O Primo recomenda: Encontros e Desencontros
Primeiro eu preciso falar duas coisas: A coisa um é que eu vou me referir a este filme pelo seu nome original, Lost in Translation (ou, abreviando, LIT), já que o "encontros e desencontros" é uma tradução horrééével. A coisa dois é a história pré-filme:
É fato que eu ando estressado com trabalho. Aí neste fim de semana eu estava parecido com uma mulher de TPM. Primeiramente, eu sugeri pra Bethania que fôssemos assistir Simplesmente Amor. Com Rodrigo Santoro e tudo. Felizmente, Deus não me permitiu este nonsense e, quando chegamos ao cinema, o filme já havia saído de cartaz.
Aí fomos ver as outras opções e paramos em frente a um cartaz de Mestre dos Mares. Eu parecia uma criança pequena no cinema e fiquei gritando "aeee vamos ver vamos ver vamos ver!". Depois de todos concordarem, assim que entramos na fila pro ingresso, demos de cara com o cartaz do LIT.
- Ahhh não, vamos ver o LIT!
- Não, vamo ver o Mestre dos Mares mesmo!
- Não, mudei de idéia! Vamo no LIT!
- Tá. Par ou impar?
Eu pedi ímpar. Ela botou 2, eu botei 5. E lá fomos nós pro cinema. Lá dentro eu fiquei dando mais chiliques, por causa do Mar sem Fim, livro do Amyr Klink que comprei pra Bethania e que ela não queria me deixar ver, porque o 100 dias entre céu e mar, livro do Klink que ela ganhou, eu acabei lendo primeiro que ela e ela cismou de ter ciúme dos livros que eu leio antes dela. Aí ficamos os dois, no cinema, cutucando um ao outro pra pegar o livro:
- Dexover!
- Não!
- Por quê?
- Porque não!
- Uhh... dexover!
Como podem ver, minha situação é deplorável. Agora, falemos do filme.
Lost in Translation é o filme novo de Sofia Coppola. Dela, eu só tinha visto As Virgens Suicidas, filme que assisti porque viciei na trilha sonora (composta pelo Air) antes mesmo de ver o filme. As Virgens é um filme legal, intimista, discreto até. Como eu costumo dizer, dos filmes bons ele é um dos piorzinhos, mas é melhor do que a esmagadora maioria das coisas que estão no cinema e nas locadoras. Aí veio o LIT.
Pontos para a diretora, porque está definindo que tem um estilo todo próprio de fazer filmes. Um estilo bem "mulherzinha", onde os detalhes é que contam a história. Outro destaque é para a fotografia; claro que, por se passar no Japão, o filme já estava com a fotografia mais ou menos garantida de ser boa, mas o olho bom da diretora soube usar paisagens que por si só já são lindas para destacar detalhes da história. Quando Charlotte fica sentada na janela do quarto do hotel, sem fazer nada, a paisagem urbana que se vê pela janela é de cair o queixo. Mas ao mesmo tempo é um mar de pedra e de solidão.
Charlotte e Bob passam o filme inteiro no meio de milhões de pessoas e... sozinhos. E este é o mote do filme: lentidão e solidão. O jet lag sofrido pelos personagens principais estende-se por amargos dias, onde o sono é difícil e tudo é estranho. E a estranheza oriental é a parte engraçada do filme, que pelo que li pela Internet andou até sendo confundida com racismo.
A trilha sonora é... putz, é fodassa! Exatamente como nas Virgens Suicidas. Talvez isso até cause a impressão errônea de que a fotografia e a trilha servem para apaziguar um enredo ruim, mas, putz, o roteiro do filme é excelente! E o Lost in Translation é isso, um filme, sobre todos os ângulos, excelente.
Até me surpreendi de vê-lo em cartaz num shopping. Minha irmã e o namorado foram ao cinema comigo, acharam o filme "lento". Bethania achou que tinha pouca história pra muito filme. Eu achei que tudo estava na medida certa. E recomendo.
Destaques do filme:
- O toque do celular de Bob. Parece música do Castlevania...
- O karaokê, com o japa cantando God save the Queen dos Sex Pistols. Eu caí na gargalhada no cinema. Só eu. E não sei como o Lúcio Ribeiro menciona essa cena e não fala do God save the Queen!
- Charlotte passeando no fliperama japonês. Um dos jogos tem uns oito botões grandes, redondos, e um japa de camisa branca "tocando piano" neles, no ritmo da música. É o mesmo jogo deste vídeo.
- O "Johnny Carson" japonês, que estava mais pra Leão Lobo sob efeito de Ecstasy.
- A cena inicial do filme. A primeiríssima mesmo, aquela onde aparece o título. O cinema inteiro ria, sem entender.
- A reação do cinema quando o filme acabou: "Hah! Queisso!", "Pelamordedeus...", "Filme horrível". Durante o filme eu ouvia gente bocejando alto de propósito.
- O Monte Fuji.
- A entrevista da loira-burra no salão de convenções do hotel, falando de reencarnação e de como Keanu Reeves morre e renasce no filme dela. Referência ao Matrix?