O valuation-tion, o valuation... (e os sites de compra coletiva)
Daí que o Facebook outro dia foi avaliado em 75 bilhões de dólares. Setenta e cinco. Bilhões.
A boa notícia é que não, isso não é uma segunda bolha de internet, então eu não devo perder meu novo emprego. A má notícia é que, na verdade, isso é tipo um esquema de pirâmide para venture capitalists. De qualquer forma, sempre tem alguém que perde muito dinheiro nessas histórias de "eu acho que tal coisa vale tanto".
E na real, eu acho um erro terrível estimar o valor de qualquer empresa de internet. Pra começar, você está usando métodos de valuation criados para um tipo de "ecossistema econômico" que é completamente diferente do que existe hoje na internet. Coisas que tem muito valor no offline podem não valer tanto assim no online, como por exemplo - ahá! - a informação.
"Ah, mas o Google tem ganhado muito dinheiro lidando justamente com informação", você deve estar pensando. Na verdade o grande segredo do Google é prover os meios de acesso à informação relevante e, na sequência, colocar os anunciantes pra venderem seus produtos no lugar onde as pessoas estão procurando por eles. O segredo de ganhar dinheiro com a internet continua sendo o de sempre: usar o meio digital para provocar um negócio no mundo real.
E o Facebook ainda está engatinhando neste sentido...
Update: perguntaram nos comentários o que eu acho do Groupon, avaliado em 25 bilhões, e que de fato provoca negócios no mundo real. Só que aí existe um problema muito sério... tanto que em 1962 (veja bem, quarenta e nove anos atrás), David Ogilvy já falava da falácia dos descontos, em seu livro "Confissões de um publicitário" (grifos meus):
Hoje em dia o mundo da publicidade enfrenta quatro problemas com dimensões críticas.
O primeiro problema é que os fabricantes de produtos de largo consumo, que sempre foram o fundamento da publicidade, estão gastando hoje duas vezes mais em acordos de descontos do que em publicidade. Eles estão obtendo volume através do desconto de preços, em vez de usar a publicidade para construir marcas fortes. (...)
Andrew Ehrenberg, da London Business School, é dono de uma das maiores inteligências do marketing hoje em dia. Ele relata que uma oferta de preço reduzido pode levar as pessoas a experimentarem uma marca, mas elas voltam para suas marcas habituais como se nada tivesse acontecido. (...)
Promoções de desconto são como drogas. Pergunte a um gerente de produto viciado o que aconteceu com seu market share depois que o delírio do desconto acabou. Ele mudará de assunto. Pergunte-lhe se o acordo incrementou os seus lucros. Mais uma vez ele vai mudar de assunto.
Ou seja, no caso do Groupon e demais sites de compra coletiva, o que se tem é o uso do meio digital pra provocar um problema de negócio no mundo real.