E se eu clicar em “novo post” e sair escrevendo?

2010-04-30 04:17:27 +0000

Deixar o caos trabalhar um pouquinho?

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O que eu mais odeio no nosso hotel brasiliense (Nobile Suites) é o elevador, que é bugado. “Bugado” as in “com bugs”, “bugs” as in “defeitos de software de computador”. Você aperta o botão para o seu andar, ou o botão de chamá-lo, e de repente o botão apaga, como se o elevador esquecesse que você apertou o bendito.

Isso sem contar que outro dia ele caiu com metade da minha equipe dentro. Cheguei no hotel para fazer o check-in e o alarme do elevador tava soando, e os funcionários com a maior cara de paisagem. Aí eu perguntei: “Ei, tem gente presa no elevador ou é impressão minha?”, e a funcionária do hotel nem precisou responder porque deu pra ouvir os caras gritando SOCORRO de lá de dentro. E aí passava o carinha do restaurante e depois o mensageiro e depois a recepcionista, todos com a maior cara de que não havia nada acontecendo. “Ah, já chamamos o pessoal da manutenção”, dizia ela.

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Por sinal eu nunca:

  • Fiquei preso em elevador
  • Quebrei braço ou perna ou qualquer outro osso do corpo
  • Fumei maconha

E até essa última viagem que fiz eu nunca havia comprado uma garrafa de whisky. Na verdade eu nunca havia bebido whisky até bem pouco tempo. Essa é uma daquelas coisas que requerem uma certa maturidade para serem devidamente apreciadas. Dez anos atrás e eu me lembro de ter provado do copo de algum amigo em alguma festa de formatura e achado aquilo sem graça. Hoje entendo perfeitamente porque chamam um bom whisky de “o melhor amigo do homem, o cão engarrafado”, etc.

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Mas esse negócio de “conseguir realmente apreciar certas coisas só após adquirir uma certa maturidade” é o que eu mais tenho curtido dessa história de ter mais de 30 anos de idade. Isso é especialmente verdadeiro no campo da música. Às vezes eu boto aquela música que tem dez anos que ouço e que antes apenas tocava e agora ela está lá, conversando com você, e você entendendo de uma maneira que nunca entendeu antes. É fascinante.

Outra coisa divertida é ouvir trabalhos novos de bandas tão velhas como você e, usando seu novo superpoder chamado “maturidade”, enxergar as faixas não como músicas mas sim como produto das décadas de história vividas pela banda, como um registro histórico sonoro de tudo que a banda passou. Dia desses o random botou uma música do último disco do Kraftwerk pra tocar. Durante toda a sua carreira o Kraftwerk fez discos em homenagem à máquinas e tecnologias. “Tour de France”, o último disco, de 2003, substituiu o mensch-maschine (homem-máquina) pelo “mensch, der Maschine” (a máquina humana): o foco é o corpo humano, a máquina que impulsiona as bicicletas da famosa corrida francesa. E aí, graças aos ouvidos calejados com milhares de horas de música ao longo de trinta anos, agora dá pra perceber que o Kraftwerk mudou também a fundação sonora-criativa do disco: a expressividade não é mais dada pelas melodias, e sim pelos timbres e pelos filter-sweeps. Antes quem conversava com você eram as notas e seus tons, agora são os sons e suas cores.

São novos tempos.

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Claro que ajuda usar bons fones de ouvido. Ainda estou em lua-de-mel com meu novo par de fones Shure SE-210 que, sim, custaram caro, mas valeram cada centavo. Na última sexta-feira eu estava no avião, maravilhado por conseguir ouvir coisas nas minhas músicas que eu nunca tinha percebido. Aí eu olhei para a esquerda e, pela janelinha do avião, vi que a turbina daquele monstrengo enorme estava rugindo a quase duzentos decibéis, logo ali a uns cinco metros de mim, e eu não ouvia ABSOLUTAMENTE NADA.

Todo mundo devia usar um bom fone de ouvido pelo menos uma vez na vida. É tipo um outro mundo.

Das cidades

2010-02-11 15:54:59 +0000

Eu nasci em uma capital com alma de cidade de interior (Belo Horizonte), moro numa megalópole caótica superlotada (São Paulo) e atualmente trabalho em uma cidade quadradinha e planejada (Brasília). E sempre gostei das cidades, especialmente das grandes, e prefiro passar o meu tempo nelas do que no mato ou numa praia.

Cidades são conjuntos de pessoas e, exatamente por isso, tornam-se também entidades com características pessoais. Cada uma tem forma própria, tem uma beleza ou feiúra peculiar, cada uma tem tamanhos, climas e problemas próprios - assim como pessoas, e assim como as pessoas que as habitam.

A cidade é a mais humana de todas as obras humanas. E, como criatura, sempre reflete seu criador - e é aí que reside a sua beleza. Não me refiro à beleza plástica, ao ser bonito, e sim ao ser autêntico. Em São Paulo, quando você sai do metrô na Sé e fica entre a imponência santificada da Catedral e a imundície da praça em frente, na verdade é como se você estivesse no meio de um ser humano e de todas as suas incoerências. São Paulo tem muitas delas, e é por isso que eu acho São Paulo uma cidade fascinante.

É é também por isso que eu considero cidades planejadas (sim, você mesma, Brasília) um erro por definição. Não se planeja uma cidade, da mesma forma que não se planeja uma pessoa. Ninguém sabe aonde vai estar daqui a 20 ou 30 anos. Muito menos algumas centenas de milhares de pessoas. Muito menos ainda algumas centenas de milhares de pessoas que convivem no mesmo espaço urbano. Cidades precisam poder crescer ao sabor das épocas, precisam poder registrar a passagem do tempo na fachada dos seus prédios e na urbanização dos seus bairros. Cidades precisam poder ser produto de todos que a compõem, e não apenas ser fruto da cabeça de quem a concebeu. As superquadras do Plano Piloto são prisões da mente de Lúcio Costa.

Já a minha terra natal (Belo Horizonte) é a prova de que uma cidade, como um ser humano, tem alma. Beagá corre atrás para espelhar os progressos e os problemas das outras capitais e, de cima, não deixa nada a desejar à outras metrópoles: tem engarrafamento, tem favela, tem shopping de luxo e tudo o mais. Mas tem algo intangível entre um poste e outro, entre uma e outra buzinada do ônibus. É possível entrever uma atmosfera interiorana, quase provinciana, que o vidro, concreto e aço nunca vão tapar.

Cidades são assim, complexas, mas acima de tudo, antropomórficas. Isso é o que me faz gostar de estar nelas. A cidade, além de ser sua cidade, é também um pouco de você.

Pare de falar de amor o tempo todo

2009-12-29 05:24:05 +0000

Dia desses a TV estava ligada e começou a passar a abertura daquele velho seriado das bruxas - “Charmed”. A letra do tema de abertura dizia:

I am the sun / I am the heir…

E enquanto os símbolos arcanos vão voando pela tela, a música corta para o refrão:

I am human and I need to be loved…

Todas as vezes que eu vejo isso termino me perguntando: “Por que diabos botaram o amor ali no meio?”. É engraçado porque a intromissão do amor na música de abertura é mais ou menos espelho do que acontece na série: bruxas que, enquanto tentam salvar o mundo de demônios e outras criaturas do mal, ainda tem que lidar com a vida de gente normal – incluindo os romances e namorados.

Não é de hoje que eu me incomodo com inserções românticas no meio de coisas que não tem nada a ver com romance. É meio que uma síndrome do Titanic: não basta ter a melhor história do mundo, ainda assim nêgo enfia uma love story no meio. Acontece nos filmes, nas séries, nos livros… (alguém aí pensou em Crepúsculo e seu amor vampiresco?).

Mas o que eu quero dizer é mais ou menos o seguinte: eu não vejo problema em contar histórias de amor. O problema são as distorções geradas por estas histórias.

Poucos são os filmes que retratam a REAL dificuldade de um relacionamento, a arte que se precisa ter para casar dois egos humanos, opostos por natureza, em uma convivência não somente suportável como também prazeirosa e gratificante. Na telona todo amor é avassalador, intenso, vivido com pouca atenção à razão e deixando os sentimentos fluírem irrestritamente - e ainda assim tudo sai perfeito. O amor de cinema motiva as pessoas muito mais do que seu próprio instinto de sobrevivência e faz com que elas esqueçam seu egoísmo e sua inveja – coisas que praticamente definem a humanidade dos dias de hoje. E as dificuldades entre os amantes só servem de contraste para tornar o final feliz ainda mais feliz ou para pelo menos dar algum mérito ao casal feliz para sempre. Até o “para sempre” é um problema, pois nenhum expectador vê a velhice, o tédio ou a pobreza chegando depois do “The End”.

De fato, o cinema não precisa mostrar a parte chata da coisa – porque, convenhamos, ela é chata e você tá pagando para ser entretido. O problema está no efeito colateral: no fim do filme você tem um monte de pessoas – muitas delas egoístas e de mau caráter - almejando um amor 100% altruísta e desapegado . Um “amor de cinema”, por assim dizer. E aquilo parece tão bom e tão factível que, instantaneamente, todos saem procurando por ele. E começa um ciclo: como todos querem aquilo, o romance passa a ser a prioridade número um de todos os personagens em todas as histórias veiculadas em todas as mídias, o que faz com que mais pessoas queiram aquilo, sem se dar conta de que aquele amor é IRREAL.

O pior é que isso não é Zé Carlos falando, é fato científico, estudado pela Universidade Heriot-Watt, de Edimburgo, inclusive.

Daí o título deste post. Não dá pra ficar vivendo em função de um conjunto irreal de expectativas. Na minha opinião, amor de cinema não deve ser objetivo de vida, e sim consequência. Uma vida de felicidade infinita ao lado de sua alma gêmea é muito menos esforço de procura ou fruto de sorte e muito mais resultado de uma personalidade com um “mix” difícil de se conseguir, que contém integridade, flexibilidade para as atitudes e interpretações e rigidez na hora de manter seus princípios – em ambas as partes do casal. Ou seja, não é fácil e além de tudo é contra-intuitivo.

Ou parece natural que, para conseguir um relacionamento perfeito com outra pessoa, você precise esquecer a procura pelo par perfeito e redobrar seus esforços para dentro de si?

Pedaços de posts que nunca concluí

2009-12-29 05:22:13 +0000

Em nenhuma ordem ou contexto específico (Viva o caos!).


Teorias sobre motivação, existem várias. Apenas duas funcionam: 1) Dinheiro e 2) Café. Tem também o 3) Sexo, mas essa tem uma série de complicações jurídicas quando usada em ambientes corporativos.


  • E esses bonequinhos 3D em overlay no campo, hein Globo? Tá parecendo Age of Empires…
  • Que mau gosto o dessa camisa do Flamengo. A fonte do nome do jogador é a mesma dos filmes do Homem Aranha que é a mesma do Playstation 3.
  • Esses gritos de guerra do Flamengo não rimam não? “Dá-lhe dá-lhe ô / Mengão do meu coração”?
  • (Quando a TV digital dá interferência e a tela se enche de “glitches”): E pensar que meus filhos nunca vão saber o que são chuviscos de uma TV analógica fora do ar…

Então que agora eu virei consultor-líder do maior contrato do ano da minha empresa de consultoria e meu dia de trabalho consiste, basicamente, de um continuum de reuniões.

Ontem uma delas era para acertar o escopo do trabalho com uma das gerentes do cliente. Daí que eu cheguei e me sentei na mesa todo pimpão e todo mundo tava batendo cabeça e eu incorporei o exu de consultor-líder e saí, ao mesmo tempo, colocando ordem na bagaça e tomando cuidado para não desautorizar a mulher (que, pô, era a gerente da coisa). E ela lá, só ouvindo.

Até que, no meio do meu “leadership spree” eu saio falando que…

- …então acho importante seguir as orientações da Miriam.

E ela rebate:

- Meu nome é Luiza.


Brunetto
Comida Italiana - Site: Não tem.
Rua Dr. Renato Paes de Barros, 465 - Itaim Bibi

Sabe, normalmente a comida italiana me motiva... motiva a tirar um cochilo depois. Só que a do Brunetto (onde almocei hoje) estava TÃO boa que me motivou a escrever este post. Diz Bethania que os donos moraram na Itália, então deve ser por isso que as massas são tão gostosas. Ah, não deixe também de comer a bruschetta do Brunetto (por mais transsexual que isso possa parecer).

Kebaberia
Kebabs (comida árabe) - http://www.kebaberia.com.br/
Rua Dr. Renato Paes de Barros, 777 – Itaim Bibi Rua Joaquim Floriano 179 – Itaim Bibi

Quando se pensa em Oriente Médio normalmente o que vem à cabeça é "terrorismo", "petróleo", "Prince of Persia"... e, por último, a comida do Habibs. Então os kebabs - "enrolados" de carne grelhada, originados no Irã - acabam passando despercebidos. Mas são uma delícia, é como se fosse a fast-food das arábias.

No almoço é bem cheio, então dá um ótimo lugar para ataque de homem-bomba chegue cedo.

Bolados
Lanches e sucos - http://www.boladossucos.com.br/
Rua Joaquim Floriano, 373 – Itaim Bibi

Minha mulher odeia o Bolados: “Sanduíche não é almoço”, diz ela. No cardápio tem um de peito de peru com tomate seco que discorda veementemente. Vale lembrar que o Bolados, além de bom, é barato, tornando-se uma ótima sugestão para os dias em que sua carteira teve crises bulímicas e tá magrela.

Pibu’s
Lanches - http://www.pibus.com.br/
Av. Pres. Juscelino Kubitscheck, 819

Opção boa (e razoavelmente barata) quando você quer fugir dos lanches tradicionais do Itaim (New Dog, Joakin’s, Fifties, etc). Mas peça o delivery – o restaurante “físico” é praticamente inexistente.

Rápidas

2009-11-20 04:35:06 +0000

O andar logo abaixo do que eu trabalho está em reforma. Às vezes os pedreiros deixam a porta aberta e dá pra perambular um bocado por ali.

 reforma

Virou instantaneamente o meu lugar predileto do prédio.

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Hoje eu estava no hall do hotel e a TV passava a abertura de “Caras e Bocas”.

Não reconheci 95% dos nomes de atores/atrizes que aparecem na abertura.

Me senti orgulhoso.

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Agora o cooler do meu notebook… er… “canta”. É o popular “pau no cooler” por conta de poeira.

Pelo visto neste final de semana teremos autópsia computacional para limpeza. Desejem-me sorte. Ela anda faltando este ano.

Do porquê de eu gostar de música

2009-11-11 02:51:42 +0000

Era sexta-feira e eu estava entrando no avião para voltar pra casa. Os cinco dias de trabalho da semana haviam sido absolutamente caóticos e tanta coisa complicada e estapafúrdia havia acontecido que minha cabeça estava tentando amarrar as pontas soltas e conceber alguma sequência lógica, algum significado de dentro daquela bagunça completa que havia sido minha semana. Até que as duas pontas dos fones foram inseridas dentro dos ouvidos e me veio a epifania que, agora, culmina neste post e que tentarei (ou possivelmente falharei em) detalhar nos parágrafos a seguir.

balmorhea

Primeiro, consideremos a necessidade humana de atribuir sentido a tudo. É natural, biológico; o que nos torna humanos é a insistência do cérebro em contextualizar tudo com o qual tem contato, em buscar padrões, entender processos, motivos, razões. Se você pergunta as horas a alguém e esse alguém responde “desculpe, não sei falar português”, você será automaticamente capturado pelo nonsense de uma resposta como essa e tentará desesperadamente conceber alguma razão para que a pessoa tenha respondido aquilo – mesmo que esta razão não exista. Ou você conseguirá simplesmente ignorar uma resposta como essa? Por alguns instantes, pelo menos, aquela pessoa terá domínio total e completo da sua mente. É por essa insistência do cérebro em produzir sentido que as pessoas vêem borboletas em testes de Rorschach, concluem que :) é um sorriso ou ouvem mensagens satânicas em discos da Xuxa reproduzidos de trás pra frente.

E então temos a música – e não se sabe até hoje ao certo pra que fim prático ela serve ou por que diabos o ser humano resolveu se expressar através dela. Música não é necessária como comer ou dormir, música é efeito mas não é causa, é um fim em si mesma. Música, em essência, não faz sentido - nem sequer estruturalmente. Ao escrever este parágrafo, por exemplo, meus fones tocam “We will rebuild with smooth stones”, música do Balmorhea (que empresta uma de suas capas de disco para ilustrar este post). É uma música tocada por dois violões e apenas por eles. São grupos de sons tocados em tons e volumes diferentes, às vezes ritmados e repetidos – uma descrição que poderia servir para descrever também o barulho de um canteiro de obra.

Mas no final daquela sexta-feira caótica, num mundo que lhe obriga a questionar o tempo todo qual o propósito das coisas que você gasta o dia fazendo – e onde, em vários momentos, esse propósito simplesmente não existe – é que a música nos fones de ouvido apareceu como algo reconfortante, como uma entidade de um universo aonde é permitido não fazer sentido. E isso é a melhor coisa sobre música: é uma das únicas coisas que pode existir confortavelmente sem porquê ou ser sem razão de ser.

A melhor coisa da música é que ela não precisa fazer sentido.

Projeções diversas

2009-11-06 03:12:09 +0000

Meu entretenimento predileto em reuniões continua sendo acompanhar as formas que o datashow gera em cima das pessoas que entram na frente dele quando estão apresentando alguma coisa. Outro dia eu tive que segurar MESMO o riso ao ver meu chefe transformar-se instantaneamente em um SUPER-HERÓI MASCARADO ao ficar com a cara bem em frente a um losango vermelho do fluxograma que estávamos projetando.

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Domingo passado Bethania arrumou um filme que eu nunca havia ouvido falar chamado “Amantes” (Two Lovers) pra gente assistir. É a história de Leonard (Joaquim Phoenix), um cara com aquelas bicheiras psicológicas modernas (bipolar, borderline, sei lá) que se envolve com duas mulheres.

twoloversalp6-29-09

O filme vai indo super normal até que, no ÚLTIMO MINUTO, o tal Leonard – com apenas uma frase e um gesto – converte instantaneamente o filme de “draminha mediano” para “absolutamente genial”, daqueles que te deixam abobado por vários minutos olhando os créditos subirem, tentando absorver aquilo que acabou de ocorrer. Pelo nome e pela história, “Amantes” pode até parecer comédia romântica de locadora, mas não se engane: é um PUTA filme.

E não posso falar de Amantes sem relembrar a inacreditável entrevista que seu astro principal, Joaquim Phoenix, deu em estado absolutamente irreconhecível (tanto física quanto psicologicamente) para o David Letterman…

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Por sinal, na esmagadora maioria das vezes em que fui ver um filme sem saber absolutamente NADA sobre ele – sem sequer ler uma sinopse – eu me dei muito bem. Sinopses só servem pra estragar filmes. “Distrito 9”, por exemplo, que vi outro dia, foi bem marromenos porque ler a sinopse já entregou muito do que o filme tinha de melhor.

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Ainda no âmbito cinematográfico, em 2002 eu postei aqui neste blog, abobado, a seguinte frase:

Quando me perguntarem qual o melhor filme que já vi, direi “Evangelion”. E quando me perguntarem “Qual dos três filmes?” eu direi: Evangelion é um filme de 26 episódios.

E não é que outro dia um colega de trabalho de Bethania me avisou que estão fazendo um “rebuild” de Neon Genesis Evangelion em – tchan tchan tchan tchaaan! - quatro longas-metragens?

Os dois primeiros filmes já foram feitos, e esta semana eu consegui tempo pra assistir o primeiro deles. Veredito até agora: WHOA.

evangelionremake

Pelo que li os novos longas são bem fiéis ao original (como o “antes e depois” aí em cima está mostrando), embora incrementados com CG em 3D. E algumas cenas serão totalmente repaginadas pra ficar do jeito que o autor sempre quis.

Das distâncias

2009-09-16 05:05:43 +0000

distancia

Primeiramente é bom deixar claro que não me refiro à distância geográfica, pois essa é patética. Sim, patética. Século XXI, globalização, yadda yadda, aperte uns dois ou três botões e você acessa praticamente tudo e todo mundo em qualquer lugar.

Aqui refiro-me à distâncias reais. Distâncias como a que um cego de nascença tem para entender algo como um pôr-do-sol, por exemplo. Por mais que se descreva em texto rimado, em música, em páginas e páginas de braille, sempre haverá uma distância entre o que você e eu vemos e o que ele (não) vê.

Alguns vão achar grosseiro ou preconceituoso esse meu último parágrafo, e aí há também uma distância, essa tão ou mais triste que a cegueira de nascença: a distância de entendimento. Pois, no meu, analogias não constituem ofensas. No de várias pessoas, sim. E assim, colocando-se o seu entendimento no centro de tudo, o dos outros vai ficando cada vez mais equidistante do seu próprio, e criam-se abismos entre irmãos ou cônjuges ou amigos. E alguns passam a vida toda vivendo longe e perto uns dos outros.

Às vezes é a própria conjuntura da vida que lhe envolve – não por mal, mas por circunstância – em um “mini-mundo” cheio de uma diversidade meio hipnótica e com presenças mais constantes que ausências e há a ilusão de proximidade. Mas se você se dispõe a andar um pouco pelo seu mini-mundo invariavelmente acaba chegando à margem dele, vendo um oceano e um horizonte cheio de nada e, concluindo que seu mundo é apenas uma ilha, se descobrindo distante. Senti isto com muita clareza na última sexta-feira, no aeroporto de Brasília, quando conheci uma senhora que nunca havia usado uma escada rolante. Ela vivia no interior do Piauí, estava seguindo para São Paulo para visitar os filhos no mesmo voo que eu e, portanto, passou a me acompanhar pela sala de embarque – até a hora em que eu subi numa escada rolante e ela parou, perplexa. E disse: “Como é isso? Nunca andei nisso”. A pobrezinha quase levou um tombo ao tentar subir nos degraus móveis. E, no meu mundinho, escadas rolantes são tão comuns que a idéia de alguém que nunca havia usado uma delas era inconcebível.

Era eu, olhando para o horizonte e vendo um monte de nada. E entendendo que a ilusão do nada era resultado de uma enorme distância. Todo o meu vasto conhecimento e experiência com escadas rolantes, e no fim eu só sabia que não sabia de nada. Talvez esteja aí a genialidade de Sócrates, que mediu o mundo observando suas distâncias.

Mas a melhor parte é que as distâncias reais - ao contrário das geográficas – são incrivelmente flexíveis, e podem ser encurtadas em instantes. Basta um pouco de boa vontade para que milhares de quilômetros transformem-se em centímetros. Mais um pouco e os centímetros viram milímetros. E aí opera-se no extremo oposto da distância, num lugar singular chamado proximidade.

Aqui refiro-me à proximidades reais. Raras e magníficas, e que devem ser usufruídas ao máximo, pois tendem a ser efêmeres no curto tempo de vida da vida.

A sexualidade latente dos comerciais de Colgate

2009-08-27 03:51:19 +0000

Você está lá, no sofá, cérebro quase desligando enquanto a TV a cabo mostra, pela centésima vez, aquela propaganda manjada daquela série que você não gosta. Mas de repente ela aparece na tela.

A dentista.

colgate1

Mas não é qualquer dentista, é A DENTISTA: uma mulher cuja aparência foi cuidadosamente selecionada por transitar na tênue fronteira entre a atriz superbonita e a pessoa comum da vida real e que, assim, apresentada com uma discreta maquiagem e um jaleco branco, enganam o seu cérebro que fica sem saber distinguir se aquilo é coisa falsa de TV ou uma pessoa real. E aí, num dos cantos da tela, eis que surge o número do registro dela no Conselho Regional de Odontologia. Pronto. Sua mente sai imediatamente do dilema e conclui: aquilo ali, meu amigo, é uma dentista de verdade, tão real que se você tivesse o telefone dela poderia até marcar uma consulta só pra ver aquela beldade lhe dizendo, carinhosamente, pra cuspir na pia ao lado da cadeira. Mas não há tempo de pensar nisso, já que ela está apontando o espelhinho pra você e perguntando sobre a última vez que você sentiu seus dentes limpos. Claro que você JAMAIS pensou nisso em toda a sua vida, mas, desorientado, concorda com absolutamente tudo que aquela voz aveludada diz.

Passaram-se apenas quatro ou cinco segundos de comercial, mas os publicitários (ah, os publicitários!) já sabem exatamente como você está se sentindo: confuso e estranhamente excitado. E então o comercial responde à seu estado emocional – ou, melhor dizendo, corresponde ao tesão que aos poucos começa a tomar conta de você:

colgate2

Uma vidraça amarela aonde está escrito “PLACA” começa a subir pela tela, lentamente. A idéia é representar a formação de placa bacteriana, mas na verdade aquilo representa sua excitação sexual crescente. É como se o comercial dissesse: “eu te entendo, eu sei o que você está sentindo”.

colgate3Neste instante, Colgate Total 12 tem total controle sobre você. Esta mensagem subliminar é reafirmada no instante seguinte, aonde a dentista interrompe o crescimento da placa com a mão. O comercial está lhe dizendo, claramente, que é a dentista quem detém o controle da situação, seja ela a placa bacteriana ou… bem, você entendeu. O princípio é o mesmo de um jogo de sedução erótica, onde a excitação cresce, cresce, mas nunca é liberada totalmente.

Só então, com você completamente dominado, é que vem a mensagem publicitária de verdade: entra uma locução (em voz masculina, já que agora a coisa é séria) e a embalagem do produto é mostrada pela primeira vez. Daí vem um blablablá sobre partículas limpadoras enquanto a tela mostra uma animação 3D de dentes sendo higienizados. Este instante é breve e preenche apenas nove ou dez segundos do comercial.

colgate4 E então a dentista (ah, a dentista!) aparece de novo, desta vez usando o produto para segurar a placa de vidro amarela. Desta vez ela não está mais com ar sério, lhe enchendo de perguntas, te olhando com as sobrancelhas franzidas e ar dominador: pela primeira vez, no comercial inteiro, ela sorri. Isso, de certa forma, dá fim ao jogo de sedução e à tensão crescente, e vincula a imagem do creme dental a este alívio.

Mas o melhor ainda está por vir…

Toda a volúpia do comercial, os jogos de criar/liberar tensão sexual, os conceitos de saúde bucal erotizados… tudo isso foi mostrado de forma velada. À primeira vista aquilo é apenas um comercial de creme dental, mas qualquer pessoa dotada de instinto reprodutor (ou seja, toda a humanidade) pressentiu que há alguma coisa escondida por trás daquilo tudo, já que o lado sexual do comercial não foi totalmente revelado. Então, subitamente, para demonstrar que dá pra sentir os dentes mais limpos depois de usar Colgate, a dentista, sem a menor cerimônia, passa a língua sobre os dentes.

colgate5

Isto, meus caros, é simplesmente genial: um gesto sexual disfarçado de demonstração de limpeza bucal. É a dica que faltava para confirmar toda a fantasia erótica construída em seu inconsciente. Este sim é o clímax da propaganda – e talvez o instante mais erótico de toda a publicidade televisiva.

O vídeo do comercial inteiro é esse aí embaixo – infelizmente, em espanhol. Claro que este post foi idealizado com a versão brasileira em mente, só que ela não existe em nenhum lugar da internet – nem mesmo no site oficial da Colgate. Uma pena.

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Este post é porque tem muito tempo que eu não escrevo no blog

2009-08-14 03:38:46 +0000

Sim, exatamente o que o título diz. O problema é que, como você já deve ter concluído por consequência, é que eu não tenho assunto para este post. Mas estou escrevendo mesmo assim.

Woohoo, olha só, já estou no segundo parágrafo! Filma eu, Galvão!

Na verdade até tem assunto. Por exemplo, acabei de me lembrar do dia em que estava na sala de espera do médico e uma das revistas tinha uma matéria sobre nada menos do que o prepúcio de Jesus. Sim, prepúcio, aquela pele que envolve a ponta do pênis – mas não de qualquer pênis, era o pênis de Nosso Senhor Jesus Cristo.

prepucio

É estranho escrever sobre o pênis de Jesus aqui no blog. Eu fico com a sensação de que Deus está me olhando com uma cara feia enquanto anota meu nome num caderninho.

Mas veja você que essa minha ideia de escrever sem assunto até está rendendo: a foto da página da revista me fez lembrar de algumas outras que tirei com o celular e que também rendem um ou dois parágrafos. Como essa aí embaixo.

mavica

Meu antigo cliente de Brasília renovou o projeto e tive que refazer meu crachá para entrar no prédio – o que incluiu bater uma nova foto. Até aí tudo bem, mas o que você não deve ter reparado é que aquela câmera ali é uma Sony MAVICA – Sim, aquela que foi uma das primeiras câmeras digitais, e que guardava as fotos em DISQUETES DE 1,44”. Sim, cara, disquetes. A Mavica é o Tiranossauro Rex* das câmeras digitais.

* – Sim, essa foi proposital e especial pra vocês, Tiagón e Renmero.

Por sinal, nem contei aqui da renovação do projeto de Brasília: voltei a visitar a “Washington brasileira” semana passada, nesse que é o maior contrato de consultoria que a empresa onde trabalho fechou este ano. Tenho uma treta enorme pra entregar, uma equipe de nove consultores pra orientar e uma gravata enrolada no pescoço pra atrapalhar. E no fim tudo tem que rimar. Mas em compensação tenho o melhor cliente EVER (lembram?). A gente termina uma reunião e emenda com conversas sobre coisas como Jack Kerouac, pra vocês terem uma idéia.

congonhas Outra coisa que voltou com a renovação do projeto é a rotina de aeroportos. Na última segunda-feira eu estava na fila do check-in curtindo um mau humor triplo – resultado de três coisas que me irritam profundamente (aeroportos, filas em aeroportos e as horas do dia anteriores às nove da manhã) quando reparei que o assoalho do aeroporto de Congonhas é quadriculado como um tabuleiro de xadrez. E pensei:

“Nada mais apropriado. Os engravatados acham que são reis, as dondocas acham que são rainhas, mas todo mundo é peão”.

Eu ia até twitar isso, mas acho que me chamaram pra fazer check-in e acabei deixando pra lá.

Tem também outra foto que eu queria postar aqui mas que não vou conseguir conectar com os outros assuntos de jeito nenhum, então vai assim mesmo. Amigos, amigas, eis o banheiro recursivo:

recursivo

É o banheiro de um cinema (que, obviamente, não lembro qual é), cujos espelhos ficam um de frente pro outro.

E este foi “o post porque tem muito tempo que eu não escrevo no blog”. Até que rendeu. Até a próxima, amiguinhos!

Pequenas otimizações do dia-a-dia

2009-07-29 23:12:49 +0000

Quando fervo água no microondas - pra fazer chá ou cappuccino, pois café requer água fervida apropriadamente, no fogão - ao invés de digitar o tempo (dois minutos) e depois apertar “iniciar”, eu pressiono o botão “+30 segundos” quatro vezes. Eu gasto o mesmo número de pressionamento de botões que eu gastaria digitando o tempo, mas o microondas já começa a funcionar logo que aperto o “+30 segundos” pela primeira vez.

Considerando que o teclado do microondas requer um intervalo mínimo de meio segundo entre cada pressionamento de botão, isto me faz ganhar um segundo e meio de vida.

--

Ao entrar em um elevador eu sempre abro a porta apenas o suficiente para que eu consiga entrar (pois assim ela fecha mais rápido) e, imediatamente, pressiono o botão do meu andar. Se estou chegando em casa, eu saio do elevador com a chave de casa em mãos e na posição correta para entrar na fechadura da porta. Isto me faz ganhar aproximadamente seis segundos de vida por viagem de elevador.

Puxar a porta para que ela feche mais rápido não é uma boa idéia: o mecanismo que fecha a porta automaticamente costuma empurrá-la para fora e isto provoca um abrir/fechar adicional da porta interna do elevador – uma enorme perda de tempo de aproximadamente quatro segundos.

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Por questões de segurança a garagem do meu prédio tem dois portões: você abre o portão externo, entra e só depois de fechar o portão externo fica possível abrir o portão interno, que dá acesso ao edifício.

Acontece que um portão não precisa estar completamente fechado para que você possa abrir o outro: quando um dos portões está aproximadamente 80% fechado, o outro já aceita o comando para ser aberto. Eu também medi o ponto mais distante da rua onde o controle remoto consegue acionar o portão (para ganhar tempo quando estou chegando) e, se estou saindo, antes de ligar o carro eu já abro o portão interno da garagem, pois o tempo dele abrir é exatamente o tempo que gasto para manobrar o carro e colocá-lo no ponto de sair da garagem.

Tudo isso me permite ganhar entre dez e quinze segundos de vida toda vez que saio com o carro.

Eu também descobri um jeito de abrir os dois portões ao mesmo tempo, mas isso seria inseguro – e considerando um certo cartaz que ficou pregado no elevador durante algumas semanas, o síndico não deve ter ficado nada satisfeito com minha descoberta.

--

Eu quase nunca desligo ou reinicializo o notebook. Quando vou dormir deixo-o na mesa em modo de espera ("sleep”), e na manhã seguinte ele volta a funcionar num instante.  E se tenho que transportá-lo de mochila para ir pro trabalho, uso a hibernação do Windows: ele inicializa muito mais rápido e com todos os programas abertos do jeito que estavam antes de eu guardá-lo. Isto me faz economizar cerca de cinco minutos de vida por dia.

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É claro que esses ganhos são irrisórios. Mas eu gosto de pensar em como otimizar as coisas que faço todo dia, mesmo que seja só como um exercício de criatividade.

A cena mais barra-pesada de Grand Theft Auto IV

2009-07-04 23:40:07 +0000

Nas últimas semanas eu recomecei a jogar o GTA IV porque meu savegame com quase 100% do jogo concluído se corrompeu (é uma longa história – e outro caso onde eu faço um backup de alguma coisa e ele não funciona).

Nessa “rejogada” eu acabei revisitando várias cenas truculentas do GTA. E no meio de todos os tiros, explosões e gente atropelada, acabei revendo uma cena que é aparentemente inocente mas que foi especialmente chocante pra mim.

É assim: quando você rouba um carro de polícia, dá pra usar o computador da viatura para ver uma lista com a localização de criminosos procurados… para que você possa caçá-los no melhor estilo “mercenário justiceiro”. Essas mini-missões são bem divertidas e normalmente envolvem perseguições em alta velocidade e tiroteios entre você e a gangue do meliante… exceto quando você seleciona um cara chamado Jimmy Kand.

O computador indica que Jimmy está num conjunto habitacional em Northwood e você já pensa: “legal, tiroteio em local fechado, vou ter que chutar porta e sair fuzilando geral!”. Mas quando você chega no local e entra no prédio não há gangue nenhuma: apenas um apartamento em ruínas, com paredes manchadas, entulho, lâmpadas amareladas e gente semi-inconsciente estirada no chão.

image

Justamente enquanto você está estranhando a falta de resistência armada da missão, ouve a voz de um dos moradores do local lhe oferecendo heroína. E então tudo faz sentido: aquilo ali é um daqueles locais aonde viciados vão parar quando suas vidas foram para o buraco. O silêncio e a feiúra do lugar são angustiantes – mas você não abaixa a guarda, afinal Jimmy Kand deve ser algum traficante fortemente armado. E então você segue, checando cada canto do apartamento com sua arma em punho – mas só encontra viciados caídos, magros, sujos e viajando de heroína.

O pontinho vermelho do seu radar indica que Jimmy está bem ali, no quarto dos fundos, e então você recarrega seu fuzil e entra pronto para a troca de tiros. Mas encontra apenas um homem caído no chão, encolhido em uma poça de vômito, ao lado de um colchão sujo. A setinha vermelha sobre o corpo não deixa dúvidas: aquele é Jimmy Kand.

image

Esse, para mim, é o momento mais chocante do jogo. Mesmo porque você tá indo num ritmo de filme de ação e trocando tiro e fazendo justiça e se divertindo e, de repente, é confrontado com uma representação extremamente realista do fim da linha das drogas, um dos jeitos mais indignos de uma existência humana terminar.

E, pra piorar, você está ali para matar Jimmy. No caso dos outros criminosos você ainda completa a missão com um sentimento de realização do tipo “estou limpando a cidade” ou “fui mais habilidoso, escapei dos tiros”, mas Jimmy não representa ameaça para ninguém a não ser a si mesmo. Nas duas vezes que completei essa missão eu fiquei olhando Jimmy por longos minutos até ter coragem de puxar o gatilho e terminar sua existência miserável.

Talvez o GTA IV, com essa cena, tenha feito mais efeito do que muita campanha anti-droga por aí.

P.s.: No YouTube tem um vídeo da missão onde dá pra ver melhor o local.

Sonhos e memórias

2009-06-28 14:02:55 +0000

Essa noite sonhei que fui ao oftalmologista e ele cismou de fazer uma cirurgia a laser em mim, para curar meu meio grau de miopia. Só que eu estava na França. Um sonho bem “Victor Fasano hipocondríaco”, pelo visto.

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Semana passada me veio uma lembrança de 1991, da sétima série, quando eu me sentava no fundo da sala e do meu lado ficavam os alunos mais hardcore da turma.

Aí reparei que um deles – um grandão, com o cabelo meio comprido - estava com um fósforo na mão. Ele retirou um estilete do seu estojo e, cuidadosamente, começou a raspar a cabeça vermelha do fósforo, formando um pequeno montinho vermelho sobre a carteira. Então ele coletou todo o pó vermelho sobre seu dedo indicador, colocou na narina e… cheirou.

Até hoje eu não sei o que dizer sobre isso.

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Faz muito tempo que não tenho pesadelos. Eles eram bem mais comuns na minha infância. Alguns foram clássicos, tanto que eu me lembro até hoje de um deles, onde eu caía em um precipício e, na sequência, tocava uma vinheta da Rádio Cidade.

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Um programa que eu mantenho no iPhone, para fins totalmente, digamos, “nostálgicos” chama-se Tapes. Ele é nada menos do que um gravador de fitas cassete.

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Eu tinha um desses gravadores quando era criança. Acho que foi um dos meus primeiros gadgets. O legal do programa é que ele emula a experiência do gravador de forma bem realista, incluindo desde o “clac clac” da fita entrando no gravador até a deliciosa imprecisão dos botões “REW” e “FF”.

Uma internet cada vez mais síncrona

2009-06-04 18:34:19 +0000

O boom do Twitter, o (atualmente meio esquecido) YouTube Live, e agora o Google lançando o Google Wave deixam uma tendência bem óbvia no mundo online: conteúdo cada vez menos assíncrono e cada vez mais em tempo real.

Pensa bem: antes o conteúdo ficava lá guardado, parado num site, numa caixa postal ou num agregador de RSS, esperando a hora que você quisesse acessá-lo. Claro, haviam os instant messengers, mas eles sempre pareceram estar meio à parte do resto. Agora você tem experiências como as transmissões do Roda Vida, da TV Cultura, na internet, com sua tela subitamente mostrando vídeo ao vivo num canto e, no outro, os comentários feitos numa sala de chat e no Twitter, pipocando na tela conforme vão nascendo. E o que passa a valer é não somente o conteúdo, mas o conteúdo entregue na hora em que é gerado.

Claro que uma tendência ao "tempo real" é convenientemente boa pra quem ganha dinheiro com a internet, afinal te obriga a ficar menos "multitarefa" e mais tempo atento ao que acontece - e a um eventual anunciozinho enfiado ali no meio. Mas eu não duvido nada que a própria velocidade do mundo (corporativo, social, whatever) comece a puxar a fila do tempo real. Logo logo, aquelas trocas de emails vão ser consideradas lentas e ser rapidamente substituídas por alguns tweets ou uma sessão de edição colaborativa no Google Wave.

Privacidade?

2009-05-28 02:52:42 +0000

Dez anos atrás e eu falava pros meus amigos sobre os perigos de se colocar a própria foto na internet.

Hoje as pessoas convidam você pra dentro da casa delas, bem no meio da sua sala de estar, para que você se sente com elas no sofá e veja a cara de surpresa/alegria/decepção delas na hora em que anunciam o vencedor do American Idol.

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Mas não é só um vídeo. Achei foi um TOP 10 VÍDEOS de reações ao American Idol. E, confesso, assisti quase todos. Meu predileto é esse aí debaixo. Acho particularmente fascinante a transição da cara de “macho dominante mais velho” para “perda total de compostura” do cara no centro, e também a loirinha de óculos (na direita, mexendo no celular) que grita mas olha em volta, como quem confere se está “reagindo certo”.

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São tempos muito, muito interessantes estes em que vivemos.

Sobre escritórios e tatuagens

2009-05-25 23:16:31 +0000

No seriado The Office teve uma hora em que algumas pessoas vão parar num escritório totalmente improvisado e, consequemente, super-tosco.

Daí que o escritório tosco do The Office é EXATAMENTE IGUAL a vários escritórios onde me botaram para trabalhar como consultor.


Não, eu NÃO estou brincando. Esse aí embaixo é em Itajubá, Minas Gerais:

Escritório no auditório


Eu fico vendo essa moda de tatuagens pra lá, piercings pra cá, body modding e o escambau e pensando no quanto a sociedade que vive no ápice da era industrial e tecnológica anda se esforçando pra se conectar com... os costumes da época que eram selvagens.

(Ah, antes que venham trollar nos comentários, NÃO, eu NÃO sou contra tatuagem nem nada. Este comentário é apenas uma constatação isenta de juízo de valor).

Por que o Brasil não vai pra frente?

2009-04-06 13:21:47 +0000

É por causa disso aqui:

caneta

Tudo que é banco usa essa tal “caneta fixa”: um tubo de metal com uma carga de caneta Bic que fica acorrentado na mesinha. Bancos fazem isso porque senão a caneta acaba sumindo. Agora note que, na foto, a ponta da caneta está enrolada com fita adesiva: o banco fez isso porque senão as pessoas roubam a carga da caneta.

E é por isso, meus caros, que nosso país não vai pra frente.

Afinal, quanto custa uma caneta Bic? Se canetas custassem muito dinheiro até dava pra entender o roubo, considerando a situação miserável na qual vive a maior parte dos brasileiros. Mas é uma caneta Bic, a mais simples e barata de todas. Existem vários modelos de caneta muito melhores que a Bic e que são AINDA tão baratos que acabam sendo dados de brinde (tem umas quatro dessas aqui no meu porta-lápis).

Por inferência eu devo entender que essa pessoa também não pensou nos clientes do banco que vão chegar ali depois dela e vão ter problemas pra fazer seu depósito porque não tem caneta disponível. O ladrão segue a “lei de Gérson” básica: obter vantagem pessoal mesmo que isso comprometa a coletividade – e mesmo que a “vantagem pessoal” seja uma simples carga de caneta.

bus_stop_arm Agora voltemos ao ano de 2005, quando morei no Canadá. Uma vez eu e meus colegas estávamos de carro e havia um ônibus escolar parado na nossa frente, deixando crianças na porta de uma escola. Os ônibus escolares tem uma placa de “PARE” retrátil, como a da foto ao lado, que fica ligada quando as crianças estão descendo. Por lei, nenhum carro deve ultrapassar o ônibus nessa hora, pois há o risco de alguma criança ser atropelada. Mas nós não sabíamos disso e passamos o ônibus mesmo assim. E nesse instante a rua inteira gritou conosco. Sim, a rua INTEIRA, incluindo gente que estava só passando no local e que não tinha nenhum parente ou conhecido no ônibus: TODO MUNDO recriminou violentamente nossa atitude. Este é o inverso do roubo da caneta Bic, é um caso onde o bem-estar da coletividade vale mais do que a vantagem pessoal: ninguém se importa de perder dois ou três minutos do seu dia esperando o ônibus descarregar as crianças – e mais, as pessoas ainda cobram que os outros tenham a mesma atitude. Por isso os bancos canadenses não tem caneta fixa. Nem detector de metal na porta. E funcionam de 8 às 18h. E abrem no sábado.

Pra mim não há como construir um bom país sem colocar a coletividade na frente do ganho pessoal. E nesse ponto o Brasil ainda tem muito a progredir…

Update (12/04): Nos últimos dias eu comecei a estranhar a avalanche de xingamentos nos comentários deste post: um monte de gente me chamando de tudo que é nome (a pretexto de "defender a pátria") e me acusando de ser generalista, preconceituoso, etc. Me chamaram até de "argentino" - e depois o preconceituoso sou eu...

Foi aí que eu percebi que o "monte de gente" não era bem um monte de gente, era uma pessoa só escrevendo um monte de comentários com vários nomes diferentes. A imagem abaixo é da tela de aprovação de comentários (clique para ampliar). Observe que todos eles vieram do mesmo endereço IP (76.68.244.178)...

trolls

E é por causa de gente assim, meus caros, que nosso país não vai pra frente.

Agora, o que está me encucando é que o IP desse cara indica que ele está no Canadá. Essa eu não entendi...

Tudo grátis na internet: até quando?

2009-03-26 18:06:17 +0000

Ontem o @pedrobeck mandou um link para uma matéria da The Economist intitulada “O fim do almoço grátis”, dizendo que essa onda de coisas grátis na internet é um modelo de negócio insustentável e que está prestes a ruir.

E é verdade. A idéia de atrair um caminhão de tráfego pro seu site oferecendo algo gratuito e depois tentar ganhar dinheiro “monetizando” a coisa com anúncios já se mostra furada no momento onde você descobre que o percentual do público que clica e/ou compra algo dos anúncios é baixíssimo, menor que 1% em vários casos. É uma conta que não fecha.

No entanto, o que a matéria não comenta é o segredo de quem anda realmente ganhando dinheiro com este modelo de negócios. Porque é possível sim ter lucro desta forma – desde que o empreendimento seja pequeno e os custos de operação, quase nulos.

Na internet é comum achar casos assim. Um lugar cheio de exemplos é a App Store – a lojinha da Apple que distribui programas para o iPhone:

Steve Demeter, o desenvolvedor do Trism, um jogo famoso para o iPhone que custa US$ 5, anunciou que obteve um lucro de US$ 250 mil em apenas dois meses. Sua equipe de trabalho? Basicamente ele mesmo, com ajuda de um amigo e um designer que ele contratou (pagando US$ 500). Se seus lucros continuarem neste ritmo, Demeter vai ganhar quase US$ 2 milhões até julho de 2009.

Quando as pessoas falam que “a internet mudou a economia”, não se trata apenas de globalização ou de velocidade nas transações – é meio que uma mudança em vários fundamentos da economia. A começar pelo ativo mais valioso do século XXI - a informação – que é distribuído livremente e gratuitamente por aí e que pode ser facilmente capturado por alguém com tempo e disposição e transformado em lucro. Capital inicial? Coisa do passado (a banda de Dinho Ouro Preto também, inclusive).

Talvez a bolha realmente estoure como a Economist está prevendo. As empresas grandes que tem serviços gratuitos e que ainda não sabem como gerar dinheiro com elas (cof cof Twitter cof cof), essas possivelmente vão morrer ou acabar compradas pelas megacorporações (cof cof Google cof cof). Mas eu acho que, entre os mortos e feridos, uma classe que vai se beneficiar fortemente disso são os micro-empreendedores: essas empresas de uma pessoa só que mantém serviços gratuitos ou de custo baixo sem fazer muita força. É óbvio que o dinheiro MESMO está em sites e serviços que funcionam no modelo econômico clássico do “eu te vendo algo, você me paga, eu tenho lucro”, mas a graninha pingada de um AdSense ou do jogo vendido na App Store é mais do que suficiente pra manter um desenvolvedor amador ou um “problogger” na classe economicamente ativa da sociedade. E por serem menores e trabalharem mais focados, eles ainda podem nadar de braçada na cauda longa, onde as grandes corporações não conseguem incomodá-los.

A rua Augusta e a fraternidade universal

2009-03-21 16:47:27 +0000

Quando o sol se põe e a noite chega é como se Deus removesse do céu o seu olho gigante e incandescente e deixasse o mundo momentaneamente sem supervisão. E então é como se seus habitantes, que passam as horas claras do dia mantendo a compostura e cumprindo seus contratos sociais, percebessem que “o chefe saiu”.

Talvez isto justifique o que se vê à noite na Rua Augusta. Desde que me mudei pra São Paulo eu comecei a criar um fascínio cada vez maior por ela - mais especificamente pela “baixa Augusta” – a parte onde ficam os inferninhos, puteiros, botecos e casas noturnas.

augusta_inferno

Andar pela Augusta tarde da noite é surreal. De um lado do passeio tem uma mini-equipe de produção com câmeras e holofotes entrevistando as pessoas que passam. Mais adiante tem uma rodinha de violão, depois um grupo de moleques praticamente uniformizados com seus pretos e piercings na porta de uma boate. Há muitas câmeras, muitos celulares e muita gente gritando “onde você tá?” neles, para encontrar os amigos no meio daquele pandemônio. As paredes são cobertas de pichações e cartazes de artistas urbanos: um deles diz, em letras garrafais: “AMOR É IMPORTANTE, PORRA”. Os seguranças da porta das casas de shows adultos divulgam as atrações: “mulheres bonitas, quantidade e qualidade!”, diz um deles. “Todas apertadinhas”, diz outro. Mesmo se você estiver acompanhado, não tem problema. “Temos mesa pra casal”, dizem eles.

Ontem eu estava lá, com esposa e amigos, na porta do Inferno Club – uma casa de shows com um neon vermelho clássico na fachada, portas acolchoadas e reproduções de quadros de Hieronymus Bosch nas paredes. Um dos amigos que estava conosco não estava acostumado a “sair de balada” e estava visivelmente assustado. Então eu disse a ele alguma coisa mais ou menos assim:

- Não precisa se preocupar. Você olha pras pessoas e parece que elas vão te atacar e te matar, mas na verdade todo mundo está aqui com o mesmo objetivo: se divertir.

E é por isso que eu me sentia tranquilo no meio daquilo tudo. Todo mundo estava ali para, à sua maneira, exorcisar seus próprios demônios; fugir um pouco das vistas do olho incandescente de Deus e dar vazão aos desejos tortos que ficam engavetados de segunda à sexta. E por isso é como se todo mundo estivesse unido pelo desejo comum de se divertir.

A rua Augusta talvez seja um dos poucos lugares aonde o ser humano se comporte de maneira genuinamente fraternal.

Seis coisas que as pessoas normalmente não sabem sobre mim

2009-03-20 13:03:10 +0000

Permitam-me um momento “hype slowpoke” não solicitado para entrada no velho meme de “seis coisas que as pessoas não sabem sobre você”.

(embora algumas delas já tenham sido mncionadas neste blog, mesmo que en passant)

1) Sexta série. Eu, o cara mais inadequado socialmente do colégio, vivia uma paixão avassaladora (e, obviamente, platônica) por uma menina da minha sala. E eis que a menina faz quinze anos e resolve dar a fatídica festinha de debutante e convida a sala toda. E eis que o convite dizia “Traje: Esporte fino”.

E eu não fazia idéia do que aquilo significava.

Pedi ajuda pra minha mãe: “O que é isso de esporte fino? Não posso errar na roupa nesse dia de jeito nenhum, mãe!”. Obviamente ela já havia sacado as implicações do evento e me tranquilizou, dizendo que eu ia arrasar.

No instante em que eu botei os pés na festa e meus “coleguinhas” de sala me viram, todos gritaram em uníssono:

- Alááá, o Zé veio de smoking!!! – e todo mundo caiu na gargalhada.

Imagine como você se sentiria na festa de 15 anos do “amor da sua vida”… vestido igualzinho aos garçons. E antes que vocês digam “pics or it didn’t hapen…”

 smoking
O traje do dia fatídico, em foto tirada pela minha mãe. O copo (com água) é puramente decorativo.

2) Aí eu fui procurar a foto do item 1 e encontrei uma coisa que nem eu lembrava mais: fotos da época em que eu toquei teclado em casamentos.

 teclado
Tocava a marcha nupcial e tudo.

3) E o estoque de micos não acaba. Aí vai mais um: ginástica olímpica. Foi também no primeiro grau, eu era da equipe do colégio e tudo. Eu era PÉSSIMO, mas como a equipe nunca tinha quórum para poder participar das competições, entrava eu, de “bucha”.

E, sim, esta também tem foto.

 ginastica
Eu tou ali, em frente aquela menina de collant vermelho e branco, do tamanho de um halfling (que por sinal eu vi outro dia no aeroporto, ainda baixinha)

Revendo essas coisas todas, chega a ser surpreendente o fato de eu não ter virado gay.

4) Em raras ocasiões eu mencionei aqui no blog que sou espírita. Em raríssimas vezes eu mencionei que já fiz palestras em diversos centros espíritas de Belo Horizonte. Mas o que nem eu havia percebido é que acumulo um total de exatamente OITENTA E DUAS PALESTRAS.

…o que foi excelente porque me ensinou a falar em público, coisa que se mostrou extremamente útil na minha profissão.

5) Outra coisa que aprendi em centro espírita foi canto coral. Mas não aprendi somente a cantar: sou capacitado também para conduzir os ensaios do coral e até mesmo reger a coisa toda - sim, dar uma de maestro durante uma apresentação.

Tá certo que grande parte disto é consequência de eu ter namorado um tempão com a maestrina do coral, mas isso é outra história…

6) Essa eu já contei aqui, mas como o post é de 2002 muita gente não deve saber do dia em que dancei axé e quase peguei uma mulher em Porto Seguro.

O primo e a farinha láctea

2009-03-16 20:28:13 +0000

Numa das visitas à casa do meu pai em Belo Horizonte eu reencontrei um clássico da minha infância: a Farinha Láctea Nestlé, um farináceo para crianças cheio de calorias e vitaminas, coisa que eu comia mais ou menos quando estava na idade do meu irmãozinho de 7 anos (que é quem come essa gororoba hoje). Na ocasião, só pra relembrar como era, resolvi experimentar um pouquinho.

Hoje tem uma lata inteira do troço no armário da cozinha aqui de casa.

farinha

O legal de comer farinha láctea nem é o gosto (e muito menos a aparência, como a foto aí em cima atesta), e sim a experiência, um misto de nostalgia e surrealismo. O que mais me espanta é que, apesar de fazer mais de VINTE anos que eu não como isso, o cheiro e o gosto da coisa despertam memórias absurdamente vivas de mim, criança, em pé do lado da pia da cozinha e do seu armário bege, mexendo aquela gosma numa cumbuquinha de aço inox (eu sempre comia nessa mesma cumbuca). Meu cérebro volta tanto no tempo que outro dia reparei, espantado, que a maneira com a qual eu preparo um prato de farinha láctea hoje é exatamente igual eu fazia na época – é um resgate assustadoramente preciso de uma memória muscular que consolidei duas décadas atrás: a sequência do preparo, o jeito de chacoalhar a lata para jogar a farinha no prato e depois de dar um “tapinha” pros restos que ficam na beirada da lata caírem de volta pra dentro dela, até a forma de misturar a farinha no leite (sempre no centro do prato, com a colher na horizontal, com pausas pra jogar o que sobra nos cantos de volta para o centro) é idêntica. Falando assim parece meio idiota, mas é fascinante. Experimente você, comendo alguma coisa que você comia quando criança e que nunca mais provou de novo…

Por sinal eu ando muito nostálgico aqui no blog. Mau sinal.

Brilho duvidoso de uma mente desocupada

2009-03-03 04:42:19 +0000

Toda vez que eu vejo alguma propaganda de coisas que tem a ver com granito (tipo Biancogres) eu penso:

"Por que tudo que tem a ver com granito tem 'gres' no nome?", e depois:

"Putz, isso me lembra aquela menina que trabalhou comigo naquele projeto que chamava o namorado de 'Grê', que troço esquisito, parecia que o menino era de granito", e depois:

"Por que tudo que tem a ver com granito tem 'gres' no nome?", e assim por diante, em loop infinito.

É sempre assim. Igualzinho. Toda vez.


Uma vez eu e Bethania fomos a um restaurante e havia um conjunto tocando jazz em cima de clássicos da bossa nova. Os caras tocavam a música "normal" e depois ficavam improvisando em cima. Outro dia estava no supermercado, me lembrei disso e fiquei pensando em como seria FODA ter uma banda fazendo jazz em cima das músicas do Street Fighter. Dá até vontade de aprender a tocar trumpete...

(...que passa logo após ouvir Miles Davis).


Visitar Belo Horizonte significa ficar na casa do meu pai, o que significa passar tempo com meu irmãozinho, o que significa um "childhood update": o momento de descobrir o que as crianças de hoje ficam fazendo.

Hoje eu descobri que o Cartoon Network passa uma versão do desenho das Meninas Superpoderosas em versão adolescente e mangá. Pelo visto a moda de adolescer a Turma da Mônica pegou mesmo.

Descobri também que o Playstation 2 tem uma série de jogos que só pode ser descrita como uma mistura de Metal Gear Solid com The Lost Vikings que é surpreendentemente para crianças: a franquia Sly Cooper.


Às vezes a coisa aperta e eu paro e penso em como seria bom ainda ter o colo da minha mãe (morta há uns 11 anos, câncer de mama). Eu me deitaria lá e ela não só saberia a resposta para todos os problemas que eu despejasse sobre ela como também saberia COMO me dizer as respostas - especialmente as duras - pra me motivar sem me ofender ou chatear. Ou, no mínimo, saberia fazer com que eu desanuviasse a cabeça.

Aí eu penso que nos últimos onze anos eu tive que me virar sem ela e que foi exatamente nestes onze anos que eu - talvez pela ausência dela - tive que ignorar medos e redobrar cuidados e esforços para encarar esse mundo esquisito; e que isso acabou fazendo com que eu construísse inúmeras coisas nestes onze anos que talvez eu não tivesse tentado fazer por conta de muito medo, pouco cuidado e pouco esforço. É como se o fato de não ter rede de proteção embaixo fizesse o trapezista parar de moleirar e tratar de fazer bem o seu número.

E de alguma forma paradoxal meu conforto acaba vindo do fato da realidade ser dura.

O sopro divino da criatividade

2009-02-21 03:47:19 +0000

Semana passada a dignísssima esposa (agora @be_duarte no Twitter) mandou um link de um vídeo de uma palestra sobre criatividade, feita por Elizabeth Gilbert, autora de um best seller chamado “Eat, Pray, Love”.

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Cê viu que eu sacaneei e o vídeo não tem legendas e está em inglês, mas na palestra a autora falava de como ela dissocia de si mesma o impulso criativo, tratando-o como uma coisa separada, algo como que uma torrente de idéias externa à sua mente, sob a qual ela não tem o menor controle, que caem sobre ela sem aviso e que ela deve transpor para o papel. Ela diz ainda que isso é coisa que vêm desde a Grécia e Roma antigas, aonde os artistas e filósofos diziam haver um “gênio” ou “demônio” (daemon) que lhes acompanhava e lhes sopravam as idéias. Além dela outros artistas também costumam funcionar mais ou menos do mesmo jeito, como a poetisa americana Ruth Stone ou o cantor Tom Waits. Este último, conta ela, chegou ao ponto de uma vez, ao ter uma idéia para uma melodia enquanto dirigia, parar o carro e gritar aos céus: “Não está vendo que eu estou dirigindo e não tenho como anotar isso?”.

O que me surpreende nessas histórias é que não é só Tom Waits e Ruth Stone e Elizabeth Gilbert que pensam assim: muita gente fala exatamente do mesmo jeito ao explicar seu processo criativo. Hoje mesmo eu e Tiagón (a quem tive a HONRA de conhecer ao vivo esta semana), na mesa do boteco, falávamos exatamente disso, de como é complicado transpor as idéias que vêm às nossas cabeças em forma de música, ele no All Your Gardening Needs e eu nas minhas viagens musicais anteriormente publicadas sob a alcunha dos Bit Cousins.

Então, é aí que está a mágica da coisa: eu acho curiosíssimo perceber que essa idéia de “idéias como um troço separado da sua mente, que vêm de repente” é meio que um meme, extremamente comum em várias eras, em gente de tudo que é parte do mundo e tanto em figurões da música e literatura quanto em, digamos, “compositores caseiros pouco relevantes na meritocracia informal da música”. E, em tese, isto não tem razão nenhuma de ser tão comum. E isto casa certinho com outra característica comum aos grandes gênios: a excentricidade (Excêntrico = afastado do centro).

E mesmo em pleno século XXI e no meio do meu período de vida mais cético, ainda assim eu me vejo obrigado a pelo menos considerar a possibilidade – remota mas bem interessante – de que a criatividade possa ser, de fato, um sopro divino sobre nossas cabeças mortais.

P.s.: A palestra da Elizabeth era uma das famosas TED Talks, que tem inclusive um canal no YouTube com várias delas legendadas em português.

Da magia e das ofensas

2009-02-16 14:57:29 +0000

No dia-a-dia eu não costumo ser desajeitado, mas quando estou perto da minha esposa eu viro um desastrado completo. Não é incomum ela acabar levando pisada no pé, cotovelada e outras formas, digamos, menos ortodoxas de carinho. Agora há pouco estávamos no quarto e o que seria uma agradável convivência de casal terminou com a coitada metendo o cotovelo na porta.

A explicação pra isso é simples: perto dela eu perco uns dois pontos de DEX, donde conclui-se que minha esposa é mágica.


Pra não perder o costume, falemos do GTA IV.

Agora a onda aqui em casa é jogar o multiplayer. O duro é que não tem Playstation Network no Brasil e eu sou obrigado a me conectar com os servidores dos EUA, e por conta do lag eu fico em desvantagem. No modo deathmatch – onde os décimos de segundo fazem toda a diferença - quando eu começo a pensar em mirar no meu oponente, olha lá meu corpo estendido no chão. Pra piorar, o jogo ainda dá uma mensagem diferente a cada vez que você mata ou morre, e uma delas diz mais ou menos assim:

JohnDoe083 has 3rd worlded OPrimo_

E por causa do “3rd worlded” eu, além de morto, fico ofendido.


Um dos comerciais das rádios do GTA é uma propaganda de um candidato a prefeito. O locutor fica enumerando seus feitos políticos, que incluem coisas como:

…o candidato propõe retirar todos os fundos para financiamento de centros comunitários e dar o dinheiro diretamente para os drogados da cidade.

Eu dava risada todas as vezes que ouvia esta propaganda – até um dia em que me lembrei do bolsa-família do Lula. Então fiquei ofendido.


Em 1965, o jovem austríaco Gottfried Helnwein foi admitido no Instituto Experimental de Alta Educação Gráfica. Revoltado porque a escola não tinha nada de “experimental” na sua alta educação, Helnwein cortou a mão com uma gilete e, usando o próprio sangue, fez um desenho de Adolf Hitler.

Helnwein foi expulso da escola – o que lhe ensinou uma importante lição sobre o poder que certas imagens podem ter.

Gottfried Helnwein atua até hoje. Sua obra inclui coisas grotescas como pinturas de crianças mutiladas e até um quadro (abaixo) retratanto o nascimento de Jesus e os três reis magos – todos com uniformes de militares nazistas.

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O curador de uma de suas exposições, Robert Flynn Johnson, definiu a arte de Helnwein como “o equivalente visual a um esporte de contato”.

E isto não me ofende nem um tiquinho.

Eu tive pensando…

2008-11-27 05:17:47 +0000

Bom, na verdade eu vim escrever este post porque passei a última hora deitado na cama, tentando dormir, mas não parava de pensar: “Putz, eu não vou conseguir dormir. De novo. Terceira noite seguida que eu custo a pegar no sono”. Na verdade, pensar que eu não ia conseguir dormir era o que me impedia de conseguir dormir.

Aí voltei pro computador. Quem sabe pensando em outra coisa eu acabe dormindo em cima do teclado…

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Tive uma idéia meio malvada outro dia: montar um vídeo pra sacanear seus amigos. Funcionaria assim: cê chega pro cara e fala "meu, cê tem que ver esse vídeo, é muito legal". Aí entra no YouTube, bota o troço pra tocar e põe seu amigo pra ver. Enquanto isso você prepara sua câmera fotográfica...

Aí num ponto específico o vídeo subitamente muda para cenas de sexo explícito. Por uma fração de segundo seu incauto amigo estará lá, vendo putaria da grossa com a cara mais atenta do mundo, e você com uma câmera na mão pronta para registrar aquele instante para a posteridade.

Acho que não preciso explicar mais nada.

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Eu tenho umas implicâncias completamente idiotas na hora de ouvir música com fones de ouvido. Por exemplo, eu JAMAIS uso os fones com os lados trocados: é sempre o L na esquerda e o R na direita. E eu NUNCA deixo a música rolando quando os fones não estão no meu ouvido: por exemplo, quando alguém quer falar comigo eu tiro um dos lados do fone e sempre dou um “pause”.

E quando me dão fones onde um lado está tocando com o volume diferente do outro? Meu amigo… isto é desesperador.

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Ontem, perto das 18h, eu liguei pra um cara que estava me devendo um cronograma. Era minha terceira cobrança esta semana. Aí fiquei pensando que, de certa forma, eu sou pago pra ser chato com as pessoas.

O pior é que me pagam bem. Então, de duas, uma: ou querem que eu seja realmente MUITO chato ou estão apenas remunerando meu talento nato para a chatice…

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Um detalhe: o cara que está me devendo o cronograma é igualzinho o Fausto Fanti (o Renato, o loiro magrelo da dupla Hermes e Renato). E eu sempre me lembro disso no meio das reuniões, e sempre, sempre tenho que ficar me segurando pra não começar a rir.

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“Porra cara, esqueci o cronograma… mas depois eu te mando, valeu?”

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Eu sou craque nesse negócio de não saber lidar com as próprias emoções. Pra exemplificar, uma historinha:

Na última sexta-feira, depois de passar metade do dia viajando (Marabá, lembram?) eu pousei em São Paulo, entrei no táxi e fui pra casa. No caminho vi que tinha um recado na caixa postal do celular e fui ouvir.

“Você tem cinco recados novos” – disse a gravação. Os cinco eram da minha esposa. Em cada um deles, risonha, ela dizia algo tipo “cadê você, chega logo!” e, na sequência, cantava algum daqueles clássicos da dor-de-cotovelo, tipo “Me Chama”, do Lobão…

“Tá tudo cinza sem você, tá tão vaziooo… e a noite fica sem porquê…”

Obviamente ela cantava de sacanagem, só pra me zoar. Só que eu encanei FEIO com os cinco recados, não digeri a coisa e fiquei meio assustado com aquela vontade toda dela de me ver. Então eu cheguei em casa e ela veio toda contente me receber. E eu lá, travadaço, sem a menor idéia do que fazer.

Obviamente ela estranhou minha “cara de tela azul do Windows” mas, como tinha uma amiga dela de visita lá em casa, só fomos ter a oportunidade de tocar no assunto umas duas horas depois. Aí eu, ainda travado e numa sem-graçeza ímpar, achei melhor me explicar de uma vez, respirei fundo e mandei um legítimo “prontofalei”:

- É que eu vi os cinco recados no celular e fiquei assustado com o tanto que você queria me ver e não consegui digerir direito a coisa toda e fiquei assim, travado.

Foi só terminar a frase que o peso da coisa toda sumiu de repente das minhas costas e me veio um alívio tão repentino e absurdo que, de uma só vez, eu voltei ao normal. E então eu saquei que o simples ato de verbalizar o que eu estava sentindo havia sido suficiente pra botar meu incômodo todo pra fora.

É engraçado… trinta anos de idade nas costas e eu ainda não aprendi como funciono.

Reviews de música que não falam de música

2008-11-18 04:10:14 +0000

"Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem." - Jesus Cristo (Mt, 13:13)

Então outro dia eu estava com os fones de ouvido numa estrada qualquer, olhando pela janela, e pensando no quanto a música é uma experiência que existe num nível diferente, separado da realidade, e que por isso é difícil de descrever em palavras. "Escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura", disse Elvis Costello, em frase relembrada aqui no Impop pelo Renmero. Então veio a idéia maluca: "E se pudéssemos escrever sobre música sem falar de música?"

Este post é uma tentativa de implementação desta idéia, em oito mini-reviews de discos que tenho ouvido recentemente.

As diretrizes para os mini-reviews são simples: não posso comentar sobre a música nem sobre nada relacionado à sua sonoridade. Não vale, por exemplo, citar bandas parecidas nem usar adjetivos que se refiram ao tipo do som. Mas posso fazer analogias com qualquer outra coisa, citar experiências similares, etc. Vale tudo para falar da música - menos falar de música.

Então vamos lá. (P.s.: Os links apontam para algum lugar onde você possa ouvir alguma coisa do disco, caso queira).

um.jpg
Qua - Painting Monsters on Clouds: É como um livro de colorir, que pertence a uma criança bastante hiperativa. Nele ela inventa aquelas histórias fantásticas e cheias de reviravoltas, que nem sempre tem a continuidade de uma narrativa adulta mas que deixam transparecer, nas suas "entrelinhas", a maturidade do futuro adulto escondido ali.

dois.jpg
Steve Roach - Darkest before dawn: Uma hora e vinte minutos olhando o planeta Terra da janela da Estação Espacial Internacional, enquanto ela orbita lentamente. A cada volta você vê o planeta exatamente do mesmo jeito; as variações são mínimas e, de tão lentas, são quase imperceptíveis (uma nuvem que saiu do lugar, o sol batendo diferente numa montanha, etc.), mas a paisagem em si é absolutamente fascinante e, de uma maneira misteriosa, absorve toda a sua atenção.

tres.jpg
Dabrye - One/Three: É um ciborgue ao contrário. Pense bem: o ciborgue tem a aparência humana e, por dentro, é uma máquina. Neste caso nós temos algo que cospe digital por todas as suas interfaces de saída mas que, por dentro, não somente é um ser humano como é um negão de sunga, passeando sorridente por Miami Beach.

quatro.jpg
Flying Lotus - 1983: Um Ford conversível, daqueles largos e achatados, modelo 1975, cruzando nem rápida nem lentamente pelas ruas sujas do Brooklin novaiorquino. E o negão-ciborgue do review do disco do Dabrye está dirigindo.

cinco.jpg
Deadmau5 - Get Scraped: Um moleque norte-americano, até gente boa, que trabalha no Wal Mart, mora com os pais e vai pro trabalho ouvindo sempre a mesma rádio FM no carro.

seis.jpg
Lindstrom - It's a feedelity affair: É a porta de uma casa noturna da Rua Augusta num sábado, por volta da meia-noite.

sete.jpg
Nightmares on Wax - Thought so... : Aquela festa na praia está começando a desacelerar. Todos os seus amigos estão lá, se divertindo horrores. O dia foi excelente. Você adorou cada momento e, levemente bêbado, se senta na areia, olha o sol se pondo e pensa no quanto a vida é boa.

oito.jpg
Rovo - MON : Deus, criando o universo.

(P.s.: Este post foi originalmente publicado no Impop, blog da Verbeat, hoje extinto)

Um santuário

2008-11-09 07:03:36 +0000

“Confluence” é o nome do disco, Manual é o nome do autor. O tipo de música é aquilo que se convencionou chamar de “ambient” – uma sonoridade que não tenta reproduzir uma melodia ou uma história, e sim um lugar, uma atmosfera. O disco era indicação de Tiagón e eu cismei de dar uma olhada em como ele soava antes de ir dormir, dado que já passavam das duas da manhã.

O edredom é branco e tem ideogramas japoneses estampados por toda a sua extensão aveludada. Ele está estirado por cima do sofá, embrulhando Bethania da cintura para baixo. Da cintura pra cima ela abraça umas almofadas vermelhas que fazem as vezes de travesseiro improvisado. A outra metade do edredom está escorrendo do sofá até o chão formando uma cama improvisada onde Pavlov está enrolado daquele jeito padrão de cachorro dormir, enrolado em si mesmo.

O Itaim é um bairro paulistano bastante movimentado. São Paulo é uma cidade bastante movimentada. Mas a madrugada é o momento de letargia da metrópole e, com a exceção de um ou outro ônibus ou de algum motoqueiro mais barulhento, a madrugada, em seu silêncio, é imaculada. É a hora em que os milhões de outros paulistanos que engarrafam as ruas durante o dia simplesmente param de existir.

Pra mim o mundo têm corrido numa velocidade muito grande. Eu não sei se é o fato dos trinta anos de idade terem chegado, se é a carreira, o curriculum a conta bancária, mas nos últimos meses eu ando com uma sensação de urgência absurda, como se meu tempo estivesse se esgotando assustadoramente rápido por alguma razão. Eu fico pensando que meu tempo nesse mundo precisa ser bem aproveitado e começo a tentar preencher todos os instantes de todos os dias com alguma coisa, alguma ocupação, algum conteúdo útil; obviamente não consigo e, no fim, fico ainda mais ansioso do que estava antes. No fim-de-semana a coisa é ainda pior: eu entro numas de que são apenas dois dias que eu tenho para passar em casa, com a família, que eu preciso aproveitar São Paulo e suas opções legais de lazer/cultura/o escambau porque depois chega a segunda-feira e eu me enfio num táxi/avião/ônibus e vou pra algum buraco distante onde não tem nada pra ver ou fazer e a oportunidade vai ter passado; então, se o sábado e o domingo viram dias preguiçosos e sem muito o que fazer, o final do domingo – naturalmente deprimente pra muita gente – acaba ficando ainda mais torturante.

O disco de ambient se desenrola muuuuito lentamente e dura mais ou menos uma hora. Uma hora foi o tempo em que parei e fiquei olhando Bethania e Pavlov dormirem. São Paulo, respeitosamente calada, apenas observava pela janela. Nos últimos meses esta foi a primeira hora em que o tal senso de urgência, finalmente, deu uma trégua.

Pensando em como eu poderia definir esta uma hora, notei que a penúltima música do disco chama-se “Sanctuary”.

Sim, é isso. Um santuário.

“Do not feed the trolls”

2008-11-06 02:21:31 +0000

Aconteceu nos comentários deste vídeo de skatistas descendo uma ladeira em alta velocidade. O vídeo é espetacular e todos os comentários postados são de usuários impressionados, elogiosos e maravilhados. Aí chega o usuário Bevan Goldswain e diz:

O início com os dois se vestindo é meio gay… e é muito longo, nos primeiros 30 segundos você já viu todas as manobras deles. Isso não é balé, no balé você tem uma história que te prende por duas horas, mas depois de 30 segundos da mesma manobra no skate…

…e segue-se uma looooonga discussão aonde todos reclamam da atitude de Bevan Goldswain, que começa a rebater as reclamações com ofensas pessoais e comentários sarcásticos e, no fim, a discussão que era para ser sobre o vídeo acaba virando briga e deixando todo mundo irritado.

Este, meus amigos, é um exemplo de “trolagem” dos mais espetaculares que já vi.

Um dos arquétipos mais interessantes criados pela internet é o troll. Talvez você não conheça o termo, mas possivelmente já vivenciou algo parecido com isto em fóruns, blogs, listas de discussão ou no Orkut: gente postando coisas ofensivas, irrelevantes, mentirosas ou polêmicas, só pra avacalhar a discussão e enganar ou irritar os usuários, exatamente como no exemplo acima. Para um outro exemplo, desta vez em português, veja este tópico do Orkut intitulado “Trolls não existem”, criado por um troll, na comunidade “Não alimente o troll” :)

20081105_2 Ao contrário do que muita gente pensa, a origem do termo "troll" NÃO é o gigante monstruoso, e sim uma técnica de pesca chamada "trolling", onde um barco arrasta várias iscas pela água (como na figura ao lado) e vai atraíndo os peixes por onde passa. É exatamente isto que o troll faz na internet: suas mensagens polêmicas e ofensivas são as iscas para atrair os usuários desavisados que, indignados, são "fisgados" e começam a responder sem pensar. Aí vira briga e todo mundo sai chateado - menos o troll, que, atrás do seu teclado, se delicia com o caos que conseguiu provocar.

Aí está a diversão do troll. Seu prazer vem de prejudicar os outros, dando asas a um ódio recalcado que ele talvez jamais materializaria em atitudes da vida real mas que, graças ao anonimato da internet, acaba ganhando um canal pra se expressar. De certa forma isso é até bom, pois impede a pessoa de tornar-se sociopata dando a ela um canal relativamente inofensivo para descarregar sua agressividade. Afinal, é melhor que o cara fique avacalhando discussões no Orkut do que esmurrando gente na rua.

Mas o crescimento da internet e o aumento do número de trolls deu origem ao ditado que dá nome a este post: "Do not feed the trolls", ou seja, "não alimente os trolls". Ao perceber que alguém está deliberadamente tentando provocar polêmica, a melhor atitude é não responder para não "alimentar" a discussão. E assim o troll fica impedido de atuar.

20081105

O que me impressiona é que o "do not feed the trolls" é uma frase simples mas profundamente sábia. A idéia é contra-intuitiva, afinal quando você é agredido os seus próprios instintos te estimulam a bater de volta, mas é justamente por isso que a não-retaliação (não confunda com covardia) é genial, porque te coloca em uma posição completamente invulnerável ao seu agressor simplesmente por não dar a ele o que ele quer. De certa forma o "Do not feed the trolls" é uma versão para a internet do "se te batem numa face, oferece a outra" de Jesus Cristo, ou da filosofia da não-violência de Gandhi: uma reação passiva para uma ação agressiva...

Idéias soltas e pensamentos aleatórios

2008-10-14 00:55:22 +0000

Hoje eu cismei de esconder a barra de links do Firefox porque ela me deixava mentalmente preguiçoso. É que por conta dela eu ficava visitando sempre os mesmos sites. Pô, é internet, se fosse pra ver sempre a mesma coisa eu ligava a tevê.

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20081013 Outro dia eu tive uma idéia para um item mágico de RPG (pen & paper ou para videogame, tanto faz) chamado “Chameleon Sword”: à primeira vista é uma espadinha de brinquedo, daquelas de madeira, bem vagabunda…

Acontece que quando ela é empunhada ela se transforma em vários tipos diferentes de espada, conforme a intenção do seu usuário. Quando o dono quer leveza e cortes rápidos ela se transforma em uma katana. Na mesma luta, se o dono quiser bater forte e precisar de uma lâmina grande e pesada, ela se transforma numa espada medieval (a velha e boa two-handed). Nos duelos mais, er, “requintados” ela pode tornar-se um florete; e se a intenção do dono for a de esfaquear alguém rápida e silenciosamente, ela se transforma numa adaga.

Ou se o usuário quiser cortar uma latinha de refrigerante e a lâmina não perder o fio, ela se transforma numa faca Ginsu 2000…

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Se o Brasil tivesse um The Onion (até tem o “O Alface”, mas é meio ruim) essas são algumas manchetes que eu gostaria de ver sobre a crise financeira mundial:

  • Bovespa abre escondida no final de semana, só de sacanagem, e cai mais 14%
  • Analistas atribuem o caos financeiro a uma tendência retrô das bolsas mundiais em adotar um “look” estilo 1929.
  • Dólar dispara, bolsas despencam: analistas brasileiros nem percebem porque estão ocupados demais mexendo em seus novos iPhones 3G

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Falando em Bovespa, o gráfico abaixo mostra a evolução do IBOVESPA nos últimos 2 anos. As anotações em vermelho são minhas.20081013_2

Trinta anos

2008-10-10 21:39:07 +0000

Hoje é meu aniversário. Completei 30 anos de idade. Trinta anos, rapá.

Acho que este é o aniversário mais assustador que já fiz. Trinta anos é muito tempo. Ter trinta anos faz com que eu me sinta muito, muito velho. A cabeça ainda fervilha de idéias e vontades e desejos como se eu fosse um menino com a vida inteira pela frente, mas o calendário diz que grande parte dessa “vida pela frente” já passou. A sensação das coisas que já foram e que nunca mais serão fica perigosamente ampla.

Por outro lado eu nunca me senti tão completo, tão sólido. As encrencas com que se lida aos trinta anos são muito piores do que as dos vinte anos, mas eu nunca encarei a vida com uma segurança tão grande quanto agora. Talvez isso soe meio esnobe, mas a fortaleza de caráter e a estrutura emocional que se tem nesta idade é uma coisa absolutamente fabulosa. Trinta anos de experiência nas costas fazem toda a diferença, tanto que isso me deixa ansioso pra saber que tipo de sabedoria eu terei construído daqui a mais 30 anos.

Outra coisa curiosa é o quanto a minha vida virou de cabeça pra baixo nos últimos 10 anos. Comecei estudando computação, terminei dando consultoria em gestão. Comecei morando em Belo Horizonte, terminei morando em São Paulo (e visitando um sem-número de cidades, estados e países no processo). Até o estado civil eu mudei. Acabei fazendo coisas que eu achava que jamais faria quando tinha vinte anos. Talvez essa seja a grande lição, a de que o mundo vai muito mais longe do que a vista alcança.

Pois é… tirando o susto, o upgrade pra 3.0 acaba sendo uma coisa boa. Os trinta anos passados foram muito bons. Que venham os próximos 30, depois mais 30 e, quando eu não puder mais, coloquem o que sobrar do meu corpo de volta na terra. E que minha alma tenha vivido tão nobre e tão bela que mereça um aplauso quando for a hora de sair de cena.

Dias de cão

2008-08-01 03:18:54 +0000

E eu estava aqui contente, me divertindo entre blogs, IM, YouTube e a multitude de coisas (e pessoas) divertidas online quando estiquei as pernas debaixo da mesa e esbarrei em alguma coisa.

O meu primeiro impulso foi o de dizer "Opa, desculpa Pavlov", já que meu cachorro tem o hábito de se acomodar debaixo da mesa e tirar uns cochilos enquanto fico no computador.

E, tão rápido quanto veio o primeiro impulso, veio a constatação da realidade: não, eu não estou em casa. Estou é sozinho, num quarto de hotel, numa cidade distante. E o que eu chutei debaixo da mesa foi um sapato.

Já se vão aí uns seis anos de consultoria, viagens, hotéis e aeroportos, e o bode da distância e da solidão está batendo cada vez mais forte.

Sutileza

2008-05-09 03:00:15 +0000

Ser enérgico ou autoritário é fácil. Agora, ser sutil - especialmente nas palavras - é uma arte.

Socialmente falando, a sutileza requer uma habilidade mais ou menos parecida com o dos lacônicos - o de colocar conteudo, digamos, intenso em frases ou gestos amistosos. Como meu chefe hoje, ao telefone, explicando que a demora em confirmar se vinha ou não à Brasília semana que vem era por causa da incompetência da agência de viagens:

- É que o cara que marca as passagens de avião está doente, tem uma menina substituindo ele, e ela não é assim muito... versátil.

Sutileza é o que faz música ambient ser boa: outro dia eu comentei no Impop que ambient, normalmente, significa longas faixas de coisa nenhuma acontecendo. Só que no meio da aparente "coisa nenhuma" a música vai, discretamente, se desenvolvendo: novos sons que entram ou saem, notas diferentes, mudanças de cor ou textura do som, etc. A mente tem que se esforçar pra perceber que, sim, existe alguma coisa sendo dita - bem sutilmente.

Ser sutil é roubar a cena de dentro das coxias. Sutileza é daquelas virtudes que eu quero ter quando mais velho...

Razões para ser lacônico

2008-04-28 23:12:37 +0000

"Uma frase curta contém muita sabedoria" - Sófocles

"Lacônico" é aquela pessoa que fala pouco. É o oposto do prolixo, aquele que fala pelos cotovelos (e, eventualmente, por alguns orifícios corporais pouco dignos).

A origem do termo é a Lacônia, região da Grécia antiga cuja capital era - veja você! - Esparta.

20080424
Leônidas era um cara lacônico: pouco papo, muita ação.

Reza a lenda que Felipe II da Macedônia escreveu a seguinte mensagem aos espartanos: "Vocês devem se render sem demora, pois se eu trouxer meu exército às suas terras, destruirei suas fazendas, escravizarei seu povo e dizimarei sua cidade”. A resposta dos espartanos foi, simplesmente: "Se".

Em tempos de overdose de informação, ser lacônico é muito importante. Todo mundo tem muito pra falar mas pouco tempo pra ouvir, o que gera conceitos curiosos como o do "discurso do elevador": aquela situação hipotética onde você tem apenas o tempo de uma viagem de elevador (tipo 30 segundos) pra passar a sua idéia fantástica de negócio para um potencial investidor.

Ser lacônico só traz vantagens. Uma delas é que suas idéias sempre caberão nos 140 caracteres do Twitter. E cabe muita coisa em 140 caracteres...

"O diabo é Deus de férias" - @exucaveiracover

Na música os bons artistas sempre dizem mais com menos. Exemplo: "Definitions", música do Minutemen, tem apenas 1:13 minutos. A letra tem apenas sete frases. Não precisava de mais nenhuma.

They say I got a gun in my hand.
Six slugs, six points of view.
Materialism.

They say I have a book in my hand.
Fifty thousand words, fifty thousand translations.
Idealism.

Ooh, I got a dictionary!

Até mesmo os artistas ruins se beneficiam quando são lacônicos. Pouca gente sabe a letra inteira dos nove minutos de "Faroeste Caboclo", mas todo mundo se lembra da infame frase: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã".

Mentiras que gostaríamos de ver

2008-04-01 20:23:22 +0000

Mas nada de mentiras clássicas de primeiro de abril, tipo "Bush morreu" ou "iPhone no Brasil mês que vem custando R$ 400". Pensei em algumas coisas mais elaboradas, como...

20080401
O Orkut entrou rapidinho no espírito de primeiro de abril...

José Simão é demitido da Folha de São Paulo

A partir desta semana o caderno "Ilustrada" não contará mais com a participação do irreverente jornalista, que foi demitido da Folha de São Paulo na última semana. Segundo a editoria do jornal, o motivo da demissão foi um reposicionamento do conteúdo do caderno: "A coluna era boa, engraçada, mas caiu na mesmice. Já deu", diz um dos editores.

Entre os leitores, a opinião é que, de fato, a coluna havia perdido seu brilho: "Já era hora, o repertório de piadas dele acabou. Eu lia a coluna e via um monte de piadinhas que já circularam por email", diz um leitor. "Ele alardeava o Brasil como 'o país da piada pronta' e ele mesmo era o colunista da piada pronta", acrescenta outra leitora. José Simão não foi encontrado para dar entrevista, mas um amigo próximo, Antonio Tabet (ex-Kibe Loco, hoje também desempregado) informou que ele está tentando retomar a carreira na revista Caras.

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No YouTube, você clica em qualquer vídeo "featured" e leva um Rick Roll!

Fim do imposto de importação começa a valer nesta terça

Os produtos importados, normalmente tributados em 50% do seu valor quando entram no país, ficam mais baratos a partir de hoje.

A medida é resultado da reforma tributária, aprovada em sessão histórica do Congresso no mês passado. O consumo de eletrônicos importados, CDs, DVDs, perfumes e vários outros itens deve aumentar, mas isto não é preocupação para o Ministério da Fazenda que incluiu, no novo pacote tributário, uma série de medidas para consolidar o fortalecimento do mercado interno brasileiro. Segundo o ministério, "os importados já não são mais uma ameaça. A alíquota de 50% era claramente protecionista e era necessária para um país ainda sem condições de competir num mercado mundial. Mas hoje o cenário é diferente, o amplo superávit da balança comercial - e a maturidade da indústria brasileira - permitem essa abertura".

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Lançado hoje, o "Custom Time" do GMail permite mandar emails com hora marcada. Inclusive horas que já passaram.

Chegam ao mercado novas baterias de lítio-íon, com carga até 50 vezes maior

Os primeiros produtos com a nova geração de baterias de lítio-íon, que duram até 50 vezes mais que as comuns, começaram a ser vendidos hoje. Laptops com as novas baterias podem funcionar por até uma semana e celulares podem ficar até oito meses sem precisar de recarga.

As novas baterias são fabricadas por um processo onde as moléculas do núcleo são reposicionadas por potentes eletroímas, o que garante que 99% dos íons de lítio armazenem (e produzam) carga elétrica sem perdas de energia por calor. O processo, descoberto por universitários britânicos, foi registrado sob a licença Creative Commons, o que impediu o registro de patentes privadas e fez com que todos os fabricantes pudessem adotar o novo processo em tempo recorde.

As novas baterias também dispararam uma corrida de lançamento de novos produtos eletro-eletrônicos, antes inviáveis pela baixa capacidade das baterias comuns. Entre os lançamentos há desde chuveiros elétricos portáteis para acampamento até pernas robóticas para deficientes físicos.

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Aproveite e divida comigo seus desejos de primeiro de abril aí nos comentários...

A regra de ouro do sampling

2008-03-10 19:32:48 +0000

...é a seguinte: Não sampleie músicas melhores do que a música que você está fazendo.

Sabe, isso é tão óbvio, mas só hoje me dei conta. Músicas que usam samples de músicas muito boas tendem a ser uma droga.

É um caso de matemática bizarra, onde o resultado final piora conforme você vai somando músicas boas a ele. Um exemplo: Funky Shit, do Prodigy. A música abre com um sample de Root Down, dos Beastie Boys - com Mike D gritando "Oh my god that's the funky shit". Desse instante em diante, meu cérebro passa a ignorar a música do Prodigy e eu só consigo pensar no quanto o Ill Communication é um disco bom...

E o mais legal é que o inverso também funciona: você soma um monte de porcarias que não valem nada e o resultado final pode ficar 10 vezes melhor que as músicas ruins todas juntas. Quer um exemplo? Girl Talk, o cara que joga um monte de maluquices no liquidificador e, no fim, serve o melhor milk shake que você já viu. Ou você acreditaria que "Bounce That", mostrada no vídeo abaixo, usa samples de Britney Spears, Ludacris + Ciara, Elastica e Stevie Wonder?

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(Por sinal esse vídeo aí não é oficial: foi feito por Matthew Soar - professor da Universidade de Concórdia, em Montreal - junto com seus alunos, como contribuição para o Open Source Cinema Project. Ficou duca.)

O que te impede de ser honesto?

2008-03-07 16:53:26 +0000

Toda vez que eu converso com alguém sobre ética eu acabo ficando chateado.

Ontem, na hora do almoço, o pessoal aqui do projeto entrou num papo sobre questões corriqueiras que envolvem honestidade: comprar recibos ou "superfaturar" gastos na declaração do Imposto de Renda, molhar a mão do policial que está ameaçando te multar, etc. E eu tenho uma posição extremamente radical quanto a isso, que é ser absolutamente honesto, a qualquer custo. Se meu IR custar mil reais a mais sem recibos frios, eu pago os mil reais. Se a multa do policial custar R$ 500 e o suborno apenas R$ 10, eu pago os R$ 500. Pior: se o policial ameaçar guinchar meu carro, me deixar a pé e me fazer perder meus compromissos, eu perco o carro, fico a pé e perco meu compromisso sem nem pensar duas vezes. Pra mim, o custo real da desonestidade não são os reais que vou gastar a mais, e sim o custo de saber que eu estou me juntando à massa de idiotas que, dia a dia, fazem o mundo apodrecer.

Não estou escrevendo isso aqui para tirar onda de "sr. retidão moral" nem nada, e sim porque a conversa de ontem terminou aonde todas as outras conversas que tive sobre o assunto terminaram: com as pessoas me dizendo "você tem toda razão mas eu não consigo agir como você". E por que não? Existe alguma coisa que impeça as pessoas de tomar a decisão certa nestas horas?

Eu não tenho uma resposta para essa pergunta e isso me incomoda bastante, então queria aproveitar este blog pra tentar entender melhor o problema. Nos comentários deste post, me diga: O que te impede de ser honesto?

O mundo se cansou de novidades?

2008-01-21 15:12:38 +0000

Primeiro, uma historinha.

Nunca vou me esquecer da primeira vez em que ouvi "Glass Museum", do Tortoise. Eram 6:30 da manhã de uma terça-feira de 1997. Eu estava sonolento, no meu antigo Fiat Uno, indo para uma aula de natação e ouvindo uma fita cassete do Tortoise que Luiz, meu primo, havia gravado. Assim que parei no estacionamento, "Glass museum" começou a tocar e eu vivi os cinco minutos e vinte e sete segundos mais surpreendentes de toda a minha vivência musical. Aquilo era absolutamente lindo, diferente, inusitado, tocado de uma maneira que eu nunca havia visto antes.

Tortoise virou uma das minhas bandas favoritas. Glass Museum virou uma das minhas músicas favoritas. Só que aí veio o século XXI e, com ele, uma horrível tendência que vou explicar abaixo.

20080117

Na foto da esquerda, o barbudo com a mocinha é Prabhu Deva, astro da música pop indiana que ficou bastante conhecido no Brasil por causa do clássico vídeo legendado "Rivaldo sai desse lago".

A foto da direita NÃO é uma cena do mesmo vídeo, e sim do vídeo da campanha de lançamento da Coca Cola Clothing que foi, obviamente, inspirado no clipe de Prabhu Deva. Parece que essa é a estratégia da Coca-cola: ao invés de vídeos inéditos, clipes "inspirados". Ou você não se lembra daquele comercial que é igualzinho o jogo Grand Theft Auto?

Mas a inspiração alheia não está só nos comerciais. Zapeando na TV outro dia, dei de cara com um programa da MTV chamado "Fist of Zen" - uns caras numa mesa de biblioteca disputando provas bobas estilo "jackass", só que em silêncio, sem poder rir. As chamadas do Fist of Zen alardeiam com todas as letras: "It's brand new" (é inédito), mas no instante em que vi o programa me lembrei do vídeo de um game show japonês exatamente igual e que eu havia assistido muito tempo antes.

20080117_2

Agora vamos dar uma olhadinha nos 10 filmes que mais deram dinheiro em 2007, segundo a Wikipedia:

  1. Piratas do Caribe: no fim do mundo (terceira continuação de uma franquia) 
  2. Harry Potter e a ordem da Fênix (quinta continuação de uma franquia adaptada de um livro)
  3. Homem-Aranha 3 (terceira continuação de uma franquia inspirada em quadrinhos)
  4. Shrek Terceiro (terceira continuação da franquia)
  5. Transformers (inspirado em desenhos animados/quadrinhos)
  6. Ratatouille
  7. Os Simpsons (Inspirado na série de TV homônima)
  8. Eu Sou a Lenda (terceiro remake inspirado em um livro - pois é, eu também não sabia)
  9. 300 (Inspirado em quadrinhos)
  10. O Ultimato Bourne (terceira continuação de uma franquia)

Olhe bem a lista. Temos 5 continuações. Temos também 6 filmes de livros, desenhos animados ou quadrinhos. Temos apenas UM filme 100% original, com personagens inéditos e roteiro inédito (em 1997 eram seis originais, apenas duas continuações e apenas um filme inspirado em quadrinhos).

Em 2008 a coisa não deve mudar muito:

Espera-se para 2008 outra batalha das continuações, conforme muitas franquias lançam novas edições, incluindo: As Crônicas de Narnia, Indiana Jones, O Incrível Hulk, A Múmia, Batman, Hellboy (...) Rambo, 007, Jogos Mortais, Madagascar, Harry Potter, Star Trek e Arquivo X.

Fora as continuações, temos entre os lançamentos deste ano... er... Speed Racer, Homem de Ferro, Sex And The City, Dragonball, Scanners...

Na música - surpresa! - a mesma coisa acontece. Exemplinhos:

  • Bandas novas que repetem fórmulas antigas. Um exemplo que eu gosto de dar é o Wolfmother. É tipo um xerox mal feito do Black Sabbath. O vocal é igual, os riffs de guitarra são iguais... só falta o vocalista comer uns morcegos no palco.
  • Músicas feitas em cima de músicas. Não estou falando de usar samples de outras músicas e sim de pegar faixas inteiras, cantar por cima e chamar de música nova. "Pump it", sucesso dos Black Eyed Peas, nada mais é que o famoso tema de abertura do filme "Pulp Fiction" com um vocal idiota diferente. Kanye West fez a mesma coisa em Stronger, cuja base é Harder Better Faster Stronger, do Daft Punk. Não dá pra chamar essas músicas de novas, mas ainda assim o público adora.

E então acho que podemos chegar à uma conclusão: o público em geral está curtindo bastante essa onda de "mais do mesmo" - rever personagens antigos, histórias conhecidas, sons familiares, etc. A indústria do entretenimento sacou isso e adorou, pois a aceitação pelo público é mais fácil e a "reciclagem" de conteúdo é mais rápida/barata/fácil do que criar do zero.

Olhando assim parece que todo mundo sai ganhando, mas no longo prazo eu fico preocupado. Afinal, aquele espírito de ignorar convenções e fazer o que ninguém havia pensado (ou ousado) fazer é o que gera obras-primas na música, no cinema e nas artes em geral, e este espírito está ficando pra escanteio.

Será mesmo que as novas obras-primas do século XXI vão nascer de "remastigações" de criações antigas? Os caminhos que os novos artistas vão trilhar serão os mesmos dos artistas de hoje, que por sua vez são os mesmos de algumas décadas atrás? Será que vamos mesmo começar a andar em círculos ou alguém vai se dispor a continuar "audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve"? (Pelo visto não, já que, ironicamente, até Star Trek também sera re-re-relançado no cinema em 2008).

Isso me deixa triste. Porque uma das coisas que mais gosto é da sensação fantástica de ser surpreendido por alguma coisa inédita, inovadora. Lembram de "Glass Museum", do Tortoise? Pois é.

A produtividade escondida atrás das persianas

2008-01-11 04:18:39 +0000

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Sabe, o crescimento do lado "corporativo" do mundo é uma coisa engraçada.

Primeiro, porque o "crescer" desse mundo é medido numa dimensão só: a do dinheiro. Não se engane: essa mistureba de nomes complicados que você vê no caderno de economia, como "market share", "EBITDA", "exigível de longo prazo", é tudo dinheiro disfarçado.

O dinheiro é onipresente. Tanto que até "tempo é dinheiro" (hmmm, alguém devia ter contado isso para Einstein). Para as empresas vale a regra simples do "quanto mais, melhor" e vira tudo uma corrida maluca pra se ver quem diabos consegue fazer mais dinheiro do que o outro. Afinal, grana é o sangue do capitalismo, e ele precisa continuar circulando. E o principal responsável por bombear este sangue é o mercado de trabalho - nome chique que significa, simplesmente, "você".

Sim, você mesmo aí, sentado no escritório e lendo este blog em vez de trabalhar. Como é você que faz dinheiro aparecer, a preocupação número 1 do seu chefe é a sua produtividade.

Essa preocupação é tradicional: no começo do século, como não existia televisão e dava muito trabalho arrumar uma mulher para fazer sexo, Frank Gilbreth passava o tempo olhando os pedreiros construindo paredes, com seu cronômetro na mão. Aí ele descobriu que eram precisos apenas 5 movimentos para botar um tijolo na parede - e não 18, como os pedreiros faziam. As paredes passaram a ser construídas mais rápido, os pedreiros se cansavam menos e - adivinhe! - muita gente ganhou dinheiro. Inclusive Frank, que montou uma empresa de consultoria para ficar famoso e pegar mulher ganhar ainda mais dinheiro.

Hoje em dia já temos TVs de plasma e muito menos camadas de roupa para serem retiradas na hora do sexo, mas os chefes jamais vão parar de se preocupar com a produtividade. Teses de mestrado são escritas sobre isso o tempo todo. Pesquisadores tentam descobrir tudo que possa impactar sua eficiência - incluindo o tempo que você passa na sua sala ou até a temperatura do ar condicionado. Empresas arrumam um professor de educação física pra aparecer de repente, te mandar levantar da cadeira, botar um CD da Enya e fazer um alongamento - pra que suas juntas não apodreçam e você tenha que ficar em casa, se recuperando impactando os indicadores de produtividade do setor.

Só que, em algum momento da história, algum chefe idiota deve ter achado que o segredo da eficiência estava em proibições e limites: Pausas para descanso de apenas cinco minutos. Internet liberada só na hora do almoço. Atrasos descontados em folha. Advertências por escrito para telefonemas pessoais no telefone da empresa, etc. A produtividade, então, parou de cair (e, também, de subir, mas isso ninguém viu). A conversa da hora do almoço ou de sexta-feira no boteco passou a incluir assuntos do tipo "tou trabalhando feito uma mula", "meu emprego tá um saco" e por aí vai. A reclamação generalizada passou a reforçar a cultura de que trabalho é ruim.

Além disso, alguns destes funcionários, com o tempo, também viraram chefes, diretores e presidentes de empresas, e passaram a repetir a dose de limitações e proibições em seus subordinados - não por perversidade ou vingança, mas porque, para eles, é assim que "tradicionalmente" se mantém a produtividade da equipe.

Todo ano eu passo por um porção de empresas diferentes, com diversas temperaturas no ar condicionado e diversos níveis de restrição no firewall. E, esta semana, enquanto me reclinava numa cadeira ergonômica, eu notei que existe um fator que influencia bastante na minha produtividade: janelas.

Isso mesmo. Janelas.

20080110Dias de trabalho em uma sala sem janelas me deixam desanimado. Eu termino o dia exausto e produzo pouco. Claro que minha eficiência não depende apenas da janela - o horário em que estou trabalhando também influencia bastante. Já falei disso aqui no blog: eu funciono mal de manhã e produzo feito louco à noite (este parágrafo, por sinal, está sendo escrito às 23:05). Mas algumas empresas, para meu azar, mandam o expediente começar no horário desumano de oito da manhã.

Outro fator importante na minha produtividade é poder ouvir música no trabalho. Na época em que trabalhei como analista de sistemas em um banco, fui advertido pelo chefe umas duas vezes porque eu insistia em usar meus fones de ouvido, o que era proibido. Mas eu não conseguia resistir, uma boa música ao longo do dia me fazia falta. Muita falta. O que, finalmente, nos leva à conclusão dessa papagaiada toda...

Não há problema nenhum no fato da empresa querer ganhar dinheiro espremendo o máximo de produtividade dos funcionários. É assim que o capitalismo funciona. Quem não gostar, que vá pra Cuba ou (daqui a alguns anos) pra Bolívia. O problema real está no fato da empresa querer que as pessoas produzam do jeito que ela acha que é certo.

As empresas atuais, moderninhas, globalizadas e cheias de nove-horas, deveriam saber que, quando pagam um salário, não estão comprando horas de atividade de uma pessoa, e sim um resultado. Todo e qualquer funcionário deveria ser cobrado somente por resultados. Afinal , é isso que, no fim, dá dinheiro. E daí se o funcionário dá resultado trabalhando de madrugada, só de cueca, ouvindo heavy metal e conversando fiado no MSN? Para o empregador, nenhuma. Mas para o empregado, isso faz muita diferença.

Acho que não preciso explicar que isso não vale para todo tipo de trabalho. Alguns, naturalmente, impõem restrições: afinal, ninguém quer ter que ir a um banco às duas da manhã e, além disso, encontrar o caixa usando apenas cuecas e uma camisa surrada do Iron Maiden. De fato, especialmente em atividades como estas, que requerem "limitações" como horário fixo e roupas que cubram devidamente as partes íntimas, as empresas deveriam se preocupar ainda mais se os funcionários estão tendo as condições que precisam para dar resultado. Afinal, a produtividade só aumenta de verdade quando o funcionário sente-se à vontade para ter vontade de produzir.

Atualmente isto parece encoberto por uma cultura de que trabalho é apenas uma ralação chata a que todo mundo se submete pra poder ter dinheiro no fim do mês. Perdem-se as perspectivas e sobra pouquíssima gente trabalhando porque gosta, ou porque vê a utilidade do que faz pro bem geral. Enquanto isso, as empresas ficam batendo cabeça e tentando criar uma "vontade falsa" de trabalhar - a chamada "motivação". É clássico: as empresas tentam motivar o funcionário dando a ele tudo quanto é tipo de coisa - menos um MOTIVO para trabalhar.

Bem, é isso. Acho que nunca escrevi um post tão grande por aqui. Ainda tem muito assunto fervilhando na minha cabeça, mas vou ter que parar por aqui já que, infelizmente, meu expediente de amanhã começa às oito. E com uma reunião numa sala sem janelas.

Post de natal

2007-12-21 15:09:39 +0000

Não, este ano não vai dar tempo de fazer um novo. Então vou reciclar um post que fiz em 2005 mas que continua pertinente, e que falava de uma antiga campanha que levantei...

Daqui a algumas horas as pessoas vão começar a rotina natalina: se empanturrar na ceia, trocar “lembrancinhas” e tal. Eu já não estou tão “xiita” quanto antes em relação aos costumes natalinos, mas continuo achando a forma de comemorar o natal muito ridícula.

Os argumentos são velhos conhecidos: O consumismo da época, a simbologia que é usada no hemisfério norte (neve, pinheiros, etc) e que fica patética sendo usada no clima tropical do Brasil, a onda de boa-vontade assistencialista que dura só um dia, e tudo o mais.

Mas eu estou mais velho e já não fico mais batendo boca com os outros por causa disso - afinal, eu não vou mudar o mundo mesmo. Por isso, ao invés de ficar só reclamando, vou sugerir uma outra coisa para a noite de natal: dar os parabéns ao aniversariante.

Na noite de natal, tire dois minutos do seu tempo para rezar. Lembre-se do cara honrado que foi Jesus, e que este dia existe é por causa dele, não do Papai Noel. Feche os olhos por pelo menos uns instantes e tente encontrar um pedaço de Deus dentro de você - porque rezar é isso.

Uma boa oração vale muito mais do que você imagina.

E feliz natal para quem leu este post. Feliz natal para vocês, leitores…

Jeitinho brasileiro

2007-01-24 13:51:00 +0000

Ontem no meu MSN tinha um cara com a seguinte mensagem depois do nome:

"Google Code Jam Latin America começa amanhã!"

Aí hoje a mensagem estava levemente diferente:

"Qualification set 1 - Problema 1 - Alguém tem?"

É por causa dessas coisas que esse país não vai pra frente...

Num muro da Via Dutra..

2007-01-12 18:01:00 +0000

...alguém deixou uma sábia pintura não autorizada:

"No país da corrupição, quem pode critica os pixadores?"

Manhãs em quartos de hotel

2006-11-10 23:44:00 +0000

Pontualmente às cinco e vinte e três da manhã de hoje o telefone do hotel ligou o viva-voz, sozinho, e me matou de susto.

Quase duas horas depois eu consegui me arrastar pra fora da cama e fui me preparar pra trabalhar.

Eu ando deixando a TV ligada na MTV enquanto faço a barba. É que eu morro de preguiça do Bom Dia Brasil e prefiro acordar com música.

Hoje eu me arrependi de ter feito isso: o desastre começou com o clipe da música "Odeio", do disco "Cê", novo trabalho do Caetano Veloso. Guitarrinhas pop e o Caê mandando ver numa letra esquisita... "veio um golfinho do meio do mar roxo" e outras coisas estranhas. Tudo fora do lugar: o vocal, a letra, a música, não encaixava nada com nada. Parecia que ele não queria ser ele mesmo, que ele queria virar punk. Mas com aquela voz?

Aí na sequência veio um clipe do Justin Timberlake (que meu cérebro rapidamente deletou) e depois, Ryan Adams tocando So Alive. Era legal, mas a voz do cara me fazia pensar: "Smiths... Smiths...". O tempo todo.

Enquanto eu meditava no quanto a música desta primeira década do século 21 está virando só uma reciclagem boba de coisas antigas, veio o clipe de Wolfmother, tocando "Dimension". E, na hora que o refrão entrou, eu só conseguia pensar: "Black Sabbath!!". Se eu fechasse os olhos dava até pra ver o Ozzy cantando.

MMS

2006-10-09 10:33:00 +0000

Tem quase dois meses que eu me casei e a experiencia toda, até agora, tem sido excelente.

So teve uma coisa que ficou muito pior: acordar cedo na segunda-feira e ir pro aeroporto...

Sobre sentimentos profundos (e rasos)

2006-07-27 20:25:00 +0000

Neste blog aqui, neste post aqui:

Eu não tenho fé na humanidade. Acho que a maioria das pessoas se emocionam demais, no sentido hiperbólico da coisa, e sentem muitíssimo pouco, no sentido sentir de verdade. Tudo é um grande circo de emoções e expressões, mas não há profundidade nenhuma. Todos morrem durante um tempo por alguma coisa ou por alguém, e isso dura meses, anos ou nano segundos, mas depois, a maioria muda de canal e segue em frente sem sequer lembrar do acontecido. Logo encontram outra coisa para morrer ou culpar - principalmente culpar - pelos fracassos.

Genial. A única diferença disso com o que eu penso da vida é que eu ainda tenho um restinho de fé na humanidade. Que fica renovada quando eu leio coisas assim, que só fazem lembrar que ainda existe gente que com sensibilidade o suficiente pra perceber o problema.

Nerdice mental abstrata

2006-06-14 04:13:00 +0000

Ontem de noite eu fui ao supermercado, fones de ouvido nos ouvidos.

Nos dois segundos iniciais de Iera, música do Autechre (que dá pra ouvir aqui), eu imaginei um cabo de rede, e o cabo de rede conectava-se na minha orelha, e o som que eu ouvia era a música.

"Ah, então esse é o barulho que todos esses bits fazem", pensei.

Tem coisas que só a música eletrônica faz por você.

Coisas que aprendi com revistas em quadrinhos

2006-06-14 03:50:00 +0000

Eu passei a maior parte do primeiro grau no colégio como um menino socialmente inepto e introspectivo. Consequentemente, enquanto meus colegas brincavam em grupo, eu me trancava sozinho no quarto, ouvia dance music e lia revistas em quadrinhos. Muitas revistas em quadrinhos.

Outro dia me peguei usando uma frase que aprendi com Silver Sable, a mercenária de roupa prateada das revistas do Homem-Aranha:

"O orgulho deve ser bem áspero, pra doer tanto quando é engolido"

Às vezes, quando quero realçar uma negativa, eu também costumo dizer "não sujeito a negociação", que é uma frase que a mesma Silver Sable usou numa negociação de preços com J.J.Jameson...

- Eu ofereço quinhentos mil
- Um milhão. Não sujeito a negociação.
- Glup! F-feito...

Também não me esqueci de uma frase do Wolverine, no especial "Sede de sangue". Pouco antes de ser atacado por umas criaturas estranhas, ele pensa:

A menina grita. Mas longe... como num sonho. Tô perdendo o controle.

Também é dele um outro conselho que costumo botar em prática quando estou no avião.

"Puxar um ronco" sempre que puder. Nunca se sabe quando vai precisar.

Trabalhe como os piratas!

2006-05-30 18:15:00 +0000

Vez por outra eu gostava de ler o lifehack.org. Gostava, porque ultimamente ele tem bandeado para um conteúdo barato de auto-ajuda no trabalho.

Pra vocês terem uma idéia, quinta-feira passada botaram um post intitulado "Trabalhe como os piratas".


Jack Sparrow, guru de gestão

"Piratas normalmente têm um navio (ou produto ou serviço) de qualidade inferior. Para compensar, eles precisam ser mais criativos e espertos ao lidar com os oponentes..."

"Piratas se movem rapidamente. (...) A flexibilidade é, portanto, um pilar da vida de pirata, e trabalha casada com ousadia e adaptabilidade..."

E a bobajada vai longe. Acho que essa é a coisa mais imbecil levada a sério que eu já li este ano.

Se você ainda não percebeu o quanto idiota é isso aí, vou seguir a mesma idéia do cara e escrever um post intitulado...

Trabalhe como o Super Mario!!


Super Mario, focado em resultados

Mario trabalha focado num único objetivo: Resgatar a princesa! Tudo que Mario faz durante o jogo é apenas para aproximar-se cada vez mais de seu objetivo. Mario não perde tempo ocupando-se com coisas que não agregam valor nem tem sinergia com suas metas.

Mario passa por uma fase de cada vez: Cada fase do Super Mario é como os problemas da vida corporativa: devem ser atacados decisivamente e resolvidos até o fim. Mario não pode, simplesmente, desistir de completar uma fase só porque ela é muito difícil...
<;br />Mario usa os oponentes a seu favor: No jogo, você pode usar o casco das tartarugas que te atacam para destruir outros oponentes. Também na vida corporativa, com alguma habilidade, podemos usar a força dos nossos opositores a nosso favor!

P.s.

2006-05-22 14:02:00 +0000

Direitos humanos são para todos os seres humanos.

Três Manias

2006-04-12 22:03:00 +0000

Com figurinhas!

Mania Um: Fones de ouvido no ouvido.

Quando não estou no trabalho, eu ligo o computador e já coloco os fones. Às vezes, horas depois de botar os fones, eu lembro que não botei nenhuma música pra tocar.

Mania Dois: O vidro do meu carro pode ficar em apenas três posições: Totalmente fechado, semi-aberto e totalmente aberto, conforme a figura abaixo:

Note que, na posição "semi-aberto", o vidro deve estar perfeitamente alinhado com o ângulo que o espaço da janela faz com a coluna do carro (conforme destacado na figura). Quaisquer outras posições são ERRADAS e terminantemente PROIBIDAS.

Pra não dar dúvidas, veja uma foto da posição correta, linda e ordeira, do vidro.

Mania Três: Se eu estiver usando o notebook, o Opera vai estar aberto. Mesmo que eu não esteja acessando nenhum site.

Agora chega

2006-04-06 03:12:00 +0000

Este post não vai conter nada sobre tecnologia, nerdices, games nem nada. Vou falar de mim e pronto:

Ah, a vida de consultoria. O projeto na emissora de tevê acabou. O projeto na indústria química ainda vai, mas venderam a indústria química e não sei o que o novo dono vai fazer conosco, os consultores. Isso chama-se limbo, senhoras e senhores.

Mocoloco. Amo muito tudo isso.

Hoje de manhã. Colega de quarto sai do banheiro:

- Ou, cara, eu já vou indo pro trabalho que eles vão fazer aquela reunião sobre a venda da empresa às oito da manhã.

Na esquerda da minha cama tem um relógio. Ele me diz: "Dez para as oito".

Oito e cinco e eu estava de terno e gravata, dentro do elevador do trabalho. O estômago roncando de falta de desjejum, o cabelo meio esgadanhado e a cara toda cortada de fazer a barba com pressa. "A primeira faz tchan"... ah tá.

Retomei meu esporte predileto: cooper sem regularidade. No Ibirapuera.

Eu não sei se foram as endorfinas ou o cansaço ou as duas coisas, mas andei tendo diálogos irreais durante a corrida. Diálogos comigo mesmo:

- Aff, vou parar aqui e dar uma andada pra descansar.
- Que mané parar!! Continua aê, lembra de quando você fazia spinning e o professor gritava: 'Deixa doer'? Pois é!
- Putz, mas meu joelho tá meio esquisito já...
- É isso que dá, quando você pesava 15 quilos a menos você nunca saiu pra correr, agora tá aí carregando mais peso e por isso fica mais difícil. Tudo culpa sua. Agora guenta!

Mais ou menos no meio da segunda volta (de 3 km), andei por um tempo depois retomei a corrida:

- Pronto, agora você vai até o final sem parar!
- QUEISSO! É impossível isso, num dá...
- Só é impossível porque você ainda não conseguiu.
- Ma que frase mais Paulo Coelho, pelamordedeus, essas endorfinas tão me deixando lesado já.
- Deixa de moleza e vai, pô. No final você vai se sentir bem. Lembra do runner's high? Aposto que cê nunca teve isso de verdade.
- Hmpfh... vou me arrepender disso...

Algum tempo depois:

- Ah não, num guento não, vou parar.
- Não vai não! Vai aguentar! Olha, depois daquela curva falta pouco!

Depois da curva aparece uma reta de 500 metros:

- Argh!! Esqueci desse trecho! Agora que eu não consigo mesmo.
- É, calculei errado. Mas agora vai, se você parar agora, no final vai ficar se sentindo um pior por ter desistido.
- Isso é chantagem emocional.
- Claro que é. E está funcionando até agora. Vamo!

Nos 50 metros finais, já quase esgotado, tem um velhinho correndo na minha frente:

- Aeeee, não falei que não era impossível? E então, você ainda consegue dar um pique ou vai perder pra esse velho aí?

No final, passei o velho e finalmente parei. Confesso que valeu a pena, pelo desafio e pela recompensa em endorfinas.

A música que eu ando mais consumindo é do tipo mixada.

É porque o firewall da emissora de tevê não barra MP3s e é rápida pra carvalho.

Nessa, uma das minhas melhores descobertas mixadas é DF Tram, que toca um gênero de música eletrônica que eu nunca tinha prestado atenção: o ambient/chillout.

Os sets do cara são uma delícia.

Tem sets do DF Tram pra baixar no Ambi-sonic e no site do Chillits 2005 (baixe o do Chillits, se estiver na dúvida)

"Ah, mas eu não entendo nada quando esse cara posta coisas sobre música eletrônica!"

Então TOMA!

Novo hobby pras horas vagas: aterrisar aviões no YS Flight Simulator. É feioso mas é grátis e roda bem no notebook. E aterrisar aviões é difícil, então dá uma boa diversão.

Sabe o papo de não postar nada sobre tecnologia, games e tal? Não deu.

Coisas esquisitas

2006-03-16 04:29:00 +0000

Quando eu era pequeno eu tinha uma fita cassete do Raul Seixas. Eu avançava a fita para a música "A Mosca". Ouvia, depois voltava e ouvia de novo. E depois de novo. Na verdade era a única música que eu ouvia da fita.

... mas só até eu descobrir a música Love Missile, do Sigue Sigue Sputnik.

Já tive pesadelos horríveis ambientados no universo de The Simpsons: Bart vs. the Space Mutants. É sério. Infelizmente.

Mau contato me dá pânico. Um fone de ouvido com o fio estragado me impede de me concentrar em qualquer outra coisa. Meu cérebro inteiro fica desesperado, aguardando a próxima vez que a música vai dar uma falhada.

O lugar que eu mais detesto em São Paulo é o corredor do flat onde fico hospedado. É por causa da música ambiente. Só toca aquelas velharias melosas e deprimentes dos anos 80, tipo Brian Adams...

You know it's true... (longa pausa)
Everything I do... (outra longa pausa)
Ooooh... (mais pausa)
I do it fooor yooooooouuuuuuu...

Dá vontade de me matar.

Eu costumava traduzir coisas pra passar o tempo. Mas não eram coisas simples, às vezes eram manuais inteiros (como o manual do Buzz) ou legendas de filmes, como a da minha versão em VCD de O Balconista. É que eu fiquei incomodado de ver coisas como "fuckin' A" traduzidas como "Isso é legal".

Ramones? kkk!!11

2006-02-10 16:33:00 +0000

versão em miguxês para Ramones: Uma Risada Levou Minha Garota (kkk took my baby away).

É por essas e por outras que eu leio o blog do Tiagón todo dia.

Gérson e a criminalidade

2006-02-03 13:57:00 +0000

Demorou, mas aconteceu. Fui roubado em São Paulo pela primeira vez.

Aconteceu hoje de manhã, no restaurante do hotel. Fui até o buffet, peguei dois pães de forma, coloquei na torradeira e voltei para a minha mesa.

Alguns minutos depois, voltei ao buffet para buscar meus pães já torradinhos e crocantes, mas encontrei apenas a torradeira... vazia. Algum hóspede larápio viu minhas torradas quentinhas e, na maior cara-de-pau, surrupiou-as para si mesmo...

Falando sério agora. Eu tenho visto muito mais destes "pequenos delitos" e espertezas nessa minha rotina de terno, gravata, aeroporto e hotel. Exemplos:

No Aeroporto de Congonhas, os atendentes da TAM dizem no alto-falante, de cinco em cinco minutos: "Com sua atenção senhores clientes, informamos que os guichês número "xis" e "ipsilon" são apenas para atendimento dos clientes fidelidade na categoria vermelho. Pela atenção, obrigado".

Isso é necessário porque cliente da TAM com cartão fidelidade vermelho (ou seja, muitas milhas) vira VIP e tem guichê exclusivo, quase sem fila, para fazer o seu check-in. E muita gente que não tem cartão vermelho dá uma de joão-sem-braço e vai nesse guichê assim mesmo, fingindo que não viu as plaquinhas avisando.

Além da fila do check-in, fura-se muitas outras filas em aeroporto. Em Congonhas, no ponto de táxi, normalmente eu sou passado pra trás por uns três executivozinhos que andam "distraídos" em direção aos táxis que vão parando. Como sempre tem um guardinha de trânsito xingando e mandando agilizar a fila, o taxista acaba pegando as malas do executivozinho que está ali mais perto, porque aí consegue sair mais rápido e evitar uma multa.

Mas nada disso supera a fila pra embarcar no avião. Normalmente formam-se umas três filas paralelas em frente ao portão de embarque, além de um "bolinho" de pessoas supostamente "distraídas" que furam a fila na cara dura e se amontoam na frente.

Aí o pessoal, para agilizar o embarque, chama primeiro o pessoal que vai se sentar nas fileiras do fundo do avião. Normalmente o pessoal ignora isso, se amontoa no "bolinho" e embarca de qualquer jeito.

As fileiras de assentos no avião possuem três lugares: a janela (boa), o corredor (bom) e o assento no meio desses dois, que é bem ruim porque você viaja espremido entre duas pessoas.

Eu já perdi a conta das vezes em que meu assento era uma janela ou um corredor e cheguei no avião e havia alguém no meu lugar, dando uma de distraído, pra ver se eu não ficava sem graça de falar alguma coisa e sentava no assento do meio. Nesses casos eu, educadamente, mostro meu ticket da passagem com o número do meu assento e a pessoa vai pro seu devido lugar. E SEMPRE é o assento do meio.

TV - É o que você vê

2006-01-30 03:48:00 +0000

O trabalho na emissora de tevê vai a todo vapor. E depois de alguns meses convivendo no meio televisivo eu posso afirmar, com considerável certeza, que sei o porquê da TV aberta ser tão ruim e ter tanta baixaria.

Meu querido leitor, minha querida leitora... a culpa é TODA SUA.

A programação da televisão é baseada em uma única coisa: a audiência. Os diretores de programa comandam as atrações que vão ao ar a partir daquelas salas cheia de televisões e de aparelhos incrementados, como a foto acima: essa sala é chamada de "switcher". O que você não sabe é que nesse switcher tem um computador conectado ao IBOPE, mostrando, em tempo real, a audiência de todos os canais. Durante os programas ao vivo, o diretor insere ou retira atrações do programa baseando-se na resposta da audiência, que ele acompanha o tempo todo. A febre do IBOPE é impressionante - todas as vezes em que eu faço uma reunião com algum diretor de programa, ele normalmente sabe de cor os números da audiência do seu programa. Sabe, inclusive, quanto cada uma das atrações do programa rendem em pontos de audiência, e também os números dos seus concorrentes diretos.

Além da informação em tempo real há também a informação detalhada, minuto a minuto, por faixa etária e classe social. Tudo disponível, de todas as emissoras, para consulta e todo tipo de análise. Com esse dado as emissoras sabem muito sobre o seu público. Sabem quando ele pára de assistir a novela e muda de canal para ver o jornal. Sabem quantas crianças estão em frente à tevê, e em quais horários. Sabem que as mulheres aposentadas das classes mais pobres adoram um tipo xis de programa. E com um feedback desses, tão detalhado, as emissoras correm para montar uma programação "ao gosto do freguês" - que informa a todo instante se está gostando ou não do que vê.

Alguns meses atrás a RedeTV! teve problemas com o Ministério Público e foi obrigada, por liminar, a exibir programas educativos. Um deles chamava-se "Direitos de Resposta" e passava à tarde, no lugar das pegadinhas do João Kleber. A audiência média deste programa era de mais ou menos 0,3 pontos - um ponto equivale a 52,3 mil domicílios na grande São Paulo. Mas isso é muito ou é pouco? Pra se ter uma idéia, a "Sessão da Tarde" da Globo, no mesmo horário, dá quase 25 pontos. O "Chaves" no SBT sempre dá mais de 10 pontos. E a novela das oito na Globo, a maior audiência do prime time da TV brasileira, dá uns 45 pontos, e pode chegar aos 70 num último capítulo.

Em resumo, meus caros, todo o esforço da TV é para mostrar o que você quer ver. Mesmo que na pesquisa de rua você saia dando uma de bom moço e responda que queria ver mais programas educativos na telinha, saiba que as emissoras estão sentadas com você no sofá da sala da sua casa, no meio da noite, e vêem você trocando uma entrevista no Roda Viva da TV Cultura por uma entrevista com um travesti no Superpop da Luciana Gimenez...

O post infame de natal

2005-12-24 06:29:00 +0000

Engraçado né... há dois anos eu estava fazendo campanha contra o "Papai No-Well"...


Era essa a imagem-tema da polêmica campanha...

Daqui a algumas horas as pessoas vão começar a rotina natalina: se empanturrar na ceia, trocar "lembrancinhas" e tal. Eu já não estou tão "xiita" quanto antes em relação aos costumes natalinos, mas continuo achando a forma de comemorar o natal muito ridícula.

Os argumentos são velhos conhecidos: O consumismo da época, a simbologia que é usada no hemisfério norte (neve, pinheiros, etc) e que fica patética sendo usada no clima tropical do Brasil, a onda de boa-vontade assistencialista que dura só um dia, e tudo o mais.

Mas eu estou mais velho e já não fico mais batendo boca com os outros por causa disso - afinal, eu não vou mudar o mundo mesmo. Por isso, ao invés de ficar só reclamando, vou sugerir uma outra coisa para a noite de natal: dar os parabéns ao aniversariante.

Na noite de natal, tire dois minutos do seu tempo para rezar. Lembre-se do cara honrado que foi Jesus, e que este dia existe é por causa dele, não do Papai Noel. Feche os olhos por pelo menos uns instantes e tente encontrar um pedaço de Deus dentro de você - porque rezar é isso.

Uma boa oração vale muito mais do que você imagina.

E feliz natal para quem leu este post. Feliz natal para vocês, leitores...

Frases

2005-12-14 17:51:00 +0000

"...it takes a better man to acknowledge goodness in others than it does to merely be good oneself."
- Scott Berkun, neste ensaio aqui.

Frases

2005-12-12 18:37:00 +0000

"Nossa, mas como São Paulo é frio..."
- Senhora de aproximadamente 50 anos, após descer do avião e entrar no ônibus que leva ao terminal (cujo ar condicionado estava ligado no máximo)

Frases

2005-12-01 15:11:00 +0000

"The more you look at the same exact thing, the more the meaning goes away, and the better and emptier you feel"

(Andy Warhol)

Equipamento

2005-10-21 03:21:00 +0000

A "sorte do dia" de hoje, segundo o Orkut:

Você tem um equipamento incomum para o sucesso, use-o corretamente

Mas hein?

Reunião de 8 às 18

2005-10-08 03:11:00 +0000

Quem me conhece sabe que eu tenho uma relação complicada com coisas luxuosas.

Vez por outra a minha profissão me obriga a ter contato com esse tipo de coisa: um almoço suntuoso ali, um hotel de luxo aqui... Eu acho tudo muito bonito, acho a comida realmente boa, o hotel realmente aconchegante, mas pra mim tudo fica rodeado de uma atmosfera meio maldita. Acho que é a minha consciência pesando, por lidar com esse tipo de coisa num país como o Brasil.

Ontem eu passei o dia numa reunião, na sala de convenções de um luxuoso hotel da capital paulista. Era tão luxuoso que dentro do banheiro tinha um sofá. Eu tentei imaginar pra que diabos servia aquele sofá, mas até agora não faço idéia. Será que é pra você se sentar e esperar seu colega terminar de fazer o número 2? Ou só pra você ficar ali curtindo aquele agradável (?!) ambiente?

Por sinal, na quarta eu bati meu "personal trabalhar até tarde record" e fui dormir às duas da manhã, preparando uns dados para a reunião. Dormi umas quatro horas, cheguei cedo no hotel, liguei o computador no datashow e fiquei ali, com as minhas dezenas de planilhas e gráficos a postos.

O pessoal chegou, comentou do tempo, falou de novela, brincou de fazer sombras com a mão no facho de luz do datashow... e chegou a hora do almoço. Grã-fino, é claro. Na mesa, dois garfos, duas facas, e diversas comidas que eu sequer sei pronunciar o nome. O salmão "maldito" estava até gostoso, e o cafezinho que serviram depois, em vez de uma colher para misturar o açúcar, tinha um bastãozinho de canela.

Depois, de volta à reunião, mais conversa... comentaram sobre as idéias pro próximo ano, citaram nome de novos programas desenhando um letreiro no ar com as mãos, igualzinho a gente vê em filme (pessoal de tevê é tudo artista, mesmo se trabalhar na contabilidade), e só lá pelas quatro da tarde o material que eu preparei de madrugada foi usado. Bom, na verdade, apenas parte dele: das dezenas de planilhas e gráficos, o vice-presidente usou apenas três colunas de uma das planilhas.

Aí ele começou a querer mudar de assunto, e eu fui obrigado a fazer valer as minhas horas de sono perdidas:

- Senhores, eu preciso perguntar: na linha 17 temos um prejuízo previsto de cinco milhões(*). O que vamos fazer em relação a isso?

E lá estava eu, peitando vice-presidente de emissora de tevê. Pelo menos deu certo: os cinco milhões devem virar apenas dois, e o cara até me agradeceu no final da reunião.

O Primo no mundo corporativo

2005-09-22 04:19:00 +0000

Sabe, eu gosto muito da minha carreira de consultor. Essa história de não ter lugar fixo pra trabalhar, nem colegas de trabalho fixos (inclusive chefe), nem um jeito fixo de lidar com o trabalho, acaba sendo bem interessante. Pela primeira vez na vida eu tenho um emprego do qual gosto e me orgulho, que me faz acordar animado pra trabalhar.

Por outro lado, tem horas que eu acho tudo uma grande piada. Não foram poucas as vezes em que eu vi um super-gerentão ou superintendente-ninja passando slides de PowerPoint numa reunião cujo assunto era tão relevante que eu me divertia vendo como as figuras do slide ficavam quando eram projetadas na testa do apresentador...

Não estou desdenhando da minha própria carreira, que isso fique bem claro. Mas também não vou virar um corporativista bitolado, que dispensa o happy hour pra finalizar aquele suuuper-relatório que nem atrasado está. Costumo pensar na rotina de empresa como algo menos importante. Afinal, em última análise, aquilo ali é só um emprego; a vida de verdade acontece fora do expediente, com a família, os amigos e tal. Claro que você não precisa ser um procrastinador incompetente, mas também não precisa varar noites no escritório e ganhar uma úlcera para obter uma promoção ou pra agradar o chefe.

(Falando em chefe, Scott Adams diz que os chefes só são chefes porque são ruins demais para fazerem o trabalho de pessoas normais e, portanto, são movidos para esta posição onde não vão atrapalhar ninguém (*)).

Apesar do meu esforço pra evitar estes excessos, infelizmente eu percebo que acabei cometendo alguns. Às vezes Bethania me liga e eu sou obrigado a dizer um "não dá, agarrei no trabalho". Veja bem: é uma mulher linda que está me telefonando porque quer me encher de beijos, e eu estou trocando isso pelo Microsoft Excel... aí, depois de desligar, eu vejo que tem um pedaço de pano medonho me apertando o pescoço: a gravata, aquela aberração que jurei nunca usar. E pior: às vezes eu me pego reparando no nó da gravata dos outros.

Mas o que mais doeu (e motivou este post) foi quando eu estava lendo um livro chamado "A Arte da Guerra para Quem Mexeu no Queijo do Pai Rico". Num dos capítulos o autor faz piada com os "cartões de visita bilíngues". Eu vinha dando risada com o livro inteiro, até ler aquele trecho: "Meu Deus, EU tenho cartões de visita bilíngues!". Antes eu nunca sonhava usar gravata, hoje eu tenho até cartão de visita bilíngue: que tipo de monstro eu me tornei?!

Ah, o livro? Conheci pelo Orkut, veja você. Foi escrito por um professor/pesquisador da USP, absurdamente genial nos comentários sobre as bizarrices da vida corporativa. Comprei semana passada e li no avião, com a gravata afrouxada, enquanto meus vizinhos de assento devoravam suas revistas Exame.

A leitura, muitíssimo recomendada pra vocês leitores, me serviu pra duas coisas: me divertir (e muito), e provocar uma auto-reflexão sobre o quanto eu realmente deveria me envolver com o mundo dos ternos-e-gravatas. Ou seja, funcionou por tabela como um livro de (valha-me Deus!) auto-ajuda.

* - Por sinal, Henry Mintzberg, um pesquisador canadense de verdade, cita algo bem parecido num livro sério intitulado "Criando Organizações Eficazes" - Segundo ele, a diretoria fica incumbida de tarefas do tipo "recepcionar clientes que visitam a empresa" para que o pessoal operacional possa continuar o seu trabalho - realmente importante - em paz...

O velho é o novo bom

2005-09-07 16:06:00 +0000

Ontem à noite no boteco caímos num assunto de "hábitos de leitura".

Ao longo dos anos o meu gosto por cinema e o eterno vício em jogos de computador não deixou sobrar muito espaço pra literatura. Pra piorar, quando eu entro numa dessas megalivrarias de shopping, eu sinto ainda menos vontade de ler.

Porque logo na entrada eu sou obrigado a me desviar das cinco prateleiras de auto-ajuda, depois dos livros oportunistas, e aí eu finalmente chego na... papelaria, ou na seção de livros de informática.

Por outro lado, eu me divirto em sebos. Neles comprei meus dois últimos livros, caindo aos pedaços, cuja relação custo-benefício foi assustadoramente alta: Eu, Robô e Admirável Mundo Novo.

Vale lembrar que o Eu, Robô reeditado, de livraria de shopping, custava quatro vezes mais.

Mas este último então, Admirável Mundo Novo, eu devo ter devorado em umas quatro horas no máximo, nos vôos entre São Paulo e BH, que acabaram se tornando meu "espaço de leitura". O resto dos engravatados do avião ficavam lendo o jornal ou coisas do tipo O Monge e o Executivo, e eu segurando minhas páginas desbeiçadas da obra-prima de Aldous Huxley...

Minha próxima incursão ao sebo deve ser para procurar o 1984, do Orwell. E estou aceitando outras dicas de leitura, favor usar os comentários e deixar um primo feliz.

Santos Dumont, pai da aviação?

2005-08-27 14:50:00 +0000

*PÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ* Resposta errada!

Dependendo do critério, o primeiro a voar pode ter sido Alexander Feodorovich Mozhaiski, russo, em 1884. Vale lembrar que Dumont voou em 1906...

Segundo a Wikipedia ainda tem uma pá de gente que alega ter voado antes de Santos Dumont, inclusive os famosos Irmãos Wright, em 1903.

Quem levantou a bola foi um post do No Mínimo sobre o assunto. Engraçado que várias vezes eu me peguei com essa mesma dúvida, imaginando por que diabos o mundo nunca deu crédito a Santos Dumont pela invenção.

Firewalls - Uma relação de amor e ódio

2005-08-27 03:30:00 +0000

A minha entrada para o mundo corporativo das camisas de botão e crachás pendurados no bolso deu-se lá por volta do ano de 2001, no setor de tecnologia de um banco.

Foi lá que iniciei meu aprendizado sobre o ambiente de trabalho corporativo. A primeira lição chamou-se restrição: de horário, de vestuário, de comportamento... mas, para mim, o pior dos itens restritivos era o firewall.

"Mas o que é um firewall", alguém poderia perguntar. Pensei em dar uma explicação técnica rebuscada, mas achei que isso fosse espantar você, leitor. Por isso, resolvi pedir a ajuda da maior expert em tecnologia do mundo moderno: Britney Spears.

Minha cara Britney, explique aos nossos leitores o que é um Firewall, por favor...

Obrigado, Britney.

Voltando ao assunto: o objetivo básico do firewall nas empresas é evitar que os empregados naveguem em sites "não relacionados com o trabalho" (cof cof, mulher pelada, cof cof). Só que eles ignoram algumas verdades simples. Por exemplo:

Quem quer enrolar no trabalho tem inúmeras outras formas de fazê-lo. Na minha época de banco, por exemplo, um dos meus colegas passava dias inteiros jogando num emulador de Atari...

Existem inúmeras formas de burlar firewalls.

Filtrar sites baseando-se numa lista de palavras "proibidas" é uma estratégia, no mínimo, imbecil. O taradão da Contabilidade pode até estar impedido de acessar "RaunchySex.com", mas consegue ver mulher pelada até no site do Terra...

Mas o firewall, como Dr. Jekyll e Mr. Hyde, tem um lado bom. Com ele a empresa também fica protegida dos Terríveis Hackers de 13 Anos E Espinhas No Rosto que tentam invadir a rede da NASA e, nas horas vagas, os sites das empresas brasileiras. Eu até tenho um firewall instalado no meu computador, veja você.

Outra vantagem dos firewalls é aperfeiçoar o processo criativo e estimular o lado político das pessoas. Ora, eu não teria escrito este post se o firewall de uma das empresas onde trabalho não estivesse bloqueando blogs. Simples e inofensivos blogs. A situação está num ponto tão revoltante que as pessoas protestam silenciosamente nas ruas, a todo momento, usando suas camisetas do Che Guevara.


"Che Guevara? Quem é esse?... Hein, a camiseta? Ah, eu comprei porque tá na moda..."

Nothing but a dreamer

2005-08-24 13:41:00 +0000

E aí eu estava andando de bicicleta pelas ruas da cidade de Sete Lagoas. Só que as ruas não chegavam em lugar nenhum e ficavam sem saída de repente, e eu tinha que ficar desviando de tudo.

Até que uma hora ouvi uma freada brusca e uma batida: haviam atropelado uma menina numa bicicleta. Atravessei a rodinha de curiosos para socorrer a menina: estava bem, consciente, mas havia quebrado o braço. Uma passada rápida pelo hospital e estava tudo consertado, e pudemos subir na lancha dela para passear com alguns amigos. Renato Aragão estava entre eles.

A noite caiu e a lancha parou para que as pessoas pudessem dar um mergulho. Me lembro de ter exclamado: "Putz, que cena linda". E era mesmo. A lua cheia, ao fundo, mostrava apenas a lancha parada, uma das pessoas estava na água e conversava com as que ficaram no barco. Uma criança, sentada na proa, brincava de esguichar água pela boca, como um chafariz.

E era uma cena mesmo, porque eu não estava lá: na verdade estava assistindo tudo pela TV, sentado na sala da casa daquele negão da novela, que eu esqueci o nome. Esse aqui, ó.

Aí eu acordei e vim pra cá trabalhar.

Chique no úrtimo 2 - Debaixo da ponte (aérea)

2005-07-21 03:44:00 +0000

Continuando a série "como é chique o mundo da consultoria": quando você está de terno e gravata, todos os seus problemas ganham uma dimensão muito mais superior e sofisticada, e suas reclamações giram em torno de coisas suuuuperchiques, como aviões e hotéis.

"Mas meu vôo atrasou duas horas, sabe... e ainda sumiram com minha reserva do hotel", dizem os chiques. Pra ficar ainda mais beleza, basta completar a frase com algo do tipo: "Estou super estressado com os stakeholders, preciso ir pra um SPA".

Eu ainda não cheguei nesse segundo nível de sofisticação. Sempre que alguém diz stakeholders eu penso naqueles garçons de churrascaria. E uma vez uma colega de trabalho tirou da bolsa uma nécessaire com o logotipo do Club Med. Até outro dia eu achava que isso era um clube para médicos ou coisa parecida.

Voltando à vida real: Eram quase nove da noite da segunda-feira quando eu finalmente consegui sair do trabalho e chegar ao hotel. Como eram (bem) mais de seis da tarde, minha reserva havia sido cancelada. Normas do hotel. Fui pra fila do check-in, onde havia umas cinco pessoas. A mulher que estava na minha frente perguntou:

- Ei, você tem reserva?
- Não, por quê?
- Porque só tem mais dois quartos disponíveis. Um é o meu, outro é desse senhor aqui na frente.

Tudo culpa da minha gravata, entidade maldita que, além de atrair molho de tomate, cria um vórtice interdimensional na minha frente e automaticamente causa trevas, destruição e hotéis cheios.

Alguns telefonemas depois e achei outro lugar pra dormir. No caminho, o taxista aparentemente gostou tanto de minha nobre presença que demorou quase uma hora pra achar o bendito hotel novo. Acho até que foi de propósito, já que não existem taxistas que se aproveitam de forasteiros, principalmente em São Paulo, terra da finesse no trânsito. O novo hotel era bem mais luxuoso, cheio de firulas fashion no quarto que nem vi direito. Só me lembro da cama e do rádio relógio, que marcava meia-noite.

Era segunda-feira e eu estava acordado há dezenove horas. Mas, para não perder a classe, ainda tive um pouco de insônia e só peguei no sono às duas da manhã...

Voltar pra casa também não é coisa rápida: é uma jornada gloriosa entre táxis, aviões e salas de espera. As salas de espera de aeroporto são o metiê das pessoas sofisticadas: a administração do aeroporto, inclusive, fica mudando os portôes de embarque pra fazer com que nós desfilemos um pouco mais da nossa elegância apressada pelos saguões. Somando todos os atrasos, hoje eu bati meu personal tempo-para-chegar-em-casa record: Saí do trabalho (em SP) às seis da tarde e pisei no meu quarto, em Belo Horizonte, somente cinco horas e meia depois...

Faça as contas: 586 quilômetros entre BH e SP, percorridos em cinco horas e meia. A velocidade média é de 106,5 km/h... Um carro chique a 230 km/h, como um Porsche ou uma Ferrari, levaria só duas horas e meia para concluir o mesmo trajeto. Vale lembrar que isso só é possível com um acessório: a modelo loira default no banco do passageiro...

P.s.: É necessária uma observação, antes que vocês me rotulem de burguesinho. Acho que deu pra notar que minhas referências à sofisticação ou a "ser chique" são comentários sarcásticos. Eu só visto terno e ando de avião porque meu emprego não deixa outra opção.

P.p.s.: Sabiam que p.s. significa post scriptum? Pois é. É latim, coisa chique...

TOP 5 coisas que eu achei que ia começar a gostar quando ficasse mais velho

2005-06-24 01:03:00 +0000

Jazz
Vinho
Mato
Programa de entrevista na TV
Esportes na TV

Quanto ao Jazz, o Giant Steps (Deluxe Edition), do John Coltrane, foi o primeiro disco que realmente gostei e satisfaz todas as minhas necessidades até o momento. Achei que ele ia provocar vontade de ouvir mais jazz, mas eu acho o CD tão bom que não dá vontade de ouvir mais nada. Foi um tiro que saiu pela culatra.

Também desisti do vinho. As pessoas colocam o vinho no trono supremo da elite das bebidas alcoólicas, mas eu continuo gostando mais do "proletariado". E bebo Guaraná Antarctica (de garrafa de vidro de 290ml) como se fosse um Concha Y Toro.

Mato, sim, é bom. Mas acaba sendo mais um "meio" do que um "fim" - meio de tirar boas fotos, de fazer zona com os amigos. Talvez isso seja resquício dos meus traumas de infância, dos fins-de-semana na fazenda do meu tio, onde os pernilongos me carregavam pra cima durante a noite e eu sempre voltava pra casa com o nariz escorrendo por causa da poeira.

Já os programas de entrevista, nada. Minha irmã até teve uma época de vício no David Letterman, enquanto eu e meu pai apelidamos o Jay Leno de "queixada". Na época que o Jô Soares era menos ruim (leia-se SBT), eu trocava a TV pelo CRT e passava as madrugadas empunhando meu lança-foguetes e explodindo a cara de alguém no Quake. Por sinal, parece loucura, mas aprecio um bom jogo de PC como alguém apreciaria um... vinho.

E a minha tolerância para esportes televisionados aumentou de zero para 50%. O primeiro tempo de um jogo de futebol desce bem. As vinte primeiras voltas de um GP de Fórmula Um são boas. Depois disso, acho que queimei uma etapa de envelhecimento e fui direto pra terceira idade, porque dá um sono...

P.s.: Atualizei as fotos, caso queira um pouco de eye candy.

Rotina

2005-05-18 04:20:00 +0000

Pelo menos até as 8 da manhã eu sei exatamente o que vai acontecer no meu dia

6:40 - Algum dos meus housemates vai entrar no banho e eu vou acordar com o barulho do chuveiro e logo em seguida dormir de novo.
7:00 - O despertador vai tocar.
7:05 - Vou criar coragem de sair da cama e ir até o banheiro lavar o rosto.
7:08 - Três itens vão estar cumpridos: cabelo, desodorante e lentes de contato.
7:09 - Ao olhar para a direita eu vou ver exatamente a mesma cena lá fora: a equipe de remo treinando na Frenchmen's Bay e um dos vizinhos passeando com o cachorro. Sempre, exatamente isso.

7:20 - Estarei sentado com uma colher na mão direita e uma tigela na minha frente. Na tigela vai ter leite e cereal (70% de Cheerios, 30% de All Bran). A TV vai estar ligada no Breakfast Television.

7:30 - Aquele bipe chato do carro avisando que falta botar o cinto de segurança vai me irritar.

7:50 - Se nesse horário ainda estivermos antes de Ajax, o trem interestadual vai passar à nossa direita.

8:00 - Pegarei, hesitante, a maçaneta da porta principal do escritório, com medo de levar um choque por causa da eletricidade estática. Depois de entrar, direi good morning para a secretária que fica logo em frente, e ela responderá com um sorriso.

Depois disso eu já não garanto nada.

Começa aqui

2005-04-20 04:22:00 +0000

Mais um comentário sobre a competência do marketing canadense.

Tem uma cerveja chamada Molson Canadian. O anúncio na TV (sem link para download, sorry) é todo filmado em "primeira pessoa", e é basicamente uma sequência de cenas curtinhas: um amigo bate na porta da sua casa e te fala todo animado: "Vambora! Pega seu casaco!", depois aparece outro na porta da sua casa, porta-malas do carro aberto, gritando "Vai fazendo as malas ae!", depois um outro amigo com um par de ingressos na mão, dizendo "nem pergunte como, nem por quê!", e por aí vai.

Depois vem várias cenas curtinhas de mulheres bonitas, uma esquiando, outra no avião, outra num restaurante, todas apresentando-se: "Eu sou a Beth", corta a cena, "Me chamo Daisy", corta a cena. A música de fundo é o crescendo dos primeiros minutos de "Right here, Right now", do Fatboy Slim, tudo para favorecer o clima de "vem algo bom por aí".

Depois vem o slogan: It starts here (começa aqui). E a música entra na sua parte mais agitada.

Basicamente, os caras vincularam a cerveja como o ponto de partida pra a diversão, e ainda alimentaram as fantasias amorosas dos zilhões de canadenses que acabaram tendo a impressão de que as mulheres estavam falando diretamente com eles, graças à câmera em primeira pessoa. Tudo isso sem ofender a inteligência de quem vê, coisa que infelizmente acontece nas propagandas brasileiras.

Hoje no trabalho eu fui pegar um café e vi, no jornal sobre a mesa, uma reportagem sobre esta nova campanha da Molson. Fiquei surpreso ao ver que o tom da reportagem era de incerteza quanto ao sucesso dela frente à campanha anterior, que havia sido um arraso, ficado famosíssima, gerado fãs por todo o país. O texto do comercial anterior havia sido impresso em camisetas, recitado em coro por torcedores antes dos jogos de hóquei, etc.

A campanha era intitulada "I am canadian". Vi o vídeo e tive que concordar. Se eu fosse canadense, sairia de casa pra comprar cerveja na mesma hora.

Typo

2004-12-07 22:27:00 +0000

Ah, se eu ganhasse uma moeda para cada vez que digito "hotmial" em vez de "hotmail"...

Frases

2004-10-29 20:58:00 +0000

Da série "versões Marvel de frases clássicas"...

"Depois da tempestade... sempre vem o Wolverine."

Tie Fighter

2004-10-27 15:25:00 +0000

Uma gravata que eu queria ter.

Talvez

2004-10-07 19:17:00 +0000

Talvez seja estresse acumulado.

Talvez seja outubro, mês do meu aniversário, da minha finada mãe e do meu vivente pai.

Talvez seja o desespero de ver os problemas daqui do serviço seguirem intocados há meses.

Talvez seja a falta de ficar um pouco sozinho.

Talvez seja a exposição prolongada à Flaming Lips.

Talvez o saxofone de John Coltrane.

Talvez seja o sedentarismo, o cooper esquecido há meses.

Talvez seja a visão da minha agenda cheia para as próximas semanas.

Talvez seja por isso que eu estou sensível desse jeito. Que merda, tou parecendo uma mulherzinha.

"Quer que eu desenhe? Eu desenho!"

2004-09-25 17:01:00 +0000

Deu na Folha que a Internet é o meio de comunicação preferido dos americanos entre 18 e 54 anos. Dentre os pesquisados, 70% usam a net para entretenimento.

Eu acho que a Internet vai ultrapassar a TV em termos de entretenimento. Na TV, poucos são os programas interessantes, e eles não passam nos canais abertos. O próprio Gugu tem um quadro do seu Domingo Legal onde um cara lá fica mostrando as últimas da Internet, com os vídeos e fotos engraçadas que se espalham pelas caixas de e-mail do mundo. E se você quiser dar risada, suas únicas opções são o batido Casseta e Planeta, as tentativas de inovação humorística (como A Diarista ou Sexo Frágil) ou os asilos de artistas, como A Turma do Didi, A Praça é Nossa ou Zorra Total.

Em compensação, eu racho de rir nas comunidades do Orkut (como a de Discussões Infundamentadas).

Nesta noite, sonhei

2004-09-23 13:44:00 +0000

Sonhei que me alinhava na beirada de uma piscina com outros competidores. Eram os instantes que antecedem o 'tiro inicial' das competições.

A piscina era a maravilha de 50 metros do Colégio Santo Agostinho, onde estudei durante o primeiro grau. 8 anos tenebrosos. Mas a piscina é ótima, foi lá que aprendi a nadar.

O competidor ao meu lado se afobou e queimou a largada, como nas competições típicas de natação. Depois, todo mundo se alinhou novamente. Me abaixei e esperei atentamente o tiro de largada. Os instantes de silêncio pareciam eternos.

De repente, todos os competidores saltam na água e começam a nadar freneticamente. Eu olho em volta confuso: "O que diabos é isso??!?". Concluí que, de alguma forma bizarra, eu simplesmente não ouvi o tiro de largada.

A próxima cena que vem na minha cabeça é aquela da TV com a classificação final da prova. Na frente do meu nome, as letras: "DNR". Isso é um jargão médico americano que quer dizer "do not ressuscitate", mas no meu sonho indicava que eu havia desistido da prova.

Indignado, lá estava eu no dia seguinte, com Bethania e um cronômetro. Queria saber se o tempo que eu levo para completar a prova me faria ganhar a competição. Se fosse o caso, ia requerer meu título no "tapetão" mesmo. Mas tudo dava errado: o cronômetro não funcionava direito ou Bethania se embolava toda para usá-lo. E quando eu ia pular na água, o zelador da piscina ia removendo as raias, ou aparecia gente nadando na minha frente.

Eu já estava ficando irritado quando o despertador tocou e eu acordei.

Lost in Translation

2004-09-13 03:20:00 +0000

Quando meu Windows diz que "a network cable is unplugged", ele está dizendo que "um cabo de rede é acústico"?

Aparência é tudo

2004-07-28 12:49:00 +0000

Quando eu comecei a trabalhar com consultoria, meu primeiro consultor-sênior me ensinou, em uma frase, tudo o que eu precisava saber para meu novo trabalho. Ele disse:

"Aparência é tudo"

Esta frase dele se justifica todo santo dia. Ele não podia estar mais correto...

Me lembrei disso porque esta regra também se aplica no mundo da informática. Veja só: a Microsoft faz besteira o tempo todo e todo mundo critica e cai em cima. Por outro lado, a Apple também vive cometendo erros, mas todo mundo está muito ocupado se maravilhando com os produtos Apple para poder criticar.

Frio familiar

2004-07-22 04:20:00 +0000

Ontem foi a madrugada mais fria do ano aqui em Belo Horizonte, 12 graus, segundo os jornais. É tempo de todos ficarem dizendo uns para os outros: "tá frio hein!", como se ninguém estivesse percebendo e precisasse ser avisado.

Na foto abaixo eu estou no terraço daqui de casa, vendo a cidade. Eu sou o da esquerda.

Lá fora ventava e a sensação térmica (o mais novo brinquedo da imprensa para maquiar números) devia ser de uns 8 graus. Mas isso não me incomoda. Obviamente eu não fico lá muito mais que cinco minutos, mas mesmo assim o frio não me deixa assim tão desconfortável.

Acho que sempre gostei do frio. Primeiro, por uma razão técnica: é muito mais fácil se aquecer no frio do que se resfriar no calor. É mais fácil manter o calor imóvel e próximo ao seu corpo (usando uma blusa, por exemplo) do que fazê-lo se mover pra longe de você.

Segundo, por uma razão que eu não sei explicar. Quando eu saio no terraço e o vento gelado me envolve, eu não bato os dentes ou tento abraçar a mim mesmo ou fico sussurando "nussa que frio". Pelo contrário, eu até deixo que ele me envolva. É como se aquilo tivesse alguma coisa a ver comigo; quando a temperatura baixa, no fundo alguma coisa parece melhor, mais feliz até...

...o frio me passa uma sensação familiar.

Presença é isso

2004-06-26 04:27:00 +0000

Como muitos de vocês já sabem, minha "inteligência emocional" é bem embotada.

Talvez seja pelos anos da minha adolescência, quando eu era ridicularizado no colégio e trocava a convivência com pessoas de carne e osso pelas telas de um computador. Mas fato é que hoje eu colho os frutos disso: Conceitos simples de convivência social, como "mostrar que se importa" ou "estar presente" custam a entrar na minha cabeça.

Hoje à noite rolou um papo-família bastante sério, envolvendo a iminente mudança (sim, vamos mudar de apartamento de novo). No meio do assunto surgiu o assunto de sempre: a minha falta de envolvimento nas coisas da casa. Meu pai sempre reclama que eu nunca estou presente, minha madrasta reclama que eu só "olho pro meu umbigo".

Eu não me importo quando as pessoas dizem isso, porque concordo com elas e sei que preciso mudar. Mas me preocupa o fato de eu achar esses conceitos, simples, tão difíceis de entender e praticar.

Foi pensando nisso que eu entrei no quarto do meu irmãozinho, Gabriel. Bethania estava lá, sentada no chão ao lado do berço, contando uma história pra ele dormir. Ele pedia:

- Bê, conta ixtória do Buzz...

E lá ia Bethania inventar uma história com o Buzz Lightyear, do filme Toy Story. E contava, contava... às vezes Bethania parava de falar, achando que ele já tinha dormido, e ele repetia:

- Bê.. Bê... cadê voxê... conta ixtória do Buzz...

E ela recomeçava... até que uma hora ela parou de falar, Gabriel pediu, mas ela não continuou. Estranhamente, Gabriel não chorou ou pediu de novo pra continuar a história. Continuou deitado, tranquilamente.

Depois de alguns segundos, Bethania, cochichando, me disse:

- Entendeu? Estar presente é isso: eu não preciso ficar falando, só o fato dele saber que estamos aqui já é suficiente.

Eu não precisei dizer uma palavra e Bethania, com uma frase, me ensinou exatamente o que eu precisava aprender. É por isso que eu amo essa mulher.

Grande coisa

2004-06-23 22:38:00 +0000

E hoje os brasileiros tornaram-se maioria de usuários no Orkut, superando os americanos. Na verdade, os brasileiros tão que invadem várias outras comunidades online, como o Fotolog, por exemplo.

Legal. Agora que somos os primeiros em várias comunidades online, vamos começar a nos comparar com os outros países em outras lideranças mais significativas. Como renda per capita, percentual de alfabetização ou de desemprego...

Soluções que complicam

2004-06-04 14:25:00 +0000

O problema é que ouvir um bom mix do Umek é muito melhor que resolver problemas.

Teorema

2004-05-27 15:54:00 +0000

Níveis irreais de procrastinação por parte dos seus parceiros de trabalho induzem níveis irreais de estresse.

Lacônicos, prolixos e saquinhos plásticos

2004-05-25 23:34:00 +0000

Uma das coisas que eu mais gosto de ser é lacônico.

Segundo o dicionário, lacônico é "breve, conciso; dito ou escrito em poucas palavras, segundo o estilo dos habitantes da Lacônia".

Lacônico é o inverso de prolixo, ou seja, "Demasiadamente longo. Demasiadamente extenso ou demorado. Excessivo, superabundante. Enfadonho, fastidioso". Como você pode ver, até a descrição de prolixo é prolixa. E eu detesto gente prolixa.

Hoje, no serviço, estavam à mesa eu, meu notebook, o consultor-líder da nossa equipe (o "Obi-Wan") e um colega (o "Anakin"). Anakin tentava explicar para Obi-Wan como é que funcionava o fluxo orçamentário-financeiro dos projetos, que possuía um problema grave. Foram horas de palavras difíceis: "descentralização da cota", "funcional programática", "saldo quadrimestral" e Obi-Wan não havia entendido ainda qual era o problema. Eu apenas digitava.

Algumas horas e três Anakins diferentes depois, Obi-Wan ainda não sacou o problema. Eu dei uma pausa na minha digitação e falei:

- É assim: o dinheiro é todo separado e etiquetado. As etiquetas falam pra qual pagamento é aquele dinheiro. Aí quando vão passar o dinheiro pra quem vai gastar, eles tiram as etiquetas do dinheiro, colocam tudo numa sacolinha plástica, daquelas de supermercado, e entregam pra pessoa. Depois a pessoa pega as notas fiscais de onde ela gastou o dinheiro e prega as etiquetas nelas, do jeito que quiser, pra justificar os pagamentos.

E voltei a digitar.

Obi-Wan adorou a minha sacolinha plástica, e a partir dali se referia à ela toda hora, pra explicar o problema...

Apenas um Zé qualquer

2004-05-20 02:21:00 +0000

Numa breve análise da minha vida social, conclui-se o seguinte:

Todos os meus amigos são pessoas fantásticas. Eles são interessantes, inteligentes, engraçados e ótimos companheiros. Conviver com eles é um aprendizado constante. Só pra não faltar a parte clichê: eles sempre estão lá quando você precisa. São como irmãos.

Minha família é ótima. Todo mundo respeita o espaço um do outro, a convivência é sempre amistosa. Todos são honestos e dignos. Na sexta-feira meu pai pede uma pizza, abre um vinho e todos conversam e riem animadamente. As "crises" domésticas são todas resolvidas com uma conversa civilizada, sem nenhuma briga.

Minha namorada é espetacular. É uma jornalista talentosa e trabalhadora, que se destaca facilmente em tudo o que faz pela competência que demonstra. É muito inteligente, obstinada e forte como ninguém. Ela é uma companhia muito agradável, cativante, e tem um coração enorme. Seu maior talento é saber lidar com pessoas: nisso ela é mestre. E como se não bastasse isso tudo, ela também é linda.

E, olhando pra esse bando de gente interessante que me cerca, eu concluí que eu sou a pessoa mais chata e sem-graça que conheço.

Se você é um executivo da alta gerência, leia apenas o penúltimo parágrafo

2004-05-13 17:02:00 +0000

Um fato interessante descoberto nessa minha vida de consultoria.

O trabalho operacional, ou seja, o pessoal que mete a mão na massa, gera muita informação. Esta informação normalmente está na forma de relatórios que vão para os chefes.

Os chefes também reportam-se aos superintendentes, que se reportam aos diretores, e a coisa vai subindo até que a alta gerência recebe um relatório.

Só que a alta gerência (presidente, CEO, etc.) é composta por caras muito ocupados que não tem tempo pra muita coisa. Aí a regra que eles impõem é que os relatórios gerenciais não devem ter mais que uma página. "Mais que isso eu não vou ler", dizem os membros da alta administração da maioria das empresas.

Só que o relatório completo do trabalho, aquele que foi feito pelo pessoal láááá embaixo do organograma, tem MUITO mais que uma página. Mas muita informação é descartada, pra se chegar à meta de "uma página para os altos executivos".

Teoricamente, a informação que chega pros altos executivos deve ser a informação estratégica, fundamental, importante para a tomada de decisões. Esta informação só ocupa uma página, embora a sua origem sejam relatórios beeeem maiores.

Além disso, uma informação só pode ser de dois tipos: fundamental ou descartável. Assim, conclui-se que:

90% da informação gerada pelo seu trabalho é completamente inútil.

Veja este post, por exemplo. Um alto executivo só precisaria ter lido o parágrafo acima, e mais nenhuma dessas baboseiras que eu escrevi. Viu só?

FAIL

2004-05-10 22:51:00 +0000

Desculpem. Eu tentei, juro, mas hoje não tem post.

Perguntinha:

2004-04-28 12:47:00 +0000

Um carro com um adesivo "No Drugs" e, ao lado, outro adesivo com a cara do Bob Marley, é uma contradição, não é?

Teorema

2004-04-23 03:02:00 +0000

Ou eu sou um gênio incompreendido ou um chato insuportável.

A porcentagem de chatos é bem maior que a de gênios, logo...

O Primo NÃO RECOMENDA DE JEITO NENHUM: Ken Park

2004-04-09 06:59:00 +0000

O primeiro diretor que me mostrou que sexo e violência podem ter um fim útil num filme foi Stanley Kubrick, em Laranja Mecânica. Nele há uma cena especialmente forte, onde Alex e seu grupo de drooges invadem uma casa e fazem de refém um casal. A mulher do casal é, então, violentada enquanto Alex canta "Singing in the rain".

É uma cena muito forte, mas especialmente bem colocada; mais à frente somos levados à questionar o que seria mais violento, se seria este estupro ou a lavagem cerebral que fizeram em Alex. Além disso, o caráter extremo de todos os personagens de Laranja Mecânica serve para dar um clima de loucura extremada no mundo onde o filme se desenrola. Em suma: todas as cenas fortes servia a um propósito.

Em Ken Park as cenas são muito fortes, e eu só consigo imaginar duas finalidades para isso:

- Retratar a realidade de forma nua e crua
- Contrastar com a vidinha aparentemente suburbana e normal dos personagens

Quando um filme se propõe a retratar a realidade, o mínimo que se espera é alguma surpresa. Ken Park retrata uma "realidade" tão previsível que dá preguiça.

O filme começou e um dos garotos, Claude, estava ajudando o pai enquanto ele levantava pesos e se gabava dos seus músculos. "O pai dele é gay e vai tentar alguma coisa com ele", foi a primeira coisa que pensei. Bingo.

Depois, Shawn vai até a casa de Rhonda, uma mãe de família, e eles transam. Depois, Rhonda começa a perguntar da namorada de Shawn e eu pensei: "O Shawn namora a filha da Rhonda". Bingo.

Aí aparece o lar super-católico de Peaches e seu pai, viúvo. Peaches é a cara da mãe. "Peaches dá pra todo mundo e o pai vai molestá-la por causa da fixação com a esposa finada", pensei. Essa conta como um acerto parcial pra mim, porque o pai dela não a molestou; só a vestiu de noiva e "casou-se" com ela.

Em suma, todos os personagens são tão profundos quanto poças d'água. Também tinha o detalhe que todos eles usavam drogas, mas isso ia ser tão manjado que nem teve muito destaque no filme.

Aí só resta a opção das cenas fortes servirem pra contrastar com a vidinha suburbana dos personagens. O problema é que as cenas são MUITO fortes e obliteram todo o resto. Temos cenas de masturbação real (uma delas com esperma e tudo), temos sexo oral real, temos pênis totalmente à mostra, eretos, e por aí vai.

Aí fica todo mundo: "OOOHH", o filme vira polêmico, é banido em alguns países, consequentemente ganha destaque na imprensa e, bingo, Larry Clark, o diretor, aparece. Porque é isso que ele quer. Ele, inclusive, faz uma ponta no próprio filme como vendedor de cachorro-quente.

E de repente, tudo acaba. No fim de um bom filme você normalmente discute a história com os amigos, fica pensando no que viu, ou fica só extasiado com a beleza artística da coisa. Eu terminei de ver Ken Park e a única coisa que veio na minha cabeça foi: "Eu vi um bando de skatistas trepando". E só.

Pode passar longe desse filme. Não perca duas horas da sua vida com isso. Se você quiser assistir o filme porque ele é "picante", vá direto à prateleira dos filmes pornô. Dá no mesmo. Se você quer ver é sexo bizarro, ora bolas, você já está na Internet, o paraíso do sexo bizarro. Mas se você quer um roteiro decente, até Missão Impossível é melhor. Vá por mim.

Ouvido trekker

2004-04-07 00:25:00 +0000

Meu pai está vendo TV no cômodo ao lado, está passando "Roda a roda".

Alguém acertou uma letra e tocou aquela campainha.

Eu ouvi: "Klin-gon!"

Teorema

2004-04-04 17:37:00 +0000

Domingo é um bom dia para... trabalhar.

Eu ficaria rico se ganhasse $1...

2004-03-31 19:24:00 +0000

- Sempre que alguém me perguntasse: "Você trabalha aqui?" quando eu estivesse passando pelo shopping, de terno
- Toda vez que eu visse um "Scotch Bar" onde a palavra "scotch" não estivesse escrita corretamente
- Toda vez que a palavra "tonight" fosse usada em uma música romântica
- Toda vez que eu escrevesse "looooongo" em vez de "longo" neste blog

I <3 U. Gimme my wallet.

2004-03-31 03:39:00 +0000

Outro dia o Dequejeito definiu muito bem o Orkut: É uma comunidade onde você acumula amigos e ... tira onda com a quantidade de amigos que você tem. Mais nada.

Agora tem o FunHi (leia matéria na Wired), onde você dá presentes virtuais pros seus amigos. Só que os presentes (que NÃO EXISTEM) custam dinheiro REAL e os donos do site estão se entupindo dele.

Legal. Some o capitalismo com a internet e você tem o quê? Comércio de carinho.

Frases

2004-03-25 05:52:00 +0000

"...dreaming that it was seamless. Not a trace of wrong".

Ironia

2004-03-25 05:44:00 +0000

Há algumas horas atrás eu não tinha nada pra fazer e não estava na hora de dormir.

Agora eu queria fazer um tanto de coisas mas está na hora de dormir.

A sabedoria de Friends

2004-03-19 23:58:00 +0000

"So noone told you life was gonna be this way"

Clap, clap, clap, clap!

Rage Against The Machine

2004-03-19 13:55:00 +0000

Uma coisa que me enche de raiva: receber um forward inútil, de alguém chato, contendo fotos de um jogador de futebol de um time rival e comentários maldosos sobre sua orientação sexual.

Uma coisa que me enche de MUITA raiva: quando um dos destinatários começa a discutir por email com o remetente, ambos usando o reply to all (responder a todos) e me incluíndo na discussão imbecil dos dois. Aí, um email inútil subitamente se multiplica na minha caixa postal...

Meu herói

2004-03-16 17:35:00 +0000

Meu ídolo é o Zeca Pagodinho.

O cara é um ultra pop star, e não é porque é um excelente músico ou ótimo cantor: é porque ele gosta de beber cerveja.

Aí ele vai se apresentar no Faustão, não faz nenhum esforço pra ser simpático, canta uma música chinfrin e, no final, oferecem cerveja pra ele. Aí ele vai dar um show, senta num banquinho e bebe umas cervejas enquanto canta (mal), como se estivesse num bar. E ganha dinheiro para isso.

Aí as duas maiores cervejarias do país brigam pra tê-lo como garoto propaganda e fazê-lo beber mais cerveja, porque quando ele bebe cerveja as pessoas vêem e bebem mais cerveja.

No final de um dia de trabalho bebendo cerveja, ele vai pra casa, abre uma cerveja e, enquanto isso, rios de dinheiro caem em sua conta corrente.

Zeca Pagodinho comanda.

Post (quase) clichê de 8 de março

2004-03-08 13:46:00 +0000

Mulheres, parabéns pelo seu dia internacional.

Vocês conquistaram seu lugar e mostraram que conseguem fazer tudo que nós conseguimos. Isso quer dizer que eu não preciso mais abrir a porta do carro pra vocês, não é?

To infinity and beyond

2004-03-05 04:24:00 +0000

No filme Toy Story 2:

- É por ali.
- Tem certeza?
- Eu sou Buzz Lightyear, eu sempre tenho certeza.

Eu sou o primo e eu nunca tenho certeza.

Aleluia

2004-03-03 13:35:00 +0000

No trânsito, vindo para o trabalho, começo a ouvir a música do carro parado ao lado do meu.

Na Sua glória...
Adorar a ti, Senhor...
Com minhas lágrimas...

Aposto que o próximo verso é "lavar os seus pés", pensei.

Lavar os teus pés...

Na mosca. Se minha carreira de consultoria não der certo, acho que tenho futuro como compositor de música gospel.

Perspectiva

2004-03-03 04:18:00 +0000

Quando vocês virem aquelas propagandas de cerveja, o povão festejando na praia e tal, façam um exercício mental. Pensem assim:

"São todos atores. Eles estão todos trabalhando. No lugar da música tem é um diretor gritando na orelha deles. E eles não beberam sequer um gole de cerveja."

É interessante como a coisa muda de figura né...

Suspense

2004-03-02 23:08:00 +0000

Nunca achei que emails seriam tão emocionantes.

Organização

2004-03-01 05:08:00 +0000

A minha mala de viagem já foi desfeita e as roupas foram separadas em duas pilhas: limpas e sujas. Os utensílios de barba e banho foram devidamente acomodados de volta no banheiro.

Sentei no micro e verifiquei meus emails. Separei os de serviço. Respondi os que demandavam urgência e limpei os vírus.

Abri minha agenda e atualizei os compromissos da semana. Verifiquei as coisas a fazer.

Peguei os livros que estavam na pasta do notebook e reorganizei todos sobre a mesa. Os maiores abaixo, os menores e mais acessados, acima.

No meu coração as coisas estão todas fora do lugar.

Reflexões

2004-02-12 21:45:00 +0000

Hoje eu cheguei a conclusões muito interessantes sobre meu trabalho.

1) Eu sou um camponês, um pior, devido ao meu ranking de pobre trainee. Na verdade eu serei para sempre um pior enquanto não me tornar um senior e estiver conduzindo um projeto.

2) Quando meu chefe me paga um almoço num lugar chique, ele está, na verdade, é fazendo uma caridade.

3) O que vai me destacar no meu trabalho é a maneira pela qual eu faço meu chefe se destacar.

4) No meu ramo, competência é commodity. Todo mundo é competente, então isso é o que menos conta para me definir como um profissional bom ou ruim. Vide reflexão número 3.

5) Um curso de graduação em computação é a pior coisa que você pode ter. Serve apenas como um imã que atrai tarefas horríveis, como fazer sites, matar vírus, programar sistemas inteiros no Excel, além de fazer com que você seja a primeira pessoa que todo mundo da equipe chama quando seus computadores dão problema.

6) O "modo social" está always active em todos os momentos, seja com o cliente, seja com os seus colegas da equipe. Isso faz com que seus colegas pareçam claramente estar sendo falsos quando eles estão sendo falsos.

Envelhecer

2004-02-04 02:20:00 +0000

Envelhecer é uma questão de público-alvo.

Antes eu era público-alvo da Jovem Pan. Hoje, sou público-alvo da CBN.

O Grande Irmão

2004-01-15 02:22:00 +0000

Acabei de chegar em casa e todas as TVs estão ligadas no Big Brother 4.

A coisa está invertida... são eles que estão invadindo a minha casa.

Idéia

2004-01-14 21:34:00 +0000

Final de um email-corrente que acabei de receber:

Se não mandar, a má sorte vai chegar até você.
*ISTO NÃO É UMA BRINCADEIRA!

Que legal, eu apaguei o email e agora posso justificar tudo de ruim que acontecer na minha vida com isso!

"Meu carro estragou... aposto que é aquele email que eu não encaminhei para 10 pessoas"...

Ninguém merece é tudo de bom

2004-01-13 22:01:00 +0000

Sabe, essas gírias babacas modernas até tem utilidade.

"Ninguém merece", por exemplo. Serve de justificativa genérica pra qualquer coisa.

- Vou rasgar esses papéis aqui porque, ninguém merece... - disse a colega de serviço número 3, há alguns instantes.

(Pois é, esse post inútil, e eu mandei mesmo assim porque... bem, porque ninguém merece!)

Superintraconectado

2003-11-19 15:45:00 +0000

Me lembro de ter descoberto o Google porque alguém comentou comigo...

Se eu quero comprar alguma coisa, uma das primeiras coisas que faço é procurar reviews na internet, de preferência os reviews abertos (enviados por usuários comuns). É o equivalente digital ao "perguntar quem já usou".

A publicidade não me afeta conscientemente. Não me lembro da última vez que comprei algo porque vi num anúncio. Normalmente é porque ouvi falar bem ou porque procurei ler algo a respeito.

E agora eu descobri que meu modo de pensar está muito sintonizado com um novo modelo de mercados e corporações, descrito com detalhes no site de um livro chamado The Cluetrain Manifesto. Tá em português, é longo, mas vale cada centímetro da leitura.

Assim, ó...

2003-11-13 18:25:00 +0000

Ontem de madrugada eu sentei no Reason e tava brigando com ele. Tava preocupado com o timbre, com reverb, equalização, com coisas bizarras como cancelamento de frequência...

Aí veio Squarepusher, com a música Anstromm-Feck 4, e foi como se ele me dissesse:

- Viu? É assim que se faz, estúpido.

Teorema

2003-11-11 21:58:00 +0000

REDRUM ao contrário é MURDER!

Isso faz do Reason um software satânico?

Papai Noel - O homem da polêmica

2003-11-08 17:35:00 +0000

Essa imagem aí marcou o lançamento da minha campanha contra o consumismo natalesco. A coisa já pegou fogo... de um lado, Norton aderiu na hora. Do outro, um amigo-leitor está mandando emails furiosos pra mim. Segundo ele, foi "a coisa mais xiita" que eu já fiz...

Saliento que a campanha não é contra o natal, e sim contra o consumismo e desperdício envolvidos e a descaracterização da data. Portanto, no dia 24, não coma peru. Vá ser voluntário ou vá apadrinhar uma criança. Esse é o melhor presente que você pode dar para o aniversariante.

Um bom lugar pra começar isso é o site da Visão Mundial, uma organização filantrópica. Fiquei sabendo deles no dia que fui ver Matrix Revolutions, eles estavam fazendo um show beneficente no shopping. Segundo minha namorada, eles são mais do que respeitados pelo trabalho...

E olha, o Primo é comprovadamente sangue bom, do bem...

This site is certified 70% GOOD by the Gematriculator

Garçom

2003-11-06 17:30:00 +0000

Ok, quando eu pedir um guaraná eu quero sem laranja no copo. Só gelo, sem laranja. Guaraná com gelo e sem laranja, entende, sem laranja, ok? Então tá, obrigado.

O bom velhinho, no inferninho.

2003-11-04 22:18:00 +0000

Agora que a decoração de natal já começa a pintar no comércio, O Primo orgulhosamente lança a campanha...

Saiba tudo sobre a campanha lendo, abaixo, o FAQ:

Mas como assim? Que campanha é essa?

É uma campanha contra todas as coisas chatas que vêm junto com o natal: o comércio explorando a data, a perda do sentido real do natal, o uso de símbolos capitalistas dos EUA para representar um feriado religioso, etc...

Ah, é uma campanha contra o natal?

NÃO, o Natal está OK, é um feriado cristão e pá. O problema é que ultimamente ele tem virado sinônimo de "comprar presente, fazer aquelas árvores de natal ridículas com algodão pra imitar neve (neve? no Brasil?), ir comer até vomitar na casa da vó"... e ninguém lembra do verdadeiro espírito de solidariedade que o aniversariante do dia realmente gostaria que valesse.

Mas o que tem o Papai Noel a ver com isso?

O Noel é o símbolo de tudo isso!! Onde já se viu, velho branquelo de roupa de frio nesse calor tropical... o Papai Noel é o símbolo-mor de tudo de ruim que ronda a data... MORRA NOEL!

E o que eu faço nessa campanha, só xingar?

Bem, preferencialmente você deveria agir em prol dela.

O que posso fazer, então, pra ajudar a campanha?

1) Pegue essa imagem e bote no seu blog/site
2) Não faça árvore de natal, nem bote luzinhas de camelô na sua janela.
3) Não entre nos desperdícios das ceias de natal. O natal deveria ser uma data marcada pela simplicidade, não acha?
3) Quanto aos presentes... pô, dê algo realmente legal, que engrandeça a alma da pessoa que você está presenteando. Fuja dos modismos, da roupa da moda, do disco da moda... fuja da massificação, não dê dinheiro pros porcos capitalistas. Dê um presente artesanal, um livro legal, um CD gravado com música independente baixada da Internet...
4) O mais importante: Faça algo realmente relacionado ao espírito de natal. Visite um parente que vive sozinho, visite uma creche ou um hospital, console um amigo, faça as pazes com alguém. Não dê dinheiro... dê algo que não possa ser comprado por ele.
5) Troque o esforço de procurar presentes, de correr de ceia em ceia no dia 25, pelo esforço de passar por cima do seu orgulho e da sua vaidade para ser bom para alguém.

A música e eu somos um

2003-10-17 01:35:00 +0000

O pensamento é vicioso e toma de assalto toda a minha mente. É como cair na água e ser subitamente envolvido por todo o fluido, e deixar o silêncio agir como a chave para a sensação de unidade.

Mas não há silêncio. Há música, e a música é o silêncio da mente.

E a consciência vai para o nível onde o mundo sou só eu. A dor e o cansaço ficam claramente separados, distantes. Dor e cansaço são físicos, e o mundo perdeu todo o seu elo material em minha mente.

A minha mente é uma ave veloz, planando no silêncio da música, sobre o deserto da consciência. A música e eu somos um, e somos tudo o que há.

Ah, eu contei pra vocês que voltei a fazer cooper, né?

Lendas da pizzaria

2003-10-16 04:31:00 +0000

Você já percebeu que sempre que o assunto é "rodízio de pizza" aparece alguém com o caso do "amigo" que comeu 30 pedaços, ou do "parente" que foi expulso do restaurante porque tava dando prejuízo?

Pois é, sempre! Se eu considerar que uns 5% dessas histórias são verdadeiras, vou concluir que tem muito mentiroso nesse mundo.

Cool-tura

2003-09-22 17:05:00 +0000

Tava vendo aqui, proibiram menores nas LAN Houses do Rio. A alegação é que o CounterStrike estimula a violência e aquela papagaiada toda.

Aí eu pensei uma coisa... o problema disso é cultural.

A violência, como também o consumismo, são coisas moralmente questionáveis, mas que acabaram se entranhando na cultura de tal forma que não dá pra simplesmente culpar um jogo. A culpa é do sistema, que permitiu que a violência virasse coisa normal. Afinal, preocupar-se com ladrão e botar alarme no carro virou coisa normal, em vez de ser percebida como o absurdo que é.

E tem outra: Imagine um moleque de 16 anos. Sua educação foi muito boa, seu senso moral é bom. Este moleque tem uma série de frustrações e medos, naturais devido a sua idade. O alívio psicológico que ele encontrou para suas frustrações é a agradável sensação de vitória que ele tem quando enfia uma bala no crânio de um terrorista do CounterStrike. Mas o que dá esse prazer a ele não é o fato de ele ter "virtualmente" matado alguém, é o fato dele ter tido a habilidade de mirar corretamente e atirar no momento certo.

Resumindo, acho que em vários casos o que atrai gente para jogos violentos não é a violência, e sim o desafio do jogo. Nesse caso, matar alguém no CS pode ser tão atraente quando ganhar uma corrida de Formula 1 em rede...

Inferência

2003-09-07 03:59:00 +0000

Vejamos:

O homem é um ser social.

Eu considero todas as pessoas chatas até que elas me provem que não são.

Hmm... acho que temos um probleminha.

Frases

2003-09-01 03:01:00 +0000

"Mas como tem música ruim nesse mundo"
(Eu, ontem à noite, com um índice de músicas de videokê na mão)

Relendo sentimentos

2003-08-17 06:04:00 +0000

Na quinta à noite ficamos sem telefone em casa, o que significa, entre outras coisas, que não ia ter internet, Enemy Territory e tudo o mais.

Fazer o quê, acabei fuçando no micro e encontrei uma pasta de backups, com um arquivo zipado...

...cheio de músicas que eu havia composto há cinco anos atrás.

São músicas num formato "antiquado" (XM, eXtended Module, se você quer saber), pobres de beleza melódica ou de timbres bonitos... mas ricas de recordações.

Rachei de rir com composições como a "Pagode has gotta DIE", um digital hardcore que fiz em protesto contra a má qualidade musical da época. Ah, como a coisa piorou tanto em tão pouco tempo... tinha uma chamada Thaty, que eu nunca terminei, era pra uma menina, uma loira lindíssima, que estudava comigo na PUC. Ouvir a música fez recordar direitinho o que eu sentia quando via a diaba da mulher... bons tempos.

Tinha uma chamada "The Edge", que, conforme os comentários que deixei dentro do arquivo, era uma música "muito estranha, como anda a minha cabeça". Putz, comparada com as esquisitices que faço nos Bit Cousins, é fichinha...

Tinha outra, chamada "Fallen"... putz, me lembro direitinho, compus porque estava chateado, a minha "visão" da vida na época havia caído e eu percebi que o mundo é um grande poço de problemas e gente problemática. Quanta infantilidade... o mundo não mudou muito, mas em compensação, a minha cabeça tosca...

E tinha a incrível "Pseudogirlfriend", que compus porque estava enrolado com uma menina (que depois namorei por quase um ano)... nos comentários, dentro do arquivo, eu prometia um "remix" se ficasse com ela. Eu até comecei a fazer o remix (chamado "no pseudogirlfriend", haha!), e fiquei até assustado com uma looonga e bonita introdução de piano que botei na música. Não havia notado o quanto meu sentimento por ela na época era profundo... putz, parece uma eternidade.

Inclusive, essa é uma das razões pela qual eu jamais faria uma música para minha namorada atual. Qualquer tentativa de expressar o quanto eu a amo não iria demonstrar nem 10% do que sinto de verdade...

Musga moderna

2003-08-05 23:52:00 +0000

Tava lembrando aqui... uma vez eu tava conversando com uma ex-namorada sobre música contemporânea, ela falava de música atonal (jeito bonito de dizer "desafinada"), composições onde o cara tocava piano com os antebraços, com a testa, "bulas" explicando como preparar o instrumento, incluindo instruções malucas como "coloque um prego entre a corda número tal do piano"...

Taí, bem que eu podia inventar umas músicas assim!

Gato-nal: Antes de começar a tocar, coloque um gato vivo dentro do piano. Bata no teclado tentando sincronizar com os miados. Não pare até o gato morrer.

Brintadeira: Composição para orquestra e britadeira. O maestro toca a britadeira assim: cada um dos músicos da orquestra traz seu instrumento até o centro do palco e coloca-o no chão, e o maestro o destrói com a britadeira. A música termina quando terminarem os instrumentos.

Techno finlandês: Usa-se como instrumento um celular Nokia. Entre no menu de "sons" e fique ouvindo os diferentes toques, um a um. Toque até a bateria acabar.

Batida de despedida: Reúne-se todo o público em volta de uma escada de bombeiro, o mais alta possível. O músico sobe a escada, pula de cabeça e usa o som do seu crânio se espatifando no chão para fazer música. Nunca peça para um amigo seu tocar essa música pra você.

Antes só, depois também

2003-07-25 13:20:00 +0000

Tá, eu não aguento mais. Eu tento mas não consigo mudar de opinião. A seguinte frase vai virar definição pra mim:

Pessoas são chatas.

Exceto raros e seletos amigos, família e namorada, o resto do mundo podia explodir numa bola de fogo. Incluem-se aí colegas de trabalho, motoristas, transeuntes, camelôs, políticos, todo mundo.

Pessoas são chatas, irritantes, esnobes. Fedem a cigarro. São inconvenientes, egoístas, julgam você pela roupa. Pessoas querem te passar a perna o tempo todo. Pessoas nunca usam a seta do carro. Pessoas falam idiotice sem parar e sem se preocupar se você quer ouvir todos os detalhes sobre a filhinha da tia dela que fez aniversário na semana passada.

Pessoas são estúpidas e nunca aprendem. Pessoas colocam aerofólios no teto de uma Palio Weekend e se acham o máximo. Pessoas ficam bêbadas e matam outras pessoas, normalmente as que não são chatas. Pessoas gravam discos de forró e pagode. Pessoas ouvem esses discos.

Pessoas são egocêntricas. Pessoas acham que dar tiro em pivete é a solução pra violência. Pessoas conversam com você bem de pertinho pra te jogar na cara aquele mau hálito horrível. Pessoas falam gritando. Pessoas buzinam atrás de você dois décimos de segundo depois que o sinal abre. Pessoas são, enfim, chatas e podiam sumir da minha frente.

Tá, pronto, falei. E se você está me conhecendo agora, por definição, você é um chato dos piores. E você tem um caminho beeem longo de convivência comigo pra me convencer de que você não é chato. Poucos conseguiram. Boa sorte.

Special Quê?

2003-06-25 13:32:00 +0000

Tem uns sites que eu teoricamente jamais visitaria, mas acabo passando por eles com uma certa frequência. Um deles é o Erowid.

O Erowid é um site sobre drogas, feito e mantido por usuários recreacionais de drogas. Lá você tem TUDO sobre TODAS as drogas existentes, e também tem a parte que eu mais gosto: relatos de experiências com cada uma delas.

Antes que você faça mau juízo de mim: Não, eu não uso drogas. Eu nem sequer bebo. Mas faço questão de me manter bem informado, inclusive pelo ponto de vista de quem usa, pra poder ter uma opinião consciente sobre a coisa toda.

Normalmente, quando eu quero saber algo sobre uma droga nova, eu vou no Google, leio as informações dos sites "normais", descubro o básico (composição, efeitos colaterais, riscos, etc.) e depois vou no Erowid ler o que diabos os caras sentem quando usam a droga. As últimas drogas que pesquisei no Erowid foi o Ecstasy (logo que estourou) GHB (a chamada droga do estupro) e, ontem, Special K.

Essa última eu vi num episódio de E.R., uma menina foi parar no hospital desacordada e com convulsões. Acharam marcas nas pernas da menina, "ketamina" (um anestésico) na corrente sanguínea, fizeram um exame pélvico e concluíram que ela tinha sido estuprada. No final do episódio a médica vai contar pra ela que ela foi dopada e estuprada e ela diz: "Não foi estupro não, sua idiota! Foi Special K! Deixa o sexo mais gostoso". Aí fiquei curioso pra saber se existia mesmo a tal droga.

Conto de Carnaval

2003-02-27 15:52:00 +0000

Essa festa, que adoro, está chegando! Acabei escrevendo um contozinho sobre ela, aí vai:

--

Marcelo aperta o botão de desligar do seu computador. São seis horas da sexta-feira, véspera de carnaval. As passagens do ônibus são guardadas com cuidado na carteira, como se fossem passaportes da alegria, e Marcelo deixa o prédio com o andar altivo de quem caminha rumo à felicidade. Logo, o celular começa a tocar. São várias as ligações dos amigos, acertando os últimos detalhes da viagem.

Esse é o único período do ano em que Marcelo sente-se realmente livre e solto. O único período do ano onde a "ralação" diária é substituída por quatro dias de curtição total, sem nenhum limite. Afinal, "uma vez por ano é lícito enlouquecer", como todo mundo diz na época do carnaval. E, algumas horas depois, a loucura deliberada de Marcelo começa animada, na batucada de samba improvisado, no ônibus que corta a noite rumo ao lugar escolhido.

Após algum tempo de viagem, Marcelo já está acomodado com os amigos na casa alugada. E a diversão não pode esperar, todos já estão a caminho do trio elétrico. Do alto do morro era possível ver toda aquela gente uniformizada para a diversão, a música alta, as muitas mulheres e a alegria geral. "É hoje!", pensava Marcelo, enquanto ia penetrando a multidão.

A partir dali, tudo foi êxtase na maior festa do ano. Todo mundo estava enlouquecido com a música e a bebida. Os foliões mais desejosos também relaxavam a mente no lança-perfume, na maconha e outras maravilhas prazeirosas. A banda, sobre o trio elétrico, comandava a multidão: a cantora gritava "Beija, beija..." e num instante formavam-se casais que enrolavam as línguas umas nas outras e depois saíam como se nada tivesse acontecido.

Mas Marcelo queria mais. E nessa época as mentes sintonizam-se com extrema facilidade e, logo, ele e seus amigos se juntaram a um grupo de mulheres no mesmo idealismo. A festinha foi transferida para a casa dos amigos e, a partir dali, a muita bebida fez com que as lembranças fossem apenas um borrão na mente de Marcelo. Eram três da tarde quando ele acordou, deitado na sala da casa com uma das mulheres. Vários dos seus amigos em situação semelhante, escornados pela casa. Marcelo levantou-se, meio zonzo, pegou uma cerveja na geladeira e foi até a varanda.

- Êta festa boa... - Disse ele, depois de encher os pulmões daquele ar vespertino.

Mal sabia Marcelo que tinha tirado a sorte grande: as mulheres da última noite, simpatizando-se com os rapazes, deram a dica de um "esquema" para as outras noites. Uma festa fechada, só com "gente bonita" e "tudo liberado". Marcelo pensava consigo que aquele seria o melhor carnaval de todos os tempos. Mas nada podia prepará-lo para o que iria acontecer.

Naquela noite, ao chegar no lugar do "esquema", Marcelo mal podia acreditar no que via: mulheres maravilhosas, quase todas seminuas, "open bar" e segurança "amistosa", o que significava drogas à vontade. Marcelo e seus amigos se entreolharam como quem descobre um pote de ouro no fim do arco-íris. E correram para a multidão.

O resto do carnaval foi passado ali, naquele paraíso que tiveram a sorte de encontrar. Na quarta-feira, já viajando de volta, Marcelo deitava o olhar cansado na paisagem vista da janela do ônibus, e relembrava dos parcos momentos dos quais ainda tinha memória. Os amigos faziam a contagem das mulheres: os beijos estavam nas centenas e os "serviços completos", como diziam eles, não eram poucos. Marcelo foi apelidado de "mestre", por ter batido , de longe, todos os recordes da turma.

Marcelo sorriu. Foi o melhor carnaval de sua vida.

O problema é que sua vida não iria muito longe depois daquilo.

Alguns meses depois, uma pneumonia insistente levou Marcelo ao médico. O diagnóstico caiu como uma bomba: era AIDS. Em estado já avançado, provavelmente contraída "em outros carnavais". Quando o médico pediu a Marcelo que avisasse a todas as pessoas com as quais havia tido relações sexuais nos últimos dois anos, a consciência de Marcelo pesou: no meio das amnésias alcoólicas, ele mal sabia quantas haviam sido, nem sequer nomes ou telefones.

Marcelo se tornou, desavisadamente, portador da morte para dezenas de pessoas.

Ironicamente, na quarta-feira de cinzas do outro ano, o corpo de Marcelo era cremado no cemitério da cidade...

Fany Guél

2003-02-13 19:18:00 +0000

Toda vez que eu vou ao McDonalds daqui do bairro Floresta eu fico olhando pra uma das meninas do caixa. É porque no crachá tem o nome dela: Fany.

E num ato reflexo eu fico, mentalmente, pensando: Heh, she's so funny!

É mais forte que eu, não dá pra evitar.

Plunct, plact, zum! Pode ir ao guichê número 3

2003-02-03 01:53:00 +0000

Se você tem uns 25 anos com certeza lembra da letra de "O Carimbador Maluco", do Raul Seixas, aquela que dizia:

Tem que ser selado
Registrado, carimbado
Avaliado, rotulado
Se quiser voar
Pra Lua a taxa é alta
Pro Sol, identidade
Mas já pro seu foguete
Viajar pelo universo
É preciso o meu carimbo
Dando sim, sim, sim, sim

Éramos nós, crianças, aprendendo o que era burocracia...

Unreal Childhood

2003-02-02 04:48:00 +0000

Estava pensando... minha infância nunca mais terminará com Unreal Tournament 2003.

Quer jogar rouba-bandeira? O Unreal tem, é o Capture The Flag.

E você lembra do "ranca", aquele jogo onde o objetivo era descer o pau em quem estivesse com a bola? Voltou moderníssimo no Unreal, com o Bombing Run.

Ah, e aquela geléia verde que foi moda nos anos 80/90? O Unreal tem uma arma só disso, o Bio Rifle!

Danos morais

2003-01-14 20:53:00 +0000

Um amigo advogado me mandou uma notícia sobre uma mulher que foi numa boate no Rio, perdeu a comanda e teve que pagar aquela quantia exorbitante que os caras estipulam. Aí a mulher processou a boate e ganhou R$ 2 mil de indenização por danos morais.

Eu não entendo nada de direito, mas uma coisa que tou começando a entender é que você pode processar qualquer um sobre qualquer coisa. É só falar que foi danos morais.

Você compra uma sunga na C&A, vai na praia e não pega mulher nenhuma. Aí, mete um processo de "danos morais", afinal, sua moral masculina foi lesada e você está responsabilizando a sunga. Pode? Aposto que sim.

Ou então, você está estudando direito, entrou aqui no blog e leu este post. Aí você me processa por "danos morais" porque eu supostamente estou ridicularizando sua futura profissão. Pode? Aposto que sim.

Agora, eu não posso levar minha guia do IPTU e várias fotos dos buracos da cidade pro juiz, alegando que a prefeitura está me causando "danos morais" porque é uma vergonha o tanto que eu pago pro pouco que ela faz. Aí não pode.

J.R.R. SQL

2003-01-08 21:41:00 +0000

Estou eu trabalhando com meu SQL quando ele dá o seguinte erro:

SQL0104N Foi encontrado um token "VLR_DTL_DVD" inesperado após "* DISTINCT ".

Aí eu penso: "Putz, o banco de dados andou lendo O Senhor dos Anéis?"

Aí eu percebo que não é Tolkien, é Token.

Aí eu peço a Deus pra sexta-feira chegar rápido e eu entrar de férias o quanto antes.

Frases

2002-12-30 17:08:00 +0000

"Em 1940, Fairbairn expõe suas pesquisas sobre os fatores esquizóides da personalidade e afirma que o indivíduo esquizóide apresenta três características fundamentais: uma atitude de onipotência, uma atitude de isolamento e desapego, e uma preocupação com a realidade interior.."

Thaaat's me! Estou começando a ficar preocupado com isso.

O post de natal

2002-12-25 05:28:00 +0000

É, vocês já estavam achando que não ia ter post de natal aqui no Primo né... pois é. Mas não é um post não. É uma prece. Isso mesmo, pra vocês que não sabem eu sou espírita de muito tempo. Então lá vai:

Jesus,

Neste dia de hoje, em que convencionaram comemorar seu nascimento, eu olho o mundo e vejo que, na verdade, se você está nascendo, no coração de muita gente talvez você esteja morrendo...

Neste dia de hoje, as pessoas dizem que "O Natal foi ótimo" e completam com: "minha loja vendeu o triplo nesse mês" ou "nunca comi tanto peru em toda a minha vida" ou então "ganhei uma porrada de presentes legais". E o Natal fica sendo ótimo pelos excessos. Mas nunca tem excesso de caridade, fraternidade, boa vontade.

Jesus, Jesus... e o natal ainda vira época de "medir" a generosidade dos parentes, reclamar mentalmente do presente mixuruca que o marido deu pra mulher, ou fazer mau juízo do parente que nem sequer mandou um cartão, botá-lo na "lista negra" de pessoas que não se importaram conosco no Natal... quando nós mesmos estamos é nos lixando pra o que demos, o que fizemos, que alegria proporcionamos...

Jesus... sei que tu, que é Mestre, não se prende a essas convenções de datas e comemorações... mas nós, ainda espíritos bem imperfeitos, zelamos por tradições, aparências e cerimônias... por isso, neste Natal, peço perdão.

Peço perdão pela concupiscência da humanidade, pela inveja, pela avareza, pela gula, por esta faceta tão ruim do ser humano que, infelizmente, acaba mais realçada logo no Natal. E nesse pedido de perdão, peço perdão a mim mesmo, pelas minhas próprias falhas e por, inúmeras vezes, eu também me render às coisas da terra em detrimento às coisas do espírito.

Mas também, Jesus, agora entendo um pouco mais do Amor verdadeiro, aquele que você ensinou, e sei que, justamente pela nossa má índole, você nos ama ainda mais. E nesse ponto eu agradeço, mas agradeço imensamente, não pelas minhas atitudes acertadas, mas pelo discernimento de saber o que fiz bem e o que fiz mal. Isso, meu Mestre, não tenho como retribuir, tamanho o valor desta virtude: discernimento.

E por saber o quanto é bom, peço a ti que derrame, mas derrame o máximo que puder de discernimento em nós, pobres almas terrestres, que nos perdemos por tão pouco, que nutrimos anseios por tanta coisa da terra que não vale nada ao espírito... Jesus, faz nascer discernimento nas mentes desorientadas, imediatistas, materialistas deste mundo... faz nascer discernimento na minha própria mente.

Mestre, para encerrar, obrigado por ter me ensinado que é impossível ter um feliz natal sem saber provocar no meu próximo um natal feliz. De tudo que você me deu, o mínimo que posso retribuir é em gratidão, sendo justo e me esforçando por honrar o modelo de vida cristão que escolhi para mim.

Que assim seja.

Pessoas que são uma piada

2002-12-20 12:34:00 +0000

Tem poucas coisas na vida que me irritam. Uma delas são pessoas "engraçadas por definição".

Uma pessoa engraçada por definição é aquela pessoa que é considerada engraçada simplesmente porque sim, ou porque um dia ela até foi engraçada. Só que a coisa chega num ponto em que essa definição é mais forte que tudo e qualquer idiotice que a pessoa fala é considerada engraçada automaticamente.

As pessoas viram para o "engraçado" e fazem perguntas, e qualquer coisa que ele responder vai ser motivo de risada. Qualquer coisa. Tipo:

- E aí, fulano, cê vai sair pra tal lugar hoje?
- Ah, putaquepariu véio!
- HAHAHAHAHAHAHAHAHA!

(Isso é verídico, eu já vi acontecer)

Com a mão no bolso

2002-12-16 13:29:00 +0000

Essa noite eu sonhei que estava numa cafeteria... aí fui ao caixa pagar minha conta para ir embora, quando umas mulheres me abordaram e começaram a passar umas cantadas.

Até aí, tudo normal. Quando fui guardar a carteira no bolso de trás da minha calça, percebi que não tinha calça. Eu estava nu.

Ai... ai... vem ne mim caminhão da FedEx...

2002-12-13 12:54:00 +0000

Tava lendo na Wired sobre os compradores dos primeiros Segways... e um deles fez um site que, entre outras coisas, tem uma galeria de fotos dele recebendo e desembalando o Segway. São 43 fotos, e o link para a galeria de fotos diz assim:

Clique aqui para as fotos da chegada do Segway HT. O caminhão da FedEx parou aqui em frente, que excitante, aí foi até meu vizinho com um outro pacote, droga, mas depois veio até mim e disse: "eu tenho um embrulho grandão pra você" aimeudeus... leia os artigos :-]

Eu realmente considero Segways uma coisa über-cool, claro, mas quando eu vejo coisas assim eu fico triste por ver até onde o prazer de consumir pode levar certas pessoas. Certas pessoas que, inclusive, me incluem.

É como eu ouvi outro dia... "The difference between a man and a boy is just the price of the toy".

SP

2002-12-10 15:08:00 +0000

Tem coisa mais paulista em música do que aqueles backing vocals que dizem pa pa pa pa...?

Tecnologia num mundo menos materialista

2002-12-06 13:08:00 +0000

Hoje o Cris Dias resolveu um dos grandes dilemas da minha vida tecnológica: Como é que a tecnologia existirá num futuro onde o mundo for um lugar melhor, com pessoas menos egoístas, menos foco materialista e mais espiritualidade na cabeça das pessoas?

Foi numa frase simples onde ele comenta que o Rio Grande do Sul vai usar software livre:

De pouquinho em pouquinho a tecnologia (e a Internet em especial) vão tornando o mundo um lugar menos focado no dinheiro.

Diacho!! Como eu não pensei nisso antes? Agora a tecnologia tem lugar na minha utopia de mundo perfeito. Valeu, Cristiano.

Minutos de Sabedoria

2002-12-04 21:20:00 +0000

"Nobody wants to pay for content on the web -- especially when you can probably find similar content in a half dozen different places for free." - Li aqui.

Você percebe a simplicidade dessa frase? Melhor, você percebe a infinita sabedoria contida nessa frase?

Pois é, muita gente não...

Help the Aged

2002-12-02 18:15:00 +0000

Você realmente está ficando velho quando te vêem com sua namorada e perguntam se você é casado...

Fellini falando de amor

2002-11-30 05:51:00 +0000

Ah, Cadão, Cadão... aquele que uma vez, sabiamente, disse:

Amor é uma droga
Só ocupa espaço

Amor é uma droga
E nem dá barato

Ah, Cadão, Cadão... aquele que depois, sabiamente, disse:

Cidade perdida
Joga as cascas pra lá
Só eu e você e o amor louco

Cidade proibida
Fácil vem, fácil vai
Só eu e você e o amor louco

Reflexões

2002-11-28 18:35:00 +0000

Será que na Rússia existe letra cursiva?

A Divina Comédia

2002-11-28 18:35:00 +0000

Um dos melhores indicativos da desgraça espiritual da humanidade é a proliferação da comédia.

O ser humano anda tão miseravelmente oprimido e estressado, deprimido e fragilizado, tão sem gosto pela vida, tão sem inspiração para ter, por si só, alegria de viver, que ele paga R$ 50 para ir a um show e algum comediante fazê-lo rir. Pior, ele paga para ir ao teatro ver uma "comédia de costumes" e rir do seu próprio comportamento patético.

"Ha ha ha, aquele pai de família da peça é tão engraçado"... não, meu caro, você é que está desgraçado.

Descobri que não posso ter filhos

2002-11-22 03:24:00 +0000

Calma, não é o que você está pensando!

É que um dos meus sonhos de vida é o de ter filhos, criar um menino ou uma menina, ensinar, aprender, experimentar um pouco do que é formar um caráter humano...

Depois que minha mãe morreu, há uns cinco ou seis anos, meu pai arrumou uma namorada e ela ficou grávida do meu meio-irmão, chamado Gabriel. Hoje ele está com dez meses de idade, é esse cidadão aí embaixo, comigo, na foto.

A chegada dele aqui em casa foi ótima pra que eu pegasse alguma experiência de como é lidar com um bebê e tal. Mas o aspecto que me preocupou logo de cara foi o choro...

Os primeiros três ou quatro meses são complicados, por causa da cólica, são horas e horas de choro sem nada que você possa fazer pra confortar o pobre coitado do menino. Tem também as vacinas, é choro na hora de tomar e choro toda vez que ele esbarra o lugar da picada em algum lugar. Aí vem os dentinhos, eles incomodam, então dá-lhe choro. Aí vem o choro da "manha" pra conseguir o que quer, o choro de que tá com sono, com fome, com fralda suja e por aí vai.

Não foi o choro em si que me preocupou, afinal de contas é mais do que natural, é uma das poucas coisas que o bebê sabe usar pra se expressar nessa idade. O que me fez concluir que não dá pra eu ter filhos é a minha reação ao choro do menino...

Nos tempos de cólica eu ia dormir, meu quarto no andar de cima da casa, e mesmo assim ficava ouvindo ele chorar de dor... e aquilo me corroía por dentro como se o moleque fosse filho meu, e eu rezava pra que pelamordedeus aquela dor passasse e ele pudesse dormir. Não foi nem uma nem duas vezes em que eu não aguentava e descia pra ver se podia ajudar em alguma coisa, sei lá, mesmo que fosse ser solidário na dor. E eu contava os dias para os meses de cólica passarem...

E hoje eu cheguei em casa tarde e Gabriel ainda tava acordado. É que ele tá com dor de garganta, então está sendo um custo botar o menino pra dormir. Mas o pior é que Gabriel chora e, como a garganta tá inflamada, o choro é rouco, abafado... e eu sou muito chato com sons, dependendo da pureza do som que eu ouço é quase como se eu enxergasse o instrumento na minha mente, de tanto que eu me envolvo com o barulho... e quando eu ouvia o choro rouco de Gabriel eu quase podia ver as amídalas vermelhas, e aquilo ia me dando uma angústia enorme...

E é por isso que eu não posso ter filhos, eu ainda tenho que amadurecer em mim essa postura em relação à dor do outro. Ou então eu sou uma bicha mesmo.

Seinfeld, ontem

2002-11-21 04:18:00 +0000

(Elaine) Estou apaixonada!
(Jerry) Ah, o cara da mudança...
(Elaine) É! Ele é demais... ele é simples, sincero, não faz joguinhos...
(Jerry) Não faz joguinhos?? Como assim não faz joguinhos?? Qual é a graça de namorar se você não sabe quem está ganhando?

E pior é que tem gente que pensa conforme ele falou. Depois ficam reclamando que tem casamentos infelizes...

Frases infames

2002-11-14 16:11:00 +0000

Já dizia Joana, é melhor D'arc receber.

HOJE é o dia certo para AMAR e blá blá blá...

2002-11-13 21:48:00 +0000

Recebi uma daquelas mensagens estúpidas de "auto-ajuda" no email, era uma com um texto do Amyr Klink, dizia assim:

"Já ancorado na Antártida, ouvi ruídos que pareciam de fritura (...) Eram cristais de água doce congelada que faziam aquele som quando entravam em contato com a água salgada. O efeito visual era belíssimo. Pensei em fotografar mas falei pra mim mesmo:

- Calma, você terá muito tempo pra isso

Nos 367 dias que se seguiram, o fenômeno não se repetiu. Algumas oportunidades são únicas."

BWAHAHAHAHAHA!!! Aláá, se fudeu!!

Piada ruim

2002-11-13 15:27:00 +0000

O que é que Gimli, o anão do Lord Of The Rings, disse quando foi no Carnabelô?

"You have my AXE!"

Inspiração Nua

2002-11-13 03:41:00 +0000

Na Playboy desse mês, Syang, a "escritora de contos eróticos", diz que teve uma inspiração no meio da sessão de fotos, sacou um pedaço de papel e escreveu:

"Tudo é propício, domingo de sol, meu Mustang 68, sol a pino, cabelos ao vento, pouca roupa. Vou despindo peça a peça, o som do carro é hipnótico.
Na estrada deserta, divago em cada parte de seu corpo, posso sentir cada gota do seu suor, sua saliva doce, sua língua macia e te imagino ali dentro de mim...
Não quero acabar com este estado de prazer. Fecho meus olhos e me amo ali. Latejo, te quero. Sou puro tesão"

Cara!! Será que os Tribalistas não aceitam um quarto integrante não?

Venceu uma batalha da guerra que causou

2002-11-11 18:18:00 +0000

Hoje eu chego na aula de Spinning e o vestiário está lotado, cheio de homens (incluindo o meu professor) urrando como animais.

É que ontem ele e outro professor da academia estavam saindo dum curso e, pelo que entendi, uns pivetes tentaram assaltar a namorada de um dos professores. Aí, saíram os dois em disparada, pegaram os pivetinhos, encheram de porrada e estavam lá, se postando de heróis e contando vantagens do tipo:

- Nó!! Tinha muito tempo que eu não dava um soco bem dado em alguém!!
- E um dos moleque lá, falou que ia ligar pra polícia!! Peguei a cabeça dele e meti no orelhão, falei: "Então liga agora, palhaço!"

E foi isso, os dois contando, com gosto e detalhes mórbidos, a pancadaria que fizeram, sentindo-se os justiceiros e sendo elevados ao posto de heróis porque foram lá e fizeram com os pivetinhos o que todo mundo, secretamente, morre de vontade de fazer.

Aí eu penso na razão de existirem pivetinhos, lembro dessa "guerra civil fria", o morro com raiva do burguês e o burguês com raiva do morro. Quando os dois se esbarram, é isso, uns pivetinhos apanham, ou um burguês é assaltado e espancado.

Será que nossos amigos professores, covardes espancadores, sabem que a culpa do assalto é deles mesmos? É de todo mundo?

Baden - Wurttemberg

2002-10-22 04:18:00 +0000

É o que está escrito atrás de uma canequinha que tenho na minha estante.

Outro dia, arrumando o porta-malas do carro, que passou meses carregando minha velha coleção de revistas em quadrinhos do Homem Aranha por pura preguiça minha de arrumar, achei essa caneca no meio de outras tralhas que estavam lá. Só que essa canequinha tem história...

Há uns cinco anos atrás, não me lembro bem, eu e uns amigos fizemos uma viagem maluca de carnaval para o Rio Grande do Sul. Foram dois dias de carro (só de ida), até chuva de madrugada na Fernão Dias (a "rodovia da morte") nós pegamos. Ficamos um tempo em Porto Alegre, Caxias do Sul, Gramado e tal. Na ida e na volta, dormimos em Curitiba, na casa da prima de um amigo. Numa dessas noites, na terça-feira de carnaval, se não me engano, saímos e fomos nesse barzinho alemão, o Schwarzwald.

E lá estava eu, sentado, cansado da viagem e, no meio dos meus dezenove anos, chateado da forma mais adolescente possível com minha auto-estima, me achando feio e pensando idiotices como : "putz, em pleno carnaval, nem assim mulher olha pra mim". Até que o inesperado aconteceu: o garçom me entrega um "torpedo", um bilhetinho, vindo de uma mesa próxima.

Obviamente, o primeiro impulso foi achar que era gozação de alguém. Não me lembro do que tinha no bilhetinho, mas acabei respondendo-o desacreditadamente, falando algo do tipo "Obrigado mas não sou daqui e estou voltando de viagem amanhã" ou algo assim. Até que a menina do bilhete se identificou. E era mesmo uma menina, uma morena surpreendentemente bonita e não parecia estar de brincadeira. Tanto que as amigas que estavam com ela de repente trataram de evaporar e deixá-la sozinha na mesa.

E, trouxa que era, acabei não indo até lá nem fazendo nada pelo pensamento de "eu nem sei onde estou direito, eu é que não sou louco de sair com uma mulher assim do nada, e além do mais a gente tá saindo mesmo". Não muito tempo depois o pessoal resolveu ir embora e, passando pela mesa da menina, ela vira pra mim e pergunta:

- Já está indo? Senta aí, vamos conversar um pouco...

Pois é, era mesmo verdade. Acabei pedindo desculpas, explicando a minha situação e saindo assim mesmo. Se não me engano ela ainda disse um "Que pena". E naquele dia fui dormir pensando no que aconteceu e pensando que talvez eu não fosse tão tosco quanto imaginava. E trouxe a canequinha, que ganhou um significado especial, como pouquíssimas coisas minhas tem: é pra não esquecer daquele dia e me lembrar que, por mais que eu me ache o pior dos piores, tem sempre algumas doidas que gostam, hehe :)

Sanidade

2002-10-16 14:42:00 +0000

Estou trabalhando alucinadamente quando, de repente, acontecem, na minha cabeça, nessa sequência, as seguintes coisas:

1) percebo que eu estou sentado
2) percebo que eu estou sem cinto de segurança
3) percebo que eu estou sentado na minha mesa de trabalho, e não no meu carro, portanto não tem cinto de segurança.

Pois é, gente, aconteça o que acontecer, nunca trabalhem em um banco, pois vocês vão acabar terminando assim...

10... glub... 11... glub...

2002-10-09 21:42:00 +0000

Hoje eu notei uma coisa.

Não consigo beber água de um bebedouro sem contar os goles mentalmente. Simplesmente não consigo.

Semana que vem eu vou marcar um neurologista ou algo assim, antes que eu vá direto pro hospício.

Os Sonhos Mutantes do Primo

2002-10-07 12:32:00 +0000

Acho que a eleição lesou meu cérebro, com força.

Sonhei que estava na Av. Amazonas, perto do CEFET, onde foi a minha seção eleitoral. O primo Luiz estava lá e estávamos de saída. Ele disse: "Só vou ali mandar um email e a gente vai", e entramos numa galeria. Eu disse, "corre lá então, que eu tenho que ir trabalhar".

Entrando na galeria, notei que, em uma das lojas, havia um buraco no chão, tipo uma cova, e haviam 2 pessoas colocando um caixão nessa cova. No meio da entrada da loja. O mais legal é que era uma loja de bugigangas, bijuterias e coisas bregas. E o mais legal ainda é que a vendedora da loja era uma das analistas aqui do serviço, que chama-se "C", aquela que tá me enchendo o saco há uma semana. Pensei: "Que bom, tenho carona pra ir trabalhar então".

Aí, quando íamos saindo da loja, olhei pra cova. Ela era coberta por um vidro e, lá dentro, o caixão mais brega que eu já vi. Cheio dos penduricalhos, paninhos coloridos, etc, etc, etc. E no caixão tinha um boneco com uma cara feia que, de vez em quando, pulava pra fora do caixão como se estivesse "ressuscitando" e ficava dando risadas mecânicas: "Ha ha ha ha ha!"

Aí nessa hora o trem lesou de vez e o sonho virou alguma coisa estilo filme de terror: todo o cenário havia mudado para um lugar escuro onde só havia o caixão, e alguém dentro dele. Do lado de fora, uma senhora "demoníaca" projetava uma coisa, tipo uma cordão umbilical gosmento, que saía da boca dela e ia direto pro caixão. A senhora era tipo aquelas tias gordas estilo dona-de-casa de 50 anos. E ela ria, com um olhar maléfico. Aí a cena cortou pra pessoa que estava dentro do caixão: era a mesma senhora. E deu pra ver o que tinha na ponta do "cordão umbilical": um triângulo de metal, que estava marcando a pele da senhora do caixão. Quando ela retirou o cordão, havia ficado a marca de queimadura no formato do triângulo e, no meio da marca, uma cicatriz, perpendicular à base do triângulo, que lembra aquele "olho de fogo" do Senhor dos Anéis.

Aí eu acordei.

Se você é psicólogo ou psiquiatra e lê este blog, por favor me escreva e me diga se eu tenho salvação.

Hackeando Murphy

2002-10-03 14:16:00 +0000

Em vez de ficar reclamando da Lei de Murphy, aprenda a usá-la ao seu favor:

1) Quer chegar mais cedo no serviço? Leve um cortador de unhas no carro e, a cada sinal fechado, comece a cortar uma unha. O sinal vai abrir rapidinho, quando você estiver no meio do corte da unha...

2) Quer que a fila do banco ande mais rápido? Leve com você um ótimo livro ou um CD excelente no discman. Lembre-se que "o tempo voa quando a gente está se divertindo".

3) Quando você está fazendo algo rápido no computador e pensa: "Não vou salvar porque não vou precisar de novo", você vai precisar dele de novo. Para se certificar de que você não vai precisar mais dele... salve-o!

É o Primo dando dicas para tornar sua vida melhor.

Pedido

2002-09-03 21:37:00 +0000

Gostaria aqui de fazer um apelo para a Sandy.

Sandy, por favor... pose nua.

Não que eu queira ver... é que 95% dos caras que chegam ao meu blog pelo Google chegam porque procuraram por "Sandy Pelada" e caíram aqui, e isso já encheu o saco.

Obrigado.

Leiame

2002-09-02 13:30:00 +0000

Nunca vi uma revista falar tanto do próprio umbigo como a Trip.

Opções

2002-09-01 06:10:00 +0000

Sabe...

É em noites assim, de chuva,
quando você está andando no seu carro,
ouvindo um disco do Yo La Tengo,
é que você percebe que a vida
é isso.

Aí você tem duas opções.
Ou deixa um psiquiatra mais rico
ou é feliz e pronto.

Compre Jesus

2002-08-30 19:46:00 +0000

Hoje na rua tinha um motoqueiro com uma camiseta assim:

Jovens,
Esta é a
Saída
Unica da
Salvação

Aí eu fiquei pensando... isso NUNCA vai atingir quem realmente deveria ser atingido. E isso me levou a pensar outra coisa... se as igrejas investissem em marketing como as empresas normalmente investem, como seriam as campanhas para atrair fiéis? Isso ia dar um bom teste ou concurso para os designers e marketeiros de plantão hein...

Ma(né)rketing

2002-08-09 18:17:00 +0000

Hoje, no rádio, propaganda de cursinho de informática.

Locutor falando:

- A todo momento várias vagas no mercado de trabalho são desperdiçadas. A razão disso: a falta de conhecimento em informática. E você, aí, ouvindo rádio a essa hora?? Que é isso, deixa de ser mané!! Venha fazer um curso de informática na PowerInfor!!

Juro que eu ouvi isso. O cara fala de vagas desperdiçadas e ainda chama o ouvinte e potencial consumidor de mané. Marketing é isso aí!

Trepanação

2002-08-07 18:31:00 +0000

Esse nome aí é o processo de fazer um furo, voluntariamente, no seu crânio. Pra quê? Ora, porque leva à iluminação espiritual e dá um "barato permanente", é óbvio!

Isso mesmo... faça um buraco na sua cabeça, diminua a pressão intracraniana e viva feliz.

Tem coisas da completa e indescritível estupidez crônica derivada do uso idiota de drogas cretinas que só a Internet traz pra você...

Um detalhe...

2002-08-07 15:02:00 +0000

Essa noite sonhei que estava gravando, com a função de gravador do meu telefone celular, ninguém menos que Ozzy Osbourne falando palavrões ininterruptos.

Seria eu uma pessoa normal?

Frases

2002-08-06 12:27:00 +0000

"Putz, graças a Deus eles não usam Trance nessas aulas"

(Eu, ontem na aula de spinning, concluíndo que a música dance farofa que toca na aula toda não é tão mal assim)

O pior

2002-08-05 18:09:00 +0000

Existe algo pior do que o trabalho...

É o retrabalho.

Não deu

2002-08-01 21:09:00 +0000

Dias como esse, onde você tentou de tudo, pesquisou por horas, trabalhou por horas, se empenhou com cada fibra do seu ser para que as coisas dessem certo e elas NÃO deram... deveriam ser, apesar disso, dias gloriosos, dignificantes, dias bem-aproveitados.

Mas no final acabam sendo dias frustrantes mesmo.

Frases

2002-07-26 18:23:00 +0000

"Diga a verdade e saia correndo"

(Provérbio iugoslavo)

Test-Drive dos horóscopos

2002-07-22 18:20:00 +0000

Sim, eu fiz isso de novo. Chamem-me de imbecil, de atoa, mas eu realmente comparei os horóscopos do dia. De novo. Pra ver se essa bobagem toda é verdade mesmo. Na verdade eu não acredito nela, mas eu estava sem inspiração pra blogar e achei que uma investigação "científica" ia ser legal.

Para constar: sou libriano e estou consultando os horóscopos de sites decentes, grandes portais, etc., pra não falarem depois que "é óbvio que tava errado, porque tava no site charlatão do num-sei-quem"...

O primeiro foi o Terra - Esotérico: Dizem que o Sol está passando pelo signo de Leão e isso me deixa mais "relacionável" e reflexivo. Segundo o site:

A passagem do Sol por Leão aquece seus relacionamentos com grupos e amigos, intensificando a troca afetiva. (..) Bom momento para fazer uma reavaliação de seus propósitos de vida e ideais e sobre como você está se saindo para concretizá-los.

Já na AOL, a Lua está em Capricórnio, o que indica que eu vou querer estar próximo das pessoas que me agradam. Parece com o do Terra... mas acontece que eu tenho dias de antisocialidade total, e hoje é um deles: daria tudo pra passar o dia sozinho com as minhas coisas. Mas concentremo-nos nos outros horóscopos...

O do portal Uai viajou completamente na maionese: Diz que "no campo afetivo, poderão ocorrer súbitos desentendimentos"... mas os outros diziam que eu estava todo power-up com relacionamentos... e por sinal ontem e hoje foram ótimos dias com minha namorada. Essa previsão só vai mais ou menos certa quando fala: "Veja se você tem feito o que quer e se predispôs a fazer para si mesmo e por si mesmo". Coincidiu com o do Terra.

No iG, GuruWeb e na Folha, mais coincidência: também falam do Sol em Leão, que isso melhora os relacionamentos e convida a uma revisão no meu plano de vida. Pelo que estou entendendo, quando o Sol ou a Lua passam em algum signo, isso quer dizer alguma coisa. Assim sendo, natural que os horóscopos coincidam. Mas... porque é que o Sol em Leão me deixa reflexivo e sociável? E se, por exemplo, a Lua em Escorpião significar que ficarei com uma "tendência à depressão", por mais que meu dia seja bom eu ficarei triste, assim, do nada? Racionalmente, obviamente isso não faz o menor sentido.

Independente disso, tem várias falhas horrendas. O horóscopo do Estadão vai looonge também. Diz que uma facilidade no meu trabalho vai se voltar contra mim. Como assim?? Mas não era facilidade?! Meu Deus, quando meus programas aqui começarem a funcionar todos certinhos, vou ter que ficar desconfiado porque meu horóscopo falou que as coisas fáceis vão dar dificuldade? Tem também o Starmedia. O horóscopo, em español, disse: "Não discuta. Vai ser difícil segurar suas emoções". Putz, horóscopo "la garantia soy jo" mesmo...

Resultado: Deu pra descobrir o porquê das coincidências. Os horóscopos "de verdade" realmente associam a posição dos astros com o futuro. Mas qual o critério dessa associação?

Paradoxo Bucal

2002-07-18 19:04:00 +0000

Quanto menor a afta, maior a dor quando a escova de dentes bate nela.

Mais micos do Primo

2002-06-26 16:52:00 +0000

O meu primeiro grau foi, de longe, o pior período da minha vida: eu era tímido, feio, sensível, burro e, portanto, ridicularizado por todos os meus "coleguinhas" de colégio. Hoje, por causa da Copa, lembrei de um caso engraçado dessa época...

Lá pela minha terceira ou quarta série, eu não sabia o que era pênalti. E os meus "coleguinhas" sabiam e tiravam a maior onda, sem contar o que era, pra dar uma de fodões. E eu, trouxa, bolei um 'plano' pra descobrir o que era o tal do pênalti.

Na aula de Educação Física, no meio do jogo de futebol (onde eu era e ainda sou péssimo jogador), iria executar o plano... fiquei esperando passarem a bola pra mim. Algum tempo depois recebi um passe na lateral direita do campo... assim que a bola encostou no meu pé, coloquei o plano em ação:

Parei e comecei a gritar: "Pênalti! Pênalti! Pênalti!"...

Reflexão burra

2002-06-21 21:33:00 +0000

Burro é aquele que descobre que é burro somente quando alguém vira pra ele e lhe chama de burro.

Velhas Histórias (micos) do Primo

2002-06-19 15:02:00 +0000

Lembrei disso outro dia... e como não tou a fim de trabalhar, vou contar aqui.

Lá por volta de 1992, estava eu em viagem familiar para Porto Seguro. Essa viagem foi, bem, "pitoresca" por dois eventos:

Primeiro, estávamos nós na praia, nada pra fazer. E como se trata de Porto Seguro, obviamente tem aquelas "pistas de dança de música baiana" na praia. Fica uma mulher animando os turistas imbecis, dançando em cima de um palanque, e todo mundo embaixo, imitando. No final, iam ser sorteados dois ingressos para um "luau", mais à noite.

Minha mãe, vendo o meu tédio, praticamente me jogou no "dance floor baiano". Naquela época, nos meus 13 anos, eu não tinha noção do crime que é ser conivente com a música baiana, então acabei indo. E ia imitando a mulherzinha do palanque... olhando para os lados, vendo minha mãe tirando fotos e me sentindo um idiota.

Aí, no final, a mulher pega o microfone para dar os ingressos do luau. Depois de dar um deles para uma menina, disse: "E o outro ingresso vai para aquele menino ali, que arrasou!!" - disse, apontando para mim. E era eu mesmo... num dos fatos negros do meu passado: ganhei um ingresso por dançar música baiana.

Acabou que nem no luau eu fui.

O outro evento "pitoresco" foi que, em frente ao hotel onde ficamos, havia um quiosque. No quiosque, trabalhava uma menina muito bonita e, quando íamos para lá tomar água de coco no final das tardes, a menina ficava olhando pra mim. Eu, na época muito burrão, só notei porque minha mãe disse. Aquilo nunca tinha acontecido, era uma oportunidade de ouro para mim que, até então, me achava o pior dos feios.

Um dia, tomei coragem e fui conversar com a menina. Parecia um milagre: ela estava praticamente se jogando pra cima de mim. Isso NUNCA havia acontecido antes... eu sempre me achei feio e nada atraente, e de repente tinha uma menina me fazendo elogios e se insinuando toda. Na minha cabeça de 13 anos aquilo era um paradoxo do destino :)

A coisa foi tão bem que marcamos de encontrar, mais à noite, na Passarela do Álcool, uma conhecida avenida do centro turístico da cidade. Como eu conhecia pouco do lugar, sugeri encontrá-la num ponto que eu conhecia: na porta do shopping que havia lá.

Pouco antes do horário combinado, lá estava eu, indo para o shopping, feliz da vida, pensando que ia finalmente me dar bem... quando, no meio do caminho, me lembrei de um detalhe: A passarela do álcool tem DOIS shoppings, um no começo e um no final da avenida. "Fudeu. Qual deles?!?", pensei. E aquela seria a minha única oportunidade de tentar alguma coisa com a menina, pois no dia seguinte era dia de pegar o avião e ir pra casa...

E, desesperado, elaborei o plano de emergência: checar os 2 shoppings. Ia para um, ficava 2 minutos, andava desesperado-quase-correndo até o outro, ficava mais 2 minutos, repetia o processo. Entre os 2 shoppings havia uma caminhada de mais ou menos 600 metros. E andava eu, quase correndo, pela passarela, desesperado por estar perdendo uma namorada praticamente conquistada... por um erro estúpido de cálculo. Imaginem o ridículo.

Depois de uma hora, muita ansiedade e meio litro de suor, obviamente não encontrei a menina e voltei, derrotado, para o hotel. No dia seguinte, antes de pegar o avião, ela estava no quiosque, me perguntando por quê eu não havia aparecido. Murphy nunca falha, o meu plano desesperado do dia anterior, obviamente, não deu certo. E, da janela do avião, na viagem de volta, fiquei olhando o mar e pensando que ia acabar morrendo solteiro...

Sonic Youth, 200mg

2002-06-14 18:16:00 +0000

Como eu sou burro.

Sonic Youth é a cura para todos os meus males...

Enigmas sem resposta... respondidos

2002-06-03 18:33:00 +0000

Pra vocês terem uma idéia do quanto eu estou entediado aqui no trabalho, eu respondi um daqueles emails de "perguntas curiosas". Segue abaixo.

Como se escreve zero em algarismos romanos ?

Não existe zero em algarismos romanos. Naquela época a idéia de "zero" não existia. Em vez de dizer: "eu tenho zero moedas", diziam "meu bolso está vazio".

Por que os Flintstones comemoravam o Natal se eles viviam numa época antes de Cristo ?

Os Flinstones ilustram uma típica família capitalista da classe média americana. Nesses casos, principalmente na TV, o Natal é comemorado sem vínculo com Jesus Cristo, e sim com presentes, dinheiro, peru de natal, Papai Noel...

Por que as mulheres abrem a boca quando estão passando algum creme no rosto ?

Para esticar a pele das bochechas e facilitar a aplicação do produto. O mesmo vale para quando os homens fazem a barba.

Por que os filmes de batalha espaciais tem explosões tão barulhentas,se o som não se propaga no vácuo ?

Por uma questão de estética. Batalhas silenciosas no espaço são muito sem-graça.

Se depois do banho estamos limpos, por quê lavamos a toalha ?

Quando esfregamos a toalha no corpo, ela absorve todo o restante de água usado para lavar nosso corpo. Portanto, esta água carrega a nossa sujeira. Assim sendo, a toalha fica, com o passar do tempo, suja, ou seja, impregnada com nossa sujeira, e precisa de uma passadinha pela lavadora de roupas.

Por que quando aparece no computador a frase "Teclado não Instalado", o fabricante pede para apertar qualquer tecla ?

Porque as mensagens de erro do computador possuem um formato que é o seguinte:
[Texto do erro] - Pressione qualquer tecla.

Assim sendo, fica mais fácil fazer com que todas as mensagens de erro possuam a mensagem "Pressione qualquer tecla" depois delas.

E, a propósito, isso é uma LENDA: Não existe BIOS que exiba esta mensagem.

Se Deus fez o homem a sua imagem e semelhança, quem se parece mais com ele, Brad
Pitt ou Tiririca ?


Ambos. É sério! A semelhança do homem com Deus vai muito além do físico. Há muita discussão sobre isso nos círculos religiosos.

Se Deus esta em todo lugar, por que as pessoas olham pra cima para falar com ele ?

Por herança da Igreja Católica, que situou o Céu em cima, o Inferno embaixo e Deus morando no Céu (embora a Bíblia trate Deus como onipresente). Mas as pessoas acreditam mais no padre do que na Bíblia, portanto...

Se os homens são todos iguais, por que as mulheres escolhem tanto ?

Porque, já que elas vão ter que aguentar um cara mala, pelo menos escolhem um que seja bonito ou rico ou inteligente.
Além do mais, escolhendo, elas tem a ilusão de que estão com o controle de alguma coisa...

Por que os pilotos Kamicases usavam capacete ?

Os Kamikazes usavam para segurar os fones e evitar que ficassem desacordados em alguma manobra mais violenta no ziguezaguear entre o fogo antiaéreo antes de atingir o alvo...
Ou então, caso houvesse algum outro acidente com o avião, o Kamicase poderia sobreviver devido ao capacete, e viver para tentar de novo!

Por que a palavra "Grande" é menor do que a palavra "Pequeno" ?
Por que "Separado" se escreve tudo junto e "Tudo junto" se escreve separado?

Pra mim, "Junto" é diferente de "Tudo Junto". E trata-se apenas de uma pegadinha linguística.

Se o vinho é líquido, como pode ser seco ?

A palavra "seco" refere-se ao sabor do vinho. Beba e descubra.

Por que as luas dos outros planetas tem nome, mas a nossa é chamada só de lua ?

Por um padrão astronômico. A lua mais importante é a que orbita nosso planeta, portanto, fica simples o entendimento quando, ao se dizer "lua", entende-se facilmente qual é ela.

Por que quando a gente liga p/ um número errado nunca dá ocupado ?

Porque, se der ocupado, mesmo que no número errado, você diz: "Ah, fulano deve estar ao telefone". Desliga e tenta de novo. Na próxima tentativa, é muito mais provável que você acerte o número e fale com a pessoa desejada, sem perceber que discou um número errado anteriormente. Portanto, essa afirmação é FALSA.

Por que as pessoas apertam o controle remoto com mais força, quando a pilha esta fraca ?

Psicologicamente, o ser humano quer influenciar, de algum jeito, no funcionamento do controle, além de querer descarregar sua frustração no mecanismo defeituoso. A maneira mais primal e básica do homem fazer uma coisa funcionar é através da força física, portanto é por isso que ele aperta com força o botão do controle remoto, do elevador, etc.

O instituto que emite os certificados de qualidade ISO 9000 tem qualidade crtificada por quem ?

Por ninguém, pois isso não é necessário por consenso das empresas certificadas pelo ISO 9000, que não questionam a avaliação da ISO. A propósito, quem emite a ISO 9000 é o Inmetro/ABNT, os criadores da ISO 9000.

Quando inventaram o relógio, como sabiam que horas eram, para poder acertá-lo ?

Através de vários outros mecanismos, como um relógio de sol, ampulheta, a posição das estrelas...

Se a ciência consegue desvendar ate os mistérios do DNA, porque ninguém descobriu ainda a formula da Coca-Cola ?

A Coca-Cola detém TODO o conhecimento científico de sua fórmula, inclusive do composto ativo usado no refrigerante. Se, por exemplo, a Pepsi analisar a Coca-Cola, encontrará vários elementos no refrigerante, mas um (ou mais) será desconhecido: isso acontece porque NINGUÉM na comunidade científica tem acesso a este componente, portanto ninguém o conhece para poder reconhecê-lo na Coca Cola.

Como foi que a placa "É Proibido Pisar Na Grama" foi colocada lá ?

Andando sobre a grama. Ora, você realmente respeita essas placas?
Além do mais, outro método seria o de colocar a placa ANTES de plantar a grama.

Por que quando alguém nos pede que ajudemos a procurar um objetoperdido, temos a
mania de perguntar "Onde foi que você perdeu" ?

Porque, sabendo a partir de onde a pessoa está dando falta do objeto, a procura fica mais limitada e, portanto, mais fácil. Não se perde tempo procurando em lugares onde a pessoa sabia que estava com o objeto.

Porque as pessoas ficam impressionadas de encontrar as coisas sempre no último lugar em que procuraram?

SEMPRE será o último lugar. Imagine que uma pessoa perdeu um objeto. Ela procura no local A, B e C, e encontra no local C. Ela diz: "Uau, foi no último lugar que procurei!".

Agora, imagine que ela procura no local A e B, mas encontra o objeto no local B, sem passar pelo C. Ela dira: "Uau, foi no último lugar que procurei!".

Em resumo, quando a pessoa acha o objeto, pára de procurar, fazendo com que o local onde o objeto estava torne-se o último local de procura.

Por que tem gente que acorda os outros para perguntar se estavam dormindo?

São pessoas sacanas que não respeitam o sono alheio. Ou pessoas que pensam (coerentemente) que gente deitada de olhos fechados possa estar apenas matando o tempo.

Se o Pato Donald não usa calças, por que ele amarra uma toalha na cintura quando sai do banho ?

É um recurso artístico dos quadrinhos para indicar que Donald saiu do banho. Caso contrário, não haveria diferença entre um Donald pelado e um Donald saído do banho.

Porque o Pluto não consegue falar se todos os outros bichos do desenho conseguem?

Os outros bichos da Disney personificam seres humanos, com voz, pensamento linear, etc. Pluto personifica um cachorro, que não fala nem pensa como humano.

Piada Nerd

2002-05-29 19:33:00 +0000

Existem 10 tipos de pessoas. As que conhecem dígitos binários e as que não conhecem.

Simples

2002-04-30 17:44:00 +0000

"Quando a polícia perguntou Jesse James por que ele roubava bancos, ele simplesmente respondeu: 'Porque é lá que o dinheiro está'."

(Li no site do Sine909)

Nunca diga nunca

2002-04-11 12:40:00 +0000

"E é por isso que o Raimundos nunca vai se acabar" - Rodolfo, no primeiro disco da banda

Definição

2002-04-10 14:08:00 +0000

Ontem eu finalmente consegui descobrir uma definição decente do que é arte.

"Arte é uma coisa que todas as definições sobre ela são incompletas"

Experiências com GHB

2002-04-08 20:20:00 +0000

Drogas são foda. Agora é o GHB, a chamada "droga do amor", que começa a chegar ao Brasil.

Com efeitos similares aos do álcool e podendo ser encontrado em forma líquida, inodora e incolor, facílima de confundir com água, o GHB é perfeito para os estupradores: misture de 3 a 5 gramas da droga com a bebida da vítima para induzir um sono pesado, como o de quem desmaiou de bêbado. Erre a dosagem em uma grama e você pode causar overdose e morte.

Até aqueles sites especializados em informações sobre drogas para uso, er, "recreativo", fazem um tanto de alertas para o uso do GHB. Não são poucas as overdoses relatadas e tem também este caso de uma menina que morreu ao ter GHB misturado na sua bebida.

As overdoses relatadas são particularmente interessantes de ler, pela opinião final dos caras que escreveram. Fiz questão de traduzir para que vocês dêem uma olhada na burrice juvenil dos dias de hoje:

"Foi em um acampamento, na Burningman 96. Oferecemos GHB a um amigo pela primeira vez. Ele tomou uma dose de 2,5g (ele era meio gordinho) e gostou bastante. Uma hora e meia depois ele decidiu tomar outra dose mas infelizmente acabou pegando de um vidro diferente de GHB, com uma concentração muito diferente da droga. (...) Estima-se que ele tomou um adicional de 8 gramas em vez dos 2 gramas que pretendia tomar.

Rapidamente ele sentiu-se mal, vomitou, ficou incoerente e desmaiou. Logo apos o desmaio, começou a convulsionar, os braços, pernas e barriga tendo espasmos. Por sorte, havia um médico e equipamento disponíveis (...). Quatro horas depois, ele já estava semiconsciente e sete horas depois, estava acordado e conseguiu se arrastar até a sua barraca. (...)

Nota: Se a venda de GHB fosse legalizada (...) é bem provável que o vidro de GHB estivesse etiquetado corretamente e com informação de dosagem."

(E se você usasse o cérebro que tem, não jogaria a culpa na ilegalidade do GHB)

"Então, uns 2 anos depois num grande festival, um indivíduo que tinha experiência com GHB foi visto entrar cambaleando no acampamento, onde ele desmaiou. Já haviam tido vários momentos no fim de semana onde pessoas que tomaram GHB foram encontradas dormindo em suas barracas, com saúde aparentemente normal, mas que não puderam ser acordadas de jeito nenhum. De qualquer forma, as pessoas que ajudavam o indivíduo desmaiado encontraram uma grande ferida sangrando em sua perna... ferida que ia até o osso. (...) era interessante notar que ela não mostrava reação nenhuma quando sua ferida era limpa e curativos eram feitos. (...) Aqueles que se preocupavam com a pessoa escolheram chamar paramédicos para cuidar dela. Ela acordou 2 horas depois no hospital e estava bem brava pelo fato de que os paramédicos foram chamados".

(Da próxima vez eles te deixam morrer, então)

"Durante um grande camping, no mesmo verão, um membro do acampamento retornou tarde da noite, após ter sumido por todo o dia, contando que tomou uma pequena quantidade de 1,4B e acordou no hospital (...). Ele não se lembra de nada antes de ter tomado o 1,4B até acordar amarrado em uma cama de hospital com médicos enfiando um tubo traqueal na sua garganta (...).

Quando ele recebeu a conta do hospital ele descobriu que foi levado ao hospital de helicóptero, fato do qual não se lembra e que resultou numa conta de mais de US$ 7.000"

(Que coisa hein... você "viajou", "foi ao céu", mas não se lembra... )

"(Sendo levado para o hospital, uma pessoa tendo overdose de GHB) (...) aspirou o próprio vômito e seu amigo teve que parar o carro para limpar suas vias aéreas e checar sua respiração. O som da respiração dele era horrível. Claramente ele havia inalado muito líquido e era como se ele estivesse respirando através de lama."

Por isso tudo aí, vai lá, vai pras raves e se entupa de química. Seja feliz.

Esta noite eu sonhei com a Morte

2002-03-19 14:18:00 +0000

Meus sonhos geralmente são bem esquisitos e sem sentido, normalmente só sem sentido. Mas essa noite foi diferente...

Estava em uma casa. Sabia que estava no Japão, não me perguntem por quê. De repente escuto um estrondo, olho pela janela e vem vindo uma nuvem de poeira imeeeeensa, cobrindo os prédios mais altos. Aí o chão começa a tremer. Era um terremoto, "a ilha vai sacudir", disse. Da janela dava pra ver os prédios cambaleando e desabando, e a casa onde eu estava começou a cair para o lado. Eu me segurava numa coluna e gritava para o resto do pessoal que estava comigo (não me lembro quem era) para segurar firme e ficar afastado das janelas. De repente, lembrei-me da minha vó, não me perguntem por quê. Era a minha vó por parte de pai, que já morreu tem mais de 10 anos. Corri para o quarto ao lado e lá estava ela, sentada numa cama. Ela me olhou com uma cara assustada, eu disse: "Vó, que bom que você tá bem". Passei por ela e fui até a janela pra ver o estrago.

Quando olhei para trás... não era mais minha avó. Era a MORTE. A Morte mesmo, com capuzão preto, cara de caveira e foice. Mal tive tempo de reagir do susto e a foice da Morte voou no ar e me acertou. Caí no chão agonizando de dor e medo, e entendi o que tinha acontecido: a Morte tinha se disfarçado de vó. Ou vice-versa. Só sei que eu me senti extremamente traído naquele momento, além de estar muito, mas MUITO assustado. Cê já viu a Morte de frente? Não queira. E quando ela me bateu com a foice, a lâmina voando no ar dava uma certeza aterradora de que eu ia morrer naquele exato momento. A sensação era MUITO real.

Enquanto eu me arrastava no chão, a Morte pulou pra cima de mim e segurou meus dois braços, e eu lá desesperado e com o coração disparado. Sabe aquela hora que você sonha e tem aquela sensação horrível que não consegue se mover, mesmo tentando com toda força? Era a mesma coisa. E a cara de caveira da Morte ali, na minha nuca. E eu tentando gritar mas a voz não saía, paralisada de medo.

Acordei, com meus próprios solavancos e gemidos. Eram 4:30 da manhã...
Bem que podia ter sido a morte sorridente das revistinhas da Mônica, ou do Sandman...

Crianças mortas

2002-03-14 14:15:00 +0000

O post da Beta me lembrou uma coisa...

Eu sempre tive uma paixão mal-resolvida por medicina e tal. Mas nunca tive coragem de encarar o vestibular, aí fui mexer com computador mesmo. Daí, outro dia estava na casa do primo, cujo irmão é médico recém-formado (e foi convocado pra servir o Exército na Amazônia, coitado), e dei de cara com um livro de obstetrícia. E enquanto ouvia um dos discos do Galaxy 500, folheava o livro e via a parte de gravidez incompleta, descolamento de placenta, aborto, essas coisas.

Cheguei numa parte que dizia possíveis métodos para a retirada de um feto morto de dentro do útero. Mal pude acreditar no que eu lia... os métodos eram:

Quebrar a clavícula ou a bacia do feto e retirar (pra ele passar com facilidade). Se não me engano eram esses os ossos.
Decapitar o feto, já que a cabeça é o que dificulta mais a saída
Esquartejar (isso mesmo) o feto, partí-lo em pedaços e retirá-los.
E por último, os piores: esmigalhar o crânio do feto pra ele poder passar ou simplesmente perfurar o crânio e sugar o cérebro pra reduzir o volume intracranial.

É claro que você pode pensar pelo lado de "é apenas um corpo sem vida", "você faz a mesma coisa com frangos na hora do almoço", mas me desculpem, eu ainda não me desvinculei tanto assim da cultura ocidental que considera bebês a coisa mais linda e frágil do mundo. E talvez eu, que me orgulho da minha grande capacidade de conseguir desvincular completamente o meu lado emocional quando necessário, me considerei inapto para a medicina.

Jardinagem é melhor. Lá o esquartejamento chama-se apenas "poda".

Humanos... (ou: Momento Tolerância Zero)

2002-03-13 19:14:00 +0000

Estou rachando de rir aqui do Diário de Bordo do Morango e as enquetes sobre sexualidade. Sente o drama:

Por que eles preferem as burras?
Roberto Vieira, Marketing: "Mulher já dá muito trabalho, mulher inteligente dá o dobro de trabalho. Para uma burra você já precisa se explicar bastante, imagina para uma inteligente..."

Comentário do Primo: Mulher dá trabalho? Vire gay, ora!

Por que as mulheres adoram preliminares?
Denise, empresária, 30 e poucos: "As mulheres adoram o "pres" porque além de turbinar a vontade de transar, dá a sensação de que o homem é apaixonado por ela, acha que ela é uma delícia."

Comentário do Primo: Tá, o importante não é o cara ser realmente apaixonado, é só gastar uns 10 minutos apertando aqui e ali, só pra mulher ter a (falsa) sensação de que o cara é apaixonado. Bela ilusão consciente essa.

Por que os homens gostam de sexo oral?
André Abujamra, músico: "Por que é quentinho"

Comentário do Primo: HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!

Por que elas fingem orgasmo?
Adriana Gama, estagiária: "Porque são idiotas!"

Comentário do Primo: Finalmente uma resposta sensata.

Angela Dip, quarentona: "Porque vivemos num mundo de aparências..."

Comentário do Primo: É verdade. O presidente do Brasil devia ser o Paulo Zulu então.

Kika Salvi, Expert em sexualidade: "Algumas fingem para se livrar logo da transa sem ter que ficar explicando porque não rolou, convencendo o homem de que ele não fez nada de errado (embora muitas vezes ele possa ter feito). Ou para não ferir a auto-estima do sujeito, se ela gosta dele, e não parecer exigente demais. Ou por falta de intimidade. Ou para mostrar que é uma mulher quente, que cumpre seu propósito orgásmico"

Comentário do Primo: Propósito orgásmico foi a melhor... e se você quer se livrar da transa, porque começou? Dane-se a auto-estima do cara, oras, vira pra ele e fala "não foi culpa sua" ou "foi culpa sua". Se ele vai chorar ou não vai acreditar, o problema é dele.

Por que eles não encontram o ponto G?
Conde Chiquinho Scarpa: "POR QUE OS HOMENS NÃO ENCONTRAM O PONTO G? ANTES ENCONTRAVAM; HOJE NÃO MAIS, PORQUE VIROU pontinho g DE TANTO USAREM"

Comentário do Primo: Não é atoa que esse cara 1) Foi casado com a Carola 2) É gay

Por que elas preferem homem com carrão?
Segundo Tânia Freitas, manicure:: "Porque é como um segundo pinto..."

Comentário do Primo: Uau, eu tenho um pinto que é uma Fiesta e não sabia.

Segundo Luisa Matsushita, 16 anos: "Por que às vezes o homem só tem isso para oferecer..."

Comentário do Primo: Tá, mas de quê isso serve??

Por que elas fazem frescura para transar na primeira vez que saem?
Elaine Rodrigues, Diretora do iGirl: "Ah, porque é uma delícia o jogo da sedução! Você provoca e na hora H faz aquele charme deixando o cara cheio de tesão. Se você for interessante e gostosinha ele não vai pensar duas vezes em investir novamente, amiga!"

Comentário do Primo: "Sedução", mais um emocionante jogo da Grow. Ah, pára com isso: lembre-se que, enquanto você está planejando sua próxima manobra do joguinho, o seu pretendente não vai perder a oportunidade de pegar aquela sua amiga que se apresenta dizendo "Oi, eu sou a Fulana e estou sem calcinha".

Por que eles preferem as mulheres mais novas?
Guilherme Korte, repórter na China (literalmente): "Quem não gosta de um delicioso pudim, saindo do forno, chegando à sua frente?"

Comentário do Primo: Err... putz, o comentário desse cara foi tão inteligente que eu nem sequer entendi.

Saites em fresh

2002-03-07 15:40:00 +0000

Odeio sites em Flash. Eu nunca consegui aprender Flash porque não vejo algo útil para ser feito em Flash. Adoro sites que possui um link do tipo "pular introdução", ou "versão sem flash".
Aliás, paginas (como a da Telemar) que possui dois links, no início da pagina, que dizem: "Pagina em HTML" e "Página em Flash". Eu não consigo entender...quem que iria clicar no link "página em Flash"? Pra quê? Pra ficar mais fácil? É legal ver as animaçõeszinhas? Eu gosto de esperar a página carregar? Hoje eu tou feliz e quero ver a página em Flash?
Ah...

Profético!...

2002-02-22 15:28:00 +0000

"Jogos de computador não afetam crianças. Se o Pac-man tivesse nos afetado quando éramos crianças, hoje em dia estaríamos todos badalando por salas escuras, engolindo pílulas mágicas e escutando músicas eletrônicas repetitivas..."

(Kristian Wilson, Nintendo Inc, 1989)

Fonte: a ótima coluna do Lúcio Ribeiro, na Folha: Pensata

Post de carnaval

2002-02-11 06:12:00 +0000

Tamos aí, feriadão... como diria o João Gordo, "carnaval, gente morrendo nas estradas, pegando AIDS, bebendo até vomitar"...

Até agora minha contagem de "músicas-lixo-carnavalescas" está em apenas um... por culpa de uma vizinha que ouve funk às 9 da manhã. Só vi um pouco do desfile das escolas de samba por acidente, na casa de um amigo, e olhe lá...

Carnaval é foda. Odeio carnaval com todas as minhas forças. Uma festa onde o governo tem que fazer campanha pra usar camisinha, onde a polícia tem que "fiscalizar" quem festeja, onde morre gente, onde gente fica grávida sem querer, pega AIDS, é esfaqueada, assaltada, estuprada, morre na estrada... uma festa com isso tudo ainda assim é boa??

Momento "Primo Drummond de Andrade"

2002-01-25 14:18:00 +0000

Se você for para a cama comigo
Eu jamais vou me esquecer...
(De apagar a luz
Pra ver menos da besteira que estou fazendo)

Na manhã seguinte, ao ver você dormir
Vai ser difícil me conter...
(Vou ter que sair correndo
Pra não ter que encarar a realidade)

Dias e dias vão se passar
E não vou parar de pensar em você...
(Por causa da consciência pesada
E do pensamento incômodo: "como tive coragem!")

E se depois eu te encontrar
Meu coração vai disparar...
(De medo
De você ainda querer alguma coisa comigo)

Post da madrugada

2002-01-04 05:20:00 +0000

A melhor hora do dia pra mim é a madrugada. É onde eu produzo melhor, onde eu me sinto melhor. Daí hoje eu descobri porquê.

É porque eu estou sozinho.

Talvez por saber que o telefone não vai tocar, que o meu próximo compromisso é só daqui a mais de 6 horas... daí eu tenho uma sensação diferente de "eu estou sozinho". É quando eu posso fazer o que quiser, pensar o que quiser... é quando eu me encontro. E aí a coisa flui e eu começo a funcionar em 100%.

Me dá medo o egocentrismo desse pensamento, mas não dá pra fazer nada: eu sou assim. Solitário. Só que eu tenho que aprender a ser o contrário, senão eu vou morrer como um ermitão sentado na Serra do Cipó, comendo matinho. E eu nem gosto de mato, pra falar a verdade.

Frases

2001-12-28 05:37:00 +0000

"Ser ou não ser o quê, Hamlet?"

Jô Soares

Gastando meu tempo (no supermercado)

2001-12-28 05:36:00 +0000

Música para supermercado é Roxette...

Neste mês, fui no supermercado e, nas 3 vezes que fui, o que estava tocando de fundo? Roxette!

...and i'm spending my tiiiiime! Uhooouhooooou....

Ah ném...

Macaco DJ (ou: manifesto de um fã de MP3)

2001-12-27 14:02:00 +0000

Agora eu fiquei puto. Eu não sabia que o José Simão era DJ. Hoje em dia qualquer babaca que coloca um fone de ouvido sai por aí se dizendo DJ... afinal, está na moda. Do jeito que a coisa vai, daqui a pouco o Jornal Nacional vai ser encerrado com um "set" especial do DJ Cid Moreira.

Lembro do dia que vi uma tal de Denise Konzen no site de ensaios fotográficos sensuais The Girl. O link dizia: "Veja a sensualidade da modelo e DJ Denise". É foda. Depois que ser DJ ganhou um status de "coisa cool", todo mundo quer ser um. O pior são os filhinhos de papai que tem acesso à conta bancária do velho e torram centenas de dollars em vinil comprado na Groovenet.com e num mixer com contador de BPM (sem ele esses DJs não são ninguém). Daí esses mesmos filhinhos de papai vão num site tipo o Rraurl (que eu nunca gostei) e votam, para "mico do ano", nos DJs de MP3.

É engraçado, o nível de picaretagem por gênero musical nunca me incomodou. Eu faço piada com os "rockers fajutos" tipo Bon Jovi, encho o saco de quem gosta de pagode/axé e similares, mas tudo sem estresse. Mas quando eu vejo os picaretas da música eletrônica, isso me talha o sangue. No meio de toda a minha tranquilidade libriana, eu fico putíssimo de cuspir marimbondo.

Portanto, ouça mundo: eu sou brasileiro, mineiro de dizer "uai", classe média graças a meu bom Deus. O dinheiro que eu ganho é pra ajudar a pagar as contas da casa, não pra ficar torrando em vinil e comprimidos de "e". Por isso sou, orgulhosamente, DJ de MP3, e se você não gosta disso, vá tomar no cu. Eu gosto é da música e não me importo se ela vem do vinil ou do CD ou da Internet.

E a todos os músicos que encaram música como um negócio, principalmente à todos os produtores de dance music xarope, de filtered disco da moda, a todos os músicos que acham que o Napster e seus filhos são coisas ruins, vocês deviam é queimar no inferno. Música é pra ouvir, é pra emocionar. Música não é pra dar lucro. "Ah, mas o seu projeto musical dos Cousins vendeu CDs também!". Claro que sim, vendeu seis CDs gravados a R$ 5 num evento de rock independente em uma cidade do interior mineiro, e todas as músicas do CD podiam ser pegas de graça no nosso site. E sabe o que nós fizemos com o "lucro" desses CDs? Gravamos mais CDs com coletâneas legais de MP3 e demos aos nossos amigos!

Pronto, falei.

Sonhos mutantes do Zé

2001-12-11 12:12:00 +0000

Hoje à noite foi legal: sonhei que estava num restaurante a quilo. Quando olhei pro buffet, havia um bebê no meio do vinagrete. Andei até lá e, enquanto retirava o bebê, um homem em uma mesa próxima gritou comigo e disse que o bebê era pra ficar ali mesmo. Era um homem grande, gordão, tipo aqueles tios velhos mal-humorados de 60 anos. Tirei o bebê, ele tomou-o da minha mão e colocou de novo no vinagrete.

Psicanalistas leitores deste blog, por favor mandem-me um email e me digam se eu tenho salvação ou se é só com Prozac mesmo.

Mente ociosa é isso aí

2001-12-10 20:27:00 +0000

Estava eu no site Friends 24 horas e pensando:

"Esse guia de episódios é completo? Com TODOS os episódios incluindo foto, sinopse e curiosidades?? Putz, que bando de gente atoa"

"Ei, os nomes dos episódios tem a numeração e o nome, tipo 207 - The one with bla bla... 207 é temporada 2, episódio 7..."

"Qual será o episódio 303? Vou ver..." (Nota: 303 é um conhecido número na música eletrônica, por fazer referência a um sintetizador da Roland chamado TR-303, base de muita produção de música eletrônica)

"Uau! Que massa! 303 - The one with the jam!!! Vou ter que fazer uma música com esse nome... perfeito! Jam, 303... posso samplear o episódio, a música de abertura... fazer um tributo à Friends! Sim, claro! Afinal, os Cousins gostam de Friends, nada mais justo..."

Fantááástico!!

2001-12-05 21:30:00 +0000

Computador em japonês é konpyuutaa!!!

Mas veja bem:

2001-12-05 21:26:00 +0000

Tem muito tempo que eu não blogo.
Estaria a minha vida desinteressante?
Estaria eu perdendo a vontade de compartilhar com o mundo (na verdade só umas 12 pessoas) o que acontece comigo?
Estaria eu tão atolado de trabalho que acabo esquecendo do lazer?
Seria este o começo do processo de massificação que faz com que as pessoas se tornem véios ranzinzas decrépitos que só sabem resmungar o dia todo e falar mal da vida?
Estaria eu me acomodando e deixando-me absorver pela rotina de modo que a maior novidade das minhas semanas é quando um pneu do carro fura ou quando o site da Telemar não entra de jeito nenhum?

Mentira... tem coisas legais sim. Comecei a procurar cursos de japonês online. Cismei de aprender alguma coisa de japonês. "Nihon-go", ou seja a língua japonesa.

Japonês é do caralho. Não tem ponto de interrogação, sabia? As frases terminam com "ka" pra indicar que é uma pergunta... "bom dia" é "O hayou gozaimasu"...

Watashi wa Tinoco José desu. Hajimemashite. (Meu nome é José Tinoco, muito prazer!)

Estou ficando doido mesmo...

Putz!!!

2001-12-04 17:36:00 +0000

Retirado da Veja:
"O roqueiro Roger Rocha Moreira, do grupo Ultraje a Rigor, tem 44 anos e QI 172"
"A atriz Sharon Stone, que sempre é lembrada pela cruzada sensacional de pernas que dá no filme Instinto Selvagem, entrou na universidade aos 15 anos de idade e tem QI 154"

Quem vê cara não vê cabeção.

Verdade universal

2001-11-19 21:31:00 +0000

Depois de muito filosofar, cheguei a uma conclusão:

A culpa é a maior influenciadora no comportamento do ser humano.

Hate post

2001-11-19 17:27:00 +0000

Sabe... tem horas que eu odeio o mundo.

Quando leio isso, por exemplo. Ou isso... isso... isso... isso... tem também isso (tirando a do Paul McCartney, que é verdadeira)...

Será que eu estou agindo muito mal quando espero um pouco mais de maturidade das pessoas?

Smiles! (Não, não é o programa de milhagem)

2001-11-16 19:35:00 +0000

Eu prefiro mil vezes bater papo com os faxineiros e zeladores do meu serviço do que com os colegas de trabalho. Ironicamente, o papo é muito mais sincero e proveitoso. E os sorrisos são de graça e de verdade.

Hoje, em homenagem à proclamação da nossa (a despeito de tudo de ruim que rolou) gloriosa e majestosa nação, comemorada ontem, não trabalharei p_rra nenhuma hoje :)

Ficarei ouvindo meus emipetrês... meus post-rocks... meus psychobilly/cow punks... meus sambinhas indies.

Falando nisso, eu sou um cara muuuuito calmo, mas tem duas coisas idiotas que me irritam muito: fone de ouvido com mal contato e caras que gastam milhares de reais no som do carro só pra ouvir pagode.

Não sei porque disse o que disse acima, mas azar, hoje é feriadão e me enfurnaram aqui no serviço, então estou fazendo catarse no blog, pra variar.

Mas eu troquei foi num Fiesta...

2001-11-14 20:05:00 +0000

Vou trocar o meu carro...
vou trocar numa Renault.
Ou... (ou ou-ou ou, ou...)
Ou senão num Peugeot, pará pa para pá...

(Otto, Renault-Peugeot)

Não sei porquê, mas eu adoro essa letra.

O trabalho é uma morte lenta

2001-11-08 12:22:00 +0000

No exato momento em que meu carro entrava no estacionamento do serviço, Thom Yorke gemeu, no CD Player:

I'm not heeeeeere...

Sortudo.

Frases

2001-11-01 18:54:00 +0000

"Se não quiser trabalhar com povo reclamando, tem que ser médico legista mesmo..."
(Gabriel Yamada, amigo e filósofo)

Horóscopo funciona...

2001-10-31 21:21:00 +0000

Eu não devia ter escrito o post abaixo. Foi só ler pra me arrepender. Nhaca. Desculpem, caros 12 leitores regulares deste blog.

Horóscopo funciona?

2001-10-31 21:19:00 +0000

Sou libriano, de nascença, hehe! O Primo Luiz também.
Tou sem saco pra trabalhar, então resolvi passear pelos horóscopos online e rir das contradições.

A revista Planeta descreve bem o meu signo e, coincidentemente, como eu sou: racional, ponderado, indeciso, senso estético e de justiça, afinidade com a beleza e harmonia. A revista ainda fala que caras fodassos, como o Gandhi, John Lennon, Nietzsche, e Liszt eram librianos. Mas vamos ao horóscopo do dia...

Segundo o Terra, estou volúvel hoje. Surpreendentemente, o Sapo (em Portugal) me diz algo parecido, diz que eu estou conflituoso e posso "ser levado a pensar" que alguém não me entende claramente.
Mais surpreendentemente ainda, o horóscopo da Folha Online também fala de conflito, de turbulência no ar e minha cabeça travando. Queisso, minha cabeça é Linux, trava não. Depois, pela primeira vez na vida, entrei no site da AOL atrás do horóscopo. Depois do site tentar entupir meu Opera de cookies, ele também fala pra agir com cautela, exceto na vida amorosa. Qual, que eu não sei?

Tou assustado já, porque os horóscopos continuam "sincronizados"! O da revista Tititi (AAARGH!) também fala de confusão. A coisa ameniza no DiáriOnline, um jornal da região sul, que só me adverte pra ficar esperto com dinheiro. A primeira contradição feia vem só no Jornal do Comércio. Diz que meu raciocínio está mais claro e objetivo. O Chacras, do Estado de Minas, vai na onda e diz que é um bom período para reequilibrar minha auto-imagem. Mais baboseira também no JB Online, indicações positivas para os relacionamentos... tou vendo.

Ah, achei também coisas toscas, como o horóscopo do sexo e o horóscopo do motorista... do jeito que a coisa tá, já já sai o horóscopo do blogueiro:

Libra - Deixe aquele post criticando aquele seu amigo de lado, a lua em Marte faz o seu código HTML ficar muito aberto nesse período. Saturno também pede cautela com cores de códigos hexa maiores que #3344FF...

Ah...

2001-10-30 13:10:00 +0000

O doce cheiro de sabonete pela manhã...

MULHER PERFEITA

2001-10-29 21:23:00 +0000

Um amigo meu definiu a mulher perfeita:

"Mulher perfeita é a Mística, dos X-Men, que pode ser todas as mulheres ao mesmo tempo."

Mondo Bizarro (a.k.a. os Cult Cuzão)

2001-10-26 12:43:00 +0000

colaboração de Leandro Barros

Já faz um tempo que eu e um colega de serviço ficamos definindo um tipo de pessoa cult carinhosamente batizada de cult cuzão. É aquele cara que se diz o mais indie, o mais foda, o menos mainstream, o que fica falando horas da coleção de discos dele e que no fundo não gosta da música, mas do status de ser "diferente". Só que ele é diferente igualzinho um tanto de outros cult cuzão que existem.

E tem a pior das aberrações vindas dessa laia: o ódio xiita e a cabeça completamente fechada (quando deveria ser a mais aberta) a todas as bandas do mainstream e até as que saíram do underground e foram para o mainstream. Daí veio a célebre frase: Eu odeio essa banda (mas ia adorar se fosse obscura)

Imagina se Britney Spears fosse obscura...os cult cuzão iam se cruzar na rua e conversar: "queisso, eu tou com o disco novo do Sonic Youth lá em casa mas não consigo tirar o novo da Britney do meu discman, eu escuto o dia inteiro! Nó, 'hit me baby one more time' é um all-time classic, aquele sex appeal da Britney fazendo contraste com sua cara de menina virginal, é uma coisa quase barroca! É arte!!".

No London Burning, o mestre dos cult cuzão, Luciano Viana, escreveria seus reviews:

Britney Spears faz um pop seminal e inocente, bem emocional e ao mesmo tempo dançável, e está super valorizada nas pistas de londres pelos mais inteirados. escute o clássico "baby one more time" e vc vai se sentir com o coração partido. misturando uma certa influência eletrônica com a tradição de baladas das últimas bandas da inglaterra, Britney veio para ficar"

Daí a Britney viria fazer um show na Obra... seria a noite do ano, os DJs antes do show iriam mixar Pulp com N'Sync (que também seria obscuro), e bem de madrugada ela começaria o show... a platéia em êxtase, todos os cult cuzão coçando a barbicha e as costeletas, com aquela cara de "estou analisando o show", e a Britney mandando ver:

Oops, I did it again... I play with your heart...

No dia seguinte os cult cuzão iriam mandar emails para as listas de discussão, falando horrores do show, elogiando o sex appeal barroco da menina e chamando ela de revolucionária, de state-of-the-art, de ícone indie. A dancinha das backing vocals da Britney iria ser dançada por multidões nos after hours da Obra, os cults iriam se entreolhar enquanto dançam, pensando "uau, você também esteve naquele show!"... todos se sentindo os diferentes...

O sentido da vida (nas mensagens de erro)

2001-10-19 17:43:00 +0000

Como diria aquela filósofa moderna...Isn't it ironic? Don't you think?

Meu sistema deu erro e me mandou email avisando. A mensagem era:

SL1Interface - - - 19/10/01 14:35:47 - Interfaces.Pesquisar - 19 - ccloeci - resource shortage (Abend Code:AZI6)

É... queira ou não essa mensagem fez muito mais sentido do que a maioria das coisas que as pessoas me falam.

Salty son

2001-10-18 11:51:00 +0000

Salgado Filho...

Esse é o nome de bairro mais canibal que já vi.

Alguém que chorou

2001-09-27 13:49:00 +0000

Ontem à noite, num sinal de trânsito, eu vi uma mulher chorando, no carro ao lado do meu.

O porquê do choro eu nunca vou saber. Talvez fosse o marido cafajeste, um desgosto com os filhos, algumas amigas falsas, um emprego perdido...podia ser tanta coisa...

Eu nunca vi aquela mulher nem nunca mais verei, mas numa crise de fraternidade eu senti que podia fazer tanto para ajudar aquela pessoa...mas havia uma distância muito grande entre nós. Era um sinal verde.

Frases sobre roubo

2001-09-25 13:07:00 +0000

O homem roubado que sorri rouba alguma coisa ao ladrão (Shakespeare)
Um homem roubado nunca se engana (Chico Science)
A ocasião faz o ladrão (Popular)

Frases

2001-09-21 17:58:00 +0000

"Abstêmio: Pessoa fraca que se rende a tentação de negar um

prazer a si próprio" (Ambrose Bierce)

Constatações duras, mas constatações

2001-09-18 11:50:00 +0000

Acabo de revelar um filme, 36 poses, do meu pai. Eu estava em 2 fotos.

É...é hora de encarar a realidade. Eu sou feio pra caralho.

As mulheres provavelmente se referem a mim como "aquele cara gente boa".

E, só pra eu me sentir um pouco mais loser...a maioria das pessoas chega no meu blog procurando por "Sandy pelada" no Google.

Previsões de Nostradamus que gostaríamos de ver

2001-09-14 15:06:00 +0000

Taí...se o Nostradamus previsse algumas das coisas que acontecem no Brasil:

O sequestro do Sílvio Santos

...tomando primeiro a filha e depois o pai. O vilão matará em segredo e verterá sangue e descerá dos nove céus, mas na manhã seguinte tomará o pai para si. E o conflito só cessará quando o Avatar da província se manifestar...

O sucesso de Sandy e Júnior:

...e o homem de nome choroso projetará seus dois filhos sobre a nação: mas dos dois, quem brilhará será a areia, que jaz intocada pelo mar, e todo o país a desejará...

Perguntas retóricas

2001-09-14 12:18:00 +0000

Por que você tem que responder uma pergunta completamente inútil para participar daqueles concursos? Tipo, "Concurso do Minas Shopping: Responda 'Qual o melhor shopping de Minas?' e envie para..."

E por que tem gente que responde essas perguntas embutindo a pergunta na resposta, como se a falta disso fosse fazê-los errar? Tipo, pro concurso do Minas Shopping, a pessoa responde: "O melhor shopping de minas é o Minas Shopping". Por que que não pode responder simplesmente "Minas Shopping"?!?

O que fazer no fim do mundo?

2001-09-13 17:29:00 +0000

Com essa história toda de catástrofes, eu e meus amigos ponderávamos uma coisa:

Se o mundo fosse acabar amanhã...como você aproveitaria seu último dia?

Parece besteira mas essa pergunta diz muito sobre você. Quer responder?

Reflexões

2001-09-05 21:23:00 +0000

Minha mente divaga...

Dois balões voavam pelo deserto.

Um deles diz:

_Olha o Cactussssssssss...

_Que cactusssssssssssss...

Dois Surfistas Prateados voavam pelo espaço

Um deles diz:

_Olha o Galactusssssssssss....

_Que Galactusssssssssssss....

Meu bom Deus, tenho que parar com esses cafezinhos.

Não conte para as máquinas, mas...

2001-08-21 20:11:00 +0000

Enquanto todo mundo tá com medo dos clones, há um computador que já aprende, como uma criança (sem link, morreu, sorry). Na verdade é uma rede de algoritmos que aprendem o que uma pesquisadora e neurolinguista ensina. Esta "inteligência bebê digital" já tem 18 meses e gosta de banana.

Essa notícia me deixa maravilhado e morrendo de medo ao mesmo tempo.

O risco disso? Segundo a própria reportagem:

"O risco de que as máquinas assumam o poder, como o Hal de ''2001, Uma Odisséia no Espaço'', que deu nome ao computador-bebê, é descartado por esses pesquisadores, que acham que as máquinas serão como humanos, mas não humanos, e estarão sempre do lado dos humanos para ajudar."

Vem cá: a máquina vai aprender como um humano e se desenvolver como um humano. Presumo que, em determinado ponto de sua vida, ela vá aprender que os homens tem medo das máquinas tomarem o controle. Se ela souber que ela é uma máquina e souber que geralmente é bom ter poder sobre outro ser...que Deus nos ajude...

Tribos online

2001-07-31 21:29:00 +0000

Tudo o que eu queria é poder atualizar o blog usando meu browser Opera...cê já usou o Opera? O Opera é o Audiogalaxy dos browsers: pequeno, rápido, de grátis, e eu te amo.

Mas nada interessante hoje, de novo...quer dizer, o Ford Fiesta que comprei sai da concessionária amanhã. Mas isso só é interessante pra mim mesmo...então, vamos à reflexão inútil do dia:

Entre os adolescentes é muito comum termos aquelas "tribos urbanas": mauricinho, punk, nerd, alternativo, clubber...mas como será que eles são em termos de computação?

Mauricinho/Patricinha:

Browser preferido: Internet Explorer fornecido pela AOL...

Computador: Imac, ou um PC de marca (Compaq, Itautec, etc.)

Skin do Winamp: Britney Spears para as meninas e Ferrari F120 para os meninos

O que tem no mousepad: Logomarca de um curso de Inglês/Francês/Espanhol. Isso quando não tem "Planet Hollywood" ou "Hard Rock Café".

Sites preferidos: Afterdark, ObaOba, UOL, AOL, BOL, todos os OL da vida. E as colunas sociais dos jornais online.

Punks e Metaleiros:

Browser preferido: Netscape, pois Internet Explorer é fruto do capitalista podre chamado Bill Gates...

Computador: PC normal. O destaque são os adesivos de bandas colados por todo o gabinete e monitor.

Skin do Winamp: Qualquer uma de banda. Ou alguma com caveiras.

O que tem no mousepad: Geralmente não tem mousepad. Quando tem, ele tem a marca de loja de informática, porque veio de brinde com o computador. E tem sujeira também, pois não é trocado há anos.

Sites preferidos: IRC, Audiogalaxy, e qualquer um que tenha preto.

Nerds:

Browser preferido: Opera, Mosaic, Netscape, qualquer um com versão para Linux (Internet Explorer é considerado um crime)

Computador: No mínimo dois, com todos os números grandes (512Mb de RAM, 100Gb de HD...)

Skin do Winamp: Que winamp? Ele usa é Sonique ou K-Jofol.

O que tem no mousepad: O mousepad é liso, porque é ergonômico, tem almofadinha de teflon para evitar tendinite.

Sites preferidos: Slashdot.org, todos com a palavra "warez" e, eventualmente, playboy.com.

Alternativo:

Browser preferido: Netscape, porque é (supostamente) diferente.

Computador: PC, com placa de som permanentemente tocando MP3 da Banda de Pífanos de Caruaru e outras esquisitices.

Skin do Winamp: Aquelas bem malucas do Radiohead.

O que tem no mousepad: Varia. Pode ser uma folha de maconha, o rosto do Elvis, uma claquete de cinema (com nome de um filme francês escrito nela).

Sites preferidos: Epitonic, SonicNet, coisas sobre cinema francês, marxismo e Mao-Tsé Tung, etc.

Clubber:

Browser preferido: Internet Explorer com NeoPlanet e um skin flúor.

Computador: Imac laranja, ou PC (mas sempre com monitor/teclado/mouse translúcidos)

Skin do Winamp: Qualquer uma com cores flúor.

O que tem no mousepad: "Love Parade 2000". Ou um grande comprimido com um "E" no meio.

Sites preferidos: Fiberonline, Rraurl, coisas relacionadas à baladas e alucinógenos.

Conto

2001-07-20 22:07:00 +0000

_(Snif)...A-alô?

_É da casa do Marcelo?

_(gasp)...n-não...não. Não é.

_Ah, então tá, descul...

_mrmfmn...maldição...mmrnmfm(chuif)...sozinho...mrmmmnnm

_Como é?

_mmhein? (chuif) N-não, não é nada...(snif)...

_Tá tudo bem? Você parece estar chorando...

_Não, é que...tá, TÁ BOM! EU ESTOU CHORANDO DROGA!!!

_Calma! Calma! O que houve?

_É que com o "Marcelinho" todo mundo quer falar, mas comigo...COMIGO...NINGUÉM SE IMPORTA! EU QUERO MORRER!!!

_Ai minha nossa, calma moço!

_BWAAAAAAA!!! Eu sou um excluído do mundo!!!

_Aimeudeus MANHÊÊ! Tem um moço chorando no telefone!!!

_Eu sou filho da ingratidão deste mundo!!! Abandonado (chuif), esquecido!! Amaldiçoado pelos tristes desígnios da sociedade capitalista!!

_Manhê!! Corre, me ajuda aqui!

_Está tudo errado neste país!! As pessoas são egoístas!! O pior dos egoístas é o presidente Itamar!!!

_Er...é FHC, moço...corre, mãe!!

_(chuif) Aquele desgra...hein? Efe agá cê?

_Ué...s-sim, o Itamar já não é presidente há um tempão.

_Quer dizer que...Itamar...não é mais presidente?

_N-não, oras! Agora é o Fernando Henrique Cardoso...entendeu? Efe, agá...

_...cê...sim...SIM, eu entendo!!! Obrigado, minha criança! Agora eu me sinto bem melhor! (Cantarolando) "Mas renova-se a esperaaaaançaaaa..."

_Ufa...pode ficar calmo, moço...Itamar agora é só governador...

_"nova aurora a cada di...", o quê? Itamar, governador?

_É, ué.

_De onde?

_De Minas...

_NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOO!!!!!!!!! MALDITO!!!! BWAAAAAAA!!!!

_Maaaanhêêêêêêêê!!!!!!!!!!!

Foto posada

2001-07-12 21:04:00 +0000

Foto de colunista de revista é uma coisa legal. Os elementos básicos para sua foto de colunista são:

1) Cabeça levemente inclinada para o lado. 30 graus a partir do eixo do pescoço são suficientes.

2) Efeitos e/ou iluminação diferente é bom, mas não essencial. Experimente uma coloração azulada, que cobre apenas 50% da foto. Dá um ar jovial para qualquer Marketeiro.

3) Mão no queixo denota inteligência, use sempre que possível.

4) Sorriso: Nada de mostrar seus dentes perolizados com Colgate. Sorria levemente, como quem diz "eu sou o máximo".

5) Olhe para a câmera como se estivesse convidando alguém para ir ao motel.

6) No fundo da foto deve aparecer algo que tenha a ver com sua profissão: um computador para os tecnólogos, uma mesa de escritório ou livros para os jornalistas, um Macintosh para os designers e publicitários.

7) No rodapé da foto fica o seu nome e suas qualificações. Mas atenção: se você é designer, publicitário ou muito jovem para ser colunista, prefira uma descrição cool, como a que eu vi numa revista da MTV: "Fulano de Tal - Está cansado de dizer quem ele é".

Agora peça sua irmã mais nova pra bater uma foto. Siga as instruções e mate de inveja sua foto da carteira de identidade.

Historinha em homenagem a tela azul que tomei quando ia mandar um post prontinho pro Blog...

2001-07-11 14:28:00 +0000

Inspirada nas geniais histórias do Loser

Dois homens no escritório:
_Mas que M$@(*¨@& de Windows!! Travou de novo!!!!
_Putz...tela azul é uma droga mesmo.
_Porcaria de sistema operac...peraí. Queisso? Ai meu São Cristóvão, corre aqui Francisco vem ver isso!
A tela está toda azul, mas sem a mensagem de erro do Windows. No canto superior da tela o cursor escreve, lentamente:

Hello, chico...

_Queisso Chico!! Isso é aqueles trem de "Ráquer" que apareceu no Fantástico??
_Calma, calma, deixa terminar de escrever...
O cursor continua:

Talk to me, Chico...

_Traduz aí Chiquinho, "talco to mé?"
O celular de Francisco toca. Ele pula da cadeira
_AAAAIII!! Uf...uf...que susto...atende aí!!
_A-alô? Alô? MÃE? Pô mãe, que susto! Peraí que tá dando pau no computador aqui, depois eu te lig...não, mãe, eu quero falar com a senhora mas é que o comp...tá, tchau mãe. *click*. Chega pra lá sô, cho ver essa tela aí.
O cursor manda mais algumas letras:

Your mind is mine...we will take over the world...

_Disneyworld?
_CALABOCA sô, deixa terminar de escrever...

The new generation is born from the silicon intelligence...from this single computer the whole world will perish under our desires...

_Não tou entendendo nada.
_Eu também não. Ah, dá um boot aí.

Iniciando o Windows 98...

Frases

2001-07-01 00:49:00 +0000

Meu amigo e designer Bruno Milagres escreveu num email de uma lista de discussão duas frases geniais de tão sensatas.

Radiohead é do bom e velho caldeirão indie pseudo-intelectual criativo que se diz anti-pop.

Pop ou não: Independente de ser pop ou não quando a música é boa deve ser aplaudida.

Essa do caldeirão foi fantástica. Ponto para o Bruno!

Tortoise

2001-06-27 15:11:00 +0000

Outro dia saiu no London Burning uma coluna do Luciano Viana falando do Tortoise. A matéria foi tão estúpida, patética e baseada em fatos nenhuns, que eu até fui xingar o Luciano no fórum deles.

Mas hoje eu li esta coluna, do Eduardo Fernandes, e estou chorando de rir! Ponto pra ele.

Aproveitei e passei o olho no fórum...palavrões, palavrões, banda xis não é indie, banda ipsilon é indie, Zé Ruela quer ser indie, ser indie é isso, ser indie é aquilo...legal né, "padrões para ser indie". Todas as vezes que eu vou na Obra ou vejo show de coisas "underground" ou "indie" (notem as aspas), eu percebo um monte de gente amontoada, batendo cabeça, sem saber direito o que estão fazendo. Gente que só está lá pra não ficar em casa assistindo TV, porque assistir TV não é "cult". Parece que todo mundo tá fugindo ou desorientado, amontoando-se neles mesmos para não caírem. Gente que desce o pau na Sandy porque ela é "estrelinha pop, produto da mídia", mas que na verdade faz isso porque, lá no fundo, queria, pelo menos um pouquinho, se permitir viver uma felicidade brega ouvindo "as quatro estações" e olhando pra beleza virginal da Sandy.

É, as brigas do fórum só refletem as brigas com eles mesmos.

Putz

2001-06-26 21:49:00 +0000

Saiu uma tal de revista Putz! aí. Foi uma boa iniciativa, tem coisas legais, como a matéria (nada inédita) sobre o Skim (do site skim.com) e tudo o mais. Mas três matérias que li me deram náusea.

Uma sobre o filme do Homem-Aranha, herói definido por eles como "um Dawson's Creek com superpoderes". Juro! Tá lá na matéria.

E outra sobre o Bob Burnquist, o skatista brasileiro que é campeão mundial de vert. Segundo a matéria, "[Burnquist] virou personagem de videogame e esnobou o patrocínio da Nike… Definitivamente, não parece currículo de atleta brazuca!"

Bela valorização do atleta brasileiro, hein revista Putz! Que dureza...

E ainda tem mais uma sobre a onda "quero virar DJ". Ah nem, viu...e o slogan da revista diz que ela é "para quem quer alguma coisa diferente". É, eles tacam mulher pelada e uma ou outra matéria sobre política ou ecologia, e falam que são diferentes. Eles deviam ler a Veja...