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A saga de botar um sistema no ar
2019-04-02 19:09:40 +0000
No último dia dos namorados, Bethania, espertinha, me deu de presente um par de ingressos para assistirmos um show do The Bad Plus. Detalhe: o show era, "coincidentemente", em Nova Iorque, onde "coincidentemente" tem os shows da Broadway que ela adora assistir. Coincidências à parte, foi um presentão, já que nós dois adoramos visitar essa cidade absolutamente foda que é NY.
Só tinha um problema: a data do show, coincidentemente, era a mesma data do "go live" do projeto em que estou trabalhando no banco. É a data onde tudo que passei meses fazendo ia, finalmente, ser colocado em produção e processar 500 mil registros de financiamento imobiliário que o cliente está esperando há um tempão.
Pra piorar, aqui no banco, por questões de segurança, quem desenvolve os sistemas não pode ter acesso a eles depois que são colocados em produção, então toda atualização é feita via um método "toma que o filho é teu" onde eu mando um pedido com todas as instruções de como botar o troço no ar pra um outro cara fazer.
Pra piorar ainda mais, meu sistema depende de outros componentes que, há meses, me dão dor de cabeça. Os mais críticos são:
- Atualizações do "Sarcófago": um banco de dados super antigo, cujo processo de atualização é um grande mistério, passado apenas via tradição oral (ou seja, sem documentação) entre os grandes anciões (ou seja, os caras que trabalham no banco há décadas)
- Acesso à "Nuvem Mágica": um sistema de mensagens, super moderno, propriamente documentado e que roda na "nuvem". O problema desse aqui não é técnico, é que meu time tinha um cara pra lidar com ela - o "Salim" - e o Salim não entende nada da Nuvem, mas no processo de fingir que sabe, me repassa informações erradas sobre como conectar com a Nuvem 100% das vezes.
Meu gerente de projeto tava sossegado e falou: "Tá tranquilo! A gente bota tudo isso aí no ar na noite anterior à da sua viagem". Depois dessa frase eu percebi que não poderia contar com a perspicácia do meu GP pra essa história dar certo.
Pra evitar problemas com a Nuvem Mágica, eu que não sou bobo dei meus pulinhos pra achar as configurações certas com antecedência, sem depender do Salim, mas tinha uma delas que não tinha jeito: a senha de acesso à Nuvem. Por segurança, nenhum programador tem acesso às senhas dos sistemas de produção, então eu tive que pedir o Salim pra botar a senha certa pra mim num "cofrinho" de senhas que meu sistema usa na hora que vai pro ar. Vale lembrar que o Salim me passou senhas erradas 100% das vezes ao longo do desenvolvimento do projeto, então pra me garantir eu mandei um email com cópia pra meio mundo pedindo pra ele testar a senha de produção com antecedência, pra garantir que ela estava correta e que ela tinha as permissões de acesso à Nuvem Mágica, e ele respondeu que sim.
Quanto ao Sarcófago, eu também quis me antecipar e, na segunda-feira da semana da viagem/go live, fui consultar um dos anciões para saber se eu poderia mandar atualizar o Sarcófago com mais antecedência, pra minimizar a chance de dar merda. E foi aí que a merda começou, porque ele virou pra mim e disse:
"Então... as tradições dizem que o Sarcófago só pode ser atualizado no final de semana, e o comitê que aprova atualizações do Sarcófago precisa de 48 horas de antecedência"
Fui contar isso pro meu gerente de projeto e ele nem se lembrava que precisava atualizar o Sarcófago. Mas, muita discussão depois e eles finalmente concordaram em abrir uma exceção para atualizarmos o Sarcófago na noite de quarta pra quinta. O duro é que ficou tudo pro mesmo dia: Sarcófago na noite de quarta, meu sistema na manhã da quinta e, no mesmo dia, eu embarcando pra NY.
Na quarta eu deixei as malas prontas, fui dormir e, às cinco da manhã, já estava de pé pra checar a atualização do Sarcófago, que... não rolou. Confuso, entrei em contato com um dos anciões, que me disse o porquê da atualização não ter sido feita:
"Então... as tradições dizem que, ao fazer seu pedido de atualização do Sarcófago, no dia da atualização você precisa ir lá no formulário de pedido e acrescentar um comentário dizendo: 'Por favor, prossigam com a atualização do Sarcófago', e como você não fez isso o Sarcófago não foi atualizado".
Eu JURO pra vocês que foi isso que me disseram.
Aí todo mundo se juntou novamente e meu chefe sugeriu botar meu sistema no ar sem Sarcófago sem nada, pra eu poder finalmente viajar. Uma ótima ideia, não fosse pelo fato de que teríamos que agendar a implantação pra depois do horário de expediente bancário, que termina às 16:30... e meu voo tava marcado pra decolar às 17:30. Aí começou a gincana: fui com o laptop aberto de casa até o aeroporto, trabalhando do trem para preparar todas as instruções pra deixarem tudo certinho pro troço ir pro ar.
Depois de muita correria - incluindo uma conference call na fila do raio X - às 16h estava eu, finalmente, sentado na sala de embarque, olhando pra tela do computador, esperando a implementação começar. Nessas horas eu dei graças a Deus de estar dando minhas corridas na academia e em boa forma cardiovascular porque, meu amigo, eu tava com o coração na boca. Se tudo funcionasse, tanto eu quanto o sistema entraríamos no ar sossegados, mas se desse pau, eu ficaria offline em algum lugar da estratosfera por quase duas horas, roendo as unhas, sem saber o que rolou.
Pontualmente às 16:31 a minha tela começa a piscar, indicando que a publicação começou. O painel de controle que mostra o status da coisa é uma das poucas coisas de tecnologia da vida real que é parecida com a dos filmes: tem uma lista de etapas e cada uma tem um farolzinho que vai ficando verde conforme elas vão concluindo...
Fazendo download do arquivo de configurações....... OK!
Gerando arquivo com credenciais de segurança....... OK!
Estabelecendo conexão com servidor................. OK!
Enviando arquivos.................................. OK!
E aí tava tudo ficando verdinho... e o coração acelerando... até chegar na última etapa:
Iniciando aplicação...
Olhei pro meu portão de embarque. Pela primeira vez na vida, eu queria que meu voo atrasasse. Depois de uma longa pausa, eis que o último farolzinho finalmente muda de cor... e fica vermelho.
Aí olhei pro portão de embarque e, para minha alegria, o horário do voo atrasou meia hora... mas como alegria de pobre dura pouco, o portão mudou pro outro lado do aeroporto. Desesperado, fui catando as malas/mochilas e, ao mesmo tempo, tentando ver o que foi que tinha dado errado na aplicação. Parecia que o problema era - adivinha só! - na senha de acesso à Nuvem Mágica. Aí fui conversar com o Salim, o colega que deveria ter colocado a senha certa no sistema pra mim:
_ Salim, deu pau na senha da Nuvem Mágica.
_ Ah tá. Você tem a senha?
_ Eu não posso saber essa senha, Salim, lembra?
_ Você tem o aplicativo pra enviar senhas encriptadas por email?
_ Não, Salim, eu não posso ver essa senha, se a auditoria pega isso vai dar problema...
_ Peraí que eu vou te mandar aqui no email normal mesmo então...
_ Não, peraí Salim...
E aí minha caixa postal apita e chega a senha. Bom, pelo menos tá registrado que eu avisei, e já que ele mandou a senha eu aproveitei pra testar e confirmar que, sim, a porra da senha tava errada.
Nisso eu já estava correndo pro outro lado do aeroporto e com o laptop aberto na mão. Aí chega um email do meu chefe, que recebeu a notificação de que o go live falhou:
_ Hey Joe, vi aqui que deu pau... não era pra você estar viajando já?
_ Tou na sala de embarque... parece que o Salim não tem a senha certa pra Nuvem Mágica.
_ Hmm... se eu te mandar isso aqui, ajuda?
E eis que meu chefe me encaminha a senha certa da Nuvem Mágica, também por email, sem criptografia sem nada. Subitamente, todas as minhas preocupações com segurança da informação e auditoria desaparecem(1).
Finalmente chegamos no portão de embarque e nem tinha fila, porque todo mundo já tava dentro do avião. Eu não sei como, mas num espaço de trinta segundos eu consegui encaminhar o email com a senha certa pro cara que estava botando o sistema no ar, fechar o laptop, pegar meu passaporte e embarcar. Mas ainda tava todo mundo em pé no corredor do avião porque não tinha lugar pras malas, e o ar condicionado tava desligado, e no assento da nossa frente tinha um casal com uma menina cujo desodorante havia vencido há pelo menos uma semana(2), e tudo que eu queria naquele momento era saber se a porra do sistema tinha ido pro ar, e eu só teria o espaço de alguns minutos pra conseguir checar antes do voo decolar.
Depois de muitos "excuse me" e "sorry" e de brincar de Lego com as malas no bagageiro eu tapei o nariz, abri o computador e eis que lá está outro email do chefe:
"Publicação concluída com sucesso. Boa viagem, Joe!"
Eu mal conseguia acreditar. A bagaça estava no ar. O meu trabalho dos últimos três meses finalmente nasceu e viu a luz do dia.
A primeira parte da saga estava concluída. Ainda faltava a atualização do Sarcófago, mas eu estava mais tranquilo porque botaram um dos anciões pra tomar conta dela, e da minha parte era só mandar reiniciar meu sistema pra ele se reconectar com o Sarcófago e capturar as novas atualizações. Moleza, certo?
A saga de botar um sistema no ar - PARTE 2
Ah, Nova Iorque. Como é bom estar rodeado de turistas o tempo todo e ouvir uma buzina a cada 30 segundos.
Passamos o dia curtindo a cidade, relativamente despreocupados. A única coisa pendente de trabalho pra mim seria conferir, à uma da manhã, se reiniciaram meu sistema pra ele pegar as atualizações do Sarcófago. No fim do dia fomos ver um show da Broadway e chegamos tarde no hotel, aí nem fui dormir e fiquei fazendo hora até dar o horário.
Pontualmente à uma da manhã lá estava eu, olhando para os faroizinhos que deveriam piscar indicando que meu sistema estava sendo reiniciado. E os faroizinhos, dessa vez, não ficaram vermelhos. Na verdade, eles nem mudaram de cor, o que indicava que nada estava acontecendo. Pra piorar, o cara que iria reiniciar o sistema (chamado "Ted") nem online estava.
Chamei um dos anciões, que também estava acordado, terminando a atualização do Sarcófago:
"Cara, cadê o Ted?"
"Pois é... vamos esperar um pouco"
Meia hora depois e nada do Ted. E ninguém tinha o telefone do Ted. Tínhamos o do chefe do Ted, mas ele não atendeu. Aí, para minha vergonha, ligamos pro coitado do meu chefe, que também não tinha o telefone do Ted. A coisa entrou num nível tão Trapalhões que saímos fuçando a intranet e abrindo planos de implementação de sistemas antigos pra ver se, em algum deles, constava o telefone do Ted. Obviamente não deu certo e, lá pelas três da manhã, meu chefe mandou todo mundo voltar a dormir e tentar de novo às sete da manhã.
Óbvio que não consegui dormir.
Só lá pelas oito da manhã alguém finalmente achou o Ted, que finalmente reiniciou o meu sistema, que finalmente pegou as atualizações do Sarcófago.
Finalmente eu poderia tomar um banho e sair para morrer de sono nas ruas de aproveitar Nova Iorque. O resto do time ia continuar online, e iniciar o processamento dos 500 mil registros que iriam para a Nuvem Mágica. Enquanto eu tirava meu pijama o pessoal mandou o primeiro registro, só pra testar, e então...
A saga de botar um sistema no ar - PARTE 3
Eu considero que a minha melhor qualidade como engenheiro de software é que eu sou pessimista. Em tecnologia não existe o "vamos torcer pra dar certo": o bom engenheiro parte do pressuposto que vai dar merda e então medita profundamente sobre a merda: seus possíveis formatos, locais e formas de atuação. Aí, o bom engenheiro desenha sua solução centralizada na merda, com todos os recursos para evitá-la quando possível ou, se ela é inevitável, para fazê-la feder menos quando acontece. E quando o trabalho de conhecer e mitigar a merda está concluído e os engenheiros júniores estão orgulhosos da resiliência do seu trabalho, o engenheiro sênior ainda está preocupado, então ele vai lá e executa o último e importante passo de deixar prontos todos os recursos para identificar, facilmente e rapidamente, as futuras merdas que ele sabe que não pode prever.
Foi por isso que, mesmo sem dormir, seminu, em outro país e usando internet de hotel, demorei apenas trinta segundos para identificar o que havia de errado quando o povo do projeto saiu gritando que o registro que mandaram não apareceu na Nuvem Mágica. É que agora tínhamos a senha certa da Nuvem Mágica, mas não tínhamos as permissões para enviar informações para ela.
Lembra que, na semana anterior, eu tinha mandado um email pro Salim pedindo, explicitamente, pra ele testar a senha e as permissões de acesso à Nuvem Mágica, e ele disse que tava tudo OK? Pois é, não estava. E agora lá estava eu, lidando com a merda do Salim.
Aí pulou todo mundo junto numa conference call pra ver o que tinha acontecido. Salim continuava insistindo que havia pedido pra liberarem as permissões pro nosso usuário, até que um outro programador menciona que estava copiado no email do pedido e que alguém havia digitado errado o nome do servidor da Nuvem Mágica: botaram o servidor de desenvolvimento, ao invés do de produção.
Mas Salim é o pior tipo de idiota, que é o idiota mal intencionado (também conhecido como filho da puta). Então ele, magicamente, começa a botar a culpa do erro na equipe que toma conta da Nuvem Mágica. Pra piorar, demorou quase uma hora e meia pra conseguir entrar em contato com a pessoa do time da Nuvem Mágica que estava de plantão, o que deu ainda mais munição pro Salim. E eu lá, pendurado no telefone, esperando alguém consertar as permissões.
Bethania foi bastante compreensiva, saiu do hotel pra comprar o nosso café da manhã e também pra entrar na fila da TKTS pra comprar ingressos da Broadway(3). E eu entrei no banho e deixei o telefone no viva-voz, pra ouvir o povo batendo cabeça na conference call, e o Salim botando a culpa no time da Nuvem Mágica pela cagada dele mesmo, e vendo a verdade do que aconteceu se perdendo na confusão. Lá pelo meio-dia meu saco, finalmente, encheu. Peguei o telefone e falei:
"OK gente, eu já mandei pra vocês o usuário e as configurações que eu tenho e vocês confirmaram que está tudo certo. Eu estou em Nova Iorque e tenho aqui comigo uma esposa brava e ingressos para um show da Broadway daqui a uma hora. Não tem nada mais que eu possa fazer do meu lado. Qualquer coisa me liguem."
A parte da "esposa brava" foi só para impacto emocional mesmo, já que Bethania, como sempre, foi super parceira durante todo o ocorrido. Já a parte do show ela fez questão que fosse verdade :), então pegamos o metrô e fomos pra Broadway.
Como bom engenheiro que sou, todos os meus recursos de monitoramento de merda estavam disponíveis também no meu celular, então no intervalo do show abri o link de monitoramento do meu sistema e - surpresa! - tinha um registro enviado com sucesso para a Nuvem Mágica. Alguém finalmente consertou as permissões.
Mandei uma mensagem pro meu gerente de projeto:
"Hey, tou vendo aqui que a Nuvem Mágica voltou a funcionar. Vocês vão rodar os 500 mil registros agora né?"
"Então... agora tem um outro problema em outro sistema, o que lê os registros da Nuvem Mágica, e esse não tem como solucionar agora, então vamos abortar tudo e fazer o processamento só na semana que vem".
A correria na sala de embarque, a noite não dormida e as seis horas de conference call na manhã do Sábado serviram, portanto, para absolutamente nada. Mas o que realmente importa é que eu estava numa das cidades mais incríveis do mundo com a mulher que eu amo, então me desapeguei rapidinho do fiasco da história toda e fui, finalmente, aproveitar meu final de semana. E tomar mais um café, pra conseguir me manter acordado na cidade que nunca dorme...
Epílogo
Alguns dias depois dessa história toda, eis que eu recebo um email da chefe do Salim...
Oi pessoal. Informo que estou nomeando o Salim para o prêmio de performance deste semestre.
Oi?
A sua contribuição para o [nome do meu projeto] foi incrível, onde ele demonstrou sua habilidade e conhecimento da Nuvem Mágica. Ele colaborou com vários times, como o [nome do meu time e o outro time que também não conseguiu usar a Nuvem Mágica] para assegurar a conectividade dos sistemas de ponta a ponta. Ele verdadeiramente merece o prêmio do trimestre.
E então cumpriu-se a profecia que ouvi de um gerente de projetos, dez anos atrás, num projeto de consultoria no interior do Mato Grosso, que disse:
"Quem faz muito, erra muito. Quem faz pouco, erra pouco. Quem erra pouco... é promovido"
UPDATE
Durante uma das inúmeras conferências que fizemos durante o deploy, o gerente de projetos pediu desculpas por tomar o nosso tempo de viagem e perguntou qual o vinho preferido de Bethania. "Ela gosta dos pinots da Califórnia", respondi, achando que ele estava me dando uma sugestão de como eu poderia amenizar o incômodo dela...
Outro dia, cheguei no trabalho e, na minha mesa, havia um belo pinot noir do vale de Sonoma, ingressos de cinema, e um cartão assinado pelo time todo agradecendo a minha dedicação ao longo do final de semana :)

Notas
(1) - Isso me lembrou um outro episódio aqui do banco onde um gerente de projeto queria que eu fizesse uma coisa num sistema. Quando mencionei que não tinha acesso, ele respondeu: "não tem problema, faz com o meu usuário", e me enviou, por email, sem criptografia sem nada, a senha do seu usuário pessoal. Com isso eu conseguiria acessar não apenas o sistema que ele queria, como também todos os sistemas de produção que ele acessa, e ainda todos os seus emails, o seu salário, os seus arquivos da rede, os seus nudes, etc.
(2) - Já é a segunda vez que isso acontece quando voamos para Nova Iorque. Pelo visto o custo de vida por lá anda tão alto que falta dinheiro pra desodorante.
(3) - A Bê, que tem praticamente doutorado em musicais da Broadway, me ensinou que tem dois jeitos de ver shows pagando muito menos do que o preço cheio dos tickets.
O primeiro e mais fácil deles é comprar na TKTS, que fica debaixo daquela arquibancada vermelha na Times Square. Tem também outra TKTS no Financial District, bem no sul de Manhattan. Vale a pena chegar próximo da hora que abre, porque obviamente dá fila. Veja os endereços e horários online. A disponibilidade é limitada, mas você consegue descontos de 20% a 50%.
O segundo jeito é comprando os chamados rush tickets, que são meio que uma "sobra" de ingressos que o teatro não vendeu por algum motivo e que são colocados à venda só no dia do espetáculo a preços muito reduzidos. Mas dá trabalho comprar: você precisa ir à bilheteria do teatro com antecedência, perguntar se eles tem rush tickets e que horas a venda começa, e aí chegar lá no mínimo uma hora antes pra ficar na fila. Não tem como escolher lugar e pode ser que não tenha ingressos suficientes pra quem está na fila, mas se tudo dá certo você compra com tipo 70% de desconto, então vale a pena.
O Primo no Japão
2018-12-14 23:57:20 +0000
Eu não lembro quem sugeriu primeiro, mas o Japão sempre foi um lugar que eu e Bethania queríamos conhecer. A ideia, porém, ficou sempre no fundo da lista de prioridades porque a gente sempre achava que era longe, era caro, tem a barreira da língua, etc etc.
Aí uns amigos nossos foram e adoraram e não tiveram problema nenhum. Aí descobrimos que, daqui do Canadá, um voo pro Brasil demora o mesmo tanto que um voo pro Japão - e que a passagem costuma sair até mais barata. Aí, graças ao fato de Toronto estar cara pra caramba e o Japão estar meio que em recessão, descobrimos que o custo de vida anda mais ou menos o mesmo nos dois lugares. Aí, a Bê tava com férias pra vencer, e a gente foi numa feirinha de cultura japonesa e tinha um stand da Air Canada com um cupom de desconto pra um voo direto de Toronto pra Tóquio... e foi por Tóquio que nossa viagem começou.
A palavra que melhor define Tóquio é... muito. Muito grande. Muito complexa. Muito cheia. Muito limpa. Muito espetacular. Maior do que tudo que já vi nos meus 40 anos, em vários aspectos. Eu achei que, depois de meses planejando essa viagem, eu conseguiria lidar tranquilamente com tamanha envergadura, mas logo na chegada a gente ficou perdido no metrô por duas horas até conseguir chegar no hotel, simplesmente pelo fato de que o sistema de trem/metrô de Tóquio é grande demais. Mas, passado o susto inicial, o resto da viagem correu sem problemas.
Por sinal, internet no celular é indispensável no Japão. Google Tradutor salvou a nossa vida inúmeras vezes. E é muito prático simplesmente apontar a câmera do telefone pras coisas e ter uma tradução (meio que ainda 'tabajara') na mesma hora.
Além disso, o Google Maps mostra até o número identificador das entradas e saídas do metrô, o que é bastante prático, especialmente em lugares como Shinjuku, a estação mais movimentada do mundo, com 3.5 milhões de passageiros por dia e nada menos do que duzentas saídas. Minha maior vitória pessoal dessa viagem foi o dia em que não me perdi em Shinjuku.
Outra coisa que Tóquio - e o Japão - tem muito é boa comida. Parece bobagem, mas isso foi, de longe, o maior destaque da viagem pra mim. Eu arrisco dizer que o segredo do sucesso japonês não é a tecnologia, nem a tradição milenar, nem a ética de trabalho, nem a disciplina... é a comida. Porque, com o perdão da palavra, putaquepariu como se come bem naquela porra.
Tivemos dezenas de refeições memoráveis, incluindo:
O tonkatsu secreto
Esse fica em Tóquio, e é uma birosca onde cabem só 10 pessoas... mas que está no famoso guia Michelin, ainda que na categoria mais básica. Mas pra comer lá é meio complicado, porque você tem que:
- Achar o local (tem só uma placa minúscula, apontando pra uma escada que vai em direção a um porão em um beco).
- Achar a menina que toma conta da fila
- Deixar com ela uns 10 dólares de depósito pelo seu lugar na fila
- Tirar uma foto de um pedaço de papel com o seu nome e o horário da entrada na fila
- Ir dar um passeio e voltar no horário que ela falar pra você voltar
- Ao retornar, no horário combinado, você tem que mostrar a foto do papel que tirou antes, para confirmar que a reserva do lugar na fila é mesmo sua
- Já na fila, você deve ver o menu e fazer o seu pedido antes mesmo de entrar no restaurante. Ah, e não tem menu em inglês - se vire com o Google Tradutor, e rápido porque tem mais gente pra pedir.
Quando finalmente você se senta e, logo logo, chega essa maravilha aí embaixo.
Pra quem não conhece, o tonkatsu é carne de porco frita e empanada, servida com arroz e uns acompanhamentos. Eu nunca vou me esquecer da primeira mordida que dei nesse tonkatsu: o jeito que a crocância perfeita, delicadamente temperada, vai se misturando à suculência da carne imaculadamente, perfeitamente cozida, conforme você vai mordendo seu pedaço... é de chorar. É de arruinar qualquer esperança de que um dia eu me torne vegetariano.
O "BO-LI-NHO"
Escrito assim porque você tem que dizer devagar, saboreando cada sílaba. Esse foi totalmente por acidente, fomos ver a estátua do Godzilla em Ginza, tava na hora do almoço, e enquanto ponderávamos onde almoçar eu vi uma fila enorme em frente a um restaurante. Fui investigar e dei uma desanimada, porque era um restaurante de rede, de Hong Kong, mas quando estávamos prestes a sair, notei que o rodapé do menu dizia: "Premiado com 1 estrela Michelin desde 2010".
Depois de uma hora de fila, pedimos um monte de coisas, todas deliciosas, dentre elas os famosos pork dumplings - que ganharam o nome de "bo-li-nho" desde então. Essa disgrama é uma obra de arte: massa levemente crocante e amanteigada, e um recheio agridoce de carne macia. Bethania ficou absolutamente viciada, tanto que voltamos no dia seguinte pra comer de novo e, pedimos umas três porções do bendito bolinho.
O ramen com o melhor custo benefício do mundo
Esse foi o da maior fila que pegamos: uma hora e meia pra sentar e comer. Além do lugar ser minúsculo, ele é super badalado porque foi um dos primeiros restaurantes de ramen do mundo a ganhar uma estrela Michelin.
O macarrão é fresquíssimo, feito no próprio lugar, diariamente, e os ingredientes da sopa vem moídos/fatiados pra se misturar bem, e logo você percebe o porquê: tudo combina incrivelmente bem. A gordura do porco, o crocante do amendoim, a pimenta, as fibras da cebolinha, é um casamento perfeito de intensidade e sabor. Foi, de longe, o melhor ramen que já comi na vida.
Aí vem a conta e você vê que isso tudo aí custou inacreditáveis dez dólares...
Os izakayas proibidões
Bom, "proibidão" é um tanto quanto exagerado, mas eles com certeza não eram lugares pra turistas que não falam japonês. Pra quem não sabe, o izakaya é um misto de bar com restaurante cujo menu de comida pode ser descrito como "coisas pra ir beliscando com o seu álcool".
Um deles era em Kyoto, numa região chamada "pontocho", que na verdade é um beco com restaurantes por todos os lados. A referência do lugar veio - adivinha! - do guia Michelin, e o Google Maps mandou a gente pro beco, e nenhum dos restaurantes do beco tinha placas em inglês. Aí fomos aprofundando a pesquisa e a treta foi complicando: só tinha uma foto da fachada mostrando uma lanterna de papel, sem nada em inglês, e não tinha nada parecido ali no beco. Depois de muita andança em círculos, descobrimos que tem "sub-becos" dentro do beco, e então eu comecei a explorar os sub-becos e comparar os caracteres em japonês das placas com o nome do lugar em japonês. Depois de muita procura, reparei que uma lanterna de papel tinha umas coisas em japonês que batiam com o nome do lugar. Bingo!
Mas essa foi a parte fácil. Ninguém no restaurante falava inglês, e era impossível usar o Google Tradutor no menu porque ele era escrito a mão... então, peguei o telefone e traduzi para o japonês a frase: "Alguma sugestão?". Basicamente, conversamos via tradutor do telefone e comemos o que eles recomendaram pra gente - incluindo coisas que eu nem sei o que era - e tava tudo espetacular.
Tivemos ainda muuuuitas outras histórias de comida: teve o okonomiyaki em Hiroshima, nos fundos de uma casa da vizinhança, teve o jantar kaiseki que dura três horas e tem dezoito pratos diferentes, teve o kuro tamago, um ovo cozido no vapor das águas vulcânicas de Hakone e que, teoricamente, lhe dá sete anos a mais de expectativa de vida... mas se deixar esse post vai ser só sobre comida, então melhor mudar o assunto.
A gente fez a maior parte das coisas programação turística normal - ir nos milhões de templos, no cruzamento famoso de Shibuya, nas lojas nerd de Akihabara, nas ruínas do prédio destruído pela bomba de Hirosima que é conservado até hoje, etc., mas foi bem legal experimentar coisas que não são muito comuns nos guias de viagem, como:
- O museu da Toyota em Nagoya: mas não se engane, não tem nada a ver com os carros. Tanto eu quanto Bethania somos nerds de processo industrial, e a Toyota é tão referência nisso que a metodologia usada nas fábricas deles é referência mundial na indústria. E o museu é totalmente centrado nisso - ele começa contando o passado da Toyota na indústria têxtil (pois é, eu também não sabia) e de como isso influenciou a tecnologia de produção de hoje. E o museu tem um monte de coisas legais, como demonstrações ao vivo de forja de alumínio, ou robôs de solda industrial que você mesmo pode acionar e ver trabalhando.
- Shinjuku Golden Gai: eu nem deveria estar falando desse lugar, que é tão foda que deveria ser mantido em segredo pra não ser invadido pelos turistas que vão pra olimpíada em 2020. O golden gai fica em Tóquio, e é um emaranhado de becos minúsculos tomados por nada menos do que duzentos e cinquenta bares. Bares do tamanho de um banheiro. Bares onde a área de se sentar é um beliche em cima do barman. Bares cujo tema é Twin Peaks, ou death metal, ou filmes B de terror, ou a Paris de 1950. É a coisa mais incrível de vida noturna que já vi na vida.
- O pachinko: a explicação simples do pachinko é que é o cassino japonês - inclusive com todo um esquema secreto pra embolsar os ganhos, já que jogos de azar são ilegais no Japão. Mas o que me deixou fascinado sobre o pachinko é o ambiente - centenas de caça-níqueis bipando descontroladamente no último volume em um lugar fechado onde todo mundo fuma. A gente entrou no lugar e eu mal consegui aguentar a completa overdose auditiva/olfativa por trinta segundos. É de estragar o cérebro. Honestamente, não sei como as pessoas conseguem passar horas jogando ali.
- Os hosts e hostesses: durante um tour de restaurantes de Tóquio (olhaí a comida de novo), o nosso guia detalhou um pouco desse aspecto bizarro da vida japonesa. Funciona assim: você sai com os caras do trabalho e vai num host bar, onde tem uma menina - a hostess - cujo trabalho é dar atenção à você: ela serve suas bebidas, ri das suas piadas, escuta suas conversas... basicamente, te faz companhia como se fosse sua namorada e estivesse super interessada em você. Não tem sexo, tem só o interesse, o lado emocional do relacionamento, só a companhia. E frequentemente elas exploram esse aspecto pra ganhar presentes dos cabras desavisados, que acham que aquela atração toda é de verdade e que ela se apaixonou por você. É inclusive comum ver gente pagando por essa "namorada de mentirinha" pra fazer coisas comuns, do tipo sair pra jantar.
Essa viagem foi grande demais pra descrever em apenas um post. Felizmente, eu levei uma câmera pra filmar o que vimos e fizemos... então, pra fechar essa história, toma aí mais quinze minutos de Japão.
Retrospectiva 2016
2016-12-29 03:47:38 +0000
É bem possível que o blog se transforme em um "arquivo de retrospectivas" - é a única coisa com alguma previsibilidade por aqui.
Mas tem motivo: reler as retrospectivas anteriores ajuda a dar perspectiva de como a vida vai. E de fato ela "vem em ondas, como mar". Em 2009 as coisas não pareciam muito boas, dado que eu descrevia o ano como "vazio, ácido e difícil". Já em 2016 foi o extremo oposto: foi um ano cheio, saboroso e recompensador. Dá até vergonha falar tão bem do ano que absolutamente todo mundo detestou.
O melhor de 2016: Trudeau disse "sim"
O ponto alto do ano foi, sem dúvida, receber o e-mail abaixo: a confirmação de que, sim, agora somos residentes permanentes no Canadá.
Você deve ter notado que o e-mail é endereçado à Bê... é que ela é quem foi a aplicante principal dessa vez, já que, com mestrado e um ano de trabalho no Canadá, a pontuação dela era muito melhor que a minha. "Fui eu quem conseguiu a nossa residência permanente!", ela fica se gabando. Vou ter que aguentar ouvir isso o resto da vida - o que farei feliz e infinitamente grato. É libertador o alívio que dá não ter mais uma contagem regressiva no meu passaporte e finalmente ganhar todos os direitos do imigrante, como trabalhar sem restrições de tempo/local, ter acesso total à saúde pública daqui e poder reclamar do Maple Leafs perdendo no hóquei.
Outra coisa boa resolvida este ano: acabou a faculdade. Sinceramente, eu não aguentava mais, pelos motivos que expliquei no post anterior. Eu sonhei bastante sobre como seria meu último dia de aula, fiquei com vontade de sair da sala e fazer o Ai Weiwei em frente à escola, mas eu estaria sendo injusto com o lugar que, apesar dos percalços, serviu de degrau pro lugar onde estou hoje. Então apenas entreguei meu último trabalho e fiquei alguns minutos vendo a neve cair enquanto a Bê chegava pra me buscar.
Detalhe: é um troço bobo, mas tenho orgulho das minhas notas. Vou concluir o curso com honors e um GPA (a média daqui) de 4.2 em 4.5.
Ainda não liberaram a maconha, mas já estamos viajando
Mas nem tudo foi estudo. Em setembro, no começo do último semestre, eu matei uma semana de aula para viajar para Banff, na província de Alberta. Quando fui pedir uns dias de folga pro chefe, a resposta dele foi: "eu jamais impediria alguém de viajar para Banff".
Chegando lá ficou fácil entender porquê. A foto abaixo não é nenhum ponto turístico, é apenas uma foto do meu celular no meio da estrada.
Nunca falei tanto palavrão olhando pra paisagens quanto em Banff. Mesmo com tempo nublado em todos os dias, tudo que a gente via era "putaquepariu que lindo", "caralho que foda isso", etc. As fotos não fazem justiça ao quão lindo é aquele lugar.
Essa é uma das melhores coisas de morar no exterior: as viagens. Como praticamente tudo ao seu redor é novo, até mesmo uma viagem curtinha de carro fica super interessante. Como a que fizemos em fevereiro, uma road trip para St. Catherines, onde ficamos num AirBnb fazendo boneco de neve no quintal.
[video src="/assets/wp-content/uploads/2016/12/snowman.mp4" width="400" height="224"][/video]
A gente viajou um bocado esse ano - e, curiosamente, mais no outono e no inverno do que no verão. O que de certa forma faz sentido, já que nos meses quentes temos o "lado B" de Toronto. A cidade vira outra: todo mundo está nas ruas e nos parques, tem um monte de coisa acontecendo na cidade, simplesmente não dá pra não aproveitar. E, ao contrário do que muita gente pensa, no inverno tem muita programação pra fazer ao ar livre - só precisa de mais roupa.
[caption id="attachment_8552" align="aligncenter" width="535"] Piquenique na Toronto Island[/caption]
Com tanta viagem e dia de verão nem dá tempo de ter saudades do Brasil. As visitas também contribuem para isso; andei fazendo as contas e em 2016 não passamos nem três meses seguidos sem receber alguma visita brasileira, seja família ou amigos.
Mas não se pode ter tudo; conforme entram as novidades e alegrias, algumas coisas inevitavelmente vão ficando pra trás.
As distâncias e as perdas
O meu tempo por aqui acabou fazendo aflorar um tipo novo de distância - uma distância ideológica, e essa não há visita que supere. A coisa é complicada e tentar explicá-la vai acabar me rotulando como prepotente, mas o resumo da história é que, ao olhar o Brasil se transformando - como aconteceu com a crise toda de 2016, você vê a coisa de um jeito se estiver de dentro, e outra completamente diferente se estiver de fora. Quando as visitas brasileiras chegavam e o assunto era o Brasil, por exemplo, eu não entendia várias opiniões da conversa, e as minhas opiniões também não eram lá muito bem entendidas. No fim, achei por bem parar de acompanhar as notícias brasileiras e de opinar sobre elas nos WhatsApps e Facebooks da vida. Como diria a finada (e amada) avó da Bê, "o silêncio é a base da prosperidade".
Por outro lado, um entendimento que melhorou ainda mais esse ano foi o do inglês. A transformação do cérebro quando confrontado com uma vida bilíngue é simplesmente fascinante: quando eu saio pra andar com o cachorro e penso na vida, os pensamentos agora saem numa mistura maluca de inglês com português que does not make sense mas que funciona beautifully. Ano passado a cachola ainda sofria pra alternar entre o português e o ingles, e a boca ainda engasgava entre os dois modos de falar. Hoje é bem mais natural.
O lado ruim dessa história é que isso é o começo de um lento e inevitável adeus ao português. Eu nem tinha reparado, mas escrevi este post seguindo, inconscientemente, o detestável esquema da "redação hambúrger" que aprendi ano passado num dos cursos da faculdade - especialmente a regrinha de que cada parágrafo deve começar com uma "frase-sumário" e depois discorrer sobre ela. É que o inglês é uma língua quadrada, dura, porém eficiente, seguindo fielmente sua raiz germânica, enquanto o português tem, literalmente, uma raiz "romântica" (ou seja, do romano/latim), e isso lhe confere uma expressividade inacreditável. E é isso que todos os meus textos em português vão perder lentamente ao longo dos anos. Vou sentir saudade de usar frases deliciosamente ingênuas, profundamente expressivas e inegavelmente brasileiras no meu dia-a-dia, como por exemplo, dizer que "esse cara manja dos paranauês".
Conclusão - ou, "quem não planeja, é planejado"
Quem me conhece sabe que eu sou bom de planejamento. Quando fomos pra Banff, por exemplo, eu montei um cronograma da viagem inteirinha, dia a dia, com hora de início e fim de todos os itens da programação*. Meus amigos começaram a viagem me zoando... e terminaram me agradecendo.
Há dois anos, quando decidimos vir pro Canadá, é claro que tinha planejamento de longo prazo. A meta de 2016 era eu me formar já com algum emprego engatilhado para 2017, e depois conseguir residência permanente só lá pra 2018. O emprego garantido veio seis meses antes do previsto, e a residência permanente veio anos antes do previsto.
Para 2017, com a residência estabilizada por aqui, ficam liberados os planos nórdicos de longo prazo, como comprar imóveis e tal. Considerando que não tem inverno no mercado imobiliário daqui - ou seja, os preços estão pegando fogo - ano que vem provavelmente teremos um repeteco da mesma novela que foi a compra do meu apê de São Paulo (que, por sinal, estamos vendendo, viu?). E tem também uma "meta secreta", que será revelada no momento apropriado :)
* - O segredo pra um bom cronograma de viagem são duas coisas: encher os prazos de "gordura", alocando o dobro ou triplo do tempo pra cada coisa, e deixar espaços para acomodar mudanças de roteiro. Planejamento não é pra ser seguido à risca, isso é lenda. Planejamento é para servir de referência na hora de mudar de rota, porque a única certeza que você pode ter sobre o futuro é que você vai ter que mudar o planejado. E quanto às gorduras no cronograma, como diria o meu grande mestre de gerenciamento de projetos, ainda na minha época de consultoria... "cronograma sem margem de erro já nasce atrasado".
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Retrospectivas anteriores:
2015 - 2014 (não teve) - 2013 - 2012 – 2011 – 2010 – 2009 (b) – 2008 – 2007 – 2006 – 2005
Por que estou deixando o Brasil
2014-11-04 19:53:46 +0000
Sim, é isso mesmo. Talvez este seja o mais longo e mais importante post deste blog. Se ajeite aí na cadeira.
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Preâmbulo: como assim você está saindo do Brasil?!?
Pois é, cara. Depois de anos considerando casualmente a possibilidade de morar fora, este ano começamos a levar a coisa à sério e, após muita fritação de "vamo/não vamo", eu e Bethania decidimos: vamos pro Canadá.
O plano é eu voltar pra faculdade, para um curso de 2 anos que é um semi-bacharelado em engenharia de software. Em termos de carreira eu até poderia ir e procurar emprego direto, mas decidi voltar a trabalhar na área técnica. Não tem jeito, é o que eu gosto mesmo de fazer. Depois do curso, quero arrumar um emprego lá e, a partir daí, o objetivo é conseguir cidadania canadense e ficar. Bethania, que é muito mais ninja profissionalmente do que eu, já tem inclusive um emprego esperando por ela.
A escolha do país, tecnicamente, foi fácil: o Canadá tem uma política de imigração bem aberta em função da população envelhecida e da demanda por profissionais qualificados. Além do mais eu morei lá por seis meses, em 2005, a trabalho, e não somente conheci como adorei o lugar.
Já filosoficamente falando, trocar de país é uma coisa bastante complicada - e é o que me motivou a escrever este post.
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Você não precisa ficar onde está
"Menino, vai na padaria pra mim!", me diziam quando eu era criança e vivia em Belo Horizonte. Eu não gostava de ir à padaria porque a distância pra mim era enorme e cheia de ladeiras, e ir comprar pão parecia uma maratona. Aí pula para 2014: dia desses eu estava visitando os parentes em Beagá e acabou coincidindo de eu passar exatamente pelo mesmo trajeto entre meu antigo prédio e a padaria.
Eram só dois quarteirões.
Talvez eu estivesse morando exatamente no mesmo lugar até hoje se não fosse o meu emprego de consultoria, que me fez viajar o Brasil todo - e me levou ao Canadá pela primeira vez. Passar por lugares novos muda o tamanho do lugar onde você vive e, também, quebra a regra invisível de que a sua vida só pode acontecer onde você mora. Em função do hábito, conveniência e da família sempre próxima é fácil se limitar ao que existe (ou não) na sua cidade e moldar sua vida de acordo com o que existe a dois quarteirões de casa, ou achar que o mundo é só aquilo ali, e passar a vida achando que aqueles dois quarteirões são uma distância enorme. Mas você não precisa ficar onde está. Essa frase banal esconde uma verdade universal, libertadora. Foi pela ausência dessa regra que eu e Bethania nos mudamos pra São Paulo: invertemos a lógica de "gostar do que se tem" e fomos pra onde o que a gente gostava estava.
Agora está acontecendo mais ou menos a mesma coisa. A gente quer trabalhos legais mas com menos stress, quer impostos que voltem de fato, quer poder andar na rua sem medo de assalto, quer poder ter filhos em um lugar mais amistoso (e mais acessível!). E São Paulo não permite tudo isso junto. Talvez o Brasil não permita isso - talvez nunca permita.
E este é o gancho importante para falar justamente de algo que me incomoda há muito tempo mas que só fui entender depois dos trinta e muitos anos de idade: o Brasil tem muita DR pra fazer consigo mesmo antes de se tornar uma grande nação, coisa que não vai acontecer tão cedo. Talvez nunca aconteça. E, como só se vive uma vez, eu não posso esperar.
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A inigualável cultura brasileira (ou: por que o Brasil é do jeito que é?)
Minha diversão mais recente aqui em São Paulo é usar a ciclovia novinha que o Haddad resolveu passar bem na esquina da minha rua. Todo dia eu arrumo motivo pra ir pra algum canto de bike, muitas vezes só pra dar o exemplo.
No começo, sempre tinha alguém com carro estacionado na ciclovia, e eu sempre reclamava com o motorista. A maioria se fingia de bobo ou arrumava uma desculpa. Uns até xingavam de volta. Uma vez um deles ameaçou me bater e quebrar meu telefone, porque tirei uma foto do seu furgão estacionado bem em cima da faixa vermelha.
Talvez você esteja pensando: "mas cara, tu ta indo embora, pra quê ficar cobrando os motoristas de respeitar ciclovia? Daqui a alguns meses tu nem vai usá-la mesmo, e ainda periga apanhar ou levar um tiro".
Então, cara! O problema é exatamente esse. Meu primeiro impulso também foi pensar e agir assim - e é precisamente por isso que o Brasil é do jeito que é e não vai mudar tão cedo: aqui o individual é mais importante que o coletivo.
Esta cisão entre indivíduo e coletividade provoca um efeito colateral bizarro, que é a divisão mental do brasileiro. Sabe a mania que temos de criticar o país na terceira pessoa? "Brasileiro é tudo burro", "o povo só quer saber de futebol", etc, etc? Quem fala, fala como se não fosse brasileiro, efetivamente se separando da própria crítica - afinal sua moral individual é superior à ignorância coletiva.
Se essa cisão fosse só socioeconômica ou política tava bom. O problema é que ela é pior e muito mais profunda: é uma divisão cultural.
Ela aparece, por exemplo, quando tem um mendigo dormindo no meio da calçada e a gente desconsidera mentalmente que ali existe uma pessoa. Ou você olha para aquele cara caído na saída do metrô, preto de fuligem, com uma unha do pé que parece a garra de um bicho, e se pergunta de onde ele veio, se tem filhos - ou se ainda tem sonhos? (por sinal uma fan page genial chamada "SP invisível" faz exatamente isso, vale muito a leitura). Essa divisão está aí o tempo todo, quando você reclama do trânsito (o trânsito é você) ou que o preço do cinema está um roubo (sua carteirinha de estudante é legítima?).
"Mas tudo isso aí pode mudar!", você poderia alegar - e com razão. A questão é que tem problemas nacionais que dá pra resolver relativamente rápido, como a economia ou a distribuição de renda, mas a questão do "individual sobre o coletivo" é cultural - e mudar uma cultura é incrivelmente difícil. Leva séculos, e pode dar muito errado. Olhe para a história do mundo moderno e me aponte quantos países conseguiram mudar sua identidade nacional da água pro vinho: eu só consigo pensar na Alemanha pré e pós-Hitler e pré e pós muro de Berlim, e ainda assim a mudança só veio com grandes traumas nacionais. Vale o mesmo pro Japão antes e depois das bombas atômicas. Mas mudança orgânica, sem neurose, derramamento de sangue ou hecatombes político-sociais, aí eu não sei de nenhum exemplo.
Eu não queria, mas não tenho como não mencionar as eleições de 2014 - porque elas exemplificam muito do que eu falei aí em cima. No início eu tentei encarar a sujidade e a baixeza com a qual as pessoas, candidatos ou não, se comportaram nestas eleições como imaturidade, efeito de uma democracia que ainda é muito jovem. "Todo mundo quer um Brasil melhor, mas como crianças, estamos todos fazendo birra para isso", pensava eu. Aí tou vendo milhares de pessoas na Av. Paulista, enquanto escrevo este post, pedindo o retorno do regime militar. Vi o nascimento do chamado "discurso do ódio", com coisas deprimentes como molecada xingando nordestinos no Twitter pelo resultado da eleição. Com gente do naipe de Ricardo Amorim, economista renomado, postando que "quem estuda não vota na Dilma" - isso só pra citar alguns poucos exemplos. E só consigo entender tudo isso da forma que mencionei anteriormente: com a preponderância do individual sobre o coletivo que, aplicada num processo democrático, vira uma briga de "quem tem a maior melancia na cabeça".
Faça um auto-exame: ao escolher em quem votou, você pensou no que seria melhor pro país ou no que seria melhor para você? E, se você pensou no coletivo e não no individual... você se lembrou do mendigo na saída do metrô?
Pra piorar ainda mais o banzo: enquanto aqui as eleições terminavam, lá no Canadá um maluco entrou atirando no parlamento, matou Nathan Cirillo (um dos guardas que vigiava o Memorial de Guerra) e depois foi morto. A reação da mídia e das pessoas por lá foi, simplesmente, inacreditável:
- A cobertura da imprensa canadense foi tão sóbria, factual e isenta de sensacionalismo que arrancou elogios pelo mundo.
- Kevin Vickers (o "chefe da segurança" do Parlamento) foi o responsável por matar o atacante. No dia seguinte aos ataques, ele simplesmente foi trabalhar normalmente. O vídeo dele sendo aplaudido de pé, ao voltar ao trabalho no parlamento me deixou embasbacado. E no Reddit, além dos elogios, tava todo mundo preocupado em dar apoio psicológico a ele, porque matar alguém pode ser traumático, etc, etc...
- Ainda no Reddit a outra fonte de preocupações era a única vítima: Nathan Cirillo. Tinha um monte de gente preocupada em abrir um fundo para doações para o filho dele, que era pai solteiro, e inúmeros comentários sobre sua bravura e o quanto isto era uma perda para o Canadá. E ninguém sequer mencionou o atacante. Até hoje eu não sei o nome dele. Mas tinha gente preocupada até em quem ia cuidar dos cachorros do Cirillo daqui em diante.
- E o cartunista do principal jornal de Ottawa ainda me publica isso aí embaixo.
Em resumo: um evento importante sacudiu o Brasil e saiu muita coisa ruim. Mas quando um evento importante sacode o Canadá...
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Pontualidade e outros superpoderes inúteis - e um grande dilema
Outra questão cultural menos grave, mas que me incomoda desde sempre, é o modus operandi brasileiro: improvisado, espontâneo, altamente orientado à relacionamentos pessoais. Não estou criticando este jeito de ser, mas passei quase quarenta anos tentando me adaptar a ele e... não dá, eu não sou assim.
Eu gosto de ordem, planejamento e regras bem definidas. Eu chego no horário quando combinam comigo - e normalmente fico esperando feito bobo, porque ninguém chegou. Eu faço cronograma de viagem de férias. Eu assino Rdio e Netflix (sem proxy!), compro MP3 no Bleep, meu Office é original e licenciado e tenho três backups dos arquivos do computador. Na verdade, culturalmente falando, eu nunca me identifiquei com as coisas nativamente brasileiras (futebol, samba, praia). No entanto eu consigo te explicar todas as regras de um jogo de curling, o único esporte com o qual tive afinidade instantânea foi o esqui e uma das minhas camisetas prediletas é de uma banda chamada Set Fire to Flames - que é canadense.
E aí eu e o Brasil ficamos muitos anos nesse casamento de aparências: não temos nada a ver um com o outro mas estamos aí, juntos.
E é isso que me dói e me gera uma crise de consciência enorme. O momento nacional é sério, é importante. Não se trata só de um rebuliço econômico, ou de uma maluquice traumática como foi a ditadura: o Brasil está meio que "entrando na puberdade" do ponto de vista ideológico, e é um momento ímpar onde todo mundo deveria dar o melhor de si pelo país. E a mítica hora que a gente canta no hino, dizendo que "o filho teu não foge à luta", e no entanto é exatamente isso o que eu estou fazendo.
Mas essa luta é longa demais, e talvez seja impossível vencê-la. Quem me conhece sabe que eu não sou otimista, mas pense comigo: você se enxerga indo ao Mineirão assistir um Atlético e Cruzeiro onde as torcidas não ficam separadas no estádio? Você vê esta realidade em um futuro próximo? E em um futuro distante? E o quão distante está este futuro? Pra mim, este é o melhor indicador possível pra se melhoramos ou não na questão do "individual sobre o coletivo".
A vida já me deu bastante porrada (felizmente, nenhuma nos estádios). E o que eu aprendi com isso foi que é fundamental saber quais brigas comprar. Então, decidi comprar a da imigração - que é uma senhora briga, vale frisar.
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E como faz pra ir pro Canadá?
Ah, rapá, aí nem com dez páginas de post dá pra explicar. É um processo demorado e de MUITA burocracia, até pros padrões brasileiros. O melhor a fazer é ver o site do Ministério da Imigração Canadense, mas em resumo você tem que ter curso superior - ou grana pra fazer um por lá -, tu tem que ter experiência de trabalho numa das profissões que estão em demanda e inglês ou francês bom (e comprovado por um teste tipo IELTS ou TOEFL).
No meu caso eu tinha dois planos (lembra da minha paranóia com backup? Pois é!)
Plano A) Imigrar pelo processo federal (Federal Skilled Worker). Nela, você já chega com visto de residente permanente, o que te permite trabalhar e/ou estudar onde quiser e virar cidadão depois de alguns anos. O problema desta opção: a burocracia dela é inacreditável (o processo que enviei tinha quase cem páginas!), o formato atual dela, que te permite ir sem achar emprego antes, vai ser extinta em 2015 e as vagas de 2014 foram limitadíssimas - apenas 1.000 por profissão.
Plano B) Ir como estudante de um curso superior. A burocracia é beeem menor, não tem limite de vagas e dá pra aplicar pro visto pela internet mesmo. O duro desta opção é o custo (e a ausência de renda), mas você ganha direito a um visto de trabalho quando se forma e seu cônjuge pode trabalhar enquanto você estuda.
No meu caso o plano A foi a maior decepção do mundo: passei MESES reunindo documentos, DIAS preenchendo os formulários, gastei uma bolada com cópia autenticada e tradução juramentada, outra bolada fazendo o teste de inglês (IELTS, que fiz de ressaca e com três horas de sono, mas tirei 8 em 9 - história para outro post...), mandei meu diploma (físico) pro exterior pra ser validado, foi uma via crúcis. Aí mandei tudo, fiquei meses fritando se eu ia conseguir entrar nas mil vagas, até que numa segunda-feira vi a cobrança da taxa de análise no meu cartão de crédito indicando que sim, eu havia entrado.
A alegria durou três dias, que foi o tempo de vir um email do consulado avisando que faltou incluir uma data em um documento, que foi desconsiderado e que, por isso, me desqualificou do processo por um ponto.
Agora estamos indo de plano B: já escolhi uma faculdade, fiz matrícula e exatamente hoje, dia que este post (que estou escrevendo há MESES) finalmente vai ao ar, nossos passaportes estão no consulado para receber o visto.
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E suas coisas do Brasil?
Ué, tou vendendo tudo! A lista está aqui e aumenta todo dia. Se quiser algo nem precisa comprar pelo Mercado Livre, fale comigo e a gente se acerta.
Quanto ao nosso apartamento, vamos deixá-lo alugado - e se quiser você pode morar nele ou indicar para os amigos. Aproveita que tá barato :)
Natal e ano novo na Grã-Bretanha
2014-01-27 11:06:36 +0000
No meio do ano passado eu e Bethania estávamos conversando e o assunto era "o que fazer no réveillon".
- Onde será que tem uma festa legal de ano novo? - perguntou ela.
- Você diz, aqui em São Paulo?
- Não, no mundo inteiro.
Algumas pesquisas no Google depois e decidimos que a virada do ano seria em Edimburgo, na Escócia, pra conhecer o famoso Hogmanay - e, de quebra, passar o natal em Londres. Deus abençoe as milhas de cartão de crédito.
(Todas as fotos by Bethania)
Parte 1 - Londres
Londres me fez nunca mais reclamar do clima de São Paulo. Aprendi isso logo no primeiro dia: descemos da estação de trem e tínhamos apenas 600 metros de caminhada até o hotel. Mas fazia um frio de cinco graus, chovia e era impossível usar guarda-chuva por causa do vento. Míseros duzentos metros tentando empurrar mala depois, desistimos e entramos num táxi.
Londres também me fez nunca mais reclamar dos preços de São Paulo. Com a libra a quase R$ 4 um mísero pint de cerveja custava uns quinze reais. Mas com um pouquinho de planejamento prévio (e com o Yelp instalado no celular) comemos e bebemos super bem - com direito até a restaurante estrelado Michelin no nosso roteiro.
Mas falando assim fica parecendo que eu odiei Londres, o que é exatamente o oposto: foi, de longe, o lugar que eu mais curti.
Na noite de Natal (onde a cidade morre e fica tudo fechado) fomos pra um pub em Camden Town. Morremos de rir da completa ausência de malemolência inglesa ao ver os(as) londrinos(as) tentarem dançar, batemos papo com altos bêbados solitários de bar (um deles era produtor de hip hop) e Bethania já ia levando uma cantada de um sérvio bêbado quando mencionei que ela era minha esposa. E o maluco ainda me respondeu assim:
- Ah, vocês são um casal? Mas ela tem cara de européia, de sul-africana... já você parece mesmo brasileiro com esse cabelo enrolado...
No dia 25, onde TUDO fica fechado em Londres (inclusive todo o transporte público), passamos o dia andando nas Boris Bikes - as "bicicletas do Itaú" deles. Teria sido um dia perfeito, não fosse o meu celular, que caiu do bolso numa dessas pedaladas e não sobreviveu, perecendo com a tela estilhaçada em frente ao Palácio de Buckingham.
(Inclusive ninguém acredita, mas foi só por isso que comprei o Nexus 5. Juro, eu não ia trocar de telefone, foi puramente por necessidade).
Outra atração londrina memorável foi quando fomos à Fabric, que a DJMag elegeu "melhor club do mundo" por três anos seguidos. O lugar é enorme e a música... a música... MEU AMIGO... nada menos que três ambientes com DJs esmerilhando um nível inacreditável de qualidade musical - e olha que eu já gastei o ouvido em centenas de podcasts e sets gravados por grandes nomes das pick-ups mundiais.
Apesar do tempo chuvoso todo santo dia (cumprindo o estereótipo) Londres foi só alegrias: pirei na Tate Modern, surtei no inacreditável metrô londrino, ardi a goela comendo comida asiática, ganhei alguns quilos comendo fish and chips e tomando cerveja em pubs enquanto assistia jogos do Campeonato Inglês, e ainda curti uma viagenzinha de trem a 180km/h até Glasgow.
Parte 2 - Glasgow
Ainda no universo musical, uma das coisas que eu gosto em viagens é conhecer o ambiente que inspira a produção musical dos artistas que gosto. O clima provinciano, simples mas austero de Glasgow explica muito do som do Mogwai, Belle and Sebastian, Camera Obscura, Frightened Rabbit e tantas outras bandas boas. Ficamos na cidade apenas uma noite que, apesar de gelada, ainda acomodou um jantar indiano incrível e depois um "bar hopping" no centro da cidade pra conhecer lugares como o King Tut's, que tem uma escadaria para o terraço onde rolam os shows e onde cada degrau é pintado com os nomes das bandas que tocaram no lugar a cada ano. Gente de respeito, tipo Oasis, Radiohead, The Killers, Juliette Lewis, Pulp, Florence & The Machine...
Parte 3 - Edimburgo
Bem, Edimburgo era pra ser o grand finale da viagem com o famoso Hogmanay, a enorme festa de rua que fecha o centro histórico da cidade, é cheio de shows e atrações e culmina na queima de fogos nos céus do castelo à meia-noite. Mas a moral da história é que, de fato, ninguém no mundo sabe fazer festa como nós brasileiros.
O Hogmanay foi basicamente um "Réveillon na Paulista" piorado. Tava muito cheio, não dava pra circular entre os palcos pra ver todos os shows (perdi um do Chvrches por causa disso) e, em relação ao público, infelizmente descobrimos que o escocês não bebe para se divertir - bebe pra cair.
Pra piorar, a gente comprou os ingressos antes de anunciarem o show principal, que foi ninguém menos que os... Pet Shop Boys. O palco onde eles tocaram era separado e foi inacreditavelmente subdimensionado: tinha umas 8 mil pessoas num espaço pra duas mil, então a multidão começou a se espalhar por uma colina gramada perto do palco que, por causa da chuva, virou um lamaçal.
Como não queríamos começar 2014 na lama, a solução foi fugirmos para o esquecido palco de música típica escocesa: uma espécie de "quadrilha" com gaita de fole, que estava vazio e onde, felizmente, tinha banheiros e acesso ao bar com menos de uma hora de fila. Resultado: gastamos uma fortuna em Smirnoff Ice (é, eu sei, eu sei) e, depois dos fogos, dançamos quadrilha com um bando de desconhecidos bêbados até as duas da madrugada.
Por sinal a música típica escocesa foi uma das melhores coisas da viagem: ela lembra muito o country norte-americano ou a nossa música caipira, mas com toques de música celta, um violino (o "fiddler"), letras em um inglês de sotaque inentendível e até elementos de stand-up comedy (sério, os caras contam altas piadas entre uma música e outra). No hotel onde estávamos conseguimos entrar de penetras num show do North Sea Gas, um trio famoso de música da Escócia. Foi incrível. Os caras alternam músicas de piadinha sobre bebedeiras ou comida com canções emocionantes sobre a guerra ou simplesmente sobre o amor pela Caledônia (o nome poético que os cantores usam para falar da Escócia). Até compramos os CDs dos caras.
E aí, como foi de férias?
2013-02-23 22:50:05 +0000
(crédito de quase todas as imagens: Bethania)
Lembram da minha resolução de ano novo, de menos estresse e mais diversão? Então. Saí de férias no começo de fevereiro e fomos pros EUA. Destino: Las Vegas e road trip na Califórnia.
Essa é uma lista resumida do que fizemos em três semanas de viagem:
- Ganhar, do nada, um upgrade de quarto em Las Vegas. Fomos parar numa suite maior que o meu apartamento. A foto abaixo é de metade da varanda. A outra metade não cabe na foto porque ela dá a volta por todo o quarto.
- Perder dinheiro nos cassinos. Fomos jogar só no último dia. Eu vim preparado: há meses eu vinha jogando blackjack no celular, estudei a estratégia básica e tudo. Aí me sentei numa mesa e perdi US$ 60 em cinco minutos. Lição aprendida. Ah, e vi a Milla Jovovich num dos cassinos. Acredite se quiser, mas a pele dela ao vivo é horrorosa.
- Comer como um louco nos "all-you-can-eat buffets". Implodi uns bons meses de regime nessas, mas valeu a pena. Bufê em Vegas parece coisa de turista, mas o do Caesar Palace foi recém-reformado, é enorme, caro, mas é imperdível: tem todas as variedades possíveis de comida, do japonês ao hambúrger, da lagosta à pizza... e não é tudo feito na baciada, é comida nível gourmet mesmo. A foto abaixo é só a parte de sobremesas do Caesar. Já comeu pirulito de cheesecake? Não parece, mas é uma delícia.
- Atirar com uma arma de fogo. Sim, esse é o tipo de coisa que dá pra se fazer em Vegas! Pra ficar ainda melhor, foi com uma AK47 (foto da esquerda), vários outros fuzis e pistolas e até uma Browning M1919 (a da direita)!
- Visitar o Grand Canyon. Mas como o tempo era curto, fomos de helicóptero.
- Ver mulher pelada em Vegas, mesmo estando com a esposa junto. Foi no Zumanity, o show "adulto" do Cirque du Soleil. Apresentado por uma drag queen, tem desde contorcionistas seminuas numa banheira transparente até um anão stripper-trapezista. Mas tudo com muita classe.
- Dirigir 1000 km até o Napa Valley, na Califórnia. Contornamos o Yosemite Park no meio de cenários fantásticos como esse aí embaixo.
- Passar o dia percorrendo vinícolas e provando vinhos, de bicicleta. Por sinal, você sabe que virou adulto quando percebe que gastou mais dinheiro com vinhos do que com eletrônicos numa viagem pro exterior...
- Jantar num restaurante com estrela do guia Michelin. Foi no vale do Napa mesmo, no Solbar, que apesar de estrelado é acessível para meros mortais como eu. Eu não tenho coragem de tentar descrever a comida aqui, basicamente, estrela Michelin = a porra fica muito séria.
- Conhecer a prisão de Alcatraz, em San Francisco. Fiquei uns 30 segundos dentro da solitária e não consegui imaginar como as pessoas aguentavam dias ali dentro. E ainda vi uma Tommy Gun de verdade!
- Atravessar a ponte Golden Gate... também de bicicleta. É meio tétrico ver os telefones para "emergência e aconselhamento em momentos de crise" espalhados pela ponte, com as plaquinhas de "ainda há esperança, não pule, ligue para...". Numa nota mais positiva, é de chorar o tanto que as cidades californianas são boas pra andar de bicicleta.
- Visitar a sede da Apple, em Cupertino. Porque, né. O mais irônico foi que dias antes eu havia comprado um Nexus 4 :)
- Conhecer o aquário de Monterey. Achei que era só um aquário mas, cara... é embasbacante. Tinha gente chorando de tão bonito.
- Descer de carro pelo Big Sur. Meus amigos... esse dia foi foda. O Big Sur é um trecho da Pacific Coast Highway que desce de Carmel até próximo a San Luis Obispo, ladeando o oceano. É uma das estradas mais bonitas do mundo, com certeza. Esse dia foi perfeito do início ao fim: começamos fazendo a 17-mile drive em Monterey (que também é linda), dirigimos o dia todo ouvindo a discografia do Nightmares on Wax - a música perfeita para aquela estrada - e terminamos vendo o sol se pôr no oceano, numa praia cheia de leões marinhos descansando.
- Comer os melhores cinnamon rolls da Califórnia. Foi puramente por acidente, estávamos lavando roupa num laundromat de San Luis Obispo e, pra matar o tempo, atravessamos a rua pra ver o que tinha. Aí passamos em frente ao Emily's Cinnamon Rolls e o cara da loja do lado nos disse: "Cuidado, isso aí é viciante". Se um dia na sua vida você passar próximo à San Luis Obispo, você PRECISA comer um desses.
- Fazer um piquenique nas praias selvagens de Lompoc. O caminho até lá é curioso: você passa umas plantações, depois uns radares do exército norte-americano (?), depois uns galpões da Nasa (!), e aí chega na praia. Que estava bem cheia, como vocês podem ver aí embaixo.
- Pegar um barco e ver baleias no Oceano Pacífico. Que nesse dia fez juz ao nome e estava parecendo uma enorme piscina, de tão tranquilo. Ps.: a foto não é de uma baleia com escoliose, é que na verdade são duas.
- Conhecer os estúdios da Warner, em Los Angeles. Esse é um tour "adulto", não é como o da Universal, que na verdade é apenas mais um "brinquedo" do parque temático deles. Na Warner, enquanto o guia te leva pra ver os sets de um monte de séries (entramos no de The Big Bang Theory!), ele explica muito do processo de produção cinematográfica, que foi o que mais me interessou, de longe. E pra completar o lado turístico da coisa, você pode tirar uma foto no sofá de Friends, montado numa réplica do set do Central Perk, e ver o "museu do automóvel" deles, que tem TODOS os Batmóveis de todos os filmes.
- Comprei uma Buddha Machine, na Amoeba Records de Los Angeles. Sempre quis ter uma! Bethania não entendeu nada quando eu entrei numa loja com milhões de CDs e saí só com um "radinho AM". No hotel, ela caiu na gargalhada quando viu que aquela caixinha só toca loops repetitivos. E, alguns minutos depois, caiu no sono por causa deles :)
- Ver de perto um ônibus espacial de verdade. Foi a Endeavour, que se aposentou recentemente e foi levada para o California Science Museum. Nerdgasm total. Esse é o tipo de coisa que você tem que ver ao vivo, porque ele é completamente diferente das fotos, muito maior do que eu achava, e parece todo acolchoado por causa da proteção térmica/de radiação.
- Passar debaixo da "Levitated Mass", obra de Michael Heizer, que fica nos jardins do LACMA. É basicamente uma rocha de 240 toneladas montada nas paredes de uma trincheira, de maneira que você pode ficar lá debaixo desse monstro rochoso. Vocês podem achar isso uma grande bobagem, mas isso era uma das coisas que eu mais queria ver na viagem.
- Ver a Shamu no SeaWorld. Bethania queria nadar com os golfinhos (e nadou), já eu fiquei só vendo os shows. Todos eles começam com umas apresentações institucionais de como o SeaWorld resgata animais no mundo todo, mas ao mesmo tempo no celular eu lia uns posts do PETA crucificando o parque como um monte de "porcos capitalistas mentirosos". Não sei bem o que pensar.
- ...e para o gran finale, já no caminho de volta pro Brasil, alugar um Mustang conversível e passear por Miami. Primeira vez na vida que precisei de protetor solar pra sair de carro :)
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Ainda na onda "menos businessman, mais hustler", resolvi usar os skills de trabalho pra dentro de casa e toquei a viagem como um projeto, minuciosamente planejado e montado em várias madrugadas e finais de semana. Tínhamos planilha de custo, roteiro (cronograma) para todos os dias, um "backup" impresso com todas as reservas de hotéis/atrações, incluindo os roteiros de estrada plotados no Google Maps (parte do meu gerenciamento de riscos). Fiz até a playlist da viagem no iPod, horas de música especificamente selecionada pra pegar estrada na Califórnia.
Resultado final? Sucesso completo, tudo dentro do prazo, custo "estourado dentro do previsto", com Bethania me promovendo a "planejador oficial das viagens de férias" do casal. Como é bom ser gerente de projetos :)
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Estas férias espetaculares não seriam possíveis sem esta coisa maravilhosa chamada internet. Agradecimentos especiais para:
- Wikivoyage, a Wikipedia de viagem. É perfeita para o básico dos lugares que você vai visitar e tem indicações de coisas que nunca tem em guia turístico. (ps.: assim como na Wikipedia, ignore a versão em português)
- Reddit Travel. O "buscai e achareis" bíblico funciona muito bem ali. Vários itens inusitados da minha programação (exemplo: as armas de fogo em Vegas) vieram das sugestões de outros redditors.
- TripAdvisor, para indicações de hotéis e passeios. Indispensável pra separar o joio do trigo, especialmente em lugares tipo Las Vegas, cheios de armadilha pra turista.
- Yelp!, para restaurantes. Yelp era simplesmente infalível nos EUA, todos os lugares que fomos por indicação dele eram ótimos. Exemplo: a Eating House em Miami, restaurante barato, criativo (couve-de-bruxelas com lo mein, waffles de Foie Gras, sobremesa que parece um vaso de plantas), delicioso e que nunca apareceria num guia de viagem. Uma pena não funcionar no Brasil.
- Google Maps, para a parte "terrestre" da viagem. Calculei nele todos os tempos de estrada, estudei o trânsito caótico de Los Angeles, no Street View conferi a cara das cidadezinhas minúsculas que escolhemos pra dormir, as estradas que escolhemos, e ainda imprimi todos os roteiros.
- Garmin, pelo seu GPS sempre certeiro, que literalmente nos conduziu pelo vale da morte (é sério, no primeiro dia de viagem, sem saber, passamos pelo Death Valley!). Nosso modelo indicava onde tinha engarrafamentos e mostrava até uma imagem da placa que ia aparecer em cima da saída da freeway, pra não ter erro. Gostamos tanto que Bethania deu um nome pra ele: "Aguiar" (pegou essa? "a guiar"...)
Observações pertinentes e oportunas sobre assuntos totalmente aleatórios
2013-01-23 21:01:53 +0000
Achei que tinha desenvolvido uma tolerância à cafeína depois que comecei a ficar com sono logo depois de beber café espresso. Mas aí reparei que a forma que bebo cafeína é que faz diferença no tanto que ele me acorda.
Donde temos a seguinte escala:
- Espresso - Efeito nulo ou negativo (me dá sono)
- Café de coador - Efeito leve. Os cafés ruins de escritório (estilo 'café de asa de barata'), sem açúcar, são um pouquinho mais eficientes.
- Café solúvel - Efeito considerável. Destaque para o Nestlé DuoGrão (a.k.a. "do ogrão"), que mistura café solúvel com pó de café puro. A cafeína lhe dá um tabefe na cara quando você bebe.
- Café americano (aquele do Starbucks) - Efeito bastante consideravel, mesmo no tamanho pequeno ("tall"). No final do copo eu já estou me sentindo meio Papaléguas.
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Estava vendo minha music library e pensando: é praticamente um milagre eu não usar drogas. Nos últimos tempos eu ando ouvindo muuuuita música de noiado/frito/v1d4l0k4. Exemplos:
- Mad Lib: Discos com 50 faixas de 1 minuto cada, todas feitas de uma brisa das mais abstratas. É filosofia stoner, versão musical.
- Ras G: Eu ouço e dá pra imaginar o próprio Ras no meio da nuvem de fumaça, falando, arrastado: "Dude.... duuuude... u feelin this?..." (ps.: a faixa 11 do disco se chama "jus feel")
- Emeralds: A música se repete, repete, repete, repete, repete... e então o ácido bate.
- OOIOO: Versão japonesa do Santo Daime.
- Rustie: É tipo o cara que cheira uma linha e sai andando pela pista de dança se sentindo o próprio Alexandre Frota.
- SugarBeats: Tu toma um "E" e aquele show de funk (não o carioca, o de James Brown) subitamente fica... crocante.
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Eu continuo naquelas de contratar gente, o que significa ver milhares de CVs, o que significa ver coisas bizarras como:
- Gente que manda CV e no cabeçalho, logo debaixo do nome, vem o nome artístico.
- Gente que coloca hashtags no subject do email. Tipo: #Curriculo #Vaga #Projetos.
- Teve uma menina que incluiu uma citação de Mary Poppins no final do CV. Dizia assim:
Em cada trabalho a ser feito há um elemento de diversão. Você acha a diversão e - pronto! - o trabalho vira um lazer!
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Num fim de semana desses aí fomos conhecer Campos do Jordão. Sim, tá no verão, mas os dias estavam chuvosos e frios (a.k.a. "verão em São Paulo").
As pessoas chamam Campos do Jordão de "a Suíça brasileira". Na verdade é uma "Suíça wannabe", como bem definiu Bethania. Os caras fazem os telhados pontudinhos, servem fondue por tudo que é canto e - voilá! - eis a Suíça... versão brega.
Pra piorar, a cidade não funciona/não entrega:
- No posto de informações turísticas, logo na porta da cidade, ao ser perguntada sobre opções de turismo para dias chuvosos como aquele, a mocinha respondeu: "então né... chovendo assim é complicado..."
- Agendamos uma visita à fábrica da Baden Baden, quando o tour começou a mocinha disse que não teríamos acesso à fábrica por questões de segurança e o "tour" foi ela levando a gente pra ver uns barris de cerveja e lendo uma timeline com a história da cervejaria pregada na parede. Durou 10 minutos. No final deram dois copos de cerveja pra cada um, possivelmente pra ver se, bebendo, a gente esquecia aquela picaretagem.
- O Palácio da Boa vista fecha pro almoço (bem na hora que chegamos lá). Aí, pra não perder a viagem, resolvemos ir ao Café do Palácio, que - surpresa! - não tinha café.
- A aclamada "Fazenda Lenz Gourmet" é uma terrível armadilha pra turistas: de gourmet só o nome, porque o garçom errou tudo do nosso pedido, do ponto da carne às bebidas. A "área de lazer" da fazenda é deprimente, parece um galpão abandonado.
Delírio sobre viagens de avião
2012-05-17 03:17:30 +0000
Um dia desses eu tive a ideia de colocar a coleção inteira de Sandman no iPad, pra ler no avião. E que ideia boa: tenho devorado as edições, fascinado. Nunca vi quadrinhos tão bem escritos.
Coincidentemente, lá pela edição 43, Sandman decide viajar à maneira dos mortais e embarca ele mesmo num avião com sua irmã caçula, Delirium.
Delirium é desenhada como uma menina meio maluquinha, de cabelo colorido e esgadanhado, de olhos cada um de uma cor. Como era de se esperar, Delirium não costuma fazer muito sentido quando fala, mas é dela o comentário mais sensato sobre voar de avião que já vi:
Sabe qual a melhor coisa sobre aviões? Digo, além dos amendoins nos saquinhos prateados.
É olhar as nuvens pela janela e pensar que eu poderia andar ali. Que talvez seja um lugar especial onde tudo está bem.
E às vezes eu ando de verdade nas nuvens, mas é só frio e molhado e vazio, mas quando você vê de dentro do avião é um mundo especial... e eu gosto disso.
Acho que é por isso que sempre escolho voar sentado na janela.
(Além do mais, quem sabe um dia desses eu não vejo uma menininha passeando entre as nuvens?)
10 minutos
2011-05-29 21:16:39 +0000
- Fui abordado por quatro pessoas (um mendigo e três pivetes) pedindo esmola.
- Vi um dos mendigos comprando crack.
- Vi o traficante que vendeu o crack do item 2 juntar mais uns capangas e fazer a contabilidade do dia com todos, no meio da calçada.
Masturbação e caos aéreo
2011-01-06 18:32:38 +0000
Daí que esta semana eu fui à Recife e estava, com o coordenador geral de lá e com a líder da equipe de social media, entrevistando uns candidatos pra uma vaga que abriu no mês passado.
Eu ainda não tinha participado de nenhuma entrevista pras vagas de Recife, e a primeira coisa que notei é que meu coordenador falava mais que a entrevistada. Bem mais. Mas tudo bem, eu me intrometia e perguntava outras coisas, tentava deixar a menina mais à vontade e apesar de tudo a entrevista seguia bem.
Acontece que na nossa equipe de social media tem um cara chamado Tomás, cujo apelido não é lá muito fraterno: "Tomás Turbano" (possível origem do apelido aqui). E na entrevista meu coordenador, falando pelos cotovelos, começa a contar da equipe de social media:
- Então, tem três pessoas, a fulana, a sicrana e o Tomás Turbano...
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Eu achei que meu pior episódio com aeroporto iria acontecer na minha carreira de consultoria, mas não: foi agora, no voo de volta de Recife.
Pra começar não tinha nenhum voo em horário decente, então acabei obrigado a vir num que saía de lá às 23h e que, por causa do horário de verão, chegava em SP - ou melhor, em Guarulhos - às três da manhã.
E aí o voo atrasou nada menos do que TRÊS HORAS.
Pra piorar, no embarque tinha uma família barraqueira. Mas barraqueira MESMO. Não fossem os detectores de metal da sala de embarque eu tenho certeza que um dos tiozões lá tinha tirado a peixeira da cintura e cortado o bucho de alguém, no melhor estilo nordestino. Teve bate-boca, teve bate-bate na porta de vidro que dá acesso ao finger, teve de tudo. E o voo ia atrasando.
E pra piorar ainda mais, lá pelas duas da manhã, o povo da família barraqueira começou a passar mal. Primeiro foi uma das crianças, que vomitou no chão bem em frente ao portão. Aí uma senhora idosa começou a querer desmaiar e o pessoal, aos gritos, começou a pedir um médico. Veio um funcionário da Anac, que sem o menor tato avisou que o médico ia demorar porque estava atendendo "um caso muito mais urgente que esse aí". Aí a família barraqueira perdeu a compostura que ainda restava e ficou berrando coisas tipo "CADÊ O MÉDICO DESSA PORRA?!" por uns quinze minutos, até que o médico finalmente apareceu.
Aí o embarque finalmente começou. Botei meus fones e pensei: "finalmente, agora vou conseguir dormir um pouco no voo". Só que o piloto fez o favor de botar o ar condicionado numa temperatura POLAR e eu, ao invés de cochilar, tremi de frio por três horas.
Pra completar, quando pousei em Guarulhos, lá pras seis e meia da manhã, desorientado de cansado, já tinha engarrafamento na marginal, na Av. Stos Dumont e na 23 de maio.
Cheguei em casa com minha mulher já se arrumando pra ir trabalhar. Aí chutei o balde e resolvi que ia pra agência só à tarde. Troquei de roupa, me enfiei debaixo das cobertas e pensei: "pronto, AGORA eu durmo, pelo menos algumas horinhas".
Mal sabia eu. Peguei no sono e, dez minutos depois, POU POU POU POU: havia alguém destruíndo meu quarto - a marretadas. Acordei em pânico e demorei uns minutos pra descobrir o que diabos era aquilo: meu vizinho está reformando o apartamento e estavam quebrando exatamente a parede que divide meu quarto com o dele. Mas o som era como se Thor estivesse tendo uma crise nervosa e quebrando toda a minha mobília. Pra piorar um pouquinho mais, entre uma marretada e outra, tinha um cara com a clássica furadeira.
Foi lindo.
Alguns momentos da minha viagem de dez dias pelos EUA
2010-04-20 02:23:41 +0000
Sim, dez dias! Três em Orlando e o resto em Nova Iorque.
(Fotos by Bethania. Ou eu. Ou algum dos amigos que foram conosco. Pô, tiramos mil novecentas e trinta e uma fotos, eu sei lá de quem é qual)
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Sexta-feira da paixão, eu e Bethania estamos arrumando as malas quando ela me faz uma proposta indecente: queimar umas milhas a mais e fazer upgrade pra classe executiva.
Algumas horas depois a gente entra no avião. Eu, que esmerilho as minhas juntas em cadeira apertada de avião toda semana, olho pra poltrona aonde vou passar a noite e tenho vontade de chorar. De alegria.
Daí eu aperto um botão e dezenas de motorzinhos ocultos transformam a poltrona em uma cama. Pela primeira vez, em anos, eu ia dormir de verdade num avião. E na horizontal.
Daí vem jantar, vinho, petiscos e quando eu acho que a coisa não poderia ficar melhor, a aeromoça me entrega um par de fones Bose QuietConfort. Do lado deles tem um botão escrito “noise reduction”. Apertei o botão e… gozei.
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Daí de madrugada eu quis ir ao banheiro. Ele era tão grande que eu abri os braços e fiquei rodando dentro dele, rindo como um idiota, por uns 30 segundos.
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A primeira parada da viagem é Orlando, na Flórida, para compras. Percebi rápido minha inocência quando reclamava de Brasília não ter sido feita pra pedestres: Orlando é ainda pior, é basicamente um enorme estacionamento com umas lojas no meio. Não tem metrô e ficamos uma hora no ponto pra conseguir pegar um ônibus.
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No último dia em Orlando fomos ao parque da Universal Studios, que Bethania queria conhecer. Os parques deixam bem claro porque os americanos são líderes mundiais em entretenimento. Andei numa montanha-russa com trilha sonora personalizável: você escolhe uma música e ela toca na sua cadeira durante as piruetas. Felizmente a seleção era vasta e incluía “Sabotage”, dos Beastie Boys – que foi a escolha perfeita.
Tinha também uma outra atração chamada “Disaster!”, que começava com um teatrinho simulando o casting de um filme-catástrofe onde, de repente, me entra ninguém menos do que Christopher Walken no palco do lugar. Claro que era só uma projeção em alta definição, mas era tão convincente que eu e Bethania demoramos tipo uns cinco minutos pra acreditar que ele não estava mesmo lá.
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Mas ficamos só três dias na Flórida e, na terça de madrugada, embarcamos pra Nova Iorque num voo da Delta. E aí um pequeno nerdgasm, porque o voo tinha Wi-Fi. Vale lembrar que no Brasil não me deixam nem usar o telefone em “modo avião” quando viajo. Mas o Wi-Fi era caro pra diabo, e enquanto eu me mordia de inveja ao ver uma vizinha de cadeira lendo emails no seu Macbook durante o voo, peguei uma revista de bordo e tentei fazer uma palavra-cruzada em inglês. Falhei miseravelmente.
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Graças aos deuses do Google e as incríveis habilidades de localização hoteleira de Bethania, nosso hotel de Nova Iorque era a uns 200m da Times Square – um dos lugares mais fantásticos do mundo ocidental e o meu preferido em NY.
Nas nossas idas e vindas sempre estávamos passando por lá. Tem de tudo: caricaturistas, cowboy de sunga tocando violão e pedindo esmola, profeta do apocalipse com plaquinha “o fim está próximo”, flauta peruana, turistas russas recém-enriquecidas desfilando de minissaia (apesar do frio) e bancando a periguete, MUITA polícia (ecos do 11 de setembro, ainda fortes), e se você ergue os olhos do nível da rua, dá de cara com os luminosos das lojas, vários enormes e todos em alta definição. O mais embasbacante deles era o da American Eagle Outfitters. Era imenso e cobria a fachada da loja inteirinha num arranjo meio cubista. A propaganda de lingerie da loja era uma mocinha de 45 metros de altura saltitando no telão, de lingerie e segurando um girassol – e em uma impecável very high definition, de dia ou de noite. Era hipnótico. Bethania é que pareceu não gostar muito da minha admiração pelas belezas da, er, publicidade.
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Momento artsy-fartsy 1: no (belíssimo, saca a foto) Guggenheim, projetores exibiam vários vídeos que mostravam apenas uma velha senhora numa cadeira, praticamente imóvel e em silêncio. Fui ler a plaquinha que explicava a obra e a velha senhora era Merce Cunningham, renomada dançarina e coreógrafa, e os vídeos eram performances de dança para a lendária música de John Cage intitulada “4"33'”.
Pra entender a genialidade da obra você precisa conhecer “4"33'”, então clique aqui.
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Momento artsy-fartsy 2: começo da noite e estávamos de passagem pela Times Square (sempre ela), com pressa porque, salvo engano, era o dia de ver O Fantasma da Ópera na Broadway e estávamos atrasados. Daí eu olho pra um dos inúmeros telões e nele há uma mulher ajoelhada de costas para a câmera, nua da cintura pra cima e com um chicote na mão. E aí a mulher começa a se autoflagelar com o chicote. E meus amigos a passo apertado e alguém me pedindo pra olhar não sei o quê no mapa do metrô e eu não conseguia tirar os olhos do telão. A mulher se chicoteava sem parar e o vídeo não dava indicação nenhuma do que diabos era aquilo. E as pessoas passando apressadas e eu me perguntando se alguém além de mim tinha se tocado de que aquilo ali era a Times Square e que entre a propaganda da Budweiser e da AT&T havia uma mulher se enchendo de chicotadas. Até que me deu um estalo:
“Só pode ser Marina Abramovic”.
…que é uma performance artist sérvia-iugoslava, naturalizada novaiorquina, famosa por performances muitas vezes agressivas fisicamente (mas vastas e profundas do ponto de vista artístico), e que estava no MoMA com sua obra intitulada “The Artist Is Present”, descrita assim pelo BigThink.com:
Durante todo o tempo da exposição, até 31 de Maio, Abramovic vai se sentar em uma mesa e convidar pessoas do público a se sentar em frente a ela, para “trocar energias”.
Detalhe: Adivinha qual foi o museu que NÃO deu tempo de eu visitar? :(
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Claro que Nova Iorque não podia passar sem alguma coisa de jazz. Então, na última noite, fomos ver um set do The Bad Plus.
Este que está aqui escrevendo no blog não sou eu, é uma duocentésima reencarnação de mim mesmo, porque eu morri umas duzentas vezes durante o show. O Bad Plus é como um Satanique Samba Trio “do bem”: correndo pra longe da música convencional, os caras navegam com uma maestria incomensurável entre modulações, dissonâncias e mudanças rítmicas de dois em dois compassos que são difíceis até de explicar. É como se as músicas deles fossem a ficção científica do jazz.
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Sobre a língua, achei que nos EUA eu ia dominar a parada com meu inglês de altíssimo nível. Só não contava com a quantidade enorme de imigrantes nos táxis, hotéis e restaurantes, e com o fato da grande maioria deles não entender inglês (é sério). Em vários momentos, como num incidente envolvendo ingressos errados comprados com uns mexicanos no hotel de Orlando, foi o espanhol de Bethania que salvou o dia.
Andamos de táxi com indiano, árabe “de raiz” com turbante e tudo, grego fanático pelo Panathinaikos, haitiano, marroquino, jamaicano…
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E andamos um bocado de metrô. Já disse que adoro metrô? Tubos de levar gente, escavados sob o chão, um dos transportes urbanos mais eficientes que existem. Não fosse por ele e não daria tempo de fazer nem metade da programação.
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Encontros randômicos com celebridades: em NY jantamos num restaurante onde estava Al Pacino. E logo que chegamos, na esteira de bagagem do aeroporto de LaGuardia, lá estava Viggo Mortensen. Bethania virou pra ele e perguntou:
“…are you Aragorn?”
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Empire State: fila enorme e segurança tipo aeroporto, com raio X e detector de metal (mais ecos do 11 de setembro). Mas a vista…
Depois teve o momento PIMP MY RIDE da viagem: Na saída do prédio tinha um jamaicano motorista de limusine (sabe aquelas “stretch limo”, compridonas?) que se ofereceu pra nos levar até o hotel cobrando só cinco dólares por cabeça. Porque a gente tira onda, sim, mas só quando é baratinho.
(a foto da limusine é em “modo artístico” porque não sei se meus amigos curtem mostrar a cara na internetcha)
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Estátua da Liberdade: fila enorme, segurança chata… e daí a gente tromba com outro grupo de turistas brasileiros. Papo vai, papo vem, e um dos caras reclama comigo:
“Pô, cara, mas cê é brasileiro e tá usando camisa da Argentina?”
Acho que foi meu primeiro facepalm no hemisfério norte.
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Chinatown foi o bairro do spam ao vivo: você anda dois passos na rua e alguém te aborda dizendo: “rolex watches? purses?”. Mas almocei um lo mein (macarrão) delicioso por lá.
E se você quiser cortar seu cabelo no bairro, indico a barbearia aí debaixo.
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Perto do Rockefeller Plaza tem uma loja chamada Nintendo World aonde estão expostas algumas curiosidades da empresa, como um Game Boy que sobreviveu a um incêndio na Guerra do Golfo e ainda funciona. E tem também o FAMICOM, o Nintendinho japonês. Hardcore old gamers vão se lembrar dele e talvez até deixar escorrer uma lagriminha.
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Quinta-feira à noite e lá estávamos nós na porta do Majestic para ver “O Fantasma da Ópera”, o espetáculo que mais tempo esteve em exibição na Broadway e que Bethania estava maluca de vontade de ver. Aí tá nossa turma toda na fila do teatro e eu vou no will-call da bilheteria buscar os ingressos (que compramos MESES antes pela internet, tamanha a expectativa). Entreguei o papelzinho com o comprovante da compra e o cara me responde, com aquela grosseria novaiorquina básica:
- Você pode passar aqui amanhã a partir das cinco pra pegar os ingressos.
Só então eu vi que os ingressos eram para o dia seguinte… mas, datas erradas à parte, foi um belo dum espetáculo.
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O novo papel de parede do meu computador (abaixo) foi obtido no cruzamento da Lafayette com Prince, no SoHo. Foi o bairro mais bonito que visitamos. Hipsters “classe mundial” por toda parte.
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Frase mais usada por mim em Nova Iorque: “Caralho, no GTA IV é IGUALZINHO”. Porque, caralho, no GTA IV é TUDO REALMENTE IGUALZINHO. Ter jogado o GTA IV foi, ao mesmo tempo, um grande spoiler da cidade e uma mão na roda, porque te ajuda a entender um pouco de como a cidade está organizada.
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Breve lista de muamba trazida dos EUA:
- Um notebook Asus U50F-series, para substituir o Vostro-com-cara-de-colostro defunto.
- Jogos de PS3: God of War 3, Call of Duty – Modern Warfare 2 e um Heavenly Sword. Eu queria muito ter comprado também um Heavy Rain, mas vou esperar o hype (e o preço) baixarem.
- Fones de ouvido Shure SE210.
- …e, na categoria de compras tipo “só vou dar uma olhadinha” que acabam na boca do caixa, uma bateria eletrônica Alesis DM6. Coisa mais linda do mundo, ela.
Gastei bem mais do que o planejado. Na hora do “Visa: porque a vida é agora” é tudo uma beleza, mas o duro vai ser pagar tudo isso quando vier a fatura do cartão…
Brasília: Como não amar esta cidade?
2010-03-30 04:05:58 +0000
A segunda-feira acabou às 18:35. Eu e mais dois colegas estávamos dentro do táxi, prestes a voltar pro hotel. Como um deles quis fazer uma parada na comercial da 203 pra comprar umas frutas, o táxi desviou pra L1, na parte de dentro das quadras - que é a parte mais engarrafada de todo o trânsito local. Mas tudo bem, a frutaria fica a apenas duas quadras de distância, a 1,5km de onde estávamos, então não tinha como demorar. Mesmo porque Brasília é uma cidade planejada, e o trânsito foi especialmente desenhado para evitar semáforos e cruzamentos.
UMA HORA DEPOIS, chegamos na comercial. Fica até fácil fazer as contas e determinar nossa velocidade média: 1,5 quilômetros por hora. Se fôssemos a pé chegaríamos TRÊS VEZES mais rápido. Na verdade daria pra ir a pé fazendo paradas a cada cinco metros para fazer um moonwalk, dar uma pirueta, gritar WOOOOO! e continuar andando.
Depois de comprar as frutas, quando estávamos de saída tentando descobrir como diabos faríamos para conseguir voltar pro hotel, meu telefone toca. É o André, velho amigo e também hóspede, dizendo que acabou a luz no Setor Hoteleiro Norte todinho.
Nota: É a segunda vez em menos de duas semanas que temos três ou quatro horas de blecaute na região do hotel. A foto abaixa mostra o Eixo Monumental no dia do primeiro blecaute. Tive que subir seis andares de escada e tomar banho à luz dos faróis de carro...
Então começou o plano "B": ir jantar em algum lugar pra esperar o trânsito melhorar e a luz do hotel voltar. O consenso foi para comermos uma boa carne, então, como estávamos parcialmente abençoados pelos deuses do reembolso de despesas, sugeriu-se o ótimo Corrientes 348, lááá na outra ponta da asa sul.
E que estava fechado.
O plano "C" era o BSB Grill, que não era muito longe. E que também estava fechado. Talvez o comércio esteja adotando uma escala de trabalho parecida com a do Congresso, sei lá.
Então tínhamos que arrumar um plano "D", e alguém sugeriu o Fogo de Chão - este, já muito acima das nossas capacidades de reembolso e perigosamente próximo da região afetada pelo blecaute. Uma rápida pesquisa no Google e liguei pra lá:
- Restaurante Fogo de Chão, boa noite.
- Boa noite. Vocês tem... er... energia elétrica?
Já eram quase 20h quando entramos na churrascaria. O jantar foi sem pressa, já que da janela dava pra ver o setor hoteleiro todo apagado. Só lá pelas 22h a luz voltou e, finalmente, voltamos ao hotel. E aqui cabe um pequeno interlúdio hoteleiro:
Antes a equipe toda ficava hospedada no hotel Sonesta, que é tão ruim que foi extensivamente "avaliado" neste meu post. Depois de MESES de reclamações e nenhuma solução, nossa empresa finalmente cedeu à pressão e mudou todo mundo pro Nobile Suites - recém-inaugurado, situado logo em frente ao Sonesta. Aí você pensa: "Que bom, pelo menos com hotel você não está sofrendo mais!". Bem, parafraseando um dos meus colegas da saga desta noite, o Nobile Suites tem que melhorar muito pra ficar ruim igual o Sonesta. Ele é limpo, tem água quente e internet boa, mas o serviço é TÃO RUIM que na semana passada a gerente deixou, no quarto de todo mundo da equipe, um pratinho de frutas e uma carta com um pedido de desculpas:
Temos ciência de que falhamos nos serviços oferecidos nas semanas anteriores, e estamos fortemente empenhados a mudar a imagem que a equipe da sua empresa tem de nosso hotel. (...)
Sim, claro. Depois de esperar MEIA HORA pra fazer checkin, entrei no quarto e dei de cara com essa PILHA de "empenho" aí da foto em cima da cama.
Dicas para quem não costuma viajar de avião
2010-03-12 03:14:53 +0000
Porque depois de sete anos voando praticamente toda semana e 211.436 milhas acumuladas (só na Tam) a gente aprende algumas coisas. Espero que alguma dica sirva pra você.
Uma coisa que melhora ou arruina sua viagem de avião é onde você se senta. Os aviões da Gol e Tam, em voos domésticos, tem umas 30 fileiras numeradas com três cadeiras de cada lado do avião - como o Airbus A319 aí do lado. Assentos com letra A ou F ficam na janela e assentos com letra C ou D, no corredor. Os piores são os assentos B ou E, que ficam espremidos no meio de duas cadeiras: Evite-os.
Os assentos com números menores (1 até 16) te permitem ganhar alguns minutos na hora do desembarque, mas só se você não tiver despachado bagagem, porque nesse caso sair mais rápido do avião significa apenas esperar mais pela sua mala lá na esteira de bagagem. O inconveniente deles é que se esgotam rápido no check-in e, se você não embarcar primeiro, o espaço para bagagem de mão tende a se esgotar rapidinho. Já os assentos de trás do avião (da fileira 16 em diante) te permitem embarcar mais rápido se você estiver voando pela Gol: o embarque neles é prioritário. Só que você desembarca por último, o que pode significar alguns minutos a mais mofando no avião (ou cochilando alguns minutinhos a mais, se você estiver cansado e sentado na janela).
Por sinal, para cochilar no avião os assentos das janelas são mesmo os melhores: feche as persianas para a claridade não incomodar, encoste a cabecinha na lateral do avião e "boa noite". Eu recomendo nem reclinar a poltrona: ela reclina tão pouco que é melhor deixá-la na posição vertical pra aeromoça não te acordar na hora da decolagem e do pouso. Mas se você gosta de reclinar a poltrona, cuidado: há duas fileiras no avião onde as poltronas NÃO reclinam: a última fileira e a fileira logo em frente à saída de emergência (cujo número varia dependendo do avião, mas é sempre ali entre a 10 e a 15).
O melhor jeito de conseguir bons lugares do avião é reservá-los quando você compra a passagem. Se isso não for possível (seja porque sua empresa é quem compra suas passagens ou qualquer outra razão), a segunda melhor maneira é fazer checkin pela internet. Você pode fazê-lo mesmo que tenha bagagem pra despachar. Os assentos bons se esgotam rápido, então é bom fazer seu check-in o mais cedo possível. Na Gol o check-in pela internet abre 24 horas antes do seu voo. Na Tam são 48 horas.
Em termos de espaço para as pernas os melhores lugares são a primeira fileira e a fileira da própria saída de emergência. Só que não é possível escolher estes lugares pela internet, só ao fazer check-in no balcão mesmo. Outra dica sobre assentos: nunca vi a Tam divulgando, mas alguns dos seus aviões tem tomadas de 110V entre os assentos. Quebra um galho quando seu celular ou MP3 player fica sem bateria.
P.s.: Para assentos em voos internacionais, consulte o excelente SeatGuru.com.
Aeroportos requerem fazer tudo com antecedência, tanto que na passagem as companhias sempre escrevem algo recomendando que você chegue 1 hora antes do voo. Eles NÃO estão mentindo: Se o seu voo é as 16h, não se iluda achando que você vai conseguir embarcar se chegar no aeroporto às 15:45. O horário do voo que você vê na passagem é o horário em que o avião decola. O check-in para o voo se encerra cerca de 40 minutos ANTES desse horário, e o embarque termina uns 15 minutos depois. Se você vai viajar com pouca bagagem, essa é outra razão para fazer check-in pela internet: no caso de algum imprevisto você pode dar o golpe de joão-sem-braço e ir direto pro portão de embarque, mesmo que já tenham encerrado o check-in do seu voo. Se sua mala não for exageradamente grande, os funcionários da companhia aérea não vão reclamar de você não tê-la despachado.
Outra coisa que nem todo mundo sabe que existe: lista de espera. Funciona assim: se seus compromissos do dia acabaram mais cedo e você quer antecipar sua viagem de volta pra casa, ao invés de remarcar seu voo (pagando) você pode ir pro aeroporto e colocar seu nome numa lista de espera para algum voo antes do seu. Se ainda tiver lugares no avião quando forem encerrar o check-in do voo, os passageiros da lista podem ocupar estes lugares. Mas é por ordem de chegada: se sobraram 3 lugares e tem 10 nomes na lista, quem botou o nome primeiro leva. Até onde eu sei nem a Tam nem a Gol estão cobrando por lista de espera.
Os programas de milhagem (Fidelidade Tam e Smiles, na Gol/Varig) costumam desanimar quem voa pouco porque você ganha só 1000 milhas por voo e tem que acumular dez mil pontos pra ganhar passagens grátis. Mas mesmo que você voe muito pouco, vale a pena ter um cartão fidelidade para acumular milhas. Três motivos pra isso:
- As milhas ganhas demoram a expirar (especialmente na Gol);
- Para voos em horários esquisitos (tipo domingo de manhã) ou durante promoções, as companias costumam vender trechos por bem menos do que 10 mil pontos.
- Alguns bancos e cartões de crédito que tem programa de fidelidade deixam transferir pontos do seu cartão de crédito para a Tam ou Gol.
E uma atenção especial para o Smiles da Gol: cerca de 40% das vezes que viajo os pontos dos meus voos NÃO são creditados. Se você vai voar Gol/Varig, guarde o canhoto do cartão de embarque e depois confira no site se suas milhas foram mesmo creditadas. No site mesmo você pode requisitar o crédito das milhas faltantes.
Durante o voo é perfeitamente normal que o avião chacoalhe um pouco. Se você olhar pela janela vai dar até pra ver a asa do avião se dobrando enquanto o avião balança. Isso é perfeitamente normal. Às vezes o piloto dá um alerta de apertar os cintos, as aeromoças interrompem o serviço de bordo e saem correndo com os carrinhos de comida barrinhas de cereal de volta pra cozinha: ainda assim, tá tudo perfeitamente normal. Às vezes o piloto erra a mão na aterissagem e, ao invés de tocar gentilmente com o avião no solo, ele praticamente SOCA o avião no asfalto e dá uma freada que te faz meter a cara no assento à sua frente. E adivinhe? Tudo perfeitamente normal. Aviões foram feitos pra aguentar descargas de raios elétricos enquanto voam no meio de tempestades com ventos assustadores, então não há com o que se preocupar.
Outras dicas sortidas:
- Quer ler no avião? Compre algo antes de embarcar, porque as revistas de bordo são apenas spam dos destinos para onde a companhia aérea voa, disfarçados de reportagens. Honrosa exceção: o Almanaque Brasil, dos voos da Tam, que já andei elogiando aqui inclusive.
- Para fones de ouvido, prefira os com algum tipo de isolamento acústico, porque a cabine é bem barulhenta. Por sinal a Anac não permite o uso de eletrônicos durante o pouso e decolagem, mas para fones de ouvido as aeromoças costumam fazer vista grossa.
- Voar com problemas respiratórios (gripe, sinusite) pode ser perigoso por causa da pressurização da cabine. Essa eu descobri depois de passar um susto voltando de um carnaval em Floripa. Update: O leitor Paulo Cezar (valeu!) lembra que a cabine pressurizada também tem um outro efeito colateral: potencializa efeitos de bebida alcoólica. Você fica bêbado muito mais rápido.
- Mas se você, mesmo sem gripe, sofre com dor de ouvido durante o pouso e a decolagem, e os truques manjados (engolir saliva, beber água, bocejar) não funcionam, tampe o nariz com a mão, feche a boca, cole a língua no céu da boca e tente soltar o ar pelo nariz, com cuidado.
- Em alguns aeroportos (*cof cof Congonhas cof*) onde seu portão de embarque muda toda hora por causa do "reposicionamento de aeronaves no pátio", uma dica pra economizar caminhada é esperar seu voo aparecer como "confirmado" ou "embarque próximo" nas telinhas da Infraero antes de ir para o portão indicado. Dificilmente o portão muda depois desse ponto.
E se tiver algo errado ou você quiser completar a lista, os comentários estão aí pra isso :)
O Primo NÃO recomenda: Hotel Sonesta Brasília
2009-10-01 03:13:22 +0000
Em seis anos de consultoria eu já dormi em tudo que é canto: cama de resort cinco estrelas, hotel de posto de gasolina do interior do Mato Grosso… já pernoitei até em guarita de porteiro de fábrica de armas (é sério!). Mas um hotel que não era pra decepcionar e que me surpreende – no MAU sentido - a cada dia e há muito tempo é o Sonesta de Brasília – “Soneca”, para os íntimos, como eu e o Esparroman (que também já pagou uns pecados por aqui).
Não é brincadeira quando digo que o Sonesta não era pra decepcionar: o prédio do hotel é novinho, deve ter uns 3 ou 4 anos de idade. Os quartos são super bem decorados - alguns tem até varanda. Todas as amenidades de um bom hotel estão aqui: internet, academia, restaurante, sauna, piscina, serviço de quarto 24 horas e tal.
Por fora, bela viola. Por dentro… pão bolorento, como diria o sábio Chaves. Olha a LISTA de coisas que já me aconteceram aqui:
- Comecemos pela internet, simplesmente inutilizável de tão lenta. Eu já usei internet de algumas DEZENAS de hotéis diferentes Brasil afora, e a do Sonesta é a pior de todas, de longe. É tipo o Rubinho Barrichelo num velocípede. Um absurdo para um hotel que se vende por aí como “hotel de negócios”.
- Aí você pensa: “Ah, mas é só internet, não é a coisa mais importante de um hotel”. Concordo. Vamos então para algo um pouquinho mais sério: em vários quartos falta água quente no banho, especialmente de manhã.
- Achou o problema da água quente no banho sério? Então engole essa: o problema da falta de água quente no banho acontece há no mínimo DOIS ANOS e até hoje não foi resolvido.
- Além de torcer pra não pegar um quarto sem água quente, você precisa também evitar os quartos da lateral do prédio, que são minúsculos, de não sobrar espaço pra passar pro outro lado da cama. E estes são justamente os que tem DUAS camas de solteiro. Isso sem contar os quartos que ficam exatamente atrás do elevador e que são simplesmente inabitáveis por causa do barulho.
Estes são os problemas “crônicos” – ainda tem os esporádicos, como quarto com porta que não abre ou quarto com problema elétrico onde nenhuma luz ou tomada funciona. Peguei um destes essa semana, por sinal.
- “Por favor” e “obrigado” não são muito usados pelo pessoal do hotel. A tosquice no atendimento chegou a um extremo na última sexta, quando fui fazer meu checkout: logo após puxar minha reserva no computador o cara da recepção começou a rir quando viu meu sobrenome. Na minha frente. Aí ele viu minha cara de furioso e disse:
- Desculpe, senhor…
E quando eu achei que ele ia complementar o pedido de desculpas, ele me manda um:
- …mas é que tem o Tonico e Tinoco, a dupla sertaneja!
E continuou rindo, o filho da puta.
- O restaurante é uma piada, tanto o serviço quanto a comida. Um dos exemplos eu já até postei aqui. Atualmente o máximo que eu peço da cozinha é um prato e talheres pra não precisar usar talher de plástico ao comer comida de um delivery qualquer… e até isso dá errado. Pausa para pequena historinha:
Semana passada eu liguei pro restaurante do hotel, pedi um prato e talheres. Depois (repare na sequência) liguei pro Grandville e pedi um salmão grelhado com salada e cebolas empanadas pra acompanhar. “Previsão de entrega é 45 minutos, senhor”. Mais ou menos nesse tempo chega o motoboy com o salmão e a salada, mas sem a cebola empanada. Mais uns 10 minutos e ele ligou pro restaurante, confirmando que estava mesmo faltando. Daí ele saiu pra buscá-la e voltou uns 30 minutos depois. Eu comi o salmão, a salada e as cebolas (tudo muito bom, recomendo, tem em São Paulo inclusive) e já estava escornado na cama quando, DUAS HORAS DEPOIS, chega o cara do restaurante com meu prato e os talheres. Sim, DUAS HORAS, não tou brincando.
- Update: Outro dia achei uma barata no meu quarto (detalhes neste post).
“Pô, você precisa reclamar dessas coisas com o gerente!”, você deve estar pensando. Eu comecei preenchendo os papeizinhos de “Fale Conosco” da recepção e, como não adiantava nada, acabei indo conversar com a Srta. Chananda Tubert, gerente de operações. Sobre a internet, ela disse que o hotel tem um link de 1 MBps (sim, UM MEGA, pro hotel INTEIRO) e que, se fosse pra aumentar, ela teria que começar a cobrar pelo uso. Ou seja, ela me mandou um “foda-se você” bem suave. E sobre a água quente ela ficou de verificar (versão suave do “tou cagando e andando”). Como alguns MESES depois nada mudou, eu fui no site global da rede Sonesta, escarafunchei até achar um email “global corporate” qualquer deles e caprichei no meu inglês em um email CABELUDO reclamando da incompetência da gerente. No dia seguinte ela me abordou no café da manhã e, toda simpatiquinha, me encheu de promessas de melhoria. Nenhuma delas cumprida. E isso foi há mais de um ano.
Então já sabe: ao visitar Brasília, para uma boa soneca, não fique no Sonesta: vá pro Mercure, pro Metropolitan, pro Naoum Express… mesmo que você pague um pouco mais caro.
Carnaval em Conceição do Ibitipoca
2009-02-26 17:15:14 +0000
Bem rapidinho, em formato bullet list, porque senão eu invento moda e digo que vou fazer uma série de posts (como os do reveillon) e depois fico passando aperto.
- Conceição do Ibitipoca é LONGE. Pra você ter uma idéia, a cidade fica uns 300km DEPOIS de Windturn City (é sério, eu passei pelo trevo de Windturn City pra chegar lá).
- Conceição do Ibitipoca é PEQUENA. Tem tipo 800 eleitores.
- Conceição do Ibitipoca é BONITA.
- A grande atração Ibitipoquense é o parque nacional e seus quase 1500 hectares cheios de trilhas, cachoeiras, lagos naturais e outras coisas típicas de hippongo ir visitar pra ficar fumando maconha e tocando Raul Seixas. Mas a infra-estrutura do parque é tão boa que o lugar ultimamente anda mais visitado por famílias e casais do que qualquer outra coisa.
- A pousada onde ficamos era bem simplinha, mas tinha uma cama e um chuveiro funcionais, então tava valendo. Meus amigos todos dormiram como bebês, mas eu acordei várias vezes durante várias noites com eventos dos mais diversos, incluindo:1) Gente bêbada pós-carnaval passando pela rua às seis da manhã e gritando só de sacanagem pra acordar quem estivesse nos arredores.2) Um casalzinho que saiu da rua e que, para ter alguma privacidade, entrou na pousada e ficou se pegando ferozmente debaixo da minha janela. Literalmente DEBAIXO. Tanto que eu não aguentei, me levantei e abri a janela de sopetão, com uma cara de sono bastante convincente e vestindo só uma cueca. Os dois pararam o amasso e, ao invés de sair, ficaram travados me olhando com cara de susto. E eu lá, pensando: “Alôôu, moçada, pega a dica!”. Depois de uns dois segundos de perplexidade eu percebi que eles não iam entender meu recado só com linguagem corporal e falei: “Olha, eu estou tentando dormir aqui”. Só depois disso eles foram embora.
3) Um barulho repentino de pessoas gritando “Aêêê!” e comemorando. Fiquei sem entender nada até que, no final da celebração, alguém gritou: “A maconha chegou!!!”.
- Nossa rotina diária era acordar cedo e ir pro parque. Tinha que ser cedo porque, por conta de degradação e etceteras, o IEF estabeleceu uma lotação máxima de 800 visitantes diários no parque – e essa lotação máxima esgota rapidinho. Lá dentro o programa envolvia caminhadas – MUITAS caminhadas – e visita à cachoeiras e grutas – MUITAS cachoeiras e grutas.
O casalzinho ali eu não conheço, mas ficou legal, ajudou a compor a foto. Ficou bem estilo “Revista da Tam”.
- Nessa onda de caminhada meus amigos cismaram de fazer o “desafio final”: uma trilha que dura o dia todo e onde, no total, você percorre DEZESSEIS QUILÔMETROS A PÉ.Isso é MUITO sem noção. Andando 16km eu posso, por exemplo:
1) Atravessar o Mar Morto;
2) Sair daqui de casa, em São Paulo (no Itaim Bibi) e ir a pé até Osasco ou até o autódromo de Interlagos;
3) Sair da minha antiga casa em Belo Horizonte e ir até a fábrica da Fiat, em Betim;
4) Cruzar Brasília de ponta a ponta, saindo da ponta da Asa Norte, percorrendo o Eixão todinho, passando por toda a Asa Sul e chegando até o aeroporto.A razão pela qual as pessoas fazem essa insanidade é porque a trilha tem um monte de atrações, entre elas o pico da lombada, a 1784m de altura (o ponto mais alto da Zona da Mata mineira)…
…tem também o pico do cruzeiro (com uma cruz levemente detonada porque acaba servindo de pára-ráio), as grutas estilo “Estação Dharma do seriado Lost”…
…e o grand finale, que é a famosa Janela do Céu: um mirante composto pela queda d’água encrustrada num cânion de pedras e vegetação que formam, bem, uma “janela” com a vista das montanhas mineiras ao fundo.
Claro que a vista era linda, mas lembro que no meio da trilha eu comentei com alguém: “Os gráficos do Playstation 3 também são bonitos e eu não preciso ficar tostando no sol pra vê-los”…
Detalhe: assim que terminamos a trilha, começou a chover e tivemos, de brinde, um arco-íris absurdo de bonito, cobrindo o parque inteirinho. Talvez uma mensagem divina pra me calar a boca por conta do comentário anterior…
Update - Esqueci de uma coisa importantézima: avisar que o crédito de todas as belíssimas fotos é da minha digníssima esposa, todas tiradas com sua mega-boga Nikon D40.
As Férias do Primo, Parte 2: A Baía da Traição
2009-02-07 15:10:55 +0000
Não, o título não é frase de efeito. O lugar pra onde a gente foi REALMENTE se chama “Baía da Traição”.
Segundo a Wikipedia, o nome do lugar é por conta de um episódio ocorrido em 1625, quando uma esquada holandesa atracou na baía e foi amistosamente recebida pelos índios Potiguaras… que logo em seguida foram massacrados pelos holandeses. Mas a história que nos contaram na cidade é que foram os índios que traíram os holandeses.
Bem, de qualquer forma nossa preocupação não eram os banhos de sangue, e sim o banho de mar. E que mar!
O mar é sossegado e tem um belo esverdeado claro, e a praia é muito, muito tranquila. Esqueça os farofeiros e os vendedores de quinquilharia e guloseimas: você vê no máximo um ou outro quiosque espalhado pela orla e pouca gente. Pra nós, que queríamos sossego, era um prato cheio.
Se você sair da praia e atravessar as casas e pousadas na beirada da areia, encontra a cidade. Bem, na verdade encontra umas casas em volta de uma avenida que percorre a Baía de ponta a ponta.
O clima é de cidadezinha do interior, com as famílias sentadas nas varandas das casas pra “ver o movimento” – que era praticamente inexistente após as 8 da noite. Eu e Bethania saíamos pra jantar e todo mundo olhava pra gente como se fôssemos alienígenas andando na rua àquela hora.
Nestas caminhadas conhecemos o mercadinho central (saca o slogan)…
…depois vimos o “complexo administrativo” da cidade, com a prefeitura e suas várias secretarias municipais. Na foto abaixo, a secretaria de turismo e a delegacia, com toda a sua frota de viaturas estacionada na porta :)
Outra coisa que tem bastante na Baía são lan houses. Aparentemente a molecada adora ficar no Orkut e no MSN, já que contei umas quatro ou cinco só na avenida principal. Uma delas tinha os cartazes abaixo, feitos por um designer que domina a técnica do Word Art.
Eu demorei pra entender o que ele queria dizer com “Célula MP3”. Já o “carbo USB” e o “blutoof” foi mais fácil de entender.
Além da internet, outra coisa que parecia estar na moda na Baía da Traição era o carro com portamala aberto e som alto. O pior é que parecia que apenas UMA MÚSICA estava na moda, então os carros tocavam TODOS A MESMA COISA. E essa “mesma coisa” era um CD mixado por um tal DJ Marcílio que continha:
- Uma música chamada “Mão na cabeça”, consistindo basicamente da frase “mão na cabeça” repetindo até cansar.
- Outras músicas IDÊNTICAS ao “Mão na cabeça” mas com apenas uma mudança na frase que repete até cansar. Algumas vezes era “boquete, boquete” e por aí vai.
Era surreal ver a família toda reunida na porta de casa, com a vovó na cadeira de balanço e tudo, e logo ao lado o carro estacionado, portamalas aberto, berrando no último volume: “É O BOQUEEETE BOQUEEETE BOQUEEETE BOQUEEETE”…
Mas o melhor da cidade era a nossa pousada. Ela era tão boa que ganhou um post só pra ela, aí embaixo…
As Férias do Primo, Parte 2-B: A Pousada
2009-02-07 15:08:13 +0000
Com toda certeza, a grande responsável pelo sucesso das nossas férias foi a Pousada Chez Roni, que nos acomodou durante a nossa visida à Baía da Traição.
Saca só o nível do lugar. Parece, sei lá, o Marrocos ou a Grécia - mas é ali na Paraíba mesmo!
O lugar é bem simples. Não espere TV, frigobar ou telefone no quarto (internet nos quartos – realmente essencial :) - eles já estão providenciando). Mesmo porque não faz sentido encher o quarto com um monte de coisas para te manter dentro dele quando logo ali, do lado de fora, na cara da sua janela, tem a praia e o mar.
Junto com a simplicidade vem também o bom atendimento. O pessoal não mede esforços para que você se sinta à vontade. Você é bem tratado não por que está pagando: na verdade você é muito bem tratado porque o pessoal gosta de ser hospitaleiro. Tanto que nos últimos dias da nossa estadia vimos um casal de italianos de saída da pousada e a filhinha deles chorando porque não queria ir embora. E o pessoal da pousada chorava junto…
Um detalhe interessante é que a pousada é bastante frequentada por gringos, especialmente franceses. O site é bilíngue, o dono é francês e a sócia dele mora metade do ano na pousada e metade do ano na França, com o marido. Vidinha ruim, imagino…
A pousada oferece meia pensão ou pensão completa. Mesmo que você não queira pagar a mais, reserve um ou dois dias para almoçar e/ou jantar na pousada porque, além de tudo, a comida é uma delícia.
Então já sabe: se um dia você for parar na Baía da Traição, saiba que a Chez Roni é très bien e fortemente recomendada.
As Férias do Primo, Parte 1: A viagem
2009-01-06 03:02:02 +0000
Sim, meus amigos! Minhas mini-férias de uma semana foram tão boas (e cheias de histórias) que serão contadas em pedaços. O primeiro deles é a viagem de ida para o lugar escolhido.
A premissa das férias era viajar para descansar, gastando minhas milhas que estavam vencendo e indo para um lugar sossegado, distante da bagunça de reveillon. Após um bocado de adoração ao Deus Google, Bethania, minha esposa, encontrou um lugar que parecia absolutamente perfeito.
Aí você se pergunta: “mas para onde vocês foram?”. Bem, vamos começar dizendo que nós acordamos às 4:30 da manhã do dia 26/12 e voamos até o meio-dia para pousar… em João Pessoa.
A simpática capital paraibana (foto by Bethania Duarte)
Mas espere: não satisfeitos por estarmos no meio da Paraíba, saímos do aeroporto, almoçamos e fomos direto para… a rodoviária, porque ainda tínhamos uns 100km nos separando de nosso destino final.
Sabe, rodoviárias são um bom espelho do que as cidades realmente contém. A do Rio é abafada e caótica, a de São Paulo é SEMPRE lotada, a de Beagá parece rodoviária de cidade do interior, a de Brasília serve como um bom lembrete do que existe além do plano piloto… e a de João Pessoa tinha uma espécie de “feirinha do paraguai” no andar de cima. E tocava música de crente o tempo todo.
Então chegou o nosso ônibus. E aí eu, este serzinho que viaja por tudo que é buraco desse Brasilzão sem porteira, temi pela minha vida: o ônibus era velho, mas MUITO velho, o que ficava evidente em especial pelo cheiro de carpete velho misturado com o do revestimento dos bancos, feito num couro vermelho já há muito judiado pelo tempo. No vidro que separava o motorista dos passageiros tinha até um adesivo indicando a última vez que o ônibus havia sido dedetizado – mas o adesivo era tão velho que a data já tinha se apagado. E não tinha ar condicionado. E nós na Paraíba, lembram?
Sente o drama:
E os passageiros iam embarcando: Famílias inteiras com a meninada fazendo bagunça, um deficiente com sua muleta, um tiozinho com boné da Lubrax, calça jeans surrada e camiseta do Treze Futebol Clube e por aí vai. Era um legítimo ônibus cata-jeca. E pra terminar de me matar de susto, bem nesta hora, minha digníssima esposa resolve me dizer o seguinte:
- Sabia que o lugar pra onde a gente vai nem aparece no Google Maps?
E o motorista entrou, bateu a porta sem muita cerimônia e pegou a estrada – com uns cinco passageiros em pé e obviamente com uma parada a cada 10 minutos pra pegar ainda mais gente (a parte “cata-jeca” da viagem). Tanto que Bethania sugeriu que a gente cedesse nossos lugares a duas senhoras com crianças e viajamos boa parte do tempo em pé.
Eu ainda estava estupefato com a coisa toda quando numa destas paradas embarcou nada menos do que um vendedor de salgados, de camisa branca e gravata (naquele calor absurdo, nunca é demais lembrar), com uma bacia branca enorme cheia de coxinhas, empadinhas, “cocretes” e outras coisas cujo cheiro de gordura, somado com o cheiro de velho do ônibus, deixou o ar ainda mais empesteado. E o cara se acotovelando conosco no corredor do ônibus, e os passageiros conversando alto enquanto o vendedor gritava “ÓI A COXINHA! ÓI O SALGADO!”, e eu e Bethania nos entreolhando sem acreditar que aquilo tudo estava acontecendo.
Algum tempo depois o ônibus sai da estrada, entra no município de Mamanguape e, numa avenida, pára de repente. O burburinho entre os passageiros começa imediatamente:
- Oxe, o que é que foi?
- Ih, foi batida. Olhe ali o carro.
- Mas o cabra tem que tirar o carro da frente, ué.
- Vixe, vai tirar não, o hôme nem saiu do carro… num deve tá querendo tirar o carro do lugar por causa de perícia, seguro ou sei lá.
Aí um tiozinho mete a cabeça pra fora do ônibus e começa a gritar: “TIRE ESSE CARRO DAÍ SEU JUMENTO!”. O burburinho aumenta. O motorista buzina, depois começa a discutir com o cobrador. Duas senhoras desistem da viagem e descem do ônibus, resmungando. E como se o nonsense não estivesse suficiente, aparentemente o dono do carro resmungou alguma coisa que irritou o tiozinho da janela do ônibus, que logo disse:
- Ah é? Deixe esse folgado aí que ele vai ver só uma coisa!
E, esticando o braço até o meio das costas, saca de lá nada menos do que um facão. “Se ele falar mais alguma coisa eu vou lá e lhe encho de furo”, disse. E enquanto isso o motorista ia dando ré no ônibus pra tentar desviar, com o cobrador do lado de fora ajudando a manobrar e o tiozinho branindo seu facão (mais de exibido do que de corajoso), disparando bravatas tipo “na favela onde eu mora nêgo folgado igual esse aí já tinha morrido”. E eu pensando onde diabos fui me meter…
Muitas manobras depois o motorista consegue se desviar do acidente e o balaio segue viagem. E o tempo passa, a noite vem chegando, os passageiros começam a desembarcar e eu ali, perguntando o trocador (sim, tinha trocador) de 10 em 10 minutos se ainda faltava muito… até que, depois de quase duas horas na estrada nós, finalmente, chegamos.
(Continua…)
O Primo’s Amazonic Project Management Saga
2008-11-22 17:51:13 +0000
A imagem era idêntica as que se vê nos documentários da tevê sobre a amazônia: um mar de árvores. Mata fechada, cortada apenas por rios sinuosos de água marrom. Num deles tinha até uma canoa passando. Aì, de repente, aparece uma cidade.
Foi vendo isto da janela do avião que eu pousei em Marabá, interior do Pará...
Minha missão era simples: atualizar o cronograma de um projeto de reforma de um frigorífico. O problema é que os engenheiros responsáveis estão "fugindo ostensivamente" de mim. Não atendem telefone, não respondem email... outro dia achei um deles no Skype e ele me disse: "Como você me achou? Tava me escondendo de você"…
Então resolvi visitar a obra pessoalmente. Só que esta foi a última semana de reforma antes do frigorífico voltar a operar e está tudo um pandemônio, portanto ninguém teria tempo de se sentar comigo e me atualizar sobre o projeto.
A solução? Arrumei um capacete e me enfiei audaciosamente pelo canteiro de obra, no calor paraense, atolado até o tornozelo na lama do canteiro de obra (porque choveu horrores), com um cronograma impresso numa mão e uma planta do frigorífico em outra. E tive que descobrir, por conta própria, o que foi ou não executado e, então, atualizar o status do projeto.
Acho que nunca trabalhei em condições tão insalubres de trabalho. Eu vi placas de aço caindo a alguns metros de mim, vi fagulhas de solda e de metal incandescente voando pra tudo que é lado, vi caminhões atolando na lama, vi um trator quase atropelar dois peões, andei por cima do forro do telhado a uns 5 ou 6 metros do chão, me apoiando em tubos e trepando por cima de dutos de ventilação, saí pelo canteiro de obra à noite em locais onde os peões viviam achando cobras (amazônia, lembram?), e por aí vai…
Mas o saldo final foi positivo: os engenheiros fujões viram que eu não estou de brincadeira e me evitar apenas vai adiar o inevitável e, de brinde, comecei a acompanhar um outro projeto de reforma de uma das fábricas anexas – coisa que vai deixar Darth Vader, meu chefe, bastante contente.
Drill, baby, drill
2008-10-23 02:46:29 +0000
Engraçado como o mundo dá voltas. Quando eu entrei pra faculdade de Ciência da Computação, em 1998, eu jamais imaginei que, dez anos depois, eu entraria num canteiro de obra no Mato Grosso, olharia para uma perfuratriz e pensaria: “droga, o projeto tá atrasado”…
Falando em Mato Grosso, deixa eu apresentar pra vocês a cidade onde estou trabalhando, a 200km de Cuiabá, e que eu chamo pelo carinhoso pseudônimo de “Ovomaltino”…
Pois é. Diz a Wikipedia que aqui tem 18 mil habitantes, só não sei onde eles estão. Mesmo assim Windturn City continua ganhando como o maior fim-de-mundo onde eu já me enfiei a trabalho.
Bem, na verdade eu comecei a falar da perfuratriz porque hoje paguei um belo mico por causa dela: depois de um longo dia cheio de problemas que se multiplicam como coelhinhos no cio, estou eu preparando um relatório quando resolvo olhar pela janela pra ver a obra, a uns 200m de distância. O relatório dizia que a perfuratriz estava trabalhando até as 22h pra compensar uns atrasos do cronograma, mas o que eu vi pela janela foi a perfuratriz parada e do lado de fora do canteiro de obra. Saí da sala e fui direto procurar o engenheiro-chefe, que estava na salinha de café com uma pessoa. Não quis nem saber e cheguei interrompendo:
- Por que diabos a perfuratriz tá parada??
- Não tá não, agora é pra ela estar na área 12, inclusive.
- Acabei de olhar pela janela e ela tá parada e fora do canteiro de obra. Como é que eu vou escrever no relatório que ela tá funcionando até as 22h?
- Sei lá, ela deve ter estragado então. Eu vou ver aqui e te falo…
Voltei pra sala já pensando no pior. Aí olho pra janela de novo e lá estava a perfuratriz… dentro do canteiro de obra e perfurando feito louca. O cansaço e o trauma dos problemas do dia, pelo visto, já estavam me fazendo enxergar coisas. Voltei pra salinha do café com o rabinho entre as pernas e falei com o engenheiro-chefe que eu tinha me enganado.
E o grand-finale foi quando ele voltou pra sala onde eu estava e disse:
- Pô cara, que vergonha hein? Você me puxando a orelha por coisa que não tava errada… e na frente do prefeito de Ovomaltino…
Um hotel para toda a família
2008-09-04 00:56:03 +0000
Ah, a consultoria. Graças a ela eu vim parar numa cidadezinha a 200km de Cuiabá e estou ficando num legítimo hotel de posto de gasolina de beira de estrada.
Que, como vocês podem ver pelas instruções afixadas na porta do quarto, é um lugar totalmente família...
As lembranças que trouxe de Belém do Pará
2008-08-09 19:29:23 +0000
É, eu fui lá dar um treinamento. E não me esquecerei de várias coisas, a saber:
- O calor. Onipresente. Sufocante. Absurdo. E no inverno. "Não é atoa que a criminalidade aqui é alta. Eu mataria por um ar condicionado", pensei eu, nos dez minutos que esperei, ao ar livre, a porta da sala de treinamento se abrir. Outra coisa que pensei foi que deve ser impossível ter um computador com overclock em Belém.
Continuo morrendo de vontade de morar num país com as quatro estações funcionando do jeitinho que eu aprendi nos livros de geografia... - O Rio Guamá. Mas foi tudo planejado pela turma que reformou os galpões antigos do porto e os transformou em um agradabilíssimo lugar com restaurantes e bares (e ar condicionado!). Aí você vai lá jantar à noite e dá de cara com aquele absurdo de rio e com o reflexo da lua batendo nas águas.
Mas o mais incrível foi na hora de ir embora. O avião decolou e me deu, como grand finale da viagem, esse pôr-do-sol sobre o rio...
- A comida típica. Inventei de pedir um "combo" de comida paraense com um monte de maluquices, incluindo maniçoba (a "mandioca brava", cozida por sete dias e preparada como uma espécie de feijoada indígena) e o pato no tucupi (que faz sua língua ficar dormente e, no meu caso, dispara a música "confortably numb" em loop na sua cabeça imediatamente).
A maniçoba era uma delícia. O pato no tucupi, nem tanto. - As dicas que recebi pelo Twitter. Nenhum guia turístico me traria resultado melhor. Graças ao Ian eu experimentei o sorvete de uxi (uma fruta doida - e deliciosa) na Cairu. Graças ao Doda Vilhena eu tenho um monte de bombons de cupuaçu na minha mochila nesse exato momento. E agora tem um a menos :)
E fica aqui meu pedido público de desculpas ao Renmero, ilustre cidadão paraense e companheiro de Impop, a quem prometi umas cervejas no final da sexta-feira. Acabei antecipando meu vôo de volta e deixei o cara na mão. Shame on me. - O palco de música ao vivo montado no guindaste do galpão, nas docas, que fica se deslocando por cima das mesas. Idéia genial, só faltou tirar a música ao vivo.
Isso dá até uma reversal russa: No Pará, a música ao vivo passa por cima de VOCÊ.
- A banca de discos que vi numa das ruas da cidade. Tinha tudo que é velharia em vinil. E tinha uma TV passando o videoclipe de "Neon Lights".
Imagine você, derretendo nas ruas de Belém do Pará, ao som de Kraftwerk. Surreal.
Dias de cão
2008-08-01 03:18:54 +0000
E eu estava aqui contente, me divertindo entre blogs, IM, YouTube e a multitude de coisas (e pessoas) divertidas online quando estiquei as pernas debaixo da mesa e esbarrei em alguma coisa.
O meu primeiro impulso foi o de dizer "Opa, desculpa Pavlov", já que meu cachorro tem o hábito de se acomodar debaixo da mesa e tirar uns cochilos enquanto fico no computador.
E, tão rápido quanto veio o primeiro impulso, veio a constatação da realidade: não, eu não estou em casa. Estou é sozinho, num quarto de hotel, numa cidade distante. E o que eu chutei debaixo da mesa foi um sapato.
Já se vão aí uns seis anos de consultoria, viagens, hotéis e aeroportos, e o bode da distância e da solidão está batendo cada vez mais forte.
Momentos belorizontinos
2008-05-05 16:28:29 +0000
Ir à BH significa encontrar conhecidos na rua sempre que você sair pra rua. Aparentemente isso inclui a estrada, porque encontrei uma antiga conhecida no meio da BR-381, perto de Três Corações, na viagem da ida.
Já em Beagá, fomos a um concerto no Palácio das Artes e vi logo três conhecidos de uma vez. No dia seguinte fomos ao shopping e, voilá, encontramos um colega leitor deste blog. Mais tarde, em outro shopping, comentei com Bethania:
- E aí, será que vamos encontrar mais um aqui?
30 segundos depois, adivinha...
Numa visita à uma tia de Bethania, eis que acho em cima da mesa uma cópia autografada de "Fresta por onde olhar", livro da esposa do Exu Caveira Cover, lançado recentemente. Mundo realmente pequeno, este.
A razão da ida pra Beagá foi o aniversário de Bethania que, por sinal, bateu o personal festas de aniversário record: três comemorações em BH e tem mais alguma coisa prevista aqui pra São Paulo.
Numa delas (a comemoração "família") meu irmãozinho foi comer um cajuzinho depois dos parabéns e, sem a menor cerimônia, solta um grito memorável:
- ESSE DOCE TÁ UMA PORCARIA!!!
A outra frase memorável do feriado foi do meu cunhado. Dizia ele que estava num ônibus e um gay se sentou atrás dele e começou a sussurrar: "Gostoso..."
A resposta dele foi hilária:
- Escuta aqui, você me respeita, porque eu até respeito essa PORRA DE OPÇÃO SEXUAL sua!!
...e, antes de voltar pra São Paulo, passamos no supermercado e gastamos R$ 25 em queijo. Só pra cumprir com o estereótipo.
Here comes a new challenger!
2008-04-30 14:18:00 +0000
Ontem de manhã, eu atoa em casa, toca o telefone. Era o pessoal da empresa onde trabalho:
- Estamos ligando pra saber se você tem interesse em substituir um consultor num projeto... doze meses de trabalho a partir de julho... na Espanha.
Pelo visto a treta é séria mesmo. Hoje de manhã já fizeram um teste de inglês comigo via telefone (é a língua que o cliente espanhol usa, segundo me disseram) e estou negociando para levar Bethania comigo - condição sine qua non para minha ida, afinal as prioridades mudam depois que se casa. Vamos ver no que vai dar...
Momento "Engenharia Social"
2008-04-11 18:47:56 +0000
A internet do meu hotel aqui em Brasília é simplesmente impraticável de lenta. Já reclamei inúmeras vezes com a gerente e nada aconteceu.
Mas ontem à noite eu me irritei. Era hora de medidas drásticas. Peguei o telefone e disquei.
- Hotel Aaron, boa noite.
- Boa noite. Eu tou aqui no bar tentando acessar a internet sem fio, qual é mesmo a chave da rede?
- É "ponto", senhor. Tudo em minúsculas.
- Obrigado.
Não, eu não estava no bar do Hotel Aaron. Eu sequer estava hospedado no Hotel Aaron: estou no concorrente, logo ao lado. O telefone eu achei no catálogo.
Ah, como é bom ter internet sem fio na cama...
O Primo's Sunday Traveling Saga
2008-02-19 04:00:42 +0000
Domingo. Acordei sozinho, às nove da manhã, no quarto de um hotel em Joaçaba, interior de Santa Catarina. Trabalhei sexta e sábado dando um curso, mas vôo para me levar de volta pra São Paulo que é bom, só no domingo. O término do horário de verão, que foi bom pra todo mundo, pra mim significou uma hora a mais para ficar longe de casa. Nada bom.
Tomei um café e o taxista apareceu para me levar ao aeroporto... de Chapecó, a duas horas e meia de distância (sei lá quantos quilômetros eram, pra mim o que importa é em quanto tempo eu conseguiria atravessá-los). A viagem incluiu passagens por lugares de nomes pitorescos como Xanxerê, Xaxim e a inacreditável Faxinal dos Guedes, tudo ao som do melhor da música de corno sertaneja no rádio do carro. Como por exemplo a belíssima "Não me procura", de Alan e Aladin. Sente só uma das estrofes (mas leia com bastante vibrato na voz, para dar efeito):
Voce caprichou dessa vez
Fez tudo como manda o figurino
Bati o escanteio dos meus sonhos
E a bola deu na trave do destino
O vôo atrasou uma hora (normal) e quando embarquei, havia um moleque sentado no meu assento. O assento que eu havia escolhido cuidadosamente, com DIAS de antecedência, porque era uma janela e ficava do lado oposto ao que o sol ia bater durante o vôo. Assim eu não sentiria calor e a luz seria perfeita para eu fazer o que mais gosto: botar meus fones de ouvido, ficar olhando a paisagem e me esquecer do mundo por algumas horas. Mas o moleque birrento estava chorando tanto que não tive outra opção e fui me sentar no corredor. E só aí percebi a enrascada onde me meti:
Eu estava cercado por nada menos do que QUATRO crianças. A mãe dos meninos da minha esquerda (que andavam de avião pela primeira vez) estava longe e falava com eles o tempo todo. Eu não podia simplesmente botar o meu superfone de ouvido e ficar surdo para o resto do mundo porque, de cinco em cinco minutos, ela me perguntava se as crianças estavam incomodando. "Eles não, mas a senhora está", foi o que pensei, mais vezes do que é saudável para um rapaz cristão. E o bebê de colo, como todo bom bebê em avião, estava chorando.
Na hora do serviço de bordo, o menino da minha esquerda solta a pérola:
- Eu quero ir no banheiro.
Até aí tudo bem, não fosse o fato do layout da cabine naquele momento ser mais ou menos o do desenho abaixo:
Depois de um empurra-empurra e um trança-trança entre cadeiras básico, o menino foi lá se aliviar.
Alguns minutos depois o avião ficou estranhamente sereno e eu achei que os instantes finais de viagem (até a escala em Floripa) seriam, finalmente, sossegados. Mas a aeromoça, nos alto-falantes, mandou apertar o cinto por causa de uma "área de instabilidade".
Eu acho que no crachá dela devia estar escrito "Nostradamus" ou "Mãe Dinah", porque no EXATO momento em que ela terminou de dizer "instabilidade" o avião começou a chacoalhar. Mas chacoalhar MUITO. Mas MUITO MESMO, dava pra ver a cabine se retorcendo e ouvir as malas batendo umas nas outras nos bagageiros. Era meu "personal turbulência record" sendo batido.
Agora adivinha a reação das crianças em volta de mim. Pânico? "Eu quero minha mãe"? Choro e ranger de dentes? Pelo contrário: as crianças estavam adorando a turbulência! O bebê de colo morria de rir das sacolejadas do avião e o moleque do xixi gritava:
- Uhuuu!! Dá friozinho na barriga, olha!!
Eu não tenho medo dessas coisas e estava tranquilo... até que olhei pro assento do menino mijão e vi que o copo de coca-cola dele estava desgovernado, patinando na mesinha. "SEGURA SEU COPO!!", gritava a mãe, mas o menino estava tão entretido com a turbulência que eu tive que me salvar de levar um banho de coca-cola por umas três vezes. E quando a situação não podia piorar, a mãe dos meninos me cutucou e disse:
- Rápido, me passa seu saquinho de vômito, ela vai vomitar!
A mãe do birrento estava branca como defunto e com aquela cara típica de quem vai chamar o Hugo. E eu não achei saquinho de vômito na minha cadeira. E o copo do menino-mijão continuava esquecido na mesinha, deslizando perigosamente. Ou eu procurava o saquinho e me arriscava a levar um banho de coca, ou segurava o copo e ganhava um avião cheirando a vômito até São Paulo.
Foram instantes tensos. Mas uns 15 minutos depois o avião sossegou e pousou em Floripa. Os meninos, hiperativos, queriam descer do avião antes mesmo dele parar no terminal. Confesso que eu também queria, mas a mãe deles foi bem direta e disse:
- Nós vamos descer por último!
O avião parou no terminal e eu fiquei lá, desolado, esperando a hora do jardim de infância aéreo ir embora. O menino-mijão, impaciente, me cutucou e pediu licença. Respondi, resignado:
- Não posso, estou obedecendo sua mãe.
Batendo meu "personal me-fazendo-de-trouxa" record
2007-12-21 21:16:14 +0000
Chamem o Guiness que eu simplesmente detonei. Nunca mentiram e me enrolaram tanto como na última semana:
Caso 1: A viagem
Na terça-feira eu iria trabalhar em Belo Horizonte. Na segunda à tarde eu recebo um email da minha empresa, informando que não teria como pagar as despesas da viagem para BH.
"Deve ser algum engano", pensei, enquanto ligava para o remetente do email. Para minha surpresa, ele disse:
- O email está correto, não podemos pagar a viagem. Quando você foi alocado no projeto, você ainda morava em Belo Horizonte, então não tem previsão de despesas com viagem.
Essa história de "morava em BH" é altamente questionável, porque eu só entrei formalmente no projeto depois da mudança pra SP. Mas mesmo assim tentei argumentar:
- Há duas semanas vocês pagaram uma viagem exatamente igual, que fiz para as reuniões de planejamento do projeto!
- Sim, mas nesse caso a gente não tinha escolha.
- Mas... mas não é possível isso. Da última vez eu, inclusive, fiquei na casa do meu pai, a economia que vocês tiveram com hotel dá pra pagar as passagens, com sobra ainda...
- Não dá. Você economizou numa despesa que, em tese, nem deveria ter acontecido.
E na segunda à noite, adivinha quem estava se enfiando num ônibus-leito, comprado às pressas, e com o próprio dinheirinho?
Caso 2: O cartão
Foi com um certo desespero que me lembrei que meu cartão 3 em 1 do Banco do Brasil (bancário, crédito e débito) iria vencer em 31/12, que eu só tinha esta semana em BH para resolver o pepino e que, provavelmente, o banco havia enviado um cartão novo para meu endereço atualmente desocupado. Ou seja, meu cartão estava num "SEDEX limbo" qualquer.
Liguei pra minha agência. Assim falou a funcionária de lá:
- Senhor, vou estar verificando e te dou um retorno.
Nada de retorno. Liguei de novo e a outra funcionária disse a mesma coisa:
- Senhor, vou estar verificando e te dou um retorno.
Depois de DOIS dias, SEIS ligações e SEIS respostas idênticas, eu comecei a ficar sem opções: eu ficaria poucos dias em Belo Horizonte, e no horário de atendimento do banco eu estaria trabalhando - BEM longe da minha agência, e SEM carro. Eu dependia da boa-vontade das atendentes, que no momento era inexistente. Tive que ligar pra Visa, descobrir o número da carta registrada que continha o cartão e rastreá-la pelo site dos Correios para confirmar que, sim, o cartão estava na agência. Aí peguei um táxi e, em CINCO minutos, me deram meu cartão.
Moral da história: "vou estar verificando e te dou um retorno" foi, em todas as vezes que ouvi, uma mentira descarada. Eu conversei com uns três ou quatro funcionários diferentes, todos me deram a mesma resposta, e NENHUM se dignou a usar CINCO minutos do tempo deles para me ajudar.
Caso 3: O celular
Eu já havia reclamado na Anatel por causa do meu celular belorizontino (história aqui) mas ninguém me deu retorno.
Liguei pra Tim de novo. Expliquei a história toda pra uma atendente, ela me transferiu pra outro setor. Expliquei tudo de novo pra outra atendente, ela, mais uma vez, falou que não podia fazer nada. Pedi pra chamar a supervisora dela e... desligaram na minha cara.
Liguei pra Anatel de novo. Disseram que a reclamação que fiz foi "reenviada" para a Tim e que vão me ligar na segunda-feira. Sim, claaaaro...
Caso 4: A mudança
Como trabalhei na sede da minha empresa nesta semana, queria aproveitar para:
1) Conversar com uma pessoa do RH sobre a minha mudança para São Paulo: o episódio da viagem completou uma suspeita que eu já tinha, de que, por alguma estranha razão, meus empregadores ficaram irritados com o fato de eu ter me mudado de cidade.
2) Conversar, novamente, com o cara que me negou o reembolso das despesas da viagem pra BH - mas dessa vez ao vivo e com a ajuda do meu consultor-líder!
Desde quarta-feira eu estou tentando falar no RH. Na quarta, disseram que iam me dar retorno na quinta. Não deram. Aí hoje liguei pra lá e a menina estava almoçando. Às duas da tarde, ainda almoçando. Às três da tarde, ainda almoçando. Até que, às 15:30, finalmente me disseram que ela não voltaria mais na empresa.
Só faltava tentar falar com o cara das viagens. Achei que meu consultor-líder iria ajudar, mas ele tentou ligar pro cara, disse que ele "está numa reunião" e foi embora, pois tinha uma consulta médica.
Apelei e fui até a sala do cara. Adivinha quem estava sentadinho em sua própria mesa, ao invés de "estar numa reunião"?...
Depois de bastante conversa, ele ficou de rever se tem alguma "sobra" no projeto para encaixar as despesas que tive com a viagem. Bem, se eu for me basear na atual tendência dos fatos, o prognóstico não é nada bom...
Vinte por cento
2007-12-14 02:40:38 +0000
O bom de ser consultor é que você fica bom em achar explicações razoáveis, baseadas em fatos e dados, para praticamente tudo.
Meu estresse atual, por exemplo, pode ser explicado por um simples calendário:
Conforme ilustra a figura acima, me mudei para São Paulo dia 17/11. Deste dia até o fim do ano temos 45 noites. Neste intervalo, eu dormi ou dormirei na minha própria cama apenas nove vezes, o que equivale a 20% do total.
Estes vinte por cento ficam ainda melhor representados num gráfico de pizza, que, coincidentemente, fica igualzinho a um Pac-Man:
"Dizia ele, estou indo pra Brasíliaaaa"...
2007-12-07 01:56:47 +0000
É mais ou menos isso o que João de Santo Cristo viu ao descer do ônibus.
Tou trabalhando em Brasília, nesta e na próxima semana.
Está sendo um saco porque, por todo lugar que passo, me lembro das músicas da Legião Urbana. De manhã eu vejo a rodoviária e penso em Faroeste Caboclo, quando João de Santo Cristo "saiu da rodoviária e viu as luzes de natal". Aí alguém menciona a Ceilândia e eu me lembro que foi lá, em frente ao lote 14, que Jeremias, "um hooomem que atirava pelas costas", matou o pobre João. E tem também o Parque da Cidade - que é escrito em maiúsculas porque não é simplesmente um parque numa cidade, é um nome próprio - e que foi onde Eduardo se encontrou com Mônica. Ela de moto, ele de "camelo".
O cliente brasiliense é, obviamente, do governo. Então passo os dias usando gravata, debaixo de ar condicionado, e me deprimindo ao ver como o dinheiro dos meus impostos é mal gasto.
Até que, no final da tarde de hoje, tive uma surpresa espetacular.
Eu e a trainee estávamos trabalhando quando um dos caras do governo entra na sala pra discutir umas coisas. Depois do assunto de trabalho, ele pergunta:
- Ei, vocês vão passar o fim de semana na cidade?
- Só ela vai - digo eu, apontando para a trainee - Por quê?
- É que vai ter show da minha banda no sábado...
- Ah é, você tem banda? Legal! O que vocês tocam?
- Uhh... nossas próprias músicas mesmo. Eu toco baixo. É a Plebe Rude.
- Cover do Plebe Rude? - pergunta a trainee.
- Não, é a banda original mesmo. Eu sou o baixista da Plebe Rude.
Sim, meus amigos. Aquele cara engravatado ali na nossa frente era ninguém menos do que André X, o baixista da Plebe Rude - famosa banda brasiliense formada nos anos 80, período áureo do rock nacional, e autora de vários sucessos como "Proteção", "Até quando esperar" e "Sexo e Caratê" (minha predileta, hehe).
André X (esq.) e seus colegas de banda, na atual formação da Plebe Rude (foto deste site aqui)
Eu estou estupefato até agora. E eu perdendo tempo pensando em Legião Urbana...
Update: Dica da Lori - O blog do André X
Madness? This... is... MUDANÇAAAA!!
2007-11-22 00:05:48 +0000
O plano era simples: na quinta do feriado, carregar o caminhão. Na sexta, eu, Bethania e Pavlov vamos de carro pra São Paulo, assinamos o contrato de aluguel e pegamos as chaves. No sábado o caminhão com a mudança chega e até domingo arrumamos tudo.
Falando assim parece simples, mas tem uma infinidade de detalhes que faz a coisa se tornar uma odisséia épica misturada com uma graphic novel (com roteirista ruim) e com um remake estadunidense de "Betty, a Feia".
Por exemplo, a lei brasileira diz que em viagens assim você precisa de um atestado de boa saúde canina - mas calma, não é para o motorista, e sim para transportar seu cachorro pelas estradas. Obviamente NENHUM policial vai parar seu carro no instante em que você obter o atestado - efeito da lei de Murphy. Mesmo assim, na quinta-feira à noite, ao invés de dormir para viajar descansados, eu e Bethania fomos levar Pavlov a um veterinário.
A coisa foi surreal, porque chegamos na clínica e estava tendo uma "emergência médica canina" no melhor estilo de episódio de "E.R.": uma cachorrinha com leishmaniose havia dado entrada tendo convulsões. A dona dela estava na recepção, chorando desesperada. Chamaram até outro cachorro - um rottweiler ENORME - para doar sangue pra ela. Mas depois de um tempo apareceu a veterinária, com aquela cara de más notícias, e começa a falar:
- Olha, sua cachorrinha estava realmente mal, nós tentamos fazer uma transfusão de sangue, demos efedrina, adrenalina, mas o coraçãozinho dela não resistiu...
Segue-se choros e ranger de dentes. E eu lá, perplexo.
Outro detalhe de viagens com cachorro é que recomenda-se que o cão viaje sedado, então compramos um psicotrópico canino que a veterinária receitou. O troço é tão maléfico que as farmácias só vendem o remédio com cadastro e retenção da receita. E Pavlov não é bobo, detesta remédios e sabe quando estamos tentando dopá-lo medicá-lo, então misturamos o "psicotrópico do mal" em um pouco de Toddy e demos para ele.
Se cães pudessem falar, eu tenho certeza que Pavlov teria dito: "oba oba, chocolate!!" e, na sequência, conforme estava ficando sonolento, diria: "Traidores!! O que vocês... fizeram... comiiiigoooooo....". Porque a cara dele dizia exatamente isso.
Além da trabalheira canina, outro inconveniente da mudança é que você tem que desativar toda a sua vida na cidade-origem e reativá-la na cidade-destino, ou seja, cancelar internet, telefone fixo, celular, TV a cabo e mais duzentas mil coisas. No caso da TV a cabo lá de casa a situação era mais complicada, porque ela estava no nome de Bethania e eu era o único com tempo para ligar pra fazer o cancelamento. A situação parecia sem saída mas parei, pensei por um instante, peguei o telefone e liguei para a operadora de TV a cabo:
- Bom dia, eu queria cancelar minha assinatura.
- Pois não, qual o seu nome?
- Bethania.
O atendente faz uma longa pausa e pergunta, confuso: "Uhh... é 'Senhor' Bethania?"
- Não, não. Senhora Bethania. - Confirmei, na maior naturalidade do mundo.
Pensa bem: o que diabos o atendente poderia dizer? Que minha voz era grossa demais para uma mulher? Se eu deixasse de confirmar alguma informação do cadastro tudo bem, mas qualquer suspeita que ele levantasse com base em minha voz poderia ser rotulada de preconceito, portanto ele não tinha nenhuma outra opção a não ser atender a "senhora Bethania" de voz grossa. E funcionou: das três vezes que precisei ligar pra lá, nenhum atendente questionou a minha voz.
Além das questões vocais, a mudança ainda teve inúmeros outros "detalhes" trabalhosos: o zelador do prédio novo encrencou com mudanças antes das 9 da manhã. e as leis de trânsito paulistanas proíbem tráfego de caminhões no meu novo bairro após as 9 da manhã. Alguns serviços que você quer contratar pro apê novo (internet, TV a cabo) requerem comprovante de endereço, que, obviamente, você só vai ter depois que receber contas de algum serviço, como internet ou TV a cabo. E aí o chuveiro de 110V que veio na mudança não pode ser usado na instalação 220V do apê novo. E então o contrato de aluguel tem uma cláusula que proíbe animais - e você vê isso no instante de assinar o contrato. Aí as assinaturas do contrato de aluguel tem que ter firma reconhecida, e você tem que abrir firma num cartório paulistano, e o cartório te pede - além de uma escaneada nas digitais do seu dedo indicador (sabia dessa?) - uma cópia da certidão de casamento, e a certidão ficou em Belo Horizonte. E na hora de receber as chaves do apartamento, você descobre um vazamento de água no teto de um dos cômodos. E por aí vai...
Moral da história: mudar de cidade é um pandemônio. Se bobear, mudança de sexo deve ser mais fácil do que isso.
Mas eu não podia deixar este post acabar sem mencionar o lado bom de mudar pra São Paulo, que é... morar em São Paulo, por incrível que pareça. Nosso bairro é excelente, Bethania mora a 15 minutos de caminhada do trabalho, temos tudo a apenas alguns quarteirões de distância, o prédio onde moramos é ótimo, é grande, é seguro, e o apartamento novo é muito espaçoso. Claro que isso não custa barato, mas se é pra morarmos longe das famílias e dos amigos, pelo menos que seja num lugar legal...
P.s.: Por conta da mudança perdi o BlogCamp MG. Uma pena, queria conhecer as caras por trás dos blogs que leio. Mas pelo que li sobre os debates, a coisa foi exatamente como eu previa: em torno de monetização e, consequentemente, chata.
P.p.s.: E logo após a mudança, adivinha qual a primeira coisa que fiz? Peguei um avião e fui trabalhar em... Belo Horizonte!
P.p.p.s.: E depois de ir pra BH eu estou escrevendo este post diretamente da cidade de... Joaçaba, interior de Santa Catarina!!
O dia de aniversário do Primo
2007-10-11 11:23:08 +0000
06:50 - O celular toca Squarepusher e eu acordo. Sem minha mulher do lado, já que estou no Rio, a trabalho.
06:53 - Ao entrar no banheiro eu lembro que, por alguma razão, o pessoal do hotel (Mar Palace Copacabana - logo vocês verão por quê estou citando o nome) me colocou em um quarto para idosos/deficientes, que não tem box. "O banho matinal vai ser uma lambança", pensei.
07:00 - Dito e feito. Depois do banho eu nem consigo usar a pia direito porque tem um lago de água ensaboada correndo entre eu e ela.
07:30 - Frutas frescas, depois ovos mexidos no café da manhã. Adoro café da manhã de hotel. É uma das poucas vantagens de trabalhar viajando.
07:50 - Me encontro com o "Professor", o colega-consultor que vai dar o curso de hoje, e pegamos um táxi. O trabalho de hoje é simples: eu tenho que assistir o treinamento de Gerenciamento de Projetos que o Professor vai dar.
Já é a terceira vez que assisto este treinamento. E, sim, eu vim ao Rio só pra isso. Mas é por uma causa justa: em algumas semanas eu vou me tornar "professor" do treinamento, então tem esse pequeno "calvário" de assistir o curso repetidas vezes como parte da minha formação.
Agora, imagine como é divertido rever por três vezes um treinamento de dois dias sobre um assunto que você está cansado de saber porque trabalha diariamente com ele desde que se tornou consultor...
09:47 - Começa o primeiro exercício em grupo do dia. Eu adoro os exercícios do curso, porque durante o tempo dos exercícios eu posso efetivamente FAZER alguma coisa: bancar o "monitor", passando pelos grupos, ajudando o pessoal, tirando dúvidas e tal.
Só que, enquanto um dos grupos me explicava uma dúvida, eu senti um "encosto", uma presença sobrenatural atrás de mim. Era o Professor, com a cara a apenas alguns centímetros de distância do meu ombro.
Aí, no exato instante em que eu comecei a responder a dúvida do grupo, o instrutor me interrompe e começa a responder ele mesmo. Só que o "interromper" dele significa falar no DOBRO do volume de uma pessoa normal, e com a cara colada no meu pobre ouvidinho.
Depois da terceira interrupção seguida eu desisti de tentar ajudar os grupos.
10:30 - Pra não morrer de tédio, abri o notebook, abri o Excel e comecei a montar um cronograma detalhado do curso, pra usar quando fosse a minha vez de dar o treinamento.
11:30 - Comecei a me empolgar com o cronograma...
15:32 - O que nasceu como "cronograma" acabou virando uma planilha que se atualizava automaticamente, em tempo real, mostrando o ponto onde o curso estava (de verde) e onde deveria estar (em vermelho), e também o atraso estimado, em minutos, em um outro canto da tela.
O legal é que a coluna "progresso" vai colorindo automaticamente, para mostrar o quanto cada item do cronograma deveria estar concluído. Assim, na hora do curso, você sabe visualmente quanto tempo tem para terminar de ensinar cada assunto.
Sim, eu exagerei. Quem mandou não me deixar tirar as dúvidas dos grupos?
(Update: Quem quiser baixar a planilha, clique aqui)
18:30 - Voltamos para o hotel. Eu até pensei em sair pra jantar num lugar legal, mas sozinho ia ser meio deprê. Aí fui pra internet, ver os scraps de parabéns do Orkut, ler meus feeds, terminar de baixar o Heroes novo, etc.
Só que a internet começou a cair. De cinco em cinco minutos eu dava de cara com a página de login do hotel.
Liguei para a recepção e perguntei o que estava acontecendo. A recepcionista só faltou me mandar pastar:
- Olha, senhor, não tem nada errado. Nesse exato momento tem outros 11 quartos usando a internet e ninguém reclamou. Aqui no lobby mesmo tem um senhor usando o computador há mais de uma hora.
- Tá, mas comigo não funciona. Alguém pode vir aqui e ver o que está acontecendo?
- O técnico da internet já foi embora.
Depois disso eu passei mais de uma hora tentando fazer a internet funcionar. Testei em outros navegadores, tentei com a rede sem fio, tentei com a rede com fio, tentei descobrir a senha da página da administração da intranet do hotel, mas não deu.
21:30 - Pedi meu jantar. Eu sempre me divirto com o inglês macarrônico do menu bilíngue do hotel. Você pode ir ao "looby bar" e pedir uma "ceazar salad" com um "sandwhiche".
22:10 - Ligo de novo para a recepção:
- Eu pedi comida há mais de meia hora e não veio nada ainda!
- É mesmo, senhor?
Eu juro por Deus que o "é mesmo" do cara foi tão sarcástico que a primeira coisa que veio à minha cabeça foi...
23:50 - Depois de comer e ver tevê, fui dormir.
05:30 - Acordo com um pernilongo dando "rasantes" na minha cabeça. Enfiei a cabeça debaixo da colcha, mas ela era muito fina e o pernilongo continuava me sobrevoando.
Passei alguns minutos pensando se era mais vantagem tentar dormir ou matar o maldito pernilongo. Alguns rasantes adicionais e eu decidi ir à caça.
Acendi a luz, botei os óculos e comecei a olhar em volta. O pernilongo eu não vi, mas em compensação, achei uma barata, enorme, passeando pelo chão do quarto. Dei nela uma sapatada e dei graças a Deus pelos rasantes do pernilongo: não fossem eles e eu nem teria visto essa minha "companheira" aí embaixo.
O pior é que já é a segunda vez que eu acordo e dou de cara com baratas no quarto do hotel - a primeira, obviamente, foi em Windturn City.
E, só pra constar, o hotel onde estou é o Mar Palace Copacabana. Viu, Google? Quando indexar esta página, lembre-se: "baratas, Mar Palace Copacabana", ok?
05:40 - Eu não ia conseguir dormir de novo e, como o celular ia despertar daqui a uma hora mesmo, resolvi escrever este post.
P.s.: Veja você, tem mais seis anos de aniversários registrados aqui no blog. Em 2006 eu também estava no Rio, em 2005 eu estava trabalhando no mesmo hospital onde nasci, em 2004 teve festinha com chapeuzinhos da Turma da Mônica e tudo, em 2003 eu escrevi um post "socialmente responsável" que hoje me dá vergonha porque parece emo demais, em 2002 eu não tive tempo nem de almoçar no dia, e em 2001 Luiz ainda postava aqui e me deu um "remix" de aniversário.
Leasing barateia aluguel e permite aluguel de carros zero quilômetro na Europa
2007-10-04 02:23:33 +0000
Está na Europa e quer alugar um carro com 50% de desconto? Algumas locadoras podem te dar um em contrato de leasing!
Além do preço mais baixo, o carro é novinho, zero quilômetro, com seguro, pode vir com os opcionais que você quiser como GPS e CD player, não tem limite de quilometragem, impostos ou taxas e você pode pegá-lo num país e devolver em outro!
A oferta só vale para turistas (ou qualquer pessoa que não more na União Européia) e você precisa ficar com o carro por um mínimo de 17 dias.
Parece bom demais para ser verdade, mas o truque por trás é bem simples - e genial. Está explicado no site:
A razão destes contratos de leasing existirem é simples: evitar impostos. Carros novos na França sofrem tributação muito maior do que carros usados. Fazer leasing com turistas assegura um estoque amplo de carros com pouquíssimo uso para revender aos consumidores franceses em busca de preço baixo.
É uma Idéia fantástica. E provavelmente é viável porque na Europa deve ser moleza fazer um contrato de leasing que dura só 17 dias. Aqui no Brasil o leasing ia levar 17 dias só pra ser aprovado...
(Via populares do del.icio.us)
Gourmet do nordeste
2007-09-26 18:05:30 +0000
Minha estadia em Aracaju foi breve, mas deu tempo de experimentar um pouco da comida local. Aí vai o veredito:
- Baião de dois - É um mexidão com nome "cult". Não curti.
- Macaxeira com carne de sol - Parafraseando Joey Tribbiani, "como é que dá pra não gostar disso? Mandioca, bom! Carne de sol, booom!"
- Paçoca - quando botei no prato pensei que era só farofa normal. Mas é mais fina e com um temperinho diferente muito bom.
- Carne de sol grelhada - Carne de sol é aquela coisa de sempre: dura e bem passada. A que eu comi era, portanto, dura e bem passada. Mas era grelhada.
- Torta de limão - Não, não é comida típica do nordeste, mas tava óptema.
Tudo que poderia ter sido e que não foi
2007-09-25 04:00:11 +0000
Sabe, eu estava bastante empolgado com essa viagem pra Aracaju.
Há meses eu não andava de avião. Eu iria na segunda à noite e voltaria na quarta. O trabalho ia ser legal, eu iria como especialista em projetos para fazer um diagnóstico num cliente importante. Coisa fina.
Como Bethania está viajando, o apartamento (e o cachorro) ficariam sozinhos. Assim, pra que nada desse errado, eu me planejei bastante: no sábado mesmo eu já havia reservado um hotelzinho para deixar Pavlov. No domingo eu ajeitei a casa para a faxineira, que viria na terça. Me lembrei até de passar no banco e sacar dinheiro num caixa com notas pequenas pra poder deixar o dinheiro do ônibus dela, trocado, em cima da mesa.
Na segunda eu marquei, pela internet, os lugares onde queria me sentar no avião - janelas, pra que eu pudesse dormir sossegado. Voltei mais cedo do trabalho, para poder fazer as malas com calma. Conferi e reconferi tudo que estava levando. Usei uma sacola para não precisar despachar bagagem e não correr o risco de perder a mala e ficar sem roupas para as reuniões do dia seguinte. Lembrei-me de comer alguma coisa em casa, pois só ia chegar em Sergipe depois de uma da manhã. Lembrei de fazer backup de arquivos cruciais das reuniões no meu pen drive (para o caso do notebook resolver pifar de vez). Lembrei também de carregar a bateria do celular e do iPod. Lembrei até de baixar um disco duplo do Stars of the Lid que estava querendo, só pra poder ouvir no avião.
Marquei horário com o táxi pra bem cedo e cheguei no aeroporto mais de uma hora antes do horário previsto de decolagem. A fila do check-in sem bagagem estava vazia, então foi só chegar e entregar minha carteira de motorista para o atendente.
Eu estava tranquilo, pensando em que revista poderia comprar pra ler no vôo, quando o atendente me disse:
- O senhor teria um outro documento dentro do prazo de validade?
- Como assim?
- A sua carteira de motorista está vencida, senhor.
Olhei a validade e estava lá: 27/05/2007. Vinte e sete de maio. A maldita carteira estava vencida há quase quatro meses. E eu não ando com outros documentos justamente pelo fato da carteira de motorista também valer como identidade e CPF. Como o maldito aeroporto de Confins fica a 40 minutos da minha casa, não dava tempo de voltar e buscar. E não tinha jeito de ninguém trazer outro documento porque o apartamento estava vazio e trancado, e a única chave estava comigo. Não havia saída. Eu implorei, pedi "pelamordedeus" mas o cara, obviamente, não fez meu check-in.
Desesperado, até peguei um daqueles selinhos do Subway, coloquei na frente da data de validade e entrei na fila do check-in com bagagem, para cair em uma outra atendente. Na hora que ela pegou minha carteira eu tentei distraí-la conversando fiado, mas não colou: ela conferiu a data e não me deixou embarcar. Até no posto da ANAC eu fui implorar, mas não teve jeito.
Pra piorar, o consultor-sênior do projeto estava no aeroporto do Rio, embarcando pra se encontrar comigo. Ele estava indo à Aracaju só por minha causa, então vocês imaginam como ele reagiu quando contei o ocorrido.
Agora estou de novo em casa, frustrado, escrevendo este post e me sentindo o ser humano mais idiota de todos os tempos. E se eu fosse você, eu parava de rir da minha cara e conferia a validade da sua carteira de motorista. AGORA.
O "relaxa e goza" já chegou no exterior
2007-07-27 15:52:00 +0000
O site Travel Wire soltou um artigo alertando turistas internacionais sobre o caos aéreo brasileiro. O último parágrafo é uma recomendação aos viajantes que pretendem passar férias pela América Latina:
Lembre-se que o transporte aéreo da América do Sul frequentemente não apresenta os mesmos níveis de serviço e satisfação do usuário encontrados em outras partes do mundo. É melhor ter uma atitude amistosa e flexível antes de viajar.
"Atitude amistosa e flexível"... assim, tipo um "relaxa e goza"?
Um comentário sobre a tragédia do TAM 3054
2007-07-18 13:02:00 +0000
Era mais ou menos uma e quinze da manhã, eu e Bethania ainda estávamos assistindo a GloboNews. O apresentador do "Em cima da hora" tinha acabado de receber a lista de passageiros do vôo, e começou a ler os nomes. A cena foi muito triste: o helicóptero mostrava o local do acidente, as chamas e os escombros, e o repórter ia dizendo, pausadamente, os nomes dos mortos.
E eu acompanhava a lista, nome a nome, para ver se conhecia alguém. A empresa de consultoria onde trabalho é muito grande, tenho centenas de "colegas de trabalho" que passam a semana toda voando pelo Brasil. A probabilidade de ter alguém conhecido naquele vôo era grande. Tanto que, logo que soube do acidente, tratei de me certificar de que um amigo, alocado num projeto no Rio Grande do Sul, estava bem. Felizmente, até agora não estou sabendo de nenhum colega morto no vôo.
Esse tipo de acidente tem um impacto muito forte pra nós, que viajamos muito e que, consequentemente, passamos por Congonhas o tempo todo. Ver as imagens do acidente, ontem, na TV, era mais assustador que o normal. A imagem do prédio da TAM atingido pelo avião não é uma imagem qualquer pra quem estava acostumado a passar em frente a ele, toda semana.
O susto também é pior para as famílias de quem viaja muito. Até meu pai me ligou ontem à noite só pra confirmar que eu estava realmente aqui em Belo Horizonte. Da minha parte a coisa foi pior ainda: Bethania havia passado o dia no Rio e estava numa reunião bem ao lado do Aeroporto Santos Dumont, que teve um princípio de incêndio. E ela tinha uma reunião hoje, em São Paulo, que acabou cancelando. Congonhas já voltou a funcionar, mas ela e eu não achamos que a pista é segura.
Antes de dormir, nós rezamos pelos mortos do vôo e pedimos a Deus - a última e, pelo visto, única esperança - para ajudar a resolver a irresponsabilidade e falta de profissionalismo da aviação brasileira.
Semiocupado
2007-05-04 14:20:00 +0000
Eu já ia completar um mês de "férias forçadas" quando, semana passada, pintou uma visita promocional - ou seja, ir ao cliente para fazer um diagnóstico e tentar vender um projeto.
A coisa toda seriam dois dias de trabalho, no interior de São Paulo. Um destes dois dias caiu exatamente no dia do aniversário de Bethania, que não gostou nadinha da história. Além disso, eu faria o trabalho - que nunca havia feito antes - sozinho, e meu desempenho ainda tinha que ser fora de série para deixar o cliente inspirado a nos contratar. Em resumo: nada diferente da rotina de sempre.
Pelo menos o trabalho seria em Ribeirão Preto. Apesar de estar no interior, Ribeirão Preto (ao contrário de Windturn City) tem aeroporto, táxi, essas coisas de lugar civilizado. O hotel era bem legal, confortável, e até tinha internet. Numa das noites, quando voltei do trabalho, perguntei pra mocinha da recepção quanto custava o acesso:
- É cinquenta reais, senhor - disse ela, sorridente.
- Hehehe, tá certo... agora deixa de brincadeira e fala quanto é de verdade.
- Uhh... é cinquenta reais mesmo.
Eu juro que queria entender porque diabos os hotéis metem a mão ao cobrar acesso à internet. Se eles fossem realmente inteligentes, davam o acesso de graça para atrair mais hóspedes.
Felizmente, após uma maratona de reuniões, planilhas, cafezinhos (muitos) e perguntas capciosas do cliente durante os horários de almoço, a coisa toda correu bem. Na próxima segunda estarei de volta para apresentar o diagnóstico aos chefões da empresa. Agora é torcer pra dar tudo certo.
Semana Santa d'O Primo
2007-04-11 16:46:00 +0000
Semana santa? Foi numa pousada boa, bonita e barata.

À noite tudo fica mais bonito
Este feriadão foi bastante iluminativo para mim. Abaixo segue uma lista das coisas que descobri nos três dias de folga:
1) A pousada tinha uma cama elástica;
2) Eu ainda me lembro como dar um backflip na cama elástica (GIF animado aqui. Tente não rir muito.);
3) Eu estou velho demais para uma cama elástica: pulei por uma meia hora e, nos dois dias seguintes, o único músculo do meu corpo que não doía era o de piscar os olhos;
4) Nunca mais coloco música pros outros ouvirem. Nunca mais.
É que teve uma hora em que um dos CDs que tocavam na beira da piscina começou a pular sem parar. Uma menina viu meu incômodo e perguntou:
- Ei, você tem algum CD no seu carro?
- Não, mas eu trouxe meu iPod...
- O que você tem nele?
- Uhhh... bastante rock alternativo, música eletrônica...
- Música eletrônica é legal!
Olhei pra menina de novo. 16 anos. Óculos enorme, com as letras D&G na haste. Pensei um pouquinho e...
- Trance é uma boa escolha pra você?
- Ótimo!!
Peguei o iPod e botei um set do DJ Armin Van Buuren. Cinco minutos depois a menina aparece de novo:
- Aqui... troca a música lá que o pessoal não gostou.
Eu jamais vou me esquecer dos olhares de reprovação que recebi enquanto voltava pra piscina. O grupinho dos hóspedes "pagodeiros" (gente finíssima, apesar do gosto musical) queria me matar. A dona da pousada estava do lado do som com uma cara desesperada, como se eu tivesse colocado alguma coisa neonazista pra tocar.
Por sorte, Bethania também trouxe o iPod dela. Foi só plugá-lo, botar um CD do Alceu Valença, e todos ficaram sossegados novamente.
5) Junte uma boa quantidade de informação desconexa e você tem tudo que precisa para convencer qualquer um de qualquer coisa e criar uma crença maluca qualquer.
Descobri isso quando um dos hóspedes se sentou pra jantar conosco e fez um convite inusitado:
- Mais tarde nós vamos subir o morro e tentar contato, querem ir?
- Uhh... tentar contato com quem?
- Com extraterrestres...
E aí ele passou a próxima meia hora contando, com a maior seriedade, que é especialista em ufologia. Explicou como emitir "ondas cerebrais" que a "nave-mãe" - aquela que vai resgatar todos depois dos holocaustos previstos para 2047 - consegue captar. Contou que esta data saiu do calendário maia. Contou que os seres humanos nascidos a partir de 1970 não tem DNA, e sim um GNA, com doze hélices em vez de duas, que vai sendo ativado a cada visita dos ETs.
6) Não assistir TV é, sem dúvida, um dos melhores hábitos que eu já adquiri.
Ao longo das horas que gastamos torrando a pele na beirada da piscina, notei que a filha do dono da pousada estava acompanhada de uma turma grande de amigos. A diversão predileta para os rapazes era brincar de Big Brother: imitar o que eles faziam quando estavam na piscina, definir com quais BBBs os seus amigos se pareciam mais, etc.
O Rio de Janeiro continua rindo...
2007-03-27 19:51:00 +0000
É verdade. Além das praias e da natureza exuberante, o Rio possui o pior atendimento ao público do mundo.
Ontem eu confirmei isso enquanto almoçava sossegadamente no Spoleto do Leblon. Entre uma garfada e outra, senti um esguicho d'água molhando toda a minha camisa: era o ar condicionado, logo acima de mim, que resolveu "vazar" de repente.
Tinha uma funcionária do Spoleto bem ao lado. Assim que a água esguichou, ela, prontamente, caiu na gargalhada. E ainda saiu cochichando para as outras funcionárias, que também morreram de rir.
Windturn City Countdown - 3 dias...
2007-03-13 20:01:00 +0000
Pois é, eu fico zoando mas ontem eu me surpreendi ao descobrir que a cidade tem até uma auto escola.
Não é fácil trabalhar numa auto escola em Windturn City. Felizmente, os "windturncityenses" são criativos. Por exemplo: para ensinar a fazer baliza, o instrutor usa dois cavaletes feitos com tubos de PVC, já que não dá pra treinar em vagas normais, compostas de carros de verdade. Afinal, a probabilidade de se encontrar dois carros estacionados na mesma rua por aqui é praticamente nula. Na verdade, a probabilidade de se encontrar carros por aqui já é baixa o suficiente...
A noite de ontem foi especialmente ruim.
Éramos eu, Michael Jackson e o consultor-líder do projeto, no mesmo quarto, dormindo em três camas paralelas. "Igual os Três Porquinhos", como bem observou Michael.
Acontece que estava um calor do cão e o ventilador que tinha no quarto, misteriosamente, sumiu.
Lembro-me de acordar várias vezes durante a noite. Foram estas vezes aqui, ó:
1) O calor estava insuportável. Retirei a lixa colcha de cima de mim e voltei a dormir.
2) O consultor-líder começou a falar dormindo. Pelo teor da conversa, ele deveria estar sonhando com alguma reunião de trabalho.
3) Michael Jackson começou a roncar um ronco todo especial: uma mistura do "ronc" padrão com aquelas engasgadas típicas de apnéia. Dava algo mais ou menos assim: "Rooonc... rooon *gasp* *gasp*... roonc...".
4) Michael abriu a porta do quarto pra amenizar o calor. Confesso que fiquei meio vexado, porque qualquer pessoa que fosse até a cozinha da hospedaria pra beber uma água passaria pela nossa porta e veria toda a intimidade dos "três porquinhos" dormindo.
5) Michael fechou a porta. Não tinha melhorado o calor em nada, e já estava amanhecendo mesmo...
Além de ventilador, outra coisa que não temos na hospedaria é acesso a internet. Parece óbvio, mas a história da internet é interessante...
Há seis meses atrás, logo na nossa primeira semana em Windturn City, conversamos com o cliente e dissemos que, do jeito que estava, não ia dar pra ficar na hospedaria. Nós até entendíamos que a empresa precisa reduzir custos, mas tem algumas coisas que são importantes para o desenvolvimento do trabalho e que gostaríamos de ter no nosso quarto da hospedaria. Estas coisas eram simples: uma mesa, duas cadeiras e acesso à internet. Veja bem: apesar do quarto velho e quente, nós nos preocupamos foi em pedir condições para trabalhar fora do horário. O cliente, obviamente, concordou, disse que ia providenciar e tal.
Dois meses depois, a surpresa: eles, finalmente, fizeram melhorias no quarto. Bem, na verdade colocaram uma televisão e um frigobar... e nada da mesa e da internet.
Quatro meses depois tivemos uma reunião importante com o presidente da empresa. Ele, em público, deu a seguinte ordem aos funcionários.
- Vocês devem acomodar os consultores com todo o conforto que eles merecem. E com internet!
Por muito pouco eu não dei um pulo de alegria da cadeira. "Agora vai!", pensei.
Mas aí as semanas foram passando, passando e, obviamente, nada aconteceu. O problema da mesa nós resolvemos sozinhos: era só descer até o refeitório (sim, a gente dorme em cima do refeitório) e pegar emprestadas duas cadeiras e uma daquelas mesas brancas de plástico. E naquela altura já tínhamos desistido da internet.
Até que, faltando duas semanas para o fim do projeto, qual não foi a minha surpresa ao ver o pessoal instalando canaletas na parede, e passando por elas aquele lindo cabinho Ethernet azul. Mas faltavam duas semanas para o fim do projeto, então eles estavam, basicamente, jogando dinheiro fora. E matando a gente de raiva.
Na semana passada eu notei que, além do cabo, instalaram um computador num canto da hospedaria. O computador estava ligado num modem ADSL, e pelo visto deveria estar configurado como servidor. Será que, faltando alguns dias para o final do projeto, eu finalmente teria internet?
Resolvi testar o cabo: ainda não estava funcionando. No dia seguinte consultei as meninas do setor de informática, que disseram que o Speedy estava com problemas e que tudo deveria ser resolvido - adivinhe! - na semana seguinte.
Bem, a "semana seguinte" é esta semana. E faltam três dias para o fim do projeto...
The Windturn City Logistics Saga
2007-03-12 21:10:00 +0000
12:29 - Sexta-feira. Eu e Michael Jackson almoçávamos, felizes, no refeitório da fábrica de Windturn City.
A felicidade não era porque estávamos em WTCity, e sim porque, em alguns instantes, um motorista da empresa-cliente estaria nos levando até o Aeroporto de Guarulhos, para embarcar às 16:30. Com sorte, antes das 19h eu estaria no conforto do meu lar...
12:30 - No momento em que eu dava a última garfada, aparece a secretária:
- Gente... já avisaram pra vocês do motorista?
- Uhhh... não, o que ouve?
- É que não tem nenhum motorista pra levar vocês em Guarulhos.
A comida se embolou toda no meu estômago.
- Mas nosso vôo é 16:30... o que a gente faz então?
- Não sei...
- Mas quais são nossas opções?
- Bem, a gente pode deixar a chave do hotel com vocês...
- Não dá, temos que ir embora hoje!
- Pois é, mas eu não posso fazer nada... vocês podem tentar conversar com um dos diretores...
12:45 - Eu e Michael entramos na diretoria, que estava completamente deserta por causa do horário do almoço. Aí fudeu tudo.
Basicamente, estávamos entregues à própria sorte. Nossa única saída era um ônibus para São Paulo que saía às 13:30 de Buraco City, a cidade vizinha. Só precisávamos arrumar algum jeito de chegar em Buraco City. Mas como? Os motoristas estavam todos ocupados, não tem táxi em Windturn City e o ônibus intermunicipal que faz a linha "Windturn-Buraco" não seria rápido o suficiente.
Enquanto pensava nisso, vi o carro do Capitão parado na rua. O Capitão é um dos funcionários da empresa-cliente. Pela posição do carro, ele deveria morar na mesma rua onde estávamos. Ele poderia nos levar até Buraco City a tempo. Só faltava descobrir em qual daquelas casas ele morava...
12:48 - "Ô de casa!! Por favor, o Capitão mora aqui? Não? Tá bom, desculpe..."
Corridinha rápida até o portão do lado:
- Ô de casa!!
12:51 - E finalmente, numa casa cheia de crianças brincando no quintal, apareceu o Capitão. Explicamos o problema e ele rapidamente se prontificou a nos ajudar.
A esposa dele gritou lá da cozinha:
- Benhê, tem que levar os meninos na escola antes!
12:55 - Ficou assim: O Capitão foi dirigindo. No banco do passageiro estava eu, com uma pilha de mochilas coloridas no colo.
No banco de trás, Michael carregava outra pilha de mochilas. E do lado dele estavam esses anjinhos aí embaixo:

Sim, eu sei que foi imprudente deixar Michael Jackson perto de crianças, mas não tínhamos outra opção.
13:02 - Algumas centenas de metros depois (sim, Windturn City é muito pequena) e chegamos na escola. Uma rápida distribuição de mochilas e beijos na testa e a meninada já estava correndo pra sala de aula. Só faltava o Capitão nos levar até a rodoviária de Buraco City.
13:18 - Lá estávamos nós, com o coração na mão, entrando em Buraco City. Mas o Capitão resolveu fazer um caminho alternativo. Era para "tangenciar o centro da cidade" e chegar mais rápido, segundo ele.
Do lado de fora, as placas indicando a rodoviária iam ficando pra trás...
13:27 - Depois de vários "tangenciamentos" a rodoviária, finalmente, apareceu. Mas teríamos que ser rápidos.
Enquanto eu pensava nisso, o Capitão entrou no estacionamento da rodoviária e parou o carro... a uns 100 metros do ônibus.
- Não, Capitão!! Pare mais perto, senão a gente não consegue carregar todas as malas e chegar a tempo!
- Ah, sim! Pode deixar...
Aí o Capitão deu partida e começou a dar meia-volta, pra pegar a rua novamente...
- Não, Capitão!! Vai por dentro do estacionamento mesmo!!
13:31 - Deu tempo. Eu e Michael conseguimos embarcar.
O vôo de Guarulhos sairia às 16:30, mas ele não era mais uma opção. Nesse horário nosso ônibus deveria estar chegando no Terminal Rodoviário Tietê, dentro de São Paulo. De lá, teríamos que ir até o Aeroporto de Congonhas e procurar algum outro vôo para Belo Horizonte.
16:22 - Chegamos na rodoviária e fomos direto para o táxi. Michael perguntou ao taxista:
- Quanto tempo pra chegarmos em Congonhas?
- Uns vinte minutos, se o trânsito estiver bom.
É claro que eu não acreditei. A minha estimativa era passar uma hora, no mínimo, enfiado nos engarrafamentos paulistas. Mas Michael estava esperançoso:
- Cara! Acho que vai dar tempo de entrarmos naquele vôo da Pampulha!
"Aquele vôo da Pampulha" é o famoso e desejado TAM das 17:57, que tem este apelido porque pousa no Aeroporto da Pampulha. Pra quem não sabe, vôos para a Pampulha são raridade: a maioria deles pousa em Confins. A imagem abaixo mostra o quanto isto faz diferença...

16:37 - Eu mal podia acreditar: o tráfego estava fluindo tão bem que já estávamos pertinho do Ibirapuera, a uns 2 ou 3 quilômetros do aeroporto. Aí eu me animei: liguei para a secretária da empresa-cliente e pedi pra ela mudar nosso bilhete para "aquele vôo da Pampulha".
16:39 - O trânsito inteiro parou.
17:02 - Depois de passar os últimos vinte minutos andando a 10km/h, avistamos o aeroporto. O nosso tão sonhado vôo provavelmente encerraria o check-in às 17:10.
Era hora de medidas extremas.
- Michael, vamos ter que descer aqui e atravessar aquela passarela a pé. Vai ser mais rápido do que fazer o retorno e entrar com o táxi no aeroporto.
Por alguma estranha razão, todo mundo estava motivado a conseguir. Até o taxista entrou no clima de desespero:
- Faz sinal de braço aí que eu vou encostar então, vamulá!!
17:04 - O táxi encostou a alguns metros da passarela. Olhei o taxímetro: 36 reais. Catei rapidamente o dinheiro da carteira, joguei em cima do painel e fui descendo para pegar a mala.
O taxista se assustou:
- Peraí que a tarifa aumentou, deixa eu ver a tabelinh...
Joguei mais cinco reais e saí correndo. Desci do carro, fui até o porta-malas, catei minha mala, virei para o lado para chamar o Michael e... ele estava abraçado com uma mulher.
Eu juro por Deus que não era ilusão. O vôo iria fechar em cinco minutos e Michael Jackson estava abraçado com uma desconhecida no meio da rua.
Depois do abraço a mulher olhou bem para o Michael e disse:
- Uhh... desculpe, te confundi com outra pessoa...
17:06 - Eu e Michael largamos a mulher e começamos a subir as escadas da passarela... correndo e segurando as malas sobre as cabeças.
Já que eu sou o chefe da equipe, tomei a iniciativa de gritar algumas palavras de motivação:
- Vambora Michael! Faz valer essa academia que você frequenta todo dia! CORRE!!
Acontece que, graças à visita do Bush, a passarela estava cheia de militares armados. Um deles se assustou e já ia levantando o fuzil pra atirar em nós. Felizmente ele percebeu a tempo que não éramos terroristas malucos.
17:08 - Finalmente chegamos ao saguão do aeroporto, ainda correndo. As minhas costas estavam suadas, a mochila ia saltitando e se esfregando no suor, e as rodinhas da mala giravam loucamente pelo chão, eventualmente acertando um ou outro pé desavisado pelo caminho. E eu ia pensando: "odeio chegar em cima da hora... odeio chegar em cima da hora... odeio..."
Pulei no primeiro guichê da TAM que estava vazio e perguntei, ofegante:
- O vôo da Pampulha já fechou??
- Não, senhor...
Respirei aliviado. A mocinha continuou a resposta, num tom sarcástico:
- Os vôos estão todos atrasados mesmo...
Nestas horas Murphy e suas leis sempre se fazem presentes. Naquele momento valia aquela que diz: "O atraso do seu vôo é diretamente proporcional ao esforço que você faz para chegar no horário". A mocinha fez nossos check-ins e fomos embora, suados, cansados, mas embarcados. Então Michael disse:
- Acho que você nem notou né?
- O quê?
- Você furou a fila de deficiente físico pra fazer o check-in...
19:40 - Depois de fazer um lanche, trabalhar um pouco, conversar fiado, ver o Lima Duarte e a Feiticeira, o embarque do nosso vôo finalmente começou. Decolamos lá pelas 20h e às 21h eu, finalmente, pousei em Belo Horizonte...
Rápidas
2007-03-07 23:49:00 +0000
Começou o "Windturn City Countdown" - 6 dias para o término do projeto.
Eu precisei me lembrar bastante disso para conseguir suportar a noite de ontem: botaram a gente num quarto da hospedaria que fica exatamente em cima do boteco.
Devo acrescentar que o boteco, em meio à barulhada usual, toca como música ambiente um DVD do Roupa Nova. No repeat. Todo dia. E de madrugada tinha algum bêbado tocando New york, new york no piano do bar.
Sim, tem um piano no bar de Windturn City, mas no meu quarto não tem sequer um telefone. Ou um ventilador...
Baralhinho do momento. Bela sacada.
Esperando pra voar
2007-03-05 16:23:00 +0000
É dureza: acordei às cinco da manhã, cheguei no aeroporto às 6:15 e vou embarcar só agora, 11:30.
Deve ser culpa dos controladores de vôo. Sempre é culpa deles. Aposto que foram eles que me fizeram esquecer minha carteira em casa. Só pode ter sido isso...
Êêê, meu amigo Murphy...
2007-03-02 13:19:00 +0000
Lembram que outro dia eu postei uma foto do quarto onde eu estava dormindo aqui em Windturn City? Aquele, que ficava nos fundos da cozinha, que por sua vez ficava nos fundos do restaurante, que ficava nos fundos da pousada?
Pois é. Acontece que do lado deste quarto tem uma escada, que desce até ainda mais pro fundo, num depósito de entulho e coisas velhas. Lá também tem um quarto... adivinha onde eu dormi ontem?
Eu bem que podia ter tirado uma foto com o celular, pra mostrar o quão no fundo fica este quarto. Acontece que meu celular deu um defeitinho. Coisa simples, foi só uma tecla que parou de funcionar: a de ligar/desligar...
Quando a tecla bichou de vez o celular ainda estava ligado. Fiquei tranquilo: "É só não deixar a bateria descarregar totalmente que eu ainda consigo usar o aparelho", pensei.
Instantes depois ele tocou. Assim que eu abri o telefone para atender, ele travou e apagou...
O celular já estava meio bichado mesmo. Além destas travadas, que começaram a ficar bem frequentes, um dia desses o relógio dele atrasou 1:30h sozinho e quase me fez perder a hora. Isso fora a bateria, que durava no máximo dois dias. Pelo visto não foi atoa que a divisão de celulares da Siemens acabou vendida para a Benq...
Já o trabalho vai bem. E a minha saga de Windturn City está quase no fim, já que o contrato encerra daqui a três semanas.
O problema é que fizemos um serviço tão bom que o cliente quer que fiquemos com ele por mais alguns meses. Tento não pensar muito que isto significa a continuação da minha rotina de ônibus, cama de pensão e comida de bandeijão, e até consigo ficar meio feliz.
Para minha surpresa, ao sair do trabalho, notei que há um novo trêiler de sanduíches na praça central daqui de Windturn City. Isto significa um crescimento de 20% no mercado de lanches da cidade, mas também levanta preocupações: afinal, com três trêileres de sanduíche, o mercado Windturncityense já estava mais do que saturado...
O Primo em Floripa
2007-02-26 20:02:00 +0000

Ponte Hercílio Luz, cartão-postal da cidade
Esse carnaval foi bom. Quatro dias em Florianópolis. Eu realmente estava precisando.
Além do céu, do sol e do mar, os destaques do carnaval foram:
A primeira praia que visitamos, além de muito céu, sol e mar, tinha também... muitos gays. Bethania foi caminhar na praia e voltou contando que ouviu um deles pedindo ajuda ao companheiro para escalar umas pedras:
- Aiii, me ajuda que eu não sou Thundercats não...
Hora do almoço de sábado e eu doido pra ir ao banheiro pra, hã, fazer um download.
Entrei no banheiro do restaurante e não tinha papel. Tentei pegar um rolo emprestado no banheiro feminino, mas lá também não tinha papel.
Saí e fui ao restaurante vizinho. O banheiro masculino de lá estava interditado. Eu já estava quase vendo estrelas quando abri, apressadamente, a porta do banheiro feminino, portanto demorei um pouco a entender o que aquela bunda branca estava fazendo na minha frente. Concluí que tinha uma menina lá dentro e fechei a porta. Algum tempo depois ela saiu, resmungando alguma coisa em espanhol. Devia ser argentina: Floripa tem argentinos por todos os lados. Entrei no banheiro e desisti de usá-lo assim que olhei para a privada, que estava absolutamente, irrecuperavelmente nojenta. E além do mais a porta do banheiro não trancava (o que explica a bunda branca).
O intestino revirou um pouco mais. Como a necessidade é a mãe da invenção, a idéia veio rápido: peguei o rolo de papel higiênico, meti dentro da bermuda, saí do restaurante e fui usar o banheiro do restaurante vizinho...
Em tempo: o menu do restaurante era bilíngue. Em inglês, "frutos do mar" virou fruits of the sea...
Além de argentinos e gays, Floripa tem também muitos engarrafamentos. Afinal, a cidade é uma ilha cujas praias são interligadas por uma estrada de pista simples. No carnaval, com a cidade cheia, a coisa ficou ainda pior. No sábado à noite fomos obrigados a esperar o tráfego diminuir pra conseguir voltar pra casa.
O lado bom disso é que ficamos matando tempo na praia onde fica o Costão do Santinho, o resort mais alto-nível-suuper-fashion do Brasil.
A praia que visitamos no domingo chamava-se Jurerê Internacional.

Casinha "humilde" de Jurerê Int'l
Jurerê, em tupi-guarani, deve significar "local de multimilionários tão luxuoso que nem parece Brasil". É de cair o queixo: mansões na beira da praia, sem muros nem cercas elétricas em volta, carrões passando pela rua...
Para coroar a irrealidade de Jurerê Internacional, vimos um New Beetle com duas loiras de biquini, dançando de pé no teto solar. No som, tocava um funk cujo refrão dizia: "Favelaaaa... somos favelaaaa...". Hein?
A segunda-feira de carnaval estava chuvosa; acabamos saindo de casa só pra almoçar. O local escolhido foi o Chef Fedoca, indicação de nossos anfitriões e do Guia Quatro Rodas.
Logo na entrada uma funcionária nos alertou que o restaurante estava cheio e que havia uma espera de uns 40 minutos por uma mesa. "Tudo bem, não estamos com pressa mesmo", foi a nossa resposta.
Só conseguimos entrar depois de uma hora e meia. Mas valeu cada segundo de espera. A moqueca de peixe de lá está entre as melhores coisas que já comi na vida...
Fomos embora na terça-feira à tarde. Nosso roteiro era voar até o Rio e pegar uma conexão pra Beagá.
Bethania estava meio resfriada. O nariz entupido dela, somado com a alteração de pressão do vôo, fez com que ela pousasse no Rio chorando de dor de ouvido. Nenhuma das receitas usuais de equalizar a pressão do tímpano estava funcionando. Pedimos a um funcionário da Tam que nos ajudasse... e é aí que começa a melhor história de atendimento que já vi.
O despachante da Tam que nos atendeu começou retirando uma funcionária do check-in só pra acompanhar Bethania até o posto médico. O plantonista pingou um remédio para a dor e disse que, apesar da simplicidade do problema, era perigoso voar naquele estado, pois uma nova mudança de pressão podia provocar uma ruptura do tímpano. Para evitar problemas ele pediu que não continuássemos a viagem: era pra procurar um otorrino, dormir no Rio e viajar só no dia seguinte.

Glória, glória...
O despachante da Tam nos levou até a sala dele, remarcou nosso vôo e começou a procurar uma clínica com otorrino de plantão. Todos os outros funcionários que estavam na sala ajudavam, davam telefonemas, sugeriam lugares onde poderíamos achar alguma clínica aberta... basicamente, cumpriam na prática a frase do Comandante Rolim que estava pregada na parede e que dizia: "Aqui tudo é problema de todo mundo". E no final o cara ainda nos deu uma noite de hospedagem no Hotel Glória - o da foto à direita - com jantar incluído, e vouchers para pagar nossas corridas de táxi. E a funcionária que acompanhava Bethania, aquela mesma que saiu do check-in pra nos ajudar, só largou de nós depois que nos colocou dentro do táxi. Foi um atendimento espetacular...
Acabou que o otorrino diagnosticou uma otite e proibiu Bethania de voar pelos próximos 10 dias. O jeito foi voltar de ônibus...
Update: O Leandro me lembrou, nos comentários, da famosa "sequência de camarão", oferecida em quase todos os restaurantes. Acontece que eu sou alérgico a camarão...
Isso, no entanto, não me impediu de pensar em como seria uma "sequência" de camarão. Talvez duas patadas, um tapa com as barbichas e depois um golpe com a cauda? 4-hit combo?
Update 2: O André reclamou (com razão) que não dei uma "valorizada" nos nossos anfitriões, que são a Fátima e o Hélio. Eles são pais de amigos nossos que se mudaram pra lá, nos acolheram, mimaram, deram cama, comida (MUITO BOA comida) e tal. É que nem todo mundo gosta de ficar "aparecendo" na Internet, então resolvi pecar por omissão...
The Windturn City meeting saga
2007-02-15 18:57:00 +0000
Parte um: A viagem
Terça-feira. Era dia de eu me enfiar num ônibus para fazer uma reunião importantíssima em Windturn City.
O ônibus saía às seis da tarde. Eu cheguei na rodoviária faltando cinco minutos para as seis.
Quatro minutos para as seis e eu ainda estava correndo, arrastando a mala e com mochila nas costas, para atravessar a plataforma da rodoviária, chegar até o guichê e comprar uma passagem. No meio do caminho eu passei pelo ônibus, de motor ligado, e com o motorista já se preparando pra sair. Medo.
Três minutos para as seis e eu estava furando a fila do guichê para comprar as passagens. Gritei pro balconista:
- Pelo amor de Deus, me vende uma passagem pro ônibus das seis!
- Compra direto com o motorista lá embaixo que é mais rápido - disse o balconista.
Beleza. Basicamente, eu corri até o guichê sem necessidade, gastando preciosos segundos.
Dois minutos para as seis e eu estava no portãozinho do início da rampa que ziguezagueia até o andar de baixo, aonde estava o meu ônibus. No portãozinho tinha uma roleta e um funcionário:
- A passagem, por favor.
- Eu vou comprar com o motorista, abre pra mim!
- Não, precisa ter a passagem...
- Mas eu vou comprar com o motorista!! Abre peloamordedeus, o ônibus tá saindo!!
- Não, tem que ir ali no guichê.
- Mas eu ACABEI de vir do guichê!
- Não, aquele guichê ali...
E apontou para um outro guichê de acesso à rampa que leva aos ônibus. Eu não entendi direito por causa da pressa, mas acho que era um guichê onde gente sem passagem - acompanhantes de passageiros - pagam uma taxa pra poder descer até a plataforma de embarque.
Faltava só um minuto para as seis. Tinha um velhinho na fila do guichê. Eu pulei NA FRENTE DELE e gritei pra atendente:
- Quanto é??
- R$ 1,25...
Enquanto eu pegava o dinheiro da carteira, o velhinho disse um "dá licença" meio azedo e passou na minha frente. Joguei uma nota de R$ 2 dentro do guichê e passei voando pela roleta.
Já eram seis horas quando comecei a descer a rampa. Olhei pra baixo e vi o motorista fechando a porta do ônibus. Era hora de medidas extremas. Abri mão do resto de dignidade que ainda tinha e comecei a assobiar e gritar para chamar a atenção do motorista. A parte do "chamar a atenção" funcionou, porque todo o resto das pessoas na rodoviária percebeu, deu uns gritinhos de "aee atrasado!" e tal. Mas o motorista não estava nem aí e começou a arrancar com o ônibus.
Depois de ziguezaguear a rampa toda eu finalmente consegui pular na frente do ônibus e acenar pro motorista. Só então ele abriu a porta e eu, felizmente, embarquei.
Era o ponto de partida daquela que seria a pior viagem de ônibus da minha carreira de consultoria.
Fisicamente a minha situação não era boa: eu estava saindo de uma intoxicação alimentar maluca, com diarréia, cólicas, febre de 39 graus e tudo. Pra dar uma idéia da gravidade da coisa basta mencionar duas coisas:
1) Eu passei a madrugada do sábado na enfermaria do hospital, tomando remédio na veia, e...
2) Durante a febre, meu cérebro começou a dar pau e eu cantarolava sem parar um trecho de uma música da Wanessa Camargo:
"Vou me arrepender de-poix
Mas eu não resisto a nóix doix... ooooh nããão..."
Na segunda eu já estava bem melhor, mas a tensão dos últimos dois dias (e todo meu tempo de bunda-na-cadeira) acabou virando uma dor horrível nas minhas costas. Imagine o que é ficar num ônibus, por quatro horas, com as costas doendo a cada sacolejada do balaio. Mesmo depois de chegar no hotel, mesmo deitado e imóvel, as costas continuavam doendo. Comecei a ter febre novamente. Era hora de medidas extremas.
Então rezei pra que a dor passasse. A prece funcionou. Recebi uma iluminação divina que me disse assim:
"Seu burro, lembra que tem uns comprimidos de Novalgina na sua mochila?"
Tomei um deles. Por volta de uma da manhã a dor DESAPARECEU. Foi uma delícia, foi como um orgasmo ao contrário.
Parte dois: A reunião
Às seis da manhã meu celular tocou Tommib, música do Squarepusher que está na trilha sonora do filme Encontros e Desencontros. É o toque que uso como despertador. Eu me senti um pouco Bob Harris mesmo, perdido num lugar estranho e sofrendo de jet bus lag.
Passamos a manhã toda nos preparando para a bendita reunião. Às duas da tarde, nosso consultor-líder subiu no palco e começou a apresentar o PowerPoint que me ocupou durante as últimas madrugadas.
Era o ponto de partida daquela que seria a reunião mais bizarra da minha carreira de consultoria.
A primeira bizarrice começou no slide número sete, que mostrava a previsão de gastos com os projetos para o ano de 2007. O presidente da empresa se levantou da cadeira e gritou:
- Eu NÃO CONCORDO com esses números!!
Todo mundo gelou, especialmente eu, que passei os últimos dias debruçado exatamente em cima daqueles números.
- Nós já enfiamos num-sei-quantos milhões nestes projetos no ano passado e vocês ainda dizem que precisam de mais?!?!?
Aí eu respirei aliviado. Na verdade ele não entendeu que os projetos atrasaram e que o dinheiro mostrado ali era pra concluir o planejamento de 2006. O vice-presidente tentou acalmá-lo e explicar o mal entendido, mas não adiantou. Ele estava furioso. A saliva se acumulava nos cantos da boca enquanto ele vociferava. Até que num determinado momento ele disse:
- Sabe por que isso está assim? Porque essa empresa não tem dono!!
Sim, é isso mesmo. O dono da empresa reclamando que a empresa não tinha dono. Ele reclamou mais algumas coisas e, para espanto geral, saiu da reunião e não voltou mais. Acho que este foi o momento mais "what the fuck" da minha carreira.
Aí o consultor-líder foi embora (tinha um vôo pra pegar) e o resto da reunião foi conduzida por mim. As minhas costas estavam doendo de novo, o pessoal questionava os números, todo mundo falava ao mesmo tempo. Foi um pandemônio. E no meio do caos Michael Jackson ainda me interrompia para fazer perguntas altamente significativas, do tipo: "quer que desligue o datashow?"...
No final o vice-presidente foi dizer algumas palavras e acabou dando uma palestra de 30 minutos. Foi assim:
Começou pedindo a todo mundo que tivesse "calma"
Contou que a mulher dele reclamou que ele anda dizendo muito palavrão. "É a minha válvula de escape para o stress", disse ele.
Fez um ranking detalhado dos diretores mais "explosivos" da empresa: "Primeiro vem o fulano, sem dúvida. Esse é hours concours. Depois o ciclano"...
Comentou que estava louco pra ir fazer a caminhada noturna de sempre com o presidente, pra ouvir ele desabafar e tal.
Gastou alguns clichês motivacionais, dizendo coisas do tipo "vamos ganhar essa guerra".
Encerrou dizendo: "Muita paz e muita felicidade para todos vocês!"
Foi uma coisa surreal. Mitológica, até. Mas não deu tempo de aproveitar o pós-reunião porque eu tinha que pegar um ônibus na cidade vizinha e voltar pro Rio. Tomei outra novalgina, entrei no táxi e tive outro orgasmo invertido enquanto a dor nas costas passava com o efeito do remédio.
O ônibus ia parar num daqueles postos de gasolina metidos a besta, com restaurantes, lojinhas e tal. Tudo que eu precisava fazer era comprar uma passagem e esquecer o sofrimento dos últimos dias. Aí fui até o guichê, abri minha carteira... e não tinha NENHUM REAL dentro dela.
- Moça... me diz que você aceita cheque, por favor...
- Não - respondeu ela, rindo.
- Então, por favor, me diz que tem um caixa eletrônico aqui perto...
- Tem um ali atrás...
Era um do Banco 24 Horas. Meti meu cartão nele e pensei: "só falta não estar funcionando". Adivinha...
Felizmente, o gerente do restaurante foi extremamente legal comigo, passou R$ 50 no meu cartão de crédito e me deu o dinheiro. Comprei a passagem, entrei no ônibus e tive uma grata surpresa: ele era bem espaçoso, tinha cobertores, travesseiros e uma TV que passava filmes durante a viagem. Pensei que, finalmente, meu sofrimento havia acabado.
Aí o filme começou. Era Batman e Robin... dublado!
Com o dedo duro na aterrissagem
2007-02-06 00:04:00 +0000
Olha, eu sou um cara 100% honesto, pago meus impostos e escovo os dentes antes de dormir.
Bem, exceto na sexta-feira, quando eu costumo enganar a aeromoça e deixar meu iPod ligado no avião durante o pouso e a decolagem, o que me torna um terrorista maldito que assusta menininhas.
Na última sexta-feira eu inventei de voar pela Varig. O avião que ia nos levar (um Boeing caindo aos pedaços) entrou em "manutenção não programada" e só depois de uma hora é que eu consegui embarcar (em outro Boeing caindo aos pedaços). Na hora de decolar a aeromoça me mandou desligar o iPod, e eu, como de costume, ignorei a ordem dela. Na hora do pouso, fiz a mesma coisa. Afinal, eu sou um cara 100% honesto, pagador de impostos e livre da placa bacteriana, mas se me impedirem de ouvir música eu me torno um fervoroso membro da Al Qaeda.
Bem, foi isso que o passageiro ao meu lado deve ter pensado, porque na hora que a aeromoça já ia saindo de perto de mim ele disse:
- Olha, esse cara aqui não desligou o iPod dele não! E na hora de decolar ele fingiu que desligou mas deixou ligado! É meu direito, você tem que mandar desligar...
Sim, o cara me dedurou pra aeromoça. Eu me senti com sete anos de idade novamente, na salinha do pré-primário, ouvindo o coleguinha dizer: "Olha ele, pssora! Olha ele!". E, do topo da minha honestidade 100% imaculada e dos meus dentes alvos, eu fiquei muito puto, botei a tela brilhante do iPod bem nas fuças do cara e desliguei.
O avião foi fazendo as suas curvas para pousar e eu, apesar da raiva, fui pensando... e resolvi ser não apenas 100, mas 200% honesto. Gente-boa pra cacete mesmo. Então virei pro cara, engoli todo o orgulho ferido e...
- Desculpe se eu te assustei.
E ainda comecei a explicar o por quê da proibição dos iPods - é que numa emergência eu deveria estar em condições de ouvir orientações da aeromoça, e que meu iPod não estava ameaçando a segurança de ninguém além de mim mesmo e tal. Mas a conversa que se seguiu foi difícil de acreditar:
- É uma norma de segurança internacional - disse o babaca, com ênfase no "internacional" - Olha só, eu fumo e não estou fumando aqui, entende?
- Mas se você fumar o avião vai cair?
- Mas... mas eu posso queimar você!
- E meu iPod vai queimar você? Olha, eu tenho certeza que ele não interfere no avião, ok?
E então ele fechou a conversa com chave de ouro:
- Humpf... é por causa de gente assim que o Brasil está desse jeito...
Até pensei em dizer a ele que, sim, eu era 100% honesto, pagador de impostos e livre das cáries, mas resolvi deixar pra lá.
Aí hoje dei de cara com um link interessante de um projeto de arte envolvendo aquela posição de impacto para pouso de emergência sugerida nas cartelinhas de instruções de segurança. De acordo com o texto...
Imagine só a cena... eu ligo o iPod, o shuffle escolhe uma música do Air (hehe), aí a eletrônica do avião despiroca toda, ele perde o controle e a aeromoça manda todos assumirem posição de impacto. Na queda todo mundo morre queimado. Aí os legistas vão até os restos do meu assento e dizem:
- Putz, olha a arcada dentária do cara da 18A... ele devia escovar os dentes todo dia antes de dormir.
- Incrível. Normalmente é esse tipo de gente que nunca sonega imposto.
- Pois é... uma pena, só os honestos morrem. Por isso que o Brasil está desse jeito...
Uma noite inesquecível em Windturn City
2007-02-01 23:49:00 +0000


Rodoviária do Rio: O quadro de horários, inalterado desde 1940 (esq.) e uma mulher jogando paciência "analógica" pra passar o tempo (dir.)
Quatro horas de ônibus depois e eu finalmente cheguei em Windturn City, para dormir na hospedaria da fábrica. Michael Jackson, meu fiel trainee, estava de pijaminha, sentado na beirada da cama, digitando freneticamente no seu notebook. Estava fazendo um resumo de um livro de trabalho, para estudar. Sugestão do chefe dele - no caso, eu. Bom garoto...
Normalmente eu não reclamo da falta de conforto aqui em Windturn City, mas a coisa está ficando abaixo da crítica. Ontem, Michael só conseguiu toalhas pra gente tomar banho porque outros hóspedes pularam a janela da sala da governança e pegaram algumas. E a roupa de cama que estão nos dando é áspera feito uma lixa.
Além disso fazia um calor infernal, o ventilador do quarto parecia a turbina de um Boeing, e pra completar eu tive uma crise horrenda de insônia e fiquei horas rolando em cima do lençol-lixa. E pra piorar comecei a sentir umas coceiras estranhas pelo corpo. "Pronto, só falta ter pulga nesse colchão velho", pensei.
Às três da manhã eu, finalmente, peguei no sono. Quatro horas depois o celular de Michael me acordou ao som do tema de Star Wars. Ao levantar, descobri a razão da minha coceira noturna: tinham formigas mortas no meu lençol. "Ah, era isso", pensei. "Mas de onde vieram essas formig..."
O pensamento ficou suspenso quando olhei para a cama extra ao lado da minha, que estava coberta por CENTENAS de formigas. E pra piorar, o destino delas era uma sobra de doces que comprei na viagem e deixei no bolso da minha mochila.

Tive que tirar uma foto.
Porque senão nem eu acreditaria.
As formigas desciam pela janela (aberta por causa do calor), atravessavam o quarto inteiro e se esbaldavam por cima da cama. Eu entrei em pânico quando imaginei aqueles pontinhos pretos, condutores de eletricidade, entrando pelo buraco de ventilação do meu notebook, se escondendo no conector do cabo do meu iPod...
Alguns minutos de "mata-mata" depois e a situação ficou sob controle. Eu ainda não voltei para a hospedaria e não sei como ficou a situação do quarto, mas a idéia de milhões de formigas se esfregando em mim durante a noite passou o dia todo pelo meu cérebro lesado de pouco sono...
Windturn City - O Filme
2007-01-26 19:34:00 +0000
Na hospedaria de Windturn City a gente não tem telefone no quarto. Como fica muito caro ligar o tempo todo via celular, eu tenho usado os telefones públicos da cidade (quando eles estão funcionando, é claro).
Ontem a coisa foi feia e eu tive que andar meio quilômetro - ou seja, ir a pé até o centro da cidade - para achar um telefone que funcionasse. E, na volta, ainda choveu...
Mas como eu estava de bom humor resolvi documentar o caminho com fotos do celular. Depois montei com elas esse ultra-curta-metragem aí embaixo, só pra mostrar o caminho para vocês, fiéis leitores, que adoram se deliciar com meus suplícios...
On the Road
2006-12-12 01:35:00 +0000
Tem muita coisa pra ver na estrada que vai de Borderline City até o aeroporto de Varginha. Uma delas é a cidade de Piranguinho, a chamada "capital do pé-de-moleque".
A coisa é séria mesmo: os pontos de venda na estrada existem desde 1960 e sao padronizados por cor. Primeiro voce passa pela barraca azul, depois pela amarela (sim, os nomes das barracas são realmente esses), depois pela vermelha, depois pelas não-oficiais (uma marrom e um "clone" da amarela) e por aí vai.
E ao sair da cidade tem uma atração de bônus: Um lindo sítio, com um portão vistoso e uma placa informando o nome: "Sítio Fundo de Garantia"...
Quando finalmente o carro começa a chegar em Varginha, vem as atrações mais top. Nos postes tem pequenos discos-voadores, os pontos de ônibus da cidade são em formato de disco-voador, e na loja de conveniência do posto de gasolina, bem no meio da loja, sobre a pilha de latinhas de Skol, tem um boneco enorme de um ET acenando para quem entra.
Feriadão no Rio
2006-11-21 23:33:00 +0000

Jesus abençoe essa mulher bonita minha...
Lembram que no começo do mês foi feriado de Finados? Pois é. Eu, Bethania e um casal de amigos iríamos aproveitar a ocasião para ver o Cirque du Soleil no Rio, e de quebra fazer um turisminho básico. Sim, porque volta e meia eu estou no Rio, a trabalho; sendo assim, o máximo de diversão que eu consigo ter nestes casos é um cooper "Primo versus velhinhos" em Copacabana...

Murphy resolveu aparecer também: o tempo ficou chuvoso todos os quatro dias e o vôo das meninas (de BH pro Rio) entrou no meio do caos dos controladores do tráfego aéreo, e elas acabaram tendo que vir de ônibus. Mas apesar disso a gente conseguiu se divertir um bocado.
A idéia era ficar na casa de uns amigos, na Barra, e gastar todos os programas turísticos ultrabásicos: Cristo, Pão de Açúcar, Ipanema, Leblon, Lagoa Rodrigo de Freitas e demais cenários de Páginas da Vida. Bethania também queria fazer umas coisas mais radicais, como (glup!) saltar de asa delta da pedra da Gávea, mas o mau tempo acabou não deixando.
Foi um sossego só esse feriado. O esquema era acordar, sair pra passear, almoçar em algum lugar legal, passear mais, depois entornar um vinhozinho e ir dormir suando em bicas. Sim, meu amigo... no Rio faz calor, muito calor.

Finzinho de tarde em Grumari
No sábado teve a apresentação do Cirque. Pra evitar mais dores de cabeça com o ingresso (lembram?), resolvemos passar na bilheteria com três horas de antecedência. Mesmo assim, fiquei meia hora na fila, já que a fila era única pra quem queria comprar ou apenas retirar ingressos já comprados (meu caso). Aí, pra não deixar meu ódio pelo Ticketmaster morrer, no exato momento em que eu cheguei no guichê pra ser atendido, a menina se levantou e foi saindo, dizendo: "Hoje eu não atendo mais". Aí tive que voltar pra fila e esperar a outra atendente gastar mais 15 minutos vendendo ingresso pra dois velhinhos, antes de ser atendido.

Panorâmica da zona norte...
Mas no final valeu o esforço: o show do Cirque foi de cair o queixo. O chato foi os spoilers: as propagandas do Bradesco que passavam na TV mostraram trechos de quase todos os números. E quando estávamos em Buenos Aires, na lua-de-mel, acabamos pegando um trecho do Jornal Hoje (não pergunte como) que mostrou um número de mímica inteiro. Era um dos melhores números do espetáculo, que perdeu o efeito surpresa por causa disso.

... e panorâmica da zona sul.
Mas isso não desmereceu o show: sobraram boas surpresas nas mais de duas horas de espetáculo. Uma delas (cuidado... vou contar... não diga que não avisei) é a malabarista, que começa a fazer aquele número manjadíssimo de malabarismo com três bolinhas. Sim, aquele mesmo que qualquer moleque de sinal de trânsito faz. Só tinha um detalhe: ela fez isso enquanto sapateava no ritmo da música. E depois, no gran finale, ela fez um malabarismo com nada menos do que nove bolinhas. Não fosse na vida real e eu diria que ela estava usando um cheat.
Além do show, fizemos bastante turismo gastronômico no Rio: conhecemos a famosa Cafeteria Colombo (onde você só consegue um garçom se for bem insistente) e o Outback, com sua famosa Blooming Onion. E ainda teve bastante vinho na casa dos nossos anfitriãos. O Rio, além de quente, engorda...


Bethania e seus All-Stars no piso centenário da cafeteria (esq.) e a cebola semidestruída, no Outback (dir.)
O iPod que assusta menininhas
2006-11-12 15:56:00 +0000
O desfecho do meu chá-de-aeroporto de sexta foi previsível. Fui dormir só às três da manhã.
Mas o melhor da história toda foi quando eu finalmente embarquei, lá pelas 23:30.
O avião estava meio vazio: afinal, só os idiotas como eu voltam pra casa nesse horário. Tava assim: eu sentado no corredor, uma cadeira vazia e uma mulher sentada na janela. Ela e sua revista Cláudia, eu e meu iPod.
Acontece que não é permitido usar nenhum aparelho eletrônico durante o pouso e a decolagem. Assim sendo, as aeromoças sempre me cutucam e me mandam desligar o iPod quando o avião começa a taxiar. Aí eu espero elas se sentarem e ligo o iPod de novo, em flagrante desrespeito às leis do meu país (hehe).
Aí eu fechei os olhos e botei um discreto sorriso no cantinho da boca. Eu estava finalmente indo pra casa, e ainda curtindo meu novo disco do Nobukazu Takemura. Então alguém me cutucou. Era a moça da revista Cláudia:
- Ei, você não vai desligar isso não?
- Uhh... não.
- Mas a aeromoça vai te chamar a atenção de novo!..
- Não vai não, ela só vai levantar dali depois da decolagem, eu sei como é.
- Moço, mas tem que desligar, moço...
Aí eu respirei fundo, desliguei o iPod, e ia começar a explicar pra mocinha que eu vôo toda semana, que eu sempre faço isso, que o avião nunca caiu, que o iPod não emite radiofrequência, radiação, eletromagnetismo ou nada similar, que o pessoal sempre me manda desligá-lo só porque a norma de segurança diz que eu tenho que estar atento caso haja uma emergência (duvida? leia aqui, post 22). Mas nem deu tempo e a mulher começou a falar como louca:
- Olha, eu tenho medo dessas coisas, já tou assustada aqui, olha, eu não vou aguentar ficar aqui eu preciso sair, vou trocar de lugar, dá licença...
- Ei, mas não pode ficar de pé agora, o avião vai decolar...
- Licença, licença!...
E a diaba da mulher, em flagrante desrespeito às leis do meu país, me fez levantar para dar passagem a ela e sentou-se na poltrona de trás. Aí eu voltei a me sentar e fiquei uns cinco segundos sem acreditar naquilo. Então decidi o que eu ia fazer:
- Moça... - disse eu, virando para a poltrona de trás - vamos fazer o seguinte. Toma.
Estendi a mão e mostrei o iPod.
- Você fica com ele até a gente pousar. Pela sua paz de espírito. Pode ser?
Meio ressabiada, ela pegou o iPod. A sorte foi que ela ficou em Uberlândia, e eu felizmente ainda pude ouvir alguma música na segunda hora do vôo...
Mondo Bizarro - Bonus Track
2006-10-25 12:43:00 +0000
Na terça eu voei de volta pra Belo Horizonte, via Varginha. O (mini) aeroporto tinha duas coisas estranhas. A primeira era um ET na sala de recuperação de bagagens. Seria normal por estarmos em Varginha, a capital dos Extraterrestres, mas era estranho porque o ET não tinha a mão esquerda. Afinal, como diabos ele ia ajudar as pessoas com as bagagens?
A outra coisa estranha era Marcos Frota. Sim, o ator Marcos Frota, que por alguma razão estava no mesmo vôo que eu. Se fosse em São Paulo até seria normal ter uma ou outra celebridade no aeroporto, mas... Varginha?


O "ET Maneta" da sala de bagagens (esq.) e Marcos Frota esperando o avião (dir.)
O Primo em Borderline City
2006-10-18 15:01:00 +0000
Sim, é verdade. Além de Windturn City, meu novo projeto inclui atividades em outra cidade interiorana, que chamarei de Borderline City, porque fica bem na fronteira entre Minas Gerais e São Paulo.
Pra chegar em Borderline City a maratona é mais ou menos a mesma de Windturn City: uma hora de avião e mais duas horas e meia de carro. O legal é que o trecho de avião termina em Varginha (onde fica o aeroporto mais próximo de Borderline City). Varginha é um lugar peculiar, famoso por histórias de extraterrestres. E o mais legal ainda é que o avião que voa pra lá é uma Brasília.
Sim, um Embraer EMB-120 "Brasília". Esse aqui, ó:

Ele pertence a uma empresa aérea minúscula e recém-chegada no mercado, chamada Air Minas. O "Brasília" comporta 30 passageiros e voa até direitinho. Mas faz um barulho infernal...


A cabine do Brasília (esq.) e a hélice dobrada ("defeito" especial causado pela má qualidade da câmera do celular).
Pra experiência ficar ainda mais bizarra, a aeromoça sorteou um "brinde" durante o vôo, e quem ganhou, obviamente, fui eu. Digo "obviamente" porque tinham só TRÊS pessoas no avião. O brinde estava devidamente empacotado num dos saquinhos de vômito, e era isso aí embaixo:

Sim, é um porta-lápis tosco, de cerâmica, em forma de caminhãozinho
Pra ficar ainda mais bizarro, depois que fizemos uma escala em Divinópolis, a aeromoça sorteou mais um caminhão-brinde, e quem ganhou foi o Michael Jackson...
O esquema aqui em B.C. é igual o de W.C.: a gente fica hospedado dentro da empresa, num quartinho simples e com a mesma decoração original de 1940. Mas o quarto é limpo e o colchão é bom, então não tenho do que reclamar. E de vez em quando a gente trabalha em locais um tanto quanto... incomuns.

Minha workstation e a platéia invisível
À noite, pra conseguir jantar, eu e Michael tivemos que pegar um ônibus até o centro da cidade, onde jantamos num restaurante que fica do lado de uma sorveteria que se chama "Uaice Cream" (fico devendo essa foto). Na volta, como estava tarde, entramos num táxi. Senti falta de uma coisa e resolvi perguntar o taxista:
- Ué... cadê o taxímetro?
- Uai, aqui num tem isso não, moço...
- Como assim?
- A gente já pediu mas a prefeitura diz que num precisa, que a cidade não comporta...
E pela primeira vez eu paguei um táxi via tabelinha. Deu dez reais a corrida...
No final do segundo dia de trabalho eu deixei Michael por lá e me meti num ônibus rumo à São Paulo. Foram quatro horas e meia de viagem, meu personal longest viagem-de-ônibus-a-trabalho record. Felizmente, eu estava bem preparado: o iPod estava com a bateria cheinha e abastecido com mais de 2 GB de episódios da segunda temporada de The Office. Nem vi o tempo passar...
Dia desses, em Ipoema...
2006-10-16 03:28:00 +0000
que você pode guardar numa casca de noz
ou debaixo da sola do seu sapato"
(Fellini, em Alcatraz Song)

Velhinho randômico vendo o movimento (?) na praça
Pois é, fim-de-semana desses aí pra trás eu viajei para acompanhar Bethania e o Congá, o grupo de dança folclórica (!!) do qual ela faz parte. Eles iriam se apresentar em Ipoema, interior de Minas Gerais, numa tal "festa do tropeiro".

Ipoema é um buraquinho perdido em algum ponto da Estrada Real, visitável após duas horas de carro e algumas estradas de terra. A festa do tropeiro foi no Museu do Tropeiro, com shows variados e comida típica - que incluía, obviamente, feijão tropeiro.
A história toda tinha a receita para se tornar um ótimo programa de índio, porque Bethania estaria ocupada preparando-se pra apresentação e eu ia passar horas solto, sozinho, no meio da festa, cujas atrações incluiam o "ritual de acendimento da fogueira" (um cara botando fogo num punhado de lenha - e só), o "ritual dos chicotes" (três velhinhos chicoteando o chão - e só), bandas tocando forró (ugh!) e outras coisas emocionantes. A solução pra isso era simples: máquina fotográfica e muitas pilhas.

Tiozinho mandando ver no ritual dos chicotes. Ao fundo, a "fogueira ritual"...
Enquanto o Congá não subia no palco eu fiquei me divertindo com a minha experiência fotográfica antropológica, tirando fotos e vendo qual era a do pessoal. Na festa tinha um grupo de cavalgada que havia viajado, a cavalo (não diga!), da Serra do Cipó até Ipoema para participar da festa. Era um grupo grande, animado e formado apenas por homens. No meio da festa, dois deles subiram ao palco e declamaram poesias sobre as cavalgadas e o companheirismo dos amigos. Eu achei tudo aquilo muito gay.

Detalhe do líder do grupo de cavalgadas. Todo mundo tinha o nome bordado na roupa, por sinal.
E as atrações da festa continuavam em ritmo alucinante: depois das poesias, teve um número de "tocação" de berrante e uma apresentação especial do grupo das lavadeiras da cidade. Sim, lavadeiras, com bacia e tudo.
Eu curti muito o show das lavadeiras. Não pelo show em si, mas por ser uma coisa que envolve gente carente com arte e música. E além do mais os velhinhos que tocavam violão e acordeon para elas eram muito fotogênicos.



Logo depois veio o Congá e mandou ver. A apresentação foi um sucesso, mesmo porque eles tinham o público perfeito para o tipo de apresentação que fazem. O pessoal ficou bastante animado. Os caras da cavalgada, então, ficaram embasbacados com a beleza da... bem, das dançarinas. Ficaram o tempo todo dizendo: "Lindas! Lindas!"...
Pra esquentar ainda mais a coisa, o líder do grupo começou a pegar gente da platéia e colocar em cima do palco. Foi uma muvuca danada, os caras da cavalgada aproveitaram pra tentar passar umas cantadas nas meninas, mas no fim a coisa toda foi um sucesso.
Consequentemente, meu dedo indicador trabalhou como louco e tirei nada menos que sessenta e oito fotos dos pouco mais de vinte minutos de apresentação...





A Lua-de-mel do Primo
2006-09-25 12:22:00 +0000

Eu, no alto da montanha... pronto para os tomb... digo, as descidas! (Foto by Bethania)
Nota inicial: Pra todo mundo que está reclamando que depois que eu casei eu não atualizo mais o blog como antigamente... aparentemente, Murphy ouviu as preces de vocês.
Na sexta-feira eu tomei um "chá de Galeão" ao tentar voltar do Rio. Fiquei empacado no aeroporto das 18:00 às 21:30, e tive tempo de sobra pra completar este esperado post...
Parte 3 de 3: Esquiando no Chile!
Eu esperei quase um ano por isso. Eu trabalhava dias inteiros e saía cansado à noite pra fazer cooper justamente por causa disso. Eu contei cada dia da viagem até que finalmente chegou "o" dia. Eu contei cada hora deste "o" dia até que, no começo da tarde, meus dois pés estavam dentro de botas de plástico rígido, e debaixo delas haviam dois esquis, e debaixo deles havia neve e ladeiras e mais ladeiras da Cordilheira dos Andes pra que eu descesse.
Finalmente eu estava esquiando novamente...

Foto dos óculos de esqui do André... ou seria um auto-retrato meu?
A programação da viagem incluía cinco dias para o esqui. A idéia inicial era ficar hospedado no Valle Nevado, mas quando marcamos a viagem (com meses de antecedência) o hotel já estava lotado. Aparentemente, ficar no Valle Nevado está na moda: neste feriado de sete de setembro o hotel estava praticamente todo reservado para brasileiros...
A minha idéia era aproveitar o máximo de tempo de montanha que eu pudesse, mas não teve jeito: eu só começava a esquiar mesmo lá pelas 11:30 da manhã, e tinha que parar às quatro da tarde. É que tínhamos que subir e descer a montanha todo santo dia, de van. A viagem durava aproximadamente uma hora e meia, e os filhos-da-puta da operadora de turismo se atrasaram TODOS os dias. O atraso seria ainda pior se Bethania não tivesse reclamado na operadora e conseguido uma van exclusiva pra nós, porque aí teríamos que fazer via-sacra por todos os hotéis de Santiago pra catar mais turistas.
Mas chega de reclamar e vamos ao que interessa:
Dia 1: Esqui em El Colorado

O primeiro dia foi o mais desgastante, por várias razões: no dia anterior o motorista deixou um recado dizendo que ia atrasar, e acabou aparecendo mais cedo; aí saímos do hotel sem nem tomar café-da-manhã. Some a isso o efeito da altitude e todo mundo acabou ficando muito cansado. Pra piorar, o pessoal resolveu fazer aulas de esqui com um instrutor "pirata", que dava aulas do lado de fora da estação. Aí, obviamente, não tinha teleférico e o pessoal tinha que subir a montanha a pé, carregando os esquis, pra poder treinar as descidas.
Como ninguém estava aguentando nada, a diversão do dia acabou sendo brincar na neve: fazer bonecos, jogar bolinhas um no outro...


O abominável homem das neves (óculos opcional)... e o André prestes a levar um naco de neve na cabeça.
Eu não participei das aulas piratas: comprei um ticket e fui direto pra montanha. Mas devo ter descido apenas umas duas vezes, porque a desnutrição e a altitude me deixaram extremamente cansado. O simples ato de caminhar até a base do teleférico pra começar a subir foi um tormento; era uma caminhada pela neve de no máximo 150 metros, e eu tinha que parar pra descansar porque o peso dos esquis e das botas na neve fofa era de matar.
Mas tudo ficou bem no dia seguinte, quando fomos ao...
Dia 2: Valle Nevado!

Logo que chegamos e eu dei uma olhadinha no tamanho do Valle Nevado, eu sabia que aquele era o lugar. Ficou fácil de entender as hordas de brasileiros que vão pra lá todo ano. No próximo, acho que eu vou me juntar a elas...

El Mirador: te leva looonge...
O André, a Ju e Bethania ainda estavam meio tímidos no esqui, então ficaram na parte de iniciantes. Eu dei umas descidas e depois resolvi pegar um teleférico chamado "Mirador". Subi na cadeirinha e ela foi subindo, subindo, subindo... até que, vinte minutos depois, ela me deixou 350 metros mais alto do que a base da montanha.
O silêncio lá no alto era absoluto. E o hotel estava muito, mas muito longe. Aí comecei a descida, obviamente pela pista mais fácil. Depois, peguei um desvio e fui por uma pista intermediária, que faz o mesmo caminho do teleférico só que, obviamente, morro abaixo.
Depois de uns dez minutos eu finalmente estava de volta à base da montanha, sem nenhum tombo. Aí fui numa outra pista intermediária, uma, duas vezes... também sem tombos. Eu estava bem, muito bem nos esquis, e a autoconfiança só aumentava.
Aí encontrei com o pessoal na pista de iniciantes e pedi a Bethania pra me filmar descendo a pista intermediária.
Peguei o teleférico, fui até o começo da descida e esperei ela dar o sinal. E mandei ver. Curva pra lá, curva pra cá, resolvi fazer um "slalom" nas bandeirinhas da beirada da pista, pra dar uma "incrementada" na filmagem.
O resultado você vê neste vídeo...
(Sim, está sem som e com qualidade MUITO tosca. Eu não tenho placa de captura de vídeo no PC, então acabei filmando a telinha de LCD da filmadora, usando a câmera fotográfica. Tudo isso pra vocês poderem rir da minha cara)
Por incrível que pareça esse foi meu ÚNICO tombo do dia...
Aí, com o moral abalado, dei uma parada e fiquei fotografando os tombos do resto do pessoal. Afinal eu tenho direito a, pelo menos, alguma vingancinha...


Bethania em posição "filma eu Galvão!" e depois fazendo um "quatro deitado"


André em altíssima velocidade, e depois chafurdando na neve...


Juliana descendo... e descendo...
E aí você pergunta: "Cadê a foto do tombo da Ju?". Bem, logo depois da segunda foto ela realmente caiu, mas não foi nada bonito e ela acabou torcendo o joelho. Felizmente não foi nada muito sério: era só botar um pouco de gelo (que foi muito difícil de encontrar, sabe como é) e descansar.
Já que tínhamos dado uma paradinha, aproveitamos pra almoçar a comida mais cara da América Latina. No Valle Nevado, uma coca-cola sai a OITO reais, e uma "promoção" de cheeseburger, fritas e refri não sai por menos de R$ 28. Ai meu olho...
Dias 3 e 4: Mais Valle Nevado!

As emoções de todos os dias de esqui já começavam na van. Eram emoções das mais diversas:
Medo, quando o motorista fazia, em alta velocidade, as curvas ultra-fechadas da minúscula estradinha (essa da foto acima)
Empolgação (indignação, no meu caso), quando o motorista coloca Ivete Sangalo pra tocar durante a viagem
Friozinho na barriga, quando o café-da-manhã começa a reclamar das sacudidelas constantes
Impaciência, quando você não aguenta mais ver curva e o Valle Nevado ainda esta loooonge...
Mas eu esquecia tudo quando chegávamos e eu botava os esquis no pé.

Snowboarder perdido na neve
Conforme o tempo foi passando, o pessoal foi se soltando e já esquiávamos todos juntos pelas pistas mais fáceis. Descíamos umas três delas na sequência e, lá no final, pegávamos o teleférico de volta para o topo.
O problema é que o teleférico passava ao lado do snow park, que é uma pista com rampas, corrimãos e outros obstáculos para os snowboarders e esquiadores freestyle fazerem manobras mais radicais. A cada subida que passava eu ficava vendo o pessoal voando pelas rampas do snow park. Uma delas era bem pequena: "É, acho que aquela ali eu consigo fazer".
E pronto: agora meu objetivo era aprender a saltar...
Era divertido: eu entrava na pista, via a rampa e descia direto. Aí o vento começava a passar assustadoramente rápido pelas orelhas, uivando forte por causa da velocidade, e a adrenalina subia. Então vinha a rampa e não tinha mais jeito: eu só podia pular e fazer de tudo pra cair em pé. Aí eu conseguia e freava violentamente porque depois do salto a velocidade já estava num patamar absurdo. Eu me achava o mais radical dos radicais.
Aí pedi Bethania pra me filmar. Todo mundo se empolgou e foi pro teleférico: combinamos que eu faria o salto quando eles estivessem no meio da subida do teleférico, pra ter o melhor ângulo de visão possível. E todo mundo foi na maior empolgação: "O Zé vai dar um mega-salto!"
Desta vez eu não caí, mas mesmo assim o vídeo não deixou de ser ridículo. Note que, à minha direita, um esquiador de verdade vai na rampa maior e voa REALMENTE alto. Logo atrás venho eu, e pulo a impressionante altura de VINTE CENTÍMETROS...
Depois do meu "mega-jump", o André contou que ficou se perguntando: "Ele saiu do chão?".
Clique aqui e veja o vídeo deste vexame. Eu juro, quando você pula parece muito mais...
Aí eu fiquei revoltado: era a segunda vez que me filmavam e eu só passando vergonha. Resolvi partir pro tudo ou nada, e tentar saltar na rampa REALMENTE grande. Novamente, foi todo mundo pro teleférico, e eu fui pra cabeceira da pista...
E o que aconteceu foi o seguinte: entrei na pista e fui, resoluto, pra rampa grande. Era agora ou nunca. Era a glória ou a desgraça. Aí saltei e, obviamente, me esborrachei com a bunda no chão.
Felizmente, o André estava com a máquina a postos no momento do tombo...

Se eu não contar que estava caindo, até parece que eu estava num carving radical...
Mas o fracasso não foi completo e eu ainda estava com os dois esquis nos pés. Do teleférico o pessoal gritava:
- SAI DO CHÃO ZÉÉÉÉ!!!
Aí me levantei, dei um tchauzinho pro pessoal pra mostrar que eu estava bem, e continuei descendo, o moral lá no dedão do pé. Como a rampa menor ficava no meio do caminho, pensei: "Ah, vou passar por lá, pelo menos aquele pulinho de criança pequena eu consigo fazer". Nem reduzi a velocidade nem nada, fui direto.
E, novamente, eu me esborrachei na neve. Dessa vez foi feio, porque eu estava muito rápido, e o final da rampinha é uma descida BEM íngreme. Eu levantava uma nuvem enorme de neve enquanto tentava desesperadamente frear com os esquis e com os braços. Consegui parar uns vinte metros depois, todo coberto de branco. Tinha entrado neve pelas luvas, pela calça, eu estava molhado em todos os lugares onde o sol não bate. Do meu lado, um casal de esquiadores olhava perplexo, tentando entender o que diabos era aquilo.
No teleférico, Bethania dizia baixinho: "Ele caiu de novo!! Nãããão, Zé... nãããão, Zé!!"...
E, com vocês, o vídeo desse infortúnio todo...
Dia 5: Portillo!
A despedida do esqui foi nesta outra estação, que fica perto da divisa entre o Chile e a Argentina, na beirada de uma estrada que corta os Andes e liga os dois países. Por sinal, um dos teleféricos passa por cima desta estrada.

Aquilo ali atrás do baú do caminhão é... um esquiador?!
Acontece que Portillo é mais longe que as outras estações de esqui. Além disso, o motorista da van chegou atrasado no hotel e quando chegamos na montanha já era mais de meio-dia. Pra piorar, o motorista veio com um papo de que precisava voltar por volta das quatro da tarde pra buscar alguém no aeroporto. E pra piorar ainda mais, quando mencionamos que precisávamos devolver o equipamento alugado de esqui, ele disse que não poderia nos levar porque a loja ficava do outro lado da cidade.
Aí a minha paciência acabou: assim que ele terminou de falar eu cruzei os braços e, com uma cara de psicopata, olhos arregalados e tudo, perguntei com o meu melhor portunhol:
- Y AHORA?! QUE VAMOS HACER??!??
O cara se assustou tanto que, minutos depois, já tinha ligado pra loja e combinado pra que eles buscassem as coisas no hotel mesmo. Por outro lado, meus amigos acharam aquilo a coisa mais engraçada do mundo e até hoje ficam me imitando: cara de psicótico, olho arregalado, braço cruzado, e o bordão agora famoso... "Y AHORA?!?..."

Em Portillo, a escola de esqui é dirigida por ninguém menos que Jesus Cristo, como indicava a plaquinha...
Problemas de logística à parte, Portillo é muito legal. É uma estação de esqui mais profissional, aonde as seleções de vários países do hemisfério norte costumam vir pra treinar durante o verão (sacumé, verão lá, inverno aqui). As pistas são enormes, tanto que eu custei a achar as pistas mais fáceis (onde Bethania queria ficar).
O André e a Ju já estavam estropiados e resolveram não esquiar mais neste dia. Também, com a vista que tinha lá...

Eu juro por Deus que isso NÃO é Photoshop...
A brasileirada também chegou até Portillo. Tinha umas cearenses se esforçando pra ficarem de pé nos esquis e exclamando, no melhor sotaque nordestino: "Óia que eu ainda num peguei o jeitcho do bichinho não..."
Falando em sotaque, um momento surreal dos dias de esqui foi quando eu subi no teleférico com um carioca, que falava superempolgadamente no seu walkie-talkie:
- Aê... Lu? Aqui é o Gui... pô, aí, peguei um boardercross, tesããão!!!!
Voltando a Portillo, o dia foi tranquilo e passei a maior parte do tempo tentando convencer Bethania a descer uma das pistas intermediárias. Ela não era difícil, mas metia medo. Na verdade, todas as pistas metiam medo. As escarpas eram íngremes demais e era tudo muito alto e largo, e consequentemente intimidador.

Aqueles dois tracinhos ali são pessoas esquiando, acredite ou não.
Para meu orgulho, Bethania criou coragem e desceu a pista intermediária comigo. Várias vezes, inclusive. Depois, ficamos brincando num pequeno slalom que montaram na pista de iniciantes. Enquanto um descia, o outro tirava as fotos...


Casal que faz slalom unido, permanece unido...

O teleférico da pista advanced
No fim do dia, pra encerrar a temporada de esqui, resolvi descer uma pista de nível avançado. A coisa começou bem logo no teleférico, que passa por cima de uma montanha, pra que os esquiadores possam descer dando a volta por trás dela, numa encosta larga e íngreme. A "viagem" é linda, a vista é de babar, e a cadeirinha se movendo lentamente através do silêncio e passando bem em cima dos rochedos... foi demais.
Confesso que quando eu cheguei no alto e vi a descida que me esperava, deu um friozinho na barriga. Mas eu já tinha aprendido a lição com os tombos anteriores. Era só eu não tentar nada "boyzado" e tudo ficaria bem. Então mandei ver... e tive uma grata surpresa.
A neve da encosta era do tipo powder, ou seja, fina como pó. É o melhor tipo que existe, a sensação é de esquiar sobre as nuvens. A descida foi simplesmente uma delícia, tanto que no final eu ria gostosamente enquanto deslizava rumo à base da montanha...
Enquanto isso, quentinhos no saguão do hotel, o André e a Ju ficavam filmando o pessoal descendo à distância, e tentando descobrir quais daqueles pontinhos poderiam ser eu e Bethania. A filmagem ficou engraçada: eles começaram a acompanhar um casal onde o homem ficava circulando a mulher, que descia devagarinho... e acharam que era eu e Bethania. Aí a mulher leva um tombo; na narração da fita, a Ju fica dizendo:
- Olha, acho que aqueles ali são os dois... ahahahah, ela caiu!!... ops, desculpa Bethania!
E foi assim a temporada de esqui 2006. Já comecei a contar os dias para a temporada de 2007. Desta vez quem sabe eu não volte com um video decente da minha performance no esqui...
A Lua-de-mel do Primo
2006-09-13 03:23:00 +0000
Parte 2 de 3: ¡Hola Chile!

Vista panorâmica de Santiago, com direito a cordilheira (e nuvem de poluição "a la" São Paulo)
A viagem da Argentina pro Chile vai tornar mais sofridos os meus vôos pela Gol... porque voamos num Boeing 777 da Air France. Nunca comi tão bem em um avião... e depois do rango eu ainda tinha cinco filmes à disposição para assistir na telinha LCD individual do meu assento. Ou, se quisesse, tinha à disposição tapa-olhos, tampões de ouvido, cobertor e travesseiro pra tirar uma soneca.
Mas acabamos não fazendo nada disso direito porque, logo ali, nas janelinhas, estava a magnífica Cordilheira dos Andes...

A gente empolgou tanto com a cordilheira que tiramos DEZENOVE fotos iguaizinhas a essa, sem perceber.
As operadoras de turismo locais estavam há muito tempo sem aprontar alguma conosco, então, na chegada no hotel, o guia fez o favor de quebrar o pé da nossa mala de viagem. Eu já tinha até contado isso, mas não contei que, no dia seguinte, a gente encontrou o guia passando por acaso na rua. Obviamente, perguntamos da mala, e ele disse:
- Bem, eu não posso fazer nada... mas vou mandar um vinho pra vocês no hotel.
Eu tive que rir na cara dele. Por um acaso eu ia calçar o pé da mala com a garrafa de vinho?
Resultado: Bethania ligou pra agência e conseguiu falar com o Gerente de Operações. Só então tivemos um atendimento decente: o cara mandou consertar a mala, e até arranjou transfers privativos pra gente poder ir pro Valle Nevado sem (muito) atraso.

A vista da janela do hotel: melhorou!
Bethania era quem mais estava empolgada com Santiago, tanto que alguns meses antes comprou um guia de viagem com o infame título de "Os Caminhos de Santiago do Chile". No nosso primeiro dia de viagem resolvemos almoçar num restaurante legal indicado no livro, que não era muito longe do hotel. Aí saímos a pé e andamos (famintos) por quase uma hora. No local aonde deveria estar o restaurante, estava um antigo estúdio de tevê (?!) que hoje funcionava como uma igreja evangélica (?!?!?). Não fosse o porteiro da igreja, que nos indicou um outro restaurante bom - e próximo, estaríamos fritos.
Ainda assim a esperança venceu a experiência e, na noite seguinte, tentamos seguir outra indicação do livro: o restaurante "La Divina Comida". Segundo o guia, o restaurante ficava no "point" mais agitado de Santiago, com zilhões de restaurantes e bares. Ele teria pratos italianos e era dividido em três ambientes: céu, inferno e purgatório.
Pois é... mal saímos do metrô e já caímos direto no inferno: não tinha nada de "point agitado", era uma região muito esquisita e as ruas estavam completamente desertas. Era aquele típico cenário de filme aonde as pessoas entram dizendo "eu sei um atalho!" e terminam assaltadas ou mortas.
- Acho melhor a gente sair daqui rápido e entrar num táxi... - sugeri.
Aí, quando olhei em volta, a Ju já estava adiante de nós, andando em ritmo acelerado no melhor estilo "marcha atlética", e deixando o próprio marido pra trás:
- Como assim, Ju?! Vai deixar o André aqui pra morrer sozinho? E aquele papo de "na saúde e na doença"?
- Ué, alguém tem que sobreviver pra pedir socorro! - Disse ela...
O guia de viagem furado de Bethania e a "marcha atlética" da Ju entraram pro rol de piadas oficiais da viagem...
O city tour de Santiago durou apenas meio dia, mas deu pra ver o básico das atrações da cidade, como a famosa troca da guarda na Praça das Armas, que acontece de dois em dois dias.


A bandinha toca, entra um pelotão, sai um pelotão. Mas é legal!
No pacote também estava incluído uma visita à famosa vinícola Concha y Toro, com degustação de vinhos e tudo o mais. A visita incluiu uma descida na famosa adega ("bodega" para os chilenos) onde é produzido o Casillero del Diablo, que tem esse nome porque, como os criados da fazenda viviam roubando garrafas de vinho, o dono inventou uma história de que o capeta costumava fazer aparições por lá.
Ficamos sabendo disso porque o guia nos levou até a adega, saiu, fechou a porta e apagou a luz... e aí, de repente, algo incrivelmente sobrenatural aconteceu: haviam alto-falantes que tocaram um breve áudio contando a história da adega, e no fim do corredor havia um refletor projetando a sombra do capeta. Coisa pra turista mesmo...

A antiga casa do Sr. Concha y Toro...
Detalhe das "bodegas" (esq.) e o terrível "diablo" que dá nome ao vinho (dir.)
No dia seguinte fomos conhecer duas famosas cidadezinhas costeiras chilenas: Valparaíso e Viña del Mar. Valparaíso pode ser descrita como "uma favelinha colorida": casas de cores espalhafatosas, espalhadas por encostas de montanha, com elevadores que sobem os morros na diagonal e com uma bela vista para o porto e para o Oceano Pacífico.

Valparaíso é isso aí
Uma peculiaridade de Valparaíso é a quantidade de albergues (uns três por quarteirão). Outra são as pichações e grafitagens em geral, que são tão onipresentes que um dos vendedores de rua da cidade estava oferecendo ímãs de geladeira com fotos delas, que já viraram "marca registrada" do lugar.
Pela descrição, Valparaíso parece ser um muquifo. Mas o céu, o sol, o mar e as cores me deixaram fascinado com o lugar...


Casinhas coloridas, céu azul, sol quentinho (esq.)... e pichações (dir.)!
Viña del Mar é a "vizinha rica" de Valparaíso. É como se fosse a "Miami Beach" do Chile: praias bonitas, gente bonita, casas bonitas, luxo, glamour, etc. Foi lá que almoçamos, num restaurante de frutos do mar. O pessoal aproveitou e pediu uma "paella" que incluía umas coxas de frango (?!) no meio...

Viña del Mar beach, beirando o Oceano Pacífico. Valparaíso está lá no fundão da foto...
A comida no Chile não é muito diferente da Argentina, exceto por um detalhe: a palta. Apesar do nome, não são linhas num caderno nem itens pra discutir numa reunião, e sim "pasta de abacate". Os chilenos botam palta em praticamente tudo: no Valle Nevado, por exemplo, eu comi um cachorro-quente com palta em vez de maionese. Bethania detestava a tal da palta; já eu, que tenho estômago de avestruz, comia tudo facinho...
O nosso aproveitamento culinário no Chile foi razoável, comemos em lugares bons e ruins. Um dos bons foi o "Giratório", que fica no alto de um prédio e que realmente gira (devagarinho, claro) enquanto você come. Um bem ruim foi o "Galeão", que fica no Mercado Central de Santiago. Ele já começou mal na hora que entramos no mercado: TODOS os garçons de TODOS os restaurantes pulavam na frente da gente gritando coisas como:
- Brasileños! Brasileños! Vengam comer aqui!
- Vieram de Brasil? Aqui, buena comida! Quierem mirar? Cardápio! Mira!
Eu não sei como é que ficou tão na cara que éramos brasileiros. Um dos garçons disse que é por causa das nossas esposas: segundo ele, as chilenas são feiosas, e estávamos muito bem acompanhados para sermos chilenos...
Eu nunca fui tão obsediado por garçons como naqueles trinta metros que andamos para atravessar o mercado. Aí, quando finalmente chegamos no restaurante que queríamos (o tal Galeão), a comida era ruim e cara. E a paella, além de frango, incluía linguiça!


"Giratório", restaurante bom (esq.) e "Galeão", restaurante ruim, com linguiça na paella (dir.)
Uma curiosidade: a maioria dos restaurantes incluía no cardápio o famoso "lomo a lo pobre", que quer dizer, literalmente, "bife de pobre". É um PF básico com carne, arroz, ovo e batata frita...
A nossa relação com a comida na Argentina e no Chile foi engraçada por causa da barreira linguística: no nosso primeiro almoço lá em Buenos Aires, a gente ficou meia hora tentando entender o menu, e o prato de Bethania ainda deu problema. Já no Chile a gente estava mais habilidoso: sabíamos que, por exemplo, "lechugas" eram "alfaces", "choclo" era "milho", "lomo" era "carne de boi", "pollo" era "carne de frango", "churrasco" era "hamburguer", "zanahoria" era "cenoura"... só que a gente chamava cenoura de "anarriê" (como nas quadrilhas de festa junina), pra ficar fácil de decorar.
Nessas questões linguísticas, Bethania era nossa intérprete oficial, já que o portunhol do André e da Ju (e principalmente o meu) era terrível. Eu cometia gafes fabulosas nos restaurantes, como pedir pra incluir a "gorrheta" no "cartón", quando o certo seria incluir a "propina" na "tarjeta"...

Dançarinos de cueca (hehehe)
Outra pegadinha linguística do Chile é a "cueca". Se o guia turístico lhe chamar pra ver a cueca, não se assuste que ele não é gay: só está convidando você para um show da famosa dança típica chilena, que leva este mesmo nome. Cueca mesmo, de vestir, é "calzoncillo"...
A gente não podia sair do Chile sem, hã, "ver a cueca", então no último dia de viagem fomos ao Bali Hai, que é um lugar tipo o Señor Tango (jantar + show), só que com cueca. Digo, com show de cueca. Quer dizer, com show da dança típica chamada Cueca (aff!) e várias outras danças regionais do Chile.
Uma delas foi a dos habitantes da Ilha de Páscoa, ou seja, gente vestida de índio fazendo ula-ulas e dando gritos no melhor estilo "homem primata". E o pior: o show era "interativo", ou seja, eles desciam do palco e pegavam os pobres turistas desavisados pra pagar mico no palco...


Os aborígenes prestes a atacar (esq.) e eu no palco, tentando dançar e falhando miseravelmente (dir.)
É óbvio que me pegaram. A dançarina me botou no palco, falou: "Mira!" e deu uma rebolada. Era pra eu fazer igual, mas a vergonha, somada com a minha "malemolência de granito", não deu muito resultado.
Todo mundo acabou indo pro palco pra passar vergonha. Bethania, inclusive, acabou fazendo par com um dançarino gordo, seminu e suado. Pela cara dela na foto abaixo dá pra perceber o tanto que ela estava se divertindo...

"Irk!"<;/div>
Ainda teve muito mais coisa durante a noite. Pegaram um argentino superempolgado, botaram no palco e tiraram quase toda a roupa dele. Ele ficou só de calça e com um colarzinho havaiano no pescoço. E adorou. Teve também um outro cara venezuelano que subiu no palco e começou a estrebuchar como se estivesse tendo uma crise epilética. A platéia foi ao delírio... e além disso tinha um velhinho guitarrista na banda que não tocava absolutamente nada: ele só ficava dedilhando algumas coisas, parava, olhava pro amplificador, mexia nos botões, olhava pra frente, fazia um pouquinho de backing vocal, depois repetia tudo de novo. Eu não ouvi o som da guitarra dele em nenhum momento do show...



A "irreverente" plaquinha de "não fume" (esq.), o tiozinho enganador da guitarra (meio) e o argentino que foi "strip-teaseado" no palco (dir.)
No fim da noite a banda continua tocando pra quem quiser ficar dançando. No playlist da banda tinha Daniela Mercury, Skank e várias outras bandas brasileiras. É incrível: as pessoas acham que os turistas viajam pra longe das suas casas justamente pra ouvirem exatamente as mesmas coisas que ouvem em casa...
Depois do show voltamos pro hotel de táxi, já que o metrô só funciona até as dez da noite. O pessoal ficou me zoando o tempo todo porque eu adorava andar de metrô. Eu realmente gosto muito de metrô por várias razões: é rápido, é barato, e tem um jeitão urbano-sujo-pós-moderno que eu curto bastante. E além do mais é impossível andar de ônibus em Santiago, porque os ônibus são extremamente velhos, pichados e mal conservados. Os motoristas são meio "donos" dos ônibus, e recebem um salário unha-de-fome e uma comissão por cada passageiro transportado. Aí eles podem fazer o que quiserem com o busão, inclusive botar neon debaixo. Eu juro que eu vi um buzú assim, mas infelizmente não deu tempo de tirar foto.
Falando em ônibus, a gente apelidou os que os "carabineros" (a polícia chilena) usam de "caveirão", que é o mesmo nome dos carros blindados que a polícia do Rio usa pra subir os morros atrás de traficante. Os do Chile são usados em missões mais pacíficas, do tipo "controlar multidões de pessoas durante os protestos", como o que teve próximo ao nosso hotel num dos dias da viagem. Foi só um "piquetinho", mas foi legal...


O "caveirão" da polícia (esq.) e o protesto perto do hotel (dir.)
E então, duas semanas de viagem depois, chegou a hora de voltar pra casa. A viagem de volta foi quase uma saga: pra começar, o sistema da Tam estava fora do ar e passamos um tempão na fila, porque a funcionária teve que fazer tudo à mão, inclusive os cartões de embarque e tudo o mais. E teríamos que tirar toda a bagagem no Aeroporto de Guarulhos e fazer check-in de novo e despachar as malas tudo de novo pra finalmente ir pra Belo Horizonte.
Aí entramos no avião e, como os check-ins foram feitos todos à mão, tinha um monte de gente com assento duplicado, ou seja, mais de um passageiro marcado pro mesmo assento. Ficamos observando enquanto todo mundo nos assentos próximos aos nossos ia sendo abordado por outros passageiros. Logo que aconteceu isso com o André e a Ju, o André virou pra trás e me disse:
- Tá chegando perto, daqui a pouco vai acontecer com vocês aí...
No mesmo instante chega um cara pra mim com a passagem na mão. Olha pra mim, olha pra passagem, olha pro número do assento, depois olha pra passagem de novo... eu não aguentei e caí na risada.
Além do atraso por causa dos assentos, outra coisa que fez o avião demorar ainda mais pra decolar foi - pasmem - a pia de um dos banheiros, que estava entupida. Ficamos mais de uma hora sentados dentro do avião, parados na pista do aeroporto, enquanto o som ambiente repetia pela quinquagésima vez aquela música chatérrima da Ana Carolina onde ela fica repetindo:
- Mas eu não seeeei de que forma mesmo você fooooi emboooooraaaaaa...
Ela repete essa frase - e apenas essa frase - por trinta segundos ininterruptos, pra encher linguiça quando a música está acabando. Eu não aguentava mais. E por sinal a música tem o apropriado título de "A canção tocou na hora errada"...
Nesse meio tempo veio um funcionário da Tam ver o problema dos nossos assentos. Ele pegou nossos cartões de embarque e falou: "vou ali verificar o que houve". E saíu do avião. E começou a demorar, e a demorar... até que o avião fechou as portas e começou a taxiar. Basicamente o cara sumiu com nossos cartões de embarque. Isso só não foi um problema sério porque tínhamos que fazer check-in de novo no Brasil. Há males que vem pro bem...
O avião também tinha telinhas LCD individuais em cada assento, como o da Air France. Num dos canais tinha aquele mapa interativo, que fica mostrando aonde o avião está, a velocidade, distância percorrida e o escambau. Só que uma das telinhas era enigmática: mostrava apenas o avião, uma seta, um ícone de uma casinha e algumas palavras escritas em árabe. Como na foto da direita aí embaixo...


André, Bê e Ju na estação do metrô (esq.) e a telinha enigmática do avião (dir.)
Somente quando estávamos quase pousando no Brasil eu saquei o que era aquilo: trata-se de um mapa para o caso de você pertencer à religião islâmica e tiver que fazer uma de suas cinco orações diárias durante o vôo. Afinal, no islamismo, as preces tem que ser feitas ajoelhando-se sempre em direção à Meca... que é o que o mapinha indicava! (Ka'aba é o nome da pedra sagrada da religião islâmica, que fica em Meca).
Depois de pousar em Guarulhos e despachar as malas todas de novo, embarcamos para o trecho final da viagem (o vôo de São Paulo pra Belo Horizonte). Voamos num Fokker 100 (leia-se "fucker cem"), cheio de crianças fazendo bagunça, gritando e chorando. Completando a orgia sonora, tinha também um cachorro latindo. É sério...
No final das contas chegamos em casa na madrugada do domingo, perfazendo um total de quase 14 horas viajando. Mas foi muito bom e eu quero repetir a dose ano que vem de qualquer jeito...
P.s.: Notaram que este post ficou enorme? Pois é, quase uma semana pra escrever tudo, revisar, cortar as fotos, etcetera, etcetera... E ainda faltam as histórias que eu mais quero contar: as do esqui... tombos (e vídeos) incluídos... aguardem...
P.p.s: Esqueci de mencionar no post anterior que quem descobriu a pronúncia certa de "alfajores", na Argentina, foi Bethania...
Por sinal, hoje já fizemos um mês de casados (woo hoo!). O chato é que estou em São Paulo e ela em BH, então a comemoração vai ser só no fim-de-semana...
A Lua-de-mel do Primo
2006-09-06 16:59:00 +0000
Parte 1: Argentina
(Sim, este é o mega-post... vai sair em três partes mesmo, pra vocês sossegarem, caros leitores...)
E foi assim: no sábado, às oito da noite, eu casei...

Eu e a Sra. Primo na entrada da "cerimônia"... (foto by Bigode)
O casamento foi surpreendentemente divertido. Digo "surpreendentemente" porque eu achei que fosse ficar nervoso ou estar cansado demais pra aproveitar, mas no fim das contas eu curti como nunca cada segundo da coisa toda. Eu achava que era exagero quando as pessoas que se casavam saíam dizendo depois que foi "o dia mais feliz da minha vida". Não é exagero não...
Mas como tudo que é bom passa rápido, no domingo, às seis e meia da manhã, eu já estava dentro de um avião a caminho de Buenos Aires. Noite de núpcias? Bem, o máximo que eu tive foi duas horas de sono, sozinho, no sofá da casa dos nossos padrinhos de casamento (o André e a Ju), que foram conosco na lua-de-mel. Quando eu conto isso pros outros ninguém acredita que eu tive uma lua-de-mel "compartilhada". Mas foi mó legal...
(Sim, sim, apesar de viajar juntos ficamos em quartos separados. Podem parar de pensar bobagem...)
Vamos ao que interessa, que é o primeiro destino da viagem... Buenos Aires!

Avenida 9 de Julho em Buenos Aires: a mais larga do mundo e a principal da cidade

"Centrão" de Bs. As... ugh!
A programação era passar quatro dias em Buenos Aires, conhecer a cidade, fazer umas comprinhas, e depois ir pro Chile esquiar até as pernas caírem.
Deu pra entender claramente porque Buenos Aires virou um destino predileto para brasileiros: é perto, é barato (o peso argentino tava valendo uns 25% a menos que o real) e é bonito. Os bairros chiques da cidade são realmente chiques. Só que, como eu contei, a agência de turismo botou a gente no centrão da cidade, num hotel velho, sujo e feio. Mas o pior mesmo foi conseguir falar com o cara da agência de viagens (Ibiza Turismo) via MSN e ouvir dele a seguinte frase:
- Mas foi como eu te falei... a maioria dos hoteis de Buenos Aires sao sujos e velhos....
Pois é: se você for pra lá, hospede-se em Puerto Madero ou na Recoleta, e corra dos hotéis do centro. Olha aí embaixo a "vista" da janela do nosso quarto...

Você bota a cabeça pra fora da janela, olha pra baixo, e vê essa linda cena...
Mas como não deu pra fazer muita coisa, o jeito foi "abstrair" e ir conhecer a cidade. No dia seguinte teve o "city tour" básico, que foi bem engraçado por causa da guia. Ela narrava tudo em espanhol, misturava umas palavras em português, e depois falava em inglês.
A tradução dela pro inglês não era exatamente fiel... se, por exemplo, ela descrevesse um dos prédios assim:
- Na direita temos o Grande Teatro Colón. Ele é um dos maiores da América Latina e foi construído em mil novecentos e blá blá blá. Ele tem capacidade pra xizentas pessoas, etc, etc...
A versão em inglês era meio "redux", assim:
- In the "rrraight", we have the Great Colón Theater. It is a very beautiful theater.
O city tour serviu mesmo foi pra dar uma idéia do que valia a pena na cidade para visitar depois. Também serviu pra ter uma idéia das atrações "não-oficiais": A que eu mais gostei foram as pichações. A esmagadora maioria das pichações na Argentina são de cunho político, como essa abaixo:

Pichado num prédio do mesmo quarteirão da Casa Rosada, onde o Kirchner trabalha...
Segundo nossa guia, os argentinos são um povo bastante "piqueteiro": toda semana, na sexta-feira (dia "estabelecido" para os protestos), sempre tem uma pá de gente fazendo barulho em frente à Casa Rosada. A coisa é tão séria que a praça em frente ao palácio tem barricadas permanentes e policiais o tempo todo. Eu até ouvi um caso de um amigo que foi à Buenos Aires e não conseguiu conhecer a Casa Rosada por causa dos protestos.
Outro lugar interessante da cidade é a região da Boca, onde (obviamente) fica o estádio do Boca Juniors. A Boca era um bairro de imigrantes, hoje abriga artistas e músicos. Tanto que uma das atrações turísticas de lá é a rua chamada "Caminito Tango".

Eu, Bethania e Ju passando pelo Caminito... (foto by André)
Nossa rotina em Buenos Aires foi basicamente essa: passear, comer, comprar coisinhas. Teve até um tour de compras: as meninas fizeram a festa com as roupas de inverno e os couros, que tem em toda esquina. Deu também pra visitar (rapidamente) alguns museus, uma igreja e também o cemitério dos VIPs argentinos, com mausoléus enooormes, onde inclusive estão os restos mortais de Evita Perón. O cemitério é tão grande que tivemos que fotografar o mapa que tinha na porta, pra poder armazená-lo na câmera digital e poder consultá-lo enquanto caminhávamos...


Pôr-do-sol em Porto Madero (esq.) e detalhe da tumba da Evita (dir.)
Come-se muito bem em Buenos Aires. Nós comemos "bem" e "muito", por sinal. Todos os meus quilos perdidos do "fitness lua-de-mel" voltaram rapidinho. Culpa da famosa carne argentina... Um dos nossos jantares foi numa "parrilla" de nome peculiar: Siga la vaca. Tinha tudo que é variedade de carne na grelha, e tudo à vontade, sem balança e tal. Só não consegui foi saber o nome das coisas que comi, afinal tava tudo em espanhol...

¡Ela se fué por ali! ¡No, por acá! (Foto by André)
Além da carne, outra coisa famosa da culinária portenha são os alfajores. Recebemos um monte de recomendações para não sair de lá sem experimentá-los. Só que quando entrávamos numa loja e perguntávamos por "alfajores", os caras faziam uma cara de "que diabo é isso??". Até que alguém teve a brilhante idéia de mudar a pronúncia:
- Por favor... "alfarrhores"?
Então todo mundo passou a entender do que estávamos falando... aparentemente, "Alfajores" e "Alfarrhores" são como Clark Kent e Super-Homem: São praticamente idênticos mas se você muda uma coisinha, ninguém reconhece um do outro.



"Alfarrhores" com café (1), comprinhas de roupas de couro (2) e detalhe de um profiterole de sobremesa (3)...
Outro destaque da viagem foi o show de tango de uma das noites. Antes de viajar, ouvi um conselho de um dos meus colegas consultores:
- Não deixe de ir no Señor Tango!
Eu quase ignorei o conselho achando que era só uma bobeira pra turista. Fui surpreendido pelo melhor jantar da viagem e por um show que, apesar de não ser de tango "autêntico" e obviamente ser direcionado aos turistas, foi de cair o queixo. A orquestra era excelente, as dançarinas eram muito habilidosas, bonitas (hehe) e pareciam de borracha. Elas faziam coisas inacreditáveis, do tipo passar a perna invertida pelas costas do bailarino e coçar atrás da orelha dele com a ponta do sapato. Não entendeu? Nem eu. Mas que elas faziam, faziam.
O show teve também outras atrações menos "tanguinescas", como uns teatrinhos dos antigos colonizadores versus os índios nativos (com direito a cavalo no palco e tudo), um show de flauta peruana (?!?) e o encerramento, com todo mundo no palco cantando "Don't cry for me Argentina" enquanto rolos de pano azul e branco caíam do teto em meio a uma chuva de papel picado...
Pena que fotos eram proibidas e só consegui tirar essa aqui, do palco vazio:

Foi aqui que rolou a parada toda
Do ponto de vista musical, eu fiquei especialmente surpreso com a expressividade do principal instrumento do tango: o bandoneón. Meus caros, eu só digo pra vocês uma coisa... vocês nunca ouviram tango de verdade até ouvirem o arfar de um bandoneón ao vivo. É fabuloso, e imperdível para os fãs de música...
Falando em música, no último dia em Buenos Aires a gente parou pra tomar um café. Papo vai, papo vem, eu reconheci a música-ambiente da cafeteria. Era algo que eu já tinha ouvido no meio de um dos sets de chill-out do DF Tram. Até aí nada de mais, não fosse o fato de que estava tocando tango eletrônico, mais especificamente Bajofondo Tango Club. Até trouxe um CD (excelente!) deles de lá...
Logo depois do show de tango era hora de gastar mais dinheiro... mas dessa vez com a possibilidade de ganhar algum de volta, no Cassino de Buenos Aires!

O Cassino "ancorado" em Porto Madero
Este cassino só funciona na cidade graças a uma "gambiarra" jurídica: a lei portenha não permite cassinos na cidade, mas como esse aí funciona num barco, ele teoricamente não está "em terra" e pode funcionar livremente. Contrariando a famosa regra de que "a casa sempre ganha", Bethania quintuplicou o dinheiro que jogou nas slot machines. O meu desempenho foi mais modesto, e consegui sair com o dobro do que joguei. Pois é... se aquele papo de "sorte no jogo, azar no amor" for verdade, meu casamento está correndo um sério risco!
Mas os quatro dias passaram voando... e logo estávamos zarpando rumo ao Chile! Aguardem a parte 2...
MMS
2006-08-23 03:59:00 +0000
Estava perfeito: A van ia ganhando a auto-estrada rumo ao Valle Nevado. Na minha mente eu pensava em "Autobahn", uma das melhores musicas do Kraftwerk..
..até que o motorista da van bota um cd da Ivete Sangalo pra tocar. E arremata com uma piadinha em portunhol:
- Esta é una buena cantora chilena, he he he..
O playlist dele ainda incluiu um Carlinhos Brown e um Bee Gees antes que chegassemos na montanha.
Ontem foi nosso segundo dia de esqui. No dia anterior fomos a outra estaçao de esqui chamada El Colorado. Pra variar, a operadora de turismo local atrapalhou nossa vida de novo: Atrasou o horario de saida da van, depois apareceu antes da hora. Ai acabamos saindo do hotel sem tomar café e nao tivemos energia suficiente pra esquiar por muito tempo.
Em compensaçao, os ultimos dois dias foram excelentes. Por incrivel que pareça, estava fazendo calor no Vale. O céu estava com aquele azul de inverno e nao tinha nem meia nuvem pra avacalhar o cenario.
Quanto a minha performance, eu tenho apenas duas coisas a dizer:
1) Eu passei horas esquiando, passei por pistas faceis, médias e dificeis, e levei apenas UM tombo durante todo o dia de ontem;
2) Na hora do tombo, Bethania estava me filmando...
Quando eu voltar de lua-de-mel vai ter um video novo de esqui no YouTube...
¡Hola Santiago!
2006-08-19 04:03:00 +0000
É isso aí, já cheguei no Chile.
Voamos de Buenos Aires a Santiago num Boeing 777, enorme, surpreendentemente silencioso e com o melhor café-da-manhã que já comi no ar. Na janela, pra completar, uma vista da cordilheira dos andes que é de cair o queixo. Da cidade não dá pra ver tão nitidamente por causa da poluição.
Até agora já fizemos um city tour básico e visitamos a vinícola Concha y Toro, com direito a degustação e tudo. O hotel é meio velho como o de Buenos Aires, mas pelo menos o quarto é limpo e arejado. Está sendo complicado fazer os passeios porque a operadora de turismo local está se embolando toda. O pessoal é muito ruim de serviço: pra vocês terem uma idéia, o guia que nos buscou no aeroporto conseguiu a proeza de quebrar o pé da nossa mala de viagem, e está fazendo a maior cera pra se responsabilizar e resolver o problema.
Santiago tem uma peculiaridade engraçada: as pessoas são mais baixas que no Brasil. Bethania, com seus 1,75m, virou a Ana Hickman local...
O Último Tango na Arrrrentina
2006-08-17 10:02:00 +0000
Pois é, sao seis da manha e estamos prestes a pegar o voo pro Chile.
Os ultimos dias aqui foram bem legais. Comemos a famosa carne argentina, primeiro no tal "Siga la vaca" que é MUITO barato, e depois no jantar do "Señor Tango", o show de tango que estava no nosso pacote.
O show foi uma das melhores coisas da viagem. Era uma superproducao, com elenco enorme, chuva de papel no final, cavalos no palco, dezenas de trocas de roupa e música ao vivo.
Eu tenho muito mais pra falar do show e do nosso "city tour nao oficial", mas a van pro aeroporto chegou. O resto vai via celular mesmo...
MMS
2006-08-15 01:46:00 +0000
Segundo dia em Buenos Aires..
Ontem o dia foi meio preguiçoso, porque so tinhamos dormido no aviao, entao passamos o dia alternando entre a cama e os restaurantes proximos do hotel.
Por sinal, o hotel (Dazzler Tritonia) nao se parece em NADA com o que foi mostrado pra nos no site. O hotel eh velho e meio sujo. Passamos metade do dia reclamando com a operadora de turismo. Falamos até com um funcionario no brasil via msn, mas nao teve muito jeito.
Hoje fizemos um city tour basico, ja deu pra ver muita coisa e tirar milhoes de fotos que depois vou colocar aqui. Também ja experimentamos alguma coisa da culinaria argentina, inclusive os famosos alfajores. So que levou um tempao até descobrirmos que tinhamos que dizer "alfarror" e nao "alfajor". Deixamos muito vendedor com cara de interrogaçao até descobrir isso..
Algumas curiosidades da viagem até agora:
- Logo que chegamos no hotel, liguei a tv pra sacar os canais locais. Qual nao foi a surpresa ao dar de cara com a Globo passando Turma do Didi...
- Ontem, em um dos restaurantes, a tv passava cenas de uma torcida num estadio de futebol. E so. Mesmo quando tinha gol a tv so mostrava a bendita torcida. O André deduziu que era porque o canal nao devia ter os direitos de transmissao da partida.
- Outra coisa que o André notou eh que nao tem nenhum negro na cidade. Devo ter visto no maximo dois deles nesse tempo todo..
Agora a noite vamos jantar num lugar chamado "siga la vaca" (?), pra comer a famosa carne argentina.
MMS
2006-08-13 18:02:00 +0000
E acabou. Ja casei. Foi excelente.. Legal mesmo. Coisa pra nunca mais esquecer.
Estou postando da estrada que leva do aeroporto de Ezeisa até Buenos Aires. Até agora a infra estrutura argentina parece muito boa.
Primo in Rio - Segundas primeiras impressões
2006-05-04 21:54:00 +0000
Eu tinha razão de ter medo dos taxistas. Na terça, na minha primeira viagem trabalho-hotel, o motorista:
- Tentou fazer a gente dar voltas: "Mas esse hotel aí é lá no fim da avenida..."
- Falou que, se ele estivesse no poder, teria colhões de desapropriar a favela da Rocinha inteira.
- Quis me dar uma nota fiscal da maquininha do táxi (de R$ 9,20), para uma corrida que deu R$ 10 - segundo a "tabelinha" dele.
- Quando eu o convenci a fazer uma notinha convencional, a nota estava ilegível. Mas MUITO ILEGÍVEL. Eu juro por Deus que no lugar do valor da corrida ele fez um rabisco. Tive que convencer o safado a fazer outra nota.
Não achei que Copacabana fosse uma vizinhança tão velha. Aposentados por todos os lados, morando em prédios tão velhos quanto eles.
Também levei um susto quando um ônibus de turistas parou em frente a um hotel e os passageiros foram saindo: parecia uma máquina do tempo chegando de 1930...
Achei que veria mais gringos na praia.
Achei que veria menos prostitutas na praia.
Primo in Rio
2006-05-02 22:49:00 +0000
Ainda é cedo pra eu dizer que a cidade maravilhosa é maravilhosa mesmo, porque ainda não tenho nem 12 horas de Rio. Mas a vista da janela do avião e a "viagem" pela linha vermelha já me deram uma amostra do pacote básico de atrações turísticas: Maracanã, Cristo e Pão de Açúcar. Tudo de longe.
A empresa é legal e o projetinho promete correr sem maiores atropelos. Só preciso aprender a suportar o sotaque durante as reuniõesch...
Agora vou ali ver o hotel (em Copacabana) e conhecer mais dos temidos taxistas cariocas. Ouvi cada história dos táxis do Rio que estou com mais medo do que São Paulo. E depois vou capotar na cama, porque tive insônia até as 2:30 da manhã (e acordei as 4:20).
Ah, felizmente, ainda não tive contato com o funk carioca, e espero continuar assim por vários e felizes dias.
Segunda, prestes a entrar no vôo TAM 3201...
2006-03-09 05:49:00 +0000
...pude ver, pela parede envidraçada do aeroporto, que o copiloto estava folheando um manual de instruções. Rezei e entrei no avião.
Por sorte, o único problema que tivemos na viagem foram as piadas dos pilotos.
- Tripulação? MWWYYYEEAHHHHH portas em automático!!
E todo mundo ria.
No meio do vôo o piloto voltou a falar, dessa vez sobre as condições de vôo e o tempo estimado de chegada, que era de "vinte minutos, cinquenta e nove segundos e doze centésimos". E completou:
- Fomos informados antes da decolagem que estaríamos com os melhores passageiros de Belo Horizonte, portanto tivemos o cuidado de selecionar a melhor tripulação para atendê-los...
E a piada final pouca gente entendeu. Era uma piadinha com a forma com que os locutores da Rádio Bandeirantes Jovem Pan dizem as horas no ar, aqui em São Paulo:
- Tripulação, portas em manual.
- Repita!
- Portas em manual!
- Obrigado...
Mas que furreca esse avião
2006-02-14 13:31:00 +0000
Foi o que eu pensei ontem de manhã, quando embarquei num Boeing 737-300 da Varig, que me levou do aeroporto da Pampulha até Guarulhos, em São Paulo.
Aí eu chego no trabalho hoje e dou de cara com a notícia que o avião está REALMENTE caindo aos pedaços...
Sim, é exatamente o mesmo avião que peguei.
Coisas que eu ouvi no avião
2005-07-21 03:52:00 +0000
*ding dong* - Sinal de chamada para a aeromoça
- Pois não, senhora, o que deseja?
- Por favor, o que é mouse?
- Como é?
- Mouse... o que é mouse? Vocês falaram aí nas instruções de segurança que não pode usar aparelho eletrônico ou mouse, e eu não sei o que é isso...
*ding dong* - Sinal de chamada para a aeromoça
- Pois não, senhor?
- Me diz uma coisa, quantas meia-horas ainda vai demorar pra gente decolar?
- Bom, senhor, a informação do comandante é que estamos aguardando passageiros de conexão...
- Ah tá. Brigado.
Cinco minutos depois: *ding dong*
- Pois não, senhor?
- Num tem nada de comer aqui não? Tou com uma fome...
- Durante o vôo vamos servir no serviço de bordo, mas por enquanto o senhor quer uma água ou algo assim?
- Sim, obrigado...
Mais cinco minutos depois: *ding dong*
- Pois não, senhor?
- Cê me traz mais uma água, por gentileza?
A aeromoça sai. O cara comenta com o colega na poltrona ao lado:
- Putz, gostei dessa mocinha, cara...
- Hehehe, tem quanto tempo que você não... (assobio) ?
- Ô! Tempão...
Chique no úrtimo
2005-07-19 12:56:00 +0000
Ontem no MSN a Luiza disse pra mim:
"O importante é que você é um cara chique que vive no aeroporto"...
Realmente. Deixa eu contar pra vocês como é ser um cara "chique".
As pessoas sofisticadas como eu já começam o dia de terno, às 5:30 da manhã. Felizes e com um sorriso radiante no rosto, digno de uma capa de revista Caras, nós nos dirigimos até o aeroporto. Aqui em Belo Horizonte a coisa é mais chique ainda, porque o aeroporto fica nos arredores da cidade vizinha de uma cidade próxima, portanto o "dirigir-se ao aeroporto" se estende por quase uma hora.
Outra coisa que é super chique é ter problemas pra embarcar. O executivo de verdade não é aquele que faz o check-in e embarca sem problemas. Tem que passar raiva no balcão, xingar, perder vôo, sair correndo pelo saguão do aeroporto e tudo o mais. Hoje é a segunda vez que embarco pra São Paulo; da primeira tive vários problemas pra fazer a reserva e, quando cheguei no aeroporto, ela ainda estava errada e quase não voei.
Quanto à hoje, bem, se eu tivesse embarcado sem problemas eu não estaria aqui na sala de embarque escrevendo este post...
Wonderland - Que maravilha!
2005-06-06 04:44:00 +0000
(Eu sei, é um trocadilho ridículo, mas não resisti)
Este foi o meu último fim de semana no Canadá. O programa de domingo foi um passeio no famoso parque de diversões chamado Wonderland.

O dia foi cheio de surpresas: a primeira delas foi o inacreditável calor de 34 graus. Há uns quatro meses eu estava batendo queixo debaixo de 34 graus negativos, e agora eu suei o dia todo e até peguei um daqueles bronzeados ridículos de camiseta.
As pessoas passeavam pelo parque de bermudas e roupas leves, e várias mulheres andavam somente de biquini. E não faz nem dois meses que caiu a última neve...

O parque é enorme e tem a maior variedade de montanhas-russas da América do Norte. Apesar das filas deu tempo de ir na maioria delas e ainda ver uma ou outra coisa diferente.
As atrações que eu visitei foram essas:
Thunder Run
Destaque: Os carrinhos são vagões de trem e a montanha-russa passa por dentro da enorme montanha artificial que fica no meio do parque.
Emoção: Ih, nem pega nada. Eu e um amigo que me acompanhava (o Alladin) ficávamos conversando durante o passeio: "Ué, você viu aquilo ali passando?", "Vi... que coisa né..."

Shockwave
Destaque: As fileiras de cadeiras giram sobre o próprio eixo enquanto a máquina chacoalha tudo pra tudo que é lado.
Emoção: Agora eu sei como a minha roupa se sente dentro da secadora...

Tomb Raider: The Ride
Destaque: Você anda deitado no melhor estilo Super-Homem. E sabe o que isso tem a ver com Tomb Raider? Absolutamente nada...
Emoção: Os giros e as curvas eram legais, mas na maior parte do tempo você ficava é batendo a cabeça dos lados da cadeira.

Top Gun
Destaque: Os carrinhos são invertidos (presos nos trilhos por cima) e o trajeto, com inúmeros loops e giros, foi projetado para dar a impressão de que você está voando num jato F-14.
Emoção: Eles conseguiram.

The Bat
Destaque: Assim que o carrinho passa por todo o trajeto, ele começa a correr de trás pra frente e você refaz tudo ao contrário.
Emoção: A descida inicial é alta: dá muito medo!

Vortex
Destaque: Os carrinhos são suspensos por cima e o trajeto percorre um belo cenário, com laguinho e tudo.
Emoção: Normal, até os segundos finais. Antes da freada final, o carrinho deu uma balançada e eu podia jurar que ele ia bater numa viga de metal.

Dragon Fire
Destaque: Dois loops seguidos.
Emoção: A descida inicial nem dá medo. Até que você dá de cara com os dois loops...

Drop Zone
Destaque: Essas cadeiras aí são elevadas até o topo da torre, 70 metros acima do chão. Depois, eles soltam você lá de cima, caindo a 100km/h por quatro segundos.
Emoção: Essa vai ter que ser no detalhe.
Quando chegou a minha vez de ir, eu vi uma menina descer da cadeira chorando e tremendo. "Bobagem", pensei eu.
Sentei lá, a subida começou e foi ficando tudo muito pequeno lá embaixo. A máquina deu um estalo quando chegou no topo da torre e ficou um segundo parada. Depois, outro estalo, e a cadeira começou a cair numa velocidade assustadora.
No primeiro segundo da queda eu agarrei as alças da cadeira como se fosse morrer. Tentei gritar: não saía nada.
No segundo segundo da queda eu já estava em pânico, abraçado com as alças da cadeira no melhor estilo "mulherzinha". Até fechei os olhos, desesperado.
No terceiro segundo, não me pergunte como, eu pensei: "CALMA que isso é só um brinquedo e você não está aproveitando nada assim, de olhos fechados". Abri os olhos, vi o chão chegando, e me arrependi.
No quarto segundo, os famosos superfreios eletromagnéticos a prova de falhas foram acionados. A cadeira levou meio segundo para reduzir a velocidade para agradáveis 5km/h e instantes depois eu estava no chão.
A foto abaixo sou eu, logo depois da queda, sem saber se ria ou se chorava.

Wonderland é meio que como a vida: você sofre mas se diverte.
Algonquin
2005-05-25 03:06:00 +0000
Segunda-feira passada foi Victoria Day aqui no Canadá. Tem uns fogos no fim do dia, a Rainha aparece na TV e tal. Aproveitando o dia extra, resolvemos viajar para Algonquin, o famoso parque da província de Ontario.
Durante a semana passada, sempre que eu dizia pra alguém que estava indo pra Algonquin, ouvia de volta:
- Não esqueça o repelente de insetos.
Nem precisou tanto. A chuva intermitente dos três dias ajudou a espantar a mosquitada (que, realmente, era assustadora). Mas a chuva e os mosquitos foram a única coisa incômoda dos três dias. O resto foi muita caminhada, canoagem e paisagem de livro de geografia: "Fig. IX - Vegetação de países de clima temperado"...
Mas nos livros não era tão bonito assim.

Além das belíssimas paisagens, outro destaque do parque é a organização: No começo de cada uma das dezenas de trilhas, por exemplo, tem livretos com informações sobre a caminhada. O centro de visitantes tem um pequeno museu e um mini-cinema, que passa um filme de uns 10 minutos sobre as origens e as atrações do parque. Quando o filme termina, aparece uma mensagem que diz: "Agora vá e veja você mesmo a melhor das nossas atrações". Na sequência, abre-se uma porta ao lado da tela, que dá acesso ao deck de observação...

No primeiro dia ficamos passeando pelas trilhas. Éramos nove pessoas no total, divididos em dois carros, um "prata" e um "bege". No fim do dia, como estava chovendo, eu e uma das meninas desistimos de uma das trilhas e ficamos conversando fiado dentro do carro prata. A chave do carro bege estava comigo, porque era onde minhas coisas estavam.
Algum tempo depois o pessoal completou a trilha e decidimos ir embora pro hotel; o carro prata começou a viagem de volta primeiro e, como eu já estava dentro dele, continuei lá. As viagens de carro eram longas mas interessantes, porque a gente sempre topava com algum bicho. Dessa vez foi uma raposa com filhotes...

Além da raposa, tinha também uma anta: eu, que só percebi que estava com a chave do carro bege depois de meia hora na estrada. Mais meia hora pra voltar e reencontramos um pouco mais da fauna do parque: um bando de homo sapiens revoltados...
No hotel, na hora do jantar, pedi um prato chamado Arlington's Poor Boy. Nada mais apropriado.
Falando no hotel, o Arlington na verdade era um albergue que, por fora, dava até medo. Mas por dentro ele era simples, limpo e confortável.

Outra coisa divertida pra se fazer em Algonquin é andar de canoa. No domingo passamos o dia remando pelos extensos lagos do parque, parando nas ilhas pra algumas fotos e aproveitando a vista. Numa das ilhas deu até pra ver um pouco mais da fauna do lugar: um cara usando apenas uma toalha enrolada na cintura...
Mas o bicho que mais tinha em Algonquin era o alce. No total vimos uns quatro ou cinco alces. Apesar do tamanho eles parecem ser bastante dóceis: no domingo eu pude tirar fotos tranquilamente, a uns três metros desse aqui da foto. Só faltou a gente ver algum urso, mas não apareceu nenhum.

De noite, quando acabavam as atrações do parque, era hora de fazer uma bagunça no melhor estilo brasileiro. Depois do jantar do domingo, por exemplo, o carro prata (uma Cherokee) virou uma boate ambulante na viagem de volta. No som tocava Fatboy Slim, enquanto todo mundo piscava loucamente as luzes internas e gritava em coro:
Cheroka! Cheroka! Boate da Cheroka!
O urso! O urso! Eu quero ver o urso!
Algumas fotos extras do passeio:
O hidroavião da brigada de incêndio do parque;
Os restaurantezinhos de beira-de-estrada onde a gente comia. O café da manhã que eles serviam era sempre alguma coisa 'levinha': ovos, bacon, torradas cheias de manteiga e batata frita. Haja coração;
Veados. Esse aí a gente viu passando saltitante pela estrada. Realmente, veados são, hã, muito gays;
A estação de trem abandonada da cidade de Maynooth. Teoricamente era pra ser uma atração turística, mas não é nada mais do que um prédio caindo aos pedaços. Valeu pela pichação do lado de fora: "NIRVONA RULES". Coitado do Kurt Cobain;
Pra encerrar, mais uma panorâmica do parque...

Québec, Montreal e Ottawa, parte 2
2005-05-16 04:23:00 +0000

Algumas horas de estrada, pontes e túneis: é o que atravessamos pra chegar em Montreal, cidade famosa por ter sediado os jogos olímpicos de 1976.
No caminho para o hotel passamos ao lado da vila olímpica, com a peculiar torre inclinada sobre o estádio e tudo. Tivemos um probleminha de "propaganda enganosa" com o hotel que eu tinha reservado (as fotos que vi na internet não tinham nada a ver com o lugar) e acabamos nos hospedando no hotel vizinho, melhor e mais barato. Acho que Murphy mora mesmo é nos Estados Unidos...
Depois, fomos direto pra a região do antigo porto, que é onde aconteceria a apresentação do ultrafamoso Cirque du Soleil, com o espetáculo chamado Corteo. Eu vou fazer apenas um comentário sobre o show: se um dia eles passarem pela sua cidade e você ver o preço dos ingressos, não diga: "OQUÊÊÊ? Isso tudo?! Que roubo! Eu não vou nisso nunca!".
Em vez disso, vá lá e PAGUE. Eu nem sou tão fã dessas coisas assim e várias vezes me peguei com o queixo caído durante a apresentação. Então saiba: Vale cada centavo.
Depois do show já era quase noite e, com a alma devidamente alimentada, faltava reabastecer o corpo: fomos jantar num restaurante grego. Achei que eu estava sendo altamente experimental quando pedi um souvlaki... até ver que era apenas um espetinho de carne. Além disso, eu e Bethania comemos um pouco mais do nosso vício: caesar salad, a salada mais besta (e mais gostosa) que tem.
O dia seguinte (aniversário de Bethania) foi dia de explorar rapidamente a cidade, já que queríamos passar em Ottawa antes de voltar pra casa. Passamos pela ponte Jacques-Cartier e fomos para o Parc Jean Drapeau. Vimos a Biosphere (um museu meio ecológico-ambiental) e tentamos achar um museu, mas só achamos uma torre no meio do mato...
Depois, mais estrada. Confirmei que, em Quebec, os canadenses dirigem como doidos: eu andava a 130 por hora na estrada e sempre tinha um fominha colado na minha traseira. E um detalhe: vimos que Montreal tem dois grandes aeroportos, chamados Dorval e...Mirabel?

Falando em estrada, eu devo ter dirigido por umas 18 horas nesses três dias, mas como todo mundo já deve imaginar as estradas são excelentes. Tem até um detalhe interessante: a beirada da pista tem um "sinalizador sonoro", esse aqui.

Se você dormir e seu carro começar a sair da pista, o barulho das rodas no sinalizador serve pra te despertar novamente. Idéia simples e genial.
Algumas horas depois chegamos em Ottawa, capital do país e centro estratégico dos tabuleiros de War. Apesar dos prédios de época (como esse, do parlamento), Ottawa tem um clima de cidade grande. Mais uma vez, fomos procurar um centro de informações turísticas pra descobrir o que dava pra fazer nas poucas horas em que ficaríamos na cidade.
Em Montreal tínhamos usado novamente esses serviços públicos de informação, e fomos muito bem atendidos de novo. Como Ottawa era nosso último destino, achei que Murphy ia aparecer e fazer o centro de informações ser bem ruinzinho.
Eu não podia estar mais enganado: no meio do lugar havia uma maquete enorme da cidade inteira. Aí você selecionava alguma atração turística e, ao pressionar de um botão, uma luz acendia-se na maquete, indicando onde era o lugar.
Como o tempo era curto, atravessamos a Pont Macdonald Cartier e fomos tirar algumas fotos no Museu da Civilização. A vista de lá era uma coisa...
Aí acabou, era hora de ir pra casa. Como Bethania só tinha recebido os parabéns de mim, paramos num lugar qualquer pra ela poder telefonar pro Brasil.
E foi isso, três ótimos dias. Semana que vem é feriado e devo voltar à Ottawa, para ver o festival de tulipas. Espero que vocês não tenham se cansado de ver fotos...
Québec, Montreal e Ottawa, parte 1
2005-05-10 19:32:00 +0000
Ah, finalmente terminei de escrever sobre a viagem do dia 30. Três dias, três cidades...
A jornada do fim-de-semana começou cedo no sábado. Cinco da manhã e já estávamos na estrada, consumindo lentamente os mais de 700 quilômetros que nos separavam de...
Québec

A província de Québec é bem peculiar. Foi colonizada pela França e tem o francês como língua oficial, coisa que deu pra notar assim que o carro passou pela fronteira. Várias placas de trânsito ficaram ilegíveis...
Era mais ou menos uma da tarde quando chegamos em Québec City, a capital da província. Como não podia deixar de ser, ficamos perdidos enquanto procurávamos o hotel, o que acabou sendo excelente porque acabou forçando um "reconhecimento" da cidade velha, a parte histórica de Québec que fica dentro da muralha (a cidade é murada por causa dos antigos quebra-paus entre franceses e ingleses). Para você ter uma idéia de como ela é, imagine como seria Ouro Preto se ela fosse na Europa.
Fica assim...

Depois de achar o hotel, almoçamos e começamos o tour. Nossa primeira parada foi num posto de informações turísticas. Perguntamos a atendente o que ela sugeria que fizéssemos durante a tarde, ela sacou da gaveta um mapa e, extremamente atenciosa, foi indicando os lugares que poderíamos visitar. Marcava os trechos com caneta marca-texto, falava o que tinha, a que distância ficava, dava mil e uma opções. A explicação da mulher foi tão boa que eu comecei a ficar preocupado: "quanto ela vai me cobrar por esse roteiro todo??". Mas era de graça.
A primeira parada foi no prédio mais alto da cidade, onde havia um observatório. O tempo estava ruim mas mesmo assim deu pra curtir a vista (clique aqui e passe o mouse sobre a foto).
Depois passamos a muralha e entramos na cidade velha, que se mostrou muito mais bonita de baixo do que de cima. Québec ainda conserva todos os detalhes da época (até o Burger King é estilo "old skool").

Mais tarde pegamos o funiculaire, um elevador inclinado que leva até a cidade baixa. Vimos algumas outras coisas e voltamos pro hotel.
O jantar foi uma boa massa num tal Pennelo Bistro (se não me engano o nome era esse mesmo). Enquanto víamos as pessoas passarem, eu e Bethania concluímos que as mulheres de Québec são muito bonitas. Mas muito mesmo. Desde a recepcionista do hotel, passando pela faxineira no corredor até as garçonetes do restaurante, todas elas eram extremamente bonitas. Tanto que, quanto Bethania voltou ao Brasil, me deixou uma recomendação: "NÃO OLTE em Québec!!"...
O dia seguinte amanheceu com neblina. Demos mais uma voltinha pela cidade, visitamos a Catedral de Notre-Dame número 1 (porque em Montreal e Ottawa também tinha igrejas com o mesmo nome), depois botamos de novo o pé na estrada.
Quatro horas depois, estávamos em Montreal. Conto tudo na parte 2, prometo.
Depois do carnaval, de volta ao Canadá (mas "Closer" do que nunca)
2005-02-16 03:08:00 +0000
De volta ao blog e de volta ao Canadá. A falta de tempo continua. Tive até que escrever parte deste post na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo...
Aqui tá até quentinho: cinco graus positivos. Tá uma beleza, nem precisa de luvas ou gorro pra andar na rua. E a neve já está derretendo.
As novidades das últimas semanas:
Carnaval no meio do mato
E, quebrando minha tradição de cinco anos frequentando eventos de mocidade espírita durante o carnaval, fui para Conceição do Mato Dentro (MG), ver a famosa cachoeira do Tabuleiro, a segunda maior do Brasil.
Chegamos de noite na cidade, as ruas cheias devido ao carnaval de rua. E, na minha frente, o inacreditável:
- Putz... pelamordedeus... não me diz que aquela danceteria ali chama-se "GINGA BYTE"!!!

Além disso, o cardápio de uma lanchonete próxima também era de lascar.

Pode-se dizer que eu realmente "me joguei" nesse carnaval: levei um tombo feio numa trilha, fui de cara no chão e ralei o joelho. O pior foi só o susto, porque o nariz sangrou um pouco, mas ficou tudo bem. Depois levei outro escorregão, dessa vez debaixo da cachoeira do Tabuleiro, e ralei um braço e o cotovelo nas pedras. Este carnaval deixou marcas profundas em mim...
Air Kelly
Na viagem de volta ao Canadá, no avião entre Belo Horizonte e São Paulo, tinha uma moça num tailleur vermelho-reluzente e com um ar de "nunca voei antes", que se sentou do meu lado. Como é de praxe, antes da decolagem, peguei meu escudo defletor de gente conversadeira (um livro) e enfiei rapidamente a cara nele antes que ela inventasse de puxar papo. Funcionou muito bem, por dois segundos:
- Dá licença, esse livro aí é daquele autor, Brian Weiss?
- Não, é de John Hershey - Respondi, secamente. Ela entendeu e não continuou o assunto.
O avião decolou e, discretamente, dei uma olhada na mulher. Era uma outra versão da Kelly, não parava quieta na cadeira, se benzeu umas três vezes antes da decolagem e, cinco minutos depois, tentou puxar papo novamente:
- Dá licença... você gosta muito de ler, é?
Pensei por um momento: faltavam uns 50 minutos até São Paulo, minha leitura logo ia ser interrompida pelo serviço de bordo, e ela com certeza ia me interromper várias vezes. Guardei o escudo defletor e resolvi ver no que aquilo ia dar.
E em menos de uma hora eu sabia tudo da vida dela: Sonya era uma jovem de 20 anos, nascida em Teófilo Otoni (MG), que falava com um sotaque de nordestina e trabalhava ilegalmente em Portugal desde o ano passado, junto com a irmã, num restaurante. Havia voltado ao Brasil para o carnaval e iria tentar novamente a entrada na terra lusitana com seu visto de turista, desta vez para ficar tempo suficiente para conseguir sua legalização.
Além disso, soltou suas pérolas: confundia as nuvens com montanhas, se indagava porque diabos o sol demorava tanto a se pôr, achava que a turbina empurrava o avião para cima, achava que era possível saltar de pára-quedas caso houvesse algum problema no avião... mas a melhor foi essa aqui:
"Sabe, esses padres e essas freiras falam tanto de sexualidade, mas eu acho que isso é uma coisa, assim, de cada um... tipo, o corpo de cada pessoa é igual São Paulo, cheio de lugares diferentes..."
Pra fechar com chave de ouro:
O Primo recomenda: Closer - Perto Demais
Outro dia eu escrevi num email: "De longe, o melhor filme de 2005". Lá no IMDB, no user comments, disseram exatamente a mesma coisa: "Hands Down Best Film of the Year". E o Vilaça lascou-lhe cinco estrelinhas.
O mais curioso é que Closer é um filme de amor. Mas ao mesmo tempo não é, e por isso mesmo acaba se tornando um. Entendeu? O amor está lá, sim, mas justamente nos momentos em que as pessoas não dizem "eu te amo". Por sinal, quando essas palavras são proferidas, os personagens estão sentindo de tudo: ódio, rancor, culpa, desejo... tudo menos amor.
É por causa dessa salada toda que eu escrevi no parágrafo acima que o filme é interessantíssimo: porque mostra, sem palavras, do que o amor é realmente feito, e como as manifestações de sentimentos truncados acabam sendo confundidas com ele.
Essa é a justificativa do elenco de ponta: Julia Roberts, Natalie Portman, Jude Law e Clive Owen, em atuações espetaculares. Elas tinham que ser, no mínimo, espetaculares, já que grande parte do conteúdo do filme está nas pequenas atitudes de cada um dos seus confusos e profundos personagens. Um bom exemplo é o primeiro beijo de Dan e Anna, no início da história, que diz mais do que qualquer diálogo.
Os diálogos também são magníficos. Todos muito inteligentes, ora brutalmente sinceros, ora simbólicos. Vários deles, inclusive, vão ganhando significado à medida que a história progride, deixando o filme ainda mais legal, até culminar no final, onde de repente tudo ganha um sentido todo novo. E ainda sobrou talento no diretor para adicionar um pouco de comédia, como na cena onde Dan e Larry conversam, anônimos, num chat pornô pela internet.
A trilha sonora poderia muito bem se resumir à belíssima e bem empregada música inicial (e final), mas traz também Smiths, Mozart, Prodigy das antigas (Smack my bitch up) e (surpresa!) altas músicas da Bebel Gilberto. Em português legítimo.
Altamente recomendado. Não perca. Mas vale aqui um alerta final: como bem disse o Vilaça, na melhor crítica que eu já vi ele escrever, é uma experiência emocionalmente dolorosa para a maioria dos expectadores...
Mudança de ares
2005-02-10 03:51:00 +0000

Local: Frenchmen's Bay congelada, Canadá
Data: 09 de janeiro
Temperatura: -5 graus celsius
Traje: Três camadas de roupa, gorro, luvas, botas de neve.

Local: Uma cachoeira em Conceição do Mato Dentro, Brasil
Data: 08 de fevereiro
Temperatura: 25 graus celsius
Traje: Camiseta, bermuda, chinelo de dedo e só.
Quanta diferença.
Mas o carnaval foi bom. Muita cachoeira, pouca exposição à música baiana. Não conto mais por pura falta de tempo.
Godspeed you, Brazil!
2005-01-07 18:38:00 +0000
Então é isso. As malas já estão prontas.

A Bê está aqui do lado enquanto escrevo estas últimas palavras em solo brasileiro. Teve um almoço-surpresa de despedida que ela e a família armaram pra mim. Agora é só esperar mais cinco horas, entrar no avião e ir parar no hemisfério norte, aonde é frio como num freezer e a água da privada desce girando no sentido contrário.
Já no espírito canadense, atualizei o logotipo deste blog. Vai ficar assim para os próximos cinco meses.
O próximo post já deverá ser escrito de lá da gringolândia. Amanhã, se possível, deixo alguma notícia aqui.
Aos leitores que conheço e que não conheço, até logo e me desejem sorte.
Climb every mountain...
2004-06-11 02:46:00 +0000
Aproveitando o feriado, eu, Bethania e dois casais de amigos nossos fomos para a Serra do Cipó.
O roteiro inicial previa o básico: ficar numa cachoeira o dia todo. Mas por alguma razão acabamos arrumando um guia e indo fazer... escalada.
Mas escalada mesmo, com cordas, mosquetões, etc.
Primeira parada - Melzinho na chupeta
A primeira via (trajeto escalável vertical) que o guia nos apresentou foi a mais fácil da serra, a então chamada melzinho na chupeta, devido ao seu grau baixo de dificuldade. Ela era baixinha (uns 9 metros de altura), mas eu não achei sequer possível subir, porque não via direito onde me apoiar.
Começaram os preparativos e fomos apresentados aos equipamentos: a "cadeirinha" onde você pendura equipamentos e amarra a corda de segurança (que, sozinha, vale uns R$ 1000), o pó de magnésio (pra secar as mãos) e as sapatilhas especiais. As sapatilhas são apertadíssimas, uns dois números abaixo do que você calça, e forçam com que você fique com os dedos do pé dobrados pra baixo. O que, curiosamente, ajuda a subir.
Depois, um dos guias subiu para "costurar" a via (passar a corda de segurança pelos grampos, já pré-colocados na pedra). Depois, era a hora da primeira pessoa subir. Por alguma estranha razão, eu fui o primeiro a me candidatar.
Depois de alguns metros de subida, eu já podia tirar algumas conclusões:
- Escalar é como jogar xadrez com a parede: você sobe, pára, olha, pensa onde vai por cada um dos pés e cada uma das mãos, calcula o impulso e o movimento, os "quandos", os "comos"...
- Conceitos simples da física, como o de "centro de gravidade", provam-se essenciais. Por exemplo: você escala com o corpo quase colado na rocha, e não afastado dela, como quando você sobe uma escada normal. Manter o corpo perto da pedra e, consequentemente, dos seus pontos de apoio (mãos e pés) dá um equilíbrio absurdo.
- Qualquer imperfeiçãozinha na pedra é um "degrau"! Mesmo as que você não acredita que possam ser usadas. Numa das subidas eu lembro de ter apoiado meu pé direito num cristal pequenino de quartzo, que estava só 2 centímetros para fora da pedra bruta.
- Escalar é muito, muito divertido!
No fim, consegui subir o "Melzinho" sem cair (ou seja, ficar pendurado pela corda) nenhuma vez. É uma sensação excelente...
Uma curiosidade: quem "batiza" a via é o escalador que, corajosamente, sobe pela primeira vez e martela grampos na pedra. O nome da via normalmente fala sobre alguma coisa do dia da escalada.
Um exemplo é uma via chamada "Lamúrias". O nome completo é "Lamúrias de um viciado", porque o alpinista que a completou estava no cume, e quando ia acender o seu último baseado, que levou cuidadosamente consigo até lá em cima, acabou deixando-o cair e ficou lá em cima, reclamando.
Segunda parada - Johnny Quest
Escondida numa clareira da mata estava a outra via, ainda fácil mas mais difícil que o "Melzinho": era a Johnny Quest, com uns 15 metros de altura. Logo que chegamos todo mundo olhou para a pedra e fez-se um silêncio enorme: aquilo era liso, não tinha como botar a mão. Esta parecia, definitivamente, impossível. Obviamente, não era. Eu, vaidoso pelo meu sucesso anterior, fui o primeiro novamente, achando que ia ser moleza. Mas aí a coisa foi diferente...
Pra mim, esta subida foi muito, muito, muito mais complicada que a primeira. Logo no começo do trecho, minhas 14 horas por dia digitando num computador começaram a aparecer: a minha força nos dedos havia sumido. Mas sumido mesmo, meus judiados tendões já não respondiam mais e eu não conseguia me agarrar direito nem mesmo nas fendas mais profundas da rocha (que não eram muitas).
Quedas, quedas e mais quedas. Incontáveis minutos pendurado, tentando recobrar o ritmo. A sapatilha apertada começou a apertar muito. No meio do trajeto eu dei um mau jeito no ombro. Meus óculos quase caíram umas duas vezes.
Depois de muita dor, suor e puxões na corda (pra me "ajudar" a subir), eu cheguei no cume. Depois de descer eu não conseguia fazer nada com as minhas mãos: meus tendões foram pra cucuia e eu fiquei com força zero nos dedos.
Agora, 6 horas depois, eu continuo com essa "mão boba". Exemplos de coisas que eu não consigo fazer sem um esforço absurdo e um bocado de dor acompanhando: abrir a porta do carro, puxar o freio de mão, usar uma faca pra cortar um pedaço de carne no prato de comida...
Depois Bethania foi escalar. As mulheres são, naturalmente, melhores alpinistas que os homens, porque tem mais elasticidade. Mas Bethania subiu o Johnny Quest com muita facilidade, até o instrutor elogiou a performance. Foi uma cena bonita de se ver (tirando minha humilhação, é claro).
No final, famintos, comemos um PF num restaurante (chamado "Cê Ki Sabe") e voltamos. Muito provavelmente teremos mais fotos de escaladas aqui no blog, porque eu gostei bastante da coisa e pretendo repetir a dose. Isto é, depois de uma reeducação dos meus tendões. Ai.
Momentos pós-carnaval
2004-03-01 05:02:00 +0000
Como vocês sabem, depois do carnaval tem o Encontro Nacional dos consultores de onde eu trabalho. Enchem-se aviões e todos os consultores são levados pra um hotel cinco estrelas em Brasília. Por sinal, o mesmo hotel onde o Waldomiro, aquele do escândalo, costumava se hospedar.
- Quinta de manhã, entro na sala de embarque. Depois de ser reprovado cinco vezes no detector de metais (eram as moedas na carteira), eu a vejo: Kelly!!!
Depois de evitá-la cuidadosamente pela sala de embarque e durante o vôo (obviamente ela veio no mesmo avião que eu), ela pulou em cima de mim quando esperava minha bagagem, já em Brasília. Em sua mão direita, uma necessaire metálica, prateada. Parecia uma merendeira.
Um detalhe: antes de embarcar encontrei um amigo, que me apresentou um outro amigo: "Este é o Adler, leitor do seu blog!". Acho que eu nunca vou me acostumar com o fato de que existe gente que realmente lê este blog...
- Quinta de tarde, todos sentados aguardando o início das palestras. Ao meu lado senta-se um mulherão, muito familiar, que puxa conversa:
- Não acredito que você não lembra de mim!
- Err... na verdade, não...
- Faz um esforço aí...
Olhei para o crachá dela e aí meus neurônios acordaram: era uma antiga colega do Banco, que todo mundo conhecia pelos seus proeminentes dotes, er, profissionais. Ela, como eu, largou o Banco e agora era trainee. Deu vontade de tirar uma foto e mandar pros meus velhos coleguinhas de trabalho, só de sacanagem.
- Todos estavam curiosos sobre qual seria a tal "atração cultural", indicada na programação do dia, que se iniciaria às 22:30. Nos boatos eu ouvi dizer que seria desde um show privé do Skank até uma dupla caipira. O que teve, na verdade, foi o espetáculo teatral-musical-humorístico Tangos e Tragédias.
No palco, dois homens, um com um acordeon e outro com um violino, tocavam incrívelmente bem (ao ponto de eu cogitar a possibilidade de playback) e cantavam de um jeito español muito engraçado. Eles improvisaram bastante: as goteiras do palco (sim, o palco tinha no mínimo umas dez goteiras) viraram motivo de piada o tempo todo:
- Sí, jo fiquei impressionado, non imaginei que eles conseguirían providenciar las goteras que pedimos nel contrato!
- Só están faltando los golfinhos!
Tudo ia bem até que, no meio de uma das músicas, duas placas do isolamento acústico do teto se soltam e caem sobre o palco, logo atrás dos dois atores. Depois do susto, mais piadas... e mais improviso: obviamente, os dois atores, se borrando de medo de continuar o show, foram inventando moda, desceram para o meio do público e acabaram levando o espetáculo para FORA do teatro, fazendo uma grande roda com o público no hall de entrada.
Para encerrar a noite com chave de ouro, os dois começaram a pegar pobres infelizes do público para fazer a "dança do Copérnico", cujas regras eram:
Só não pode mexer com as pernas!
Só não pode mexer com as mãos!
E neste momento, o dançarino imóvel chacoalhava a cabeça como se estivesse sendo eletrocutado. Depois de pegarem um ou dois colegas, o presidente da nossa empresa, que é um poço de formalidade, foi gentilmente convidado a dançar. Vários flashes das várias máquinas digitais disparavam, em meio às risadas. Eu adorei cada minuto.
- Sexta, acordei e resolvi usufruir de todo o luxo e requinte deste lugar caro. Fui acender o abajur do criado-mudo, mas a lâmpada estava queimada. Me levantei para tomar um banho, mas a água do chuveiro não esquentava, mesmo quando o super-ultra-fashion seletor de temperatura indicava 50 graus celsius. E, sob meus pés, o box ia inundando porque o ralo parecia entupido.
Aí, da sexta para o sábado, pessoas começaram a ter problemas estomacais por causa da comida. Febre, vômitos e tal. Um colega me disse que a média é de um infectado por quarto (os quartos são duplos). No meu a coisa não é diferente, embora não seja eu o doente. Na verdade, enquanto escrevo estas linhas, meu amigo está no banheiro vomitando.
É que meu estômago é meio estúpido: posso comer coisas podres, mofadas e estragadas que o máximo que eu tenho é um "incômodo" na barriga.
- De tarde, a surpresa sobre a atração cultural secreta da noite foi revelada logo à tarde, pelo apresentador do evento: seria um show de ninguém menos que Jorge Ben Jor. Pensei comigo: "Que bom, vou ter tempo livre hoje de noite".
No dia seguinte, saí perguntando como havia sido o show (se vocês tinham alguma dúvida, não, eu não fui). Os comentários eram, basicamente: 1) O show durou só 50 minutos e 2) Jorge sequer falou um "oi" com a platéia.
O apresentador do evento, no dia seguinte, tentou explicar: "Pois é gente, vocês reclamaram que o Jorge Ben não falou oi com vocês né? Pois é, ele mandou avisar que é porque ele ainda não assinou contrato de patrocínio com a operadora Oi... he he he!"
- Toda vez que vejo a filha do presidente da empresa, que também é consultora, só me vem uma coisa na cabeça: Paris Hilton. As duas tem o mesmo jeitinho de andar, de vestir, e exatamente o mesmo tipo físico magrelo e tal. A diferença é que esta, a brasileira, não é estúpida como a outra.
- Domingo de manhã, eu, a alguns mil pés de altitude, voltando para casa. Nos fones de ouvido, Right Here's The Spot, do Basement Jaxx. No meu cérebro eu ia montando o videoclipe da música: as aeromoças chacoalhando as cadeiras no corredor do aeroporto, enquanto o presidente da empresa e todos os consultores seniors, com seus cabelos grisalhos, se levantavam e começavam a batucar nos compartimentos de bagagem sobre nossas cabeças. Ninguém entendeu o sorriso no meu rosto...
Curtindo uma Viagem (Os detalhes)
2003-06-24 03:56:00 +0000
Prometi, agora tenho que cumprir... os detalhes da viagem pra Aparecida do Norte.
Primeiramente, eu fui porque a avó da minha namorada, übercatólica, de assistir missa na RedeVida e ajoelhar em frente à TV na hora da comunhão, fez aniversário recentemente e, como presente, uma das filhas dela inventou de levar a família toda (incluindo os namorados das pessoas da família) pra Aparecida.
Isso aí foi na estrada, na ida. Quase que eu compro um CD de "rep" pra mim.
Chegando lá, fomos pra super-Basílica. Além de enorme, lá é bem legal, é a primeira igreja com dezenas de TVs do lado dos bancos...
Isso é porque a missa costuma ser transmitida pela RedeVida. Por sinal, se você ligou a TV na sexta de manhã deve ter me visto por lá :)
O pior é o padre, fazendo os fiéis esperarem o horário da transmissão começar... "agora vamos fazer um silêncio, um profundo silêncio... para que o espírito santo esteja dentro de nós..."
Ah, e tinha essas "caixinhas" do ofertório também. Tá mais pra caixa-forte mas tudo bem.
Depois fomos conhecer o incrível CAR - Centro de Apoio ao Romeiro. É sério. Olha o tamanho do negócio:
Na verdade o CAR é um shopping onde você compra terços, bíblias, lembrançinhas, caixas de som para seu carro, CDs de Playstation, multímetros, relógios a prova d'água... (isso é sério também. Eu queria estar brincando, mas é sério).
Lá também tinha uma praça de alimentação com direito a McDonalds e tudo. Nunca vi, o CAR foi a overdose de nomes de lojas bizarros, como a cafeteria "Cof Cof", o restaurante "Santa Ceia" e a lojinha de lembranças chamada "Pró-vocações Franciscanas". Tão aí as fotos que não me deixam mentir.
Ah, e lá tinha pra vender (a R$ 2) o incrível ioiô-meleca, a mania nacional de Aparecida. TODAS, eu repito, TODAS as crianças que vi estavam com um desses.
Continuando com as curiosidades, a Basílica tem uma sala das promessas. Você já deve ter visto num Fantástico ou Globo Repórter da vida, é um lugar onde o pessoal que alcançou alguma graça deixa muletas, fotos, objetos diversos, tudo em homenagem à Nossa Senhora. O teto é REPLETO de fotos e por todos os lados há prateleiras com centenas e centenas de objetos.
Numa das prateleiras tinha um tanto de ônibus de brinquedo. Sem entender, vi num deles um bilhete que dizia:
"Agradeço pelo meu primeiro emprego em transporte coletivo. Assinado, fulano..."
Ah, agora sim. Fui ler um outro bilhete em outro ônibus e rachei de rir. O bilhete dizia:
"Por favor, colocar no armário. Assinado, fulana" - Provavelmente uma funcionária da Basílica...
Mas Aparecida é uma cidade composta de quatro coisas. A Basílica, os hotéis, os restaurantes e o comércio das coisas sant... errr, digo, lembrancinhas. Mas tem a parte turística também, como o incrível aquário de Aparecida, onde você pode tocar num tubarão de verdade. O tubarão era mais lerdo do que uma tartaruga, mas tudo bem.
Tinha também o Magic Park que fomos conhecer na sexta. Logo na entrada, o parque ostentava essa escultura medonha e indecifrável aí embaixo:
O parque tinha uma montanha-russa e uns brinquedinhos bobos. Mas tinha também uma atração chamada "mundo em miniatura". Essa era muito legal, tinha miniaturas bem realistas de dezenas de lugares famosos do mundo. Olha essa Casa Branca (ou Parlatório, nem lembro) aí embaixo, nem parece de mentira.
No final das contas a viagem foi ótima e bem divertida. E rendeu histórias pra contar e fotos pra mostrar...
Minha Nossa Senhora!!
2003-06-21 05:09:00 +0000
Acabei de chegar de viagem...
Estive no estado de São Paulo, mais especificamente em... Aparecida do Norte.
Calma que eu explico tudo amanhã, com fotos e tal (no total foram cento e onze fotos). Mas já adianto uma coisa: adorei cada segundo.
Descanso Santo
2003-04-22 02:56:00 +0000
Minha semana santa foi excelente: passei quatro dias num sítio que só tem vantagens:
Proximidade - eu levo 15 minutos do portão da minha casa até o portão do sítio. E o sítio fica a 5 minutos do shopping.
Conforto 1 - O sítio é ENORME, acomoda 18 pessoas em camas + umas 30 (calculo eu) em colchonetes/sofás. Tem duas suítes de casal, zilhões de quartos de solteiro...
Conforto 2 - Piscina, sauna, área de churrasqueira, duas cozinhas, sala com 2 ambientes, quadra poliesportiva...
Preço - O aluguel do sítio mais alimentação (que nós mesmos cozinhamos) ficou em R$ 25/dia. Baratíssimo.
Minha rotina foi, basicamente, acordar tarde, jogar um voleizinho/futebolzinho, cair na piscina, ir pra sauna, voltar pra piscina, almoçar (geralmente às 5 da tarde), tomar um banho e ficar tocando um violãozinho na varanda até de madrugada...
Tirei zilhões de fotos, depois boto algumas mais artísticas por aqui. E fiz a mais nova descoberta dos nomes toscos de comércio: As batatinhas FREE TEEN, sempre fritinhas!
(Putz, esse "free teen" vai me render um alto ranking no Google)