Estar solteiro num domingo é horrível. Como álcool ou drogas não são uma opção para amenizar as coisas, eu acabo fazendo uma sessão tripla de DVDs.

Modéstia à parte, hoje eu fiz uma bela seleção de filmes. Vejamos:

Filme 1 - Das Experiment (A Experiência)

Primeiramente, não é a experiência que você está pensando. Foi sugestão de um amigo, formado em psicologia. É um filme alemão, com o mesmo nome, e baseado na famosa experiência da prisão de Stanford, onde um grupo de voluntários foi colocado para representar o papel de prisioneiros e guardas numa prisão fictícia.

Eles deveriam ficar neste "Big Brother" por duas semanas. Dois dias depois a coisa já começou a dar problema. Rebeliões, guardas sádicos e tudo o mais. Seis dias depois, a experiência foi encerrada por uma série de fatores. Um deles foi o fato dos próprios pesquisadores começarem a perder a noção de realidade e se acharem realmente diretores de um presídio, tamanha a imersão que a experiência proporcionou. No filme o final é outro, mas pelo que li no site oficial, o roteiro é muito fiel ao que aconteceu.

Estrelado pelo ótimo Moritz Bleibtreu, o mesmo de Lola Rennt (Corra, Lola, Corra), Das Experiment vale pela profundidade da história e dos personagens, e o quanto seus aspectos psicológicos ganham proporções conforme a experiência continua.

Destaque para a overdose de homens pelados, que felizmente foi compensada pela bela Dora (Maren Eggert), e pelo excessivo consumo de cigarros.

Filme 2 - Fargo

Fargo é um filme que conseguiu, espantosamente, unir o estilo "thriller" com comédia. Uma hora você está rindo dos caipiras do filme, na outra você vê um criminoso assassinando a sangue-frio.

Baseado numa história real (que coincidência, igual o Das Experiment), Fargo leva o nome da cidade natal de Jerry Lundergard, um vendedor de carros que planeja um sequestro fajuto da esposa para, com isso, ganhar o dinheiro do sogro. Mas o que é baseado na história real é apenas o aspecto "thriller" do filme. A parte comédia é trazida pela excelente atuação dos atores.

Um exemplo cômico é a Xerife Marge entrevistando duas prostitutas. O que se vê é um bando de caipiras conversando:

- Mais ié mess?
- Poizé!
- Mais num é que é...

Vários outros detalhes do filme acabam sendo engraçados, mesmo nas horas trágicas, violentas ou grotescas. Destaque também para a trilha sonora; a música-tema é muito boa. E tem também a fotografia, belíssima, ora explorando a beleza da neve e do inverno, ora exibindo a vida de jeca dos personagens. Há momentos que são verdadeiros quadros, mais notadamente as cenas com carros, na estrada ou nos pátios nevados dos estacionamentos.

Ponto para os diretores, os irmãos Joel e Ethan Coen, que fizeram um trabalho magistral neste filme. Gênios, os dois.

E aí, no final da noite, botei os dois filmes pra brigar com Stanley Kubrick, o diretor que mora no meu coração (de uma forma não-homossexual, é claro):

Filme 3 - O Iluminado

"Mas coomo assim, você, que baba um ovo danado do Kubrick, nunca tinha visto O Iluminado???", vocês devem estar se perguntando.

Verdade, nunca tinha visto. É que eu costumo reservar uns filmes que eu sei que com certeza serão excelentes para momentos de emergência, como este domingo. Ainda tenho no meu buffer alguns filmes do próprio Kubrick, outros do David Lynch...

O Iluminado é baseado num romance de Stephen King. O que fica bem óbvio logo no começo, já que a história é o super-clichê do terror: tudo passa num hotel distante, nas montanhas. Diz a lenda que o hotel foi construído sobre um cemitério indígena. O antigo zelador enlouqueceu e matou a sua família, composta pela mulher e duas filhas, a machadadas. E é pra lá que Jack Torrance (Jack Nicholson) vai trabalhar, com a mulher e o fillho...

E aí você tem os commodities de Kubrick (a maravilhosa fotografia, as tomadas de câmera, os cuidados com o som) somados a um roteiro assustador de Stephen King. Mas faltava uma coisa que sempre fica a critério do diretor: como dar forma ao suspense?

A resposta em O Iluminado é uma só: música.

É manjado falar da música dos filmes de Kubrick, que normalmente tem quase um papel próprio, e compõem as cenas como uma luva. Mas no caso deste filme, a música é tudo. Desde a abertura do filme, o fly-by sobre o carro de Jack que se dirige ao hotel... eu já comecei a sentir medo a partir desse ponto.

Uma curiosidade de cair o queixo: Wendy Carlos, que compôs a trilha do filme, também compôs a trilha do excelente Laranja Mecânica, ambos em parceria com Rachel Elkind. Só que nos créditos do Laranja você vai ler que a trilha foi composta por Walter Carlos, e não Wendy. "Como assim, ele mudou de sexo, é?", você se pergunta.

Mudou sim. Em 1972, W.Carlos fez uma operação de mudança de sexo! Dê uma sacada no site oficial de Wendy e olha a cara do(a) sujeito(a).

Problemas sexuais à parte, a trilha sonora é muito, muito angustiante. Todo o medo que não dá pra ser passado pela atuação dos personagens está contido na música. E o mais fantástico em relação à isso é que dá pra usar a música pra adicionar medo à cenas onde seria impossível sentir medo. Imagine, por exemplo, a primeira cena do labirinto (a com Wendy e Danny), sem a música.

A coisa é tão sufocante e assustadora que, er, bem... que eu cocotei como um fraco e não terminei de assistir o filme todo.

Pô, mas já passa de meia-noite, tá todo mundo dormindo, e para quebrar a escuridão só a luz da tela do notebook! Mas amanhã eu termino de assistir e finalizo este review. Enquanto isso, fiquem aí rindo de mim.