Tudo que poderia ter sido e que não foi
Sabe, eu estava bastante empolgado com essa viagem pra Aracaju.
Há meses eu não andava de avião. Eu iria na segunda à noite e voltaria na quarta. O trabalho ia ser legal, eu iria como especialista em projetos para fazer um diagnóstico num cliente importante. Coisa fina.
Como Bethania está viajando, o apartamento (e o cachorro) ficariam sozinhos. Assim, pra que nada desse errado, eu me planejei bastante: no sábado mesmo eu já havia reservado um hotelzinho para deixar Pavlov. No domingo eu ajeitei a casa para a faxineira, que viria na terça. Me lembrei até de passar no banco e sacar dinheiro num caixa com notas pequenas pra poder deixar o dinheiro do ônibus dela, trocado, em cima da mesa.
Na segunda eu marquei, pela internet, os lugares onde queria me sentar no avião - janelas, pra que eu pudesse dormir sossegado. Voltei mais cedo do trabalho, para poder fazer as malas com calma. Conferi e reconferi tudo que estava levando. Usei uma sacola para não precisar despachar bagagem e não correr o risco de perder a mala e ficar sem roupas para as reuniões do dia seguinte. Lembrei-me de comer alguma coisa em casa, pois só ia chegar em Sergipe depois de uma da manhã. Lembrei de fazer backup de arquivos cruciais das reuniões no meu pen drive (para o caso do notebook resolver pifar de vez). Lembrei também de carregar a bateria do celular e do iPod. Lembrei até de baixar um disco duplo do Stars of the Lid que estava querendo, só pra poder ouvir no avião.
Marquei horário com o táxi pra bem cedo e cheguei no aeroporto mais de uma hora antes do horário previsto de decolagem. A fila do check-in sem bagagem estava vazia, então foi só chegar e entregar minha carteira de motorista para o atendente.
Eu estava tranquilo, pensando em que revista poderia comprar pra ler no vôo, quando o atendente me disse:
- O senhor teria um outro documento dentro do prazo de validade?
- Como assim?
- A sua carteira de motorista está vencida, senhor.
Olhei a validade e estava lá: 27/05/2007. Vinte e sete de maio. A maldita carteira estava vencida há quase quatro meses. E eu não ando com outros documentos justamente pelo fato da carteira de motorista também valer como identidade e CPF. Como o maldito aeroporto de Confins fica a 40 minutos da minha casa, não dava tempo de voltar e buscar. E não tinha jeito de ninguém trazer outro documento porque o apartamento estava vazio e trancado, e a única chave estava comigo. Não havia saída. Eu implorei, pedi "pelamordedeus" mas o cara, obviamente, não fez meu check-in.
Desesperado, até peguei um daqueles selinhos do Subway, coloquei na frente da data de validade e entrei na fila do check-in com bagagem, para cair em uma outra atendente. Na hora que ela pegou minha carteira eu tentei distraí-la conversando fiado, mas não colou: ela conferiu a data e não me deixou embarcar. Até no posto da ANAC eu fui implorar, mas não teve jeito.
Pra piorar, o consultor-sênior do projeto estava no aeroporto do Rio, embarcando pra se encontrar comigo. Ele estava indo à Aracaju só por minha causa, então vocês imaginam como ele reagiu quando contei o ocorrido.
Agora estou de novo em casa, frustrado, escrevendo este post e me sentindo o ser humano mais idiota de todos os tempos. E se eu fosse você, eu parava de rir da minha cara e conferia a validade da sua carteira de motorista. AGORA.