Sim, meus amigos! Minhas mini-férias de uma semana foram tão boas (e cheias de histórias) que serão contadas em pedaços. O primeiro deles é a viagem de ida para o lugar escolhido.

A premissa das férias era viajar para descansar, gastando minhas milhas que estavam vencendo e indo para um lugar sossegado, distante da bagunça de reveillon. Após um bocado de adoração ao Deus Google, Bethania, minha esposa, encontrou um lugar que parecia absolutamente perfeito.

Aí você se pergunta: “mas para onde vocês foram?”. Bem, vamos começar dizendo que nós acordamos às 4:30 da manhã do dia 26/12 e voamos até o meio-dia para pousar… em João Pessoa.

João Pessoa
A simpática capital paraibana (foto by Bethania Duarte)

Mas espere: não satisfeitos por estarmos no meio da Paraíba, saímos do aeroporto, almoçamos e fomos direto para… a rodoviária, porque ainda tínhamos uns 100km nos separando de nosso destino final.

Sabe, rodoviárias são um bom espelho do que as cidades realmente contém. A do Rio é abafada e caótica, a de São Paulo é SEMPRE lotada, a de Beagá parece rodoviária de cidade do interior, a de Brasília serve como um bom lembrete do que existe além do plano piloto… e a de João Pessoa tinha uma espécie de “feirinha do paraguai” no andar de cima. E tocava música de crente o tempo todo.

Então chegou o nosso ônibus. E aí eu, este serzinho que viaja por tudo que é buraco desse Brasilzão sem porteira, temi pela minha vida: o ônibus era velho, mas MUITO velho, o que ficava evidente em especial pelo cheiro de carpete velho misturado com o do revestimento dos bancos, feito num couro vermelho já há muito judiado pelo tempo. No vidro que separava o motorista dos passageiros tinha até um adesivo indicando a última vez que o ônibus havia sido dedetizado – mas o adesivo era tão velho que a data já tinha se apagado. E não tinha ar condicionado. E nós na Paraíba, lembram?

Sente o drama:

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E os passageiros iam embarcando: Famílias inteiras com a meninada fazendo bagunça, um deficiente com sua muleta, um tiozinho com boné da Lubrax, calça jeans surrada e camiseta do Treze Futebol Clube e por aí vai. Era um legítimo ônibus cata-jeca. E pra terminar de me matar de susto, bem nesta hora, minha digníssima esposa resolve me dizer o seguinte:

- Sabia que o lugar pra onde a gente vai nem aparece no Google Maps?

E o motorista entrou, bateu a porta sem muita cerimônia e pegou a estrada – com uns cinco passageiros em pé e obviamente com uma parada a cada 10 minutos pra pegar ainda mais gente (a parte “cata-jeca” da viagem). Tanto que Bethania sugeriu que a gente cedesse nossos lugares a duas senhoras com crianças e viajamos boa parte do tempo em pé.

Eu ainda estava estupefato com a coisa toda quando numa destas paradas embarcou nada menos do que um vendedor de salgados, de camisa branca e gravata (naquele calor absurdo, nunca é demais lembrar), com uma bacia branca enorme cheia de coxinhas, empadinhas, “cocretes” e outras coisas cujo cheiro de gordura, somado com o cheiro de velho do ônibus, deixou o ar ainda mais empesteado. E o cara se acotovelando conosco no corredor do ônibus, e os passageiros conversando alto enquanto o vendedor gritava “ÓI A COXINHA! ÓI O SALGADO!”, e eu e Bethania nos entreolhando sem acreditar que aquilo tudo estava acontecendo.

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Algum tempo depois o ônibus sai da estrada, entra no município de Mamanguape e, numa avenida, pára de repente. O burburinho entre os passageiros começa imediatamente:

- Oxe, o que é que foi?
- Ih, foi batida. Olhe ali o carro.
- Mas o cabra tem que tirar o carro da frente, ué.
- Vixe, vai tirar não, o hôme nem saiu do carro… num deve tá querendo tirar o carro do lugar por causa de perícia, seguro ou sei lá.

Aí um tiozinho mete a cabeça pra fora do ônibus e começa a gritar: “TIRE ESSE CARRO DAÍ SEU JUMENTO!”. O burburinho aumenta. O motorista buzina, depois começa a discutir com o cobrador. Duas senhoras desistem da viagem e descem do ônibus, resmungando. E como se o nonsense não estivesse suficiente, aparentemente o dono do carro resmungou alguma coisa que irritou o tiozinho da janela do ônibus, que logo disse:

- Ah é? Deixe esse folgado aí que ele vai ver só uma coisa!

E, esticando o braço até o meio das costas, saca de lá nada menos do que um facão. “Se ele falar mais alguma coisa eu vou lá e lhe encho de furo”, disse. E enquanto isso o motorista ia dando ré no ônibus pra tentar desviar, com o cobrador do lado de fora ajudando a manobrar e o tiozinho branindo seu facão (mais de exibido do que de corajoso), disparando bravatas tipo “na favela onde eu mora nêgo folgado igual esse aí já tinha morrido”. E eu pensando onde diabos fui me meter…

Muitas manobras depois o motorista consegue se desviar do acidente e o balaio segue viagem. E o tempo passa, a noite vem chegando, os passageiros começam a desembarcar e eu ali, perguntando o trocador (sim, tinha trocador) de 10 em 10 minutos se ainda faltava muito… até que, depois de quase duas horas na estrada nós, finalmente, chegamos.

(Continua…)