Indicações
Eu empolguei e desde a última sexta estou escrevendo este post... vou indicar três coisas duma vezada: um disco, um filme e um restaurante!
O Primo recomenda: The Books - Thought for Food
O mais legal deste disco é que é muito difícil descrever a sonoridade dele. Nenhum dos rótulos habituais parece se encaixar nele. Não é indie, não é eletrônico, não é acústico e é as três coisas ao mesmo tempo.
Mas todas as músicas são feitas tendo violões, guitarras acústicas, violinos ou baixos como base. Às vezes os violões são severamente picotados e sampleados, e em outras horas eles são tocados (quase) normalmente, em ritmo de blues ou pop ou folk.
Aí vêm os "temperos": os samples vocais. Este disco tem, sem sombra de dúvida, o uso mais criativo, dinâmico e interessante de samples vocais que já vi. Eles são naturais, curiosos, divertidos e inteligentemente posicionados. Por exemplo, a belíssima motherless bastard começa com as vozes de uma menina e um adulto conversando:
- Mommy? Daddy! Mommy?.. Daddy?.. Mom? Dad?
- You have no mother and father.
- Yeah I do!
- No! They left! They went somewhere else.
- No they haven...(ooh I hate you!)
- No, eh, I don't know you
- Dad...
- No, don't touch me, don't call me that in public.
Parece engraçado a princípio, mas conforme a música progride o mesmo sample é usado novamente, e soa completamente diferente...
Também em all your base are belong to them (os mais junkies de internet saberão facilmente de onde vem esse título), você ouve um countdown, depois aplausos, depois alguém diz:
- Oh, I was just clearing my throat...
E depois um "público" cai na risada. E você também.
Thought for Food consegue a proeza de se manter altamente interessante durante todas as faixas. Ele reinventa a música experimental sem ser pretensioso, e se dá muito bem nesse intento. Eu recomendo muito.
O Primo recomenda: Diários de Motocicleta
Eu fui ver este filme sozinho, já que estava sem carro, tinha acabado uma reunião de trabalho chatíssima e havia um cinema em frente o prédio onde eu estava. Do meu lado, no cinema, havia um gay escandaloso que, além de gritar durante todos os trailers, estava gripado.
Mas vamos ao filme... Diários de Motocicleta é, em resumo, a história de dois argentinos que planejam viajar toda a América Latina de moto. Os viajantes são Alberto Granado e Ernesto "Che" Guevara. O filme, dirigido pelo Walter Salles, foi inspirado nos livros que ele e seu parceiro escreveram durante a viagem.
Só por isso o filme tinha tudo pra dar errado porque as armadilhas eram muitas: ele podia facilmente se tornar só uma "vitrine" pras paisagens da América Latina, ou ficar "revolucionário" demais se focasse muito na construção do caráter do líder Che Guevara, ou pecar pelo inverso disso e esquecer completamente este aspecto e virar só uma sucessão de "causos" bobos da viagem. Mas a direção inteligente fez com que todos estes aspectos fossem trabalhados com muito equilíbrio. Ponto pro Walter Salles.
As partes engraçadas se alternavam com as sérias de um jeito muito apropriado. Os diálogos também foram muito bem escritos. Destaque para a genialidade de um dos diálogos, onde Guevara (apelidado de Fuser pelo seu amigo Alberto), de carona na boléia de um caminhão, observa os olhos de um dos "passageiros": uma vaca que ele quase atropelara minutos antes. Ele vira para o dono da vaca e diz:
- Esta vaca está ficando cega.
- E daí? Ela só vai ver merda mesmo... - responde o vaqueiro.
Aparentemente sem sentido, estas duas frases apontam discretamente para o caráter de lider revolucionário de Fuser. Inclusive, os "olhos" têm papel muito importante no filme e foram mencionados por ele em vários momentos. Pena que nessa hora o público não pareceu entender, porque começou a rir.
Inclusive, uma coisa que me irritou foi o comportamento do público no cinema: nas cenas do leprosário de San Paulo, na Amazônia peruana, o público ria quando apareciam os leprosos, justamente nos momentos onde Guevara estava mais sensibilizado a questões como igualdade e segregação. Não cometa este erro e perceba que Diários de Motocicleta vai mais fundo do que parece. Eu recomendo.
O Primo recomenda: Cantábria
(Obviamente, esta recomendação só vale pra quem, como eu, mora em Belo Horizonte)
Na sexta eu e Bethania resolvemos jantar em Macacos, uma micro-cidadezinha a alguns quilômetros de BH. A cidade estava deserta e os restaurantes de lá, também. Aí entramos num deles, chamado Cantábria.
Não havia ninguém no restaurante; só nós, a garçonete, o chef e a melhor moqueca de surubi que já comi em toda a minha vida! Some a isso o ótimo atendimento e o ambiente simples e agradável e você ganha uma recomendação d'o Primo.
Pode ir lá com sua namorada que é garantido. Bom, pelo menos a comida eu garanto, já o que você vai fazer com sua namorada é por sua conta...