O iPod que assusta menininhas
O desfecho do meu chá-de-aeroporto de sexta foi previsível. Fui dormir só às três da manhã.
Mas o melhor da história toda foi quando eu finalmente embarquei, lá pelas 23:30.
O avião estava meio vazio: afinal, só os idiotas como eu voltam pra casa nesse horário. Tava assim: eu sentado no corredor, uma cadeira vazia e uma mulher sentada na janela. Ela e sua revista Cláudia, eu e meu iPod.
Acontece que não é permitido usar nenhum aparelho eletrônico durante o pouso e a decolagem. Assim sendo, as aeromoças sempre me cutucam e me mandam desligar o iPod quando o avião começa a taxiar. Aí eu espero elas se sentarem e ligo o iPod de novo, em flagrante desrespeito às leis do meu país (hehe).
Aí eu fechei os olhos e botei um discreto sorriso no cantinho da boca. Eu estava finalmente indo pra casa, e ainda curtindo meu novo disco do Nobukazu Takemura. Então alguém me cutucou. Era a moça da revista Cláudia:
- Ei, você não vai desligar isso não?
- Uhh... não.
- Mas a aeromoça vai te chamar a atenção de novo!..
- Não vai não, ela só vai levantar dali depois da decolagem, eu sei como é.
- Moço, mas tem que desligar, moço...
Aí eu respirei fundo, desliguei o iPod, e ia começar a explicar pra mocinha que eu vôo toda semana, que eu sempre faço isso, que o avião nunca caiu, que o iPod não emite radiofrequência, radiação, eletromagnetismo ou nada similar, que o pessoal sempre me manda desligá-lo só porque a norma de segurança diz que eu tenho que estar atento caso haja uma emergência (duvida? leia aqui, post 22). Mas nem deu tempo e a mulher começou a falar como louca:
- Olha, eu tenho medo dessas coisas, já tou assustada aqui, olha, eu não vou aguentar ficar aqui eu preciso sair, vou trocar de lugar, dá licença...
- Ei, mas não pode ficar de pé agora, o avião vai decolar...
- Licença, licença!...
E a diaba da mulher, em flagrante desrespeito às leis do meu país, me fez levantar para dar passagem a ela e sentou-se na poltrona de trás. Aí eu voltei a me sentar e fiquei uns cinco segundos sem acreditar naquilo. Então decidi o que eu ia fazer:
- Moça... - disse eu, virando para a poltrona de trás - vamos fazer o seguinte. Toma.
Estendi a mão e mostrei o iPod.
- Você fica com ele até a gente pousar. Pela sua paz de espírito. Pode ser?
Meio ressabiada, ela pegou o iPod. A sorte foi que ela ficou em Uberlândia, e eu felizmente ainda pude ouvir alguma música na segunda hora do vôo...