Anteontem, depois de almoçar com Bethania, acabei me sentindo obrigado a fazer o que mais gosto: procrastinar. Aí fui ao cinema. E Os Incríveis me saltou aos olhos por duas razões:

1. Computação gráfica, yay!
2. Falaram bem dele em vários lugares.

Peguei uma versão dublada e na primeira sessão do dia (14h). Já estava esperando a meninada fazendo guerra de pipoca e aqueles típicos acidentes de dublagem. Não aconteceu nenhuma das duas coisas. Por sinal, não tema as versões dubladas porque achei o trabalho dos dubladores muito bom.

Saí do cinema profundamente impressionado, por vários motivos. O primeiro é o seguinte: computação gráfica tem um "lado negro" em filmes, porque acaba tirando o foco de coisas também importantes, como roteiro e personagens. Isso não aconteceu, talvez pelo fato de toda a tecnologia para produzir o visual já existir. Obviamente houve melhorias: quando o palmtop que Bob recebe dá uma "escaneada" no seu escritório para ver se o ambiente era seguro para reproduzir sua mensagem, o belíssimo efeito do brilho do laser scaneador passeando pelos móveis fez todas as minhas fibras nerds se contorcerem.

Mas me pareceu que os produtores gastaram uma parcela de tempo considerável trabalhando com o screenplay e os personagens principais, e o resultado disso é o que mais sobressai. Cada um deles parece ter sido milimetricamente planejado para refletir a família americana típica. Tem o garoto hiperativo, a filha tímida com jeitão gótico, a supermãe com quilinhos a mais na bunda e o pai que se arrasta num emprego chatérrimo por um salário ínfimo. O visual contribui: cada um dos personagens é uma caricatura ambulante, a personalidade de cada um é amplificada pelo jeitão cartunesco de cada rosto. Todas as emoções são facilmente percebidas, até melhor do que quando se usa atores de verdade. O resultado: empatia instantânea com o público.

Esse é o maior superpoder dos personagens do filme: o carisma.

Já o roteiro é bem dividido e funciona que é uma beleza: primeiro tem a clássica familiarização com os personagens, depois dá-lhe aventura, com a resolução de todos os conflitos pessoais no final de tudo. E o screenplay dá a dose certa de humor e ação no meio do caminho, além de ser recheado de referências a outros filmes, como a clássica perseguição na floresta, com veículos em altíssima velocidade, que se vê em Guerra nas Estrelas. Os próprios Incríveis são meio que uma homenagem descarada ao Quarteto Fantástico.

Mas Os Incríveis tem que ter um ponto fraco (afinal, o que seria do Super-Homem sem a kriptonita...). O único problema que vi no filme foi que ele é muito mais para adultos do que para crianças. Durante uma das cenas, lembro-me de ouví-las comentando, confusas: "Aquele ali que é o vilão"?

E o padrão Disney de filmes com moral no fim foi pras cucuias. A Pixar até tentou consertar: antes do filme eles passam um "curta metragem" sobre uma ovelhinha que é tosquiada e se sente mal por ser diferente. Aí vem um coelho e lhe instrui a não estranhar a diferença: "Não importa se sua pele é branca, negra, amarela ou rosada", dizia ele, claramente entregando pra que o filminho se propõe. E as crianças perto de mim comentavam:

- Que coisa mais chata, passa logo o filme aê!

Em resumo: Os Incríveis é visualmente bonito, bem escrito e tem personagens supercativantes. É diversão garantida, mesmo se você for adulto e assistir uma versão dublada. Pode levar seu filho, sobrinho ou afilhado que eu recomendo, pra você e pra ele.

P.s.: Eu sempre acho umas preciosidades nos comentários dos usuários do IMDB... olha esse extremista religioso aqui, por exemplo...

P.p.s.: O Vilaça me explicou uma cena no fim do filme que eu não tinha entendido. Aparecem dois velhinhos conversando sobre a vitória dos heróis e falando: "Como nos velhos tempos", "Assim é que era bom!" e coisas assim. Na verdade, são caricaturas de dois animadores da "velha guarda" da Disney, Ollie Johnston e Frank Thomas, e sua fala é uma homenagem bem explícita aos pioneiros da animação. Mais um ponto para a Pixar!