A Lua-de-mel do Primo
Parte 1: Argentina
(Sim, este é o mega-post... vai sair em três partes mesmo, pra vocês sossegarem, caros leitores...)
E foi assim: no sábado, às oito da noite, eu casei...

Eu e a Sra. Primo na entrada da "cerimônia"... (foto by Bigode)
O casamento foi surpreendentemente divertido. Digo "surpreendentemente" porque eu achei que fosse ficar nervoso ou estar cansado demais pra aproveitar, mas no fim das contas eu curti como nunca cada segundo da coisa toda. Eu achava que era exagero quando as pessoas que se casavam saíam dizendo depois que foi "o dia mais feliz da minha vida". Não é exagero não...
Mas como tudo que é bom passa rápido, no domingo, às seis e meia da manhã, eu já estava dentro de um avião a caminho de Buenos Aires. Noite de núpcias? Bem, o máximo que eu tive foi duas horas de sono, sozinho, no sofá da casa dos nossos padrinhos de casamento (o André e a Ju), que foram conosco na lua-de-mel. Quando eu conto isso pros outros ninguém acredita que eu tive uma lua-de-mel "compartilhada". Mas foi mó legal...
(Sim, sim, apesar de viajar juntos ficamos em quartos separados. Podem parar de pensar bobagem...)
Vamos ao que interessa, que é o primeiro destino da viagem... Buenos Aires!

Avenida 9 de Julho em Buenos Aires: a mais larga do mundo e a principal da cidade

"Centrão" de Bs. As... ugh!
A programação era passar quatro dias em Buenos Aires, conhecer a cidade, fazer umas comprinhas, e depois ir pro Chile esquiar até as pernas caírem.
Deu pra entender claramente porque Buenos Aires virou um destino predileto para brasileiros: é perto, é barato (o peso argentino tava valendo uns 25% a menos que o real) e é bonito. Os bairros chiques da cidade são realmente chiques. Só que, como eu contei, a agência de turismo botou a gente no centrão da cidade, num hotel velho, sujo e feio. Mas o pior mesmo foi conseguir falar com o cara da agência de viagens (Ibiza Turismo) via MSN e ouvir dele a seguinte frase:
- Mas foi como eu te falei... a maioria dos hoteis de Buenos Aires sao sujos e velhos....
Pois é: se você for pra lá, hospede-se em Puerto Madero ou na Recoleta, e corra dos hotéis do centro. Olha aí embaixo a "vista" da janela do nosso quarto...

Você bota a cabeça pra fora da janela, olha pra baixo, e vê essa linda cena...
Mas como não deu pra fazer muita coisa, o jeito foi "abstrair" e ir conhecer a cidade. No dia seguinte teve o "city tour" básico, que foi bem engraçado por causa da guia. Ela narrava tudo em espanhol, misturava umas palavras em português, e depois falava em inglês.
A tradução dela pro inglês não era exatamente fiel... se, por exemplo, ela descrevesse um dos prédios assim:
- Na direita temos o Grande Teatro Colón. Ele é um dos maiores da América Latina e foi construído em mil novecentos e blá blá blá. Ele tem capacidade pra xizentas pessoas, etc, etc...
A versão em inglês era meio "redux", assim:
- In the "rrraight", we have the Great Colón Theater. It is a very beautiful theater.
O city tour serviu mesmo foi pra dar uma idéia do que valia a pena na cidade para visitar depois. Também serviu pra ter uma idéia das atrações "não-oficiais": A que eu mais gostei foram as pichações. A esmagadora maioria das pichações na Argentina são de cunho político, como essa abaixo:

Pichado num prédio do mesmo quarteirão da Casa Rosada, onde o Kirchner trabalha...
Segundo nossa guia, os argentinos são um povo bastante "piqueteiro": toda semana, na sexta-feira (dia "estabelecido" para os protestos), sempre tem uma pá de gente fazendo barulho em frente à Casa Rosada. A coisa é tão séria que a praça em frente ao palácio tem barricadas permanentes e policiais o tempo todo. Eu até ouvi um caso de um amigo que foi à Buenos Aires e não conseguiu conhecer a Casa Rosada por causa dos protestos.
Outro lugar interessante da cidade é a região da Boca, onde (obviamente) fica o estádio do Boca Juniors. A Boca era um bairro de imigrantes, hoje abriga artistas e músicos. Tanto que uma das atrações turísticas de lá é a rua chamada "Caminito Tango".

Eu, Bethania e Ju passando pelo Caminito... (foto by André)
Nossa rotina em Buenos Aires foi basicamente essa: passear, comer, comprar coisinhas. Teve até um tour de compras: as meninas fizeram a festa com as roupas de inverno e os couros, que tem em toda esquina. Deu também pra visitar (rapidamente) alguns museus, uma igreja e também o cemitério dos VIPs argentinos, com mausoléus enooormes, onde inclusive estão os restos mortais de Evita Perón. O cemitério é tão grande que tivemos que fotografar o mapa que tinha na porta, pra poder armazená-lo na câmera digital e poder consultá-lo enquanto caminhávamos...


Pôr-do-sol em Porto Madero (esq.) e detalhe da tumba da Evita (dir.)
Come-se muito bem em Buenos Aires. Nós comemos "bem" e "muito", por sinal. Todos os meus quilos perdidos do "fitness lua-de-mel" voltaram rapidinho. Culpa da famosa carne argentina... Um dos nossos jantares foi numa "parrilla" de nome peculiar: Siga la vaca. Tinha tudo que é variedade de carne na grelha, e tudo à vontade, sem balança e tal. Só não consegui foi saber o nome das coisas que comi, afinal tava tudo em espanhol...

¡Ela se fué por ali! ¡No, por acá! (Foto by André)
Além da carne, outra coisa famosa da culinária portenha são os alfajores. Recebemos um monte de recomendações para não sair de lá sem experimentá-los. Só que quando entrávamos numa loja e perguntávamos por "alfajores", os caras faziam uma cara de "que diabo é isso??". Até que alguém teve a brilhante idéia de mudar a pronúncia:
- Por favor... "alfarrhores"?
Então todo mundo passou a entender do que estávamos falando... aparentemente, "Alfajores" e "Alfarrhores" são como Clark Kent e Super-Homem: São praticamente idênticos mas se você muda uma coisinha, ninguém reconhece um do outro.



"Alfarrhores" com café (1), comprinhas de roupas de couro (2) e detalhe de um profiterole de sobremesa (3)...
Outro destaque da viagem foi o show de tango de uma das noites. Antes de viajar, ouvi um conselho de um dos meus colegas consultores:
- Não deixe de ir no Señor Tango!
Eu quase ignorei o conselho achando que era só uma bobeira pra turista. Fui surpreendido pelo melhor jantar da viagem e por um show que, apesar de não ser de tango "autêntico" e obviamente ser direcionado aos turistas, foi de cair o queixo. A orquestra era excelente, as dançarinas eram muito habilidosas, bonitas (hehe) e pareciam de borracha. Elas faziam coisas inacreditáveis, do tipo passar a perna invertida pelas costas do bailarino e coçar atrás da orelha dele com a ponta do sapato. Não entendeu? Nem eu. Mas que elas faziam, faziam.
O show teve também outras atrações menos "tanguinescas", como uns teatrinhos dos antigos colonizadores versus os índios nativos (com direito a cavalo no palco e tudo), um show de flauta peruana (?!?) e o encerramento, com todo mundo no palco cantando "Don't cry for me Argentina" enquanto rolos de pano azul e branco caíam do teto em meio a uma chuva de papel picado...
Pena que fotos eram proibidas e só consegui tirar essa aqui, do palco vazio:

Foi aqui que rolou a parada toda
Do ponto de vista musical, eu fiquei especialmente surpreso com a expressividade do principal instrumento do tango: o bandoneón. Meus caros, eu só digo pra vocês uma coisa... vocês nunca ouviram tango de verdade até ouvirem o arfar de um bandoneón ao vivo. É fabuloso, e imperdível para os fãs de música...
Falando em música, no último dia em Buenos Aires a gente parou pra tomar um café. Papo vai, papo vem, eu reconheci a música-ambiente da cafeteria. Era algo que eu já tinha ouvido no meio de um dos sets de chill-out do DF Tram. Até aí nada de mais, não fosse o fato de que estava tocando tango eletrônico, mais especificamente Bajofondo Tango Club. Até trouxe um CD (excelente!) deles de lá...
Logo depois do show de tango era hora de gastar mais dinheiro... mas dessa vez com a possibilidade de ganhar algum de volta, no Cassino de Buenos Aires!

O Cassino "ancorado" em Porto Madero
Este cassino só funciona na cidade graças a uma "gambiarra" jurídica: a lei portenha não permite cassinos na cidade, mas como esse aí funciona num barco, ele teoricamente não está "em terra" e pode funcionar livremente. Contrariando a famosa regra de que "a casa sempre ganha", Bethania quintuplicou o dinheiro que jogou nas slot machines. O meu desempenho foi mais modesto, e consegui sair com o dobro do que joguei. Pois é... se aquele papo de "sorte no jogo, azar no amor" for verdade, meu casamento está correndo um sério risco!
Mas os quatro dias passaram voando... e logo estávamos zarpando rumo ao Chile! Aguardem a parte 2...