The Windturn City Logistics Saga
12:29 - Sexta-feira. Eu e Michael Jackson almoçávamos, felizes, no refeitório da fábrica de Windturn City.
A felicidade não era porque estávamos em WTCity, e sim porque, em alguns instantes, um motorista da empresa-cliente estaria nos levando até o Aeroporto de Guarulhos, para embarcar às 16:30. Com sorte, antes das 19h eu estaria no conforto do meu lar...
12:30 - No momento em que eu dava a última garfada, aparece a secretária:
- Gente... já avisaram pra vocês do motorista?
- Uhhh... não, o que ouve?
- É que não tem nenhum motorista pra levar vocês em Guarulhos.
A comida se embolou toda no meu estômago.
- Mas nosso vôo é 16:30... o que a gente faz então?
- Não sei...
- Mas quais são nossas opções?
- Bem, a gente pode deixar a chave do hotel com vocês...
- Não dá, temos que ir embora hoje!
- Pois é, mas eu não posso fazer nada... vocês podem tentar conversar com um dos diretores...
12:45 - Eu e Michael entramos na diretoria, que estava completamente deserta por causa do horário do almoço. Aí fudeu tudo.
Basicamente, estávamos entregues à própria sorte. Nossa única saída era um ônibus para São Paulo que saía às 13:30 de Buraco City, a cidade vizinha. Só precisávamos arrumar algum jeito de chegar em Buraco City. Mas como? Os motoristas estavam todos ocupados, não tem táxi em Windturn City e o ônibus intermunicipal que faz a linha "Windturn-Buraco" não seria rápido o suficiente.
Enquanto pensava nisso, vi o carro do Capitão parado na rua. O Capitão é um dos funcionários da empresa-cliente. Pela posição do carro, ele deveria morar na mesma rua onde estávamos. Ele poderia nos levar até Buraco City a tempo. Só faltava descobrir em qual daquelas casas ele morava...
12:48 - "Ô de casa!! Por favor, o Capitão mora aqui? Não? Tá bom, desculpe..."
Corridinha rápida até o portão do lado:
- Ô de casa!!
12:51 - E finalmente, numa casa cheia de crianças brincando no quintal, apareceu o Capitão. Explicamos o problema e ele rapidamente se prontificou a nos ajudar.
A esposa dele gritou lá da cozinha:
- Benhê, tem que levar os meninos na escola antes!
12:55 - Ficou assim: O Capitão foi dirigindo. No banco do passageiro estava eu, com uma pilha de mochilas coloridas no colo.
No banco de trás, Michael carregava outra pilha de mochilas. E do lado dele estavam esses anjinhos aí embaixo:

Sim, eu sei que foi imprudente deixar Michael Jackson perto de crianças, mas não tínhamos outra opção.
13:02 - Algumas centenas de metros depois (sim, Windturn City é muito pequena) e chegamos na escola. Uma rápida distribuição de mochilas e beijos na testa e a meninada já estava correndo pra sala de aula. Só faltava o Capitão nos levar até a rodoviária de Buraco City.
13:18 - Lá estávamos nós, com o coração na mão, entrando em Buraco City. Mas o Capitão resolveu fazer um caminho alternativo. Era para "tangenciar o centro da cidade" e chegar mais rápido, segundo ele.
Do lado de fora, as placas indicando a rodoviária iam ficando pra trás...
13:27 - Depois de vários "tangenciamentos" a rodoviária, finalmente, apareceu. Mas teríamos que ser rápidos.
Enquanto eu pensava nisso, o Capitão entrou no estacionamento da rodoviária e parou o carro... a uns 100 metros do ônibus.
- Não, Capitão!! Pare mais perto, senão a gente não consegue carregar todas as malas e chegar a tempo!
- Ah, sim! Pode deixar...
Aí o Capitão deu partida e começou a dar meia-volta, pra pegar a rua novamente...
- Não, Capitão!! Vai por dentro do estacionamento mesmo!!
13:31 - Deu tempo. Eu e Michael conseguimos embarcar.
O vôo de Guarulhos sairia às 16:30, mas ele não era mais uma opção. Nesse horário nosso ônibus deveria estar chegando no Terminal Rodoviário Tietê, dentro de São Paulo. De lá, teríamos que ir até o Aeroporto de Congonhas e procurar algum outro vôo para Belo Horizonte.
16:22 - Chegamos na rodoviária e fomos direto para o táxi. Michael perguntou ao taxista:
- Quanto tempo pra chegarmos em Congonhas?
- Uns vinte minutos, se o trânsito estiver bom.
É claro que eu não acreditei. A minha estimativa era passar uma hora, no mínimo, enfiado nos engarrafamentos paulistas. Mas Michael estava esperançoso:
- Cara! Acho que vai dar tempo de entrarmos naquele vôo da Pampulha!
"Aquele vôo da Pampulha" é o famoso e desejado TAM das 17:57, que tem este apelido porque pousa no Aeroporto da Pampulha. Pra quem não sabe, vôos para a Pampulha são raridade: a maioria deles pousa em Confins. A imagem abaixo mostra o quanto isto faz diferença...

16:37 - Eu mal podia acreditar: o tráfego estava fluindo tão bem que já estávamos pertinho do Ibirapuera, a uns 2 ou 3 quilômetros do aeroporto. Aí eu me animei: liguei para a secretária da empresa-cliente e pedi pra ela mudar nosso bilhete para "aquele vôo da Pampulha".
16:39 - O trânsito inteiro parou.
17:02 - Depois de passar os últimos vinte minutos andando a 10km/h, avistamos o aeroporto. O nosso tão sonhado vôo provavelmente encerraria o check-in às 17:10.
Era hora de medidas extremas.
- Michael, vamos ter que descer aqui e atravessar aquela passarela a pé. Vai ser mais rápido do que fazer o retorno e entrar com o táxi no aeroporto.
Por alguma estranha razão, todo mundo estava motivado a conseguir. Até o taxista entrou no clima de desespero:
- Faz sinal de braço aí que eu vou encostar então, vamulá!!
17:04 - O táxi encostou a alguns metros da passarela. Olhei o taxímetro: 36 reais. Catei rapidamente o dinheiro da carteira, joguei em cima do painel e fui descendo para pegar a mala.
O taxista se assustou:
- Peraí que a tarifa aumentou, deixa eu ver a tabelinh...
Joguei mais cinco reais e saí correndo. Desci do carro, fui até o porta-malas, catei minha mala, virei para o lado para chamar o Michael e... ele estava abraçado com uma mulher.
Eu juro por Deus que não era ilusão. O vôo iria fechar em cinco minutos e Michael Jackson estava abraçado com uma desconhecida no meio da rua.
Depois do abraço a mulher olhou bem para o Michael e disse:
- Uhh... desculpe, te confundi com outra pessoa...
17:06 - Eu e Michael largamos a mulher e começamos a subir as escadas da passarela... correndo e segurando as malas sobre as cabeças.
Já que eu sou o chefe da equipe, tomei a iniciativa de gritar algumas palavras de motivação:
- Vambora Michael! Faz valer essa academia que você frequenta todo dia! CORRE!!
Acontece que, graças à visita do Bush, a passarela estava cheia de militares armados. Um deles se assustou e já ia levantando o fuzil pra atirar em nós. Felizmente ele percebeu a tempo que não éramos terroristas malucos.
17:08 - Finalmente chegamos ao saguão do aeroporto, ainda correndo. As minhas costas estavam suadas, a mochila ia saltitando e se esfregando no suor, e as rodinhas da mala giravam loucamente pelo chão, eventualmente acertando um ou outro pé desavisado pelo caminho. E eu ia pensando: "odeio chegar em cima da hora... odeio chegar em cima da hora... odeio..."
Pulei no primeiro guichê da TAM que estava vazio e perguntei, ofegante:
- O vôo da Pampulha já fechou??
- Não, senhor...
Respirei aliviado. A mocinha continuou a resposta, num tom sarcástico:
- Os vôos estão todos atrasados mesmo...
Nestas horas Murphy e suas leis sempre se fazem presentes. Naquele momento valia aquela que diz: "O atraso do seu vôo é diretamente proporcional ao esforço que você faz para chegar no horário". A mocinha fez nossos check-ins e fomos embora, suados, cansados, mas embarcados. Então Michael disse:
- Acho que você nem notou né?
- O quê?
- Você furou a fila de deficiente físico pra fazer o check-in...
19:40 - Depois de fazer um lanche, trabalhar um pouco, conversar fiado, ver o Lima Duarte e a Feiticeira, o embarque do nosso vôo finalmente começou. Decolamos lá pelas 20h e às 21h eu, finalmente, pousei em Belo Horizonte...