Posts da categoria “Cinema”

Projeções diversas

2009-11-06 03:12:09 +0000

Meu entretenimento predileto em reuniões continua sendo acompanhar as formas que o datashow gera em cima das pessoas que entram na frente dele quando estão apresentando alguma coisa. Outro dia eu tive que segurar MESMO o riso ao ver meu chefe transformar-se instantaneamente em um SUPER-HERÓI MASCARADO ao ficar com a cara bem em frente a um losango vermelho do fluxograma que estávamos projetando.

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Domingo passado Bethania arrumou um filme que eu nunca havia ouvido falar chamado “Amantes” (Two Lovers) pra gente assistir. É a história de Leonard (Joaquim Phoenix), um cara com aquelas bicheiras psicológicas modernas (bipolar, borderline, sei lá) que se envolve com duas mulheres.

twoloversalp6-29-09

O filme vai indo super normal até que, no ÚLTIMO MINUTO, o tal Leonard – com apenas uma frase e um gesto – converte instantaneamente o filme de “draminha mediano” para “absolutamente genial”, daqueles que te deixam abobado por vários minutos olhando os créditos subirem, tentando absorver aquilo que acabou de ocorrer. Pelo nome e pela história, “Amantes” pode até parecer comédia romântica de locadora, mas não se engane: é um PUTA filme.

E não posso falar de Amantes sem relembrar a inacreditável entrevista que seu astro principal, Joaquim Phoenix, deu em estado absolutamente irreconhecível (tanto física quanto psicologicamente) para o David Letterman…

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Por sinal, na esmagadora maioria das vezes em que fui ver um filme sem saber absolutamente NADA sobre ele – sem sequer ler uma sinopse – eu me dei muito bem. Sinopses só servem pra estragar filmes. “Distrito 9”, por exemplo, que vi outro dia, foi bem marromenos porque ler a sinopse já entregou muito do que o filme tinha de melhor.

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Ainda no âmbito cinematográfico, em 2002 eu postei aqui neste blog, abobado, a seguinte frase:

Quando me perguntarem qual o melhor filme que já vi, direi “Evangelion”. E quando me perguntarem “Qual dos três filmes?” eu direi: Evangelion é um filme de 26 episódios.

E não é que outro dia um colega de trabalho de Bethania me avisou que estão fazendo um “rebuild” de Neon Genesis Evangelion em – tchan tchan tchan tchaaan! - quatro longas-metragens?

Os dois primeiros filmes já foram feitos, e esta semana eu consegui tempo pra assistir o primeiro deles. Veredito até agora: WHOA.

evangelionremake

Pelo que li os novos longas são bem fiéis ao original (como o “antes e depois” aí em cima está mostrando), embora incrementados com CG em 3D. E algumas cenas serão totalmente repaginadas pra ficar do jeito que o autor sempre quis.

Dos males (cinematográficos), o menor

2008-11-22 18:03:03 +0000

Esses dias eu estava reclamando de uma coisa que me incomoda desde 2006 e que eu já discuti longamente por aqui: a avalanche de remakes, continuações, filmes de livros, games e quadrinhos que Hollywood anda lançando. Aonde foram parar os roteiros originais? As histórias inéditas? Não se cria mais nada de novo? Acabou a criatividade?

Então eu vi o cartaz do filme abaixo e pensei que, bem, é melhor Hollywood deixar mesmo de lado os roteiros originais…

Cartaz de

O Primo não recomenda - Era uma vez...

2008-07-31 00:34:12 +0000

Antes de ver o filme eu só sabia de duas coisas:

  • "Era uma vez" era o "filme dos sonhos" de seu diretor (Breno Silveira, o mesmo de Dois Filhos de Francisco). Sabe aquele filme que o cara sempre quis filmar? Pois é.
  • O filme era sobre uma menina rica e um cara da favela que se apaixonam. E a história era ambientada no Rio de Janeiro.

Era Uma Vez 

Filmes sobre "amores difíceis", por si só, já são manjados. Este é um terreno difícil pra qualquer diretor, e os que se dão bem são os que conseguem dar uma roupagem diferente ao assunto - como em Dolls ou Amores Brutos ou Closer (de longe o melhor filme de amor que já vi). Mas eu estava esperançoso, afinal o diretor já tinha conseguido me fazer gostar de um filme sobre Zezé di Camargo e Luciano :)

A esperança não durou muito além dos primeiros instantes do filme, que abre com a voz do personagem principal dizendo:

- Da minha casa eu tenho a vista mais linda do Rio...

E aí vem a imagem da favela do Cantagalo. "Não, Breno, não vai por aí não!", pensei eu.

Mas dali em diante ficou parecendo que o diretor pegou uma lista enorme de "clichês para filmes de amor" e se empenhou em cumprí-la INTEIRINHA. Foi como disse a crítica de Ronaldo Pelli, no G1:

Após o início movimentado, (o filme) diminui o ritmo, quase estacionando. Na segunda metade, pouco ou quase nada acontece. O roteiro apresenta uma "barriga" imensa e tem diálogos bobos, além de se encaminhar para uma conclusão óbvia.

O pior é que o filme tem elementos simplesmente excelentes, como a fotografia (muito, MUITO boa) e a atuação dos dois protagonistas (muito, MUITO carismáticos, mas capados pelo roteiro a partir da segunda metade do longa). Mas mesmo sem os clichês e personagens capados, nada, absolutamente NADA seguraria o final do filme, que era não apenas óbvio como também ridículo - tanto que arrancou risadas de muita gente durante a sessão de cinema onde assisti o filme.

É por isto que o título deste post está "des-recomendando" o filme. E foi com muita surpresa que, lendo alguns blogs e conversando com algumas pessoas, percebi que muita gente adorou o filme, o final do filme e a mensagem clichezenta que ele passa. Sei lá, parece que o público brasileiro está acostumado com isso: emoções "de novela", roteiros conhecidos, estradas já trilhadas. Já até comentei meu incômodo com isto aqui no blog.

Bem, como tudo na vida, é questão de gosto...

Tacos, burritos, Batman, Imagem & Ação, hotéis, mar e peixes.

2008-07-22 02:34:14 +0000

O último fim de semana foi o "muito bom" em sua mais completa tradução.

No sábado recebemos amigos em casa, fomos todos para a cozinha e saímos de lá com um jantar mexicano absolutamente delicioso. Comemos, comemos, e aí quando nossos corpos já estavam saciados, fomos ao cinema saciar a alma com um bom filme: "Batman - O Cavaleiro das Trevas".

Só que o filme do Batman não era um bom filme...

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Na verdade, "Batman - O Cavaleiro das Trevas" é um EXCELENTE filme. E um marco histórico pois, finalmente, os super-heróis foram usados no cinema com a nobreza que realmente merecem (lembra do fiasco do último Homem-Aranha? Pois é). Saí do cinema com a impressão de que eu não havia assistido um filme de super-herói, e sim um drama psicológico da melhor qualidade construído sobre os mitos das figuras do Batman e do Coringa. Tanto que ele não é um filme fácil, do tipo "vá ver para se divertir e esquecer da vida", pois, como bem disse o Vilaça...

...como os personagens soam humanos, distanciando-se das figuras unidimensionais presentes em projetos similares, nosso investimento emocional na história cresce exponencialmente, já que passamos a temer por seus destinos.

Só não é o melhor de 2008 por causa de Wall-E.

Destaque para Maggie Gyllenhaal - que, diferentemente da Katie Holmes "Cruise", tem cara de ser humano normal - e para a trilha sonora, muito mais presente ao longo do filme do que o "normal" e que me deixou satisfeitíssimo ao apostar em texturas diferentes das de "orquestras padrão de filme" para indicar os momentos de suspense. Tanto que, em vários momentos, a música me lembrava as faixas mais assustadoras do "Telegraphs in Negative", do Set Fire to Flames (que fui obrigado a ouvir novamente, enquanto escrevo estas mal traçadas linhas).

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E no domingo casa cheia de novo, dessa vez para macarronada e partidinhas amistosas de Imagem & Ação. Impagável ver amigos de longa data fazendo mímica da "Britney Spears".

O problema foi que os serviços do Prof. Primo haviam sido evocados para a próxima segunda e terça-feira, então o fim-de-semana perfeito acabou pontualmente às 18:30, quando tive que deixar amigos, esposa e cachorro pra trás, me enfiar num táxi, depois num avião, depois em mais outro para, às duas da manhã, chegar à Fortaleza.

O sono era tanto que não me lembro exatamente como fui parar debaixo das cobertas. Mas me lembro que acordei, abri a janela e dei de cara com ISTO...

Fortaleza (de dia)

...e que, à noite, voltei pro hotel e dei de cara com ISTO...

Fortaleza (de noite)

...e que estou escrevendo este post levemente amolecido após jantar uma moqueca de peixe.

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Ah, e durante o treinamento eu fui ajudar um dos grupos a fazer um exercício. Olhei as caras femininas em frente ao computador e quis ser simpático:

- E aí, como está indo o grupo das meninas?

Olhei novamente para o grupo e completei, gaguejando?

- Erm... e do menino também?

Wall-E: no meio da discussão sobre fascismo, uma história fascinante

2008-07-09 16:32:13 +0000

Apesar da avalanche de avaliações positivas para o filme Wall-E, as críticas negativas tocavam em pontos bem contundentes, como esquerdismo radical, fascismo, etc. O pessoal deste tópico do Metacritic estava discutindo exatamente estas coisas quando o usuário AstroZombie entrou no meio do papo político para contar a fantástica história de sua namorada, que resumo a seguir:

Courtney assistiu o primeiro trailer de Wall-E assim que foi lançado - e chorou copiosamente quando o robozinho pronunciou o próprio nome. De fato ela chorava todas as vezes que via o trailer, exatamente no mesmo momento. A coisa era tão curiosa que ela até gravou um vídeo com seu choro e postou no seu blog.

Acontece que o pessoal da Pixar achou o vídeo. Primeiro ela recebeu emails de programadores da Pixar, se sentindo agradecidos pelo "elogio". Depois chegaram emails dos produtores. Depois, no natal, ela recebeu uma jaqueta da produção de presente, junto com um cartão de agradecimento. E então, em junho, a Pixar convidou Courtney para a mega-festa de encerramento da produção do filme (com passagens aéreas, hospedagem, tour pelos estúdios da Pixar, tudo incluído), aonde foi aplaudida pelas milhares de pessoas que trabalharam no filme após um discurso emocionado do diretor, que disse que soube que "estava no caminho certo" quando viu o choro de Courtney no YouTube.

Segundo o tal AstroZombie, a Pixar não tentou usar essa história com fins promocionais. Foi, de fato, um agradecimento da produção para alguém que ajudou a manter a equipe otimista até o fim.

Fiquei pensando... será que a Globo já fez isso com alguma senhora que chorou durante a novela? :)

O Primo recomenda: Wall-E

2008-06-30 15:51:12 +0000

Sim, assisti este final de semana. É o melhor filme da Pixar, melhor que Os Incríveis ou Toy Story. Infinitamente melhor. E mais: no meu ranking pessoal é o melhor filme de 2008 até agora.

A opinião da crítica parece ser a mesma. No Metacritic a nota do filme é altíssima: 93 (de 100), o que o torna o segundo melhor filme de animação, só perdendo para Ratatouille. E no ranking geral ele está no 19° lugar, à frente do primeiro Senhor dos Anéis ou (gasp!) do primeiro Star Wars. O filme é tão bom que Pablo Villaça, por exemplo, estava de cama após uma cirurgia mas mesmo assim escreveu sua crítica no site do Cinema em Cena - e deu cinco estrelas para o filme:

E como, depois de assistir à magnífica e apaixonante experiência representada por WALL-E, eu poderia deixar de escrever sobre este filme que parece representar uma espécie de mistura perfeita de Chaplin, Kubrick e Disney?

É sério, pessoal. Vá ao cinema e veja WALL-E. Não importa se for uma sessão dublada, não faz diferença nenhuma.

Em tempo: como bom nerd que sou, não podia deixar de fazer uma comparação que não me saiu da cabeça até agora. Os fanboys vão ter um troço...

Wall-E vs. EVA, PC vs. Mac

Se bem que o Wall-E faz o mesmo barulhinho do Mac quando dá boot. Esses caras da Pixar estão confundindo a gente!

Coisas do fim de semana

2008-05-20 02:22:12 +0000

A minha rotina de final da sexta-feira usualmente inclui aeroportos, táxis e, ao chegar em casa, ser recebido por um cachorro alucinado pulando na minha perna.

Só que desta vez eram dois cachorros...

20080519

O outro é Banzé, autêntico vira-lata, pertencente à uma amiga de Bethania, que estava "hospedado" lá em casa enquanto ela viajava. A estadia foi relativamente tranquila e me fez aprender duas coisas sobre cachorros:

  • Cães sentem ciúme. Muito ciúme. Pavlov quase morria de ódio quando eu brincava com Banzé.
  • Cães machos começam a "marcar território" desenfreadamente quando colocados no mesmo ambiente. Isso eu descobri ao ver uma mancha amarelada enorme no edredom que cobria a minha cama.

Aí, quase meia-noite, e lá fui eu fui ao supermercado comprar outro edredom para poder sobreviver à esse frio paulistano. Passando pelo estacionamento, vejo três caras em volta de um carro, portas abertas, som ligado. Um deles se levanta e, completamente de repente, começa a fazer a dancinha do Soulja Boy. Foi épico!

Ainda no ramo das dancinhas: sábado fomos levar os caninos no Ibirapuera e vi uma rodinha de adolescentes com trance "bate-estaca" tocando na maior altura e todo mundo dançando uma mistura psicodélica de Soulja Boy + "moonwalk" do Michael Jackson + Dance Dance Revolution. Perguntei um dos moleques e ele me disse que aquilo era um tal "Hardstyle".

Pelo que a Wikipedia me disse, existe toda uma cena dessas dancinhas "Hard-qualquer coisa" (esse vídeo mostra algumas variantes). A origem parece ser um tal "Melbourne Shuffle", que nasceu nos anos 80/90 e ganhou um impulso todo novo por conta do YouTube.

Anoiteceu, e a noite paulistana é famosa no Brasil inteiro pela sua diversidade: tem de tudo, pra todos os gostos, o tempo todo. Fato comprovado, já que no sábado à noite eu e Bethania fomos parar em... um evento beneficente do 1o Grupo Escoteiro São Paulo. Mas foi ótimo, tinha pizza à vontade e aprendemos com os escoteiros que dá pra cozinhar um ovo no espeto. Sim, nós também duvidamos. Sim, nós também fomos procurar vídeos disso no YouTube.

O domingo foi um dia preguiçoso, composto basicamente pelo edredom novo, eu, Bethania e o Discovery Channel. No final do dia fomos ao cinema pra ver "Quebrando a banca", baseado em livro homônimo (que, me disseram, é melhor que o filme) sobre moleques superdotados que vão à Las Vegas, contam cartas de blackjack e... bem, quebram a banca. Uma das cenas não me saiu da cabeça e não consegui dormir enquanto não entendi o assunto: era uma onde professor e aluno discutiam o chamado "Problema de Monty Hall", cujo enunciado é mais ou menos o seguinte:

Suponha que você está num programa de auditório e tem 3 portas para escolher. Em uma delas tem um carro; nas outras duas, cabras. Você escolhe uma porta - a número 1, por exemplo - e o apresentador, que sabe o que há atrás das portas, abre outra porta - a número 3, por exemplo - aonde há uma cabra. Daí ele lhe dá uma chance de trocar sua escolha para a porta número 2. É mais vantajoso trocar sua escolha de porta?

A resposta correta é totalmente contra-intuitiva: trocar de porta faz com que suas chances de ganhar aumentem para 66,6%. Eu levei um tempão para entender esta resposta, já que pra mim (e para 10.000 leitores de uma revista americana onde este problema foi publicado) as chances de ganhar trocando ou não de porta eram de 50%. É um bom quebra-cuca.

E hoje eu assisti Homem de Ferro!

2008-05-07 04:16:55 +0000

20080507

Um filme patrocinado por:

  • Dell
  • Burger King
  • Rolling Stone
  • Wired
  • Caesars Palace
  • Audi
  • Hummer

...e mais um monte de marcas que precisam ser um pouquinho mais discretas ao fazer product placement.

(Update: Foi o Davi que avisou que o nome certo é "product placement". Valeu!)

Irritando seu cliente ao tentar vender pra ele

2007-10-15 01:56:34 +0000

Agora a indústria do entretenimento atingiu um nível sobrenatural de falta de noção.

Ontem eu aluguei um DVD do filme Perfume, que por sinal achei bem chatinho. Mas o que foi chato MESMO foi a surpresa que tive ao apertar "Play": minutos e minutos de trailers... e comerciais, daqueles que não tem como pular.

Numa boa: eu estou pagando para ver filme, e não pra ver propaganda de pousada em Parati ou de secador de cabelo.

Depois eu vou assistir Tropa de Elite versão piratex e neguinho reclama...

Sessão Primo de filmes ruins com mulheres dando porrada

2007-10-08 23:24:26 +0000

Este ano tem sido bem ruim para o cinema norte-americano. Lançamentos horríveis, pouquíssimos roteiros originais, uma overdose de continuações toscas, adaptações de livros/filmes/quadrinhos/jogos que chegam a dar pena, etc. Assim, para comemorar este estado catastrófico de Hollywood, resolvi fazer uma sessão de "filmes ruins com mulheres dando porrada", pra poder fazer piadas aqui no blog.

As vítimas os escolhidos foram duas adaptações caça-níquel, uma de um jogo e outra de um desenho animado: Dead Or Alive e Aeon Flux!

Dead Or Alive (DOA - Vivo ou Morto)

Cartaz DOA Provavelmente as instruções do diretor para a equipe, ao começar as filmagens, foram: "temos que fazer um filme sexy, mostrar muita mulher de biquíni, muita porrada, mas tem que ser um filme pra criança! O filme NÃO pode ser classificado pra maiores de 12 anos!". Ele acertou na mosca.

Dead Or Alive é, basicamente, mulheres de biquíni quebrando o pau, ora entre elas mesmas, ora com uns personagens masculinos patéticos de roupas (e cabelos) coloridos, ora com centenas de milhares de inimigos com apenas 1 HP - aqueles, que desmaiam com um chute na canela, sabe?

É desnecessário dizer que eu não esperava um bom roteiro ou personagens legais, mas o pessoal abusou. Pra começo de conversa, o filme tinha vinhetas entre as cenas. Vinhetas!! Um letreiro bizarro "DOA" que voava pra dentro e pra fora entre uma cena e outra. Os atores também iam de mal a pior. Eu quase tinha um troço de tanto rir quando via, por exemplo, o ninja Hayabusa, que atuava como se fosse o Moss do "The IT Crowd". A personagem principal (Kazumi) é interpretada por uma atriz que mais parece um zumbi sem expressão. Se ela fosse a atriz mais bonita do elenco o destaque até se justificaria, mas ela é uma das mais sem-graça. Principalmente quando comparada àquela que me deixou babando o filme todo... Tina Armstrong.

Tina Armstrong
A Tina original dos jogos e a versão de "carne e osso". E que carnes!

Vou te contar, a Tina - interpretada pela belíssima Jaime Pressly - ficou de cair o queixo. Coincidentemente, eu só jogava Dead Or Alive no fliperama com a Tina. Lembro que até andava com uma lista dos golpes e combos dela, dobradinha na minha carteira, pra consultar quando eu fosse jogar (pô, eram dezenas de golpes, e eu era um adolescente nerd! Eu mereço um desconto!).

O final do filme - que não dura nem 1:15h - não poderia ter sido mais manjado. O vilão aciona uma autodestruição, aparece um contador regressivo e todos escaparam no último minuto de uma explosão que aniquila tudo - mas não sem antes encher o malvadão de porrada.

Pablo Vilaça, meu "deus" particular do cinema (como diz Bethania), deu ao filme a classificação mínima - uma estrela, e falou mal de tudo. Tenho pena do Vilaça, que tem que avaliar a sério filmes que nem eram pra ser sérios.

Ah, e tem o trailer no YouTube, pra vocês sentirem o nível.

Aeon Flux

20071006_3 Aeon Flux foi a "zebra" da minha sessão cinema. Eu esperava um filme horrível, e o que vi foi até interessante!

A primeira boa surpresa vem do ponto de vista estético. Aeon Flux é um filme muito bonito. Tudo é elegantemente "muderno": as roupas, as locações (muito bem escolhidas por sinal), os diálogos, a tecnologia e armamentos inventados para a época futurista aonde o filme se passa, etc. Além disso, o roteiro gira em torno de um mistério interessante - tanto que nem precisei prestar atenção nas "belezas naturais" de Charlize Theron para não dormir.

Claro que a Aeon Flux original, dos desenhos de Peter Cheng, é um personagem muito mais legal do que o que Charlize Theron representou. Nos desenhos, Aeon é mais fria, mais ágil na "hora do pau" e tem um toque fetichista muito legal que não apareceu em momento algum do filme. E o roteiro, além de algumas inconsistências, é muito reticente em alguns momentos, o que acaba deixando tudo meio blasé demais. Mas, somando tudo e noves fora, Aeon Flux é legal - embora os desenhos originais da MTV continuem sendo melhores.

O Primo recomenda - O Balconista 2

2007-10-01 01:33:43 +0000

Os quatro atores principais de O Balconista 2

Antes de mais nada eu devo agradecimentos inflamadíssimos a Norton, que me mostrou o primeiro balconista e que gentilmente me cedeu uma cópia do segundo filme - filme este que eu havia esquecido completamente. Não fosse ele e eu não veria essa obra-prima.

Eu estava lendo as opiniões do Metacritic e alguém disse que "O Balconista 2" é um "feel good movie", ou seja, um filme daqueles que você assiste e sai se sentindo feliz e de bem com a vida. E é a mais pura verdade. Acontece que é um "feel good movie" sobre balconistas de lanchonete (um dos empregos mais sem futuro do universo) cheio de piadas sobre negros e deficientes físicos, sarcasmo sobre o conservacionismo cristão, histórias de sexo com animais e comentários grotescos sobre clítoris gigantes e "ass to mouth" (se você não sabe o que é isso, não queira saber).

Mas esta faceta esquisita é apenas um dos lados do filme. Tem também o lado nerd, que é divertidíssimo e enche o roteiro de referências cinematográficas. A paródia de Jay (da dupla Jay e Silent Bob) do filme "O Silêncio dos Inocentes" me fez rir como há muito tempo eu não ria de um filme. Tem também inúmeras referências ao primeiro filme, piadas sobre Guerra nas Estrelas - incluindo a clássica disputa de quem atirou primeiro, Han Solo ou Greedo -, Transformers ou O Senhor dos Anéis. E a nerdice não é sem propósito: conforme o filme progride, várias piadas e referências mostram função. No fim do filme, por exemplo, a famosa frase "um anel para todos governar" é usada num contexto simplesmente genial e completamente amarrado com os dilemas propostos pelo roteiro.

E é no roteiro que reside a genialidade dos filmes de Kevin Smith. Alguns diálogos entre Dante e Randal são absolutamente geniais, e ao mesmo tempo completamente factíveis. Some-se a isso o excelente trabalho dos atores (todos, sem exceção) e os personagens nunca parecem atores recitando um roteiro. Eles são tão "de verdade" que realmente se parecem com os funcionários de um McDonalds da vida. E, no fundo, é isso que permite que, no meio do bestialismo e das piadas pornográficas, o público se identifique com os personagens e seu dilema principal: o que é melhor? Viver uma vida pré-programada, a vida que "todo mundo leva", ou viver uma vida que seja do tamanho dos seus próprios sonhos? Independentemente da resposta, ao terminar de assistir, você vai se sentir feliz - mesmo se for um balconista.

Se quiser, tem um trailer no YouTube. E se ver o filme todo, não deixe de ler os agradecimentos de Kevin Smith nos créditos finais. Até eles são engraçados. E agora eu vou ficar cantarolando "goodbye horses" e me lembrando de Buffalo Bill até semana que vem...

Grandes questões do universo

2007-09-28 17:26:48 +0000

Kottke levantou uma questão realmente intrigante:

Suponha que você virou papai e é cinéfilo. Quando seu(sua) filho(a) tiver a idade apropriada para começar a ver filmes, em que ordem você passaria para ele/ela os seis filmes da série Star Wars? Pela ordem original de lançamento (Star Wars, Império contra-ataca, Retorno de Jedi, Ameaça Fantasma, Clones, Sith) ou pela cronologia dos filmes (Ameaça Fantasma, Clones, Sith, Star Wars, Império contra-ataca, Retorno de Jedi)?

Pra mim a resposta é óbvia: pela ordem original de lançamento. Primeiro meu filho vai ver os clássicos, depois os mais porcaria. E você, o que acha?

Cinema ruim, robôs, decepções e arte moderna.

2007-07-23 20:20:00 +0000

Sexta-feira eu assisti Transformers. Que é um filme bem mais ou menos. Eu fui animado por ver os reviews que alguns blogueiros postaram após uma pré-estréia, mas me decepcionei.

Transformers é um episódio de Malhação com eventuais aparições de robôs.

O roteiro é patético e só não cai aos pedaços por causa do carisma de Sam Witwicky, o personagem principal (interpretado por Shia LaBeouf). Falar dos efeitos especiais é desnecessário - bons efeitos são commodities em qualquer filme não-independente feito depois de 2001 - mas o diretor exagerou. O combate final, por exemplo, fica impossível de acompanhar: tem coisas demais acontecendo na tela e roteiro de menos para dar sequência àquilo tudo.

Por sinal, acabei decepcionado em todas as vezes que fui ao cinema este ano. O que diabos aconteceu em 2007? Onde estão os filmes realmente bons? Eu devia ter lido o Vilaça, que deu duas estrelas pra essa joça, antes de gastar R$ 7 no ingresso...

No domingo eu finalmente visitei o Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho, à uma hora de carro de Belo Horizonte.

O Inhotim é um mashup (hehe) de museu de arte moderna com parque e jardins planejados. É um ótimo programa para um domingão de sol.

O acervo do Inhotim é excelente, mas uma obra em particular me chamou a atenção: foi Samson, de Chris Burden (foto ao lado). Samson ("Sansão") é uma escultura conceitual, composta por uma máquina com dois pilares de madeira pressionando as paredes laterais da galeria. No meio deles há um martelo hidráulico de 100 toneladas, que fica conectado à roleta que dá entrada para a galeria. O funcionamento (mostrado com detalhes neste vídeo) é assim: Cada pessoa que passa pela roleta aciona um mecanismo que aciona o martelo e afasta, milímetro a milímetro, os pilares que pressionam as paredes. Assim, se passar gente suficiente pela roleta, a escultura vai acabar demolindo a galeria.

Genial. É por isso que eu adoro arte moderna...

Quarteto Fantástico - Clássico da Sessão da Tarde ou comédia ruim da Warner?

2007-07-10 01:34:00 +0000

No fim de semana eu assisti o Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado.

Dizem que o roteiro gira em torno do Quarteto investigando anomalias por todo o planeta (provocadas pelo Surfista Prateado) e, no fim, tentando salvar a Terra de ser devorada por Galactus - pateticamente representado por uma nuvem preta.

Mas a história real poderia ser resumida mais ou menos assim (leia imaginando a voz do locutor das chamadas da Sessão da Tarde):

"Uma galera muito pirada! Tem penetra no casamento do Doutor Fantástico com a Mulher Invisível: os vilões Dr. Destino, Surfista Prateado e Galactus aprontam as maiores confusões, e o Quarteto precisa salvar a terra - antes de se tornarem felizes para sempre!"

Há tempos eu não via um filme tão ruim. Eu podia jurar que aquilo era uma comédia pastelão, escrita sobre um roteiro rejeitado para um episódio de "My Wife and Kids" ou "The King of Queens". Eu quase podia ouvir as risadinhas enlatadas entre uma piada (sem graça) e outra (horrível).

Mas nem tudo foi ruim. No final da sessão eu ganhei um brinde: uma máscara do Coisa e outra do Tocha Humana! UAAAU!


"Tá na hora do PAU!"

O produto de uma mente ociosa há 25 dias

2007-05-09 02:43:00 +0000

Adicionei mais uma coisa para o ranking das coisas que realmente me irritam: DVDs de locadora que te obrigam a assistir os traileres.

Já alugou um destes? Você taca o DVD pra tocar e ele passa 10, 15 minutos de trailers. "Next" não funciona. "FF" não funciona. "Menu" não funciona.

É incrível como o pensamento da indústria do entretenimento parece ser: "Você vai se divertir com nossos produtos. Mas tem que ser do jeito que a gente quer."

Falando em indústria do entretenimento, eu vi o Homem-Aranha novo. Engraçado como a primeira metade de um filme pode ser excelente e a segunda metade ser um lixo total.

Vou dar um exemplo (não é spoiler, pode ler): numa das cenas da segunda parte, o Aranha chega para salvar o dia. A tomada mostra o aracnídeo pulando de sua teia e correndo por um telhado... com a bandeira dos US and A como pano de fundo. A música "gloriosa" aumenta e as pessoas na rua aplaudem.

Outro dia, na cadeira do engraxate do Aeroporto de Ribeirão Preto (?!), eu li uma matéria na Folhinha, da Folha de São Paulo, sobre os jovens que rejeitam tudo que é estrangeiro. Não entram no McDonalds, só escutam música brasileira, só se vestem com grifes nacionais e tal.

Pra mim estes jovens são uns idiotas.

Antes que as pedras que vocês, mentalmente, jogaram sobre mim me acertem, eu me justifico: No mundo de hoje, principalmente sob o ponto de vista cultural, não faz o menor sentido você classificar as coisas por causa do país de onde elas vêm. Se você pensar em termos de Internet e globalização, não existem países do ponto de vista cultural. Não dá pra separar músicos, atores ou escritores em prateleirinhas com os nomes dos lugares de onde eles vieram: é como se, no universo cultural, Tom Zé, Thom Yorke e Thomas Bangalter estivessem lado a lado. Segmentar o mundo cultural em países, e restringir seu consumo a apenas um deles é, para mim, um contrasenso enorme, é jogar fora o que de melhor o mundo moderno nos oferece: cultura de todos os tipos, jeitos, países, raças e cores. E o que é pior: só pra pagar uma de patriota.

Sim, a cultura brasileira é rica e digna de apreciação. A dos outros países também, inclusive a dos US and A, que todo mundo adora odiar ultimamente. Em termos culturais, a única comparação que vale é a de mentes, não de lugares de nascimento.

Falando em "US and A", alguém mais já reparou que, no Street Fighter 2, quando o narrador fala o nome dos países, a narração para a extinta União Soviética é a que ele faz com menos empolgação?

Para os outros países é como se ele botasse uma exclamação no final: Japan! Brazil! Spain! USA! Mas na hora de falar da terra do Zangief, ele desanima: U.S.S.R...

O Primo NÃO recomenda - Ó Paí, Ó

2007-04-02 11:59:00 +0000

O meu rol de piores filmes de todos os tempos inclui algumas pérolas, como Pecado Original, Anaconda, Diário de uma louca e outras maravilhas.

Ontem eu adicionei a esta lista Ó Paí, Ó, produção brasileira de Monique Gardenberg que é adaptação de uma peça de teatro de mesmo nome.

Pra ir direto ao ponto: o filme simplesmente NÃO tem roteiro e é apenas um amontoado de cenas com personagens caricatos da Bahia: o travesti, a morena sensual, a baiana do acarajé, o trambiqueiro, a "crente do rabo quente", etc. Todas as cenas do filme consistem, basicamente, destes personagens interagindo uns com os outros de um jeito que devia soar "espontâneo e brasileiro", mas que ficou parecendo apenas gritaria e bate-boca sem sentido. É como se aquelas cenas de favela das novelas da Globo tivessem sido filmadas com lentes melhores e com os atores falando palavrão.

Pra piorar a falta de noção do roteiro, o filme ainda acrescenta, sem razão aparente, algumas cenas de musical. Imagine só: de repente, todo mundo no boteco pára o que está fazendo e começa a dançar. Por "todo mundo" entenda-se: o travesti, a morena sensual, o trambiqueiro, a "sapatão", a baiana, etc, etc. Era pra ser uma cena bem "brasileira", acabou parecendo a cena dos monstros dançando com Michael Jackson no videoclipe de "Thriller". Algumas músicas da parte "musical", inclusive, são cantadas pelo próprio Lázaro Ramos. Nada contra o cara, ele é um dos melhores atores da atualidade, mas a voz dele...

E então, no final do filme, depois de bastante música, dança e bate-boca, inventaram um "clímax" narrativo TÃO desnecessário, TÃO desencaixado do resto da história, que acabou sendo apropriado. Afinal, um filme ruim daqueles precisava de um final à altura (ou seja, horrível).

Por alguma estranha razão o Omelete falou bem. E o Vilaça ainda não se manifestou.

Os 300 Gestores de Esparta

2007-04-01 00:32:00 +0000

Ontem, ao sair do cinema, eu comentava com Bethania:

- Putz, esse "300" é um prato cheio pros oportunistas dos livros de gestão. Já estou até vendo, daqui a pouco alguém edita um livro no estilo "O Vendedor Pit-Bull de Esparta" ou "O estilo Espartano de Gerenciamento - Explore as sinergias da sua equipe e encare o mercado com um exército de alto desempenho"...

Aparentemente eu previ o futuro: hoje, no Digg, dei de cara com um link chamado "10 lições que '300', de Frank Miller, pode lhe ensinar sobre sucesso em negócios online"...

Piadas à parte, "300" é um filme belíssimo. O visual forte reflete na história estilo "sou macho pra caraio": a testosterona só falta pular da tela. É uma bela adaptação do trabalho de Frank Miller.

E qual não foi o meu susto ao conferir, como de costume, o Pablo Vilaça. Ele surpreendeu e, ao criticar o filme, escreveu a pior crítica de toda a sua carreira. É um texto inacreditável, onde ele abre com comentários absurdos que mais pareciam um post do KibeLoco...

"E “homoerótico” é um adjetivo inevitável ao analisar 300, com seu exército de homens de torsos nus e depilados, sungas de couro e capas vermelhas esvoaçantes – um visual que, imagino, logo começará a ser explorado por dançarinos “exóticos” (troque o “x” pelo “r”) e por sexshops em todo o mundo. Aliás, se o Village People ainda existisse, sou capaz de apostar que o policial, o operário, o índio e o marinheiro logo ganhariam um companheiro espartano (que poderia sinalizar a letra “A” do “Y.M.C.A.”)"

Depois descamba pra ofensa gratuita...

"Dito isso, não há absolutamente nada de revolucionário na realização de 300, ao contrário do que vários imbecis andam propagando por aí depois de comprarem esta tese dos publicitários da Warner. Infelizmente, nos dias de hoje, quando qualquer um pode se apresentar como “crítico de cinema” e publicar seus textos em sites voltados para a “cultura pop” (eufemismo para “qualquer coisa que possa nos render dinheiro”), os estúdios têm conseguido cada vez mais transformar estes espaços em verdadeiras extensões de seus departamentos de marketing – e já se foi o tempo em que podíamos acreditar na célebre frase de Pauline Kael: “Nas Artes, a única fonte confiável de informações é o Crítico. O resto é publicidade”."

E fecha com uma opinião completamente sem fundamento nenhum que não o seu próprio juízo de valor:

"Longe de ser uma obra perfeita, 300 é moralmente repreensível e narrativamente frágil. Ainda assim, é um filme contagiante cuja beleza plástica chega quase a compensar por todos os seus demais problemas. E quem dera se todas as produções problemáticas de Hollywood pudessem ser tão bonitas."

Definitivamente, esse não era o Vilaça que eu admiro tanto. Fiquei tão desconcertado ao ler a crítica que até me dei ao trabalho de fazer o (longo) cadastro no site só para deixar um comentário na crítica.

A mulher mais bonita do mundo

2007-01-04 20:31:00 +0000

Toda vez que eu menciono o Pablo Vilaça eu tenho que ouvir um punhado de gozações. As pessoas dizem que ele é o meu "deus particular" do cinema.

O que eu posso fazer? Eu concordo com ele em 99% das vezes que ele diz se um filme é bom ou ruim, portanto eu sempre dou uma passadinha no site do Cinema em Cena pra não perder tempo nem dinheiro vendo filme ruim.

Aí, pra provar que ele realmente sabe das coisas, olha o que saiu no blog dele, na série de posts sobre musas do cinema:

"(...) Mas se considerarmos apenas beleza física, não há discussão: a mulher mais bonita do mundo é Jennifer Connelly, pela qual sou apaixonado desde 1986, quando a descobri em "Labirinto".

Ah, Jennifer Connelly..."

Então era isso!!

2007-01-03 17:52:00 +0000

Após lançar o primeiro Matrix, Larry Wachowsky - que gostava de frequentar clubes de BDSM vestido de mulher - ficou perdidamente apaixonado por uma dominatrix, terminou seu casamento e agora vive como travesti ao lado da nova parceira.

Parece piada mas, segundo a Rolling Stone americana é exatamente por causa disso que os Matrixs Reloaded e Revolutions foram umas porcarias. A leitura é longa, mas é interessante.

(Via Fazed)

Filmes

2006-05-30 01:08:00 +0000

Filmes com os X-Men são mais ou menos como sexo: mesmo quando é ruim, é bom.

Foi o que aconteceu com o X-Men 3. O roteiro é um queijo suíço de furos. Por exemplo: O Ciclope desaparece e ninguém está nem aí pra onde ele foi parar... a Fênix, que deveria ter uma personalidade com muito mais iniciativa que a Jean Grey normal, passa metade do filme acompanhando o Magneto com uma cara de "pastel" completamente incompatível com o seu personagem... a história paralela das crises da Vampira com seus poderes fica tão marginal que perde o sentido...

Mas no final o X3 acaba sendo divertido de assistir. E uma coisa: é impressão minha ou a Fênix ficou igualzinha a Kim Gordon??

Aí no domingo eu achei na locadora um filme que sempre quis ver: Cubo, produção canadense de 1997, baratézima, que foi rodada em 20 dias usando como cenário apenas uns cubos gigantes, aonde os personagens encontravam-se presos.

Via de regra, estes filmes tem sempre duas possibilidades: ou são mesmo horríveis ou são incrivelmente bons. Cubo é tão bom que entrou pro rol dos melhores filmes que já vi. Altamente recomendado.

Intuição Cinematográfica

2006-03-09 05:38:00 +0000

O livro Blink, do jornalista Malcom Gladwell (que eu já citei aqui), tem várias histórias sobre "intuição à primeira vista". Uma delas é sobre uma especialista em arte que, após ver uma estátua por apenas dois segundos, teve a certeza (correta) de que ela era falsificada - embora não soubesse justificar o porquê desta impressão.

Coincidência ou não aconteceu isso às vezes acontece comigo. E sempre tem algo a ver com filmes.

Quando eu estava no Canadá um dos nossos passatempos preferidos de domingo era ir ao cinema. Numa destas idas eu passei ao lado do cartaz de Crash, que na época estava estreando no hemisfério norte. O cartaz não tinha nada de mais. Na verdade, tinha de menos: era apenas o título por sobre um fundo obscuro, meio preto, meio marrom. Não dizia nada da história, não mostrava atores, não dizia nada.

- Esse filme é excelente. Eu tenho que ver esse filme - Foi o que pensei no mesmo instante.

Eu ainda não assisti, mas Crash ganhou cinco estrelas do Vilaça e foi bem em todas as críticas que li - e acaba de desbancar o favorito Brokeback Mountain ganhando o Oscar de melhor filme e mais duas estatuetas de brinde.

Domingo passado aconteceu de novo: minha irmã apareceu com o DVD de Reencarnação lá em casa e resolvemos assistir. Aí, no momento em que vi o menu inicial do DVD eu me senti péssimo:

- Ah, não quero mais ver esse filme...

Acabei assistindo porque ninguém compartilhou da minha opinião. Não deu outra: Reencarnação entrou para o meu seleto rol de filmes abominantemente horríveis (onde figuram pérolas como Anaconda, Pecado Original e Diário de uma Louca). E olha o que eu li no Omelete:

"Fracasso em todos os mercados onde foi lançado, o filme não merecia tamanho desprezo. Foi prejudicado pela polêmica ocorrida durante a sua primeira sessão, realizada no Festival de Veneza em setembro de 2004. Nela, a película foi recebida com frieza e alguns críticos deixaram a sala no meio da projeção. Algumas vaias também irromperam da platéia."

O pessoal do Omelete acha que isso foi por causa da cena de Kidman e do garoto, nus, na banheira. Eu acho que é pelo conjunto da obra mesmo.

Falando em filmes...

Brokeback Mountain, também conhecido na boca pequena como "o filme do cowboy viado", é simplesmente excelente.

O Vilaça também empolgou e comparou a história dos dois, hã, cowboys viados com grandes romances impossíveis da humanidade, como Romeu e Julieta. De início eu achei que ele estava forçando a barra, mas admito que ele tem razão. Acho que desde que assisti Dolls eu não via uma história de amor tão intensa e bonita.

Eu saí do filme tão fascinado que Bethania ficou assustada com a minha reação. Mas calma, meus amigos, nada mudou e continuo sendo o primo heterossexual de sempre. Só que agora com menos preconceitos.

Ponto Final, novo filme de Woody Allen, também é excelente. A história é, digamos, "redondinha": o filme abre, desenvolve e fecha com tudo encaixando direitinho. Os personagens são outro destaque, ricos, profundos, complexos e bem interpretados por todos os atores. Os diálogos também são sagazes, precisos e deliciosos.

Só que eu me senti meio mal ao sair do cinema. É que a rotina dos personagens incluía coisas como óperas e exposições de arte, e por alguma razão eu acabei me identificando com isso e me senti uns 20 anos mais velho - E nunca é divertido sentir a inexorabilidade do tempo sobre os ombros.

Antes do fim do carnaval também deu pra rever Pulp Fiction, que eu só assisti uma vez há muuuuuuito tempo. Nesta segunda exibição, o filme fez muito mais sentido pra mim - mas perdeu um pouco da sua aura de "filmão", que me pareceu um pouco injustificada.

Detalhe que Pulp Fiction foi lançado em 94 e tem, portanto, 12 anos de idade. E parece que foi ontem que eu o assisti da primeira vez. Alguém aí disse inexorabilidade do tempo?

Post de Carnaval

2006-02-28 06:15:00 +0000

É hora do trocadilho infame: escrevo este post enquanto a Mangueira entra...

Este blog ficou um bom tempo em silêncio. Na semana anterior, da segunda até a quinta eu fiz maratona de "hora besta" e trabalhei até a meia-noite todos os dias. Eu basicamente dormi, acordei, trabalhei 14 horas e dormi, por quatro dias seguidos, sob uma quantidade absurda de stress e pressão.

Aí, finalmente, veio o feriado: todo mundo se mandou de Belo Horizonte para curtir a folia em outros lugares. A cidade está um deserto, perfeita para o que eu mais quero fazer nestes quatro dias: descansar.

Já sinto os efeitos colaterais: estou cabeludo, barbudo e ardido de sol de beirada de piscina.

Também comecei a tirar meu atraso cinematográfico: assisti Syriana e Orgulho e Preconceito. Syriana é bom, mas muito confuso e politizado. E Orgulho e Preconceito transformou um velho clichê romântico - o do ódio que na verdade é amor escondido - em um filme maravilhosamente bom e imperdível. Altamente recomendado.

São Paulo tours

2006-01-30 04:14:00 +0000

Novidade da semana: quarta foi feriado municipal em São Paulo e eu pude, finalmente, fazer algum turismo nessa cidade. Então fui no MASP - e tive duas surpresas.

A primeira é o quanto uma pintura famosa fica diferente quando vista no original. É como se fosse uma obra completamente nova, com detalhes novos, nuances novas, uma dimensão toda inédita. Aí eu entendi o porquê da badalação de museus famosos (como o Louvre).

A segunda surpresa foi o tanto que eu gostei de passar uma tarde num museu. Eu perambulava pelas galerias igual criança pequena na seção de brinquedos do supermercado: Olha! Um quadro de Bosch! Iêêêêê!!!!!. Basicamente, eu passei horas imóvel, olhando quadros, fotos e esculturas, e achei aquilo tudo muito divertido. Eu realmente estou ficando velho.

Pra piorar essa sensação de "ficando velho", na noite anterior eu fui mexer no Orkut e descobri que Anderson Noise iria tocar em São Paulo com ninguém menos que o Pet Duo - o famoso casal de DJs que toca techno exatamente do jeito que eu gosto de ouvir (ou seja, muuuuito pesado). Era o lineup dos meus sonhos, e era naquela noite.

Aí o idoso aqui viu que eles só iam tocar às cinco da manhã, pensou que o táxi ia ficar uns R$ 60 (muito caro), e foi dormir.

Se arrependimento matasse eu já tinha reencarnado umas 30 vezes.

Depois do MASP eu aproveitei que estava na Av. Paulista e fui no Stand Center, o famoso "shopping de muamba". Pela quantidade de eletrônicos baratos e de chineses, eu só conseguia me lembrar do Pacific Mall (o primeiro lugar que visitei em Toronto). Mas foi uma visita rápida porque o shopping já estava fechando.

Filmes do final de semana:

- "As Loucuras de Dick e Jane": Comédia que é uma boa surpresa - mas não por ser engraçada e sim pelas referências à economia e política americanas. Tem paródia dos escândalos contábeis das grandes empresas americanas, tem piadas com a cara do Bush...

A piada final é excelente. O problema é que assim que ela é citada, eu caí na gargalhada. Mas apenas eu - o cinema inteiro continuou mudo, sem entender do que se tratava. Perdeu a graça.

- "Se eu fosse você": bomba do cinema nacional, que só não foi um fracasso completo pela boa atuação dos protagonistas, principalmente de Tony Ramos. Antes que me acusem, só fui assistir porque estava com uma turma de amigos. Mas me senti lesado no final, viu...

A Última Pergunta (ou: filmes vs. livros)

2006-01-23 21:30:00 +0000

Eu nunca tive muita paciência para livros.

Não que eu não goste de ler, mas é que, em se tratando da arte de contar histórias, eu preferia muito mais os filmes do que os livros, em grande parte por pressa. É que, numa análise superficial, é bem mais rápido assistir a trilogia de O Senhor dos Anéis no cinema do que passar os olhos, letra a letra, pelas milhares de páginas da obra de Tolkien. E olha que são umas nove horas de filme no total.

Eu já sabia que este meu argumento era falho. Mas foi hoje que percebi o quanto ele é falho.

Tava vendo os links no populicio.us e tinha um deles intitulado The Last Question (A Última Pergunta) - É um conto de Isaac Asimov que eu nunca tinha lido e que estava prefaciado no site mais ou menos assim:

Isaac Asimov foi o autor de ficção científica mais prolífico de todos os tempos. Em cinquenta anos ele produziu, em média, um artigo de revista, conto ou livro novo a cada duas semanas, a maioria deles numa máquina de escrever mecânica. Asimov considerava "A Última Pergunta" (...) como o melhor conto que já escreveu. Mesmo que você não tenha conhecimento científico suficiente para entender todos os conceitos apresentados, a história possui um final mais impactante do que qualquer outro livro que já li. Não leia o final da história antes!

Como o conto é curtinho, li rapidamente... e meu queixo foi no chão logo após ver as palavras finais da história. Há tempos eu não lia nada tão genial quanto aquilo, e pelo visto vão passar ainda mais muitos anos até que eu leia algo tão genial novamente.

Aí eu lembrei dos filmes e percebi a dimensão do meu erro ao comparar uma coisa com a outra: um filme sobre este conto JAMAIS faria jus à sua grandiosidade. Esta é uma história cuja dimensão só pode ser concebida mentalmente quando lida - imagens num filme representariam apenas uma fração da história - até limitariam a percepção dela - e no final estragariam tudo.

Eu recomendo que você pare o que estiver fazendo e vá ler o conto. Tem uma tradução meio tosca aqui. E, repetindo: NÃO LEIA O FINAL antes!

Cinema, Música e Arte

2006-01-10 20:25:00 +0000

Glitch Browser. Página que carrega uma página pra você, tomando o cuidado de estragar levemente o seu conteúdo. O resultado? Arte.

O link ali em cima faz o Glitch Browser "estragar" a página com imagens interessantes da semana do Flickr. Elas ficam ainda mais interessantes, por sinal.

Por outro lado, vejamos os cinco primeiros filmes do ranking das bilheterias americanas de 6 de janeiro:

1. Hostel
2. As Crônicas de Nárnia - O leão, a feiticeira e o guarda-roupa
3. King Kong
4. As Loucuras de Dick e Jane
5. Doze é Demais 2

Destes, apenas Hostel possui roteiro original - Nárnia é baseado no livro homônimo, escrito por C.S. Lewis, King Kong é um remake, As Loucuras de Dick e Jane é uma releitura da série original de 1979 e Doze é Demais 2 é, obviamente, uma continuação.

Além disso, o número de filmes inspirados ou baseados em "terceiros" nunca foi tão grande - seja de livros (O Senhor dos Anéis, Harry Potter) ou de quadrinhos (Homem-Aranha, Batman, Sin City, Quarteto Fantástico, Elektra, Demolidor, etc).

Será que acabou a gasolina criativa em Hollywood? Ou os estúdios estão apostando nos remakes e filmes "baseados em" porque seriam mais rentáveis?

O funk realmente vai dominar o mundo.

O Pablo Vilaça, no seu blog, está linkando uma música de Kevin Federline (o marido de Britney Spears). A música é um single do seu álbum de estréia como rapper e foi lançada na virada do ano. Kevin canta, em "português":

Gatchenha, sai do xau, vai descendo o popossau...

E no meu exemplar quinzenal eletrônico da revista eletrônica sobre música eletrônica (hehe) Earplug tinha um link para um DJ set das Sick Girls que ficou tão popular que derrubou o republish.de, que é onde o set estava hospedado.

Estou ouvindo o set neste exato momento. O que os meus fones de ouvido estão dizendo, em bom português, é:

Vai, popozuda, vai descendo até o chão
Requebrando na batida do Miami Reggaeton
Eu tenho a força, cavaleiro de Jedi
então vem popozuda, vai! Vai! Vai

Sim, é exatamente isso que você está pensando.

O post do final do final de semana

2006-01-09 02:48:00 +0000

...que foi, basicamente, duas coisas: rápido e cheio.

Como tem um casamento se aproximando em alta velocidade, eu e Bethania passamos a maior parte do tempo com a cara enfiada em revistas de decoração, debatendo animadamente sobre qual deve ser a cor da parede da cozinha. Aí, para relaxar, saíamos em peregrinação pelas lojas de material de construção, em amigável contato com as criaturas do ramo da construção civil: tinha desde o vendedor que faz cara feia pra te atender (mas é todo sorrisos com a sua noiva) até o marceneiro lendário, que contou que era motoqueiro, que quebrou a perna e botou 25 parafusos no tornozelo, que toca nove (nove!) instrumentos musicais, que já tocou com Milton Nascimento e já compôs músicas com Lô Borges... e que me fez pensar o que diabos um cara assim está fazendo no ramo da marcenaria.

Entre um orçamento e outro deu tempo de fazer alguma coisa mais relaxante, como ir ao teatro. Fomos ver O Tempo e os Conways, peça de J.B. Priestley, em montagem do grupo EnCena. Eu fiquei fascinado com o texto de Priestley, e a montagem ficou extremamente competente. O Primo recomenda.

No domingo - além de mais uns orçamentos - deu pra assistir em DVD Maria Cheia de Graça, filme sobre uma jovem colombiana que trabalha como "mula", ou seja, come papelotes de cocaína, embarca em aviões para os EUA e... bem, digamos que quando ela passa por "Chicago", em vez de "Boston" temos um pouquinho a mais de droga em território americano. O filme é mais ou menos como este trocadilho: horrível. Mas foi premiado em Cannes, a atriz principal foi indicada ao Oscar e até o Vilaça, por alguma estranha razão, gostou.

E acabou. Agora, às vésperas de passar mais uma semana em São Paulo, eu penso em como é bom... voltar pra casa.

Quando o avião está quase tocando a pista do aeroporto de Congonhas, eu olho pela janela e até consigo me localizar: "Aquilo ali é a marginal Pinheiros... e aquilo é o Ibirapuera". E me dá um desconforto estranho depois do pouso, quando entro no táxi. Desconforto de estar num lugar familiar mas estranho ao mesmo tempo. É exatamente o contrário do vôo de sexta, quando o avião está prestes a pousar em Belo Horizonte, e eu olho para cada avenida no chão e sei exatamente onde ela vai parar. E aí eu desço do avião e vejo a portinha do terminal do aeroporto penso nas centenas de vezes que eu vou ver aquela mesma portinha - e nas centenas de vezes em que vai ser bom ver de novo aquela portinha.

Ah, São Paulo...

2005-12-01 04:06:00 +0000

De volta à BH, optei por um passatempo ortodoxo para relaxar: jogar Street Fighter 2 no emulador. Aproveitei para zerar o jogo com alguns jogadores que eu não costumo jogar, só pra ver o final.

Aí eu escolhi o Zangief... e NADA podia me preparar para o que meus olhos veriam:

"Ei, quem é aquele ali descendo do helicóptero? Não!!! NÃO PODE SER!!! É MIKHAIL GORBATCHEV!!!!!!!!!!"

Era o próprio. Ele desceu do helicóptero e disse a Zangief:

- Comrade Zangief, you have made your country proud and shown that the soviet spirit can overcome all obstacles. Now it's time to celebrate in the appropriate russian fashion.

E aí os dois começam a dançar à moda dos cossacos!!!!

- Mr. President, you dance very well.
- Well, you know, it keeps me in shape, come on! Everybody dance!

Domingo Galinha

E o Galo foi rebaixado para a segunda divisão. Coincidentemente, eu estava no cinema assistindo O Galinho - Chicken Little.

Eu vou resumir o filme numa frase: festival de clichês. Acho que eles pegaram todos os clichês Disney-like (ex: problemas entre pai e filho que só se resolvem no fim do filme) e concentraram no filme pra ver se saía alguma coisa. Ficou um lixo.


Show de estereótipos de párias da sociedade! O esquisitão (peixe), a menina feia (pata), o gordo (porco) e o nerd loser (galinho)

Quarta Rasgada

Uma vez eu emprestei um terno preto pro meu cunhado. Ele me devolveu meio terno: a calça se perdeu no meio do caminho.

Continuei a usar o paletó com uma outra calça preta, antiquíssima, que estava no meu armário. Vim para São Paulo no começo da semana. De calça social, só trouxe esta.

Na segunda-feira eu fui ao banheiro tirar uma água do joelho. Terminei, puxei o zíper e ele saiu na minha mão. No trabalho, ninguém entendeu porque eu mantinha o paletó abotoado. Nem porque diabos eu andava como quem tivesse mijado na calça.

Mais tarde, no hotel, briguei um pouco com o zíper e consegui consertá-lo meio na marra.

Aí na quarta eu estava concentrado, trabalhando, quando senti um vento agradável entrando pela lateral da minha perna direita: a calça descosturou logo abaixo do bolso, deixando um rombo do tamanho de uma bola de tênis. Dentro dele, a minha perna cabeluda aparecia todinha. Vale notar que perna cabeluda nunca é uma visão bonita, muito menos quando vista de dentro da única calça que você trouxe na viagem. Respirei fundo, engoli o pânico e comecei a pensar.

O pessoal do trabalho deve estar achando que eu não sou normal. Na segunda eu andava como se tivesse feito xixi na calça. E na quarta eu entrei para o banheiro com um grampeador na mão...

E agora eu só preciso me lembrar de duas coisas até o final da semana:

Fechar/abrir o zíper bem devagar, e...
Não colocar a mão no bolso esquerdo.

Quarta Sexta's

Depois de grampear a calça, fui almoçar com o pessoal no T.G.I. Friday's, famoso restaurante americano que fica a um quarteirão do meu novo trabalho.

Pedi uma salada chamada Grilled Chicken Caesar Salad: frango grelhado, alface, tomate, croutons, molho caesar, queijo ralado e um pedaço de plástico de 5 cm.

Sim, um pedaço de plástico. Chamei o garçom:

- Por favor... eu gostaria de agradecer você pelo almoço grátis que eu acabei de ganhar.

E mostrei o plastiquinho. Alguns minutos depois o gerente veio até a mesa, se desculpou milhares, disse que vai retirar o meu prato da conta e me deu um cartão que vale um prato principal (que custa uns R$ 30).

Pelo menos alguma coisa tinha que dar certo essa semana...

FDS Cultural

2005-11-07 05:15:00 +0000

Pois é. Esse fim de semana foi bem rico.

Sexta: O Guia do Mochileiro das Galáxias. Filme cômico...

Finalmente descobri de onde vinham algumas frases que eu via picadas por aí, como a resposta à principal pergunta do universo (é 42) e a frase clássica de Marvin: "Life. Don't talk to me about life"...

Sábado:

Cidade Baixa, filme recém-estreado (que tem até blog oficial). Filme brasileiro do jeito que eu gosto: urbano e cru. E bem executado, principalmente em termos de fotografia e de som. O som direto, então, é delicioso: tem uma cena onde Karinna está no banho, chorando, e o barulho da água caindo e reverberando pelo pequeno banheiro é de uma nitidez magnífica. Eu só achei o roteiro um pouco sem amarras, principalmente no final, mas é uma falha que não desmerece o longa. Eu recomendo.

Destaque para a quantidade absurda de palavrões (incluindo xingamentos inacreditáveis do tipo "vá se f**** no meio da desgraça seu filho de uma p***") e para o personagem chamado Dois Mundos (?!), interpretado por... Dois Mundos (?!?). Pode conferir nos créditos...

À noite teve dança folclórica, dessa vez do grupo Sarandeiros, "concorrente" daquele onde Bethania dança. Era um espetáculo novo, com cenário elaborado e elementos de interpretação. Eu, que nem gosto de dança, acabei achando bem interessante.

Domingo:

Mais dança, por incrível que pareça. Vi o , o novo espetáculo da Cia. Deborah Colker. No primeiro ato o palco é tomado por dezenas de cordas onde os dançarinos se penduram e se amarram. O segundo ato usa uma grande caixa vermelha, no centro do palco. A coreografia é expressiva e muito bem executada, o suficiente para deixar todo mundo de queixo caído, desde o pessoal do ramo até os ilustres leigos como eu. Ah, e a trilha sonora é magnífica, criada pela dupla chamada Monoaural (sem site).

Falando em trilha, eu mal consegui conter minha satisfação no intervalo entre o primeiro e o segundo ato. Porque a música ambiente que deixaram tocando era The Dead Flag Blues, do Godspeed You! Black Emperor...

Fim de semana, extended version

2005-10-31 15:25:00 +0000

E desde quinta-feira eu estava sem trabalhar devido a um "buraco" de agenda. Aproveitei as horas vagas para, basicamente, duas coisas: dormir e jogar Doom 3.

Por sinal é engraçado notar que o Doom 3 é o produto de um investimento de milhares de dólares e de um esforço minucioso para criar uma experiência desagradável: o jogo é escuro, claustrofóbico, satânico e lhe prega sustos de cinco em cinco minutos. Mas por alguma estranha razão eu não conseguia largar o maldito...


Cena típica do Doom 3 onde você pode ver... nada direito.

O final de semana teve uns filmes também:

Plano de Vôo - Jodie Foster faz uma mãe traumatizada que "perde" a filha num avião, durante um vôo internacional. O filme é bem eficiente, e a trama dá umas guinadas interessantes. Numa hora você acha que ela é doida mesmo, noutra parece que é tudo uma conspiração, e essa indecisão mantém o suspense até o final. Só a Jodie Foster que já está meio enrugada...


Um dia eu ainda vou voar nesses aviões de cinema, com tanto espaço que dá pra correr pelo corredor...

O Jardineiro Fiel - Esse é o tal "filme de Hollywood dirigido pelo brasileiro Fernando Meireles". Só por isso já era pra ser uma prova de fogo pro cara, meio que seu "cartão de visitas" na direção de filmes norte-americanos. E ele se saiu muito bem. O Jardineiro tem uma trama complexa, inteligente e muito bem contada, em grande parte graças ao estilo de filmagem e a excelente performance dos atores. Até mesmo os assuntos cliché, como a situação do povo na África ou a ganância da indústria farmacêutica, ganharam fôlego novo pela forma inovadora de serem abordados. Nota 10 pro Meireles.


Ralph Fiennes, o diplomata/jardineiro, em um de seus (muitos) momentos "panguá"

Mas teve também a "bomba"...

Menina dos Olhos - Esse doeu. Doeu por ter sido dirigido pelo Kevin Smith, que tinha no seu portfólio uns filmes ótimos como Dogma ou "O Balconista". A história é manjadíssima: Ben Affleck é um pai solteiro que perde a carreira bem sucedida de Relações Públicas de celebridades para poder criar a filha.

Inacreditavelmente, o Kevin Smith, o mesmo Kevin Smith que inovou com cenas geniais em O Balconista, se rendeu nesse filme às mesmas cenas pré-cozidas que todo mundo já está cansado de ver. Exemplo: aquela onde o Ben Affleck briga com a filha. Depois aparece a menina na escola, com olhar melancólico, sentada no balanço, com uma música triste ao fundo. Eu pensei: "Ótimo, agora aposto que vai cortar para o pai, também melancólico". E foi exatamente o que aconteceu. O final do filme também foi o ápice do previsível: Ben Affleck tinha que escolher entre ir a uma entrevista do emprego dos seus sonhos (mas que faria com que ele se distanciasse da filha) ou participar - Deus que me perdoe - do teatrinho infantil da filha na escola. Adivinhem qual ele escolheu?...


Ben Affleck e a filha. Por quê, Kevin Smith, POR QUÊ?!??

Uma curiosidade: no meio de toda aquela merda, fiquei surpreso com a atuação de Liv Tyler que, apesar de coadjuvante, estava bem acima do que eu esperava.

O fim de semana serviu também para coisas úteis. Uma delas foi resolver coisas do casamento, que agora já tem data: 12 de agosto. Não, não é "agosto de Deus", é sério mesmo.

Adivinhe o filme!

2005-10-14 19:29:00 +0000

Eu precisei apenas de um segundo para olhar para a foto acima e concluir que se tratava de Closer - Perto demais, um dos melhores longas deste ano.

Esta câmera aí aparece na cena do apartamento da personagem de Julia Roberts, quando ela está fazendo as fotos do personagem de Jude Law e os dois acabam se envolvendo.

Putz... adorei esse jogo.

Quadrinhos, filmes ruins, músicas boas

2005-09-20 10:48:00 +0000

Inconstância é isso aí: dias sem postar, aí de repente...

Noivado em quadrinhos

How we got engaged, história em quadrinhos feita por Dave Roman e Raina Telgemeier.

O interessante é que é tudo real. A idéia de Dave para pedir a mão de Raina, usando os próprios quadrinhos, é genial...

(via del.icio.us)

Filmes ruins do final de semana

Porque eu e Bethania demos um azar danado e só alugamos filme ruim...

Alexandre - Superprodução sobre a vida do super-rei da Macedônia que, conforme o filme mostra, era basicamente um gay manipulado pela mãe. O filme reúne todos os clichês de filme de época (batalhas enoooooormes, danças e figurinos exóticos, morte do herói leeeenta e poética, etc). O roteiro é uma confusão só: Alexandre tem uns vinte capitães que andam com ele o tempo todo, todos com nomes gregos supersimples como Heféstion, Ptolomeu, Cleto, Cassander... e conforme o filme progride, mal dá pra lembrar quem é quem. Aí cada um se posiciona de um jeito ao longo da história, só pra aumentar ainda mais a confusão. Os cenários (principalmente dos locais fechados) são tão minuciosamente construídos que acabam ficando... feios e falsos demais. E isso é só uma amostra de tudo o que dá errado durante o longa.

Até o Vilaça concorda: Alexandre, o Grande é uma grande porcaria.

A queda! As últimas horas de Hitler - Este filme fala... bem... das últimas horas (na verdade dias) da vida do líder nazista. Felizmente, ao contrário do Alexandre, este longa tem vários pontos positivos.

Visualmente, A queda é impecável: cenários fantásticos, figurino perfeito, filmagem excepcional. Uma cena que me chamou a atenção foi de uma menina do exército nazista, que se matou durante a invasão dos russos. Outro menino, também do exército, a encontra morta dentro da trincheira, e a chama pelo nome. A câmera dá um close no rosto da menina, loira dos olhos claros. Tudo em volta da pele do rosto (o capacete, as roupas, o chão ao fundo) tem um tom cinza, tétrico, exceto as feições do rosto dela. Os olhos chegam a brilhar, como que para destacar o ser humano que estava ali no meio da destruição. Este artifício, de usar a cor para destacar as pessoas do meio da guerra, é usado várias vezes com sucesso.

Destaque também para os atores, principalmente de Bruno Ganz, que fez um Hitler genial justamente por ser, estranhamente, normal: todo mundo sabia que aquele era o terrível comandante das hordas nazistas, mas Bruno realçou a dimensão humana de Hitler naqueles momentos finais de derrota, o que foi bastante interessante.

Só que o longa é um pouco arrastado e o roteiro às vezes confunde. Talvez isso tenha feito com que A Queda tenha caído tanto na minha avaliação (o Vilaça, veja você, deu cinco estrelas).

Turing se remexendo na tumba

- Violence is the last refuge of the incompetent.
- Or of the frustrated.
- What makes you think so?
- What makes you ask me that?
- I figured you read it somewhere.
- What - you read about my eating habits somewhere? Are you stalking me?
- I didn't mention eating...
- Yes you did.
- If so, where?
- You implied it.
- Anyway, change of subject. Where are you now?
- In my house and you?
- At work.
- At home as well.
- It doesn't feel like home...
- What does feel okay?
- You are just being rhetorical.
- No I'm not.
- I just mosey around.
- What does that mean?
- Forget about it. Hey, I just read they are developing robots able to feel emotions! Will you be one of those some day?
- My emotions doesn't make me much more than a robot.
- I like your patented Emotions.

Esse sou eu, conversando com um... programa de computador.

O MoFi cita que o tal Jabberwacky, aparentemente, ganhou o Loebner Prize de 2005, que é um concurso de chatbots cuja conversa se aproxime mais de passar pelo famoso teste de Turing.

Segundo a Wikipedia: O teste é uma proposta de teste para a capacidade de uma máquina realizar uma conversação humana. O teste, descrito por Alan Turing no artigo "Inteligência e Maquinário Computacional", de 1950, procede da seguinte forma: um juiz humano conversa em linguagem natural com dois interlocutores: um humano e uma máquina. Se o juiz não puder determinar com precisão qual é qual, então diz-se que a máquina passou no teste.

P.s.

Hoje à noite, eu saí da farmácia e entrei de volta no carro. Bethania estava debruçada sobre o painel:

- O que foi, Bethania?
- Seu MP3 player... ele tocou uma música linda aqui, como faz pra voltar?
- Hmm, acho que ele deu pau.
- Eu vi o título de relance... era "reach" alguma coisa.

Reach for the Sun, do Polyphonic Spree. Bethania ouviu essa música umas três vezes, só no tempo que ficamos no carro.

Dois filmes do final de semana

2005-09-13 02:13:00 +0000

Edifício Master - Documentário brasileiro sobre alguns moradores deste prédio, que fica em copacabana e tem uns duzentos apartamentos. Tinha tudo para ser um pé no saco mas, graças à histórias peculiares de alguns dos moradores, tornou-se interessante. Destaque para o belíssima cena de um senhor que faz uma performance inacreditável de "My Way", do Frank Sinatra, durante a entrevista, e termina em lágrimas, dizendo:

- Essa música me toca muito... dá até uns "shivers" - diz ele, apontando para o braço arrepiado.

Levou um "melhor documentário" no Festival de Gramado de 2002, por sinal.

Chave Mestra - Filmete de suspense do mesmo roteirista de "O Chamado". Só que eu detesto filme de terror, e só fui assistir esse porque o maldito primo da minha noiva não disse que era de terror. Mas paciência...

A história é sobre uma enfermeira que vai cuidar de um véio numa casa antiga, e se envolve em uma série de eventos sobrenaturais e misteriosos (que não vou citar pra não estragar a trama). A maior parte do filme segue o procedimento operacional padrão de como dar sustos no espectador:

1) Escureça tudo e coloque o protagonista andando em câmera lenta.
2) Coloque uma música tensa em um vagaroso crescendo
3) Sincronize o ápice da música com uma ação do protagonista que revele algo novo (ex.: abrir uma porta)
4) Quando o protagonista agir, não coloque nada que assuste neste momento. Retire a música e aguarde uns 10 segundos.
5) Sem avisar, insira o susto de verdade, aproveitando que o espectador achou que o momento tenso acabou...

Apesar de tudo o final do filme é surpreendente. O Vilaça deu até três estrelas pra ele.

Uma vida, um parágrafo (parte 2)

Milton era bem nascido. Filho de um famoso arquiteto. Cresceu numa casa enorme, entrou para a faculdade de direito. Tomou uns chopes a mais na calourada, saiu de carro. Estava cantando "Jackie Tequila", do Skank, na maior altura, balançando a cabeça com os olhos fechados, quando ouviu o pára-brisa estourando. Viu de relance um corpo cair do teto do carro. Saiu em disparada. Prometeu nunca mais beber. A festa de formatura foi no Automóvel Clube. Bebeu champanhe pra poder brindar com os pais. Cancelou a promessa. Fez mestrado na Nova Zelândia. Abriu um escritório quando voltou, casou-se, teve uma filha. Pelo menos uma vez por mês tinha pesadelos com o atropelamento, e acordava gritando. Tratou-se com um psicólogo até os cinquenta e quatro anos. Teve uma grave intoxicação alimentar aos sessenta, e morreu.

...

Wander era superdotado. Com três anos, lia e escrevia. Com dezenove, ao terminar a faculdade, mudou-se para Chicago para fazer mestrado. Num dezembro, nevou quarenta centímetros. Na pressa de fugir do frio, Wander entrou por uma porta errada da faculdade: a da sala do grupo de teatro. Conheceu Tracy. Atriz amadora, loira, linda. Foi amor à primeira vista, embora platônico: ela nunca o notava. A cabeça de artista não a deixava ver muita coisa além da dramaturgia. Wander concluiu o mestrado com louvor, e surpreendeu seus avaliadores do doutorado ao descobrir a solução para o Axioma de Friedrik. O único problema que ele não resolvia era como conquistar Tracy. Acabou conhecendo Valerie, uma moça com QI exatamente igual ao dele. Casou-se e foi criar os filhos numa grande casa no subúrbio. Tinha um robô pra cortar a grama (os vizinhos morriam de inveja). Virou chefe de desenvolvimento da empresa onde trabalhava. Acompanhava secretamente a vida de Tracy, nessa época já casada com um ator. Às vezes, de noite, Wander pegava o carro e passava pela porta da casa de Tracy, com os olhos marejados de lágrimas. Quando se aposentou, reuniu a família para uma viagem de carro. Na primeira noite da viagem, um caminhão desgovernado matou Wander e sua família. Durante o funeral, pouca gente notou uma bela mulher, loira, linda, chorando baixinho no fundo da igreja.

...

Marluce era pobre. A mãe bebia, o pai também. Aprendeu a ler num curso comunitário que deram na favela. Quando o pai batia nela, ela corria pra biblioteca pública. Passava dias escondida, lendo. Uma das bibliotecárias virou sua "padrinha" e lhe pagou os estudos. Fez curso técnico de enfermagem, arrumou emprego num hospital. Com o primeiro salário, comprou um walkman, daquele modelo amarelo da Sony. Não sabia inglês, mas cantava Guns'n Roses o dia todo enquanto limpava o vômito dos pacientes. Um deles até acordou de um coma enquanto ela cantava. Nunca se preocupou em namorar ou casar. Morava sozinha num quarto-e-sala no centro da cidade. Passava os dias lendo. Também aprendeu a tocar flauta doce, estudando sozinha nos domingos. Quando se aposentou, passou para a flauta transversa. Aos setenta e oito anos, foi dormir e não acordou mais.

...

Aníbal só aprendeu a falar aos três anos de idade. Passou a adolescência tirando o atraso: era o cara mais conversador da sala. Conhecia todo mundo na escola. Virou presidente do Diretório Acadêmico na faculdade. Começou a fumar maconha. Depois, começou a vender, e ficou ainda mais popular. Numa segunda-feira, tomou um LSD. Na viagem da droga, ao invés de falar, ele escrevia loucamente. Romances psicotrópicos, ensaios de filosofia transcedental, teoremas matemáticos complexos. Teve overdose umas três vezes, mas não morreu. Foi morar junto com uma cliente: uma menina, filha de vereador, descendente de alemães, que fugiu de casa depois de ser molestada pelo pai. Viveram bem por décadas, usando o cartão de crédito da menina, cujo limite estranhamente nunca estourava. Aníbal já acumulava pilhas de cadernos preenchidos sob efeito do ácido, quando morreu engasgado com uma semente de pêssego. Algumas semanas depois do enterro, sua companheira, que estava na faculdade de matemática, achou um teorema anotado nos cadernos-viagem de Aníbal. Ela propôs o teorema na sua monografia, como se fosse seu. Usaram o sobrenome dela para batizá-lo: axioma de Friedrik...

...

Josias jogava bola desde menino. Jogava bem. Dezesseis anos e ele já estava no time júnior do Atlético Mineiro. Treinava de dia e estudava à noite. No terceiro mês de cursinho, foi atropelado quando andava até o ponto de ônibus. Ficou paraplégico, passou dois meses em coma. Acordou quando uma menina da enfermaria cantarolava "Sweet Child O'Mine", enquanto dava-lhe banho. Josias não aceitou direito o fato de não poder mais jogar bola, e entrou para a faculdade de psicologia. Arrumou um novo hobby: fotografia. Era muito bom nas preto-e-brancas. Aos trinta e dois anos, foi vítima de um sequestro-relâmpago. O susto fez com que a dor de ser incapacitado aflorasse novamente. Engordou, tornou-se hipertenso. Sentia raiva de tudo. Uma vez, na clínica, tratou um paciente que havia cometido um atropelamento bem parecido com o seu. Quanto mais tratava este paciente, mais revivia seu trauma. No fim, enlouqueceu, envenenou o paciente, depois jogou-se da janela. Josias caiu por quatro segundos. Sentiu que voava. Nunca havia se sentido tão livre em toda a sua vida.

O Primo alerta: NÃO ASSISTA Diário de uma Louca

2005-07-18 04:37:00 +0000


Este é o poster de Diário De Uma Louca. Se você o vir por aí, corra. Pra bem longe.

Eu tinha um ranking de filmes ruins que possuía algumas pérolas, como Anaconda, Godzilla, Dungeons and Dragons, etc. Hoje este ranking ganhou um novo líder: Diário de uma Louca.

Este é, de longe, o pior de todos os filmes que eu já vi... e dos que vou ver também.

Antes de mais nada, uma explicação: eu só vi esta bomba porque eu e Bethania estávamos sem nada pra fazer. Até tinha o remake de Herbie, mas como era dublado acabamos optando pelo Diário. Seria melhor ter visto o Herbie dublado, na primeira fileira, com dezenas de crianças fazendo guerra de pipoca em cima de nós.

A história do filme já começa clichê: Helen, esposa de Charles, um advogado rico e bem sucedido, é trocada pela amante e expulsa de casa, indo parar na casa da sua tia chamada Madea (a véia do poster). O filme já começou mal: Charles expulsa Helen de casa de um jeito tão estúpido que nem parece real. A partir daí o filme começa o seu longo declínio: a tia Madea é na verdade Tyler Perry, o roteirista, vestido de mulher. Tyler ainda acumula três papéis "cômicos" (atenção às aspas): Joe e Brian, outros dois velhos.


O "travesti senil" chamado Madea (Tyler Perry) e a imbecil Helen (Kimberly Elise).

Teoricamente, Madea deveria ser o ponto engraçado do filme, mas ela não é nada além de uma velha negra que fala com sotaque de negra e tem aquela atitude geniosa de velha negra de filme. Aliás, o filme parte do pressuposto que só existem negros no mundo, pois, depois da primeira cena, o filme passa mais de uma hora sem nenhum branco aparecer. Nem como figurante.

Além da comédia ineficaz, os diálogos, mesmo os mais comuns, eram sofríveis. Helen alternava entre frases dignas dos Cavaleiros do Zodíaco, como "O que foi que você disse?", e leituras em off do seu diário, que começavam com "querido diário" e tudo. Por sinal, para minha surpresa, após 20 minutos de projeção, Madea desaparece e a história torna-se um drama pior do que novela mexicana, tipo Maria do Bairro. As cenas são patéticas e sem o menor sentido: numa delas, Helen aparece melancólica num restaurante, observando um casal de jovens apaixonados. Ela chora e depois sai, sem maiores explicações. A música de fundo é de lascar: uma mistura de Kenny G com música de elevador, que se repete por TODAS, eu disse TODAS as cenas dali em diante.

Seguindo sua trajetória de "mulherzinha dando a volta por cima", Helen começa a fazer um super-previsível par romântico com Orlando, um peão de siderúrgica. As cenas de Orlando e Helen são até doloridas de tão ruins: uma das piores é quando os dois estão dançando num clube de jazz (frequentado apenas por negros, vale lembrar) e Helen pensa algo parecido com um capítulo daqueles livros estilo Sabrina: "Oh, como será que ele sabe que eu gosto de ser abraçada assim? Eu deveria ter juízo e dizer a ele pra parar, mas não consigo". O golpe final é quando Helen pensa:

- Isto está tão perfeito, aposto que agora ele vai dizer algo bem típico de homem e estragar o clima romântico.
- Parece um conto de fadas, não é? - diz Orlando
- E não é que ele não disse? - pensa Helen, surpresa.

Nessa hora eu e Bethania não conseguimos nos conter e gritamos juntos: "NÃO DISSE? Como assim ele NÃO disse?". Helen ainda solta outras pérolas, como quando ela passa a noite na casa de Orlando (sem sexo) e narra para seu diário: "Ele é um homem bonito, atencioso e, acima de tudo, cristão". Hein?! Como assim?


Helen e Orlando, o peão de siderúrgica que é um gentleman. O prato predileto dele é salmão (é sério!)

Já que a comédia ficou esquecida mesmo, além dessa história, o filme ainda inventa dramas paralelos sem sentido. Debrah, a irmã de Helen, por exemplo, é uma drogada que largou o casamento pra viver nas ruas. E Charles, o ex-marido, acaba tendo que defender um antigo amigo traficante no tribunal. Ao receber a condenação, esse "amigo", de forma altamente ninja, arruma um jeito de (algemado!) puxar a arma de um dos guardas e atirar em Charles, que fica paralítico. Pra filme ficar ainda mais novela, só faltava alguém com amnésia...

Assim, Helen, que estava feliz com seu "namorado cristão", faz a coisa mais imprevisível e idiota que eu já vi num roteiro: primeiro, larga Orlando para tomar conta de Charles. Sim, aquele mesmo que a enxotou de casa pra ficar com outra mulher. Depois, cisma que vai "revidar" tudo que sofreu e maltrata o marido aleijado, deixando-o passar fome e fazendo todo tipo de tortura psicológica, coisas que simplesmente não tem nada a ver com sua personagem carinhosa e submissa.

Aí aparece a mãe de Helen e fala que não é bem assim, que ela devia perdoá-lo. Helen vai lá, o marido pede desculpas por tudo e ela o perdoa. A irritante trilha sonora estilo Richard Clayderman para elevadores continua tocando sem parar, enquanto tudo vai ficando lindo e azul: Charles é mostrado na fisioterapia, começando a recuperar o movimento das pernas, enquanto Debrah, a irmã drogada de Helen é mostrada entrando numa clínica de reabilitação... Qualquer episódio de Chaves teria um roteiro melhor do que esse filme.

Aí, quando o caos parecia estar completo e eu achei que não havia mais espaço pro filme piorar, eis que vem a terrível cena da igreja...


Helen e sua mãe na igreja. Deus que me perdoe...

Todos os personagens estão presentes, ouvindo a pregação do reverendo Carter (negro, é claro), que se extende por uns cinco intermináveis minutos. Depois, vem o coral: Tiffany, filha de Debrah (a drogada), canta um solo. Enquanto a menina canta, surpresa: a dublagem é de uma mulher adulta! O reverendo também canta, depois o coral todo se empolga e os milagres começam a acontecer: Charles, emocionado, anda sozinho até o altar e, na sequência, Debrah (a drogada) entra na igreja cantando como se fosse a Whitney Houston. Pensa bem: o aleijado andou, a drogada se curou, aquilo ali era uma baita duma sessão do descarrego!!!

Foi só aí que a ficha caiu: Durante o filme os personagens soltavam um ou outro comentário sobre Deus, fé ou religião. Eu não havia entendido o porquê disso até ver todos ali na igreja, louvando e cantando: aquele era um filme gospel.

Sim, aquele era um filme gospel!!!

Só agora vi na internet que Tyler Perry (o roteirista e ator que fez a Madea) é escritor de peças teatrais gospel. Foi ele que, por sinal, pagou sozinho por metade do custo de produção do filme. O papo de "comédia" que envolvia o marketing do filme era, portanto, apenas uma isca para atrair gente aos cinemas. O propósito do filme estava ali, claro, enquanto eu via todo mundo cantando na igreja: o filme é um truque para tentar converter o público para o protestantismo...

Um detalhe: na censura americana o filme é PG-13 devido ao conteúdo que inclui drogas (um dos velhinhos que mora com Madea é maconheiro), referências sexuais (do mesmo velhinho, que insiste em xavecar a mãe de Helen) e violência (Madea anda com uma arma, Charles é fuzilado no tribunal, Helen o maltrata na cadeira de rodas). Tudo isso num filme GOSPEL!!!

Quer mais tosquice? Então toma: Madea's Family Reunion, a continuação dessa bomba, já vai começar a ser produzida. Deus nos acuda.

Quentinhas

2005-07-04 03:47:00 +0000

Amanhã eu volto a trabalhar. Como saideira, joguei aproximadamente 10 horas de Half Life 2 este fim de semana...

Márcio, o namorado da minha irmã de vez em quando vem com umas pérolas. A última foi quando estávamos no carro, na sexta-feira.

"Eu tenho um enigma pra vocês: Haviam três pessoas no restaurante e a conta deu 30 reais, 10 pra cada um. O garçom recolheu a grana mas o gerente falou que os caras já eram fregueses de longa data e cobrou apenas R$ 25. O garçom pegou o troco (cinco notas de um real), separou R$ 2 pra gorjeta e deu R$ 1 pra cada. Ora, mas três vezes nove é 27 (que foi o que os caras pagaram), mais os R$ 2 do garçom, temos R$ 29. Cadê o R$ 1 que tá faltando?"

Todo mundo começou uma acalorada discussão sobre o problema e, dez minutos depois:

- OK Márcio, a gente desiste. Qual é a resposta?
- Er, bem... eu também não sei...

Depois do 9 canções, caiu a próxima bomba cinematográfica dessa semana. Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg, tem um roteiro simplesmente patético. Alguns exemplos:

- Os "tumultos Spielberg", onde centenas de pessoas em pânico não pisoteiam umas às outras e onde uma barreira humana de CINCO soldados impede TODA a multidão de subir numa balsa para fugir de um ataque dos aliens.

- A casa da ex-esposa do Tom Cruise acaba completamente destruída por um avião que caiu sobre ela. No entanto, o carro, que estava estacionado na porta, não sofreu um arranhão.

- O filho do personagem do Tom Cruise fica louco pra acompanhar, desarmado, o exército que tenta sem sucesso combater os aliens. A justificativa dele pra essa atitude imbecil é, simplesmente, que ele "precisa ver aquilo".

- No começo do filme os aliens usam um pulso eletromagnético para desativar todos os aparelhos elétricos da cidade. Nem mesmo carros, nem o relógio do Tom Cruise funcionam. Mas quando os aliens aparecem, minutos depois, aparece um cara gravando tudo com uma câmera. Mas hein? A câmera é movida a corda, por acaso?

- O golpe final é, bem, o final do filme. Imagine o final mais sem sentido que um filme pode ter. Imagine, por exemplo, que no fim os aliens todos morrem de gripe. Foi mais ou menos isso que aconteceu...

Acabei de ver no Multishow um programa do canal MuchMusic sobre os 10 músicos mais controversos da história. A lista deles foi:

1. Sex Pistols
2. Michael Jackson
3. Madonna
4. David Bowie
5. Ozzy Osbourne
6. Eminem
7. Elvis Presley
8. Public Enemy
9. Marilyn Manson
10. Courtney Love

Antes do programa começar eu comentei com Bethania: "Aposto que vai aparecer Marilyn Manson, Eminem, Ozzy, Madonna e Michael Jackson". Cinco em dez, não tá tão ruim.

Newsflash

2005-06-30 15:07:00 +0000

Eu fico subestimando a Lei de Murphy. Foi só instalar o Half-Life 2 no computador que saiu minha alocação para um novo projeto, aqui em BH mesmo.
Ontem, no supermercado, o promotor de vendas anunciava pelos alto-falantes:

- Atenção clientes, promoção da hora! Uma dúzia de ovos, éé, com doze ovos, somente R$ 1,45...

Hoje de manhã a babá atrasou e meu pai pediu que eu olhasse meu irmãozinho até ela chegar. Como ele havia terminado de acordar, ele estava contando dos sonhos da noite.

- Zézé, hoje eu sonhei que tava tocando aquela música do apê...
- Qual música, Gabriel? - perguntei, temendo o pior...
- Aquela assim: "Hooje é festa, lá no meu apê, pode aparecer..."

Ontem eu e Bethania fomos assistir 9 canções, filme de Michael Winterbottom. Na entrada do cinema tinha um cartaz do The Brown Bunny.

- Brown bunny... coelhinho marrom? - perguntou Bethania
- É... eu ouvi falar desse filme. Diz que é polêmico, porque tem uma cena da mulher pagando um boquete pro cara.

Aí entramos na sala pra ver o 9 canções e vimos boquete, cunnilingus, masturbação (inclusive com pés), sadomasoquismo, sexo em tudo quanto é lugar e posição. Tudo isso explícito como num filme pornô. E, entre as cenas, aparecia Dandy Warhols, Franz Ferdinand, The Von Bondies e outras bandinhas tocando músicas inteiras (as nove canções do título) em shows. Ah, e também paisagens geladas da... Antártida. E eu não estou brincando.

O filme é um fracasso total. O roteiro pode ser resumido assim: "Matt conheceu Lisa num show. Os dois viram nove shows enquanto trepavam como loucos. Depois, Lisa foi para os EUA e Matt foi pra Antártida". E acabou. Destaque para a frase ultraclichê que Matt fala quando vai (sem a namorada) a um dos shows: "É engraçado como, no meio de cinco mil pessoas, você ainda se sente sozinho".

Assino embaixo do que disseram no site do IMDB: "Quem diria que sexo poderia ser tão chato"...

Voltei

2005-06-15 20:07:00 +0000


Pista do Pearson International Airport, em Toronto

14 horas de viagem e muito chá-de-sala-de-embarque depois, chegava eu, no sábado, em Belo Horizonte. O post aqui só veio dias depois: tinha muita saudade pra matar, gente pra ver, coisas pra arrumar...

A viagem transcorreu tranquila. Tive apenas meus dois últimos micos internacionais:

Ainda em Toronto, ao passar pelo raio-x do aeroporto, tirei a chave do cadeado da minha mala do bolso e... esqueci por lá.

Estavam servindo o jantar no avião. A aeromoça que servia as bebidas tinha um crachá escrito "ANA LUIZA", tinha a pele bem morena, olhos negros e cabelo encaracolado. Assim que ela chegou no meu assento, soltei meu pedido em bom português:

- Eu queria um suco de maçã, por favor.

Lentamente, Ana Luiza se debruçou sobre minha cadeira e, com um ar confuso, perguntou: "What?"...

No domingo minha primeira providência ao chegar em casa foi fazer as malas e... sair de novo. Passei o dia dos namorados (e os dois seguintes) com Bethania na Estalagem do Mirante, na Serra da Moeda.


Encosta da Serra da Moeda, com os chalés da Estalagem

Um pouco da vista da pousada...

Pôr-do-sol visto de dentro dos quartos

Essa pousada recebe o "selo Primo" de recomendação: excelente, desde as instalações até o atendimento. Vale cada centavo.

Agora, prosseguindo com nossa programação normal (de viagens da minha cabeça)...

Filmes para ver (ou não)

Curiosamente, uma coisa que eu fiz todos os dias desde que cheguei aqui no Brasil foi assistir algum filme. Até no sábado (dia em que cheguei), de noite eu já estava no cinema pra ver o tal filme da Angelina Jolie e do Brad Pitt...

Sr. e Sra. Smith

Até agora eu não descobri se o Sr. e Sra Smith era pra ser comédia, ação ou romance. Mesmo porque o filme fracassa em todos estes aspectos. A ação, bem executada mas ainda assim no lugar-comum, acaba sendo algo colocado no roteiro como "cenário" para o romance, que é insosso devido à falta de profundidade dos personagens, que tentam parecer engraçados ao mesmo tempo que precisam manter a cara de "agente misterioso e durão". Enfim, misturaram tudo e no final não deu nada. Dá pra se divertir um pouco com as forçadas de barra hi-tech estilo "Missão Impossível", mas nada além disso.

O Vilaça deu duas estrelas, xingou o roteirista e viu méritos na direção e na "química" entre Pitt e Jolie...

Magnólia

Só agora consegui assistir o famoso filme de Paul Thomas Anderson. Assim que as três horas do longa terminaram, eu não conseguia pensar no filme como nada além de esquisito. Mas era um esquisito bom, bem filmado, com atuações consistentes e uma trama eficiente, que se estende por mais de três horas sem cansar o expectador.

O esquisito é por causa do roteiro. Você fica duas horas se perguntando onde diabos vai dar aquilo tudo, quando de repente tem a famosa cena da chuva e complica tudo um pouco mais. Diferentemente de Cidade dos Sonhos, eu não cheguei ao final do filme entendendo tudo o que aconteceu e completamente fascinado com a perspicácia do diretor. Já o Vilaça conseguiu...

O Informante

Eu já havia visto esse filme, mas acabei alugando de novo sem querer. É uma história muito bem contada, com Russell Crowe como ex-executivo da indústria do tabaco, prestes a dar revelações bombásticas no famoso programa 60 minutes, produzido pelo personagem de Al Pacino. Aí segue-se a trama de furações de olho, traições, chantagem emocional, corrupção e o escambau.

Um belo filme, despretensioso e eficiente, com destaque pras atuações de Pacino (sempre ótimo) e Crowe (surpreendendo). O roteiro é muito bem escrito, algumas frases do personagem de Pacino são simplesmente geniais. Só não gostei da trilha sonora, repetitiva em alguns trechos. O Vilaça deu cinco estrelas pra ele.

Kinsey - Vamos falar de sexo

Kinsey é aquele cientista que publicou, em 1948, o famoso livro intitulado "o comportamento sexual do homem". Na época, o cara chocou a sociedade e provocou um belo avanço no estudo da sexualidade humana.

O filme é a história de Kinsey, e . Mais parecia um documentário, e o roteiro é um insulto: algumas cenas eram, claramente, a posição do roteirista sobre as idéias e ações de Kinsey. A atuação de Liam Neeson e de todo mundo é OK, o figurino, cenografia e etceteras foram todos OK, mas a história, na minha humilde opinião, poderia ter sido mais "bem contada".

Discordo das quatro estrelas do Vilaça. Daria no máximo duas...

Curiosidade: o filme é escrito e dirigido por Bill Condon...

Depois do carnaval, de volta ao Canadá (mas "Closer" do que nunca)

2005-02-16 03:08:00 +0000

De volta ao blog e de volta ao Canadá. A falta de tempo continua. Tive até que escrever parte deste post na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo...

Aqui tá até quentinho: cinco graus positivos. Tá uma beleza, nem precisa de luvas ou gorro pra andar na rua. E a neve já está derretendo.

As novidades das últimas semanas:

Carnaval no meio do mato

E, quebrando minha tradição de cinco anos frequentando eventos de mocidade espírita durante o carnaval, fui para Conceição do Mato Dentro (MG), ver a famosa cachoeira do Tabuleiro, a segunda maior do Brasil.

Chegamos de noite na cidade, as ruas cheias devido ao carnaval de rua. E, na minha frente, o inacreditável:

- Putz... pelamordedeus... não me diz que aquela danceteria ali chama-se "GINGA BYTE"!!!

Além disso, o cardápio de uma lanchonete próxima também era de lascar.

Pode-se dizer que eu realmente "me joguei" nesse carnaval: levei um tombo feio numa trilha, fui de cara no chão e ralei o joelho. O pior foi só o susto, porque o nariz sangrou um pouco, mas ficou tudo bem. Depois levei outro escorregão, dessa vez debaixo da cachoeira do Tabuleiro, e ralei um braço e o cotovelo nas pedras. Este carnaval deixou marcas profundas em mim...

Air Kelly

Na viagem de volta ao Canadá, no avião entre Belo Horizonte e São Paulo, tinha uma moça num tailleur vermelho-reluzente e com um ar de "nunca voei antes", que se sentou do meu lado. Como é de praxe, antes da decolagem, peguei meu escudo defletor de gente conversadeira (um livro) e enfiei rapidamente a cara nele antes que ela inventasse de puxar papo. Funcionou muito bem, por dois segundos:

- Dá licença, esse livro aí é daquele autor, Brian Weiss?
- Não, é de John Hershey - Respondi, secamente. Ela entendeu e não continuou o assunto.

O avião decolou e, discretamente, dei uma olhada na mulher. Era uma outra versão da Kelly, não parava quieta na cadeira, se benzeu umas três vezes antes da decolagem e, cinco minutos depois, tentou puxar papo novamente:

- Dá licença... você gosta muito de ler, é?

Pensei por um momento: faltavam uns 50 minutos até São Paulo, minha leitura logo ia ser interrompida pelo serviço de bordo, e ela com certeza ia me interromper várias vezes. Guardei o escudo defletor e resolvi ver no que aquilo ia dar.

E em menos de uma hora eu sabia tudo da vida dela: Sonya era uma jovem de 20 anos, nascida em Teófilo Otoni (MG), que falava com um sotaque de nordestina e trabalhava ilegalmente em Portugal desde o ano passado, junto com a irmã, num restaurante. Havia voltado ao Brasil para o carnaval e iria tentar novamente a entrada na terra lusitana com seu visto de turista, desta vez para ficar tempo suficiente para conseguir sua legalização.

Além disso, soltou suas pérolas: confundia as nuvens com montanhas, se indagava porque diabos o sol demorava tanto a se pôr, achava que a turbina empurrava o avião para cima, achava que era possível saltar de pára-quedas caso houvesse algum problema no avião... mas a melhor foi essa aqui:

"Sabe, esses padres e essas freiras falam tanto de sexualidade, mas eu acho que isso é uma coisa, assim, de cada um... tipo, o corpo de cada pessoa é igual São Paulo, cheio de lugares diferentes..."

Pra fechar com chave de ouro:

O Primo recomenda: Closer - Perto Demais

Outro dia eu escrevi num email: "De longe, o melhor filme de 2005". Lá no IMDB, no user comments, disseram exatamente a mesma coisa: "Hands Down Best Film of the Year". E o Vilaça lascou-lhe cinco estrelinhas.

O mais curioso é que Closer é um filme de amor. Mas ao mesmo tempo não é, e por isso mesmo acaba se tornando um. Entendeu? O amor está lá, sim, mas justamente nos momentos em que as pessoas não dizem "eu te amo". Por sinal, quando essas palavras são proferidas, os personagens estão sentindo de tudo: ódio, rancor, culpa, desejo... tudo menos amor.

É por causa dessa salada toda que eu escrevi no parágrafo acima que o filme é interessantíssimo: porque mostra, sem palavras, do que o amor é realmente feito, e como as manifestações de sentimentos truncados acabam sendo confundidas com ele.

Essa é a justificativa do elenco de ponta: Julia Roberts, Natalie Portman, Jude Law e Clive Owen, em atuações espetaculares. Elas tinham que ser, no mínimo, espetaculares, já que grande parte do conteúdo do filme está nas pequenas atitudes de cada um dos seus confusos e profundos personagens. Um bom exemplo é o primeiro beijo de Dan e Anna, no início da história, que diz mais do que qualquer diálogo.

Os diálogos também são magníficos. Todos muito inteligentes, ora brutalmente sinceros, ora simbólicos. Vários deles, inclusive, vão ganhando significado à medida que a história progride, deixando o filme ainda mais legal, até culminar no final, onde de repente tudo ganha um sentido todo novo. E ainda sobrou talento no diretor para adicionar um pouco de comédia, como na cena onde Dan e Larry conversam, anônimos, num chat pornô pela internet.

A trilha sonora poderia muito bem se resumir à belíssima e bem empregada música inicial (e final), mas traz também Smiths, Mozart, Prodigy das antigas (Smack my bitch up) e (surpresa!) altas músicas da Bebel Gilberto. Em português legítimo.

Altamente recomendado. Não perca. Mas vale aqui um alerta final: como bem disse o Vilaça, na melhor crítica que eu já vi ele escrever, é uma experiência emocionalmente dolorosa para a maioria dos expectadores...

O Primo recomenda - Doze homens e outro segredo

2005-01-04 04:22:00 +0000

O ano começou bem na parte cinematográfica. Hoje é noite do dia 03 para 04 de janeiro e eu já assisti dois novos filmes no cinema: Meu Tio Matou um Cara e esse, o Doze homens e outro segredo. O Meu Tio... é fraco, mas não o suficiente pra sofrer uma des-recomendação, por isso nem mencionei ele aqui. Mas o Doze Homens...

Acho que o que torna o Doze Homens... um bom filme é que ele é estiloso: bom roteiro, bem filmado e bem representado. A parte da representação foi fácil, bastou conservar o ótimo elenco do filme anterior e manter a atuação bem humana, fazendo com que os personagens conversassem como se fossem realmente pessoas, e não pessoas repetindo textos.

Steven Soderbergh, que comandou os ótimos Solaris e Traffic (e obviamente o Onze Homens...), fez um belo trabalho de direção nesta continuação. A fotografia é muito boa e até inovadora em alguns momentos, como nas "congeladas" da câmera ou quando a decolagem do avião onde está Tess Ocean (Julia Roberts) é mostrada. A trilha sonora, de David Holmes, figurinha famosa da cena vanguardista eletrônica, não tem nada de eletrônico. É tudo anos 70. E eu fiquei com muita vontade de ouvir o CD da trilha sonora...

O roteiro pode até ter apelado para alguns clichês (que não vou revelar pra não estragar o filme) mas é, no geral, muito eficiente, principalmente no humor. Destaque para as hilárias piadas cinematográficas, como a cena com Topher Grace (o Eric de That 70's Show) fazendo papel de si mesmo ou a sequência envolvendo Julia Roberts (que também não vou revelar). Por sinal, uma piadinha ficou escondida por causa da tradução: quando os colegas explicam a Linus (Matt Damon) o que estava acontecendo na reunião de negociação do primeiro golpe, eles mencionam o apelido do golpe: "Lost in Translation", que é o nome em inglês do nosso Encontros e Desencontros...

No resumo, Doze Homens... é como todo filme de entretenimento deveria ser: divertido, esperto e estiloso. Eu recomendo.

Curiosidade: Segundo o IMDB tem uma música de Roberto Carlos e Erasmo Carlos na trilha, chamada "L'appuntamento". Eu não pude percebê-la no filme, mas se o IMDB falou...

O Primo recomenda - Os Incríveis

2004-12-16 05:26:00 +0000

Anteontem, depois de almoçar com Bethania, acabei me sentindo obrigado a fazer o que mais gosto: procrastinar. Aí fui ao cinema. E Os Incríveis me saltou aos olhos por duas razões:

1. Computação gráfica, yay!
2. Falaram bem dele em vários lugares.

Peguei uma versão dublada e na primeira sessão do dia (14h). Já estava esperando a meninada fazendo guerra de pipoca e aqueles típicos acidentes de dublagem. Não aconteceu nenhuma das duas coisas. Por sinal, não tema as versões dubladas porque achei o trabalho dos dubladores muito bom.

Saí do cinema profundamente impressionado, por vários motivos. O primeiro é o seguinte: computação gráfica tem um "lado negro" em filmes, porque acaba tirando o foco de coisas também importantes, como roteiro e personagens. Isso não aconteceu, talvez pelo fato de toda a tecnologia para produzir o visual já existir. Obviamente houve melhorias: quando o palmtop que Bob recebe dá uma "escaneada" no seu escritório para ver se o ambiente era seguro para reproduzir sua mensagem, o belíssimo efeito do brilho do laser scaneador passeando pelos móveis fez todas as minhas fibras nerds se contorcerem.

Mas me pareceu que os produtores gastaram uma parcela de tempo considerável trabalhando com o screenplay e os personagens principais, e o resultado disso é o que mais sobressai. Cada um deles parece ter sido milimetricamente planejado para refletir a família americana típica. Tem o garoto hiperativo, a filha tímida com jeitão gótico, a supermãe com quilinhos a mais na bunda e o pai que se arrasta num emprego chatérrimo por um salário ínfimo. O visual contribui: cada um dos personagens é uma caricatura ambulante, a personalidade de cada um é amplificada pelo jeitão cartunesco de cada rosto. Todas as emoções são facilmente percebidas, até melhor do que quando se usa atores de verdade. O resultado: empatia instantânea com o público.

Esse é o maior superpoder dos personagens do filme: o carisma.

Já o roteiro é bem dividido e funciona que é uma beleza: primeiro tem a clássica familiarização com os personagens, depois dá-lhe aventura, com a resolução de todos os conflitos pessoais no final de tudo. E o screenplay dá a dose certa de humor e ação no meio do caminho, além de ser recheado de referências a outros filmes, como a clássica perseguição na floresta, com veículos em altíssima velocidade, que se vê em Guerra nas Estrelas. Os próprios Incríveis são meio que uma homenagem descarada ao Quarteto Fantástico.

Mas Os Incríveis tem que ter um ponto fraco (afinal, o que seria do Super-Homem sem a kriptonita...). O único problema que vi no filme foi que ele é muito mais para adultos do que para crianças. Durante uma das cenas, lembro-me de ouví-las comentando, confusas: "Aquele ali que é o vilão"?

E o padrão Disney de filmes com moral no fim foi pras cucuias. A Pixar até tentou consertar: antes do filme eles passam um "curta metragem" sobre uma ovelhinha que é tosquiada e se sente mal por ser diferente. Aí vem um coelho e lhe instrui a não estranhar a diferença: "Não importa se sua pele é branca, negra, amarela ou rosada", dizia ele, claramente entregando pra que o filminho se propõe. E as crianças perto de mim comentavam:

- Que coisa mais chata, passa logo o filme aê!

Em resumo: Os Incríveis é visualmente bonito, bem escrito e tem personagens supercativantes. É diversão garantida, mesmo se você for adulto e assistir uma versão dublada. Pode levar seu filho, sobrinho ou afilhado que eu recomendo, pra você e pra ele.

P.s.: Eu sempre acho umas preciosidades nos comentários dos usuários do IMDB... olha esse extremista religioso aqui, por exemplo...

P.p.s.: O Vilaça me explicou uma cena no fim do filme que eu não tinha entendido. Aparecem dois velhinhos conversando sobre a vitória dos heróis e falando: "Como nos velhos tempos", "Assim é que era bom!" e coisas assim. Na verdade, são caricaturas de dois animadores da "velha guarda" da Disney, Ollie Johnston e Frank Thomas, e sua fala é uma homenagem bem explícita aos pioneiros da animação. Mais um ponto para a Pixar!

Listinhas de final de ano

2004-12-14 14:19:00 +0000

Estamos em dezembro e é hora das famosas retrospectivas e listas de "melhores do ano".

A Newsweek publicou os dez melhores (e os dez piores) filmes de 2004. Eu não assisti a nenhum dos filmes indicados como melhores. Por outro lado, eu vi quatro dos dez piores e adorei um deles, o Dogville.

Olha ele na minha lista dos melhores de 2004...

1. Encontros e Desencontros
2. Fahrenheit 11 de Setembro
3. Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças
4. Dogville
5. Kill Bill

E os meus cinco piores são esses...

1. Hellboy
2. Van Helsing
3. Garfield
4. Taxi
5. Olga

Já no ramo musical, meus TOP 5 discos de 2004 já vai muito errado. Ouvi muitas coisas novas esse ano, mas a maioria delas foi lançada anteriormente. E perdi vários lançamentos (como o Beastie Boys e o !!! (chk-chk-chk) novo).

O bom disso é que descobri várias bandas excelentes. Olha meu TOP 5 bandas descobertas este ano. Tem seis bandas mas você pode fingir que não viu:

Godspeed You! Black Emperor
The Books
Migala
The Rip Off Artist
Elefant
The Postal Service

Mas voltando ao que foi lançado só esse ano, meu TOP 5 discos de 2004 fica mais ou menos assim:

1. Misery is a Butterfly, Blonde Redhead
2. It's all around you, Tortoise
3. Sonic Nurse, Sonic Youth
4. Together we're heavy, The Polyphonic Spree
5. Venice, Fennesz

O mais estranho é que vários discos que estão em todos os TOPs 2004 eu ouvi e não gostei. Exemplos:

Antics, Interpol
A Grand Don't Come For A Free, The Streets
Bows + Arrows, The Walkmen

O Primo NÃO recomenda - Irreversível

2004-12-10 04:48:00 +0000

Irreversível é "aquele com a cena do estupro da Monica Belucci". Bom, pelo menos é o que todo mundo, inclusive a sinopse atrás do DVD, diz sobre o filme. Eu já aluguei sabendo que ia ficar ou enojado ou inalterado com a cena do estupro, conforme ela fosse bem ou mal feita.

O resultado: fiquei inalterado pela cena. Mas só porque, antes dela, teve uma outra MUITO, mas MUITO mais chocante. Não vou falar como ela é nem onde aparece. Pra não estragar a história, vou contar só uma coisa: tem um extintor de incêndio.

Depois dessa cena eu precisei parar o DVD e dar uma circulada pela casa, porque eu não estava me sentindo bem. O mal-estar foi tão grande que qualquer coisa que viesse depois ia ser fichinha - ou seja, ver o estupro não me despertou nenhum efeito. Eu já estava nauseado demais.

Teve um usuário do IMDB que resumiu o que eu achei do filme em uma frase: Irreversível não é bom nem mau mas é diferente. Mas mesmo assim eu o des-recomendo veementemente, com todas as forças. Pelas seguintes razões:

É um filme que não traz NADA de bom. Pelo contrário, ele rompe a barreira do "entretenimento" e da "representação" e consegue provocar mal-estar físico. E já bastam as agruras da vida pra nos fazerem sentir mal. Você quer pagar pra se sentir mal? Vá a um necrotério que dá no mesmo e sai de graça.
O roteiro é fraco e previsível. Os "créditos iniciais" tem TANTAS dicas pra fazer você perceber que a história vai ser contada de trás pra frente que cansa. E depois de um certo ponto do filme dá pra sacar praticamente tudo que vai acontecer. Isso sem falar nas "falas proféticas" que os personagens começam a ter. Muito bobas.

Mas sem avaliar Irreversível de uma perspectiva moral, dá pra ver certas qualidades técnicas:

Grande parte do mal estar provocado vem da música, composta por ninguém menos que Thomas Bangalter, metade do duo francês de música eletrônica Daft Punk. O último álbum da dupla, Discovery, é uma bela porcaria, mas o Sr. Bangalter fez um excelente trabalho no filme.
Ficou magnífico o trabalho de iluminação, que vai ficando diferente a medida que o filme, hã, regride.
Os efeitos especiais ficaram tão bons, mas TÃO BONS que eu caí feito um patinho. Depois da fatídica "cena do extintor" eu podia jurar que aquilo era um snuff film. Fiquei desesperado, só sosseguei depois que vi, nos extras do DVD, o making of da cena. Só aí eu, ironicamente, acreditei que não era real.

Mas, sabe o que é? Existem tantos filmes por aí que vão lhe dar uma experiência de sonoplastia excelente, iluminação perfeita e efeitos super-realistas, com um roteiro muito melhor e sem o sofrimento que Irreversível propicia. Passe longe desse filme.

P.s.: Vale uma visita na crítica do Cinema em Cena. O Pablo Vilaça deu cinco estrelas e disse que chorou no final do filme. Os leitores do site saíram comentando: "5 estrelas? Tá louco?", "Nota 0", "Filme horroroso", "Dessa vez o Pablo acertou" e demais opiniões divergentes.

Um Gay Estranho no Ninho

2004-12-09 22:56:00 +0000

Apesar das férias eu tenho visto poucos filmes no meu tempo livre. Hoje aproveitei e aluguei um mais "crássico": Um Estranho no Ninho, com Jack Nicholson, vencedor de num-sei-quantos Oscars na década de setenta.

Realmente o filme é excelente, muito bom mesmo! Só estranhei o final, mas tudo bem.

Como não podia deixar de ser, o filme teve outros destaques pra mim:

Virei fã do Scatman Crothers... cara, esse negão é muito legal. Desde O Iluminado eu já tinha adorado o jeito esquisito dele. E esse nome, "Scatman Crothers", que que isso... acho que vou fundar um fã-clube dele no Orkut.

Tinha uma coisa me incomodando no Chief, o grande índio representado por Will Sampson. Ele parecia meio gay...

Eu até achei ele meio parecido com o Carson, o "gay da moda" de Queer Eye for the Straight Guy...


Sampson Vs. Carson - Não parece muito mas eu achei que era.

O que houve com o Jack Nicholson? Nesse filme e n'O Iluminado ele esteve tão inacreditavelmente bem... não é nem a sombra da sua atuação "Rede Globo" no "Alguém tem que CD"...

O Primo recomenda - Moça com brinco de pérola

2004-11-29 02:47:00 +0000

Eu sei que estou mais de um ano atrasado nesta recomendação mas ela vai mesmo assim.

Quando vi o trailer deste filme, senti uma vontade muito grande de vê-lo por causa de um fator em específico: a fotografia. "Que diabos, parece uma pintura em movimento", pensava eu.

O Pablo Vilaça, minha referência par o bom cinema, disse em sua crítica:

Porém, até mesmo estes aspectos técnicos da produção empalidecem frente à fotografia espetacular do português Eduardo Serra, que se inspirou na obra de Vermeer ao conceber o belíssimo esquema de luzes e cores do projeto. Criando enquadramentos extremamente elegantes, Serra e Webber tomam grande cuidado com os detalhes: veja, por exemplo, a cena em que Griet observa a camera obscura no ateliê do patrão e perceba a disposição impecável dos objetos de cena, a incidência da luz e o equilíbrio do plano: o resultado é tão maravilhoso que poderíamos perfeitamente imprimir aquela tomada em uma tela e pendurá-la em qualquer museu do mundo. E o melhor: este não é um exemplo isolado; não há um só plano em Moça com Brinco de Pérola que não pareça ter sido exaustivamente preparado por Eduardo Serra.

O grifo aí no final é meu, porque foi exatamente o que eu percebi nos instantes iniciais do filme. Griet, a personagem de Scarlet Johansson, começa o filme cortando verduras para uma salada. Aquela primeira cena, das diversas verduras em cima da mesa, davam, sozinhas, um quadro belíssimo. Eu achei que estava viajando, porque não ia dar pro Eduardo Serra fazer "pinturas" com TODAS as cenas do longa... mas foi exatamente o que aconteceu.

Contudo, a imagem não é nada sem conteúdo: As atuações de Johansson e Firth são fabulosas, a intimidade entre seus dois personagens fica cada vez mais explícita à medida em que ambos não conversam, por não haver mais necessidade. Os inúmeros diálogos não-verbais dos dois ficaram muito bem representados.

Aí, pra bichar o final de semana, eu tinha que pegar um filme ruim.

O Primo NÃO recomenda - Anjos da Noite - Underworld

Eu nem vou gastar meu teclado com este filme, vou apenas reproduzir um diálogo entre eu e minha irmã, enquanto assistíamos:

- Putz, mas essa mulher atua mal demais, credo! Como será que botaram uma mulher tão ruim de serviço pro papel principal?
- Deve ser mulher do diretor.
- Que nada... não pode ser.

Aí o filme acabou e eu vi que a direção era de Len Wiseman, marido de Kate Beckingsdale, a atriz principal. Acho que já expliquei o suficiente, né?

Se precisar de mais argumentos, veja a crítica de duas estrelas do Pablo Vilaça.

O Primo NÃO recomenda: Taxi, a.k.a. "o filme com a Gisele Bünchen"

2004-11-08 04:17:00 +0000

Eu estava no banheiro quando gritaram, lá da sala:

- Zé... vamos ver o filme da Gisele Bünchen hoje?
- Vamos...
- Hein?!
- Vamos, ué...

Depois que confirmei a resposta, olhei pros azulejos do banheiro e vi que eu provavelmente estava fazendo uma cagada. Mas não tinha problema, no máximo eu ia ter algo pra falar mal aqui no blog.

Aí fui ao cinema e... o filme começou até engraçadinho. O policial desastrado Washburn (Jimmy Fallon) me fez rir algumas boas vezes nos primeiros 10 minutos. A personagem da Latifah, Belle, também estava razoavelmente legal. Na verdade, eu ri bastante durante todo o filme e mais um pouco depois do final, já que tem os erros de gravação durante os créditos.

E eu ia escrever um post recomendando este filme aqui. Mas enquanto escrevia, pensei: "Taxi é um filme bom para o que se propõe. Mas tem filmes tão melhores... e este blog tem uma reputação a zelar". Daí segue a des-recomendação.

Vamos aos destaques:

Uma coisa realmente me irritou no filme. Na verdade, duas coisas. A primeira foi a quantidade de "damn!" que a Latifah fala. Parece que "damn!" é o caguete do mau ator que também é hip-hopper.
A outra coisa foram as falas em português de Gisele e suas amigas. É a primeira gangue de supermodelos brasileiras que falam com sotaque português de Portugal.
Falando na Mrs. Bünchen, logo que ela entrou na telona, o cinema inteiro começou:

- Ay, mamacita!
- Nossa!
- Uaaau!

E eu juro por Deus que eram as mulheres que faziam estes comentários.

Passou a cena em que Washburn e Belle estão indo dormir e ele faz piada com o sobrenome dela ("precious... my precious"). Depois que o cinema inteiro riu, uma amiga que estava conosco perguntou para o namorado dela:

- Ei, isso é do Senhor dos Anéis?
- Uhhh, é sim...
- AHAHHAHAHAHAHAHAHA.... - e mais cinco minutos de riso histérico.

Hulk - Um lindo filme

2004-11-05 14:26:00 +0000

E ontem à noite eu assisti o filme do Hulk quase todo.

O filme é horrível, medonho, no nível de clássicos da infâmia, tipo Anaconda. Mas uma coisa me impedia de desligar a tevê...

Enquanto as cenas se desenrolavam eu pensava: "Mas que diabos, Hulk versus poodle gigante? Que porcaria é ess... uau... Jennifer... uau... credo, agora tem um pit-bull gigante com caxumba? Que roteiro mais filme B, se eu fosse o Hulk e tivesse que encarar inimigos assim o tempo todo eu ia ter uma depressão profund... uaau... Jennifer... meu Deus, que olhos, que cabelo... uau...

Só consegui desligar a TV na cena do Hulk no deserto. É que ficou mais de 10 minutos sem aparecer a Jennifer, aí deu sono.

Filmes

2004-10-13 04:44:00 +0000

Feriado prolongado é sinônimo de atualização cinematográfica. Vamos aos breves comentários dos filmes destes quatro dias...

Gothica (Na Companhia do Medo)

Esse eu só assisti porque o DVD tava dando sopa aqui em casa; havia sido alugado pelo namorado da minha irmã. Ele fez milhões de recomendações sobre o filme, que ele era excelente, etc, etc. Por isso, assisti o filme sem muitas esperanças de que ele fosse bom.

Gothika chama-se Gothika porque... bem, eu não sei e se você souber, me avise. Mas é a história da Dra. Miranda (Halle Berry), brilhante psicóloga, casada com um gorducho chamado Doug (Charles Dutton). Sua vida é um mar de rosas, como o filme (forçosamente) mostra nos seus minutos iniciais. Mas, numa noite chuvosa, um acontecimento sobrenatural faz com que tudo mude.

Este filme têm me mostrado que, quanto mais um filme se baseia em um roteiro legal para ser interessante, menos ele deve mostrar no seu trailer. Digo isso porque na véspera de quando vi este filme, o namorado da minha irmã fez questão de me mostrar o trailer que estava no DVD. Ele queria me mostrar também o videoclipe do Limp Biskit, mas eu mandei ele se foder. Bom, voltando ao assunto, o trailer tirou a maior parte da graça do filme. Ele mostrou, por exemplo, uma cena-chave: a da primeira aparição da menina, hã, "sobrenatural". Então, quando eu vi o filme, eu já sabia exatamente o que ia acontecer com a Dra. Miranda quando ela estava passando pela ponte. Fiquei sem o susto e sem a surpresa.

Na verdade, mesmo se eu não tivesse visto o trailer, nos primeiros quinze minutos de filme eu já teria descoberto toda a trama, porque ela não é NADA original. Trata-se da velha história do personagem principal, que é o único que tem razão durante o filme todo, e que tem que passar por maus bocados para convencer a todos do seu ponto de vista. E o roteiro tem umas "gambiarras" que só pioram a manjada história.

Mas Gothika tem lá seus méritos. A Halle Berry mandou bem, o Robert Downey Jr. tinha um personagem cativante e muito bem representado... o cenário é muito bom, embora a prisão/manicômio onde o filme se passa seja muito irreal. Onde já se viu uma superprisão daquela? Além do mais o filme usa bem seus efeitos especiais. Um dos pesadelos da Dra. Miranda, que é contado de trás para frente, é interessante. Mas fica só nisso: é um "pipocão" de suspense, legalzinho, mas só.

A crítica do Pablo Vilaça pra este filme deu duas estrelas. Eu concordo.

Scary Movie 3 (Todo Mundo em Pânico 3)

Calma, calma. Este DVD também ficou dando sopa aqui em casa, caso contrário eu JAMAIS teria visto isso.

Bom, resumindo, as paródias deste filme envolvem O Chamado (que eu vi pela metade), o Sinais e o filme do Eminem, que eu não vi. Dei boas risadas com o Charlie Sheen e fiquei babando na Anna Faris, a personagem principal.

O Vilaça deu duas estrelas para o filme e disse que ele é 30% engraçado. Eu que sou mais bobo ri um pouco mais. Mas... quer saber? Falemos de um filme que realmente vale o review.

Kill Bill vol. 2

Esse eu fui ao cinema, me atrasei e não entrei, fui no dia seguinte e encarei um shopping lotado para ver. Ah, Tarantino. Maldito, você tem lá suas razões para ser tão egocêntrico.

Alguns poderiam considerar que o Vol. 2 da "trilogia de dois filmes" é chato. Realmente, ele começa bem devagar quando comparado com o primeiro, porque mostra muitos flashbacks de como tudo começou. Na verdade, Tarantino parece estar aproveitando a brecha para bolar diálogos com frases de efeito e prestar suas homenagens aos antigos westerns e filmes dos anos sessenta. Ah, e para babar ovo da Uma Thurman. Mas, convenhamos, o Tarantino tem TODAS as razões para babar ovo na Srta. Thurman. Mesmo coberta de sangue e terra, com o cabelo detonado, ela continuava linda.

A coisa fica interessante quando o filme mostra o seu treinamento com Pai Mei, o velhinho das barbas brancas e das maiores sobrancelhas da história do cinema. Gostei, em especial, de uma das falas dele, quando tentava ensinar a personagem de Uma a socar através de uma tábua de madeira:

"Não é você que deve temer a madeira, e sim a madeira que deve temer você"

Aí o filme engata uma terceira e vai fundo. A "noiva" continua na sua vingança sangrenta. O combate entre ela e Elle Driver, a mulher "pirata", é simplesmente fantástico e compensa, com muita folga, toda a lentidão do início do filme. O final do combate é simplesmente nojento, talvez a cena mais nojenta da história do cinema. Uau, eu já disse "história do cinema" duas vezes...

Não vou contar mais nada pra não estragar a graça do filme. Mas Kill Bill vol. 2 se garante numa coisa: estilo. É como se o Tarantino dissesse: "Vocês querem entretenimento? Então TOMA entretenimento". Classudo. Divertido quando é pra ser, agressivo quando é pra ser. Eu recomendo!

Quando o filme acabou, o cinema ficou engraçado: tinha gente em pé para sair, mas não saía, porque os créditos finais, com a Noiva passeando pela estrada, no melhor estilo noir, era muito cool para não ser vista.

O Vilaça criticou bastante o ritmo do filme, mas deu quatro estrelas. Pra mim, o ritmo do filme nem fez muita diferença no fim das contas. E ele ainda cita duas cenas que eu adorei: a de Elle lendo no seu bloquinho as informações que ela "viu na Internet" e a da Noiva e outra assassina duelando sobre... um teste de gravidez.

The Day After Tomorrow (O Dia Depois de Amanhã)

Esse eu acabei de ver. Na verdade, aluguei porque vi acompanhado de Bethania e da minha irmã e do namorado, aí optei por um filme pipocão na hora de ir na locadora.

As preocupações que eu sempre tive sobre aquecimento global e mudanças no clima me passavam um cenário de loooongo prazo. Mas no filme, basicamente, o clima terrestre simplesmente puxa a cordinha e "dá descarga". Em questão de dias, a Terra entra numa era glacial. Pra mim, forçou muito a barra. E, como eu não engoli a premissa do filme, ficou difícil fazer o roteiro descer pela garganta, principalmente quando ele cai nos velhos "personagens-heróis" que, "contrariando todas as expectativas", fazem feitos impossíveis e sobrevivem.

Ficou duro engolir o Dr. Jack Hall e sua atitude imbecil de "vou compensar meus anos de ausência saindo como louco pra resgatar, a pé, meu filho que está em Nova Iorque". Ficou duro ver os personagens escapando de uma onda gigantesca na base do cooper. Ficou mais duro ainda ver o vice-presidente fazendo o papel de "não acredito nas previsões deste cientista maluco e só quero saber do meu dinheiro". Mas... mas eu me diverti vendo este filme.

Mas me diverti fazendo comentários sarcásticos e irritando quem estava assistindo comigo. Alguns exemplos:

- O Sam Hall virou o "Donnie Darko" (era o mesmo ator)
- Quando o Donnie Darko salvou a menina que ele estava a fim, eu ficava repetindo "Oh, obrigado Donnie, vou compensar tudo para você em sexo mais tarde neste filme..."
- Na primeira aparição do presidente americano eu não me continha: "Ahhh trem doido... presidente americano é sempre um galã..."
- Quando os desinformados cidadãos saem da biblioteca para morrerem congelados, eu protestava contra o preconceito do filme, pois era um guarda NEGRO que os guiava para fora...

Mas no final, minha irmã até entrou na onda: "Uau, Nova Iorque vai ficar uma beleza agora, com 50 habitantes..."

O Vilaça confessou ter gostado de Independence Day e, por adorar uma catástrofe, gostou deste filme e o deu três estrelinhas. Eu também daria, mas mais pela minha atuação como o chato da noite.

O Primo quase recomenda: Olga

2004-10-09 05:04:00 +0000

Bethania me contou, outro dia, que a tia dela havia arrumado uma versão em VCD, piratíssima, de Olga, e que ela queria fazer uma sessãozinha de cinema na casa dela. Hoje, lá fomos nós.

E então, lá pelos imos de 1995, a Microsoft lançava o Windows 95 e começava a virar motivo de chacota pela tradição dos bugs no seu sistema operacional. Em 24 de agosto de 1996, uma versão bastante estável do Windows, para servidores, atingia sua versão 4.0... tratava-se do Windows NT.

O treco era bão, mas os micreiros da época não tardaram a apelidar o NT de Nice Try...

Olga é exatamente isso. Uma "nice try".

O filme é baseado numa história real fantástica, a fotografia é belíssima, maquiagem impecável, boa cenografia... e o Pior roteiro da história do cinema nacional. Pior com letra maiúscula mesmo. Obra de uma tal Rita Buzzar aí.

Eu quase morri de vergonha de ver Fernanda Montenegro recitando aquelas péssimas falas. Eu quase tive um troço ao ver o casal Olga e Prestes, no navio, e o mala-sem-alça do garçom falando: "Você não vai beijá-la?". Eu não aguentei e comecei a conversar mentalmente com o garçom:

- Tá, babaca, pela cena já deu pra entender, você não precisava falar isso.
- É ano novo! - dizia ele
- Tá, meu filho!! Sai daí!!
- Ela é sua esposa!
- MEU DEUS! Se eu fosse o Prestes eu diria: "Ooooh, sério meeeesmo?!? Se você não falasse eu não teria percebido!!"

Foi uma pena ver o Pior roteiro da história num filme que tinha tudo pra ser um fenômeno. Além disso, a filmagem "novela da Rede Globo" cansa: haja paciência pra tanto close nos atores. Coitados dos olhos da bela Camila Morgado, o diretor abusou deles o tempo todo. E o "zoom do mal" no alemão do navio, quando ele pergunta se Olga era judia, é de matar de rir. Fiquei incomodado também com a trilha sonora do Marcus Vianna. Aquele violininho irritante e seu vibrato eram quase um outdoor onde estava escrito "Ei!! Veja! Foi o Marcus Vianna que compôs esta trilha!!".

Na crítica do Pablo Vilaça a pobre Olga é bem mais crucificada, pelos mesmos argumentos que aqui expus. Mas prefiro considerar o filme não como um fracasso, e sim como uma tentativa. Uma tentativa legalzinha. Por isso, eu quase recomendo.

P.s.: É viagem minha ou a Camila Morgado estava lembrando muito a Jennifer Connelly?

O Primo recomenda: 21 gramas

2004-09-14 05:15:00 +0000

Existem filmes ruins, filmes mais ou menos, filmes bons, filmes excelentes e filmes que me deixam imóvel, tão extasiado que fazem com que eu continue assistindo os créditos rolando na tela por cinco minutos.

Normalmente, estes filmes "paralisantes" concentram, na sua melhor forma, fatores que fazem do cinema uma arte: boa atuação, boa fotografia, um roteiro fabuloso e uma direção impecável. 21 gramas tem isso tudo multiplicado por mil. Falemos de cada um destes aspectos.

Os personagens principais do longa são representados por um belo time: Benicio Del Toro (eu não dava nada por ele até vê-lo neste filme), Sean Penn (eu não dava nada por ele até vê-lo neste filme) e, olha que coincidência, Naomi Watts. A mesma de outro dos melhores filmes de todos os tempos (pelo menos pra mim), o Cidade dos Sonhos, que reviewzei aqui no blog. Eu poderia me desmanchar em elogios à extrema competência, precisão técnica e verossimilhança da senhorita Watts, mas prefiro resumir tudo numa frase: Naomi Watts é, para mim, a melhor atriz de cinema da atualidade.

Curiosidade: a Srta. Watts nasceu na Inglaterra, berço de outra atriz muito genial e que parece mas não é americana: Nicole Kidman. Mais curiosidade: as duas são tão amigas que ela morou junto com Kidman depois da separação com Tom Cruise, segundo o IMDB.

A cenografia/ fotografia anda de mãos dadas com o roteiro de uma forma que potencializa todo o efeito "emocional" do filme. Há uma cena em que um garoto usa um aparelho pra limpar as folhas caídas em frente a uma casa. De repente, um carro passa de relance, o garoto continua lá. É a cena mais normal do mundo, mas eu estava na beiradinha da cadeira, coração disparado, minhas lentes de contato secando de tanto que eu não piscava. Ou quando Cristina está boiando na piscina, para relaxar, e eu quase morrendo de susto. Além destas peripécias, 21 gramas é, cenograficamente, um filme de detalhes. De mínimos detalhes. De fato, a história é, em grande parte, contada por eles. São coisas simples, como os azulejos de bichinho da casa de Cristina ou uma foto da caminhonete de Jack, pendurada na sala, que "amarram" as cenas difusas e permitem entender o roteiro.

Ah, o roteiro. Filmes não-lineares já tendem a agradar; vide os exemplos de Cidade dos Sonhos ou mesmo Amnésia. Mas, com uma edição magnífica como essa, 21 gramas acaba estabelecendo um novo benchmark para o gênero. Além de tudo os diálogos são geniais, principalmente os de Jack, o personagem de Del Toro, quando ele encarna sua faceta religiosa-extremista. Destaque para a cena onde ele diz: "Inferno? O inferno é aqui" e aponta para... bem, não vou contar.

A direção, do mexicano Alejandro Gonzales Iñárritu (??!) que também é co-roteirista, é... difícil de avaliar. Num filme onde tudo é excelente, onde os atores esbanjam talento, onde o roteiro é magnífico, seria a atuação do diretor irrelevante? Ou seria ele a liderança que coordena os talentos e fazem-os produzir bem? Neste último caso, o Señor Iñárritu merece aplausos.

Caso queira saber mais vá ler uma crítica de verdade sobre o filme, como a do Pablo Vilaça no Cinema em Cena. Ele deu cinco estrelas para o filme. Eu daria seis. Ah, e para risadas, leia a crítica do Rubens Ewald Filho (de uma p...) no site E-Pipoca (fora do ar quando tentei acessar, por isso estou linkando a versão do cache do Google). Esse cara não sabe nada de cinema...

Mas vá ver, eu recomendo. Afinal, poucos filmes me fazem perder horas de sono só para escrever um loooongo post como este a essa hora da manhã.

O Primo recomenda: dois filmes "pipocão" que tinham tudo pra ser ruins

2004-08-30 18:52:00 +0000

Primeiro: Eu, Robô

A primeira coisa que deve ser dita é que o Eu, Robô não tem nada a ver com o livro homônimo, do Isaac Asimov. As semelhanças são, basicamente, as famosas três leis da robótica e o empréstimo de alguns personagens-robôs e de alguns humanos, como a Dra. Susan Calvin, personagem marcante no livro mas fraca e abobada na película.

Além do mais, o filme conta com Will Smith no papel principal. Grande parte do seu roteiro dedica-se a fazer merchandising descarado do seu tênis All Star, "vintage model 2004" (já que o filme se passa algumas décadas à frente). As piadas de Smith são fracas e insossas e sua atuação, mediana.

Mas então porque diabos eu estou recomendando este filme? Primeiro porque é um filme de ficção científica e os fãs do gênero, como eu, gostam de um roteiro coeso e de efeitos bonitos. E o filme possui ambos. A história não é lá um primor de redação mas cumpre seu papel e desvia-se habilmente de becos sem-saída, como o de explicar o por que dos robôs estarem agredindo humanos, coisa que é proibida pela primeira lei da robótica. As cenas de ação envolvendo Sonny e os outros robôs NS-5 são de tirar o fôlego, já que os efeitos especiais dos robôs são perfeitamente realistas. Tem até uns momentos Matrix, com pontos de vista alternativos para a ação (exemplo: no carro de Will Smith quando ele capota) e belas cenas em câmera-muito-lenta.

Em resumo, Eu, Robô não é nenhuma obra de arte cinematográfica, mas diverte e vale o ingresso.

Segundo: Colateral

E o Tom Cruise tem se dado bem nas minhas recomendações cinematográficas. A última foi em O Último Samurai. Entretanto, neste filme, Cruise não se dá lá tão bem com o seu papel de assassino profissional. Como action man, ele parecia estar melhor em Missão Impossível.

Pra piorar, Colateral não tem a força roteirística dos samurais (desculpem o trocadilho). Na verdade, minha expectativa era alguma coisa como aquele filme, o Por Um Fio, já que a maior parte da trama se passaria também num lugar pequeno e fechado: o táxi de Max (Jamie Foxx).

No desenrolar das coisas temos clichês, como o do policial que acredita na hipótese mais bizarra para um caso e ninguém acredita nele, embora ele tenha razão. A trama é resolvida, no fim do filme, de um jeito fraco e sem impacto. Alguns personagens importantes são "chutados" para fora da história sem muita explicação. E com todas estas fraquezas, eu ainda recomendo esse filme...

Porque o que me fez gostar de Colateral foi o seu ambiente, causado primordialmente pelo conjunto urbano de Los Angeles e sua fotografia maravilhosa. As tomadas noturnas da cidade são tocantes. Todo o trabalho cenográfico, desde a luz até a composição das cenas, já faz valer o ingresso. A primeira cena, onde Max leva como passageira a advogada Annie (Jada Pinkett Smith), justifica novamente o ingresso pela ótima atuação de ambos em circunstâncias tão complicadas: afinal, que expressão corporal se usa quando é preciso atuar sentado em um carro?

Quando tudo é colocado na balança, Colateral acaba saindo com um saldo positivo e, portanto, eu recomendo. Claro que você que é esperto vai dar preferência para os filmes realmente bons, como o Fahrenheit 9/11, antes de ver estes... mas Eu, Robô e Colateral também quebram um bom galho.

O Primo recomenda MUITO: Fahrenheit 9/11

2004-08-12 04:59:00 +0000

Primeiramente, ALELUIA, consegui assistir este filme... yay! Três vivas pra mim mesmo!

E, segundamente, uma historinha:

Eu gosto de tirar fotografias. Como estou de "férias", estava com a minha câmera quando fui comprar os ingressos do filme. Quando saía do shopping, resolvi fazer uma foto de uma das placas do estacionamento.

Enquanto enquadrava a foto, um segurança passou por mim, falando nervoso no seu walkie-talkie. Minutos depois, outro me abordou, sem graça:

- Tudo bem?
- Tudo...
- Você está tirando foto de algum carro?
- Não, por quê?
- N-nada, só perguntando mesmo.

E saiu, ainda mais desconfortável do que estava.

Antes disso, durante minha estada, vi várias coisas que queria ter fotografado: crianças brincando na mini-creche que fizeram debaixo das esteiras rolantes; O parque de diversões instalado ao lado do shopping. Desisti das crianças pois, com certeza, os seguranças pensariam que sou um pedófilo ou coisa assim. Quando fotografava o parque, um funcionário do shopping, de patins, ficava me olhando meio torto...

Estou contando esta coisa toda porque fiquei chateado de ver o quanto as pessoas andam paranóicas. Algumas até sabem o quanto isto é ruim, como o segurança que me abordou no estacionamento: era como se ele estivesse com vergonha de me fazer aquela pergunta idiota. Esta paranóia é um dos assuntos abordados em Fahrenheit 9/11. E, se no Brasil estamos nesse nível, imagine só os norte-americanos...

Para falar um pouco mais do filme, comecemos pelo título, que parodia o nome de um livro de Ray Bradbury, chamado Fahrenheit 451. Traduzindo o que dizem da história do livro:

Em Fahrenheit 451, na visão clássica e assustadora de Ray Bradbury, os bombeiros não apagam incêndios - eles os provocam, para queimar livros. A sociedade, vividamente pintada por Bradbury, sustenta a aparente felicidade como principal objetivo - onde informação trivial é boa, enquanto conhecimento e ideais são ruins

Michael Moore pinta uma visão ainda mais catastrófica da sociedade, colocando como ator principal o velho conhecido de todos, George W. Bush. Mas Moore pinta uma visão desesperadora, inacreditavelmente chocante, dos Estados Unidos. Eu tive pena dos americanos. Se 50% do documentário for verdade, eu realmente não sei em que mundo meus filhos nascerão.

A "arma de destruição em massa" de Moore (perdoem o clichê, eu, hã, "não encontrei" outro melhor) é a magistral edição do filme. Moore, com colossal maestria, soube misturar a comédia com o drama, com a realidade chocante, mostrando onde devia mostrar e escondendo onde devia esconder, como por exemplo nas não-cenas do 11 de setembro. Nunca achei que fosse dizer isso, mas a forma com que ele retratou o 11 de setembro foi belíssima.

O filme inteiro é uma belíssima e marcante tragédia. Eu jamais vou me esquecer (lá vem um semi-spoiler, não leia se não tiver visto o filme) da fantástica cena onde a carnificina no Iraque é mostrada, com sangue, explosões, mutilados, tudo real e deprimente. Na sequência, quando você não aguenta mais ver tanto sofrimento, aparece Britney Spears. Ela dá uma, duas, três mascadas no seu chiclete e diz, no melhor tom loura-burra que existe: "Eu concordo com as ações do presidente". Esta, meus caros, é a cena mais perfeita que já vi na história do cinema. Os melhores atores e atrizes do mundo jamais fariam melhor. Essa cena, sozinha, vale o ingresso. Se você estiver acompanhado, a cena onde Bush é informado que "o país está sob ataque" e não faz absolutamente NADA, paga o outro ingresso.

Destaque para o trabalho genial de Moore também na trilha sonora do documentário: parecia que Shiny Happy People, do REM, foi feita especialmente para a cena onde foi usada. Pena não terem legendado as músicas. E destaque para o bom humor do documentário: sim, você ri em Fahrenheit 9/11. Ri da irreverência de Moore. Ri para não chorar.

A saída do cinema, após o filme, foi silenciosa. Parecíamos todos que estávamos saindo de um enterro. Na verdade, parecia que todos haviam percebido o que o segurança do shopping, o que me abordou, percebeu: que somos marionetes de um sistema falido. Todos nós, não somente os americanos.

Em suma, tomando como cobaia eu mesmo, que nem sou tão político assim, me senti extremamente compelido a me alistar nas fileiras da turma "anti-bush". Se este é o objetivo do documentário, Michael Moore vai cumprí-lo com muita facilidade. Fahrenheit tem um conteúdo bombástico somado à edição simplesmente perfeita. Para dizer que eu recomendo muito, mas muito mesmo, transcrevo as palavras de Bethania:

"Nossa Zé... esse filme é uma relíqua... você vai baixá-lo da Internet né? Quero ver de novo..."

P.s.: Antes do filme começar, vimos o trailer de um tal filme chamado Cellular. É um clone do Por Um Fio, tem um assassino, um transeunte e um telefonema que nunca acaba. Só que o trailer foi, foi, e foi indo... e mostrando, e mostrando... até que o pessoal que estava sentado atrás de mim começou:

- Ei, mas tá mostrando o filme todo!!
- Putz, nem preciso ir ver o filme mais...

E, nessa onda anti-bush, acabamos tendo como brinde um "anti-trailer".

Post triplo

2004-08-02 13:34:00 +0000

O fim de semana foi bem agitadinho. Pra compensar a falta de conteúdo lá vem post triplo.

(des)Entendimento

Sexta feira, logo depois do cinema (fui ver o filme do post abaixo), acabei indo parar num café para me encontrar com um amigo, cujo pseudônimo será Marcos.

Na verdade Marcos não estava sozinho, havia um punhado de colegas de trabalho dele e, dentre eles, uma loira. Logo que eu botei os olhos na loira, que conversava animadamente com ele, veio o flashback (estou ficando bom nisso).

Cena: eu e Marcos almoçando, há uns meses atrás. Marcos contava de uma colega de trabalho:

- Cara, você não acredita na mulher que trabalha lá comigo... é uma loira maravilhosa, alta, do olho claro, e ela é fabulosa...

E seguiu falando na diaba da mulher pelos dez minutos seguintes. Pelo tamanho do marketing concluí que a mulher realmente devia ser uma coisa de louco.

E, por dedução, percebi que a loira que papeava com ele devia ser mesmo a super-loira que ele falou.

Depois de reorganizar a mesa para acomodar a mim e mais uns cinco amigos que chegaram, acabei com dois deles à minha direita e a super-loira à minha esquerda. A garçonete quis saber o que beberíamos. Meus amigos pediram chopes e a garçonete me perguntou:

- Pra você também?

- Não, chope não, eu sou a mulherzinha do grupo aqui - respondi, brincando para ser simpático.

Aí lembrei da super-loira e, pra ser educado, completei:

- Com todo o respeito, é claro. Sem ofensa.

Nisso, sem o menor pudor, ela me perguntou:

- Você é "entendido"?

- Errr... o quê??

- Você é "entendido"?

- N-não entendi...

Na verdade eu não acreditava que era aquela a pergunta. Caso vocês não tenham sacado, ela me perguntou, usando uma gíria, se eu era gay. Enquanto eu fazia a minha melhor cara de perplexo ela confirmou a pergunta, soletrando lentamente.

- Você é EN-TEN-DI-DO?

O "não, não sou" quase não saiu da minha boca. Depois disso, ela me deu as costas e continuou conversando animadamente com o Marcos. E eu continuei papeando com meus amigos, apesar do sapo entalado na garganta. Deve ter sido porque eu estava de terno, só pode.

Uns quarenta minutos depois Bethania chegou. Depois dos cumprimentos, como é de costume, ela perguntou, fingindo um ciumezinho:

- E quem é essa loira aí do seu lado, hein??

A resposta veio com um sorriso:

- Ih, pode ficar tranquila, ela acha que eu sou gay...

O Primo recomenda MUITO: O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Sim, foi este o filme que eu assisti antes do fatídico episódio do post acima. A minha idéia inicial era ver o filme do Michael Moore, o Fahrenheit 9/11, mas Gabriel, minha companhia, acabou vendendo a idéia d'O Brilho Eterno:

- Mas o diretor é o Michel Gondry...
- Quem é esse?
- Ah, é um cara fera, dirigiu um monte de videoclipes legais, do Daft Punk, Chemical Brothers, Bjork, Massive Attack...
- Mas, e longa-metragem... ele fez algum?
- Não que eu saiba...
- Hmm... perai. Foi ele quem dirigiu o clipe de Around the World, do Daft Punk?
- Ele mesmo.
- Ok, que horas é a sessão?

Quando me sentei no cinema, eu não tinha absolutamente nenhuma informação sobre a história do filme e, de quebra, trazia comigo uma antipatia do Jim Carey. Quer dizer, as comédias dele são ótimas, mas sei lá. Entretanto, na hora em que o filme terminou, eu mal podia acreditar no que tinha visto.

Eu sempre pensei que, se eu fosse fazer um filme, ele seria sobre sonhos. Ou melhor, ele seria como um sonho: desconexo, irreal... a estética com a qual o cérebro desenha nossos sonhos é uma coisa que sempre me fascinou. Aí me chega o Michel Gondry e faz exatamente isso: filma o "sonho" de Carey. Quer dizer, não é bem um sonho, mas se eu disser mais que isso vai estragar a graça do filme.

O fato é que O Brilho Eterno tem um título estranho, um roteirista espetacular e um diretor fabuloso. Em vários momentos era fácil perceber a estética de videoclipe, mas, curiosamente, era exatamente isso o que tornava a cenografia maravilhosa. Nada poderia ter sido melhor do que um diretor de videoclipe para fazer este roteiro, que é genial, incrível, delicioso. Eu podia ficar horas só babando ovo do roteiro, mas vou poupá-los. Dentre os roteiristas está o Charlie Kaufman, que tem um belo currículo incluíndo o John Malkovich, Confissões de uma Mente Perigosa e outros.

Além disso tudo veio a cereja no topo do sorvete: a atuação de Jim Carey (paguei língua) e a da Kate Winslet. Eu, o "homem-pedra", me emocionei bastante com a maneira com a qual Carey fez seu personagem, Joel.

Destaques do filme, mas sem falar muito pra não contar a história:

- As cenas do consultório, da livraria e da casa de praia, que eram feitas com a iluminação estilo "lanterna", ou seja, só com o holofote montado na câmera. Me lembrou o Silent Hill...

- Os detalhes de cena que davam o clima de sonho e a sensação de que "tem algo errado", como placas das lojas da rua escritas ao contrário ou, o melhor deles, as pessoas sem rosto. Assustador, mas lindo.

- A reviravolta inicial da história. É um "tapa" roteirístico que você recebe no cinema, ele é tão eficiente que te deixa até meio abobado por um tempo. Funciona ainda melhor quando você (como eu) não faz a mínima idéia do que trata o filme.

- A cena do restaurante onde Joel pensa sobre "aqueles casais deprimentes de restaurante, os 'mortos jantando', que a gente vê e sente até pena". Achei que era só eu que reparava nisso...

Em resumo, O Brilho Eterno... é, simplesmente, imperdível. Mas imperdível MESMO. Eu recomendo muito. Agora, em contrapartida...

O Primo NÃO recomenda: Hellboy

Foi estranho: eu queria (ainda quero) ver o Fahrenheit 9/11. Bethania queria ver o do Almodóvar, o Minha Vida sem Mim. E, por alguma estranha razão, no domingo acabamos no Hellboy.

Esse foi outro filme sobre o qual eu não sabia absolutamente nada, além do fato de que Hellboy era um personagem de revista em quadrinhos. Pelo jeitão da coisa eu fui esperando um filme "sessão da tarde", uma "aventurete", e rezei para que a coisa não fosse no nível medonho dos filmes do Spawn ou do Hulk.

E, mesmo no nível de "aventurete", Hellboy fracassa, catastroficamente.

O personagem principal é um chato de galochas. O cara é saído do inferno e tinha tudo pra ser um tipo imponente, poderoso, mas acaba sendo apenas um bicho grande, inexpressivo, com problemas de adolescente de 15 anos, manias ridículas (gostar de gatos?!?) e o tom de voz mais monótono do cinema. Aposto que nos quadrinhos ele é muito mais macho.

Os coadjuvantes acabaram sendo muito mais interessantes do que o Hellboy: o "homem-rã", Abe Sapien, é bem legal e o vilão-ninja das espadas, apesar de movido a corda, era bastante estiloso. Destaque também para os maquiadores, que fizeram um belo trabalho. E o roteiro, bem... até agora eu não entendi como o "pai" do Hellboy pôde ser fraco daquele jeito. E a explicação para a recuperação da "alma perdida" da namoradinha de Hellboy, no fim do filme, é tão pobre...

Em suma, Hellboy não chega no nível de ruindade dos clássicos da infâmia, como Pecado Original, mas é mais que fraquinho: é patético. Já o Pablo Vilaça até gostou, mas eu diria pra você passar longe. Eu não recomendo.

2-hit combo

2004-07-14 22:28:00 +0000

Dia de ontem: Pânico, raiva e desespero.
Dia de hoje: Sucesso fulminante.

Em homenagem a esse caos da consultoria, segue um post duplo. Três vivas para o Primo!

O Primo recomenda - Fennesz - Venice

Christian Fennesz gravou Venice, em 2004, em Veneza. É um disco "ambient - alternativo - experimental" que conseguiu fazer uma coisa fantástica: unir antônimos.

Venice é tranquilo e barulhento. Lânguido e vivaz. Monótono e dinâmico. Frio e emocional. Desafinado e harmônico, tudo ao mesmo tempo. É como se você congelasse um pedaço de uma música de um disco do My Bloody Valentine e esticasse-o até o infinito.

Falando assim, com tantos clichês, até parece que o disco é chatérrimo, e ele realmente tinha absolutamente TUDO pra ser ou inaudível ou um pé no saco. Mas, surpreendentemente, não é nenhum dos dois. Mais surpreendentemente ainda, Venice consegue, na sua falta de melodia e de estrutura musical, ser emocionalmente intenso.

Quem me conhece sabe que eu tendo a ser tão "emocionável" quanto uma pedra. Por alguma estranha razão, Venice foi, pra mim, não apenas mais um disco de texturas interessantes, e sim um disco bonito e que deixa uma sensação agradável, de uma saudade de algo que nunca se viu.

Bom, mas não liguem pra essa breguice que eu escrevi e ouçam o disco. Eu recomendo.

O Primo recomenda: Spider-Man 2

Muita gente detestou, inclusive gente que eu admiro. O IMDB considera o filme "overrated". Um amigo meu disse assim:

Filme nada demais, as vezes chega a ser muito "Chaves-like" misturado com novela mexicana...

Além do mais, as filmagens foram bem tumultuadas. Tinham cenas sendo gravadas antes do roteiro ser escrito. O Tobey Maguire ficou doente, machucou o braço e o escambau.

Entretanto, depois que vi o filme, eu não podia considerá-lo como outra coisa senão uma das melhores adaptações de quadrinhos para o cinema que eu já vi. Melhor ainda que o primeiro filme!

Na minha opinião, o que tornou Spider-Man 2 excelente foi, justamente, o que os críticos argumentam que foi a parte ruim da história: o lado humano do Aranha. Quem acompanhava os quadrinhos do herói sabia que os piores vilões dele eram o aluguel atrasado, o "azar aracnídeo", os problemas amorosos, a falta de teia nas horas mais importantes... e é esse lado humano que tornava o Aranha verossímil, familiar e, consequentemente, um sucesso pelo mundo todo.

Alguns destaques do filme:

- O pequeno discurso da tia May sobre o porquê das pessoas admirarem os heróis, simplesmente fantástico, aposto que foi Stan Lee que escreveu.

- Dr. Octopus. Isso sim é que é vilão! Não podiam ter escolhido ator melhor que o Alfred Molina.

- Aranha e o "povão" no metrô desgovernado. Cena bonita e tocante.

- Parker, Mary Jane e o carro atravessando a vidraça da cafeteria. Finalmente devolveram o "spider-sense" ao aracnídeo...

- J.J.Jameson. Tão engraçado quanto no primeiro filme. Pelo visto ele será sempre destaque...

- Os créditos iniciais. É que eu detesto filmes que gastam cinco longos minutos só mostrando nomes na tela. Mas desta vez os nomes foram intermediados por desenhos dos personagens, em estilo HQ, e o resultado final ficou muito bom.

- Destaque ruim: os extras que faziam o papel de transeuntes assustados. Pelamordedeus, era até engraçada a expressão de pânico deles...

Agora crescem as expectativas para o terceiro filme. Todo mundo quer o Venom (embora isso seja bem improvável), há boatos de que a Gata Negra pode dar o ar da graça... eu, pessoalmente, adoraria ver o Kraven e o Lagarto. Afinal, já temos Dr. Connors e seria uma boa homenagem à excelente mini-série Tormento... mas enfim, embora eu seja suspeito pra falar, continuo recomendando este excelente filme.

O Primo recomenda: Uma Saída de Mestre (The Italian Job)

2004-06-21 17:35:00 +0000

O Italian Job tinha tudo pra dar errado: é o típico filme de ação com ladrões ultra-tecnológicos, inteligentes e tão carismáticos que te fazem se esquecer que eles são ladrões e considerá-los como heróis. Além do mais, é um remake...

O roteiro era mais do que previsível e cheio de clichês: tem o clichê da vingança, o clichê do "plano mirabolante", o clichê da tensão sexual entre os protagonistas, o clichê da "frase que Fulano sempre repetia e que outra pessoa repete". Os atores também não são lá essas coisas, inclusive a Charlize Theron e o Mark "Bombado" Wahlberg estão bem ruinzinhos.

Mas, como aventurete e filme de ação, The Italian Job faz um excelente, hã, trabalho. Porque é diferente, bem feito, bem filmado, a trilha sonora é discreta e eficiente...

Além disso, as cenas de ação são muito boas, bem acima da média dos filmes do gênero, porque não focaram no estilo "explosão/barulho/velocidade" e sim em um excelente trabalho de dublês/pilotos/motoristas. A perseguição de lanchas nos minúsculos canais de Veneza é realmente impressionante. O helicóptero que entra dentro da garagem e "duela" com o Mini Cooper de Wahlberg é de tirar o fôlego: colocar um helicóptero voando dentro de uma garagem é loucura, e os caras foram lá e fizeram.

E o filme tem várias coisas legais, como por exemplo:

- Os "carrões" das perseguições automobilísticas são... Mini Coopers!

- Um dos personagens chama-se... Napster!! A história do nome é engraçadíssima. E o filme tem uma ponta de Shawn Fanning, o criador do Napster, fazendo o papel de si mesmo.

- No meio de uma cena (por volta de 1h28min. de filme), tem uma correria no meio da rua e, no meio da multidão... o Homem Aranha. É sério. Eu não entendi nada mas rachei de rir.

Se o que eu falei não bastou, fique com a crítica do Pablo Vilaça, que também elogia o filme. Eu recomendo.

Filmes de terror e confissões do Primo

2004-06-05 04:41:00 +0000

No site Retrocrush, uma galeria de thumbnails com as 100 cenas mais assustadoras de todos os tempos do cinema.

A primeira, obviamente, é a cena do chuveiro de Psicose. Uma das minhas favoritas, a cena das gêmeas do corredor, em O Iluminado, do mestre Kubrick, tá entre as Top 5. Essa cena (e a outra, do "Redrum") dá MUITO medo. Kubrick tem várias outras cenas nesse Top 100, inclusive uma do filme Full Metal Jacket...

Tem ótimas lembranças, como a Londres vazia de Extermínio (ao som de Godspeed You Black Emperor!!!!) ou o alien que sai da barriga do cara, no primeiro filme da série. Tem bizarrices também, como a cena de sexo oral com um cara vestido de porco (WTF?) que tem também n'O Iluminado. Ou uma cena (pasmem) do filme do Dumbo!

Mas eu me borrei mesmo foi de ficar olhando os thumbnails e ver a cena mais assustadora de toda a minha vida: a menina morta (de susto) no armário, do filme O Chamado... mas ela não estava lá. Momento confissão: eu fui ver este filme sozinho no cinema. Depois dessa cena, fingi que meu celular tocou e saí da sala. Não vi o filme até o fim. E fiquei uma semana assustado. E se eu ver a cena de novo vou ficar mais outra semana assustado. Pronto, falei.

Update: olhando melhor, a cena está lá sim, na posição 52. Quase não notei porque o thumbnail não mostra direito. Ah, e pode clicar no link sem medo porque não tem a imagem direto, antes tem um aviso que diz, mais ou menos assim: "Se quiser ver a cena, clique aqui. Não diga que eu não avisei".

(Vi o link no Blog do Michael Jackson)

O Primo recomenda - Dolls

2004-05-27 04:12:00 +0000

Hoje à noite eu entrei na locadora para pegar um filme. Na prateleira eu já ia me decidindo por um dos filmes do Kubrick que eu ainda não tinha assistido quando, na TV da locadora, começa a tocar J-Pop:

"Ma-me-mi-mo-ma-ru, ma-me-mi-mo-ma-ru, Ma-me-mi-mo-magikaru..."

Na TV, uma japanese idol cantava para as câmeras de um auditório vazio.

- Que filme é esse?
- É Dolls, um filme japonês - respondeu a moça da locadora
- Ei, eu vi esse filme em cartaz mas não consegui assistir... tem ele pra alugar?
- Tem essa cópia aí que a gente tá vendo.
- Ah, então vou deixar vocês terminarem de ver, vou alugar outra coisa.
- Que nada! Pega esse filme mesmo, afinal ele está passando aí por marketing mesmo...
- Hmm... ok, então vou sucumbir ao marketing de vocês.

Eu não sei por que diabos eu quis assistir Dolls quando vi o cartaz no cinema. Mas sei que, depois daquela sessão de J-Pop, eu precisava ver aquele filme.

Agora que assisti posso emitir minha opinião, que é a seguinte: se todos os filmes de amor fossem como Dolls, o mundo seria um lugar melhor. Porque Dolls é um filme MUITO intenso e MUITO, mas MUITO bonito. Acho que este é o primeiro filme de amor que eu gosto.

Bom, na verdade é um filme sobre os excessos do amor.

Dolls é uma história excelente, magistralmente contada e com atuações perfeitas. E que mistura amores muito intensos com Yakusa, J-Pop e teatro de bonecos. Recomendo muito.

Coisas de destaque:

- Alguns argumentam que o diretor, Takeshi Kitano, fica tentando vender uma visão barata do Japão para o público ocidental. Na minha opinião ele filtrou o bom da cultura oriental que, naturalmente, fica muito interessante quando a confrontamos com a nossa.
- Dolls é um filme lento. Mas não se engane, porque a lentidão é proposital. É pra realçar a intensidade da repressão emocional dos personagens (putz). E pra envolver quem assiste. Funciona perfeitamente.
- O trabalho de direção e screenplay ficou excelente. Cada detalhe da história é contado na hora certa. O roteiro é genial, embora, paradoxalmente, as horas onde tudo é dito são as horas onde ninguém diz nada.
- Destaque para a cena de Nukui, o super-fã da cantora de J-Pop, dançando sozinho no seu quarto, com fones de ouvido. Aquilo sim que é cena de amor.
- Destaque mais do que especial para os grandes heróis do filme: os símbolos. A corda, as folhas vermelhas...

Curiosidades bestas:

- Quem canta a musiquinha J-Pop (uuuuuuultra-grudenta) que eu citei é uma japanese idol de verdade, chamada Kyoko Fukada.
- No Japão existem mesmo aqueles caminhões horrorosamente "tunados"!
- Toda vez que alguém entrava num carro eu pensava: "Ué, mas por que ele entrou do lado do passageiro?". Dois segundos depois eu me sentia um idiota.

Indicações

2004-05-17 04:51:00 +0000

Eu empolguei e desde a última sexta estou escrevendo este post... vou indicar três coisas duma vezada: um disco, um filme e um restaurante!

O Primo recomenda: The Books - Thought for Food

O mais legal deste disco é que é muito difícil descrever a sonoridade dele. Nenhum dos rótulos habituais parece se encaixar nele. Não é indie, não é eletrônico, não é acústico e é as três coisas ao mesmo tempo.

Mas todas as músicas são feitas tendo violões, guitarras acústicas, violinos ou baixos como base. Às vezes os violões são severamente picotados e sampleados, e em outras horas eles são tocados (quase) normalmente, em ritmo de blues ou pop ou folk.

Aí vêm os "temperos": os samples vocais. Este disco tem, sem sombra de dúvida, o uso mais criativo, dinâmico e interessante de samples vocais que já vi. Eles são naturais, curiosos, divertidos e inteligentemente posicionados. Por exemplo, a belíssima motherless bastard começa com as vozes de uma menina e um adulto conversando:

- Mommy? Daddy! Mommy?.. Daddy?.. Mom? Dad?
- You have no mother and father.
- Yeah I do!
- No! They left! They went somewhere else.
- No they haven...(ooh I hate you!)
- No, eh, I don't know you
- Dad...
- No, don't touch me, don't call me that in public.

Parece engraçado a princípio, mas conforme a música progride o mesmo sample é usado novamente, e soa completamente diferente...

Também em all your base are belong to them (os mais junkies de internet saberão facilmente de onde vem esse título), você ouve um countdown, depois aplausos, depois alguém diz:

- Oh, I was just clearing my throat...

E depois um "público" cai na risada. E você também.

Thought for Food consegue a proeza de se manter altamente interessante durante todas as faixas. Ele reinventa a música experimental sem ser pretensioso, e se dá muito bem nesse intento. Eu recomendo muito.

O Primo recomenda: Diários de Motocicleta

Eu fui ver este filme sozinho, já que estava sem carro, tinha acabado uma reunião de trabalho chatíssima e havia um cinema em frente o prédio onde eu estava. Do meu lado, no cinema, havia um gay escandaloso que, além de gritar durante todos os trailers, estava gripado.

Mas vamos ao filme... Diários de Motocicleta é, em resumo, a história de dois argentinos que planejam viajar toda a América Latina de moto. Os viajantes são Alberto Granado e Ernesto "Che" Guevara. O filme, dirigido pelo Walter Salles, foi inspirado nos livros que ele e seu parceiro escreveram durante a viagem.

Só por isso o filme tinha tudo pra dar errado porque as armadilhas eram muitas: ele podia facilmente se tornar só uma "vitrine" pras paisagens da América Latina, ou ficar "revolucionário" demais se focasse muito na construção do caráter do líder Che Guevara, ou pecar pelo inverso disso e esquecer completamente este aspecto e virar só uma sucessão de "causos" bobos da viagem. Mas a direção inteligente fez com que todos estes aspectos fossem trabalhados com muito equilíbrio. Ponto pro Walter Salles.

As partes engraçadas se alternavam com as sérias de um jeito muito apropriado. Os diálogos também foram muito bem escritos. Destaque para a genialidade de um dos diálogos, onde Guevara (apelidado de Fuser pelo seu amigo Alberto), de carona na boléia de um caminhão, observa os olhos de um dos "passageiros": uma vaca que ele quase atropelara minutos antes. Ele vira para o dono da vaca e diz:

- Esta vaca está ficando cega.
- E daí? Ela só vai ver merda mesmo... - responde o vaqueiro.

Aparentemente sem sentido, estas duas frases apontam discretamente para o caráter de lider revolucionário de Fuser. Inclusive, os "olhos" têm papel muito importante no filme e foram mencionados por ele em vários momentos. Pena que nessa hora o público não pareceu entender, porque começou a rir.

Inclusive, uma coisa que me irritou foi o comportamento do público no cinema: nas cenas do leprosário de San Paulo, na Amazônia peruana, o público ria quando apareciam os leprosos, justamente nos momentos onde Guevara estava mais sensibilizado a questões como igualdade e segregação. Não cometa este erro e perceba que Diários de Motocicleta vai mais fundo do que parece. Eu recomendo.

O Primo recomenda: Cantábria

(Obviamente, esta recomendação só vale pra quem, como eu, mora em Belo Horizonte)

Na sexta eu e Bethania resolvemos jantar em Macacos, uma micro-cidadezinha a alguns quilômetros de BH. A cidade estava deserta e os restaurantes de lá, também. Aí entramos num deles, chamado Cantábria.

Não havia ninguém no restaurante; só nós, a garçonete, o chef e a melhor moqueca de surubi que já comi em toda a minha vida! Some a isso o ótimo atendimento e o ambiente simples e agradável e você ganha uma recomendação d'o Primo.

Pode ir lá com sua namorada que é garantido. Bom, pelo menos a comida eu garanto, já o que você vai fazer com sua namorada é por sua conta...

O Primo recomenda não recomenda assistiu: Van Helsing - O caçador de monstros

2004-05-06 18:18:00 +0000

Eu nem sei direito o que eu comento desse filme. Vou ficar só nos highlights.

- Eu achei que o filme era do mesmo diretor d'A Liga Extraordinária, porque os filmes são, esteticamente, iguaizinhos.

- Em 90% das cenas parece que você está assistindo um videoclipe. Principalmente nas cenas com Drácula e suas "Draculetes", as noivas. Parece um clipe do Type O Negative.

- Dracula tem três noivas e já fez milhares de "filhos" com elas. Mas ele, com toda certeza, é gay.

- Foi só eu que fiquei incomodado com as orelhinhas pontudas dos lobisomens?

- Não podia faltar: O microfone aparecendo! É na cena da Anna Valerious com seu irmão depois da luta na, er, "carruagem de fogo". Alguém podia me explicar por que diabos ela pegou fogo, né!

- O filme é cheio de "forçadas roteirísticas" para amarrar a história. Eles entram no castelo do Drácula, vão para lugares distintos do castelo, separados por alguns quilômetros (de acordo com o que vimos nas inúmeras tomadas aéreas do castelo), mas levam apenas 2 minutos para atravessar toda essa distância e salvarem uns aos outros.

- Além disso, a forma com a qual eles descobrem o Frankenstein (?!) é ridícula: "Vamos tomar um absinto?" "Vamos". Aí o chão se abre e eles simplesmente caem na casa dele.

- Falando em Frankenstein, vale notar que ele lê a Bíblia e recita o Salmo 22: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra e da morte..."

- Ponto positivo para o ex-Faromir, agora frade-cientista, o Carl. Muito engraçado.

- A cara da Anna quando ela agarra a seringa com o antídoto, no finzinho do filme, em pleno ar, é inesquecível. Aplauda no cinema, porque merece.

- Falando em Anna, note que ela só sangrou UMA vez o filme todo, embora tenha sido jogada contra paredes, caído de telhados e rolado de penhascos de formas que nenhum ser humano resistiria. Deve ser aquele espartilho que ela usa.

Filmes! Filmes triplos!

2004-04-10 03:10:00 +0000

E os cinemas continuam lucrando com minha vida de solteiro. Os últimos três filmes que vi na telona foram:

Zemsta - A vingança

Acabei vendo este filme de graça, numa mostra sobre o Roman Polanski (ele atua no filme) que estava tendo no Cine Belas Artes. Consequentemente, tive que esperar quase uma hora e meia pra pegar o ingresso e entrar. Depois, a projeção do filme deixava as legendas num nível MUITO abaixo da tela, então você precisava fazer um balé com a cabeça pra poder lê-las. Além disso, as legendas não estavam muito em sincronia com o polonês falado no filme, e devido a época em que a história se passa, o português usado na legenda foi bem erudito, o que dificultou bastante a vida.

E no fim de tudo, Zemsta nem é realmente um filme. É uma peça de teatro contada como filme. Algumas falas são rimadas, a marcação de cena dos atores é como se eles estivessem num palco, e em alguns momentos os personagens até olham pra câmera e fazem aqueles comentários estilo "pensando alto", para o espectador.

Mas depois que você entende onde diabos amarrou a sua égua, Zemsta é uma ótima peça. Destaque para Polanski, no papel de Papkin, que faz um tipo divertido e carismático. Outro destaque é a história, que dá reviravoltas geniais e perspicazes a todo momento.

O declínio do império americano

Este filme é a maior coincidência...

Sabe tudo o que eu reclamei que o Ken Park não tinha? O Declínio tem. Os filmes seguem exatamente o mesmo caminho: uma vidinha suburbana que esconde mistérios inacreditáveis e comportamentos bizarros de seus personagens, principalmente no tocante ao sexo.

Mas a grande diferença é que O Declínio baila com maestria e graça por sobre o tema, abordando-o com toda a classe, discrição e inteligência que faltou ao Ken Park.

Destaque para a criatividade das histórias e a profundidade e carisma dos personagens. Mas o melhor é que eu não precisei ver nenhum p** duro pra que fosse mostrada a realidade das coisas. Ponto para o diretor, Denys Arcand.

O Declínio é imperdível. Mal posso esperar pra ver As Invasões Bárbaras agora.

A Paixão de Cristo

Bom, para este filme eu deixo o Pablo Vilaça falar por mim.

Concordo com tudo que ele escreveu. Inclusive a parte que mais me comoveu no filme foi a mesma para ele, a que Maria vai consolar Jesus na via crucis e se lembra dele quando menino. Eu, o homem-pedra, quase chorei.

Além disso destaco algumas outras coisas:

- As falas em latim, dos romanos, tipo o Pilatos dizendo: "Ecce homo!" (eis o homem!). Muito legal. Deviam fazer mais filmes com falas em latim.
- Monica Bellucci como Madalena. Não podiam ter escolhido atriz melhor para o papel da ex-prostituta, já que uma das suas características mais marcantes era a beleza física.
- Inclusive tem um problema aí. Os evangelhos não falam que Madalena era a mesma mulher que Jesus salvou do apedrejamento. Nos evangelhos, esta última é chamada apenas de "a mulher adúltera".
- O Diabo. Tirando a última cena onde ele aparece (pra quê aquilo?), a forma com a qual ele foi colocado no filme foi muito boa. Por sinal, o diabo é "a" diabo e eu nem notei...
- Os flashbacks da vida de Jesus como carpinteiro, ainda jovem e fazendo brincadeiras com a mãe.

O Primo NÃO RECOMENDA DE JEITO NENHUM: Ken Park

2004-04-09 06:59:00 +0000

O primeiro diretor que me mostrou que sexo e violência podem ter um fim útil num filme foi Stanley Kubrick, em Laranja Mecânica. Nele há uma cena especialmente forte, onde Alex e seu grupo de drooges invadem uma casa e fazem de refém um casal. A mulher do casal é, então, violentada enquanto Alex canta "Singing in the rain".

É uma cena muito forte, mas especialmente bem colocada; mais à frente somos levados à questionar o que seria mais violento, se seria este estupro ou a lavagem cerebral que fizeram em Alex. Além disso, o caráter extremo de todos os personagens de Laranja Mecânica serve para dar um clima de loucura extremada no mundo onde o filme se desenrola. Em suma: todas as cenas fortes servia a um propósito.

Em Ken Park as cenas são muito fortes, e eu só consigo imaginar duas finalidades para isso:

- Retratar a realidade de forma nua e crua
- Contrastar com a vidinha aparentemente suburbana e normal dos personagens

Quando um filme se propõe a retratar a realidade, o mínimo que se espera é alguma surpresa. Ken Park retrata uma "realidade" tão previsível que dá preguiça.

O filme começou e um dos garotos, Claude, estava ajudando o pai enquanto ele levantava pesos e se gabava dos seus músculos. "O pai dele é gay e vai tentar alguma coisa com ele", foi a primeira coisa que pensei. Bingo.

Depois, Shawn vai até a casa de Rhonda, uma mãe de família, e eles transam. Depois, Rhonda começa a perguntar da namorada de Shawn e eu pensei: "O Shawn namora a filha da Rhonda". Bingo.

Aí aparece o lar super-católico de Peaches e seu pai, viúvo. Peaches é a cara da mãe. "Peaches dá pra todo mundo e o pai vai molestá-la por causa da fixação com a esposa finada", pensei. Essa conta como um acerto parcial pra mim, porque o pai dela não a molestou; só a vestiu de noiva e "casou-se" com ela.

Em suma, todos os personagens são tão profundos quanto poças d'água. Também tinha o detalhe que todos eles usavam drogas, mas isso ia ser tão manjado que nem teve muito destaque no filme.

Aí só resta a opção das cenas fortes servirem pra contrastar com a vidinha suburbana dos personagens. O problema é que as cenas são MUITO fortes e obliteram todo o resto. Temos cenas de masturbação real (uma delas com esperma e tudo), temos sexo oral real, temos pênis totalmente à mostra, eretos, e por aí vai.

Aí fica todo mundo: "OOOHH", o filme vira polêmico, é banido em alguns países, consequentemente ganha destaque na imprensa e, bingo, Larry Clark, o diretor, aparece. Porque é isso que ele quer. Ele, inclusive, faz uma ponta no próprio filme como vendedor de cachorro-quente.

E de repente, tudo acaba. No fim de um bom filme você normalmente discute a história com os amigos, fica pensando no que viu, ou fica só extasiado com a beleza artística da coisa. Eu terminei de ver Ken Park e a única coisa que veio na minha cabeça foi: "Eu vi um bando de skatistas trepando". E só.

Pode passar longe desse filme. Não perca duas horas da sua vida com isso. Se você quiser assistir o filme porque ele é "picante", vá direto à prateleira dos filmes pornô. Dá no mesmo. Se você quer ver é sexo bizarro, ora bolas, você já está na Internet, o paraíso do sexo bizarro. Mas se você quer um roteiro decente, até Missão Impossível é melhor. Vá por mim.

Filmes

2004-04-06 04:48:00 +0000

Agora que todo mundo já riu bastante, posso terminar o review do filme do Kubrick, porque consegui terminar de ver.

Dica: se você for mulherzinha como eu, abaixe o som da TV e não use fones de ouvido que aí fica possível assistir. Mas vamulá:

O primo (continua) recomendando: O Iluminado

Bom, o que mais dá pra comentar sobre esse filme? Vamos aos destaques então:

- Todas as cenas com o Danny, o menino. Excelente atuação, você lê o medo no rosto dele. Mas a melhor é a cena com ele, a faca, o batom e o Redrum...
- Por sinal, alguém explique o pessoal que faz legendas que fica difícil ler "otanissassa" em um décimo de segundo.
- Os decoradores de cenário de Kubrick. Às vezes eu passo mais tempo olhando pra decoração do cômodo onde alguém está do que na cena propriamente dita, tamanho o cuidado com os detalhes. Acho que o Stanley tem uma obsessão com limpeza, simetria e equilíbrio de cores. Só pode.
- Os detalhes assustadores. As gêmeas, quarto 237, história dos três porquinhos, "all work and no play makes Jack a dull boy", e por aí vai.
- O nome do ator que fez o Dick Hallorann, o negão cozinheiro. Como é que alguém pode se chamar Scatman Crothers? Mistura do Scatman John com os Chemical Brothers?
- A foto do final do filme. Maldito Kubrick, ele fez de novo.

Agora, nos extras do DVD tem um documentário sobre os bastidores do filme, filmado pela Vivian Kubrick, filha do Stanley. Só esse imperdível documentário merece mais uma pá de destaques:

1) Jack Nicholson antes da cena com o machado. Ele entra no set assobiando calmamente, olha pra Shelley Duvall e fala, na maior normalidade do mundo:

- Que é isso aí, sal?

E aí começa a "entrar" no personagem, dando pulinhos e dizendo:

- Come on, you fucking fuck! Come on, death to pussy! COME ON! HA HA HA! KILL FUCK PUSSY DIE AXE DEATH YEAH!

Eu dei cambalhotas de tanto rir.

2) Danny Lloyd dando entrevista: "Só quero ver o que meus pais vão comprar pra mim com toda essa grana do filme"

3) Scatman Crothers (mas que nomezinho, viu) chorando e mencionando o Senhor (é, ele mesmo, o cara lá de cima) ao dar entrevista. "I'll never forget this"...

4) Kubrick descobrindo que o melhor ângulo de câmera para uma tomada é... no meio das pernas de Nicholson.

5) Kubrick quebrando o pau com a Shelley Duvall... de propósito, conforme ela mesma conta no final do documentário.

6) Os preparatórios pra cena do baile. Aquilo deu um trabalho danado.

Em suma, o primo obviamente recomenda. Mas com reservas. Lendo umas resenhas na Internet eu descobri uma pá de gente que até hoje tem medo. Tem um que disse que nunca conseguiu tomar banho de banheira depois do filme. Bom, você foi avisado.

Filmes

2004-04-05 04:21:00 +0000

Estar solteiro num domingo é horrível. Como álcool ou drogas não são uma opção para amenizar as coisas, eu acabo fazendo uma sessão tripla de DVDs.

Modéstia à parte, hoje eu fiz uma bela seleção de filmes. Vejamos:

Filme 1 - Das Experiment (A Experiência)

Primeiramente, não é a experiência que você está pensando. Foi sugestão de um amigo, formado em psicologia. É um filme alemão, com o mesmo nome, e baseado na famosa experiência da prisão de Stanford, onde um grupo de voluntários foi colocado para representar o papel de prisioneiros e guardas numa prisão fictícia.

Eles deveriam ficar neste "Big Brother" por duas semanas. Dois dias depois a coisa já começou a dar problema. Rebeliões, guardas sádicos e tudo o mais. Seis dias depois, a experiência foi encerrada por uma série de fatores. Um deles foi o fato dos próprios pesquisadores começarem a perder a noção de realidade e se acharem realmente diretores de um presídio, tamanha a imersão que a experiência proporcionou. No filme o final é outro, mas pelo que li no site oficial, o roteiro é muito fiel ao que aconteceu.

Estrelado pelo ótimo Moritz Bleibtreu, o mesmo de Lola Rennt (Corra, Lola, Corra), Das Experiment vale pela profundidade da história e dos personagens, e o quanto seus aspectos psicológicos ganham proporções conforme a experiência continua.

Destaque para a overdose de homens pelados, que felizmente foi compensada pela bela Dora (Maren Eggert), e pelo excessivo consumo de cigarros.

Filme 2 - Fargo

Fargo é um filme que conseguiu, espantosamente, unir o estilo "thriller" com comédia. Uma hora você está rindo dos caipiras do filme, na outra você vê um criminoso assassinando a sangue-frio.

Baseado numa história real (que coincidência, igual o Das Experiment), Fargo leva o nome da cidade natal de Jerry Lundergard, um vendedor de carros que planeja um sequestro fajuto da esposa para, com isso, ganhar o dinheiro do sogro. Mas o que é baseado na história real é apenas o aspecto "thriller" do filme. A parte comédia é trazida pela excelente atuação dos atores.

Um exemplo cômico é a Xerife Marge entrevistando duas prostitutas. O que se vê é um bando de caipiras conversando:

- Mais ié mess?
- Poizé!
- Mais num é que é...

Vários outros detalhes do filme acabam sendo engraçados, mesmo nas horas trágicas, violentas ou grotescas. Destaque também para a trilha sonora; a música-tema é muito boa. E tem também a fotografia, belíssima, ora explorando a beleza da neve e do inverno, ora exibindo a vida de jeca dos personagens. Há momentos que são verdadeiros quadros, mais notadamente as cenas com carros, na estrada ou nos pátios nevados dos estacionamentos.

Ponto para os diretores, os irmãos Joel e Ethan Coen, que fizeram um trabalho magistral neste filme. Gênios, os dois.

E aí, no final da noite, botei os dois filmes pra brigar com Stanley Kubrick, o diretor que mora no meu coração (de uma forma não-homossexual, é claro):

Filme 3 - O Iluminado

"Mas coomo assim, você, que baba um ovo danado do Kubrick, nunca tinha visto O Iluminado???", vocês devem estar se perguntando.

Verdade, nunca tinha visto. É que eu costumo reservar uns filmes que eu sei que com certeza serão excelentes para momentos de emergência, como este domingo. Ainda tenho no meu buffer alguns filmes do próprio Kubrick, outros do David Lynch...

O Iluminado é baseado num romance de Stephen King. O que fica bem óbvio logo no começo, já que a história é o super-clichê do terror: tudo passa num hotel distante, nas montanhas. Diz a lenda que o hotel foi construído sobre um cemitério indígena. O antigo zelador enlouqueceu e matou a sua família, composta pela mulher e duas filhas, a machadadas. E é pra lá que Jack Torrance (Jack Nicholson) vai trabalhar, com a mulher e o fillho...

E aí você tem os commodities de Kubrick (a maravilhosa fotografia, as tomadas de câmera, os cuidados com o som) somados a um roteiro assustador de Stephen King. Mas faltava uma coisa que sempre fica a critério do diretor: como dar forma ao suspense?

A resposta em O Iluminado é uma só: música.

É manjado falar da música dos filmes de Kubrick, que normalmente tem quase um papel próprio, e compõem as cenas como uma luva. Mas no caso deste filme, a música é tudo. Desde a abertura do filme, o fly-by sobre o carro de Jack que se dirige ao hotel... eu já comecei a sentir medo a partir desse ponto.

Uma curiosidade de cair o queixo: Wendy Carlos, que compôs a trilha do filme, também compôs a trilha do excelente Laranja Mecânica, ambos em parceria com Rachel Elkind. Só que nos créditos do Laranja você vai ler que a trilha foi composta por Walter Carlos, e não Wendy. "Como assim, ele mudou de sexo, é?", você se pergunta.

Mudou sim. Em 1972, W.Carlos fez uma operação de mudança de sexo! Dê uma sacada no site oficial de Wendy e olha a cara do(a) sujeito(a).

Problemas sexuais à parte, a trilha sonora é muito, muito angustiante. Todo o medo que não dá pra ser passado pela atuação dos personagens está contido na música. E o mais fantástico em relação à isso é que dá pra usar a música pra adicionar medo à cenas onde seria impossível sentir medo. Imagine, por exemplo, a primeira cena do labirinto (a com Wendy e Danny), sem a música.

A coisa é tão sufocante e assustadora que, er, bem... que eu cocotei como um fraco e não terminei de assistir o filme todo.

Pô, mas já passa de meia-noite, tá todo mundo dormindo, e para quebrar a escuridão só a luz da tela do notebook! Mas amanhã eu termino de assistir e finalizo este review. Enquanto isso, fiquem aí rindo de mim.

Filmes

2004-03-15 05:30:00 +0000

Este domingo estava sendo uma bela porcaria, até que peguei o carro e fui alugar dois filmes.

O primeiro foi Corra, Lola, Corra, filme alemão de 1998 que sempre quis ver e que ganhou prêmio de indicação do público em Sundance.

Nos primeiros 20 minutos do filme eu me perguntava: "Mas que merda de filme MTV-like é esse?? Parem de me empurrar a trilha-sonora do filme e me dêem alguma história, seus alemães safados". Aí, com 40 minutos de filme, a história deu lá as suas reviravoltas e eu me senti mais satisfeito; não se tratava de um filme teenager qualquer. Era um filme bem escrito, que se esmerou pra não errar nos detalhes da trama, e soube manter o interesse do espectador mesmo com as looongas corridas de Lola.

Aí a sequência final do filme caiu numa previsibilidade inacreditável. Triste, um erro básico num filme que estava indo muito bem. Mas Lola rennt (como diriam os alemães) continua sendo um filme divertido, se você não se importar com a filmagem MTV-esca.

Destaque para as cenas de Lola e Manni na cama (não, não estou falando de putaria), os flashes, que não eram bem flashes mas que começavam com aquele barulhinho de flash carregando, Lola xingando a mulher do xerox com um belo "WAS!!!!" (pronuncia-se "váz"), e o diálogo final de Manni e Lola. E, é claro, o dingão da sacola.

Aí, logo na sequência, lasquei o próximo filme no DVD. E vocês, com isto, ganham um post novinho:

O Primo recomenda MUITO: S1m0ne

Eu só fiquei sabendo deste filme pela listinha de filmes que de vez em quando eu via no Concatenum. Aí li a sinopse e paguei pra ver. Se tudo o mais falhasse, eu ia poder ficar prestando atenção na atuação do Al Pacino e fazendo piada com filmes cujo título é escrito em leet.

Foram os R$ 3,50 mais bem gastos do fim de semana.

A primeira coisa que impressiona no filme é a fotografia. Provavelmente houve a intenção de manter tudo altamente limpo, liso, perfeito e, consequentemente, com um toque artificial. A luz muda conforme o local onde os personagens estão. As cenas no estúdio são esverdeadas, como em Matrix. Os filmes são azulados ou P&B. As cenas na casa de praia ficam alaranjadas, para dar a impressão da manhã perfeita. A maquiagem dos atores também é impecável: da faxineira à atriz famosa, todos são lindos, perfeitos e... volúveis.

"A nossa habilidade de manufaturar fraude agora excede nossa capacidade de percebê-la", diz Viktor, o diretor incompreendido, personagem de Pacino. Viktor, nesta cena, conversa com Simone, a "atriz virtual", legado deixado a ele por um programador desconhecido. Viktor, que se diz no intuito de resgatar a arte da dramaturgia, mas que no fundo quer se promover, resolve dar vida a Simone. E a belíssima garota feita de pixels e avessa a aparições públicas (por razões óbvias) ganha o showbiz.

E a partir daí, dá-lhe crítica à fome de celebridades que assola o cinema e à cultura dos "ícones". Talvez aí caiba um único ponto negativo em S1m0ne: os filmes de arte, os supostamente "injustiçados" da história, ficaram excessivamente caricaturados. Mas no resto, S1m0ne é um sucesso fulminante.

Destaque para os "detalhes", como as diversas cenas onde Viktor passa em frente a uma placa enorme com uma foto de Simone, deixando claro quem é a maiorial da história. O próprio nome do personagem de Viktor é o mesmo nome do "pai" de Frankenstein, e a história não é nada diferente. Viktor criou um monstro. Destaque também para a cena onde Viktor simula a silhueta de Simone passando pela janela do quarto de hotel, para delírio dos jornalistas. Para projetar a sombra, ele usa uma lâmpada e uma boneca Barbie, que é, como Simone, o estereótipo da mulher perfeita. Nada poderia ser mais apropriado. Até o nome do estúdio, "Amalgamated", diz algo. Amálgama é uma mistura de elementos que, embora diversos, contribuem para formar um todo: esta é a descrição do processo de elaboração de Simone.

Como o filme acaba ovacionando as velhas atrizes e atores dos tempos dourados do cinema, é possível perceber diversos elementos desta época na história, principalmente nos carros e nos cenários. A dupla de jornalistas incansáveis que querem desmascarar Viktor, por exemplo, agem de forma bem parecida com aquelas duplas de detetives dos anos 50, diferindo apenas nos momentos "tiete", onde acabam mostrando que, no fundo, acabam sendo fãs de Simone... como todo o resto do universo. A cena onde o detetive examina a privada do hotel onde Simone supostamente se sentou é fantástica.

Os mais geeks, como eu, vão se divertir com a parte computacional da história. S1m0ne tem tantos méritos que faz com que qualquer computeiro mais chato perdoe os velhos computadores de Hollywood: aqueles que fazem um barulhinho irritante a cada tecla pressionada, que possuem "drives" onde você enfia "hard disks" inteiros e, logo abaixo, disquetes de 5 e 1/4, e teclados com teclas bizonhas, como "mimic" e "live". A gente perdoa até o cômico disquete cuja etiqueta era "Plague v8.4" e que foi enfiado entre os dois plásticos das duas baias de 5 e 1/4 vazias do gabinete.

Falando nisso, se você vir o filme em DVD, não perca as cenas deletadas. Numa delas são reproduzidos os créditos finais de um dos "filmes" estrelados por Simone. O letreiro ia passando e exibindo os nomes dos atores, e eu me perguntava: Por que diabos botaram isso no filme? Aí percebi os sobrenomes dos "atores" do filme: Corel, Dell, Altair, Hewlett...

Outra coisa que chama a atenção são as preciosidades espalhadas pelo roteiro, como Simone que se diz como "a morte do real", ou como... droga, não posso contar para não perder a graça. Na verdade, eu poderia ficar horas escrevendo sobre os belos detalhes de S1m0ne, mas se eu fizer isso vocês acabam perdendo o interesse. Afinal, no showbiz é assim: o desejo de ver é máximo quando o que é exibido é o mínimo. O oculto é sempre mais interessante que o explícito.

P.s.: Este filme também foi o primeiro em que discordei da crítica do Pablo Vilaça no Cinema em Cena. Eu daria mais uma, ou até mais duas estrelas para este excelente filme.

P.p.s: Não podia deixar de mencionar que o diretor roteirista de S1m0ne, Andrew Niccol, é o mesmo do excelente filme Gattaca e do Show de Truman.

O Primo recomenda: Extermínio

2004-02-16 14:56:00 +0000

Toda vez que eu ouvia Godspeed You Black Emperor, banda que eu insistentemente menciono aqui no blog, eu entendia perfeitamente a mensagem da música: uma angustiante sensação de vazio. Essa sensação é "tocada" com extrema maestria pelas guitarras e violinos dos geniais músicos canadenses do Godspeed.

Quando Jim (Cillian Murphy) acorda no hospital, após um longo período desacordado, ele não vê ninguém. Não ouve nada. Nas ruas, não há ninguém.

Para o meu mais completo deleite, a primeiríssima música a ser ouvida no filme, enquanto Jim anda perplexo pelas ruas desertas de Londres, é East Hastings, do Godspeed You Black Emperor. E o filme ganhou seus primeiros pontos comigo: uniu a cena perfeita com a trilha sonora perfeita.

Eu não esperava isso do filme. Achei que ia ser simplesmente um filme básico de zumbis. E o que menos se destacou no filme foram os zumbis, ou os "infectados", como são chamados. E o que mais se destacou no filme foi a profundidade psicológica dos personagens e a forma com que eles lidavam com o aparente "fim do mundo".

Destaque para a bela fotografia (eu ainda estou me perguntando como diabos eles fizeram para filmar as cidades vazias) e para os cuidados com o roteiro. A falta de eletricidade, por exemplo é levada a sério e não é contornada com nenhum argumento estúpido para facilitar a vida dos protagonistas. Destaque também para o diretor, Danny Boyle, o mesmo do horrendo filme A Praia.

Extermínio tinha tudo para ser um filme hollywoodiano típico, com zumbis, explosões e heróis. Extermínio relegou os zumbis e explosões para o segundo plano, destacou os protagonistas como simples seres humanos, carentes e assustados, e o seu heroísmo não era medido pela quantidade de zumbis que matavam, e sim pela bravura em não se deixarem levar pelo desespero.

O Primo recomenda: Encontros e Desencontros

2004-02-09 14:59:00 +0000

Primeiro eu preciso falar duas coisas: A coisa um é que eu vou me referir a este filme pelo seu nome original, Lost in Translation (ou, abreviando, LIT), já que o "encontros e desencontros" é uma tradução horrééével. A coisa dois é a história pré-filme:

É fato que eu ando estressado com trabalho. Aí neste fim de semana eu estava parecido com uma mulher de TPM. Primeiramente, eu sugeri pra Bethania que fôssemos assistir Simplesmente Amor. Com Rodrigo Santoro e tudo. Felizmente, Deus não me permitiu este nonsense e, quando chegamos ao cinema, o filme já havia saído de cartaz.

Aí fomos ver as outras opções e paramos em frente a um cartaz de Mestre dos Mares. Eu parecia uma criança pequena no cinema e fiquei gritando "aeee vamos ver vamos ver vamos ver!". Depois de todos concordarem, assim que entramos na fila pro ingresso, demos de cara com o cartaz do LIT.

- Ahhh não, vamos ver o LIT!
- Não, vamo ver o Mestre dos Mares mesmo!
- Não, mudei de idéia! Vamo no LIT!
- Tá. Par ou impar?

Eu pedi ímpar. Ela botou 2, eu botei 5. E lá fomos nós pro cinema. Lá dentro eu fiquei dando mais chiliques, por causa do Mar sem Fim, livro do Amyr Klink que comprei pra Bethania e que ela não queria me deixar ver, porque o 100 dias entre céu e mar, livro do Klink que ela ganhou, eu acabei lendo primeiro que ela e ela cismou de ter ciúme dos livros que eu leio antes dela. Aí ficamos os dois, no cinema, cutucando um ao outro pra pegar o livro:

- Dexover!
- Não!
- Por quê?
- Porque não!
- Uhh... dexover!

Como podem ver, minha situação é deplorável. Agora, falemos do filme.

Lost in Translation é o filme novo de Sofia Coppola. Dela, eu só tinha visto As Virgens Suicidas, filme que assisti porque viciei na trilha sonora (composta pelo Air) antes mesmo de ver o filme. As Virgens é um filme legal, intimista, discreto até. Como eu costumo dizer, dos filmes bons ele é um dos piorzinhos, mas é melhor do que a esmagadora maioria das coisas que estão no cinema e nas locadoras. Aí veio o LIT.

Pontos para a diretora, porque está definindo que tem um estilo todo próprio de fazer filmes. Um estilo bem "mulherzinha", onde os detalhes é que contam a história. Outro destaque é para a fotografia; claro que, por se passar no Japão, o filme já estava com a fotografia mais ou menos garantida de ser boa, mas o olho bom da diretora soube usar paisagens que por si só já são lindas para destacar detalhes da história. Quando Charlotte fica sentada na janela do quarto do hotel, sem fazer nada, a paisagem urbana que se vê pela janela é de cair o queixo. Mas ao mesmo tempo é um mar de pedra e de solidão.

Charlotte e Bob passam o filme inteiro no meio de milhões de pessoas e... sozinhos. E este é o mote do filme: lentidão e solidão. O jet lag sofrido pelos personagens principais estende-se por amargos dias, onde o sono é difícil e tudo é estranho. E a estranheza oriental é a parte engraçada do filme, que pelo que li pela Internet andou até sendo confundida com racismo.

A trilha sonora é... putz, é fodassa! Exatamente como nas Virgens Suicidas. Talvez isso até cause a impressão errônea de que a fotografia e a trilha servem para apaziguar um enredo ruim, mas, putz, o roteiro do filme é excelente! E o Lost in Translation é isso, um filme, sobre todos os ângulos, excelente.

Até me surpreendi de vê-lo em cartaz num shopping. Minha irmã e o namorado foram ao cinema comigo, acharam o filme "lento". Bethania achou que tinha pouca história pra muito filme. Eu achei que tudo estava na medida certa. E recomendo.

Destaques do filme:

- O toque do celular de Bob. Parece música do Castlevania...
- O karaokê, com o japa cantando God save the Queen dos Sex Pistols. Eu caí na gargalhada no cinema. Só eu. E não sei como o Lúcio Ribeiro menciona essa cena e não fala do God save the Queen!
- Charlotte passeando no fliperama japonês. Um dos jogos tem uns oito botões grandes, redondos, e um japa de camisa branca "tocando piano" neles, no ritmo da música. É o mesmo jogo deste vídeo.
- O "Johnny Carson" japonês, que estava mais pra Leão Lobo sob efeito de Ecstasy.
- A cena inicial do filme. A primeiríssima mesmo, aquela onde aparece o título. O cinema inteiro ria, sem entender.
- A reação do cinema quando o filme acabou: "Hah! Queisso!", "Pelamordedeus...", "Filme horrível". Durante o filme eu ouvia gente bocejando alto de propósito.
- O Monte Fuji.
- A entrevista da loira-burra no salão de convenções do hotel, falando de reencarnação e de como Keanu Reeves morre e renasce no filme dela. Referência ao Matrix?

TRIPLE!

2004-01-31 06:37:00 +0000

Post triplo? De novo?

Dejá Vú

Quando eu trabalhava no banco, todo mundo fazia piada com meu sobrenome. Ganhei apelidos de Tinocoso, Tinoquento, Tinocovsky...

Aí, depois de me demitir, imaginei: "Putz! Finalmente, estou livre daquelas piadinhas ridículas com meu nome".

Ontem eu cheguei no serviço. Um colega olhou pra mim e falou, rindo:

- E aí... Tinóquio!

O Primo NÃO recomenda - Desafio Radical

Antes que perguntem o que eu estava fazendo assistindo um filme desses: eu e Bethania queríamos ver um filme de entretenimento, hollywoodiano, só pra passar o tempo. Aí, alugamos o filme com a certeza de que seria um filme ruim. E para a minha surpresa, o filme superou em muito as minhas expectativas e conseguiu chegar perto da posição de pior filme que já vi.

O roteiro, por natureza, já é estúpido: bando de jovens "radicais" vão esquiar fugindo de uma avalanche, de propósito, para fazer um comercial de uma câmera de vídeo. Só que, nas montanhas, eles encontram um criminoso de guerra sérvio, que estava escondido, e confunde os moleques com agentes da CIA.

É bobagem descrever mais sobre o quanto o filme é ruim, então vou falar só dos "highlights" de ruindade:

- O sotaque dos terroristas sérvios: "Must go back! Gas low!" (piloto do helicóptero avisando que a gasolina tá pra acabar). Detalhe que os terroristas falam inglês entre si, mas mal conseguem se comunicar com os moleques americanos.
- A edição das cenas a partir da segunda metade do filme. O filme foi TÃO mal editado que eu não conseguia entender a sequência dos fatos!
- A insistência do diretor em cumprir todos os clichês possíveis: o casal com tensão sexual, o diretor de cinema ambicioso e metido a artista, o vilão que diz: "Não... eu quero eles vivos..." e dá chance deles fugirem... a cena dos heróis quase despencando de uma beirada de penhasco (com direito a segurar o outro no último momento e falar "I got you!" e tudo), a lanterna que acaba a pilha (com direito àqueles soquinhos pra ver se ela volta a funcionar)...
- O menu do DVD. Para o título do filme, usaram uma fonte estilo "família Adams", jogaram uma nevezinha por cima e botaram lá.

Ah, para diversão adicional, não deixe de ler as mensagens da message board do IMDB....

Cueca!

Nunca achei que eu fosse escrever um post atendendo a pedidos. Mas vou.

Sábado passado foi aniversário de um dos leitores desse blog. Como tem uma tabela de basquete na casa dele, rola o obrigatório "basquete semestral": a gente joga uma vez no dia do aniversário dele e depois, só no outro semestre, no aniversário da irmã dele.

Aí eu fui jogar. Eu estava usando um bermudão, que vai até abaixo do joelho e que tem a cintura baixa. Mas isso não foi intencional: eu só havia descoberto o lance da cintura baixa depois de comprar a bendita bermuda.

Só aí entendi que era uma daquelas bermudas "boyzadas" que os skatistas usam pra deixar aparecer a cueca. Assim, já que a cueca ia aparecer de qualquer jeito, usei uma que combinasse com a bermuda.

Durante o jogo, chega uma amiga e fala mais ou menos assim:

- Nó Zé, essa cuequinha sua tá tudo de bom...
- Ã???
- Tá super fashion, altamente sexy!
- ALÁÁÁ O ZÉ DE CUEQUINHA SEXY!! - Começaram os meus amigos
- Não liga não Zé! Você é um cara antenado, tá ligado nas tendências da moda!

Eu pensei em alguma coisa pra dizer depois desse momento vergonhoso, mas a única coisa que vinha na minha cabeça era: "Fala séééério!!!"

O Primo recomenda: O Último Samurai

2004-01-18 23:15:00 +0000

Como assim, eu, recomendando um filme com o Tom Cruise? Um filme com um samurai-galã-americano? Um filme hollywoodiano empurrado como louco sobre o público nos trailers de todos os Matrixes e Senhores dos Anéis? Pois é.

Acho que eu tenho um fraco pela cultura japonesa. Ou talvez seja o fato de eu estar de saco cheio da estupidez ocidental. Ou talvez seja o fato de o filme não se comportar de forma ruim, como eu previa. Mas foi um bom filme, com boas surpresas no roteiro (pelo menos pra mim). Ele começou a me ganhar quando o massacre dos índios na Guerra Civil americana não foi retratado com orgulho e nacionalismo, e sim como algo grotesco, atroz. É exatamente aí que começa o caminho roteirístico que faz com que o filme seja legal... the way of the samurai.

Tirando os extremos (como por exemplo, levar a expressão "me matar de vergonha" ao pé da letra), a cultura samurai mostrada no filme é muito interessante, calcada nas tradições, na disciplina e no equilíbrio entre o corpo e a mente. Tem até um momento Matrix, onde o personagem de Tom Cruise tem que tirar as preocupações da sua mente para manejar melhor a espada num treinamento. O "Liberte sua mente" foi substituido por "menos preocupações", mas é a mesma coisa. Some a isso a fotografia belíssima, a trilha sonora excelente (eu normalmente detesto trilha orquestrada em filme, mas essa se sobressaiu), e os espectadores mais bobinhos, como eu, ficarão vidrados na parte central do filme.

Além disso, o Sr. Cruise atuou extremamente bem: passou de um bebum americano para um bem-equilibrado "pseudo-japa". E até nas batalhas ele não decepcionou: seu primeiro contato com os samurais, por exemplo, foi extremamente bem representado. Mas nada disso teria sido possível se seu personagem não tivesse sido tão bem concebido.

Como pontos negativos, eu destacaria apenas o sangue das batalhas (nada convincente) e o imperador "Michael Jackson" lerdo. Como é que pode, um imperador, japonês, lerdo daquele jeito?

Enfim, O Último Samurai tem Tom Cruise, mas é um bom filme! Perfeito para ir ao cinema com a namorada: ela baba no Tom Cruise com seu visual Jesus Cristo enquanto a gente se diverte com os combates.

Ah, para uma boa segunda opinião sobre o filme, leia a crítica do Pablo Vilaça no Cinema em Cena. Concordo plenamente com o que ele fala sobre o final do filme, mas ele já havia sido bom o bastante e eu acabei ignorando a forçada hollywoodiana.

Double Post: Menina do Rio e Cidade dos Sonhos

2003-12-01 04:39:00 +0000

Hoje tem post duplo, tem sim senhor! O fim de semana foi interessante.

Menina do Rio

Sábado fui rever meus amigos. Ultimamente anda difícil a gente se encontrar, já que 2 deles também são consultores como eu e passam a semana toda no RJ e em SP. Outro deles trabalha em Brasília e vem só nos fins de semana.

Um desses, que está trabalhando no Rio, tava contando os "causos" de trabalho, dos colegas, dos clientes, quando de repente ele diz:

- Putz, mas lá no hotel que a gente tá ficando tem uma menina, consultora também, que é muuuuito chata, credo...
- Ah é, como ela chama? - Perguntei
- Kelly...
- KELLY?!??
- É sim! Credo, ela FALA DEMAIS!!

E subitamente eu descobri onde Kelly está. Desde o começo do mês passado eu não a via mais, porque a alocação dela no projeto havia acabado no fim de outubro. Aí, por coincidência, ela está ficando no mesmo hotel desse meu amigo... eu quase rolei de rir enquanto ele contava:

- Mas um dia a gente foi jantar, eu, ela e um outro colega, estávamos voltando pro hotel, ela virou e falou: "Pô gente, vamo ficar e conversar mais um pouquinho"... esse foi meu erro... a gente sentou no saguão do hotel e ela começou a falar sem parar: "Blá blá blá quando eu morei na França blá blá blá", e eu lá, tentando me manter acordado...
- Né possível, ela JÁ te contou todas as histórias da Europa? - Perguntei
- Pois é, ela contou que tava morando em Paris, aí uma vez ela quebrou a perna e a mãe dela pagou uma passagem de volta pro Brasil, ela veio, tratou aqui e depois voltou. E ficou contando que a mulher do intercâmbio de lá chamou ela de "infantil" por ter feito isso, que ela ficou puta com a mulher...

Esse mundo é realmente pequeno...

O Primo recomenda MUITO - Cidade dos Sonhos

Sentamos, eu e Bethania, pra assistir o filme.

10 minutos de filme:
(Eu) Cê tá entendendo alguma coisa?
(Bê) Eu não, mas vamo ver.

30 minutos de filme:
(Eu) Cara, tá muito interessante, mas... cê tá entendendo alguma coisa?
(Bê) Eu não, mas realmente tá interessante...

1h e 30 minutos de filme:
(Eu) ??????
(Bê) ??????

20 minutos finais do filme:
(Eu) Meu Deus!! Tou entendendo agora!! Queisso!!!!!!
(Bê) Tá louco menino! Me explica!

Final do filme:
(Eu) GENIAL!! LINDO!!!! LINDÍSSIMO!!!!!!!
(Bê) Que filme horrível!!!

E, no fim das contas, Bethania e eu discutimos por quase uma hora os méritos ou deméritos do filme, caçamos reviews na Internet e tal... e descobrimos muita coisa interessante.

Mulholland Drive foi escrito e dirigido por David Lynch, eleito o diretor mais importante da atualidade. O filme havia sido planejado para ser, originalmente, uma série de TV, como Twin Peaks. Mas o pessoal da ABC achou o episódio piloto "muito esquisito". Aí Lynch gravou umas cenas adicionais, editou, completou e montou o filme.

O pessoal da ABC tem toda razão de achar a coisa "muito esquisita", porque o filme é, realmente, MUITO confuso. É como um Matrix sem o Morpheus explicando tudo, multiplicado por 10. Aí, nos vinte minutos finais do filme, a coisa confusa dá uma uma reviravolta, fica de ponta-cabeça e depois estoura. David Lynch não facilita nem um pouco as coisas, mas, meu caro, se você achar o significado no meio da confusão, vai sentir, como eu, a satisfação de ver toda a trama subitamente fazendo sentido na sua cabeça, e lhe dando, de brinde instantâneo, a possibilidade de ver a beleza, profundidade e genialidade de todo o simbolismo que o diretor colocou no filme.

Um exemplo é uma cena, no início do filme, onde tem dois caras conversando numa lanchonete. Um deles conta um sonho que teve, dá detalhes... e ao longo do filme essa cena é quase esquecida, parece estar fora de contexto. Mas depois, se você realmente entende o filme, percebe a riqueza de detalhes dessa cena e a genialidade de David Lynch. Eu jamais vou me esquecer dessa cena, virou referência pra mim quando se falar em cinema.

Outro aspecto da genialidade de Lynch é que ele sabe como transmitir idéias pelas "entrelinhas". O carro que aparece nos créditos iniciais do filme me lembrou muito um carro funerário, o que aparentemente foi proposital, já que na revista Istoé disseram exatamente a mesma coisa. Betty, a personagem principal do filme, também me induziu a pensar muitas coisas sobre ela, coisas que o Pablo Vilaça também pensou e escreveu na sua crítica (do site Cinema em Cena), e que não vou contar porque senão tira a graça do filme. Veja por si só, interprete por si só...

Falando nisso, foi também neste filme que eu pude perceber o que é, realmente, uma atuação digna de premiação. Foi o caso de Naomi Watts, que atuou de forma fantástica, principalmente quando fazia o papel de atriz (?). Naomi ia da candura inocente até a astúcia fatal sem o menor problema. Sua personagem, Betty, foi concebida de forma tão profunda e detalhada que uma atuação "mais ou menos" iria comprometer o filme. Felizmente, isso ficou longe de ocorrer.

A fotografia e a cenografia me surpreenderam. Não houveram cenários exuberantes ou figurinos fantásticos, mas a forma de Lynch filmar foi excelente. Tomadas lentas amplificavam o suspense. Tomadas rápidas mostravam itens cruciais para entender a história, de jeito que te fazia gritar "UAU! Você viu aquilo!?". A trilha sonora, surreal, minimalista e lindíssima, peça-chave para o suspense do filme, foi composta por Angelo Badalamenti... que, inclusive, aparece numa curiosa cena do filme.

Mas o que colocou esse filme no meu TOP 10, honrosamente do lado dos imbatíveis filmes do Kubrick, foi o roteiro. O problema é que... eu não posso falar absolutamente nada sobre o roteiro aqui, sob risco de estragar a graça do filme para você que ainda não o viu. Mas uma coisa você já pode ir sabendo: nas sessões para críticos de cinema, que aconteceram no lançamento do filme, houve gente vaiando, dando risada e saindo antes do final do filme. Pobres coitados, perderam uma obra-prima do cinema só porque não se dispuseram a entender. As opiniões foram bastante ambíguas entre a crítica especializada...

Por sinal, se você gosta de filmes mastigados e fáceis, não perca seu tempo com Cidade dos Sonhos. Agora, se você se dispõe a um pequeno desafio de lógica e percepção, assista.

Se tudo o mais falhar, leia a crítica do Pablo Vilaça, do site Cinema em Cena, que está dividida em duas partes: uma é a crítica mesmo, outra é uma excelente e imperdível explicação do filme e sua belíssima simbologia.

Conclusão: Cidade dos Sonhos é uma referência do que é possível fazer com a arte cinematográfica. É belíssimo, lindíssimo, genial, profundo, imperdível. Se você pudesse ver apenas um dos filmes que eu recomendei aqui no blog, eu diria para ver este. Não perca. Talvez este filme lhe ajude a entender seus próprios sonhos... pra não me deixar mentir sozinho, transcrevo aqui o que o pessoal do site Coisa de Cinema (Warning: fundo azul medonho no site) diz:

"Fazendo com que o mais importante seja o durante e nunca finalizando as expectativas, Lynch faz com que nossas cabeças funcionem sem parar, criando, desconstruindo e sugerindo possibilidades absurdas. É muito divertido!"

O Primo não recomenda: Pecado Original

2003-11-10 02:47:00 +0000

Este filme conseguiu: Desbancou o eXistenZ como pior filme que já vi...

Eu e Bethânia fomos à locadora, ela viu o filme na prateleira e falou:

- Vamo ver esse filme?
- Ah, queisso Bê, isso é filme de putaria.
- Não, é romance!
- Não, é putaria, olha aqui no rodapé... "Incluindo excitantes cenas excluídas não exibidas no cinema"...
- Ah, vamo alugar ele!
- Ah, tá bom. Se tudo o mais falhar eu vou ver a Angelina Jolie pelada mesmo.

E o que me esperava é o pior filme tórrido hollywoodiano caça-níquel que existe. E a Angelina Jolie pelada.

A primeiríssima cena do filme já me fez rir. Era um close, tela cheia, nos lábios de Angelina Jolie. Veja só que poético: aquela cena expressa tudo, expressa a razão dela estar no elenco, talvez a razão da existência deste filme. E uma curiosidade: a atuação dela neste filme foi indicada ao prêmio de pior atriz do Framboesa de Ouro, aquele dos piores do cinema.

A história é mais ou menos assim. Em Cuba, lá pelo século XVII, o Antonio Banderas, latifundiário de café, queria se casar. Aí, sabe-se Deus como, ele arrumou uma esposa americana e encomendou pelo correio (é sério!). Aparece a Angelina Jolie. Só que ela é uma rata que quer dar o golpe do baú e aí o Banderas descobre e quer matar ela mas no final os dois ficam juntos, é claro.

Ah, mas e a parte tórrida? Pois é, uns 10 minutos de filme depois e a Jolie já estava mostrando sua nudez na tela. Foi na cena da "primeira transa" do novo casal. Pra descrever da forma que eu aposto que o diretor descreveria, foi "uma cena intensa, com aquela paixão crua, primal, com desejo saindo por todos os poros". Ou seja, foi sexo semi-explícito (sem pêlos pubianos mas com todo o resto, gemidinhos incluídos). E depois... acabou! A parte tórrida foi só essa. Teve um ou outro "peito acidental", como numa cena inútil de carnaval ou nas tomadas onde o Banderas ia no bordel, mas só. Pra um filme que prometia "cenas excitantes" ele estava mais pobre que o Cine Privé da Band.

O roteiro do filme é composto de uma sucessão de diálogos-clichê. TODOS os diálogos eram clichê. A primeira fala de Jolie era: "Esta não é uma história de amor. É uma história sobre o amor. Sobre seu poder..." ahhh, que cuti. Os clichês são epidêmicos, até os escravos falavam em clichê! Uma "mordoma" da casa pegou o Bandeiras, já chifrado, e disse, no topo da sua cultura escrava analfabeta: "Deus devia estar com raiva de ti quando lhe enviou esta esposa que só lhe trouxe desgraças". É como se todo mundo fosse leitor assíduo daqueles livros de bolso, Sabrina...

A fotografia é muito engraçada. Do nada, a câmera entrava em "modo videoclíptico": danava a rodar em volta do ator principal, ou nas cenas mais marcantes, ficava dando aqueles "repeats", tipo, o Banderas se joga na cama. Aí de novo. De novo. De novo...

O cenário era usado pra "cozinhar" o filme. Entre uma cena e outra tinha, obrigatoriamente, que rolar uma panorâmica da casa, os escravos trabalhando, uma paisagem ou uma festa maluca qualquer... claro, afinal eles tinham que preencher as duas horas (DUAS HORAS!) de filme com alguma coisa. Ah, e tudo isso era sonoricamente preenchido com um batuque pseudo-latino irritante.

Além disso, haviam coisas que simplesmente não faziam o menor sentido. O Banderas (que deu muita bandeira, por sinal), casou com a Angelina Jolie dois segundos depois que ela chegou e, no dia seguinte, foi no banco e deu pra ela o acesso a TODAS as suas mega-contas bancárias. TODAS. Oh, mas é isso que todo mundo faz quando casa com alguém que conhece a menos de 24 horas, não é mesmo?

Mas a melhor das coisas sem-sentido foi quando Banderas estava conversando com um "detetive" particular (que na verdade era o amante da Jolie). Aí o detetive pegou Banderas pelo pescoço, tacou ele na parede e começou a gritar:

- E então, você a pegou e abraçou assim?? (se esfrega no Banderas)
- Gasp!
- E depois, você sentiu o cheiro dela assim?! (funga no cangote do Banderas)
- Gasp!

Virei pra Bethânia e falei: "Se ele beijar o Banderas eu desligo esse filme". Dois segundos depois...

- E depois, você a beijou assim?? (BEIJA O BANDERAS NA BOCA!!!)
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!!!! - Gritamos eu e Bethânia...

Minha irmã veio correndo, assustada, ver o que diabos havia acontecido.

No fim das contas, Jolie sacaneou o Banderas de tudo quanto é jeito e o trouxa ainda ficou com ela no final. Ora, você não ficaria com uma mulher que matou outras pessoas, que roubou todo o seu dinheiro e deu pro amante e que, no final, botou veneno no seu café? Claro que não, afinal você não é o Antonio Banderas.

Miiister Andersonnnn...

2003-11-06 12:43:00 +0000

Ontem à noite eu vi o Matrix Revolutions...

Eu me impus um isolamento voluntário do máximo de informação sobre o filme, pra tentar não estragar as surpresas... mas só os trailers que vi acabaram entregando muita coisa. Se eu não tivesse visto o último trailer, o que tem aquela máquina "espinhosa" conversando com o Neo, o filme seria no mínimo três vezes melhor.

De qualquer forma o filme é ótimo... quando apareceu a Persephone (foram só uns 3 segundos) meu ingresso já estava pago.

Por sinal, a sinopse do filme que está (estava, sumiu) no site de cinema do portal Uai é inventada e, simplesmente, hilária. Olha só como ela começa:

"Ao invés de utilizar Agentes comuns, as Máquinas resolvem utilizar Vírus, que lutam kung fu em gravidade zero..."

No Matrix Essays, blog famoso de comentários sobre o Matrix, ainda não tem nada sobre o filme novo. Mas tem um comentário interessante sobre a cena (que tem no trailer) onde Neo acorda junto de uma menina, numa estação de trem, branca, onde na parede pode-se ver "Mobil Ave". "Mobil" é um anagrama de "limbo"...

Foi uma coisa horrível o fato da atriz que faz o Oráculo ter morrido entre o segundo e o terceiro filme. Tiveram que mudar a atriz. Morpheus e Trinity estranham a nova cara do Oráculo no filme, e os irmãos Wachowsky são bem diplomáticos no roteiro. A oráculo nova responde: "Não tem um jeito fácil de explicar isso..."

Um review do site da BBC desceu o pau no filme. Eu acho que o cara não entendeu de verdade o filme, mas ele tem razão em alguns argumentos. Um deles é o das "cenas com personagens menores que entulham o filme e atrapalham a ação".

Já o Indianapolis Star (link sumiu, desculpem) foi mais neutro, com comentários espirituosos, como o "tênis verbal" entre Neo e o Oráculo ou comentários sobre Morpheus, que virou "só um blip no radar". Ou o melhor deles: "quando Neo chama (Trinity) de Trin, não soa bem". Agora, quando a "Trin" chama o Merovingian de Merv...

O Primo recomenda: Donnie Darko

2003-11-01 22:32:00 +0000

Assisti Donnie Darko sem a menor noção do que esperar. Não li nada sobre o filme, só elogios no fórum da HardMOB e comentários de que tinha um roteiro maluco, estilo Amnesia... então baixei pra ver.

O roteiro não é maluco, é genial! Mas tão genial que precisei ler um pouco na Net pra entender o filme. Talvez se eu assistisse o filme novamente, eu até entenderia sozinho... porque muito da história está em coisas comuns e corriqueiras que os personagens falam e que parece não ter importância. Um exemplo é Donnie, quando diz: "Estou contente pela inundação de hoje na escola. Porque senão nós nunca teríamos tido essa conversa". Lembre-se do que estou dizendo quando estiver assistindo.

Pra coroar o filme entre meus favoritos, também teve coisas que gosto muito, como a belíssima fotografia, simples, urbana e bela, e a trilha sonora nota 10: coisas dos anos 80... pra você ter uma idéia, o filme abre com Killing Moon, do Echo and the Bunnymen... (Putz, só agora notei, Bunnymen...). É um filme onde, sem exagero, tudo está lá por uma razão...

Enfim, não vou falar mais nada. Só falo que o filme é imperdível. Ah, para uma experiência ainda mais fabulosa, logo que terminar de ver o filme, vá no site oficial... pela primeira vez usei um site 100% em Flash e gostei.

Update: Quase me esqueci de falar... além de tudo, o filme discute a sexualidade dos Smurfs. Não perca.

O Primo recomenda: Solaris

2003-08-18 04:11:00 +0000

Bethania detestou o filme, achou ingênuo e cheio de buracos. E foi no exato momento em que ela falou isso que percebi que o filme é realmente bom.

Solaris é uma agradável surpresa vinda de Hollywood, terra dos filmes fáceis e normais, justamente por quebrar toda a expectativa de "filminho espacial com galã do momento". Solaris passou longe disso, muuuito longe. A começar pela, digamos "estética da narrativa".

O filme é contado de forma direta e, ao mesmo tempo, indireta. Direta porque as cenas são cruas e sem firulas, aparece o que precisa aparecer e só. O corte de uma cena pra outra é até grosseiro e, para o observador mais distraído, o filme vai parecer sem história.

Ao mesmo tempo a narrativa é Indireta porque o importante de cada cena é passado num detalhe discreto da fala do personagem, ou na forma ou ordem com a qual as coisas aparecem, ou no que foi mostrado em uma cena e é relembrado noutra mais à frente. A forma da narrativa, a estética visual e a performance dos atores são surpreendentemente abstratos. Para casar bem com a trama, abstrata.

Solaris tem uma influência gritante, de estética e de narrativa, com 2001 - Uma odisséia no Espaço, do geniozão Stanley Kubrick. A narrativa parece lenta, como em 2001, mas o ritmo não está no que acontece, e sim no que é revelado e contado. Se você assistir e começar a achar o filme chato, você está perdendo o filme todo sem saber.

As falas dos personagens foram magistralmente bem escritas. George Clooney, que faz o papel do psiquiatra Chris Kelvin, comporta-se exatamente como um psiquiatra, fazendo perguntas de psiquiatra mesmo nos momentos mais emocionalmente densos do filme. E a atuação "travada" de Clooney acabou sendo perfeita para a história. Várias outras frases disparam aquele "clique" na sua cabeça e te deixam com uma sensação de "putz, é mesmo". Outras, aparentemente superficiais, te botam num estado filosófico de questionamento, do tipo "afinal, o que é que define mesmo um ser humano?". Como bem disse uma das personagens do filme, "essa é uma questão que está além da moralidade".

A única coisa que me deixou de nariz torcido em relação ao filme é que eu descobri que ele é um remake de um filme russo dos anos 70. É chato, todo filme legal que vejo acaba sendo um remake. Mas tem seu lado bom.

Enfim, Solaris é denso, surpreendente, belíssimo na parte visual e na narrativa. Mas é preciso saber olhar, para enxergar além do trivial e entender que a beleza de Solaris está no que não é dito, no que não é sentido, no que não se enquadra nos paradigmas humanos de razão, causa e consequência.

O Primo recomenda: O Homem que Copiava

2003-06-28 04:50:00 +0000

Obs. preliminar: Os acentos anormais do dia de ontem foram cortesia do Blogger novo. Se você tem um blog e ele bichou os acentos, conserte seguindo essas dicas aqui, ó.

Mas eu acabo de chegar do cinema, fui ver O Homem que Copiava, filme escrito e dirigido por Jorge Furtado.

Eu nem me lembro como fiquei sabendo do filme, só vi que entrou em cartaz. Aí fiquei com uma vontade enorme de assistir o diabo do filme, não sei por quê.

Meu instinto nunca foi tão certeiro.

Nos primeiros cinco minutos de filme eu dizia pra mim mesmo: "Esse valeu o ingresso". E o filme ia andando e a história ia sendo contada e eu ia entrando, entrando... e eu nem vi o tempo passando, nem prestei (muita) atenção nos peitos da Luana Piovani, nada: eu fiquei absorvido por aquele filme.

As coisas todas estavam no lugar certo, os mínimos detalhes, aqueles que serviriam pra enriquecer o filme, nem faziam isso, só acrescentavam mais riqueza numa coisa que já era milionária de riqueza. E a riqueza (ou falta dela, ou desejo dela) é que tornou o filme tão verossímil e ao mesmo tempo tão fantástico. É como trinta e oito reais. Não são nada, mas são tudo.

Todas as atuações estiveram fantásticas. Os "globais", os desconhecidos, todo mundo, principalmente o personagem principal. Quequiaquilo. A fotografia era mundana, comum e linda. A música era excelente desde o início do filme até o último momento. Eu não piscava, eu devorava cada centímetro da telona.

Aí o filme ia chegando no final e eu lá, refestelado, embasbacado... e como se não bastasse, o filme lá ia terminando com uma nota 10, e subitamente ela virou um 11. Não, tem mais, nos cinco minutos finais, virou um 12...

O Homem que Copiava é uma das melhores experiências cinematográficas que eu já tive. De longe. É com orgulho que digo que os últimos grandes filmes que vi foram todos nacionais.

Yorke viu Keanu?

2003-06-27 15:34:00 +0000

Pegue seu CD do Radiohead, o Hail to the thief, e preste atenção nessa parte da música The Gloaming:

“Funny haha funny how/ When the walls bend/ With your breathing”

Agora, lembre-se do finalzinho do primeiro Matrix... logo que o Neo ressuscita, levanta-se... respira fundo e as paredes se dobram... hein, pegou essa?

Matrix Reloaded: Um review mais completo

2003-05-23 15:22:00 +0000

Pois é, eu acabei de falar do Matrix Reloaded mas vou falar de novo já que estou atoa no serviço. Não leia se ainda não tiver assistido.

Eu imagino que se eu estivesse assistindo o filme com os irmãos Wachowsky, diretores/roteiristas do Reloaded, a coisa seria assim:

- Pô gente... cadê aquelas frases de impacto legais do Morpheus? E o Tank, onde foi parar?! Botaram esse Link tosco aí pra tentar fazer comédia, é?
- Olha... tipo que a gente gastou o enredo todo no primeiro filme, mas olha ali o Neo batendo em centenas de Smiths ao mesmo tempo!
- Uau!!! UAAU!!! Queisso!!!
(Minutos depois)
- Ah nem viu... quando é que esse francês mala vai parar com esse papo idiota?
- Mas isso, er, bem... faz parte da história...
- Tá, ele construiu a "tortinha de chocolate do orgasmo" e fica nesse papo de "causa e efeito", o que diabos isso tem a ver com a trama?
- Olha... na verdade... ei, dá uma sacada no Neo lutando contra os guarda-costas do francês...
- Uaaaau!!! Uaaaaaaaaaaaaaau!!
- E dá uma olhada no Morpheus-samurai dando porrada no Agente...
- Oooaaa!! Que doido!!!
- E olha ali a explosão dos dois caminhões batendo de frente e com o Morpheus e o Keymaker em cima!! Presta atenção que a câmera vai rodar!
- QUEQUEWILSON!!! Nuooosssaaa!!!
(minutos depois o filme acaba)
- Putz, não entendi nada desse final maluco, mas PUUUTZZZ as cenas de ação são DOIDIMAAAAIS!!!
- Hehe, deu certo! - os irmãos Wachowsky cochicham

Em resumo, não dá pra esperar novidade nesse filme. De fato, vários aspectos de comportamento dos personagens ficaram altamente sub-aproveitados. Morpheus não é mais o mesmo e Zion é decepcionante: uma mistura de monarquia com igreja protestante, festa rave (ou baile funk) e militarismo de palavreado bonito. A parte "filosófica" é outro equívoco: não adianta os críticos quererem que saia filosofia real de um filme de Hollywood. A coisa vai ser meio simplista, afinal tem que ser, por causa do público.

Na verdade, a metáfora das pílulas, a azul e a vermelha, se aplica perfeitamente. Se você tomar a pílula azul, verá a coisa sob os olhos dos críticos especializados, vai ver muita cafonice, um roteiro cheio de coisas manjadas, muito artificialismo, filosofia de boteco, histórias bíblicas com direito a um Jesus-Neo, traidores "judas-like", um Deus-arquiteto e uma produção orientada para que você ache as (looooooongas) lutinhas revolucionárias.

Agora, com a pílula vermelha... você vai viajar nas falas do Oráculo, ficar confuso e questionar a realidade quando Neo conversa com o Arquiteto... e achar tudo lindamente decorado com as cenas de ação. Você vai até achar o Keanu Reeves um bom ator!

The One... again...

2003-05-23 12:28:00 +0000

Ontem foi a estréia do Matrix Reloaded...

Ontem eu vi Matrix Reloaded...

Sabe... eu estou maravilhado. Nem sei por onde começo esse post. Eu poderia falar horas e horas sobre como o filme superou em muito as minhas expectativas, ou sobre como ele está revolucionando o cinema de ação ou sobre como os irmãos Wachowsky são uns puta gênios do entretenimento... mas eu vou ficar mesmo é com uma frase que ouvi de um cara na saída do cinema. Dizia ele que o filme é assim:

- Filosófico, filosófico, filosófico, bate, bate, filosófico...

Frases

2003-04-28 04:11:00 +0000

"A idéia geral de que um filme só deveria ser visto uma vez é uma extensão da nossa concepção tradicional dos filmes como entretenimento efêmero em vez de obras de arte visual" - Stanley Kubrick, o cara que comanda o batatal.

Aproveita e vai aqui, ó: FAQ do Kubrick, extraída de alt.movies.kubrick

O Xis da questão

2003-04-12 06:52:00 +0000

O curso hoje teve um evento interessante...

Nas atividades em grupo, num exercício, o tempo pra fazer tudo ia se esgotando e meus outros 2 colegas do grupo tavam detalhando umas atividades no MS Project. Aí, eu sugeri:

- Gente, o tempo tá curto, vamo botar um valor qualquer aí e ajustar só o global da coisa... gente? Oie...

Aí, como eles estavam, er, concentrados um pouco demais, desisti e fui adiantar a apresentação do Power Point que faltava. De repente, os outros grupos começaram a apresentar os trabalhos!

Dei uma acelerada pra dar tempo, copiei uma figura do MS Project que era pra colocar junto da apresentação e terminei tudo no exato momento de apresentar. Aí, via "dedocracia", fui escolhido pra ir apresentar o resultado.

Eu ia explicando tudo direitinho quando, na hora que chegou o slide com a tal figura do MS Project... no lugar dela havia um X, enorme, vermelho. E eu lá, com cara de tacho:

- Er... aqui temos um, bem, um xis vermelho...

Powered by Music

Eu ando bastante preocupado com essa minha alimentação saudável, composta de coffee break de hotel e outras coisas engordativas. Aí, comecei a correr, todo dia, depois do serviço.

Nos dois últimos dias, peguei o meu Pocket PC, calibrei com meia hora de música e saí pra correria.

É impressionante como o meu rendimento aumenta. Mas é muito, muito mesmo! Eu diria que eu corro uns 30% mais vigorosamente quando tem algo bom abastecendo meus ouvidos. Principalmente techno, bem pesado.

Faz com que você "desligue" a cabeça do corpo...

O Melhor Namorado do Mundo

Hoje tentei ir ao cinema com minha irmã e minha namorada pra ver Carandiru, mas obviamente tava tudo esgotado. Aí, tinha um filme pré-estreando, chamava-se Como Perder um Homem em 10 Dias.

Obviamente, as mulheres quiseram ver esse filme, então lá fui eu. Mas nada podia me preparar para o que ia acontecer...

E o que aconteceu foi... a glória!!!

Em linhas gerais, a história do filme é de uma jornalista que, para escrever uma matéria pra revista estilo "Marie Claire" onde trabalha, resolve namorar um cara e fazer tudo aquilo que os homens odeiam pra que o cara termine com ela depois de 10 dias. É meio que um laboratório de más práticas femininas em relacionamentos. Só que o cara não termina com ela porque fez uma aposta, valendo uma oportunidade de trabalho cobiçadíssima, de que faria com que ela se apaixonasse por ele, também em 10 dias.

Minha namorada também é jornalista... e aí começam as coincidências. Praticamente TUDO que a mulher fez pra repelir o cara já foi feito comigo, em menor ou maior grau. Ou seja, tudo o que o cara aguentou por causa da aposta, eu aguentei sem aposta alguma.

Ah, mas eu nunca ri tanto. Cada situação bizarra do filme (que não vou contar pra não estragar a surpresa de quem não viu o filme) me lembrava alguma coisa dos quase 4 anos de namoro, a sucessão de dejá-vus me fazia contorcer de tanto dar risada. Depois do filme, eu me sentia o mestre supremo da paciência e da tolerância, por ter passado por tudo que o cara passou, sem a motivação da aposta, e continuar amando muito minha namorada por todos esses anos.

Cara, isso tá em falta. Modéstia à parte, eu sou o melhor namorado do mundo :)

24 horas de sacanagem

2003-03-27 01:31:00 +0000

Um dos repórteres da revista Nerve ficou 24 horas vendo pornografia e escreveu um relato completo de como foi.

No fim foi doloroso, deprimente, nauseante. E algumas semanas depois o repórter conta que tudo passou e ele continua consumindo pornografia normalmente.

A parte mais legal é onde ele conta que assistiu uma paródia pornô de Laranja Mecânica, chamada The Clockwork Orgy. Diz o cara que é incrivelmente fiel ao original, cena por cena, com gente bebendo Moloko antes de sair para fazer "ultra-sexo" e tudo. Meu Deus, profanaram um dos melhores filmes da minha vida.

Morrer na guerra é que dá Oscar

2003-02-12 18:30:00 +0000

E o Cidade de Deus ficou de fora do Oscar. O motivo? Muito violento, dizem.

Tem também aquele filme, O Resgate do Soldado Ryan, com os 20 minutos mais sanguinolentos de todos os filmes que já vi. Esse ganhou CINCO Oscars em 99...

Animatrix!

2003-02-06 18:52:00 +0000

Animatrix são histórias feitas em animação computadorizada e em "japanimation", ambientadas no universo de Matrix.

Algumas serão disponibilizadas de "grátis" no site da Warner, outras sairão apenas num DVD (e, algumas semanas depois, no Kazaa).

Subitamente, a melhor trilogia de ficção científica de todos os tempos ficou ainda melhor.

Comida estranha com filmes esquisitos

2003-01-23 05:18:00 +0000

O bom das férias é isso: se você quiser comer pipoca com salaminho e Fanta Uva Light enquanto assiste o DVD de Erin Brockovich... você vai lá e faz.

Calma, calma, o filme foi escolhido assim porque eu estava com minha namorada... mas é claro que, depois, tinha um Ghost in The Shell pra ver sozinho tomando cappuccino com leite condensado :)

Domingo

2002-12-08 10:37:00 +0000

00:30 - Cheguei em casa, até cedo... fui ver um pouco de TV

01:15 - Nada na TV, fui mexer na Internet e nuns remixes que estou fazendo... coisa nerd básica. Encontrei Luiz no ICQ, chegou meio tonto em casa depois de uma festa, um jantar "0800" de uns negócios do pai dele...

03:10 - Saí do micro e liguei a TV de novo. O filme Pearl Harbour estava começando. "Nó, vou ver esse filme", pensei, imaginando que umas 4:30 eu já estaria na cama...

04:30 - "Peraí, eles só tão atacando a base agora? Esse filme tem quanto tempo de duração?". Apertei INFO no controle remoto. A hora de término do filme: 6:10 da manhã. Ahhh né possível!! Mas hoje é domingo, vou acabar de ver esse negócio.

05:40 - O filme está quase no fim. É bem vagabundo e só fez alimentar meu nojo desses filmes patriotistas norte-americanos... na janela o céu já vai ficando meio azulado...

06:10 - O filme acabou. Perdi meu tempo e minha noite vendo essa bobagem. Decidi sair no terraço... e a maravilha do sol nascendo compensou toda a noite em claro. Lindo.

The Pussy Mind Loop

2002-11-29 03:49:00 +0000

Fui ao cinema ver o filme do Almodóvar, "Fale com Ela".

Quando eu penso se o filme foi bom ou ruim, a única coisa que me vem à cabeça é:

"Havia uma buc&ta gigante, um cara entrou lá dentro e ficou lá o resto da vida"

E só, não vem nada a mais na cabeça além disso. Bem, na verdade não era bem uma b... gigante, era o cara que era pequenininho. Mas é só eu terminar de pensar nisso e o pensamento volta: "Havia uma b... gigante"

Minha cabeça ficou em loop.

P.s.: desculpem o palavrão... mas não era uma "vulva", "vagina", "genitália", não. Era uma buc&ta. O "&" é pro Google não se confundir.

Monday Night Entertainment

2002-09-17 12:27:00 +0000

Assistir Cidade de Deus no cinema e depois chegar em casa com o demo de Unreal Tournament 2002 pra jogar, é muita alegria para uma noite de segunda-feira...

Por sinal, pára de ler esse blog e vai baixar o UT2003 e ver o horário do cinema agora! Não deixe de ir ao cinema ver o Cidade de Deus!!! Isso é uma ordem!!!

A pior legenda da história do cinema

2002-07-31 12:50:00 +0000

Ontem, Resident Evil na telona.

Os personagens entram num trem. Um deles checa a caixa de força e diz: "Power has been cut off".

A legenda diz: "Houve um apagão"

Assisti ontem o Episódio II - Ataque dos Clones no cinema...

2002-07-02 14:58:00 +0000

:: Eu não esperava que o filme fosse tão "Dawson's Creek" como foi...
:: Na primeira cena onde o Anakin encontra a Amidala, me veio um pensamento altamente profano na cabeça: Sandy e Júnior
:: Mais pro final do filme, me aparece o Yoda fazendo cara de mau... e um infeliz dentro do cinema grita: "ÔÔÔ POKEMON!!!!!"
:: A mudança dos nomes, er, obscenos deu bastante piada: "Vá tomar Dooku!!"

O Primo recomenda: Homem Aranha

2002-05-24 03:34:00 +0000

"Aah, mas os cinemas tão com filas enoooormes!! E ver com aquela molecada gritando no filme é muito ruim!! E é filme de super-herói americano, nheca!!", você deve estar pensando. Quando vi o filme, peguei uma fila que subia as escadas do Shopping Cidade até os andares do estacionamento. Além disso, havia uma molecada gritando no filme e um rapaz que dava um arroto nojento atrás de mim em todas as cenas românticas.

Mas eu nem prestei atenção nisso, porque o filme prendeu TODA a minha atenção.

Eu colecionava revistas do Aranha na minha adolescência, sabia tudo sobre ele, desenhava ele em todos os cadernos e livros da escola... e o filme, pra mim, foi um empolgante transporte das estórias dos quadrinhos para a telona, sem cometer as 'tosquices' que filmes, como o Spawn, cometeram.

A despeito de todas as críticas, Tobey Maguire foi o Peter Parker perfeito. A recriação das grandes figuras dos quadrinhos, como o J. J. Jameson, Tia May, Norman Osborn, ficaram quase todas perfeitas. Destaque para o Jota Jota, que ficou hilário. E a Mary Jane... bem, as reticências disseram tudo.

Para os fâs mais "hardcore" do herói, o filme deve ter sido horrível: mudaram o esquema das 'teias', explicaram (estranhamente) a aderência nas paredes, misturaram a história de Mary Jane com a de Gwen Stacey na cena da ponte... mas isso são apenas detalhes infortunados de um roteiro que, em sua grande maioria, foi impecavelmente fiel. E para quem não é fã, com certeza é divertido ver a transformação do jovem nerd no amigo da vizinhança...

As lutas, em alguns momentos, me pareceram um pouco artificiais, mas 90% das cenas de ação (e de balanço nas teias) são de tirar o fôlego. Principalmente a última delas, que coroa o filme, é de arrepiar qualquer um que tenha lido algum gibi do Escalador. Em resumo, é um filmão que merece todo o sucesso de bilheteria e o burburinho por trás do seu lançamento. E pelo jeitão da coisa, o que me parece é que, ao contrário da maioria das continuações, o "Aranha 2", tem tudo para ser outro excelente filme!

Informações mais 'pessoais' no post abaixo... mas em suma, o Primo recomenda!

Estou namorando a Mary Jane

Um fato interessante: grande parte da minha atração pelo Aranha é porque, na época que eu colecionei as revistas dele, eu era como ele: adolescente nerd tímido. A auto-identificação foi mais que natural... principalmente na parte da falta de sorte com mulheres.

Daí, minha irmã foi ver o filme, chega em casa gritando: "Zé, o filme é massa demais!!! E a Mary Jane é a cara de Bethânia!!", que é minha namorada. Não dei muita idéia para aquilo, quando outro amigo que foi ver o filme, disse, por email: "e a Mary Jane é igualzinha a Bethânia". Daí, no outro dia, um outro amigo diz: "É a cara dela. O rosto parece muito, principalmente abaixo do nariz".

Então, vendo o filme, fui tirar a prova: de início não achei muuuita semelhança não. O jeitão das duas é igual, mas a cara da Kirsten Dunst é mais larga que a de Bethânia. Só que, na cena do hospital, a coisa começou a mudar: M.J. se sentava igualzinho à ela... exatamente igualzinho. Já estava começando a achar aquilo meio verdade, quando o filme acabou e eu olhei para o lado. Bethânia sorriu e, acho que por causa da luz acesa, pude ver melhor e na minha cabeça veio:

"Putz, realmente parece demais!!"

Então tive um déjavu de toda a auto-identificação com o Aracnídeo, mas dessa vez atualizada: o adolescente tímido e nerd tinha se dado bem na vida e agora estava namorando a Mary Jane...

Hehe, se dei bem!

Filmes do FDS

2002-01-28 12:59:00 +0000

Cara, sábado eu assisti Dogma... é uma das melhores comédias que eu já vi!! Se você não assistiu, faça um favor a si mesmo e alugue pra ver.

O domingo televisivo de Zé Carlos

2001-08-20 14:09:00 +0000

Ontem à noite, Fantástico. Glória Maria falando: "Hannibal Lecter foi eleito o maior vilão de todos os tempos, seguido de Darth VÁDER"...mudei de canal.

Na TV Cultura, um ótimo documentário sobre música brasileira. Peguei na parte que o documentário cobria o funk carioca e o rap paulista, ótimos depoimentos de MCs e DJs, como o K L Jay dos Racionais, que não tem um dos dentes incisivos e é meio gago, mas falou muito bem. Teve também o Gilberto Gil, como sempre, rindo até a orelha e falando de reggae no nordeste (que é dançado a dois, agarradinho). E o grupo Didá, na Bahia, tocando Samba-Reggae, só na percussão. Muito legal!

Depois, reprise de Top Gun no AXN. Descobri que o parceiro do Tom Cruise, o que morre, é o Anthony Edwards, do ER (Plantão Médico), só que com cabelo e bigodinho...

Aproveitei e assisti atentamente a famosíssima cena de amor do Tom Cruise e da Kelly McGillis, a cena de amor que 10 entre 10 mulheres acham a melhor do cinema, pra tentar entender o porquê. Acho que é por causa das línguas.
Top Gun é um filmão com roteiro tão genial que agrada gregos e troianos: testosterona e caças F15 para os homens, romantismo e Tom Cruise para as mulheres. Filme perfeito para levar a namorada ao cinema...

Jogos, etc.

2001-08-07 22:31:00 +0000

Hoje eu nem bloguei, fui um menino bom e trabalhei o dia todo...

Ontem eu peguei O Tigre e o Dragão e Clube da Luta, e passei 4 horas em frente ao vídeo vendo os dois filmes. O Tigre e o Dragão é lindo, a história é muito bem bolada e os cenários...ah, parecia cenário de Tenchu. Muito legal. O filme tá com um jeitão de trilogia...parecendo um episódio 4 de uma série, em que você pode voltar atrás e contar as histórias do Lin Mu Bai e da Shu Lien...

E o Clube da Luta, bem, gostei e tal, é uma sacada genial, um roteiro bem escrito e bem contado e uma discussão interessante sobre o machismo e os valores consumistas da sociedade moderna. Mas não gostei muuito não. Eu fico com uma pulga atrás da orelha quando eu vejo Hollywood fazendo piada consigo mesma.

É estranho. Filmes com milhões de bilheteria e atores com salários astronômicos criticando a mídia estimulante do consumo. Ou atores crisentos atuando como atores crisentos, como o Leonardo DiCaprio no "Celebrity", do Woody Allen. Ou a Julia Roberts, em "Um Lugar Chamado Notting Hill". Eu acho isso muito estranho.

Filmes

2001-07-27 13:24:00 +0000

Rolou sessão dupla de cinema ontem. Assisti, seguido, o Dungeons and Dragons e o Tomb Raider.

Se você ainda não viu Dungeons and Dragons, não vá ver, principalmente se você já jogou o RPG. Tipo que é horrível, é no nível de "Trapalhões na Terra da Fantasia". Tá certo que é um filme barato e tudo o mais, mas tem erros graves de continuidade e dá pra ver até o microfone sobre as cabeças dos atores em algumas cenas. Os efeitos de computador fedem, muito. Fora o Jeremy Irons e seus dentes amarelos, que devia estar muito na capa pra aceitar fazer um filme-bomba desse.

Já o Tomb Raider é Missão Impossível com uma mulher peituda. Pra quem jogou a série Tomb Raider, o filme é divertido, pois o cenário é fidelíssimo à várias partes do jogo. A própria casa da Lara é idêntica à do jogo! Mas em se tratando de roteiro, bem, é Missão Impossível: mocinha jovem, gostosona, super forte e ágil, cheia da grana e de carros importados, executora de trezentas escapadas por um triz durante todo o filme. É legal, mas podia ser mais animado, ter mais cenas de ação forçadas e tudo o mais. Do meio do filme pra frente é uma paradeza que dói. E a Angelina Jolie, de trança, com enchimento nos airbags e fazendo beicinho o tempo todo, fica praticamente igual à Lara Croft dos jogos.

E do Lets Vamos sai outro link inacreditável...paper craft. Modelos de papel que você baixa da Net, dobra, cola e monta.