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Windturn No More

2007-03-16 02:57:00 +0000

Tá bom, é o terceiro post seguido sobre Windturn City... mas meus instantes finais por lá foram peculiares:

Logo depois do almoço fui até o quarto da hospedaria para terminar de arrumar as malas. Liguei a tevê na Globo (ou melhor, TV Vanguarda) e qual não foi a minha surpresa ao ver a falta de luz de ontem noticiada no jornal local...

Lembram da história da demora pra instalar internet? Bem, eu e Michael ficávamos fazendo piada: "só falta eles instalarem no último dia de projeto", dizíamos nós...

Adivinha só: exatamente na hora em qua eu estava saindo da hospedaria e entrando no carro para ir embora e nunca mais voltar, vi o pessoal da informática passando e perguntei:

- E aí gente, consertaram a internet?
- Sim.

Uma foto que me esqueci: o pseudônimo de "Buraco City", a cidade vizinha, tem origem nesta placa, que fica na estrada, bem do lado da entrada da cidade...


O pichador se enganou: o buraco é uns 15km mais embaixo...

Windturn City Countdown - O fim?

2007-03-15 14:11:00 +0000

Ontem foi o penúltimo dia em Windturn City. Tivemos uma grande reunião de trabalho que durou a tarde inteira. Só eu fiquei até o final: Michael e o consultor-líder tinham outros compromissos e, antes da reunião terminar, já estavam a caminho de São Paulo, para voar pra outros lugares.

A reunião fechou nosso projeto, que durou seis meses e foi um sucesso. O cliente gostou, elogiou bastante e (glup!) quer renovar o contrato conosco por mais alguns meses.

Na saída da reunião, enquanto andava de volta para a sala onde trabalhamos, notei que a porta da hospedaria estava aberta. Me deu uma sensação esquisita e resolvi entrar, já que depois das seis todo mundo vai embora e as portas ficam trancadas. Encontrei a faxineira e perguntei:

- Oi, eu vim pegar a chave do quarto número onze. Meu colega Michael esteve aqui mais cedo pra buscar as coisas dele e deve ter deixado a chave com você...
- Chave?
- É, a chave.
- Ué, não está aqui não...

Naquela hora Michael já devia estar a algumas centenas de quilômetros de distância. Peguei o celular e liguei:

- Michael... por favor me diga que você não está com a chave do nosso quarto...
- Uhh... PUTZ!
- Ok, já entendi.

A sorte é que a faxineira tinha a chave reserva. Não fosse por isso e eu ia dormir na praça.

Depois do trabalho eu resolvi sair pra bater fotos da cidade, já que não voltarei mais aqui... ou não.


As montanhas, a antena de celular e o "Windturn River", que dá nome à cidade.

Acontece que havia chovido e um poste de luz acabou caindo, então metade da cidade estava às escuras. Repare que, na foto acima, só os postes à esquerda do rio estão acesos...

O mais engraçado foi que, no meio da escuridão, um cara me parou na rua para perguntar onde ficava uma pensão que era em cima de uma padaria. E eu SABIA onde era.


A pracinha central da cidade, deserta e sem luz.


Na rua principal tinha luz. Bem, deve ser principal, pois é lá que fica o único semáforo da cidade.


O semáforo solitário (esq.) e a placa de uma lojinha. Repare no telefone com 6 dígitos.


Este prédio parece cenário de novela de época da Globo, mas na verdade é um hospital.


A antiga estação de trem (com trem e tudo) é uma das atrações turísticas.

E, para encerrar minha participação neste projeto com chave de ouro, hoje, às seis e trinta e cinco da manhã, alguém estava tocando corneta para dar aquele "toque de despertar" militar. Não entendi nada. Aí, alguns segundos depois, BUM!!

Alguma coisa havia explodido. O quarto inteiro chacoalhou e meu coração quase saiu pela boca. Lembram que eu contei que a fábrica daqui produz explosivos? Pois é.

O susto só não foi maior porque as explosões eram ritmadas, e eu percebi que aquilo não era a fábrica indo pelos ares, e sim uma saraivada de tiros de canhão. Estavam comemorando aniversário de qualquer-coisa do Exército que tem aqui perto...

Windturn City Countdown - 3 dias...

2007-03-13 20:01:00 +0000

Pois é, eu fico zoando mas ontem eu me surpreendi ao descobrir que a cidade tem até uma auto escola.

Não é fácil trabalhar numa auto escola em Windturn City. Felizmente, os "windturncityenses" são criativos. Por exemplo: para ensinar a fazer baliza, o instrutor usa dois cavaletes feitos com tubos de PVC, já que não dá pra treinar em vagas normais, compostas de carros de verdade. Afinal, a probabilidade de se encontrar dois carros estacionados na mesma rua por aqui é praticamente nula. Na verdade, a probabilidade de se encontrar carros por aqui já é baixa o suficiente...


A noite de ontem foi especialmente ruim.

Éramos eu, Michael Jackson e o consultor-líder do projeto, no mesmo quarto, dormindo em três camas paralelas. "Igual os Três Porquinhos", como bem observou Michael.

Acontece que estava um calor do cão e o ventilador que tinha no quarto, misteriosamente, sumiu.

Lembro-me de acordar várias vezes durante a noite. Foram estas vezes aqui, ó:

1) O calor estava insuportável. Retirei a lixa colcha de cima de mim e voltei a dormir.

2) O consultor-líder começou a falar dormindo. Pelo teor da conversa, ele deveria estar sonhando com alguma reunião de trabalho.

3) Michael Jackson começou a roncar um ronco todo especial: uma mistura do "ronc" padrão com aquelas engasgadas típicas de apnéia. Dava algo mais ou menos assim: "Rooonc... rooon *gasp* *gasp*... roonc...".

4) Michael abriu a porta do quarto pra amenizar o calor. Confesso que fiquei meio vexado, porque qualquer pessoa que fosse até a cozinha da hospedaria pra beber uma água passaria pela nossa porta e veria toda a intimidade dos "três porquinhos" dormindo.

5) Michael fechou a porta. Não tinha melhorado o calor em nada, e já estava amanhecendo mesmo...


Além de ventilador, outra coisa que não temos na hospedaria é acesso a internet. Parece óbvio, mas a história da internet é interessante...

Há seis meses atrás, logo na nossa primeira semana em Windturn City, conversamos com o cliente e dissemos que, do jeito que estava, não ia dar pra ficar na hospedaria. Nós até entendíamos que a empresa precisa reduzir custos, mas tem algumas coisas que são importantes para o desenvolvimento do trabalho e que gostaríamos de ter no nosso quarto da hospedaria. Estas coisas eram simples: uma mesa, duas cadeiras e acesso à internet. Veja bem: apesar do quarto velho e quente, nós nos preocupamos foi em pedir condições para trabalhar fora do horário. O cliente, obviamente, concordou, disse que ia providenciar e tal.

Dois meses depois, a surpresa: eles, finalmente, fizeram melhorias no quarto. Bem, na verdade colocaram uma televisão e um frigobar... e nada da mesa e da internet.

Quatro meses depois tivemos uma reunião importante com o presidente da empresa. Ele, em público, deu a seguinte ordem aos funcionários.

- Vocês devem acomodar os consultores com todo o conforto que eles merecem. E com internet!

Por muito pouco eu não dei um pulo de alegria da cadeira. "Agora vai!", pensei.

Mas aí as semanas foram passando, passando e, obviamente, nada aconteceu. O problema da mesa nós resolvemos sozinhos: era só descer até o refeitório (sim, a gente dorme em cima do refeitório) e pegar emprestadas duas cadeiras e uma daquelas mesas brancas de plástico. E naquela altura já tínhamos desistido da internet.

Até que, faltando duas semanas para o fim do projeto, qual não foi a minha surpresa ao ver o pessoal instalando canaletas na parede, e passando por elas aquele lindo cabinho Ethernet azul. Mas faltavam duas semanas para o fim do projeto, então eles estavam, basicamente, jogando dinheiro fora. E matando a gente de raiva.

Na semana passada eu notei que, além do cabo, instalaram um computador num canto da hospedaria. O computador estava ligado num modem ADSL, e pelo visto deveria estar configurado como servidor. Será que, faltando alguns dias para o final do projeto, eu finalmente teria internet?

Resolvi testar o cabo: ainda não estava funcionando. No dia seguinte consultei as meninas do setor de informática, que disseram que o Speedy estava com problemas e que tudo deveria ser resolvido - adivinhe! - na semana seguinte.

Bem, a "semana seguinte" é esta semana. E faltam três dias para o fim do projeto...

The Windturn City Logistics Saga

2007-03-12 21:10:00 +0000

12:29 - Sexta-feira. Eu e Michael Jackson almoçávamos, felizes, no refeitório da fábrica de Windturn City.

A felicidade não era porque estávamos em WTCity, e sim porque, em alguns instantes, um motorista da empresa-cliente estaria nos levando até o Aeroporto de Guarulhos, para embarcar às 16:30. Com sorte, antes das 19h eu estaria no conforto do meu lar...

12:30 - No momento em que eu dava a última garfada, aparece a secretária:

- Gente... já avisaram pra vocês do motorista?
- Uhhh... não, o que ouve?
- É que não tem nenhum motorista pra levar vocês em Guarulhos.

A comida se embolou toda no meu estômago.

- Mas nosso vôo é 16:30... o que a gente faz então?
- Não sei...
- Mas quais são nossas opções?
- Bem, a gente pode deixar a chave do hotel com vocês...
- Não dá, temos que ir embora hoje!
- Pois é, mas eu não posso fazer nada... vocês podem tentar conversar com um dos diretores...

12:45 - Eu e Michael entramos na diretoria, que estava completamente deserta por causa do horário do almoço. Aí fudeu tudo.

Basicamente, estávamos entregues à própria sorte. Nossa única saída era um ônibus para São Paulo que saía às 13:30 de Buraco City, a cidade vizinha. Só precisávamos arrumar algum jeito de chegar em Buraco City. Mas como? Os motoristas estavam todos ocupados, não tem táxi em Windturn City e o ônibus intermunicipal que faz a linha "Windturn-Buraco" não seria rápido o suficiente.

Enquanto pensava nisso, vi o carro do Capitão parado na rua. O Capitão é um dos funcionários da empresa-cliente. Pela posição do carro, ele deveria morar na mesma rua onde estávamos. Ele poderia nos levar até Buraco City a tempo. Só faltava descobrir em qual daquelas casas ele morava...

12:48 - "Ô de casa!! Por favor, o Capitão mora aqui? Não? Tá bom, desculpe..."

Corridinha rápida até o portão do lado:

- Ô de casa!!

12:51 - E finalmente, numa casa cheia de crianças brincando no quintal, apareceu o Capitão. Explicamos o problema e ele rapidamente se prontificou a nos ajudar.

A esposa dele gritou lá da cozinha:

- Benhê, tem que levar os meninos na escola antes!

12:55 - Ficou assim: O Capitão foi dirigindo. No banco do passageiro estava eu, com uma pilha de mochilas coloridas no colo.

No banco de trás, Michael carregava outra pilha de mochilas. E do lado dele estavam esses anjinhos aí embaixo:

Sim, eu sei que foi imprudente deixar Michael Jackson perto de crianças, mas não tínhamos outra opção.

13:02 - Algumas centenas de metros depois (sim, Windturn City é muito pequena) e chegamos na escola. Uma rápida distribuição de mochilas e beijos na testa e a meninada já estava correndo pra sala de aula. Só faltava o Capitão nos levar até a rodoviária de Buraco City.

13:18 - Lá estávamos nós, com o coração na mão, entrando em Buraco City. Mas o Capitão resolveu fazer um caminho alternativo. Era para "tangenciar o centro da cidade" e chegar mais rápido, segundo ele.

Do lado de fora, as placas indicando a rodoviária iam ficando pra trás...

13:27 - Depois de vários "tangenciamentos" a rodoviária, finalmente, apareceu. Mas teríamos que ser rápidos.

Enquanto eu pensava nisso, o Capitão entrou no estacionamento da rodoviária e parou o carro... a uns 100 metros do ônibus.

- Não, Capitão!! Pare mais perto, senão a gente não consegue carregar todas as malas e chegar a tempo!
- Ah, sim! Pode deixar...

Aí o Capitão deu partida e começou a dar meia-volta, pra pegar a rua novamente...

- Não, Capitão!! Vai por dentro do estacionamento mesmo!!

13:31 - Deu tempo. Eu e Michael conseguimos embarcar.

O vôo de Guarulhos sairia às 16:30, mas ele não era mais uma opção. Nesse horário nosso ônibus deveria estar chegando no Terminal Rodoviário Tietê, dentro de São Paulo. De lá, teríamos que ir até o Aeroporto de Congonhas e procurar algum outro vôo para Belo Horizonte.

16:22 - Chegamos na rodoviária e fomos direto para o táxi. Michael perguntou ao taxista:

- Quanto tempo pra chegarmos em Congonhas?
- Uns vinte minutos, se o trânsito estiver bom.

É claro que eu não acreditei. A minha estimativa era passar uma hora, no mínimo, enfiado nos engarrafamentos paulistas. Mas Michael estava esperançoso:

- Cara! Acho que vai dar tempo de entrarmos naquele vôo da Pampulha!

"Aquele vôo da Pampulha" é o famoso e desejado TAM das 17:57, que tem este apelido porque pousa no Aeroporto da Pampulha. Pra quem não sabe, vôos para a Pampulha são raridade: a maioria deles pousa em Confins. A imagem abaixo mostra o quanto isto faz diferença...

16:37 - Eu mal podia acreditar: o tráfego estava fluindo tão bem que já estávamos pertinho do Ibirapuera, a uns 2 ou 3 quilômetros do aeroporto. Aí eu me animei: liguei para a secretária da empresa-cliente e pedi pra ela mudar nosso bilhete para "aquele vôo da Pampulha".

16:39 - O trânsito inteiro parou.

17:02 - Depois de passar os últimos vinte minutos andando a 10km/h, avistamos o aeroporto. O nosso tão sonhado vôo provavelmente encerraria o check-in às 17:10.

Era hora de medidas extremas.

- Michael, vamos ter que descer aqui e atravessar aquela passarela a pé. Vai ser mais rápido do que fazer o retorno e entrar com o táxi no aeroporto.

Por alguma estranha razão, todo mundo estava motivado a conseguir. Até o taxista entrou no clima de desespero:

- Faz sinal de braço aí que eu vou encostar então, vamulá!!

17:04 - O táxi encostou a alguns metros da passarela. Olhei o taxímetro: 36 reais. Catei rapidamente o dinheiro da carteira, joguei em cima do painel e fui descendo para pegar a mala.

O taxista se assustou:

- Peraí que a tarifa aumentou, deixa eu ver a tabelinh...

Joguei mais cinco reais e saí correndo. Desci do carro, fui até o porta-malas, catei minha mala, virei para o lado para chamar o Michael e... ele estava abraçado com uma mulher.

Eu juro por Deus que não era ilusão. O vôo iria fechar em cinco minutos e Michael Jackson estava abraçado com uma desconhecida no meio da rua.

Depois do abraço a mulher olhou bem para o Michael e disse:

- Uhh... desculpe, te confundi com outra pessoa...

17:06 - Eu e Michael largamos a mulher e começamos a subir as escadas da passarela... correndo e segurando as malas sobre as cabeças.

Já que eu sou o chefe da equipe, tomei a iniciativa de gritar algumas palavras de motivação:

- Vambora Michael! Faz valer essa academia que você frequenta todo dia! CORRE!!

Acontece que, graças à visita do Bush, a passarela estava cheia de militares armados. Um deles se assustou e já ia levantando o fuzil pra atirar em nós. Felizmente ele percebeu a tempo que não éramos terroristas malucos.

17:08 - Finalmente chegamos ao saguão do aeroporto, ainda correndo. As minhas costas estavam suadas, a mochila ia saltitando e se esfregando no suor, e as rodinhas da mala giravam loucamente pelo chão, eventualmente acertando um ou outro pé desavisado pelo caminho. E eu ia pensando: "odeio chegar em cima da hora... odeio chegar em cima da hora... odeio..."

Pulei no primeiro guichê da TAM que estava vazio e perguntei, ofegante:

- O vôo da Pampulha já fechou??
- Não, senhor...

Respirei aliviado. A mocinha continuou a resposta, num tom sarcástico:

- Os vôos estão todos atrasados mesmo...

Nestas horas Murphy e suas leis sempre se fazem presentes. Naquele momento valia aquela que diz: "O atraso do seu vôo é diretamente proporcional ao esforço que você faz para chegar no horário". A mocinha fez nossos check-ins e fomos embora, suados, cansados, mas embarcados. Então Michael disse:

- Acho que você nem notou né?
- O quê?
- Você furou a fila de deficiente físico pra fazer o check-in...

19:40 - Depois de fazer um lanche, trabalhar um pouco, conversar fiado, ver o Lima Duarte e a Feiticeira, o embarque do nosso vôo finalmente começou. Decolamos lá pelas 20h e às 21h eu, finalmente, pousei em Belo Horizonte...

Rápidas

2007-03-07 23:49:00 +0000

Começou o "Windturn City Countdown" - 6 dias para o término do projeto.

Eu precisei me lembrar bastante disso para conseguir suportar a noite de ontem: botaram a gente num quarto da hospedaria que fica exatamente em cima do boteco.

Devo acrescentar que o boteco, em meio à barulhada usual, toca como música ambiente um DVD do Roupa Nova. No repeat. Todo dia. E de madrugada tinha algum bêbado tocando New york, new york no piano do bar.

Sim, tem um piano no bar de Windturn City, mas no meu quarto não tem sequer um telefone. Ou um ventilador...

Baralhinho do momento. Bela sacada.

Momentos

2007-03-02 20:25:00 +0000

Momento "ugh": Ontem no almoço serviram "dobradinha" no bandeijão de Windturn City...

Momento LOL: O motorista que me trouxe ao aeroporto é chegado numa música sertaneja. Aí, na estrada, em um certo momento, uma voz feminina no rádio cantou assim:

"Meu amor... eu te amo mas a três não rola não..."

Momento l33t: Plena sexta feira, quatro da tarde, e eu estou jogando Doom 3 na sala VIP da Tam do Aeroporto de Guarulhos...

Êêê, meu amigo Murphy...

2007-03-02 13:19:00 +0000

Lembram que outro dia eu postei uma foto do quarto onde eu estava dormindo aqui em Windturn City? Aquele, que ficava nos fundos da cozinha, que por sua vez ficava nos fundos do restaurante, que ficava nos fundos da pousada?

Pois é. Acontece que do lado deste quarto tem uma escada, que desce até ainda mais pro fundo, num depósito de entulho e coisas velhas. Lá também tem um quarto... adivinha onde eu dormi ontem?

Eu bem que podia ter tirado uma foto com o celular, pra mostrar o quão no fundo fica este quarto. Acontece que meu celular deu um defeitinho. Coisa simples, foi só uma tecla que parou de funcionar: a de ligar/desligar...

Quando a tecla bichou de vez o celular ainda estava ligado. Fiquei tranquilo: "É só não deixar a bateria descarregar totalmente que eu ainda consigo usar o aparelho", pensei.

Instantes depois ele tocou. Assim que eu abri o telefone para atender, ele travou e apagou...

O celular já estava meio bichado mesmo. Além destas travadas, que começaram a ficar bem frequentes, um dia desses o relógio dele atrasou 1:30h sozinho e quase me fez perder a hora. Isso fora a bateria, que durava no máximo dois dias. Pelo visto não foi atoa que a divisão de celulares da Siemens acabou vendida para a Benq...

Já o trabalho vai bem. E a minha saga de Windturn City está quase no fim, já que o contrato encerra daqui a três semanas.

O problema é que fizemos um serviço tão bom que o cliente quer que fiquemos com ele por mais alguns meses. Tento não pensar muito que isto significa a continuação da minha rotina de ônibus, cama de pensão e comida de bandeijão, e até consigo ficar meio feliz.

Para minha surpresa, ao sair do trabalho, notei que há um novo trêiler de sanduíches na praça central daqui de Windturn City. Isto significa um crescimento de 20% no mercado de lanches da cidade, mas também levanta preocupações: afinal, com três trêileres de sanduíche, o mercado Windturncityense já estava mais do que saturado...

The Windturn City meeting saga

2007-02-15 18:57:00 +0000

Parte um: A viagem

Terça-feira. Era dia de eu me enfiar num ônibus para fazer uma reunião importantíssima em Windturn City.

O ônibus saía às seis da tarde. Eu cheguei na rodoviária faltando cinco minutos para as seis.

Quatro minutos para as seis e eu ainda estava correndo, arrastando a mala e com mochila nas costas, para atravessar a plataforma da rodoviária, chegar até o guichê e comprar uma passagem. No meio do caminho eu passei pelo ônibus, de motor ligado, e com o motorista já se preparando pra sair. Medo.

Três minutos para as seis e eu estava furando a fila do guichê para comprar as passagens. Gritei pro balconista:

- Pelo amor de Deus, me vende uma passagem pro ônibus das seis!
- Compra direto com o motorista lá embaixo que é mais rápido - disse o balconista.

Beleza. Basicamente, eu corri até o guichê sem necessidade, gastando preciosos segundos.

Dois minutos para as seis e eu estava no portãozinho do início da rampa que ziguezagueia até o andar de baixo, aonde estava o meu ônibus. No portãozinho tinha uma roleta e um funcionário:

- A passagem, por favor.
- Eu vou comprar com o motorista, abre pra mim!
- Não, precisa ter a passagem...
- Mas eu vou comprar com o motorista!! Abre peloamordedeus, o ônibus tá saindo!!
- Não, tem que ir ali no guichê.
- Mas eu ACABEI de vir do guichê!
- Não, aquele guichê ali...

E apontou para um outro guichê de acesso à rampa que leva aos ônibus. Eu não entendi direito por causa da pressa, mas acho que era um guichê onde gente sem passagem - acompanhantes de passageiros - pagam uma taxa pra poder descer até a plataforma de embarque.

Faltava só um minuto para as seis. Tinha um velhinho na fila do guichê. Eu pulei NA FRENTE DELE e gritei pra atendente:

- Quanto é??
- R$ 1,25...

Enquanto eu pegava o dinheiro da carteira, o velhinho disse um "dá licença" meio azedo e passou na minha frente. Joguei uma nota de R$ 2 dentro do guichê e passei voando pela roleta.

Já eram seis horas quando comecei a descer a rampa. Olhei pra baixo e vi o motorista fechando a porta do ônibus. Era hora de medidas extremas. Abri mão do resto de dignidade que ainda tinha e comecei a assobiar e gritar para chamar a atenção do motorista. A parte do "chamar a atenção" funcionou, porque todo o resto das pessoas na rodoviária percebeu, deu uns gritinhos de "aee atrasado!" e tal. Mas o motorista não estava nem aí e começou a arrancar com o ônibus.

Depois de ziguezaguear a rampa toda eu finalmente consegui pular na frente do ônibus e acenar pro motorista. Só então ele abriu a porta e eu, felizmente, embarquei.

Era o ponto de partida daquela que seria a pior viagem de ônibus da minha carreira de consultoria.

Fisicamente a minha situação não era boa: eu estava saindo de uma intoxicação alimentar maluca, com diarréia, cólicas, febre de 39 graus e tudo. Pra dar uma idéia da gravidade da coisa basta mencionar duas coisas:

1) Eu passei a madrugada do sábado na enfermaria do hospital, tomando remédio na veia, e...
2) Durante a febre, meu cérebro começou a dar pau e eu cantarolava sem parar um trecho de uma música da Wanessa Camargo:

"Vou me arrepender de-poix
Mas eu não resisto a nóix doix... ooooh nããão..."

Na segunda eu já estava bem melhor, mas a tensão dos últimos dois dias (e todo meu tempo de bunda-na-cadeira) acabou virando uma dor horrível nas minhas costas. Imagine o que é ficar num ônibus, por quatro horas, com as costas doendo a cada sacolejada do balaio. Mesmo depois de chegar no hotel, mesmo deitado e imóvel, as costas continuavam doendo. Comecei a ter febre novamente. Era hora de medidas extremas.

Então rezei pra que a dor passasse. A prece funcionou. Recebi uma iluminação divina que me disse assim:

"Seu burro, lembra que tem uns comprimidos de Novalgina na sua mochila?"

Tomei um deles. Por volta de uma da manhã a dor DESAPARECEU. Foi uma delícia, foi como um orgasmo ao contrário.

Parte dois: A reunião

Às seis da manhã meu celular tocou Tommib, música do Squarepusher que está na trilha sonora do filme Encontros e Desencontros. É o toque que uso como despertador. Eu me senti um pouco Bob Harris mesmo, perdido num lugar estranho e sofrendo de jet bus lag.

Passamos a manhã toda nos preparando para a bendita reunião. Às duas da tarde, nosso consultor-líder subiu no palco e começou a apresentar o PowerPoint que me ocupou durante as últimas madrugadas.

Era o ponto de partida daquela que seria a reunião mais bizarra da minha carreira de consultoria.

A primeira bizarrice começou no slide número sete, que mostrava a previsão de gastos com os projetos para o ano de 2007. O presidente da empresa se levantou da cadeira e gritou:

- Eu NÃO CONCORDO com esses números!!

Todo mundo gelou, especialmente eu, que passei os últimos dias debruçado exatamente em cima daqueles números.

- Nós já enfiamos num-sei-quantos milhões nestes projetos no ano passado e vocês ainda dizem que precisam de mais?!?!?

Aí eu respirei aliviado. Na verdade ele não entendeu que os projetos atrasaram e que o dinheiro mostrado ali era pra concluir o planejamento de 2006. O vice-presidente tentou acalmá-lo e explicar o mal entendido, mas não adiantou. Ele estava furioso. A saliva se acumulava nos cantos da boca enquanto ele vociferava. Até que num determinado momento ele disse:

- Sabe por que isso está assim? Porque essa empresa não tem dono!!

Sim, é isso mesmo. O dono da empresa reclamando que a empresa não tinha dono. Ele reclamou mais algumas coisas e, para espanto geral, saiu da reunião e não voltou mais. Acho que este foi o momento mais "what the fuck" da minha carreira.

Aí o consultor-líder foi embora (tinha um vôo pra pegar) e o resto da reunião foi conduzida por mim. As minhas costas estavam doendo de novo, o pessoal questionava os números, todo mundo falava ao mesmo tempo. Foi um pandemônio. E no meio do caos Michael Jackson ainda me interrompia para fazer perguntas altamente significativas, do tipo: "quer que desligue o datashow?"...

No final o vice-presidente foi dizer algumas palavras e acabou dando uma palestra de 30 minutos. Foi assim:

Começou pedindo a todo mundo que tivesse "calma"
Contou que a mulher dele reclamou que ele anda dizendo muito palavrão. "É a minha válvula de escape para o stress", disse ele.
Fez um ranking detalhado dos diretores mais "explosivos" da empresa: "Primeiro vem o fulano, sem dúvida. Esse é hours concours. Depois o ciclano"...
Comentou que estava louco pra ir fazer a caminhada noturna de sempre com o presidente, pra ouvir ele desabafar e tal.
Gastou alguns clichês motivacionais, dizendo coisas do tipo "vamos ganhar essa guerra".
Encerrou dizendo: "Muita paz e muita felicidade para todos vocês!"

Foi uma coisa surreal. Mitológica, até. Mas não deu tempo de aproveitar o pós-reunião porque eu tinha que pegar um ônibus na cidade vizinha e voltar pro Rio. Tomei outra novalgina, entrei no táxi e tive outro orgasmo invertido enquanto a dor nas costas passava com o efeito do remédio.

O ônibus ia parar num daqueles postos de gasolina metidos a besta, com restaurantes, lojinhas e tal. Tudo que eu precisava fazer era comprar uma passagem e esquecer o sofrimento dos últimos dias. Aí fui até o guichê, abri minha carteira... e não tinha NENHUM REAL dentro dela.

- Moça... me diz que você aceita cheque, por favor...
- Não - respondeu ela, rindo.
- Então, por favor, me diz que tem um caixa eletrônico aqui perto...
- Tem um ali atrás...

Era um do Banco 24 Horas. Meti meu cartão nele e pensei: "só falta não estar funcionando". Adivinha...

Felizmente, o gerente do restaurante foi extremamente legal comigo, passou R$ 50 no meu cartão de crédito e me deu o dinheiro. Comprei a passagem, entrei no ônibus e tive uma grata surpresa: ele era bem espaçoso, tinha cobertores, travesseiros e uma TV que passava filmes durante a viagem. Pensei que, finalmente, meu sofrimento havia acabado.

Aí o filme começou. Era Batman e Robin... dublado!

Uma noite inesquecível em Windturn City

2007-02-01 23:49:00 +0000


Rodoviária do Rio: O quadro de horários, inalterado desde 1940 (esq.) e uma mulher jogando paciência "analógica" pra passar o tempo (dir.)

Quatro horas de ônibus depois e eu finalmente cheguei em Windturn City, para dormir na hospedaria da fábrica. Michael Jackson, meu fiel trainee, estava de pijaminha, sentado na beirada da cama, digitando freneticamente no seu notebook. Estava fazendo um resumo de um livro de trabalho, para estudar. Sugestão do chefe dele - no caso, eu. Bom garoto...

Normalmente eu não reclamo da falta de conforto aqui em Windturn City, mas a coisa está ficando abaixo da crítica. Ontem, Michael só conseguiu toalhas pra gente tomar banho porque outros hóspedes pularam a janela da sala da governança e pegaram algumas. E a roupa de cama que estão nos dando é áspera feito uma lixa.

Além disso fazia um calor infernal, o ventilador do quarto parecia a turbina de um Boeing, e pra completar eu tive uma crise horrenda de insônia e fiquei horas rolando em cima do lençol-lixa. E pra piorar comecei a sentir umas coceiras estranhas pelo corpo. "Pronto, só falta ter pulga nesse colchão velho", pensei.

Às três da manhã eu, finalmente, peguei no sono. Quatro horas depois o celular de Michael me acordou ao som do tema de Star Wars. Ao levantar, descobri a razão da minha coceira noturna: tinham formigas mortas no meu lençol. "Ah, era isso", pensei. "Mas de onde vieram essas formig..."

O pensamento ficou suspenso quando olhei para a cama extra ao lado da minha, que estava coberta por CENTENAS de formigas. E pra piorar, o destino delas era uma sobra de doces que comprei na viagem e deixei no bolso da minha mochila.


Tive que tirar uma foto.
Porque senão nem eu acreditaria.

As formigas desciam pela janela (aberta por causa do calor), atravessavam o quarto inteiro e se esbaldavam por cima da cama. Eu entrei em pânico quando imaginei aqueles pontinhos pretos, condutores de eletricidade, entrando pelo buraco de ventilação do meu notebook, se escondendo no conector do cabo do meu iPod...

Alguns minutos de "mata-mata" depois e a situação ficou sob controle. Eu ainda não voltei para a hospedaria e não sei como ficou a situação do quarto, mas a idéia de milhões de formigas se esfregando em mim durante a noite passou o dia todo pelo meu cérebro lesado de pouco sono...

Windturn City - O Filme

2007-01-26 19:34:00 +0000

Na hospedaria de Windturn City a gente não tem telefone no quarto. Como fica muito caro ligar o tempo todo via celular, eu tenho usado os telefones públicos da cidade (quando eles estão funcionando, é claro).

Ontem a coisa foi feia e eu tive que andar meio quilômetro - ou seja, ir a pé até o centro da cidade - para achar um telefone que funcionasse. E, na volta, ainda choveu...

Mas como eu estava de bom humor resolvi documentar o caminho com fotos do celular. Depois montei com elas esse ultra-curta-metragem aí embaixo, só pra mostrar o caminho para vocês, fiéis leitores, que adoram se deliciar com meus suplícios...

O dia em que a internet derrubou a Globo

2007-01-25 15:02:00 +0000

Aqui em Windturn City até dá pra improvisar uma internet wireless no quarto. É só ligar o celular no notebook e acessar via GPRS. É lento, caro e nem sempre funciona.

Ontem funcionou, e teve um efeito colateral no mínimo curioso...

Estou dormindo na hospedaria da fábrica de Windturn City, e aqui só tem uma tevê "comunitária", que fica numa sala logo ao lado do meu quarto. Assim que eu me conectei, a tevê saiu do ar e começou a emitir um zumbido horroroso.

Enquanto termino este post, além do zumbido, dá pra ouvir o pessoal reclamando, mexendo na antena e, finalmente, desistindo e voltando para os quartos...

Uma imagem vale mais do que mil piadas

2007-01-23 01:18:00 +0000

Muita gente usa camiseta para exibir sua posição social. Sabe, aquelas onde está escrito "competidor", "piloto de fuga" ou "diretoria" nas costas.

Agora, "isca viva" eu nunca tinha visto...


Tem que ser muito cabra hômi pra bancar a isca viva, rapá...

Essa aí embaixo eu vi numa feirinha, lá perto de casa. Hmm... será que ali também tem produtos endotéricos?


Produtos "exotéricos"? Talvez porque te curam de dentro pra fora?

Uma atração turística não-oficial de Belo Horizonte é a Desentupidora Rola Bosta.

Tem gente que não acredita, então eu tentei fotografar o carro da desentupidora. Mas parece que uma das letras caiu. Ou isso, ou talvez eles estejam testando uma nova abordagem mais educada com o cocô...


Olá, bosta!

Na rodoviária de Windturn City tem um quadro com uma foto aérea da cidade. Fotografei com o celular e botei aí embaixo.

Antes que você fique em dúvida, eu respondo: não, a cidade não se estende pra trás da montanha. É só isso aí mesmo.


Se você olhar bem de perto, no canto inferior direito dá pra ver uma das botas de Judas.

Pé na estrada

2007-01-11 14:30:00 +0000

Só no Rio mesmo: fui almoçar num restaurante onde os crachás dos garçons tinham LEDs que ficavam passando mensagens...


O garçom passa, a mensagem no crachá também...

Ainda no Rio: Na rodoviária, em uma das filas dos guichês de venda de passagem, tinha uma senhora na fila que ficava gritando pros funcionarios trabalharem mais rápido pra fila andar e ela ser atendida: "Vaaaaamo gente!! Anda rápido aeh!!"

O ônibus que me levou pra Windturn City era velho e fedorento. Mas podia ser pior, porque na minha frente tinham duas senhoras conversando sem parar durante grande parte das quatro horas de viagem. A sorte é que elas eram surdas-mudas...

Nos fundos da pousada de Windturn City tem um refeitório, onde o café da manhã é servido. Nos fundos do refeitório tem a cozinha. Nos fundos da cozinha tem o quarto onde eu estou dormindo...


É assim, você sai do quarto de manhã e cai direto na cozinha

Pra encerrar, uma foto de um dos trailers de sanduíche de Windturn City. O visual não é exatamente apetitoso, mas eles são as únicas opções de alimentação depois das oito da noite.


O quadro de Joana D'arc ali no meio é pra proteger contra a salmonella

Adeus, motoristas

2007-01-09 03:27:00 +0000

A empresa-cliente de Windturn City tinha três motoristas, que a gente costumava usar pra nos levar/buscar no aeroporto - em Guarulhos, a três horas de distância, vale lembrar.

Um deles foi demitido semana passada. Aí hoje o Michael Jackson me liga, lá de Windturn City (estou no Rio):

- Cara.. sabe aquele outro motorista que levou a gente pra Congonhas, na sexta?
- Sim, o que tem ele?
- Ele teve um infarto. Morreu num posto de gasolina, na estrada, hoje de manhã...

É... o excesso de cigarro e de gordura cobrou seu preço. Uma pena. Ele era gente boa...

Meu coração...

2006-12-26 20:59:00 +0000

Para você que ligou agora o seu televisor:

Meu trabalho de consultoria fez com que eu viesse parar em uma cidadezinha minúscula chamada Windturn City (do latim: aonde o vento faz a curva). O trabalho aqui rende situações inimagináveis, como a que aconteceu na quinta de manhã.

A bizarrice começou instantes depois que o despertador tocou, às sete horas. Michael Jackson (o trainee que trabalha comigo) acordou, deu uma espreguiçada, e exatamente dois segundos depois começou a falar de trabalho. Mais ou menos assim.

- Yaaahhnn.. e aí cara... Ah! Tenho que te contar da reunião de sexta-feira, foi assim...

Algum tempo depois, enquanto tomávamos café, eis que chega a sobrinha do dono da pousada, junto com sua mãe. A menina era uma loirinha de uns 14 anos, no máximo. Ela se sentou com as perninhas "vesgas" (as pontas das suas sandálias-plataforma apontando pra dentro) e começou a enrolar o cabelo com o dedo indicador, numa pose absolutamente adolescente.

Aí, entre uma ou outra mordida no meu pãozinho de sal, notei que ela cochichava discretamente com a mãe. O que li nos lábios dela foi simplesmente surreal:

- Mãe... meu coração...

E apontou, numa alegria sapeca e discreta, para o próprio peito.

- ...tá batendo!

Eu nem podia acreditar que ela estava falando de mim e de Michael. Não daquele jeito. Mas a confirmação veio na sequência, quando ela apontou para o próprio dedo anelar e cochichou, referindo-se a mim:

- Mas o outro é casado...

Valeu o dia. Durante o trabalho eu constantemente virava pro Michael e dizia: "Michael... meu coração... tá batendo!!!". Essa história deu muita risada...

Pull/pulk revolving doors

2006-11-29 18:51:00 +0000

Aqui em Borderline City é assim: no banheiro, as "portinholas" das privadas são de madeira nobre, envernizadas, com maçaneta, fechadura e até chave...

Um dia típico em Windturn City...

2006-11-28 19:26:00 +0000

...começa às 4:30 da manhã, em Belo Horizonte. Neste horário, na noite de ontem, eu estava tendo um sonho estranho que incluía macacos que respondiam perguntas num programa de auditório. Aí o despertador tocou e eu iniciei a via sacra até o aeroporto.

Chegando lá, encontro meu colega Michael Jackson que, para minha surpresa, cortou o cabelo e arruinou o seu pseudônimo. Agora ele parece uma mistura de latin lover com RBD. Bizarro, muito bizarro.

Uma hora de sono, digo, de vôo e estávamos em Guarulhos, na greater São Paulo. Agora só faltava duas horas e meia de carro até Windturn City. Só tinha um problema. Éramos eu, Michael, o líder do projeto, um dos nossos clientes, o motorista e malas para uma semana. E tinha que caber tudo num Corsa. Por alguma graça divina, o nosso cliente resolveu que eu é quem teria que ir na frente. "Você é maior que todo mundo", disse ele. Lição aprendida: jamais amaldiçoe seu sobrepeso...

Pouco antes de entrarmos no carro, o cliente iniciou uma conversa sobre a Herbalife. Aí eu, inadvertidamente, comecei com a gozação:

- Pois é, rola a piada de quem vende esse negócio aí é chamado de "Herbalofo", hehehehe...

Todo mundo riu um riso meio sem-graça. Só fui entender o porquê depois que o cliente ficou mais de uma hora falando do quanto ele é fã da Herbalife, que ele toma os "shakes" todos os dias de manhã, que hoje ele usa o cinto três buracos mais apertado, que a pele dele virou outra depois dos cremes nutritivos...

O dia de trabalho foi normal. Passamos a tarde inteira numa looonga reunião. Eu sempre me divirto nessas reuniões olhando como fica a cara das pessoas quando elas botam a cabeça na frente da projeção do datashow. Às vezes o ícone do Avast do micro do Michael ficava bem na testa do nosso cliente, e eu morria de rir internamente.

Aí, durante uma discussão da reunião, o micro do Michael entrou no descanso de tela. Ele intercalava mensagens do tipo "VAMOS SUBIR GALÔÔÔÔ!!!" e fotos da massa atleticana no Mineirão. Nada mais apropriado...

Às seis o expediente acabou. Eu e Michael ainda tínhamos trabalho a fazer, mas não tínhamos como ir até o hotel. Sim, claro, estávamos em Windturn City e é ÓBVIO que dava pra ir a pé até o hotel. Só que estávamos com nossas malas, e o céu se derretia em chuva. Aí pegamos uma peculiar carona no fusquinha de um dos nossos clientes...

O hotel de Windturn City tem uma arquitetura impressionista, ou seja, é impressionante o tanto que o pedreiro fez as paredes tortas. O corredor que leva até o nosso quarto vai ficando mais estreito conforme você caminha. E a parede em volta da porta tem uma rachadura que vai de um lado ao outro, como se o nosso quarto estivesse se "destacando" do resto da casa. Mas pelo menos o hotel é limpo. Bem, é o que eu pensava até ontem: enquanto eu e Michael trabalhávamos, deu pra ouvir o dono do hotel, na cozinha, borrifando Baygon em alguma coisa. Medo...

Depois da "hora extra", fui conhecer a academia de ginástica de Windturn City. Michael é marombeiro e descobriu a academia nas suas andanças pela grande metrópole Windturncityana. O preço? Inacreditáveis R$ 2,50 por dia.

Corri minha meia horinha básica e avisei Michael que ia voltar pro hotel. De gozação, ele me perguntou: "Mas você vai saber voltar pro hotel?". Eu tive medo, mas consegui. No caminho, passei na padaria e comi o jantar mais barato da minha vida de consultoria: R$ 5,50 por um pão com presunto e queijo, um iogurte e um Gatorade. Deu até vergonha pedir o cara pra fazer uma nota fiscal...

Voltando pro hotel, enquanto eu escrevia este post, notei uma coceira estranha nas minhas costas. "Droga. Pernilongos", pensei. Peguei a toalha e saí escaneando o quarto, em missão de extermínio. Foi um sucesso: em dez minutos eu matei nada menos que DEZESSETE pernilongos - e duas moscas.

Michael chegou da academia e fez uma descoberta ainda mais alarmante: no teto, no vão entre o quarto e a porta da varanda (sim, tem varanda no quarto!) tinha mais VINTE pernilongos, todos prestes a atacar. Tivemos que pegar o Baygon emprestado com o dono do hotel e usá-lo como arma de destruição em massa. Foi uma cena memorável: Michael borrifou o Baygon e, instantaneamente, os pernilongos foram caindo como... hmm, moscas.

E assim acabou o primeiro dia desta semana em Windturn City. Se eu não morrer intoxicado de Baygon, depois posto mais...

Windturn City - Você já viu?

2006-11-21 22:26:00 +0000

Acabou que eu nunca botei fotos de Windturn City aqui. Bem, aí vai uma, da janela do hotel.

Borderline City Stories

2006-11-17 13:04:00 +0000

Aqui em Borderline City a gente dorme dentro da fábrica. Dependendo da lotação a gente pode ficar instalado numa espécie de hospedaria ou, nos piores casos, na casa que pertencia ao vigia (é sério).

Nesta semana eu e Michael Jackson ficamos na hospedaria, num quarto onde a maior parte da mobília tem idade para ser minha avó. Mas o melhor é o banheiro: quando Michael entrou lá pela primeira vez, caiu na risada:

- Olha isso, cara...

E acendeu a luz. Ou melhor, as luzes: duas lâmpadas, de 10W cada uma, que ficam em dois "candelabros" de louça azul, design estilo 1940, um de cada lado do espelho.

- O banheiro é a luz de velas! - disse Michael.

A descrição dele estava perfeita: um banho à luz de velas seria mais claro que aquelas lâmpadas. O chuveiro ficava do outro lado do banheiro, ou seja, quase na escuridão. Michael, destemido, entrou no box mesmo assim. Assim que ele abriu o registro, deu mais risada:

- E a luz diminui ainda mais quando o chuveiro liga!!

Nossas opções de jantar em Borderline City são bem mais vastas que em Windturn City. Basta pegar um táxi e ir até a praça principal da cidade, onde você pode se deliciar com um requintado "prato executivo". Ou então um "prato executivo". Ou talvez um... sim, prato executivo!

Enquanto fazíamos o nosso pedido, eu não conseguia parar de olhar um objeto metálico, pendurado na cintura do garçom. Era o abridor de garrafas. Nele havia uma coisa gravada...

- Vem cá, eu preciso perguntar... seu nome é "Leitoso"?!??

Era só o apelido. Ainda bem.

Windturn City Radio Hits

2006-11-08 12:35:00 +0000

Tem coisas que só Windturn City faz com você.

Hoje de manhã eu entrei no táxi pra ir pra empresa - uma corrida de uns dez quarteirões, ou seja, atravessando toda a cidade - e o rádio tocava um clássico de Gino e Geno, cujo refrão diz mais ou menos assim:

Aí eu bebo, aí eu bebo...
Bebo pacarai...
Bebo pacarai...
Bebo pacarai...

Mondo Bizarro

2006-10-24 02:32:00 +0000

Eu nunca achei que fosse dizer essa frase, mas vamos lá: Michael Jackson toca cavaquinho!!


Michael Jackson, pagodeiro? Só aqui em Borderline City

E como se isso já não fosse esquisito o suficiente, eu acabo de tomar um banho num banheiro que tinha um interruptor de energia DENTRO do box.


Não, não é Photoshop. Bem que eu queria.

O Primo em Borderline City

2006-10-18 15:01:00 +0000

Sim, é verdade. Além de Windturn City, meu novo projeto inclui atividades em outra cidade interiorana, que chamarei de Borderline City, porque fica bem na fronteira entre Minas Gerais e São Paulo.

Pra chegar em Borderline City a maratona é mais ou menos a mesma de Windturn City: uma hora de avião e mais duas horas e meia de carro. O legal é que o trecho de avião termina em Varginha (onde fica o aeroporto mais próximo de Borderline City). Varginha é um lugar peculiar, famoso por histórias de extraterrestres. E o mais legal ainda é que o avião que voa pra lá é uma Brasília.

Sim, um Embraer EMB-120 "Brasília". Esse aqui, ó:

Ele pertence a uma empresa aérea minúscula e recém-chegada no mercado, chamada Air Minas. O "Brasília" comporta 30 passageiros e voa até direitinho. Mas faz um barulho infernal...


A cabine do Brasília (esq.) e a hélice dobrada ("defeito" especial causado pela má qualidade da câmera do celular).

Pra experiência ficar ainda mais bizarra, a aeromoça sorteou um "brinde" durante o vôo, e quem ganhou, obviamente, fui eu. Digo "obviamente" porque tinham só TRÊS pessoas no avião. O brinde estava devidamente empacotado num dos saquinhos de vômito, e era isso aí embaixo:


Sim, é um porta-lápis tosco, de cerâmica, em forma de caminhãozinho

Pra ficar ainda mais bizarro, depois que fizemos uma escala em Divinópolis, a aeromoça sorteou mais um caminhão-brinde, e quem ganhou foi o Michael Jackson...

O esquema aqui em B.C. é igual o de W.C.: a gente fica hospedado dentro da empresa, num quartinho simples e com a mesma decoração original de 1940. Mas o quarto é limpo e o colchão é bom, então não tenho do que reclamar. E de vez em quando a gente trabalha em locais um tanto quanto... incomuns.


Minha workstation e a platéia invisível

À noite, pra conseguir jantar, eu e Michael tivemos que pegar um ônibus até o centro da cidade, onde jantamos num restaurante que fica do lado de uma sorveteria que se chama "Uaice Cream" (fico devendo essa foto). Na volta, como estava tarde, entramos num táxi. Senti falta de uma coisa e resolvi perguntar o taxista:

- Ué... cadê o taxímetro?
- Uai, aqui num tem isso não, moço...
- Como assim?
- A gente já pediu mas a prefeitura diz que num precisa, que a cidade não comporta...

E pela primeira vez eu paguei um táxi via tabelinha. Deu dez reais a corrida...

No final do segundo dia de trabalho eu deixei Michael por lá e me meti num ônibus rumo à São Paulo. Foram quatro horas e meia de viagem, meu personal longest viagem-de-ônibus-a-trabalho record. Felizmente, eu estava bem preparado: o iPod estava com a bateria cheinha e abastecido com mais de 2 GB de episódios da segunda temporada de The Office. Nem vi o tempo passar...

Windturn City - Êta vidinha besta...

2006-10-05 19:21:00 +0000

Segunda-feira eu bati meu "personal levantar cedo pra viajar record": quatro e quinze da manhã. Ao mesmo tempo, bati meu "personal chegar tarde no trabalho record": dez e quinze da manhã.

Como, meus caros leitores, eu conseguiria bater estes dois recordes tão diametralmente opostos? O motivo só podia ser um: Windturn City...

A novidade é que dessa vez eu viajei acompanhado do trainee da equipe, que chamarei de... hmm, antes do pseudônimo, a história: na terça à noite, quando jantávamos na pizzaria da cidade (sim, Winturn City tem UMA pizzaria!), a gente tava batendo papo e eu estava incomodado com algo familiar no rosto dele... até que, de repente, veio a luz:

"Michael Jackson".

O cara é igualzinho o Michael Jackson na sua versão "branquela" atual. Obviamente, o trainee é mais "coradinho" e o nariz dele é perfeitamente normal. E a pizza que ele estava comendo não era sabor criancinha. Piadas à parte, Michael é gente boa e mostrou um bom entrosamento com o trabalho nestes primeiros dias. Mas o mais importante é que ele ronca pouco.

Outra novidade da semana é que não ficamos trabalhando na casa das sete mulheres, junto com a diretoria. O trabalho, dessa vez, foi dentro da fábrica. Nosso trabalho em Windturn City é botar nos eixos os projetos da empresa-cliente, que produz, entre outras coisas, explosivos. Consultoria é isso aí: ou você trabalha direito ou, além de levar esporro do cliente, corre o risco de virar paçoquinha...

Falando assim até parece que meus últimos três dias foram só emoção. Que nada... séries e séries de reuniões tranquilas com os gerentes, regadas a cafezinho, PowerPoint e uma bucólica vista da varanda da sala de reunião. Sim, varanda e sala de reunião na mesma frase, veja só...

O trabalho rende bastante em Windturn City, devido ao fato da cidade estar localizada num vórtice espaço-temporal que faz com que o tempo passe num ritmo aproximadamente 30% mais lento que o normal, conforme medido por cientistas (no caso, eu).

A vida na fábrica é bem rotineira: A gente ficava trabalhando até a hora que a sirene (!!) tocava, anunciando a hora do almoço, e depois saía junto com o resto dos funcionários - de capacete e tudo - pro refeitório da fábrica. O capacete é importante: ninguém anda por nenhuma área a céu aberto sem usá-lo. Eu, sinceramente, não sei como ele vai ajudar a me proteger se algumas toneladas de TNT resolverem explodir na minha cara, mas fazer o quê...

Uma hora depois a sirene toca de novo, mandando todo mundo de volta ao trabalho, e só volta a soar às cinco da tarde, quando o expediente termina e todo mundo volta pra casa. Ver o fim do expediente na fábrica é algo, assim... bucólico também. Dezenas de funcionários, muitos deles mais velhos e com aquela cara de desgastados pela vida, saindo pelo grande portão da fábrica, ainda com o capacete na cabeça, o crachá segurando-se pra não cair da gola da camisa pólo toda surrada... Muitos, inclusive, vão pra casa de bicicleta. Fazia tempos que eu não me lembrava de marcas como Monark e Barraforte...

Aí, de noite, é hora de eu e Michael Jackson deixamos nossas coisas no "hotel" (na verdade uma antiga hospedaria que fica dentro da empresa) e sairmos em uma missão impossível: jantar em Windturn City. Notamos que a cidade possui uma espécie de "ponto focal" que concentra todas as (três) coisas que ficam abertas durante a noite: Estas três coisas são a pizzaria (que não abre às segundas) e dois trailers de sanduíche, chamados "Chega Mais" e "Xique no Úrtimo". E o ponto focal é o sinal de trânsito, o único da cidade. Segundo o motorista que nos buscou no aeroporto, o sinal de trânsito é apenas "didático": serve só pra que os nativos treinem o que fazer quando estiverem de carro em cidades maiores...

É sério, Windturn City é tão pequena, mas tão pequena, que na segunda-feira, após ter completado apenas cinco dias na cidade, eu cumprimentei um conhecido na rua. Era o garçom do refeitório da empresa. E ele ainda me zoou: "Olha lá hein! Cuidado pra não se perder na cidade"... Sim, Windturn City é TÃO pequena que a pizzaria nem cobra o delivery, porque, segundo o garçom, "é tudo muito pertinho"...

Mas voltando ao jantar, eu e Michael, além da pizzaria, experimentamos o "Chega Mais". O sanduíche do "Chega Mais" era tão gorduroso, mas tão gorduroso, que eu só conseguí comê-lo até a metade. O resto eu deixei no chão pra que um dos vira-latas que passavam pudesse comer. Aí o cão olhou a comida, cheirou, depois saiu com uma cara de "hmm, melhor não, isso tem muita gordura trans"...

E foi isso: Na quarta à tarde eu deixei Michael Jackson sozinho, já que o resto da semana eu vou passar na capital paulista. Se tudo der certo com a minha agenda, eu só vou voltar a WTC daqui a duas semanas. Uma pena: até lá minhas reuniões não vão ser mais em salas com varanda...

Viajar é preciso

2006-09-26 12:38:00 +0000

Eficiência é isso aí: logo na segunda-feira e eu já estava me superando.

Dessa vez eu consegui bater meu personal record de tempo em viagem:

1:10 horas de avião
2:40 horas de ônibus
4:10 horas de carro (inclui táxis e carro da empresa-cliente)
1:35 horas de espera em aeroporto/rodoviária
Total: 9 horas e 35 minutos

Isso tudo aí foi porque eu voei de BH pra São Paulo de manhã, depois peguei um carro pra Windturn City, depois peguei um ônibus de volta para São Paulo no final do dia.

O consultor vai onde o povo está

2006-09-22 22:58:00 +0000

Tá, eu sei, eu sei que estou devendo a terceira parte do mega-post da lua-de-mel... mas eu acabei de passar dois dias completamente surreais...

Semana passada eu recebi uma boa notícia: seria alocado um projeto como consultor-sênior. Responsa total... com salário maior, trainee só pra mim e tudo o mais.

Na terça, às 18 horas, lá estava eu saindo do Rio de Janeiro, rumo ao meu primeiro dia do novo projeto. Entrei no ônibus e segui viagem...

(Mas peraí... você disse ônibus?)

Rodoviária Novo Rio e meu novo meio de transporte ponto para "decolar"

Pois é, acontece que o projeto seria numa indústria que fica perdida em algum lugar perto da fronteira entre o Rio de Janeiro e São Paulo, numa cidadezinha minúscula que chamarei de Windturn City (ou seja, "aonde o vento faz a curva"). Windturn City é tão minúscula, mas tão minúscula, que eu digitei "Windturn City" no Google Maps, ele localizou a cidade, me mostrou a foto de satélite no zoom máximo, e ainda assim eu levei uns cinco minutos pra localizá-la: "hmmm... será que é essa manchinha cinza? Ali no meio das montanhas?"

Mas então saí do Rio e, quatro horas de ônibus depois, desci na cidade vizinha à Windturn City (porque lá não tem nem rodoviária). De lá, peguei um táxi. O motorista tinha um curioso sotaque de carioca misturado com interior de São Paulo, ou seja, ele puxava o "S" e enrolava o "R" ao mesmo tempo:

- É logo ali, peyrto daquelaix quadraix...

Ou seja, "perto daquelas quadras"...

Como você já deve ter imaginado, não tem hotel em Windcurve City, portanto fiquei hospedado dentro da própria empresa, numa vila onde moram outros empregados. Passei a noite num quarto bem espartano, com três camas (uma delas ocupada pelo consultor-líder do projeto), um armário que saiu diretamente do catálogo das Casas Bahia, um ventilador e um banheiro. Parece ruim, mas até que é confortável.


Uau, agora posso dividir quarto com TRÊS pessoas!

No final do corredor tem uma pequena cozinha, com tudo liberado (ou seja, água gelada) e uma tevê "comunitária" de quatorze polegadas, ligada numa antena parabólica, onde todos os canais (exceto a Globo, obviamente) tem mais chiado que imagem. Windturn City é tão longe de tudo, mas tão longe, que até a parabólica pega mal. É sério: pesquisando na net, descobri que a cidade foi escolhida para um encontro nacional de radioamadorismo, justamente pelo fato dela estar longe de grandes centros urbanos e consequentemente quase não ter interferência...

No dia seguinte fomos à sede da empresa pra começar os trabalhos. Depois de vencermos, a pé, a enorme distância que separava o alojamento da sede (ou seja, um quarteirão), fiquei surpreso quando chegamos a uma típica casa colonial daquelas construídas séculos atrás, com piso de madeira, pé direito enorme, janelas e portas compriiiiiiidas... era como se eu estivesse dando consultoria na Casa das Sete Mulheres.


Se você olhar bem de perto vai ver umas câmeras da Globo atrás do arbusto

Uma curiosidade: a janela da sala aonde estamos trabalhando dá direto para a primeira rua de São Paulo aonde foi instalada iluminação pública, segundo nos contaram. Os postezinhos estilo "mil oitocentos e muito antigamente" continuam lá, firmes e fortes.

O dia de trabalho foi, em uma palavra, bucólico. Passarinhos cantando na janela, aquele clima de casa de vó do interior... os diretores da empresa passavam na nossa sala, calmamente... aí paravam pra bater papo e só saíam depois de horas. Quando caiu a noitinha (porque "noite" é coisa de cidade grande), deixamos a vila e fomos procurar um lugar pra jantar em Windcurve City. A caminhada serviu para conhecermos um pouco das atrações locais:

A pracinha
A ponte
O riacho
O sinal de trânsito (só tem UM na cidade inteira)
A antiga estação de trem, restaurada recentemente em comemoração ao seu centenário. Por "restauração", leia-se "pintura e lâmpadas novas".

Também pudemos observar os "nativos" em seu habitat natural, praticando o esporte predileto do lugar: papear com o vizinho no portão, ou ficar na janela vendo o movimento (qual?!?). A breve caminhada foi também um pouco desconfortável, porque parecia que estávamos carregando uma placa escrito "FORASTEIROS": todo mundo parava o que estava fazendo e ficava olhando fixamente para nós.

Comemos numa pequena pizzaria e andamos de volta. Na chegada, um dos diretores da empresa (que foi conosco) sugeriu uma passadinha no bar da vila. Chegando lá, para minha surpresa, metade da diretoria da empresa estava sentada no boteco, em uma animada conversação levemente amplificada por razões etílicas. Um dos supervisores da fábrica me viu, se apresentou e, cinco minutos depois, parecia o meu melhor amigo: me contou metade da história da empresa, falou da história de sua família, fez piada com o meu time de futebol, falou que gostava de rock'n roll ("até esse mais pesadão!"), depois voltou a falar da empresa...

Eu e o consultor-líder resistimos bravamente por meia hora, depois fomos dormir porque o sono estava brabo - em plenas dez da noite. Numa cidade "normal" eu ficaria acordado até uma da manhã, facilmente, vendo o David Letterman na tevê...

No dia seguinte, tudo exatamente igual. Café-da-manhã, caminhada de um quarteirão e o dia inteiro na Casa das Sete Mulheres. Meu cérebro estava num conflito terrível: eu estava a trabalho num lugar onde era pra eu estar descansando! Tinha um notebook com um slide horroroso do PowerPoint na minha frente, mas eu olhava pro lado e via, pela janela, árvores e vaquinhas pastando. E ao invés do zumbido constante de um ar condicionado ou das buzinas dos motoristas doidos de São Paulo, só tinha barulho de passarinho. E Windturn City deve ficar em cima de um vórtice temporal, porque cada hora levava o dobro de tempo normal pra passar. Em pânico, eu tomava cafezinho atrás de cafezinho para ver se meu corpo voltava ao ritmo normal de cidade grande... mas não adiantava.

Mas o fim do dia acabou chegando e fomos pra rodoviária, para voltar ao Rio. A rodoviária tinha o "kit" completo de rodoviária do interior: pintura com tinta barata, vagas para 6 (seis) ônibus, cachorro sarnento no meio da rua, velho bêbado escornado no chão em frente ao boteco, velhinha com aquele xale marrom-cortina sentada no banquinho, junto com a neta de catorze anos que se veste do jeito que vê em "Malhação", gente trançado pra todos os lados naquelas fiéis bicicletas de 1980, plaquinha comemorativa do Rotary Club, etc.

Nas quatro horas de ônibus de volta pro Rio eu torrei quase toda a bateria do iPod; quase uma "reintoxicação" com o clima de cidade grande...

E foi assim... vou continuar indo pra lá, toda semana, pelos próximos seis meses. Talvez agora que estou em três projetos ao mesmo tempo, em três cidades diferentes (Rio, São Paulo e Windturn City), eu consiga me cansar dessa vida de viajante. Ou não.