Climb every mountain...
Aproveitando o feriado, eu, Bethania e dois casais de amigos nossos fomos para a Serra do Cipó.
O roteiro inicial previa o básico: ficar numa cachoeira o dia todo. Mas por alguma razão acabamos arrumando um guia e indo fazer... escalada.
Mas escalada mesmo, com cordas, mosquetões, etc.
Primeira parada - Melzinho na chupeta
A primeira via (trajeto escalável vertical) que o guia nos apresentou foi a mais fácil da serra, a então chamada melzinho na chupeta, devido ao seu grau baixo de dificuldade. Ela era baixinha (uns 9 metros de altura), mas eu não achei sequer possível subir, porque não via direito onde me apoiar.
Começaram os preparativos e fomos apresentados aos equipamentos: a "cadeirinha" onde você pendura equipamentos e amarra a corda de segurança (que, sozinha, vale uns R$ 1000), o pó de magnésio (pra secar as mãos) e as sapatilhas especiais. As sapatilhas são apertadíssimas, uns dois números abaixo do que você calça, e forçam com que você fique com os dedos do pé dobrados pra baixo. O que, curiosamente, ajuda a subir.
Depois, um dos guias subiu para "costurar" a via (passar a corda de segurança pelos grampos, já pré-colocados na pedra). Depois, era a hora da primeira pessoa subir. Por alguma estranha razão, eu fui o primeiro a me candidatar.
Depois de alguns metros de subida, eu já podia tirar algumas conclusões:
- Escalar é como jogar xadrez com a parede: você sobe, pára, olha, pensa onde vai por cada um dos pés e cada uma das mãos, calcula o impulso e o movimento, os "quandos", os "comos"...
- Conceitos simples da física, como o de "centro de gravidade", provam-se essenciais. Por exemplo: você escala com o corpo quase colado na rocha, e não afastado dela, como quando você sobe uma escada normal. Manter o corpo perto da pedra e, consequentemente, dos seus pontos de apoio (mãos e pés) dá um equilíbrio absurdo.
- Qualquer imperfeiçãozinha na pedra é um "degrau"! Mesmo as que você não acredita que possam ser usadas. Numa das subidas eu lembro de ter apoiado meu pé direito num cristal pequenino de quartzo, que estava só 2 centímetros para fora da pedra bruta.
- Escalar é muito, muito divertido!
No fim, consegui subir o "Melzinho" sem cair (ou seja, ficar pendurado pela corda) nenhuma vez. É uma sensação excelente...
Uma curiosidade: quem "batiza" a via é o escalador que, corajosamente, sobe pela primeira vez e martela grampos na pedra. O nome da via normalmente fala sobre alguma coisa do dia da escalada.
Um exemplo é uma via chamada "Lamúrias". O nome completo é "Lamúrias de um viciado", porque o alpinista que a completou estava no cume, e quando ia acender o seu último baseado, que levou cuidadosamente consigo até lá em cima, acabou deixando-o cair e ficou lá em cima, reclamando.
Segunda parada - Johnny Quest
Escondida numa clareira da mata estava a outra via, ainda fácil mas mais difícil que o "Melzinho": era a Johnny Quest, com uns 15 metros de altura. Logo que chegamos todo mundo olhou para a pedra e fez-se um silêncio enorme: aquilo era liso, não tinha como botar a mão. Esta parecia, definitivamente, impossível. Obviamente, não era. Eu, vaidoso pelo meu sucesso anterior, fui o primeiro novamente, achando que ia ser moleza. Mas aí a coisa foi diferente...
Pra mim, esta subida foi muito, muito, muito mais complicada que a primeira. Logo no começo do trecho, minhas 14 horas por dia digitando num computador começaram a aparecer: a minha força nos dedos havia sumido. Mas sumido mesmo, meus judiados tendões já não respondiam mais e eu não conseguia me agarrar direito nem mesmo nas fendas mais profundas da rocha (que não eram muitas).
Quedas, quedas e mais quedas. Incontáveis minutos pendurado, tentando recobrar o ritmo. A sapatilha apertada começou a apertar muito. No meio do trajeto eu dei um mau jeito no ombro. Meus óculos quase caíram umas duas vezes.
Depois de muita dor, suor e puxões na corda (pra me "ajudar" a subir), eu cheguei no cume. Depois de descer eu não conseguia fazer nada com as minhas mãos: meus tendões foram pra cucuia e eu fiquei com força zero nos dedos.
Agora, 6 horas depois, eu continuo com essa "mão boba". Exemplos de coisas que eu não consigo fazer sem um esforço absurdo e um bocado de dor acompanhando: abrir a porta do carro, puxar o freio de mão, usar uma faca pra cortar um pedaço de carne no prato de comida...
Depois Bethania foi escalar. As mulheres são, naturalmente, melhores alpinistas que os homens, porque tem mais elasticidade. Mas Bethania subiu o Johnny Quest com muita facilidade, até o instrutor elogiou a performance. Foi uma cena bonita de se ver (tirando minha humilhação, é claro).
No final, famintos, comemos um PF num restaurante (chamado "Cê Ki Sabe") e voltamos. Muito provavelmente teremos mais fotos de escaladas aqui no blog, porque eu gostei bastante da coisa e pretendo repetir a dose. Isto é, depois de uma reeducação dos meus tendões. Ai.