O Primo esquiando no Canadá
No sábado meus colegas de casa resolveram fazer uma pequena viagem até um ski resort chamado Blue Mountain. Passamos o dia todo e esquiamos até as 10 da noite, horário em que as pistas fecham.
E hoje, um dia depois, apesar das 10 horas de sono, foi com muito sacrifício que saí da cama para escrever este post. TODOS os músculos do meu corpo estão doendo devido ao esforço e as dezenas (sim, dezenas) de tombos. Mas eu estou louco pra fazer tudo de novo, porque esquiar é muuuuuuuuito bom.
Lá no resort a gente comprou um pacote que incluía aluguel do equipamento, passes para o lift (aquele teleférico que te leva pro alto da montanha) e um treinamento para iniciantes. O desafio já começa logo depois de calçar as botas para esqui, que são rígidas: você fica com um caminhar de quem fez cocô na calça e descer três degraus de qualquer escadaria fica impossível sem um corrimão.
Como faltava uma hora e meia para o início do treinamento, resolvemos experimentar os esquis na primeira pista, chamada Easy Lane. Apesar do meu caminhar desengonçado, fiquei olhando o que o pessoal fazia e depois escorregava alguns metros da descida, tentando repetir: "Hmm, então é mais ou menos assim que vira... hmm, e freia assim"... e, cheio de autoconfiança, resolvi pegar o lift e tentar descer sozinho.
Só que eu esqueci de um detalhe: a cadeirinha do lift não pára pra você descer no alto da montanha, então você tem que se levantar dela e sair esquiando. Mas como diabos eu ia sair esquiando dela se eu não sabia esquiar? O resultado, obviamente, foi meu primeiro tombo. Ainda tive mais três para terminar de descer a pista. Resolvi esperar a hora do treinamento na cafeteria mesmo. Mal sabia eu que, ao invés do lift, tinha também uma esteira rolante que eu poderia pegar para subir até metade da pista e que era muito mais fácil para principiantes...
Aí deu a hora do treinamento e, finalmente, aprendi alguns fundamentos do esqui, incluindo a famosa pergunta: onde diabos ficam os freios dessa coisa. Também graças ao treinamento eu peguei a dica mais importante do dia, sem a qual eu jamais teria aprendido a esquiar: lean forward, ou seja, incline-se para a frente. Mais no fim do dia, enquanto subia pelo lift, ficava vendo os outros iniciantes se esborrachando na neve: sempre de costas, exatamente por não observarem este sábio ensinamento, que lhe ajuda a distribuir seu peso corretamente, aumentando o equilíbrio e, consequentemente, o controle.
Já mais confiante (porque agora eu podia parar antes de bater dos outros), comecei a usar a esteira e descer, devagar, primeiramente tentando aprender a virar direito. Depois, passei a usar o lift e descer a pista toda, ainda com um pouco de dificuldade mas bem melhor do que no começo. "Ok, agora que já estou bom acho que posso tentar uma pista mais difícil", pensei.
Segui as plaquinhas até a pista chamada "Graduate", feita para quem, hã, já se "graduou" no treinamento de iniciante. Ela era 30% maior e mais inclinada que a anterior. Depois que desci do lift, lá em cima, fiquei completamente embasbacado com a vista: dava para ver todo o resort, com a baía Georgian ao fundo (com um farol na margem e tudo).
Esta foi a vista mais linda que já vi em toda a minha vida. E, obviamente, a anta aqui havia trancado a máquina fotográfica num guarda-volumes e deixado a chave com um outro colega... por isso não tenho foto. Mas essa abaixo, do site do Blue Mountain, tem um pouquinho da vista...

Mas era hora de vencer o pensamento de "eu vou morrer quando descer isso aqui" e começar a esquiar. Da primeira vez que tentei descer a pista toda, foram três tombos. Até perdi um dos esquis num deles. Aí minha meta passou a ser fazer a descida completa, sem cair. Precisei de umas seis tentativas...
Falando em tombos, foi nesta pista que tive o meu pior tombo do dia. Numa das descidas eu desisti de ficar fazendo curvas e fui direto: no final da pista, demorei a começar a freiar... e só parei na rede de proteção, bem do lado da fila do lift. Todo mundo ficou olhando quem diabos era aquele louco que não conseguiu parar...
Mas eu estava muito empolgado e, conforme me sentia mais seguro, tentava coisas novas. A última delas era um salto, usando um morrinho de neve que havia no final da pista, mas não consegui subir mais do que um palmo do chão.
Enquanto tentava, um colega me viu e saiu correndo para a cafeteria, onde estava o resto do pessoal (havia outra equipe de consultores, colegas nossos, esquiando naquele dia). Ele chegou gritando:
- Gente! O Zé é louco, tá tentando dar um salto lá na Graduate!
Foi por isso que quando cheguei na cafeteria levei um susto: todo mundo foi logo gritando e estava numa empolgação danada querendo saber se eu tinha conseguido, se eu já tinha esquiado antes, etc, etc. Aparentemente o marketing havia me tornado "o esquiador louco-revelação do dia" e todo mundo queria sair pra esquiar comigo.
Ah, olha aqui uma foto minha, já de noite, no alto da Graduate, com meu uniforme "esquiador Counter-Strike". Se um dia você for esquiar, siga meu conselho e leve uma balaclava como a minha: cobre o rosto todo, é uma maravilha contra o vento frio.

Mas a turma acabou voltando na Graduate para umas duas descidas e depois o pessoal começou a pedir que eu fosse com eles em outra pista, chamada "Happy Valley". Teoricamente, tamb&;eacute;m era uma pista de iniciantes e acabei concordando.
Subimos no lift e o lift foi subindo, subindo... e eu fui ficando preocupado. Lá do alto é que deu pra ver o tamanho da encrenca: a pista era umas quatro vezes mais longa que a Graduate, e cheia de curvas e inclinações traiçoeiras. E como era noite, os refletores projetavam a sombra dos pinheiros na neve branca e lembravam um cenário d'A Bruxa de Blair. "Pronto. Hoje eu morro aqui", pensei. Mas desci assim mesmo e contabilizei três novos tombos...
As pistas iam fechar às dez da noite e, apesar do cansaço, estava na fomeagem e voltei para a Graduate: depois de oito horas de "esquiagem" eu já estava bem habilidoso: descia em zigue-zague parecendo um esquiador de verdade e aproveitava a velocidade no fim do percurso pra ir parar apenas na fila do lift. Depois, saltava do lift lá em cima, fazia uma curva e ia direto para a descida...
Eu definitivamente quero fazer isso de novo.