Depois do carnaval, de volta ao Canadá (mas "Closer" do que nunca)
De volta ao blog e de volta ao Canadá. A falta de tempo continua. Tive até que escrever parte deste post na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo...
Aqui tá até quentinho: cinco graus positivos. Tá uma beleza, nem precisa de luvas ou gorro pra andar na rua. E a neve já está derretendo.
As novidades das últimas semanas:
Carnaval no meio do mato
E, quebrando minha tradição de cinco anos frequentando eventos de mocidade espírita durante o carnaval, fui para Conceição do Mato Dentro (MG), ver a famosa cachoeira do Tabuleiro, a segunda maior do Brasil.
Chegamos de noite na cidade, as ruas cheias devido ao carnaval de rua. E, na minha frente, o inacreditável:
- Putz... pelamordedeus... não me diz que aquela danceteria ali chama-se "GINGA BYTE"!!!

Além disso, o cardápio de uma lanchonete próxima também era de lascar.

Pode-se dizer que eu realmente "me joguei" nesse carnaval: levei um tombo feio numa trilha, fui de cara no chão e ralei o joelho. O pior foi só o susto, porque o nariz sangrou um pouco, mas ficou tudo bem. Depois levei outro escorregão, dessa vez debaixo da cachoeira do Tabuleiro, e ralei um braço e o cotovelo nas pedras. Este carnaval deixou marcas profundas em mim...
Air Kelly
Na viagem de volta ao Canadá, no avião entre Belo Horizonte e São Paulo, tinha uma moça num tailleur vermelho-reluzente e com um ar de "nunca voei antes", que se sentou do meu lado. Como é de praxe, antes da decolagem, peguei meu escudo defletor de gente conversadeira (um livro) e enfiei rapidamente a cara nele antes que ela inventasse de puxar papo. Funcionou muito bem, por dois segundos:
- Dá licença, esse livro aí é daquele autor, Brian Weiss?
- Não, é de John Hershey - Respondi, secamente. Ela entendeu e não continuou o assunto.
O avião decolou e, discretamente, dei uma olhada na mulher. Era uma outra versão da Kelly, não parava quieta na cadeira, se benzeu umas três vezes antes da decolagem e, cinco minutos depois, tentou puxar papo novamente:
- Dá licença... você gosta muito de ler, é?
Pensei por um momento: faltavam uns 50 minutos até São Paulo, minha leitura logo ia ser interrompida pelo serviço de bordo, e ela com certeza ia me interromper várias vezes. Guardei o escudo defletor e resolvi ver no que aquilo ia dar.
E em menos de uma hora eu sabia tudo da vida dela: Sonya era uma jovem de 20 anos, nascida em Teófilo Otoni (MG), que falava com um sotaque de nordestina e trabalhava ilegalmente em Portugal desde o ano passado, junto com a irmã, num restaurante. Havia voltado ao Brasil para o carnaval e iria tentar novamente a entrada na terra lusitana com seu visto de turista, desta vez para ficar tempo suficiente para conseguir sua legalização.
Além disso, soltou suas pérolas: confundia as nuvens com montanhas, se indagava porque diabos o sol demorava tanto a se pôr, achava que a turbina empurrava o avião para cima, achava que era possível saltar de pára-quedas caso houvesse algum problema no avião... mas a melhor foi essa aqui:
"Sabe, esses padres e essas freiras falam tanto de sexualidade, mas eu acho que isso é uma coisa, assim, de cada um... tipo, o corpo de cada pessoa é igual São Paulo, cheio de lugares diferentes..."
Pra fechar com chave de ouro:
O Primo recomenda: Closer - Perto Demais
Outro dia eu escrevi num email: "De longe, o melhor filme de 2005". Lá no IMDB, no user comments, disseram exatamente a mesma coisa: "Hands Down Best Film of the Year". E o Vilaça lascou-lhe cinco estrelinhas.
O mais curioso é que Closer é um filme de amor. Mas ao mesmo tempo não é, e por isso mesmo acaba se tornando um. Entendeu? O amor está lá, sim, mas justamente nos momentos em que as pessoas não dizem "eu te amo". Por sinal, quando essas palavras são proferidas, os personagens estão sentindo de tudo: ódio, rancor, culpa, desejo... tudo menos amor.
É por causa dessa salada toda que eu escrevi no parágrafo acima que o filme é interessantíssimo: porque mostra, sem palavras, do que o amor é realmente feito, e como as manifestações de sentimentos truncados acabam sendo confundidas com ele.
Essa é a justificativa do elenco de ponta: Julia Roberts, Natalie Portman, Jude Law e Clive Owen, em atuações espetaculares. Elas tinham que ser, no mínimo, espetaculares, já que grande parte do conteúdo do filme está nas pequenas atitudes de cada um dos seus confusos e profundos personagens. Um bom exemplo é o primeiro beijo de Dan e Anna, no início da história, que diz mais do que qualquer diálogo.
Os diálogos também são magníficos. Todos muito inteligentes, ora brutalmente sinceros, ora simbólicos. Vários deles, inclusive, vão ganhando significado à medida que a história progride, deixando o filme ainda mais legal, até culminar no final, onde de repente tudo ganha um sentido todo novo. E ainda sobrou talento no diretor para adicionar um pouco de comédia, como na cena onde Dan e Larry conversam, anônimos, num chat pornô pela internet.
A trilha sonora poderia muito bem se resumir à belíssima e bem empregada música inicial (e final), mas traz também Smiths, Mozart, Prodigy das antigas (Smack my bitch up) e (surpresa!) altas músicas da Bebel Gilberto. Em português legítimo.
Altamente recomendado. Não perca. Mas vale aqui um alerta final: como bem disse o Vilaça, na melhor crítica que eu já vi ele escrever, é uma experiência emocionalmente dolorosa para a maioria dos expectadores...