O fim de semana foi bem agitadinho. Pra compensar a falta de conteúdo lá vem post triplo.

(des)Entendimento

Sexta feira, logo depois do cinema (fui ver o filme do post abaixo), acabei indo parar num café para me encontrar com um amigo, cujo pseudônimo será Marcos.

Na verdade Marcos não estava sozinho, havia um punhado de colegas de trabalho dele e, dentre eles, uma loira. Logo que eu botei os olhos na loira, que conversava animadamente com ele, veio o flashback (estou ficando bom nisso).

Cena: eu e Marcos almoçando, há uns meses atrás. Marcos contava de uma colega de trabalho:

- Cara, você não acredita na mulher que trabalha lá comigo... é uma loira maravilhosa, alta, do olho claro, e ela é fabulosa...

E seguiu falando na diaba da mulher pelos dez minutos seguintes. Pelo tamanho do marketing concluí que a mulher realmente devia ser uma coisa de louco.

E, por dedução, percebi que a loira que papeava com ele devia ser mesmo a super-loira que ele falou.

Depois de reorganizar a mesa para acomodar a mim e mais uns cinco amigos que chegaram, acabei com dois deles à minha direita e a super-loira à minha esquerda. A garçonete quis saber o que beberíamos. Meus amigos pediram chopes e a garçonete me perguntou:

- Pra você também?

- Não, chope não, eu sou a mulherzinha do grupo aqui - respondi, brincando para ser simpático.

Aí lembrei da super-loira e, pra ser educado, completei:

- Com todo o respeito, é claro. Sem ofensa.

Nisso, sem o menor pudor, ela me perguntou:

- Você é "entendido"?

- Errr... o quê??

- Você é "entendido"?

- N-não entendi...

Na verdade eu não acreditava que era aquela a pergunta. Caso vocês não tenham sacado, ela me perguntou, usando uma gíria, se eu era gay. Enquanto eu fazia a minha melhor cara de perplexo ela confirmou a pergunta, soletrando lentamente.

- Você é EN-TEN-DI-DO?

O "não, não sou" quase não saiu da minha boca. Depois disso, ela me deu as costas e continuou conversando animadamente com o Marcos. E eu continuei papeando com meus amigos, apesar do sapo entalado na garganta. Deve ter sido porque eu estava de terno, só pode.

Uns quarenta minutos depois Bethania chegou. Depois dos cumprimentos, como é de costume, ela perguntou, fingindo um ciumezinho:

- E quem é essa loira aí do seu lado, hein??

A resposta veio com um sorriso:

- Ih, pode ficar tranquila, ela acha que eu sou gay...

O Primo recomenda MUITO: O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Sim, foi este o filme que eu assisti antes do fatídico episódio do post acima. A minha idéia inicial era ver o filme do Michael Moore, o Fahrenheit 9/11, mas Gabriel, minha companhia, acabou vendendo a idéia d'O Brilho Eterno:

- Mas o diretor é o Michel Gondry...
- Quem é esse?
- Ah, é um cara fera, dirigiu um monte de videoclipes legais, do Daft Punk, Chemical Brothers, Bjork, Massive Attack...
- Mas, e longa-metragem... ele fez algum?
- Não que eu saiba...
- Hmm... perai. Foi ele quem dirigiu o clipe de Around the World, do Daft Punk?
- Ele mesmo.
- Ok, que horas é a sessão?

Quando me sentei no cinema, eu não tinha absolutamente nenhuma informação sobre a história do filme e, de quebra, trazia comigo uma antipatia do Jim Carey. Quer dizer, as comédias dele são ótimas, mas sei lá. Entretanto, na hora em que o filme terminou, eu mal podia acreditar no que tinha visto.

Eu sempre pensei que, se eu fosse fazer um filme, ele seria sobre sonhos. Ou melhor, ele seria como um sonho: desconexo, irreal... a estética com a qual o cérebro desenha nossos sonhos é uma coisa que sempre me fascinou. Aí me chega o Michel Gondry e faz exatamente isso: filma o "sonho" de Carey. Quer dizer, não é bem um sonho, mas se eu disser mais que isso vai estragar a graça do filme.

O fato é que O Brilho Eterno tem um título estranho, um roteirista espetacular e um diretor fabuloso. Em vários momentos era fácil perceber a estética de videoclipe, mas, curiosamente, era exatamente isso o que tornava a cenografia maravilhosa. Nada poderia ter sido melhor do que um diretor de videoclipe para fazer este roteiro, que é genial, incrível, delicioso. Eu podia ficar horas só babando ovo do roteiro, mas vou poupá-los. Dentre os roteiristas está o Charlie Kaufman, que tem um belo currículo incluíndo o John Malkovich, Confissões de uma Mente Perigosa e outros.

Além disso tudo veio a cereja no topo do sorvete: a atuação de Jim Carey (paguei língua) e a da Kate Winslet. Eu, o "homem-pedra", me emocionei bastante com a maneira com a qual Carey fez seu personagem, Joel.

Destaques do filme, mas sem falar muito pra não contar a história:

- As cenas do consultório, da livraria e da casa de praia, que eram feitas com a iluminação estilo "lanterna", ou seja, só com o holofote montado na câmera. Me lembrou o Silent Hill...

- Os detalhes de cena que davam o clima de sonho e a sensação de que "tem algo errado", como placas das lojas da rua escritas ao contrário ou, o melhor deles, as pessoas sem rosto. Assustador, mas lindo.

- A reviravolta inicial da história. É um "tapa" roteirístico que você recebe no cinema, ele é tão eficiente que te deixa até meio abobado por um tempo. Funciona ainda melhor quando você (como eu) não faz a mínima idéia do que trata o filme.

- A cena do restaurante onde Joel pensa sobre "aqueles casais deprimentes de restaurante, os 'mortos jantando', que a gente vê e sente até pena". Achei que era só eu que reparava nisso...

Em resumo, O Brilho Eterno... é, simplesmente, imperdível. Mas imperdível MESMO. Eu recomendo muito. Agora, em contrapartida...

O Primo NÃO recomenda: Hellboy

Foi estranho: eu queria (ainda quero) ver o Fahrenheit 9/11. Bethania queria ver o do Almodóvar, o Minha Vida sem Mim. E, por alguma estranha razão, no domingo acabamos no Hellboy.

Esse foi outro filme sobre o qual eu não sabia absolutamente nada, além do fato de que Hellboy era um personagem de revista em quadrinhos. Pelo jeitão da coisa eu fui esperando um filme "sessão da tarde", uma "aventurete", e rezei para que a coisa não fosse no nível medonho dos filmes do Spawn ou do Hulk.

E, mesmo no nível de "aventurete", Hellboy fracassa, catastroficamente.

O personagem principal é um chato de galochas. O cara é saído do inferno e tinha tudo pra ser um tipo imponente, poderoso, mas acaba sendo apenas um bicho grande, inexpressivo, com problemas de adolescente de 15 anos, manias ridículas (gostar de gatos?!?) e o tom de voz mais monótono do cinema. Aposto que nos quadrinhos ele é muito mais macho.

Os coadjuvantes acabaram sendo muito mais interessantes do que o Hellboy: o "homem-rã", Abe Sapien, é bem legal e o vilão-ninja das espadas, apesar de movido a corda, era bastante estiloso. Destaque também para os maquiadores, que fizeram um belo trabalho. E o roteiro, bem... até agora eu não entendi como o "pai" do Hellboy pôde ser fraco daquele jeito. E a explicação para a recuperação da "alma perdida" da namoradinha de Hellboy, no fim do filme, é tão pobre...

Em suma, Hellboy não chega no nível de ruindade dos clássicos da infâmia, como Pecado Original, mas é mais que fraquinho: é patético. Já o Pablo Vilaça até gostou, mas eu diria pra você passar longe. Eu não recomendo.