Dia desses a TV estava ligada e começou a passar a abertura daquele velho seriado das bruxas - “Charmed”. A letra do tema de abertura dizia:

I am the sun / I am the heir…

E enquanto os símbolos arcanos vão voando pela tela, a música corta para o refrão:

I am human and I need to be loved…

Todas as vezes que eu vejo isso termino me perguntando: “Por que diabos botaram o amor ali no meio?”. É engraçado porque a intromissão do amor na música de abertura é mais ou menos espelho do que acontece na série: bruxas que, enquanto tentam salvar o mundo de demônios e outras criaturas do mal, ainda tem que lidar com a vida de gente normal – incluindo os romances e namorados.

Não é de hoje que eu me incomodo com inserções românticas no meio de coisas que não tem nada a ver com romance. É meio que uma síndrome do Titanic: não basta ter a melhor história do mundo, ainda assim nêgo enfia uma love story no meio. Acontece nos filmes, nas séries, nos livros… (alguém aí pensou em Crepúsculo e seu amor vampiresco?).

Mas o que eu quero dizer é mais ou menos o seguinte: eu não vejo problema em contar histórias de amor. O problema são as distorções geradas por estas histórias.

Poucos são os filmes que retratam a REAL dificuldade de um relacionamento, a arte que se precisa ter para casar dois egos humanos, opostos por natureza, em uma convivência não somente suportável como também prazeirosa e gratificante. Na telona todo amor é avassalador, intenso, vivido com pouca atenção à razão e deixando os sentimentos fluírem irrestritamente - e ainda assim tudo sai perfeito. O amor de cinema motiva as pessoas muito mais do que seu próprio instinto de sobrevivência e faz com que elas esqueçam seu egoísmo e sua inveja – coisas que praticamente definem a humanidade dos dias de hoje. E as dificuldades entre os amantes só servem de contraste para tornar o final feliz ainda mais feliz ou para pelo menos dar algum mérito ao casal feliz para sempre. Até o “para sempre” é um problema, pois nenhum expectador vê a velhice, o tédio ou a pobreza chegando depois do “The End”.

De fato, o cinema não precisa mostrar a parte chata da coisa – porque, convenhamos, ela é chata e você tá pagando para ser entretido. O problema está no efeito colateral: no fim do filme você tem um monte de pessoas – muitas delas egoístas e de mau caráter - almejando um amor 100% altruísta e desapegado . Um “amor de cinema”, por assim dizer. E aquilo parece tão bom e tão factível que, instantaneamente, todos saem procurando por ele. E começa um ciclo: como todos querem aquilo, o romance passa a ser a prioridade número um de todos os personagens em todas as histórias veiculadas em todas as mídias, o que faz com que mais pessoas queiram aquilo, sem se dar conta de que aquele amor é IRREAL.

O pior é que isso não é Zé Carlos falando, é fato científico, estudado pela Universidade Heriot-Watt, de Edimburgo, inclusive.

Daí o título deste post. Não dá pra ficar vivendo em função de um conjunto irreal de expectativas. Na minha opinião, amor de cinema não deve ser objetivo de vida, e sim consequência. Uma vida de felicidade infinita ao lado de sua alma gêmea é muito menos esforço de procura ou fruto de sorte e muito mais resultado de uma personalidade com um “mix” difícil de se conseguir, que contém integridade, flexibilidade para as atitudes e interpretações e rigidez na hora de manter seus princípios – em ambas as partes do casal. Ou seja, não é fácil e além de tudo é contra-intuitivo.

Ou parece natural que, para conseguir um relacionamento perfeito com outra pessoa, você precise esquecer a procura pelo par perfeito e redobrar seus esforços para dentro de si?