Um mito famoso da ciência da computação é de que você precisa ser bom de matemática pra ser um bom programador. Eu sou prova viva desse mito, com dois diplomas de tecnologia, e se você me der uma conta de restaurante pra dividir, eu vou passar apertado. No entanto, um dos canais do YouTube que eu mais gosto de frequentar (no meu raríssimo tempo livre) é o Numberphile, cujo conteúdo é nada menos do que doutores em matemática falando de temas de matemática.

Até certo ponto, é bem justificável o meu interesse. Primeiramente, o trabalho tá incrivelmente tedioso e essa é uma maneira fácil de dar aquela coçadinha nos neurônios. Além disso, eu curto bastante áreas do conhecimento que eu não faço ideia de como funcionam; uma coisa que aprendi com a maturidade é que, quando você se dedica a prestar um pouquinho de atenção à formas de pensar muito diferentes da sua, acaba achando um mundo de aprendizado interessante e surpreendente. Aí volta e meia me vejo procurando saber coisas sobre culinária, ou literatura norte-americana, ou dramaturgia, ou sobre… matemática.

E tem altos cantos do conhecimento matemático que são fascinantes. Um deles é quando você considera o aspecto linguístico dos números, em como eles descrevem o universo em que vivemos - frequentemente, de formas misteriosas. Pegue qualquer círculo em qualquer ponto do universo e, em todos eles, a razão entre a circunferência e o diâmetro é sempre o mesmo número - aquele, o mais famoso número irracional. Ou em como alguns números não podem ser fatorados em nenhum outro número a não ser um ou eles mesmos. E não tem padrão pra sua ocorrência, nem fórmula pra calculá-los todos, o que leva alguns malucos a investirem milhões de dólares em equipamento só pra bater o recorde do maior número primo já encontrado.

Na prática, era pros vídeos do Numberphile serem chatíssimos. Pra começar, o formato é de aula à moda antiga: um professor rascunhando conceitos complicados em uma grande folha de papel. Mas os caras pegam bem leve, vão revelando os problemas aos poucos, de forma bem didática, pra leigos como eu. Com uma vida dedicada à matemática, é de se esperar que eles sejam bastante interessados pelos temas, e é aí que o Numberphile te pega - a empolgação deles vira interesse em você.

É daí o motivo do meu professor predileto do Numberphile ser o Dr. James Grime. Magrelo, esquisito, dentes amarelados… ele definitivamente não é o padrão YouTuber. Mas nenhum dos matemáticos do canal fala com tanta paixão quanto ele. Qualquer explicação, das mais banais, e ele tá lá com um sorriso enorme estampado no rosto. O brilho nos olhos é inconfundível, é o de quem é obviamente completamente apaixonado pelo tema, de quem deriva uma felicidade imensa daqueles momentos de imersão na sua arte.

Hoje à tarde, vendo um dos vídeos dele, eu me toquei que faz muito tempo que não me sinto assim com nada.