Este é o poster de Diário De Uma Louca. Se você o vir por aí, corra. Pra bem longe.

Eu tinha um ranking de filmes ruins que possuía algumas pérolas, como Anaconda, Godzilla, Dungeons and Dragons, etc. Hoje este ranking ganhou um novo líder: Diário de uma Louca.

Este é, de longe, o pior de todos os filmes que eu já vi... e dos que vou ver também.

Antes de mais nada, uma explicação: eu só vi esta bomba porque eu e Bethania estávamos sem nada pra fazer. Até tinha o remake de Herbie, mas como era dublado acabamos optando pelo Diário. Seria melhor ter visto o Herbie dublado, na primeira fileira, com dezenas de crianças fazendo guerra de pipoca em cima de nós.

A história do filme já começa clichê: Helen, esposa de Charles, um advogado rico e bem sucedido, é trocada pela amante e expulsa de casa, indo parar na casa da sua tia chamada Madea (a véia do poster). O filme já começou mal: Charles expulsa Helen de casa de um jeito tão estúpido que nem parece real. A partir daí o filme começa o seu longo declínio: a tia Madea é na verdade Tyler Perry, o roteirista, vestido de mulher. Tyler ainda acumula três papéis "cômicos" (atenção às aspas): Joe e Brian, outros dois velhos.


O "travesti senil" chamado Madea (Tyler Perry) e a imbecil Helen (Kimberly Elise).

Teoricamente, Madea deveria ser o ponto engraçado do filme, mas ela não é nada além de uma velha negra que fala com sotaque de negra e tem aquela atitude geniosa de velha negra de filme. Aliás, o filme parte do pressuposto que só existem negros no mundo, pois, depois da primeira cena, o filme passa mais de uma hora sem nenhum branco aparecer. Nem como figurante.

Além da comédia ineficaz, os diálogos, mesmo os mais comuns, eram sofríveis. Helen alternava entre frases dignas dos Cavaleiros do Zodíaco, como "O que foi que você disse?", e leituras em off do seu diário, que começavam com "querido diário" e tudo. Por sinal, para minha surpresa, após 20 minutos de projeção, Madea desaparece e a história torna-se um drama pior do que novela mexicana, tipo Maria do Bairro. As cenas são patéticas e sem o menor sentido: numa delas, Helen aparece melancólica num restaurante, observando um casal de jovens apaixonados. Ela chora e depois sai, sem maiores explicações. A música de fundo é de lascar: uma mistura de Kenny G com música de elevador, que se repete por TODAS, eu disse TODAS as cenas dali em diante.

Seguindo sua trajetória de "mulherzinha dando a volta por cima", Helen começa a fazer um super-previsível par romântico com Orlando, um peão de siderúrgica. As cenas de Orlando e Helen são até doloridas de tão ruins: uma das piores é quando os dois estão dançando num clube de jazz (frequentado apenas por negros, vale lembrar) e Helen pensa algo parecido com um capítulo daqueles livros estilo Sabrina: "Oh, como será que ele sabe que eu gosto de ser abraçada assim? Eu deveria ter juízo e dizer a ele pra parar, mas não consigo". O golpe final é quando Helen pensa:

- Isto está tão perfeito, aposto que agora ele vai dizer algo bem típico de homem e estragar o clima romântico.
- Parece um conto de fadas, não é? - diz Orlando
- E não é que ele não disse? - pensa Helen, surpresa.

Nessa hora eu e Bethania não conseguimos nos conter e gritamos juntos: "NÃO DISSE? Como assim ele NÃO disse?". Helen ainda solta outras pérolas, como quando ela passa a noite na casa de Orlando (sem sexo) e narra para seu diário: "Ele é um homem bonito, atencioso e, acima de tudo, cristão". Hein?! Como assim?


Helen e Orlando, o peão de siderúrgica que é um gentleman. O prato predileto dele é salmão (é sério!)

Já que a comédia ficou esquecida mesmo, além dessa história, o filme ainda inventa dramas paralelos sem sentido. Debrah, a irmã de Helen, por exemplo, é uma drogada que largou o casamento pra viver nas ruas. E Charles, o ex-marido, acaba tendo que defender um antigo amigo traficante no tribunal. Ao receber a condenação, esse "amigo", de forma altamente ninja, arruma um jeito de (algemado!) puxar a arma de um dos guardas e atirar em Charles, que fica paralítico. Pra filme ficar ainda mais novela, só faltava alguém com amnésia...

Assim, Helen, que estava feliz com seu "namorado cristão", faz a coisa mais imprevisível e idiota que eu já vi num roteiro: primeiro, larga Orlando para tomar conta de Charles. Sim, aquele mesmo que a enxotou de casa pra ficar com outra mulher. Depois, cisma que vai "revidar" tudo que sofreu e maltrata o marido aleijado, deixando-o passar fome e fazendo todo tipo de tortura psicológica, coisas que simplesmente não tem nada a ver com sua personagem carinhosa e submissa.

Aí aparece a mãe de Helen e fala que não é bem assim, que ela devia perdoá-lo. Helen vai lá, o marido pede desculpas por tudo e ela o perdoa. A irritante trilha sonora estilo Richard Clayderman para elevadores continua tocando sem parar, enquanto tudo vai ficando lindo e azul: Charles é mostrado na fisioterapia, começando a recuperar o movimento das pernas, enquanto Debrah, a irmã drogada de Helen é mostrada entrando numa clínica de reabilitação... Qualquer episódio de Chaves teria um roteiro melhor do que esse filme.

Aí, quando o caos parecia estar completo e eu achei que não havia mais espaço pro filme piorar, eis que vem a terrível cena da igreja...


Helen e sua mãe na igreja. Deus que me perdoe...

Todos os personagens estão presentes, ouvindo a pregação do reverendo Carter (negro, é claro), que se extende por uns cinco intermináveis minutos. Depois, vem o coral: Tiffany, filha de Debrah (a drogada), canta um solo. Enquanto a menina canta, surpresa: a dublagem é de uma mulher adulta! O reverendo também canta, depois o coral todo se empolga e os milagres começam a acontecer: Charles, emocionado, anda sozinho até o altar e, na sequência, Debrah (a drogada) entra na igreja cantando como se fosse a Whitney Houston. Pensa bem: o aleijado andou, a drogada se curou, aquilo ali era uma baita duma sessão do descarrego!!!

Foi só aí que a ficha caiu: Durante o filme os personagens soltavam um ou outro comentário sobre Deus, fé ou religião. Eu não havia entendido o porquê disso até ver todos ali na igreja, louvando e cantando: aquele era um filme gospel.

Sim, aquele era um filme gospel!!!

Só agora vi na internet que Tyler Perry (o roteirista e ator que fez a Madea) é escritor de peças teatrais gospel. Foi ele que, por sinal, pagou sozinho por metade do custo de produção do filme. O papo de "comédia" que envolvia o marketing do filme era, portanto, apenas uma isca para atrair gente aos cinemas. O propósito do filme estava ali, claro, enquanto eu via todo mundo cantando na igreja: o filme é um truque para tentar converter o público para o protestantismo...

Um detalhe: na censura americana o filme é PG-13 devido ao conteúdo que inclui drogas (um dos velhinhos que mora com Madea é maconheiro), referências sexuais (do mesmo velhinho, que insiste em xavecar a mãe de Helen) e violência (Madea anda com uma arma, Charles é fuzilado no tribunal, Helen o maltrata na cadeira de rodas). Tudo isso num filme GOSPEL!!!

Quer mais tosquice? Então toma: Madea's Family Reunion, a continuação dessa bomba, já vai começar a ser produzida. Deus nos acuda.