Como vocês sabem, depois do carnaval tem o Encontro Nacional dos consultores de onde eu trabalho. Enchem-se aviões e todos os consultores são levados pra um hotel cinco estrelas em Brasília. Por sinal, o mesmo hotel onde o Waldomiro, aquele do escândalo, costumava se hospedar.

- Quinta de manhã, entro na sala de embarque. Depois de ser reprovado cinco vezes no detector de metais (eram as moedas na carteira), eu a vejo: Kelly!!!

Depois de evitá-la cuidadosamente pela sala de embarque e durante o vôo (obviamente ela veio no mesmo avião que eu), ela pulou em cima de mim quando esperava minha bagagem, já em Brasília. Em sua mão direita, uma necessaire metálica, prateada. Parecia uma merendeira.

Um detalhe: antes de embarcar encontrei um amigo, que me apresentou um outro amigo: "Este é o Adler, leitor do seu blog!". Acho que eu nunca vou me acostumar com o fato de que existe gente que realmente lê este blog...

- Quinta de tarde, todos sentados aguardando o início das palestras. Ao meu lado senta-se um mulherão, muito familiar, que puxa conversa:

- Não acredito que você não lembra de mim!
- Err... na verdade, não...
- Faz um esforço aí...

Olhei para o crachá dela e aí meus neurônios acordaram: era uma antiga colega do Banco, que todo mundo conhecia pelos seus proeminentes dotes, er, profissionais. Ela, como eu, largou o Banco e agora era trainee. Deu vontade de tirar uma foto e mandar pros meus velhos coleguinhas de trabalho, só de sacanagem.

- Todos estavam curiosos sobre qual seria a tal "atração cultural", indicada na programação do dia, que se iniciaria às 22:30. Nos boatos eu ouvi dizer que seria desde um show privé do Skank até uma dupla caipira. O que teve, na verdade, foi o espetáculo teatral-musical-humorístico Tangos e Tragédias.

No palco, dois homens, um com um acordeon e outro com um violino, tocavam incrívelmente bem (ao ponto de eu cogitar a possibilidade de playback) e cantavam de um jeito español muito engraçado. Eles improvisaram bastante: as goteiras do palco (sim, o palco tinha no mínimo umas dez goteiras) viraram motivo de piada o tempo todo:

- Sí, jo fiquei impressionado, non imaginei que eles conseguirían providenciar las goteras que pedimos nel contrato!
- Só están faltando los golfinhos!

Tudo ia bem até que, no meio de uma das músicas, duas placas do isolamento acústico do teto se soltam e caem sobre o palco, logo atrás dos dois atores. Depois do susto, mais piadas... e mais improviso: obviamente, os dois atores, se borrando de medo de continuar o show, foram inventando moda, desceram para o meio do público e acabaram levando o espetáculo para FORA do teatro, fazendo uma grande roda com o público no hall de entrada.

Para encerrar a noite com chave de ouro, os dois começaram a pegar pobres infelizes do público para fazer a "dança do Copérnico", cujas regras eram:

Só não pode mexer com as pernas!
Só não pode mexer com as mãos!

E neste momento, o dançarino imóvel chacoalhava a cabeça como se estivesse sendo eletrocutado. Depois de pegarem um ou dois colegas, o presidente da nossa empresa, que é um poço de formalidade, foi gentilmente convidado a dançar. Vários flashes das várias máquinas digitais disparavam, em meio às risadas. Eu adorei cada minuto.

- Sexta, acordei e resolvi usufruir de todo o luxo e requinte deste lugar caro. Fui acender o abajur do criado-mudo, mas a lâmpada estava queimada. Me levantei para tomar um banho, mas a água do chuveiro não esquentava, mesmo quando o super-ultra-fashion seletor de temperatura indicava 50 graus celsius. E, sob meus pés, o box ia inundando porque o ralo parecia entupido.

Aí, da sexta para o sábado, pessoas começaram a ter problemas estomacais por causa da comida. Febre, vômitos e tal. Um colega me disse que a média é de um infectado por quarto (os quartos são duplos). No meu a coisa não é diferente, embora não seja eu o doente. Na verdade, enquanto escrevo estas linhas, meu amigo está no banheiro vomitando.

É que meu estômago é meio estúpido: posso comer coisas podres, mofadas e estragadas que o máximo que eu tenho é um "incômodo" na barriga.

- De tarde, a surpresa sobre a atração cultural secreta da noite foi revelada logo à tarde, pelo apresentador do evento: seria um show de ninguém menos que Jorge Ben Jor. Pensei comigo: "Que bom, vou ter tempo livre hoje de noite".

No dia seguinte, saí perguntando como havia sido o show (se vocês tinham alguma dúvida, não, eu não fui). Os comentários eram, basicamente: 1) O show durou só 50 minutos e 2) Jorge sequer falou um "oi" com a platéia.

O apresentador do evento, no dia seguinte, tentou explicar: "Pois é gente, vocês reclamaram que o Jorge Ben não falou oi com vocês né? Pois é, ele mandou avisar que é porque ele ainda não assinou contrato de patrocínio com a operadora Oi... he he he!"

- Toda vez que vejo a filha do presidente da empresa, que também é consultora, só me vem uma coisa na cabeça: Paris Hilton. As duas tem o mesmo jeitinho de andar, de vestir, e exatamente o mesmo tipo físico magrelo e tal. A diferença é que esta, a brasileira, não é estúpida como a outra.

- Domingo de manhã, eu, a alguns mil pés de altitude, voltando para casa. Nos fones de ouvido, Right Here's The Spot, do Basement Jaxx. No meu cérebro eu ia montando o videoclipe da música: as aeromoças chacoalhando as cadeiras no corredor do aeroporto, enquanto o presidente da empresa e todos os consultores seniors, com seus cabelos grisalhos, se levantavam e começavam a batucar nos compartimentos de bagagem sobre nossas cabeças. Ninguém entendeu o sorriso no meu rosto...