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A saga de botar um sistema no ar

2019-04-02 19:09:40 +0000

No último dia dos namorados, Bethania, espertinha, me deu de presente um par de ingressos para assistirmos um show do The Bad Plus. Detalhe: o show era, "coincidentemente", em Nova Iorque, onde "coincidentemente" tem os shows da Broadway que ela adora assistir. Coincidências à parte, foi um presentão, já que nós dois adoramos visitar essa cidade absolutamente foda que é NY.

Só tinha um problema: a data do show, coincidentemente, era a mesma data do "go live" do projeto em que estou trabalhando no banco. É a data onde tudo que passei meses fazendo ia, finalmente, ser colocado em produção e processar 500 mil registros de financiamento imobiliário que o cliente está esperando há um tempão.

Pra piorar, aqui no banco, por questões de segurança, quem desenvolve os sistemas não pode ter acesso a eles depois que são colocados em produção, então toda atualização é feita via um método "toma que o filho é teu" onde eu mando um pedido com todas as instruções de como botar o troço no ar pra um outro cara fazer.

Pra piorar ainda mais, meu sistema depende de outros componentes que, há meses, me dão dor de cabeça. Os mais críticos são:

  • Atualizações do "Sarcófago": um banco de dados super antigo, cujo processo de atualização é um grande mistério, passado apenas via tradição oral (ou seja, sem documentação) entre os grandes anciões (ou seja, os caras que trabalham no banco há décadas)
  • Acesso à "Nuvem Mágica": um sistema de mensagens, super moderno, propriamente documentado e que roda na "nuvem". O problema desse aqui não é técnico, é que meu time tinha um cara pra lidar com ela - o "Salim" - e o Salim não entende nada da Nuvem, mas no processo de fingir que sabe, me repassa informações erradas sobre como conectar com a Nuvem 100% das vezes.

Meu gerente de projeto tava sossegado e falou: "Tá tranquilo! A gente bota tudo isso aí no ar na noite anterior à da sua viagem". Depois dessa frase eu percebi que não poderia contar com a perspicácia do meu GP pra essa história dar certo.

Pra evitar problemas com a Nuvem Mágica, eu que não sou bobo dei meus pulinhos pra achar as configurações certas com antecedência, sem depender do Salim, mas tinha uma delas que não tinha jeito: a senha de acesso à Nuvem. Por segurança, nenhum programador tem acesso às senhas dos sistemas de produção, então eu tive que pedir o Salim pra botar a senha certa pra mim num "cofrinho" de senhas que meu sistema usa na hora que vai pro ar. Vale lembrar que o Salim me passou senhas erradas 100% das vezes ao longo do desenvolvimento do projeto, então pra me garantir eu mandei um email com cópia pra meio mundo pedindo pra ele testar a senha de produção com antecedência, pra garantir que ela estava correta e que ela tinha as permissões de acesso à Nuvem Mágica, e ele respondeu que sim.

Quanto ao Sarcófago, eu também quis me antecipar e, na segunda-feira da semana da viagem/go live, fui consultar um dos anciões para saber se eu poderia mandar atualizar o Sarcófago com mais antecedência, pra minimizar a chance de dar merda. E foi aí que a merda começou, porque ele virou pra mim e disse:

"Então... as tradições dizem que o Sarcófago só pode ser atualizado no final de semana, e o comitê que aprova atualizações do Sarcófago precisa de 48 horas de antecedência"

Fui contar isso pro meu gerente de projeto e ele nem se lembrava que precisava atualizar o Sarcófago. Mas, muita discussão depois e eles finalmente concordaram em abrir uma exceção para atualizarmos o Sarcófago na noite de quarta pra quinta. O duro é que ficou tudo pro mesmo dia: Sarcófago na noite de quarta, meu sistema na manhã da quinta e, no mesmo dia, eu embarcando pra NY.

Na quarta eu deixei as malas prontas, fui dormir e, às cinco da manhã, já estava de pé pra checar a atualização do Sarcófago, que... não rolou. Confuso, entrei em contato com um dos anciões, que me disse o porquê da atualização não ter sido feita:

"Então... as tradições dizem que, ao fazer seu pedido de atualização do Sarcófago, no dia da atualização você precisa ir lá no formulário de pedido e acrescentar um comentário dizendo: 'Por favor, prossigam com a atualização do Sarcófago', e como você não fez isso o Sarcófago não foi atualizado".

Eu JURO pra vocês que foi isso que me disseram.

Aí todo mundo se juntou novamente e meu chefe sugeriu botar meu sistema no ar sem Sarcófago sem nada, pra eu poder finalmente viajar. Uma ótima ideia, não fosse pelo fato de que teríamos que agendar a implantação pra depois do horário de expediente bancário, que termina às 16:30... e meu voo tava marcado pra decolar às 17:30. Aí começou a gincana: fui com o laptop aberto de casa até o aeroporto, trabalhando do trem para preparar todas as instruções pra deixarem tudo certinho pro troço ir pro ar.

Depois de muita correria - incluindo uma conference call na fila do raio X - às 16h estava eu, finalmente, sentado na sala de embarque, olhando pra tela do computador, esperando a implementação começar. Nessas horas eu dei graças a Deus de estar dando minhas corridas na academia e em boa forma cardiovascular porque, meu amigo, eu tava com o coração na boca. Se tudo funcionasse, tanto eu quanto o sistema entraríamos no ar sossegados, mas se desse pau, eu ficaria offline em algum lugar da estratosfera por quase duas horas, roendo as unhas, sem saber o que rolou.

Pontualmente às 16:31 a minha tela começa a piscar, indicando que a publicação começou. O painel de controle que mostra o status da coisa é uma das poucas coisas de tecnologia da vida real que é parecida com a dos filmes: tem uma lista de etapas e cada uma tem um farolzinho que vai ficando verde conforme elas vão concluindo...

Fazendo download do arquivo de configurações....... OK!
Gerando arquivo com credenciais de segurança....... OK!
Estabelecendo conexão com servidor................. OK!
Enviando arquivos.................................. OK!

E aí tava tudo ficando verdinho... e o coração acelerando... até chegar na última etapa:

Iniciando aplicação...

Olhei pro meu portão de embarque. Pela primeira vez na vida, eu queria que meu voo atrasasse. Depois de uma longa pausa, eis que o último farolzinho finalmente muda de cor... e fica vermelho.

Aí olhei pro portão de embarque e, para minha alegria, o horário do voo atrasou meia hora... mas como alegria de pobre dura pouco, o portão mudou pro outro lado do aeroporto. Desesperado, fui catando as malas/mochilas e, ao mesmo tempo, tentando ver o que foi que tinha dado errado na aplicação. Parecia que o problema era - adivinha só! - na senha de acesso à Nuvem Mágica. Aí fui conversar com o Salim, o colega que deveria ter colocado a senha certa no sistema pra mim:

_ Salim, deu pau na senha da Nuvem Mágica.
_ Ah tá. Você tem a senha?
_ Eu não posso saber essa senha, Salim, lembra?
_ Você tem o aplicativo pra enviar senhas encriptadas por email?
_ Não, Salim, eu não posso ver essa senha, se a auditoria pega isso vai dar problema...
_ Peraí que eu vou te mandar aqui no email normal mesmo então...
_ Não, peraí Salim...

E aí minha caixa postal apita e chega a senha. Bom, pelo menos tá registrado que eu avisei, e já que ele mandou a senha eu aproveitei pra testar e confirmar que, sim, a porra da senha tava errada.

Nisso eu já estava correndo pro outro lado do aeroporto e com o laptop aberto na mão. Aí chega um email do meu chefe, que recebeu a notificação de que o go live falhou:

_ Hey Joe, vi aqui que deu pau... não era pra você estar viajando já?
_ Tou na sala de embarque... parece que o Salim não tem a senha certa pra Nuvem Mágica.
_ Hmm... se eu te mandar isso aqui, ajuda?

E eis que meu chefe me encaminha a senha certa da Nuvem Mágica, também por email, sem criptografia sem nada. Subitamente, todas as minhas preocupações com segurança da informação e auditoria desaparecem(1).

Finalmente chegamos no portão de embarque e nem tinha fila, porque todo mundo já tava dentro do avião. Eu não sei como, mas num espaço de trinta segundos eu consegui encaminhar o email com a senha certa pro cara que estava botando o sistema no ar, fechar o laptop, pegar meu passaporte e embarcar. Mas ainda tava todo mundo em pé no corredor do avião porque não tinha lugar pras malas, e o ar condicionado tava desligado, e no assento da nossa frente tinha um casal com uma menina cujo desodorante havia vencido há pelo menos uma semana(2), e tudo que eu queria naquele momento era saber se a porra do sistema tinha ido pro ar, e eu só teria o espaço de alguns minutos pra conseguir checar antes do voo decolar.

Depois de muitos "excuse me" e "sorry" e de brincar de Lego com as malas no bagageiro eu tapei o nariz, abri o computador e eis que lá está outro email do chefe:

"Publicação concluída com sucesso. Boa viagem, Joe!"

Eu mal conseguia acreditar. A bagaça estava no ar. O meu trabalho dos últimos três meses finalmente nasceu e viu a luz do dia.

A primeira parte da saga estava concluída. Ainda faltava a atualização do Sarcófago, mas eu estava mais tranquilo porque botaram um dos anciões pra tomar conta dela, e da minha parte era só mandar reiniciar meu sistema pra ele se reconectar com o Sarcófago e capturar as novas atualizações. Moleza, certo?

A saga de botar um sistema no ar - PARTE 2

Ah, Nova Iorque. Como é bom estar rodeado de turistas o tempo todo e ouvir uma buzina a cada 30 segundos.

Passamos o dia curtindo a cidade, relativamente despreocupados. A única coisa pendente de trabalho pra mim seria conferir, à uma da manhã, se reiniciaram meu sistema pra ele pegar as atualizações do Sarcófago. No fim do dia fomos ver um show da Broadway e chegamos tarde no hotel, aí nem fui dormir e fiquei fazendo hora até dar o horário.

Pontualmente à uma da manhã lá estava eu, olhando para os faroizinhos que deveriam piscar indicando que meu sistema estava sendo reiniciado. E os faroizinhos, dessa vez, não ficaram vermelhos. Na verdade, eles nem mudaram de cor, o que indicava que nada estava acontecendo. Pra piorar, o cara que iria reiniciar o sistema (chamado "Ted") nem online estava.

Chamei um dos anciões, que também estava acordado, terminando a atualização do Sarcófago:

"Cara, cadê o Ted?"
"Pois é... vamos esperar um pouco"

Meia hora depois e nada do Ted. E ninguém tinha o telefone do Ted. Tínhamos o do chefe do Ted, mas ele não atendeu. Aí, para minha vergonha, ligamos pro coitado do meu chefe, que também não tinha o telefone do Ted. A coisa entrou num nível tão Trapalhões que saímos fuçando a intranet e abrindo planos de implementação de sistemas antigos pra ver se, em algum deles, constava o telefone do Ted. Obviamente não deu certo e, lá pelas três da manhã, meu chefe mandou todo mundo voltar a dormir e tentar de novo às sete da manhã.

Óbvio que não consegui dormir.

Só lá pelas oito da manhã alguém finalmente achou o Ted, que finalmente reiniciou o meu sistema, que finalmente pegou as atualizações do Sarcófago.

Finalmente eu poderia tomar um banho e sair para morrer de sono nas ruas de aproveitar Nova Iorque. O resto do time ia continuar online, e iniciar o processamento dos 500 mil registros que iriam para a Nuvem Mágica. Enquanto eu tirava meu pijama o pessoal mandou o primeiro registro, só pra testar, e então...

A saga de botar um sistema no ar - PARTE 3

Eu considero que a minha melhor qualidade como engenheiro de software é que eu sou pessimista. Em tecnologia não existe o "vamos torcer pra dar certo": o bom engenheiro parte do pressuposto que vai dar merda e então medita profundamente sobre a merda: seus possíveis formatos, locais e formas de atuação. Aí, o bom engenheiro desenha sua solução centralizada na merda, com todos os recursos para evitá-la quando possível ou, se ela é inevitável, para fazê-la feder menos quando acontece. E quando o trabalho de conhecer e mitigar a merda está concluído e os engenheiros júniores estão orgulhosos da resiliência do seu trabalho, o engenheiro sênior ainda está preocupado, então ele vai lá e executa o último e importante passo de deixar prontos todos os recursos para identificar, facilmente e rapidamente, as futuras merdas que ele sabe que não pode prever.

Foi por isso que, mesmo sem dormir, seminu, em outro país e usando internet de hotel, demorei apenas trinta segundos para identificar o que havia de errado quando o povo do projeto saiu gritando que o registro que mandaram não apareceu na Nuvem Mágica. É que agora tínhamos a senha certa da Nuvem Mágica, mas não tínhamos as permissões para enviar informações para ela.

Lembra que, na semana anterior, eu tinha mandado um email pro Salim pedindo, explicitamente, pra ele testar a senha e as permissões de acesso à Nuvem Mágica, e ele disse que tava tudo OK? Pois é, não estava. E agora lá estava eu, lidando com a merda do Salim.

Aí pulou todo mundo junto numa conference call pra ver o que tinha acontecido. Salim continuava insistindo que havia pedido pra liberarem as permissões pro nosso usuário, até que um outro programador menciona que estava copiado no email do pedido e que alguém havia digitado errado o nome do servidor da Nuvem Mágica: botaram o servidor de desenvolvimento, ao invés do de produção.

Mas Salim é o pior tipo de idiota, que é o idiota mal intencionado (também conhecido como filho da puta). Então ele, magicamente, começa a botar a culpa do erro na equipe que toma conta da Nuvem Mágica. Pra piorar, demorou quase uma hora e meia pra conseguir entrar em contato com a pessoa do time da Nuvem Mágica que estava de plantão, o que deu ainda mais munição pro Salim. E eu lá, pendurado no telefone, esperando alguém consertar as permissões.

Bethania foi bastante compreensiva, saiu do hotel pra comprar o nosso café da manhã e também pra entrar na fila da TKTS pra comprar ingressos da Broadway(3). E eu entrei no banho e deixei o telefone no viva-voz, pra ouvir o povo batendo cabeça na conference call, e o Salim botando a culpa no time da Nuvem Mágica pela cagada dele mesmo, e vendo a verdade do que aconteceu se perdendo na confusão. Lá pelo meio-dia meu saco, finalmente, encheu. Peguei o telefone e falei:

"OK gente, eu já mandei pra vocês o usuário e as configurações que eu tenho e vocês confirmaram que está tudo certo. Eu estou em Nova Iorque e tenho aqui comigo uma esposa brava e ingressos para um show da Broadway daqui a uma hora. Não tem nada mais que eu possa fazer do meu lado. Qualquer coisa me liguem."

A parte da "esposa brava" foi só para impacto emocional mesmo, já que Bethania, como sempre, foi super parceira durante todo o ocorrido. Já a parte do show ela fez questão que fosse verdade :), então pegamos o metrô e fomos pra Broadway.

Como bom engenheiro que sou, todos os meus recursos de monitoramento de merda estavam disponíveis também no meu celular, então no intervalo do show abri o link de monitoramento do meu sistema e - surpresa! - tinha um registro enviado com sucesso para a Nuvem Mágica. Alguém finalmente consertou as permissões.

Mandei uma mensagem pro meu gerente de projeto:

"Hey, tou vendo aqui que a Nuvem Mágica voltou a funcionar. Vocês vão rodar os 500 mil registros agora né?"
"Então... agora tem um outro problema em outro sistema, o que lê os registros da Nuvem Mágica, e esse não tem como solucionar agora, então vamos abortar tudo e fazer o processamento só na semana que vem".

A correria na sala de embarque, a noite não dormida e as seis horas de conference call na manhã do Sábado serviram, portanto, para absolutamente nada. Mas o que realmente importa é que eu estava numa das cidades mais incríveis do mundo com a mulher que eu amo, então me desapeguei rapidinho do fiasco da história toda e fui, finalmente, aproveitar meu final de semana. E tomar mais um café, pra conseguir me manter acordado na cidade que nunca dorme...

Epílogo

Alguns dias depois dessa história toda, eis que eu recebo um email da chefe do Salim...

Oi pessoal. Informo que estou nomeando o Salim para o prêmio de performance deste semestre.

Oi?

A sua contribuição para o [nome do meu projeto] foi incrível, onde ele demonstrou sua habilidade e conhecimento da Nuvem Mágica. Ele colaborou com vários times, como o [nome do meu time e o outro time que também não conseguiu usar a Nuvem Mágica] para assegurar a conectividade dos sistemas de ponta a ponta. Ele verdadeiramente merece o prêmio do trimestre.

E então cumpriu-se a profecia que ouvi de um gerente de projetos, dez anos atrás, num projeto de consultoria no interior do Mato Grosso, que disse:

"Quem faz muito, erra muito. Quem faz pouco, erra pouco. Quem erra pouco... é promovido"

UPDATE

Durante uma das inúmeras conferências que fizemos durante o deploy, o gerente de projetos pediu desculpas por tomar o nosso tempo de viagem e perguntou qual o vinho preferido de Bethania. "Ela gosta dos pinots da Califórnia", respondi, achando que ele estava me dando uma sugestão de como eu poderia amenizar o incômodo dela...

Outro dia, cheguei no trabalho e, na minha mesa, havia um belo pinot noir do vale de Sonoma, ingressos de cinema, e um cartão assinado pelo time todo agradecendo a minha dedicação ao longo do final de semana :)

Notas

(1) - Isso me lembrou um outro episódio aqui do banco onde um gerente de projeto queria que eu fizesse uma coisa num sistema. Quando mencionei que não tinha acesso, ele respondeu: "não tem problema, faz com o meu usuário", e me enviou, por email, sem criptografia sem nada, a senha do seu usuário pessoal. Com isso eu conseguiria acessar não apenas o sistema que ele queria, como também todos os sistemas de produção que ele acessa, e ainda todos os seus emails, o seu salário, os seus arquivos da rede, os seus nudes, etc.

(2) - Já é a segunda vez que isso acontece quando voamos para Nova Iorque. Pelo visto o custo de vida por lá anda tão alto que falta dinheiro pra desodorante.

(3) - A Bê, que tem praticamente doutorado em musicais da Broadway, me ensinou que tem dois jeitos de ver shows pagando muito menos do que o preço cheio dos tickets.
O primeiro e mais fácil deles é comprar na TKTS, que fica debaixo daquela arquibancada vermelha na Times Square. Tem também outra TKTS no Financial District, bem no sul de Manhattan. Vale a pena chegar próximo da hora que abre, porque obviamente dá fila. Veja os endereços e horários online. A disponibilidade é limitada, mas você consegue descontos de 20% a 50%.
O segundo jeito é comprando os chamados rush tickets, que são meio que uma "sobra" de ingressos que o teatro não vendeu por algum motivo e que são colocados à venda só no dia do espetáculo a preços muito reduzidos. Mas dá trabalho comprar: você precisa ir à bilheteria do teatro com antecedência, perguntar se eles tem rush tickets e que horas a venda começa, e aí chegar lá no mínimo uma hora antes pra ficar na fila. Não tem como escolher lugar e pode ser que não tenha ingressos suficientes pra quem está na fila, mas se tudo dá certo você compra com tipo 70% de desconto, então vale a pena.

A saga de comprar uma casa no Canadá

2017-10-05 04:45:48 +0000

Em 2017, com empregos fixos e a imigração concluída, eu e Bethania começamos a planejar o nosso novo grande passo canadense - sair do aluguel e conquistar o sonho da casa própria.

Seis anos atrás, quando comprei meu apê em São Paulo, eu comentei do desespero que foi ir juntando o dinheiro pra dar de entrada enquanto eu via os preços crescendo de forma galopante. Tudo que eu não queria era ter que passar de novo pelo mesmo stress - ou seja, foi exatamente o que aconteceu. Até os números foram iguais: os preços na grande Toronto duplicaram nos últimos 3 anos e seguiram batendo recorde atrás de recorde todo mês. Isso puxou os aluguéis, que também começaram a subir, e meu contrato de aluguel tava lá prestes a vencer no fim do ano.

Além disso, tinha também o dilema do que comprar. Em SP a escolha era entre um apartamento pequeno ou um apartamento minúsculo - casas nem entravam na lista por causa do custo/risco/distância. Aqui, felizmente, tínhamos mais escolha:

  • Apê pequeno, colado no metrô, bem próximo da muvuca do centro, meia horinha e você tá no trabalho;
  • Apê grande, mas dependendo de ônibus + metrô, relativamente próximo do centro, uma hora ou mais pra ir/voltar do trabalho.
  • Uma casa, pequena ou grande, mas que se encaixasse no orçamento.

O problema é que, em fevereiro, o preço médio de uma casa em Toronto bateu um milhão de dólares. Assim sendo, quando a gente ia ver uma casa era sempre assim:

  • O anúncio dizia assim: "renovator's paradise!" (paraíso do construtor), então a gente sabia que a casa tava caindo aos pedaços.
  • Às vezes a casa nem tava tão caindo aos pedaços, mas era uma stacked townhouse - uma casa geminada dos dois lados e também por cima ou por baixo. Praticamente um apartamento na horizontal.
  • Quando era apenas uma townhouse (geminada só dos lados), ela era colada numa rodovia barulhenta, ou do lado do trilho do trem, ou longe de todo tipo de transporte público, ou num lugar muito velho/bizarro. Não me esqueço de uma que vi, era até bem perto do metrô, mas a casa devia ter uns 50 anos de idade e ficava numa vila que era idêntica à vila do Chaves...
  • Quando a gente finalmente via uma casa legal ela estava 150 mil dólares acima do nosso orçamento - e normalmente era vendida no dia seguinte.

Os apartamentos todos também estavam bem frustrantes, e depois de ver inúmeros deles e não gostar de nenhum começamos a colocar na mesa uma opção nova: e se fôssemos morar... no subúrbio?

O subúrbio aqui não tem a conotação de periferia. Trata-se daquele subúrbio de filme: são as cidades ao redor de Toronto, sempre pequenas, quase sem prédios, com aquele monte de casas todas iguais, onde só moram famílias com filhos, e os pais passam o final de semana fazendo jardinagem, cortando grama ou serrando madeira na garagem. São lugares tão prosaicos que tem um monte de minisséries sobre como morar no subúrbio é tedioso. No trabalho um monte de gente mora nesses lugares - eles são facilmente identificáveis, porque chegam mais cedo pra trabalhar e são os primeiros a ir embora, normalmente correndo porque "tem que pegar o trem" pra voltar pra casa.

Separamos um dia pra ver uma casa em Ajax, uma das cidades ao leste de Toronto, só pra ter uma ideia de como era. Fomos logo depois do trabalho, na tarde de um belo dia de primavera. Enquanto o corretor não chegava, resolvemos dar uma volta pelo bairro e chegamos a um parque, na beira do lago, com a melhor cenografia suburbana que já vi: crianças correndo pela grama, passeando de bicicleta, mães com seus carrinhos de bebê jogando conversa fora com os vizinhos, enquanto o sol se punha sobre as águas do Lago Ontário. Mas o que mais me marcou foi o enorme silêncio - não tinha buzina, não tinha sirene, não tinha caminhão, tinha apenas o gralhar ocasional de uma gaivota e as risadas das crianças.

Aí fomos ver a casa e aí já era: tinha tanto espaço que a antiga dona tinha um piano de (meia) cauda na sala. Tinha um jardim nos fundos, com plantinhas e espaço pra churrasqueira. No andar de cima tinha quartos grandes, tinha vários banheiros... e todo o enorme espaço do primeiro andar ainda aparecia em dobro, no porão. Ainda não tínhamos a papelada toda do financiamento pra comprar, mas a boa notícia é que, na mesma região, havia muito mais opções boas pra ver dentro do que podíamos pagar.

O subúrbio só não nos ganhou naquela hora logo de cara porque eu ainda tinha uma grande dúvida: será que compensa morar num casão, num bairro sossegado, mas gastar horas pra ir trabalhar todo dia? Pra descobrir, peguei um mapa das linhas dos trens suburbanos e marquei os lugares aonde eu poderia morar mas ainda assim levar menos de uma hora pra chegar na estação central. Esse virou meu novo mapa de procurar imóveis:

Pra completar o teste, marcamos de ver umas casas logo depois do trabalho, pra experimentar na pele como é isso de voltar de trem todo dia. Na linha que corre para leste de Toronto tem muita opção de trem na hora do rush, e os trens expressos ainda economizam uns 10 minutos de viagem. Se a opção suburbana já estava atraente, a nossa primeira viagem de trem fechou a fatura:

  • Não é aquela suvaqueira de metrô: o trem é enorme, então todo mundo vai sentadinho 99% das vezes.
  • O andar de cima dos vagões é a quiet zone, onde, na hora do rush, é proibido conversar ou falar ao telefone. Perfeito pra um cochilo, pra atualizar a leitura ou apenas para gente antisocial como eu.
  • A internet do celular funciona o tempo todo, pois o trem corre na superfície.
  • A viagem é razoavelmente rápida: em 37 minutos estávamos a 35 quilômetros do centro. De carro é impossível percorrer essa distância em menos de uma hora. E muitos dos nossos amigos que moram em Toronto gastam o mesmo tempo ou mais pegando o metrô.
  • Tem um trecho onde o trem corre bem do lado do lago. Com o sol nascendo sobre ele de manhã, a vista é de chorar.

[caption id="attachment_8586" align="aligncenter" width="660"] Foto (c) Paul Bloxham[/caption]

Com o foco no subúrbio e as várias opções disponíveis, não demorou muito pra gente achar uma casa que valesse a pena. A escolhida foi uma de dois andares, com só dez anos de vida, ajeitadinha, geminada mas com um grande atrativo: era uma freehold townhome. Na maioria dos casos as casas geminadas são parte de um condomínio, e você é dono apenas do uso do espaço que sua casa ocupa. Nas freehold townhomes, apesar de dividir paredes com vizinhos, a casa - e seu terreno - são 100% seus e você pode fazer o que bem entender com eles.

Mas se você esteve prestando atenção neste post, vai se lembrar de que os preços de imóveis em Toronto e região estavam galopantes, certo? Pois então: decididos a fazer uma oferta na bendita da casa, acabamos inadvertidamente caindo na chamada bidding war: aquela situação onde várias pessoas fazem ofertas em uma casa e o corretor dá um monte de informações confusas/obscuras de forma a forçar os compradores a aumentarem suas ofertas meio que às cegas. É extremamente bizarro, mas é dentro da lei.

Isso foi, de longe, o dia mais estressante do ano. Aquele corretor gente boa, que estava sempre disponível para marcar visitas nas casas, que respondia emails no domingo às 10 da noite, de repente começa a te falar o contrário do que ele vinha te falando há meses e te estimulando a comprar a casa - porque, afinal, ele é comissionado, e quanto mais vendas ele fechar, melhor. O gênio aqui só foi entender isso no dia da negociação. Foi uma situação tão bosta que quando ele ligou pra gente dizendo que nossa oferta tinha sido aceita, nem deu pra ficar feliz.

Mas, tirando o stress, olha só o que tinha acontecido: dois imigrantes brasileiros, pouco mais de dois anos depois de deixar o país, se tornaram donos de um pedaço de terra no Canadá. No meu caso, essa ficha só caiu meses depois; já tínhamos nos mudado e, um belo dia, Bethania estava plantando roseiras no jardim e eu olhei pra ela da janela da cozinha e me toquei que ela estava plantando rosas em solo canadense - o nosso pedacinho de solo canadense.

É pequeno, mas é do tamanho do mundo pra mim.

Como vocês podem ver, ainda não sabemos cortar grama direito.

A saga do primeiro estágio canadense

2015-09-03 02:29:06 +0000

A principal razão que orientou a minha escolha de faculdade aqui no Canadá não foi qualidade de ensino (que nem tá aquelas coisa toda), e sim a perspectiva de voltar logo pro mercado de trabalho. Foi por isso que escolhi um curso que alternava entre semestres de estudo e do tal "co-op", que é um semestre onde você faz estágio em alguma empresa. A treta é tão séria que a preparação pro co-op é assunto de uma das matérias do curso, com professor e nota e tudo.

Imagina, cara. Eu, já tendo um bacharelado no currículo, anos de experiência de trabalho, e morando num lugar onde tem Google, IBM, Microsoft, Amazon e um monte de empresa massa pra estagiar... eu não via a hora de chegar a hora do co-op.

Acontece que a minha procura por estágio foi mais ou menos assim...

tumblr_nr7uzhXSkQ1s2yegdo1_250Parte 1: De como fui indicado pra uma vaga no Google

 

Logo que começou a procura por trabalho eu não quis nem saber e comecei mirando alto: pesquisei as empresas onde eu queria trabalhar e fui descobrir como estagiar nelas. Naturalmente, a primeira empresa da lista era a primeira de 11 entre 10 engenheiros de software: o Google. Mas eu sabia que simplesmente jogar meu currículo no RH deles não seria suficiente, então tentei apelar para o meu networking e, sem o menor pudor, acionei tudo que era contato do Google que eu tinha no LinkedIn e demais redes sociais.

A chance era mínima, mas deu certo - um antiquíssimo conhecido do Twitter (sempre o Twitter!) encaminhou minha indicação e o RH de lá entrou em contato comigo. Fiquei empolgadíssimo.

A empolgação durou só uns três emails, onde eu e a mocinha do RH tivemos mais ou menos o diálogo a seguir:

- Recebemos o seu currículo, mas as vagas de estágio são para quem está cursando um bacharelado.
- Eu sei - respondi, cordial. O meu curso atual me dá como título um "advanced diploma", mas eu já sou bacharel em Ciência da Computação, então creio que eu mais do que satisfaço as condições para esta vaga.
- Sim, mas as vagas são só para quem está em um curso que concede um bacharelado no fim.
- Entendo - insisti eu. Mas veja bem, eu já tenho o título de bacharel. Na verdade, no final do meu curso eu vou ter mais do que o que você pede pra vaga.

É claro que não deu certo. Mas não desanimei, afinal, na paralela do Google eu estava uma metralhadora de currículos, aplicando pra tudo que era vaga de desenvolvimento de software que eu via pela frente. Era questão de tempo até começarem a aparecer as entrevistas, pensava eu.

Parte 2: O silêncio do inbox

Todo dia, depois da aula, eu chegava em casa, pesquisava as vagas de estágio, separava as que interessavam, editava meu currículo para cada uma delas e escrevia uma carta de apresentação para cada uma delas - e só após passar uma ou duas horas pesquisando sobre a empresa na internet para personalizar a carta e demonstrar o maior interesse possível.

Enquanto isso, meus colegas iam recebendo os convites pra entrevistas. "É questão de tempo, daqui a pouco vão me ligar", pensava eu. Os meus colegas começaram a ser contratados pras vagas onde fizeram entrevistas. Eu continuava mandando currículos, às dezenas, e... nada.

Algo errado com meu currículo, talvez? Não podia ser: ele foi formalmente avaliado pela "professora" do curso de co-op e eu tirei a nota máxima tanto pra ele quanto pra minha carta de apresentação. De fato, ele tava fuderoso: tinha meu GPA(1) altíssimo, tinha meu site, meus projetos pessoais, tinha minha experiência profissional canadense, tava lindão. Ainda assim marquei uma segunda reunião com a professora pra reavaliar o CV e ela continuou falando que tava bom. Os meus colegas contratados também revisaram meu material e também ficaram sem entender por que não me ligavam pra fazer entrevista. "Você é mais bem preparado que eu pra essas vagas", disse um deles.

Um dia, tarde da noite, frustrado, abri meu currículo pela décima nona vez e, no meio da trigésima sétima revisão, me bateu um palpite bem maldoso. Mas achei que valia a tentativa. Decidi tirar duas coisas do CV:

  • O link pro meu site pessoal
  • O local onde fiz faculdade fora do Canadá - ou seja, tirei a palavra "Brasil" do CV.

Subitamente, o telefone começou a tocar e as entrevistas começaram a aparecer. Chegou ao ponto de me ligarem até depois que eu tinha sido contratado. Eu quero muito crer que a culpa era do meu site, e não do meu país de origem, mas acho que jamais saberemos...

Parte 3: As entrevistas

Ah, as entrevistas. Teve de tudo: tive que debugar scripts PHP no "bloco de notas" de um Mac com teclado desconfigurado, tive que escrever função recursiva pra imprimir árvore binária no campo de chat de texto do Skype, tive que programar à lápis em papel... e teve também as cagadas, tipo quando uma das entrevistadoras me perguntou:

- Que sites você lê pra se manter atualizado sobre tecnologia?
- Bem, eu leio bastante coisa. Atualmente eu ando acessando muito o Hacker News...

Mas ao invés de encerrar aí a resposta, eu fui tentar bancar o bonitão:

- ...mas esse é bem comum, todo mundo lê.
- Pelo visto eu não sou "todo mundo" - respondeu a entrevistadora, com uma justificadíssima cara de cu.

Lá pela quarta ou quinta entrevista eu, finalmente, fui pegando o jeito. Mesmo porque o semestre de aulas estava acabando e eu precisava arrumar um estágio. O sarrafo de seleção de vagas já tava lá embaixo: eu tava mandando CV até pras vagas de - gasp! - gerente de projeto. E então, finalmente...

Parte 4: A contratação

No último post eu comentei que tenho um lema de vida de que: "expectativas levam à desapontamentos". Lembra de quando eu comecei a caçar meu co-op, que eu tava pensando em Google e IBM? Acabou que nenhuma empresa quis me contratar.

A única vaga que me ofereceram foi no serviço público, numa divisão do Ministério da Justiça de Ontario. Em circunstâncias normais eu jamais mandaria meu CV prum lugar desses, mas a vaga pedia gente com experiência em desenvolvimento web, então lá fui eu, com a esperança de que pelo menos um Javascriptzinho eu ia fazer.

Como desgraça pouca é bobagem, eu ainda tive a desagradável surpresa de pedir pra minha futura chefe detalhar um pouco mais as responsabilidades da vaga, e eis que me chega uma lista que incluía coisas do tipo:

  • Instalar e configurar as impressoras da equipe
  • Manter o inventário dos equipamentos
  • Realizar manutenção dos cabos e equipamentos de rede, etc

Eu comecei meu semestre falando com o RH do Google e terminei prestes a virar instalador de Windows.

larrymossExpectativa (esq.) vs. realidade (dir.). De fato, meu cabelo tá mais parecido com o do Moss...

Parte 5: o fim?

Talvez vocês tenham a impressão que eu tou mais fudido que a Dilma, que tá tudo dando errado e que tou chorando até dormir todo dia. Mas é exatamente o contrário. Se segura pro momento filosófico do post.

Aquele papo de "expectativa leva ao desapontamento" parece papo de pessimista, mas na verdade tem um viés inacreditavelmente positivo, que é o de tirar a sua cabeça do futuro (ou do passado) e botá-la de volta onde importa, que é o presente. Sonhar em estagiar no Google não adianta nada. Arrumar alguém pra te indicar pro Google é que pode fazer toda a diferença. No meu caso não fez, mas mesmo assim eu colhi vários efeitos colaterais da minha mini-obsessão em descobrir como as empresas contratam desenvolvedores. Descobri que tem um monte de empresa que imita o processo do Google. Descobri até que tem livros especializados em preparação para entrevistas de vagas para programadores. Pro meu próximo semestre de co-op, ao invés de chegar esperançoso, eu vou chegar é muito mais bem preparado.

Outro ponto importante é que, depois de levar muita porrada da vida, a gente aprende que sofrimento e infelicidade são duas coisas completamente diferentes. Eu já comentei aqui da Marina Abramovic, que diz que "você não cresce quando está fazendo o que gosta". Quando fiz todo esse meu movimento de largar tudo e vir pro Canadá recomeçar uma carreira inteira eu não tinha expectativa de que seria fácil. E eu não alimento ilusões de que vai dar certo, por mais que eu trabalhe duro sempre tem um elemento fora do seu controle(2) e não tem nada que você possa fazer se a vida escolher não sorrir pra você. E no fim dela, ainda por cima, você vai estar morto. Então a única alternativa é extrair satisfação do seu próprio esforço, dar o seu melhor todo santo dia, e o que vier daí é isso mesmo, bom ou ruim.

Mesmo porque de vez em quando vem coisa boa. Por exemplo: esta semana eu comecei o meu bendito estágio de servidor público e - surpresa! - eu tou autorizado pela minha chefe a recusar demandas de TI, porque eles contrataram um help desk terceirizado justamente pra isso e querem usar meu tempo pra projetos mais interessantes. Mas, como de costume, não vou criar muita expectativa :)

Posfácio: Deus abençoe a Rainha

Como governo é igual em todo lugar do mundo, hoje é quarta e ainda não terminaram toda a papelada da minha contratação. No entanto já passei por uma etapa bastante importante: diante do meu gestor e de duas testemunhas, eu, solenemente, proferi o seguinte juramento de lealdade:

Eu juro que serei fiel e portarei lealdade verdadeira à Sua Majestade Elizabeth II, Rainha do Canadá, e seus herdeiros e sucessores. Com a graça de Deus.

Sem brincadeira. Isso foi, sem dúvida, a coisa mais fantástica de toda a minha carreira profissional.

--

(1) GPA significa Grade Point Average - a média das suas notas. A minha é altíssima: 4.3, de um máximo de 4.5. Se eu me formar com essa média eu me formo com "high honors", inclusive.

(2) Essa semana mesmo, para a mais profunda ironia do destino, deu na imprensa que o Canadá entrou em recessão. Saí da frigideira pra cair na fogueira :)

A saga do demo

2015-06-19 04:15:44 +0000

Antes de sair falando da saga (que, obviamente, é de trabalho) eu preciso contar que, sim, além de estudando eu já tou trabalhando. Mas vamos começar do começo...

Parte 1: Meu primeiro emprego canadense (ou: o menor networking do mundo)

Apesar do meu visto de estudante, o governo permite que eu seja contratado por meio período, e naturalmente eu não ia ficar sossegado só assistindo aula - especialmente com o dólar do jeito que tá. Então, logo que meu semestre começou, comecei eu a procurar um emprego part-time.

Graças ao Twitter (sempre ele!) eu vi que a própria faculdade tinha uma vaga para desenvolvedor web. Mandei meu currículo e me chamaram pra uma entrevista. Como era a minha primeira candidatura a trabalho e ela já tinha dado em entrevista o gênio aqui se empolgou e achou que ia ser moleza conseguir o trabalho, já que no Brasil eu passei numas três entrevistas seguidas antes de me mudar pra cá.

É óbvio que não deu certo. Eu estava craque em entrevistas, é verdade, mas em entrevistas na cultura brasileira e para vagas que não eram técnicas. Aí me botaram numa sala com um cara de nome (e sotaque) russo e o maior semblante anal que já vi. Eu não me abalei e comecei a falar dos meus projetos e de como eu aprendo rápido e de como eu resolvo pepinos com clientes difíceis, até que o Serguei me pergunta, sem a menor cerimônia:

- Mas você sabe pra que serve a tecnologia que estamos usando neste projeto?

No dia seguinte chegou o emailzinho dizendo que eu não tinha passado.

Mas acontece que na minha sala tem outro brasileiro. Gente finíssima, paulistano, super tímido, com o inglês ainda bastante travado, mas genial em termos de código. A entrevista dele, pra mesma vaga, foi logo depois da minha. Coincidentemente, na mesma hora que recebi o e-mail da recusa do emprego, ele recebeu o de aprovação. Achei merecidíssimo, baixei minha bolinha e concluí que estou começando mesmo tudo de novo, do zero. Meu inglês fluente, meu PMP, minhas décadas de experiência profissional valem aproximadamente jack shit.

Algumas semanas depois e eis que no apito do WhatsApp chega uma mensagem do meu amigo brasileiro, dizendo que um dos outros estudantes do projeto pediu demissão e ele me indicou pra vaga. Como no curso a gente fez vários trabalhos em grupo ele viu que, de fato, eu mando bem. E pelo que ele sondou, aparentemente eu causei uma boa impressão durante a entrevista, mas o Serguei não acreditou que eu era bom pra programar e por isso não me escolheu pra vaga.

E foi assim que o meu networking canadense, composto por apenas UMA pessoa, me deu meu primeiro emprego. Nunca fiquei tão feliz por ganhar um salário mínimo.

Parte 2: de como os deuses do PMI estão me punindo

Cheguei empolgadíssimo pra minha primeira reunião de trabalho, segunda-feira, de manhã, tudo certinho conforme o clichê. Pelo que entendi do email do Serguei(1), a reunião era pra eu conhecer o resto do time de projeto e me ambientar com o trabalho. Resumidamente, o projeto é um site pra área de saúde, envolvendo hospitais, médicos e pacientes numa plataforma online para atendimentos virtuais.

Mas eu só sei disso por conta própria, porque ninguém me contou. Não é atoa que eu digo que "expectativas conduzem a desapontamentos". Pra vocês entenderem, a reunião foi mais ou menos assim:

  • Serguei me introduziu ao projeto com uma explicação resumida sobre o escopo do trabalho, o cliente, o que deveríamos fazer e como o projeto estava estruturado. Esta explicação resumida foi composta por apenas uma palavra: "welcome". Eu JURO pra vocês que isso foi tudo que ele me disse.
  • Depois desta calorosa introdução, o time entrou diretamente numa discussão das próximas funcionalidades que deveríamos entregar. A primeira surpresa já veio logo daí: nenhum sinal das avançadas tecnologias que discutimos na entrevista e que o Serguei esfregou na minha cara; agora o trabalho envolvia o Drupal, um antiquado - e extremamente complexo - sistema de gestão de conteúdo. Pra vocês entenderem do que se trata, quando contei que estava trabalhando com Drupal, uma das minhas antigas gerentes de projeto do Brasil respondeu, em seu inigualável sotaque recifense:

Mai tu gosta é de sofrer, num é mestre?

Como diria um outro colega nordestino, Drupal é bom, mas morrer queimado é muito melhor.

E a gente precisa desenvolver em cima dum site que já existe. E que não tem documentação. E que não tem servidor de teste (a gente usa as nossas próprias máquinas e um repositório gratuito do Bitbucket). E também não tem documentação do que o cliente quer: o que a gente recebe são e-mails de uma linha e layouts em JPG. Uma vez eu tentei discutir as funcionalidades nas reuniões com o cliente pra entendê-las melhor, e o pessoal começou a mudar os layouts durante a reunião, então achei melhor desistir.

Mas o pior não é isso. O pior é que o projeto não tem líder. O Serguei basicamente encaminha os emails do cliente pra gente e fala: "faz aí". Aí a gente levanta os riscos técnicos, questiona sobre escalabilidade, fala que pra fazer isso no Drupal tem que ser meio que na gambiarra, e ele fala pra "não preocupar com isso". É tipo o cliente querendo uma mansão e ele falando pra gente botar uma lona no teto em vez de fazer um telhado. Outro dia eu descobri, por acidente, que tem uma segunda equipe de programadores fazendo uma outra versão do site, para celulares/tablets. Eu não tenho a menor ideia de quando o projeto vai pro ar. Na verdade eu não tenho a menor ideia se o projeto está ou não no ar.

Isso possivelmente são os deuses do PMI me punindo por aquele post de 2011, porque agora o que eu mais queria é um bom gerente de projeto me socorrendo e apontando pra onde esse projeto tá indo(2). Durante o trabalho eu até tive contato com um cara que é "assistente de projetos" - pelo menos é o que diz a assinatura do email dele, porque a gente nunca foi formalmente apresentado e ninguém me explicou o que ele faz no projeto, apesar de ele estar em todas as reuniões. Ele é bem sorridente, esse cara. Acho importante isso.

Além dos sorrisos, em toda reunião ele me pergunta como anda a papelada da minha contratação e diz que logo logo tudo vai estar resolvido. Porque, acredite ou não, tem mais de um mês que estou trabalhando e ainda não recebi meu primeiro salário ;)

Parte 3: O dia da demo (ou: parabéns, você ganhou uma camiseta)

Eu escrevi essa papagaiada toda aí em cima só pra contextualizar o que eu queria realmente contar, que é o seguinte.

Eis que numa das reuniões com o cliente ele menciona que vai rolar um evento de inovações na área de tecnologia para medicina. Uma feira, onde ele vai ter um stand pra divulgar o site. Naturalmente, nas reuniões de projeto, o pessoal começou a discutir que funcionalidades precisariam estar prontas para que fosse possível fazer uma demo do site nessa feira. Como a treta era séria, eu mesmo fiz questão de pular em frente ao flip chart durante as reuniões e escrever, certinho, o que iríamos demonstrar na tal demo. Eu também provoquei uma reunião entre o nosso time o time da versão mobile do site pra evitar sobreposições de trabalho. Como era de se esperar, Serguei respondia todas as minhas perguntas sobre a demo com algo parecido como "a gente dá um jeito", então optei por me preocupar em resolver os problemas do Drupal e deixar ele se estapear pra lá com o cliente.

A feira estava programada pra acontecer em Richmond Hill - o equivalente a Barueri (para os Paulistanos), ou Nova Lima (para os belorizontinos), e obviamente ela era bem no dia em que eu tenho aula o dia todo, e obviamente ela era bem no meio da semana das midterms (as provas cabeludas do meio do semestre(3)). Como o Serguei não disse que a gente "precisava" ir à feira, eu desencanei. Aí, faltando uma semana para o dia D, eis que o Serguei começa a mandar emails pedindo confirmação se a gente ia ou não, e então eu subentendi que ele estava subentendendo que a gente é que iria demonstrar o sistema na feira.

Até aí tá fácil. O que deixou a coisa realmente emocionante foi o seguinte:

  • No domingo anterior à semana da feira, eis que chega um emailzinho com uma nova home page pra gente enfiar no site...
  • Paralelamente a tudo isso, meu colega brasileiro, também insatisfeito com o Drupal, resolveu levantar a bola de que ele não é a melhor ferramenta pra gente usar no site. Como alternativa, ele propôs redesenvolver tudo num framework mais moderno, que ele andava estudando. Pra provar que era possível, o maluco refez o site inteiro em três dias usando o framework novo. Até aí tudo bem - eu mesmo adoraria jogar fora o Drupal e usar um framework apropriado - mas acontece que no processo de convencer a turma a sair do Drupal ele fez um videozinho mostrando como tudo tava funcionando no framework novo e mandou pro Serguei... que encaminhou o vídeo pro cliente dizendo "ei, veja tudo isso que já tá pronto!".

Resultado: às vésperas da demo eu tinha que lidar com a nova home page no Drupal sozinho, porque meu colega estava ocupado com a nova paixão do cliente: o bendito vídeo. Os pedidos de ajuste no vídeo vinham do cliente e o Serguei nos mandava emails pedindo a "nova versão"do vídeo - sem falar o que o cliente tinha pedido. Típico do Serguei. Às vésperas da demo eu e meu colega brasileiro, ao invés de programar ou testar, estávamos gravando simulações de atendimento online onde ele, usando um jaleco emprestado do laboratório, simulava que era um médico enquanto eu fingia ser um paciente. Ou seja, estávamos, literalmente, brincando de médico.

E então chegou o dia da feira. Os últimos ajustes do site foram salvos por mim às seis e vinte da manhã, enquanto eu comia meu cereal matinal às pressas, depois de dormir por umas três ou quatro horas. Na véspera eu, além de estudar pras provas, separei minha melhor roupitcha social pra ir lá pra feira esbanjar simpatia pros clientes do meu cliente. Eu queria que tudo estivesse perfeito. Eu ainda não recebi sequer o meu primeiro salário.

Aí a gente chega na feira e... bem, digamos que foi então que eu decidi escrever este post, porque a sequência de caos foi inacreditável.

Logo que chegamos na feira fomos direto ao stand do cliente. Eu já ia tirando o laptop da mochila quando ele me cumprimentou e disse:

- Gente, muito obrigado pelo vídeo. Eu vou deixar ele rolando neste monitor aqui, vocês podem aproveitar a feira. Divirtam-se!

...e então eu entendi que ele não queria que a gente fizesse demo nenhuma, e que ele decidiu usar o vídeo (que era só uma prova de conceito de uma nova tecnologia) pra demonstrar o site.

Algum tempo depois chegou um dos caras do outro time (o do site mobile). Pela mobilização do Serguei, parecia que todo mundo de todos os times (umas nove pessoas) ia pra feira. Só chegou eu, meu colega e esse cara. Quando eu contei que não teria demo nenhuma ele não acreditou, e teve que ir falar com o cliente pra confirmar. E quando ele sacou que não tinha absolutamente NADA pra gente fazer na bendita feira, ele naturalmente saiu à francesa.

Instantes depois, chega Serguei, atrasado e fedendo a cigarros. "Desci no ponto de ônibus errado", diz ele. Logo depois surge a chefe do Serguei - uma senhorinha de ar absorto, que eu nunca havia conhecido pessoalmente até aquele instante - e pergunta pro Serguei:

- Ué, cadê sua gravata?

Lembra que eu separei minhas melhores roupas sociais pra feira? Serguei estava vestido de calça jeans, tênis e uma daquelas camisetas com coisas escritas em inglês que vendem na seção de roupas do Extra Hipermercados.

Serguei pediu licença pra ir falar com o cliente e a chefe dele vira pra mim e pro meu colega brasileiro e fala: "vocês já ganharam as camisetas?"

Enquanto olhávamos um pro outro, perplexos, ela tira da bolsa duas camisetas da faculdade e entrega pra gente, àquela altura bem mais perplexos.

Algum tempo depois chega um email do Serguei, dizendo que teve que sair às pressas porque um servidor de um outro projeto tinha caído. Na sequência, chega um email da chefe do Serguei dizendo pra gente: "imagino que vocês vão ficar até o final do evento". Mas é claro! Especialmente depois de ganharmos uma incrível camiseta.

Fomos embora pouco antes do almoço, depois de ver umas palestras esquisitas(4). Na saída, a surpresa final: encontrei, sozinho, perdido na plateia, o "assistente de projetos" do projeto. De sapatos, calça social... e com a camiseta da faculdade por cima da camisa.

(1) Cara, eu realmente estava com saudade de usar pseudônimos.
(2) Aí você pergunta: "mas você é gerente de projetos! Por que não assume isso?". E eu respondo que, honestamente, eu estou me segurando pra não pular na frente da porra toda e começar a organizar o projeto. Mas se eu fizer isso (porque eu posso) eu vou deixar de fazer o que eu quero. E eu atravessei o mundo pra perseguir o que eu quero, e não o que eu posso.
(3) Eu não contei, mas fazer faculdade no Canadá é muito mais puxado que no Brasil.
(4) Embora esquisitas e meio verborrágicas demais (muito papo, pouco resultado), todas as palestras do evento foram incrivelmente pontuais. Eu fiquei fascinado: na palestra das nove da manhã o palestrante dizia "good morning", exatamente às nove, nem um minuto a mais. E na hora do "thank you" final, o relógio marcava exatamente o horário de término.

A saga bancária Brasil-Canadá

2014-12-22 04:18:14 +0000

Eu sei que é meio babaca essa negócio de se mudar e ficar comparando Brasil com outros países, mas permitam-me contar pra vocês uma pequena historinha.

Tudo começa em outubro de 2014, quando chegou a hora de pagar o primeiro semestre dos estudos na faculdade canadense. Como de costume, tentei fazer a operação pela internet, mas não consegui porque meu banco, por segurança, tem um limite bem baixo de valor para movimentações financeiras. "Hmm, que bom que descobri esse problema - isso vai complicar as transferências do meu dinheiro do Brasil pro Canadá", pensei. Aí tive que ir à agência e fazer a transferência em pessoa e, pra prevenir problemas futuros, tentei entrar em contato com o meu gerente. Achei que ia ser fácil, pois pelo volume de dinheiro que guardei eu estava enquadrado naquela categoria premium de cliente bancário.

Foi aí que meus problemas começaram.

Demorei DIAS para conseguir FALAR com o meu gerente. Quando finalmente consegui, pra não passar o mesmo aperto, pedi a ele que já deixasse cadastrada a conta corrente de uma casa de câmbio para contornar essa questão do limite e eu pudesse transferir valores maiores sem precisar falar com ele. Ele disse que tinha cadastrado tudo e que eu podia ficar tranquilo.

Aí chega novembro e olha eu, todo pimpão, chegando no Canadá. Naturalmente, precisei fazer outra remessa de dinheiro pra cá e qual não foi a minha surpresa ao descobrir que a conta da casa de câmbio não tinha sido cadastrada e eu continuava travado pelos limites de transferência que eu tinha pedido meu gerente pra aumentar. Ou seja: eu simplesmente não conseguia trazer pra cá nenhuma parte do dinheiro que eu passei anos juntando para a viagem.

Começou, então, a segunda novela de conseguir falar com meu gerente - dessa vez com o agravante de que eu tinha que apelar para telefonemas via Skype feitos em wi-fi emprestada dos Starbucks da vida, que eu tinha que achar saindo de casa e encarando a neve, o vento e a friaca próxima de zero graus. Passei quase uma tarde inteira tentando contato com o filho da mãe até que consegui conversar com o assistente dele, que me confirmou que de fato não tinha rolado nenhum aumento de limite de transferência e que ele não poderia fazer muita coisa porque meu gerente estava fora da agência num treinamento.

Depois de reclamar no SAC, depois na Ouvidoria do Banco, e só depois de ameaçar ir reclamar na Febraban é que, após MESES de briga com o banco, consegui que aumentassem meus limites de transferência. Ironicamente eu tive problemas até pra reclamar na ouvidoria, porque só existe um link para acesso a ela e esse link fica escondido na versão beta da nova interface do internet banking - que foi feita usando como referência o Orkut (não, eu NÃO ESTOU BRINCANDO).

--

Agora eu gostaria de contar um pouco sobre as minhas experiências bancárias aqui no Canadá.

Logo que chegamos fui ao banco para abrir uma conta corrente. No sábado (sim, os bancos aqui abrem no sábado) visitei uma agência e, usando como documento apenas o meu passaporte, me deram uma conta corrente, uma conta poupança, uma conta específica para dólares americanos e isenção de tarifa por seis meses. O processo todo levou menos de uma hora.

Mas o melhor foi o problema que tive esse final de semana: fui comprar um colchão para a casa nova e, como a compra tinha um valor maior que o usual, o meu cartão do banco daqui deu erro de "limite de compras excedido" - problema bastante parecido com o que tive com a conta brasileira.

Eu já estava prevendo o pior quando o próprio vendedor da loja de colchões falou: "liga lá pro seu banco que eles resolvem isso". Olhei o número do 0800 atrás do meu cartão e, meu amigo, minha amiga... NADA poderia me preparar para o que aconteceu:

  • O tempo de espera até eu ser atendido foi de ZERO segundos.
  • Após explicar a situação, a atendente confirmou a minha identidade da forma mais simples e intuitiva possível: perguntou o nome da pessoa com quem eu tinha conta conjunta (Bethania) e pediu pra eu contar alguma transação recente que eu tivesse feito com o cartão - valia até mesmo o café que eu havia tomado no Tim Hortons algumas horas atrás.
  • Depois, mudou o meu limite de compras INSTANTANEAMENTE - e ainda aguardou na linha enquanto eu passava o cartão novamente pra comprar o colchão.
  • Sem que eu pedisse, ela se ofereceu pra fazer o cadastro de uma segunda senha pro SAC via telefone - pra facilitar na hora de confirmar minha identidade e agilizar os próximos atendimentos (que, veja você, tinha levado até aquele momento MENOS DE TRÊS MINUTOS).
  • Não satisfeita em resolver meu problema, ainda aproveitou pra me orientar melhor sobre o uso da minha conta poupança, dando macetes (que ela mesma, como pessoa física, usava) de como usá-la para construir um bom score de crédito com o Banco.
  • No fim, ainda me parabenizou pela compra do colchão e desejou boa sorte na montagem da nova casa aqui no Canadá.

Desliguei o telefone e chegou a escorrer uma lagriminha de emoção.

If I could settle down / then I would settle down

2011-09-16 02:38:05 +0000

Há quatro anos, quando me mudei para São Paulo, comentei que desde 2003 todo ano teve um mega-acontecimento significativo, que provocou mudanças drásticas na minha vida:

2003: Larguei minha carreira em TI

2004: Comecei oficialmente uma nova carreira de consultoria

2005: Morei no Canadá

2006: Me casei

2007: Me mudei para São Paulo

2008: Virei consultor-sênior e me certifiquei como PMP

2009: Fui retirado de um projeto. Pode não parecer, mas isso foi muito significativo e provocou mudanças boas.

2010: Larguei a consultoria e fui trabalhar numa agência de publicidade

...e agora veio a mudança drástica de 2011: eu vou, finalmente, comprar um apartamento em São Paulo.

Já faz um tempo que estávamos pensando nisso. Eu já não sou mais aquele jovem de vinte-e-tantos anos e, conforme vem a idade, chega o momento de começar a estabilizar a vida, formar um patrimônio, pensar no futuro, essas coisas que dizem nas propagandas de previdência privada ou seguro de vida.

Ter meu próprio imóvel na cidade também significa que eu estou colocando um "anel de compromisso" em São Paulo - significa que não estamos mais apenas flertando com a cidade pra ver no que dá. A partir de agora é nóis na vida loka, mano.

O processo todo para achar o apartamento, como tudo na minha vida, foi bem simples:

  • Primeiro eu fui juntando dinheiro pra poder dar de entrada.
  • Enquanto isso veio o boom imobiliário e os preços tipo duplicaram num espaço de três anos.
  • Junto com os preços para compra, subiram também os aluguéis - e meu contrato de aluguel começou a ficar perigosamente próximo de vencer.
  • Trabalhar 12 horas por dia na agência não me deixa exatamente com tempo livre para ficar procurando imóveis. A solução foi usar uns 40 minutos que me sobravam de manhã cedo pra escarafunchar apartamentos na internet, e usar os finais de semana pra ir visitar os bons.
  • Durante estas visitas a gente via que 90% dos "bons da internet" eram um lixo na vida real: eram perto de favelas, eram longe de tudo, eram colados em avenidas barulhentas, eram debaixo da rota dos aviões de Congonhas, enormes mas velhos, novinhos mas minúsculos, etc, etc. Então todo final de semana terminava comigo frustrado e vendo os preços subindo 2% ao mês.
  • Repita os últimos 2 passos por SETE MESES.
Até que, no último sete de setembro, enquanto todo mundo curtia seu feriadão, lá fomos eu e Bethania ver mais apartamentos - e vimos um com preço muito baixo (porque precisava de umas reformas), não muito pequeno e - o mais importante - extremamente bem localizado na Chácara Santo Antônio, a 2km do trabalho de Bethania e com uma estação de trem pertinho, pra eu ir trabalhar. Fizemos uma proposta, a proprietária topou e a saga, finalmente, acabou...
Agora é encarar as próximas sagas que vem por aí: a mudança maluca, as reformas recalcitrantes e o financiamento feroz...

O dia da alpaca

2011-01-25 02:10:13 +0000

Sexta-feira, 7:00 - Minha programação era dormir até 8:30 e chegar no trabalho lá pelas 10, porque durante toda a semana eu chegava cedo, almoçava em frente ao computador e saía da agência lá pras 21, 22h. Mas, naturalmente, perdi o sono.

9:00 - No meu email tinha:

- Duas pessoas brigando por causa de um atraso num job;

- Um email do meu líder de Recife avisando que tava tudo alagado e que talvez o pessoal da equipe de lá não conseguisse sequer chegar no trabalho (o job atrasado do item acima tá todo lá)

Aí uma das meninas de Recife manda no Twitter o GIF animado abaixo:

alpaca

Já sacando que ia ser um dia daqueles, peguei a alpaca e botei no cantinho do meu segundo monitor - como uma espécie de amuleto, pra eu olhar de vez em quando e dar uma risadinha.

9:40 - Me sento no computador e penso: "Pronto, agora vou conseguir finalizar aquela descrição de processo que estou tentando fechar há SEMANAS". E então me pegam pra uma reunião. E depois outra. E depois outra. E ainda me avisam que o bicho está pegando no email e que eu devia dar uma olhada, mas cadê tempo.

12:30 - Implorei a uns amigos que me levassem pra almoçar. Eu não aguentava mais comida da lanchonete em frente ao monitor. Aí fomos no São Bento, na Vila Madalena.

13:30 - Todos terminam de almoçar e... começa a chover.

13:40 - Começa a chover MUITO. Os garçons tentam fechar as portas às pressas porque o vento está molhando todo mundo nas mesas próximas (ou seja, a nossa). Aí a gente migra às pressas pra uma mesa mais pra dentro. Assim que eu me sento, começa uma goteira bem em cima de mim.

14:10 - A chuva finalmente para e todos começam a pagar a conta. Mas as maquininhas de cartão estão todas fora do ar.

14:45 - Eu finalmente chego na agência e penso: "Beleza, tenho quinze minutos antes da entrevista praquela minha vaga de GP que eu marquei às 3, vou poder pelo menos ver o que diabos tá pegando fogo no email". Mas o cara já está lá. Nem consigo escovar os dentes e vou direto pra entrevista.

Sabe, essa história de contratar gente vai ter que virar um post individual. Porque contratar gente é um troço SURREAL. Então foi com bastante alívio que a entrevista com o cara começou a ir bastante bem e eu fui ficando animado porque comecei a pensar que, finalmente, após noites e noites lendo dezenas de currículos, eu ia conseguir preencher uma das minhas vagas.

No fim o cara pergunta: "Eu tenho só uma dúvida. Obviamente, eu fui te stalkear no Twitter pra me preparar pra entrevista, e fiquei com uma dúvida se te mandava minha pretensão salarial ou não, porque no anúncio pedia pra mandar, mas você escreveu o contrário no seu Twitter"...

P.s.: Se você está me stalkeando aqui no blog pras entrevistas desta semana, parabéns! Isso demonstra proatividade, engenhosidade e curiosidade, três coisas que eu valorizo. Conte que leu isso na entrevista, vai contar pontos a seu favor.

15:40 - Eu volto pra sala pensando "pronto, AGORA vou conseguir pelo menos ver meu email". Só que não tem luz na agência porque a chuva fez a energia acabar.

Algum tempo depois os geradores foram ligados e tudo (menos o ar condicionado) voltou a funcionar.

16:40 - Mais uma reunião, sob um job monstruoso que estava chegando. O problema é que a reunião começou a desandar e a veemência virou insistência, que virou apelação, que por sua vez virou bate-boca. E lá estava eu, no finzinho da sexta, num calor insuportável, todo mundo suando naquela sala sem ar condicionado, e aos berros numa reunião de um job que sequer havia começado.

O pior é que eu entendo o porquê dessas coisas. É muito trabalho, pouco prazo e stress em níveis absurdos. Claro que isso não justifica apelação, apenas a explica. Mas o que era mesmo inexplicável na situação era um colega, que estava sentado perto de onde a gente estava, e que estava dando risada do quebra-pau todo. E enquanto gritavam comigo na reunião, eu tive um insight de por que diabos o cara tava daquele jeito (já já explico).

Quando eu já estava bastante confuso com o bate-boca, vi meu chefe aparecer e logo dar cabo de toda a reunião. E quando eu achei que o caos tinha acabado, eis que ele me leva pra um canto da sala e começa, ele também, a soltar os cachorros por conta de outro assunto. Tipo, tava todo mundo desabafando comigo. E quando eu não estava entendendo mais absolutamente nada, chega uma das minhas gerentes de projeto e - adivinha! - começa ela também a soltar os cachorros por conta de outro job.

18:50 - Sentindo um misto de esgotamento com confusão mental com desespero, me sentei no computador. E dei de cara com a alpaca. A alpaca que eu tinha deixado no cantinho do monitor. Tinha me esquecido completamente dela...

De repente tudo passou e eu fiquei uns bons minutos olhando pra alpaca e rindo sozinho.

19:15 - Lembram do colega que tava dando risada do caos da reunião? Dei de cara com ele, folheando uma revista no meio do corredor, alheio a tudo e todos.

Aí eu não resisti e joguei um verde pra ver se meu insight estava correto...

- Cara, me conta qual é esse remedinho que cê anda tomando pra passar por dias caóticos como esse e ficar aí numa boa.

O cara fez uma cara de "como diabos ele descobriu" e, como não fazia mais sentido mentir daquele ponto em diante, confirmou exatamente o que eu suspeitava:

- Errr... haxixe?

22:10 - Todo mundo já tinha ido embora. Só restava eu, uma das atendimentos e o big boss. Tudo que eu queria era sair de lá, tomar uma cerveja e capotar na cama.

Mas não podia. Alguns minutos depois, desci, peguei o carro (com Bethania e mais duas amigas) e me enfiei na Fernão Dias. Mesmo morto de cansaço, dirigi por quatro horas e, 300 kms depois, lá estava eu...

...em Alfenas, no sul de Minas Gerais.

Era o sítio de uma das meninas. Elas iam ficar quatro dias (já que terça é feriado em SP). Já eu tive que voltar no domingo mesmo, porque a agência não emendou. Mas foram dois dias excelentes. Dias de ouvir o silêncio - que levei décadas para aprender a apreciar adequadamente. Dias de ficar horas tomando café-da-manhã e proseando como só bons mineiros sabem prosear. Dias de ver vaca pastando. De ficar com a pele vermelha na beirada da piscina. De comer feito rei (porque, diacho, como cozinham bem aquelas meninas!). De dar um merecido descanso pro corpo e pra cabeça.

Dias de descansar pra poder voltar e estressar tudo de novo...

Brasília: Como não amar esta cidade?

2010-03-30 04:05:58 +0000

A segunda-feira acabou às 18:35. Eu e mais dois colegas estávamos dentro do táxi, prestes a voltar pro hotel. Como um deles quis fazer uma parada na comercial da 203 pra comprar umas frutas, o táxi desviou pra L1, na parte de dentro das quadras - que é a parte mais engarrafada de todo o trânsito local. Mas tudo bem, a frutaria fica a apenas duas quadras de distância, a 1,5km de onde estávamos, então não tinha como demorar. Mesmo porque Brasília é uma cidade planejada, e o trânsito foi especialmente desenhado para evitar semáforos e cruzamentos.

UMA HORA DEPOIS, chegamos na comercial. Fica até fácil fazer as contas e determinar nossa velocidade média: 1,5 quilômetros por hora. Se fôssemos a pé chegaríamos TRÊS VEZES mais rápido. Na verdade daria pra ir a pé fazendo paradas a cada cinco metros para fazer um moonwalk, dar uma pirueta, gritar WOOOOO! e continuar andando.

Depois de comprar as frutas, quando estávamos de saída tentando descobrir como diabos faríamos para conseguir voltar pro hotel, meu telefone toca. É o André, velho amigo e também hóspede, dizendo que acabou a luz no Setor Hoteleiro Norte todinho.

Nota: É a segunda vez em menos de duas semanas que temos três ou quatro horas de blecaute na região do hotel. A foto abaixa mostra o Eixo Monumental no dia do primeiro blecaute. Tive que subir seis andares de escada e tomar banho à luz dos faróis de carro...

Então começou o plano "B": ir jantar em algum lugar pra esperar o trânsito melhorar e a luz do hotel voltar. O consenso foi para comermos uma boa carne, então, como estávamos parcialmente abençoados pelos deuses do reembolso de despesas, sugeriu-se o ótimo Corrientes 348, lááá na outra ponta da asa sul.

E que estava fechado.

O plano "C" era o BSB Grill, que não era muito longe. E que também estava fechado. Talvez o comércio esteja adotando uma escala de trabalho parecida com a do Congresso, sei lá.

Então tínhamos que arrumar um plano "D", e alguém sugeriu o Fogo de Chão - este, já muito acima das nossas capacidades de reembolso e perigosamente próximo da região afetada pelo blecaute. Uma rápida pesquisa no Google e liguei pra lá:

- Restaurante Fogo de Chão, boa noite.
- Boa noite. Vocês tem... er... energia elétrica?

Já eram quase 20h quando entramos na churrascaria. O jantar foi sem pressa, já que da janela dava pra ver o setor hoteleiro todo apagado. Só lá pelas 22h a luz voltou e, finalmente, voltamos ao hotel. E aqui cabe um pequeno interlúdio hoteleiro:

Antes a equipe toda ficava hospedada no hotel Sonesta, que é tão ruim que foi extensivamente "avaliado" neste meu post. Depois de MESES de reclamações e nenhuma solução, nossa empresa finalmente cedeu à pressão e mudou todo mundo pro Nobile Suites - recém-inaugurado, situado logo em frente ao Sonesta. Aí você pensa: "Que bom, pelo menos com hotel você não está sofrendo mais!". Bem, parafraseando um dos meus colegas da saga desta noite, o Nobile Suites tem que melhorar muito pra ficar ruim igual o Sonesta. Ele é limpo, tem água quente e internet boa, mas o serviço é TÃO RUIM que na semana passada a gerente deixou, no quarto de todo mundo da equipe, um pratinho de frutas e uma carta com um pedido de desculpas:

Temos ciência de que falhamos nos serviços oferecidos nas semanas anteriores, e estamos fortemente empenhados a mudar a imagem que a equipe da sua empresa tem de nosso hotel. (...)

Sim, claro. Depois de esperar MEIA HORA pra fazer checkin, entrei no quarto e dei de cara com essa PILHA de "empenho" aí da foto em cima da cama.

Ah, Brasília. Como não amar essa cidade?

O Primo’s Data Transformation Saga

2010-01-23 18:19:25 +0000

network Era dezembro do ano passado e, enquanto todos achavam que a década estava acabando, eu me perguntava como iria fazer para ganhar dinheiro em janeiro, já que recebo por dia trabalhado e meu cliente brasiliense e governamental iria, obviamente, trabalhar a 10% de sua capacidade entre o Natal e o carnaval – o que significava “férias forçadas” pra mim.

Daí me toca o telefone. Era o consultor-líder de outro projeto, perguntando se eu podia ajudá-lo, em janeiro, a desdobrar umas metas de venda para o departamento comercial de uma empresa. Era uma semana de trabalho - mas trabalho chato, de micreiro. Só que iam me pagar como consultor-sênior e o trabalho era a exatamente dois quilômetros da minha casa, em São Paulo.

Então lá fui eu topar tudo por dinheiro no palco.

Acontece que esse negócio de “desdobrar meta” não é nada simples: é pegar uma meta de alguns BILHÕES de reais e dividí-la para cada um dos SESSENTA MIL clientes, o que obviamente envolve muitos dados. Tradicionalmente, meus colegas consultores - que raramente são profissionais de TI - sempre deram um jeito de fazer o trabalho com a única ferramenta que conhecem: “programando” com fórmulas de duas, três linhas de comprimento em planilhas de Excel enormes, facilmente propensas a erro e cuja manutenção é um pandemônio. E normalmente eles não conseguem porque esbarram nas limitações “físicas” das planilhas do Excel, que “só” aguentam um milhão e quarenta e oito mil linhas.

Aí você pensa: “Isso é muita gambiarra, é praticamente um data warehouse feito em Excel, vocês deviam arrumar alguém de TI pra construir um sistema pra isso”. Mas meus colegas consultores, ao invés de pensar nisso, dizem: “Não cabe no Excel? Então vamos fazer no Access, que aguenta mais linhas!”. E ao invés de abandonar a gambiarra eles vão para um software aonde cabem ainda mais gambiarras.

AccessError

O Microsoft Access é um enigma pra mim. Ele é marqueteado como um banco de dados para aplicações simples, como um sisteminha de vendas e estoque pra tia Neusa, dona da papelaria da esquina. Ou seja, o Access te entrega toda a funcionalidade complexa de um banco de dados (integridade referencial, consultas em SQL, etc.) para situações onde um caderninho de estoque ou uma planilha de Excel resolveriam. E quando você tenta usar o Access como um banco de dados de verdade, descobre que ele é absurdamente lento e armazena no máximo 2 gigabytes de dados.

E então você lembra dos bilhões de reais da meta divididos entre os milhares de clientes e pensa: “Ah, então é nessa hora que eles arrumam alguém de TI pra construir um sistema decente pra fazer o trabalho, né?”.

Não, meus caros. É nessa hora que eles me ligam.

E o meu trabalho ainda tinha mais alguns agravantes:

  • Eu tinha que entender um desdobramento antigo que havia sido feito por outro consultor pra poder descobrir como desdobrar a meta nova. Felizmente ele tinha deixado um “passo-a-passo” de como atualizar tudo… um passo-a-passo com sessenta e cinco passos do tipo “Execute a consulta X no arquivo Y”, “Importe os dados da tabela Z no banco de dados K”, “Copie os dados da coluna G da planilha XPTO do Excel para a coluna F da planilha Y”, e por aí vai. Era o equivalente digital da foto do começo deste post.
  • O último nível de desdobramento (o dos clientes) estava todo feito usando o CNPJ do cliente, e me pediram pra abandonar os CNPJs e fazer tudo com um tal “código de cliente”. E tem CNPJs que tem dois códigos de cliente vinculados. E tem clientes novos que não tinham meta no desdobramento velho e tinham que receber meta no novo.
  • Eu deveria desdobrar todas as metas para 2010. Os dados para um mês de metas ocupavam 2GB no Access. E o Access tem aquele limite de no máximo 2GB por arquivo, então eu normalmente trabalhava migrando dados de um arquivo Access para outro e esperando esse outro arquivo entupir e o Access dar pau. Aí eu migrava tudo de novo pra um terceiro arquivo, e assim por diante.
  • Eu tinha que trabalhar no Access evitando ao máximo consultas do tipo união (UNION ALL no SQL) e subconsultas (consultas dentro de consultas), porque qualquer um desses dois recursos colocava o Access no modo “velhinha de óculos com uma caneta marca-texto e uma régua comparando os dados de duas folhas de papel linha a linha”. Ou seja, era MUITO lento. E ainda assim, usando as consultas “rápidas” do Access, eu levava mais ou menos uma hora para desdobrar cada mês de dados de metas. Qualquer erro no desdobramento poderia implicar num retrabalho de, no mínimo, mais doze horas. E eu tinha apenas 40 delas disponíveis pra terminar tudo.

E foi assim que passei a semana perdido entre dezenas de Excéis e Acceses, empurrando dados de um arquivo pra outro. Tinha uma planilha que era tão complexa que, depois de qualquer mexidinha nela, o Excel travava por quinze minutos recalculando as fórmulas e referências cruzadas. Minha sequência de trabalho envolvia tantas coisas em paralelo que eu tinha que desenhar fluxogramas numa folha de papel, indicando aonde eu estava e como os dados iam de um arquivo pra outro, senão eu me perdia. Ontem foi o último dia de trabalho. Eu almocei um McDonalds em frente ao computador, sobrevivi o resto do dia à base de café e uma tortinha de maçã (também do McDonalds) e, lá pelas oito da noite, quando minha cabeça já doía e eu já apertava Enter pensando “ok, dê-me logo o próximo pau que vou ter que resolver”, eis que me aparece a tabela final, com as metas novas, certinhas e todas divididas por cliente.

Sabe, é um trabalho tão frustrante e gambiarrado que no fim você não tem exatamente aquela sensação de dever cumprido: é mais um misto de alívio por ter conseguido sair vivo do outro lado do buraco. Mas pelo menos fiquei menos falido nesse começo de ano…

Pequenas sagas do meu filho devorador de tweets

2009-06-03 13:56:33 +0000

Quando me perguntam quando é que eu vou ter filhos, usualmente eu respondo:

- Eu já tenho um cachorro e um website, e eles já dão trabalho suficiente.

As encrencas que Pavlov me arruma eu já vivo contando por aqui. Já as do Blablabra...

Mini-saga 1: O backup que desbeckapeia

Foi assim: era sexta feira e eu estava mexendo na parte do código do Blablabra que separa as palavras de dentro dos tweets. Era cedinho e eu havia acabado de colocar uma alteração na versão de produção (a que fica no ar), e notei que uma coisa estava errada e algumas palavras poderiam estar sendo duplicadas na tabela onde elas ficam guardadas. "Ah, tudo bem. Vou voltar um backup e consertar os registros errados".

Aí fui lá no painel de controle do meu provedor de hospedagem (Dreamhost) e mandei voltar o backup de duas tabelas - tabelas que, é bom salientar, são o "coração" do site. Como elas são enormes (a maior delas tinha DEZ MILHÕES de linhas na época), deixei o backup restaurando e fui fazer outras coisas. Aí chega um email todo serelepe do Dreamhost, avisando que o backup havia sido restaurado.

Maravilha. Me ajeitei na cadeira, dei aquela esticada nos dedinhos sobre o teclado e falei, sorridente: "Vamulá acertar isso agora". Tentei abrir uma das tabelas e... erro de "Table not found". Tentei abrir a outra e deu o mesmo erro. Achando aquilo meio esquisito, resolvi olhar o banco de dados e meu queixo caiu: não somente o backup não havia sido restaurado como as tabelas originais haviam sido apagadas.

Sim, as tabelas tomaram Doril e simplesmente desapareceram. Aí eu morri, ressuscitei, fiquei branco de medo, vermelho de raiva e, sobretudo, furioso pela injustiça da coisa toda: pô, eu teoricamente tomei minhas precauções, eu tinha backups, backups são como uma vacina para a lei de Murphy, eles são feitos pra SALVAR a sua vida nessas horas - não complicá-las ainda mais!

Então, com o coração na boca, abri um chamado no suporte do NightmareHo... digo, Dreamhost. Eles tem uma opção no formulário que serve pra você indicar a gravidade/urgência do problema e eu fiz questão de escolher a mais séria delas, intitulada: "OMG TÁ TUDO DANDO PAU TEM GENTE MORRENDO!!!!" (não, isso não é exagero, a opção do menu deles tem exatamente este texto). E ainda assim eles demoraram QUATRO HORAS para me responder. E ainda disseram:

"Pedimos desculpas. Tudo que eu posso fazer é restaurar um backup mais antigo do seu banco de dados que esteja funcionando".

Só que isso ia me fazer perder AINDA MAIS dados de outras tabelas. O retrabalho seria enorme, eu perderia umas 24 horas de tweets monitorados e, pra piorar, dali a algumas horas eu tinha pegar Bethania no trabalho e, de carro, viajar 600 kms para passar o fim de semana em Belo Horizonte.

A sorte é que ela foi bastante compreensiva e me deixou ficar o sábado e o domingo debruçado em cima do notebook, pegando carona no wi-fi da casa da sogra e reprocessando MILHÕES de tweets gravados na base para recompor as tabelas perdidas. Era a opção menos pior - e mais rápida, considerando que a simples troca de dois emails com a turminha do Dreamhost levou quase oito horas. Mas no fim deu tudo certo e o Blablabra se recuperou plenamente de sua primeira grande baleiada.

Mini-saga 2: O backup que AINDA desbeckapeia

Aí ontem, depois do almoço, eu estava dando uma conferida nos trending topics do Blablabra quando o site, de repente, sai do ar. E não somente o site: o banco de dados não entrava mais, FTP caiu, Shell/SSH caiu, e até este blog, que fica na mesma hospedagem, havia ido pro limbo. "Pfft, aposto que alguém chutou a tomada do servidor lá no Dreamhost", pensei.

Deve ter sido o caso, porque uns cinco minutos depois foi tudo voltando pro ar. Só que o Blablabra parou de mostrar os gráficos e os resultados das buscas. Fuça daqui, fuça dali, e achei o problema: uma tabela corrompida no banco de dados.

Acontece que não era uma simples tabela: era uma daquelas tabelas da mini-saga anterior. E, sim, era a de dez milhões de linhas - que, naquela altura do campeonato, já tinha VINTE milhões. Aí apertei o botãozinho vermelho que desliga tudo (bem, na verdade é uma variável de configuração do Blablabra cujo nome é, convenientemente, "SERIOUSLY_BROKEN_MODE") e, com o coração na boca, fui pensar no que fazer.

É óbvio que "restaurar um backup da tabela" é a opção mais óbvia, simples e indolor, mas depois da saga anterior eu estava feito cachorro mordido por cobra que fica com medo de linguiça (especialmente agora, que não tem mais trema na palavra). Mas dessa vez não tinha jeito, eu precisava dos dados do backup, então fui lá e marquei uma opção de "restaurar a tabela com um nome diferente e não mexer nas tabelas originais".

Enquanto o sistema restaurava os dados, fui pesquisar minhas opções e resolvi tentar dar um comando chamado REPAIR TABLE. Eu estava descrente, já que a tabela estava realmente detonada e eram vinte milhões de linhas. "Nunca vai funcionar", pensei eu. Mas dei o comando mesmo assim e fiquei lá, com o coração na mão, feito um médico que deu um choque pra reanimar um paciente e agora está lá, olhando o monitor cardíaco, esperando que ele dê algum sinal de vida. Acontece que, no meu caso, este instante de suspense demorou mais de uma hora.

E quando eu já estava achando que era EU quem ia precisar de desfibrilador, *plim*! O "repair table" terminou de "repairzar" a tabela e - surpresa! - eis que ela havia ressuscitado dos mortos, perfeitinha, com todos os dados, como se nada tivesse acontecido. Deixei tudo funcionando e fui resolver outras coisas.

Aí, no finalzinho da tarde, eu fui checar meus emails e tinha um do Dreamhost, avisando que a restauração daquele backup que eu pedi havia terminado. "Bom, nem preciso mais da tabela antiga, deixa eu ir lá apagá-la". No banco de dados a tabela antiga estava lá e havia sido restaurada com um nome diferente, do jeitinho que eu pedi. Só que a tabela original, a que eu tinha consertado milagrosamente... desapareceu.

Mas dessa vez foi mais fácil recuperar os dados. Bastou ficar urrando de ódio por uns cinco minutos, esmurrar bastante as paredes e depois reprocessar alguns milhares de tweets para recompor os dados perdidos...

O Primo não recomenda: Tim

2009-03-20 17:44:01 +0000

…e lá vamos nós adicionar mais um episódio para as minhas sagas de problemas com operadora de celular.

Até então a minha lista de problemas com a Tim envolvia:

  • A cobertura horrível no bairro onde moro. Frequentemente dá “congestionamento” na rede celular deles e eu não consigo ligar pra ninguém.
  • Quando me mudei pra SP me cobraram uma multa por cancelamento, coisa que a atendente me garantiu que não seria cobrada. Só resolveu quando botei a Anatel no meio.
  • Daí outro dia um atendente da Tim gritou comigo no telefone e chamei a Anatel de novo. Me ligaram, pediram desculpas, mas ficaram todos escorregadios quando perguntei se ia acontecer alguma coisa com o atendente deles.
  • E então outro dia eu passei um papelão ridículo, sofrendo com informação desencontrada em visitas em lojas e ligações para a central de atendimento, tudo para ativar um simples plano de dados.

Neste momento minha relação com a Tim tava estilo “shotgun wedding” – a gente, no máximo, se aguentava. Mas com a iminência da portabilidade (e com a BABA de dinheiro que eu deixava na Tim todo mês) eu pensei em ligar pra lá e ver se me ofereciam alguma vantagem financeira pra continar aguentando aquele serviço vagabundo.

E aí é que começa o problema.

A atendente do “Serviço de Relacionamento Especial” (vulgo “setor onde a operadora abre as pernas para não deixar cliente cancelar a linha”) me ofereceu nada menos do que um iPhone 3G (de 8GB) a R$ 700 para me “refidelizar” e eu continuar cliente deles por mais 12 meses. Neste exato instante o iPhone brasileiro, um dos mais caros do mundo, apareceu em minha mente como uma realidade plausível e eu instantaneamente fui capturado pelo campo de distorção da realidade de Steve Jobs. Só que, em vez de concordar com a oferta deles, eu preferi ligar depois para ver se conseguia pegar o de 16GB.

E esta foi a idéia MAIS ESTÚPIDA que já tive.

Daquele momento em diante começou um revival da minha saga com a Oi, de quando eu tive que ligar pra lá cinquenta e duas vezes até conseguir receber o celular com desconto que me ofereceram. Só que com a Tim o processo era assim:

  • Eu ligava uma vez, ficava eternamente na espera e não era atendido
  • Eu ligava de novo, caía numa atendente, eu pedia pra me transferir pro SRE (setor de relacionamento especial) e ela dizia que não podia me transferir porque o sistema estava fora do ar.
  • Eu ligava mais umas duas ou três vezes até que algum atendente conseguisse me transferir pro SRE. Aí, de duas uma: ou me falavam que o sistema DELES estava fora do ar e eles não conseguiam checar o estoque, ou eles checavam o estoque e diziam que não tinham o aparelho.

Isso sem contar as mentiras que eu ouvia dos atendentes: alguns diziam que a opção 5 (cancelamento) do menu da Central me transferia direto pro SRE, o que nunca funcionou. Outros diziam que “só alguns atendentes conseguem fazer a transferência para o SRE”, ou seja, que meu atendimento era na base da loteria. E sobre o estoque de aparelhos eu ouvia cada hora uma coisa: um atendente me dizia que ele era renovado “a qualquer momento”. Outro dizia que era “semanalmente”. Outro me disse que era “diariamente”. Um deles chegou a dizer que era “trimestralmente”. “Você sabe que ‘trimestralmente’ é de três em três meses, né?”, perguntei pra esse último.

Não é atoa que o novo slogan da Tim é “mente sem fronteiras”…

Aí eu fui ficando sem paciência de brincar de ligar pra Central e comecei a contar as ligações que fazia e anotar os números de protocolo. Contei TRINTA E SEIS LIGAÇÕES. Afinal, “vida de babaca é atribulada”, diria o Cris Dias. Mas na trigésima sétima eu achei o iPhone de 8GB no estoque e, obviamente, encomendei. Pediram sete dias úteis para entregar.

samara
"Sete dias", é o que dizia a Samara, ao telefone, antes de matar a pessoa. Coincidência?

Mas aí chegou o sétimo dia e nada de iPhone. Resolvi ligar pra central. Precisei de mais SEIS tentativas até conseguir falar no SRE, e quando consegui, o atendente me disse assim:

- Senhor, o seu telefone foi para a assistência técnica.
- Como é que é?!
- Está aqui no sistema que ele foi pra assistência técnica, ele estava com um problema no… no… no botão de “impressão check”, e aí gerou um erro na sua fidelização…

Sim, meus caros, a Tim não está brincando com aquele papo de “mente sem fronteiras”. Essa foi a mentira mais mentirosa de todos os tempos. Ou a Apple tem o pior controle de qualidade do mundo (e a Tim anda abrindo as embalagens antes de entregar aparelhos novos), ou ela iria me vender algum aparelho de mostruário e/ou usado. Ou então eles só queriam me enrolar pra eu continuar cliente deles por mais algum tempo.

Mas a essa altura eu já estava furioso no telefone e questionando o atendente:

- Mas mesmo se isso fosse verdade por que vocês não pegam outro aparelho no estoque e mandam?? E mais, se eu não tivesse ligado pra vocês ninguém ia me avisar não?
- Errr… senhor, o que eu posso fazer é estar re-fidelizando o senhor e fazendo um novo pedido.
- Sei, e aí são mais sete dias, se é que ainda tem iPhone no seu estoque, né?
- Sim senhor.
- Eu vou perguntar apenas uma vez: Existe alguma coisa que você possa fazer para resolver o meu problema?
- Errr… eu posso refazer sua fidelizaç…
- Você não precisa repetir o que eu já sei. Eu estou te dando uma chance de resolver o meu problema e arrumar um telefone e me entregar no prazo que você combinou comigo antes. Você tem como resolver o meu problema?
- Olha senhor, eu só posso estar te refidelizando.

E então eu desliguei o telefone, peguei minhas contas antigas da Tim e, na mesma hora, fui visitar a concorrência. Conversei, pesquisei, fiz as contas e quatro horas depois eu já estava virando cliente da Vivo – e com um iPhone 3G 8GB novinho em mãos.

iphone

Claro que paguei bem mais caro pelo iPhone, mas é que o campo de distorção da realidade de Steve Jobs é REALMENTE poderoso. Em termos de tarifas e custo mensal a coisa vai ficar “elas por elas”, com a vantagem de ter mais minutos e pagar R$ 1 a menos por Adicional de Deslocamento (uma das coisas que mais me quebra quando viajo). Mas a minha primeira impressão da Vivo foi muito boa: levei coisa de 5 minutos pra ser atendido (contra 1h de espera média em qualquer loja Tim), conversei com dois vendedores e ambos foram excelentes. E ainda me pediram para dar uma nota para o trabalho deles no final, como parte de um esforço da Vivo em medir a eficiência do atendimento. Se estes dados viram informação gerencial no futuro são outros quinhentos, mas pelo menos há uma preocupação de, pelo menos, causar boa impressão.

Imagino que você deva estar pensando que perdi tempo (e dinheiro), que “operadora de celular é tudo ruim” e que “sair da Tim tem tanto efeito quanto boicotar o McDonalds” (como diria o Exu Caveira Cover), mas eu ia me sentir um trouxa se continuasse cliente de uma empresa que me tratou do jeito que tratou. Se fosse só esse episódio da fidelização tudo bem, eles nem tinham obrigação de me dar desconto ou entregar tudo em tempo hábil, mas é que o conjunto de irritações que a Tim já me causou deixou a situação intolerável. E se minha saída não é significativa pra Tim, tem os meus reclames aqui no blog que de vez em quando acabam sendo ouvidos (tipo o da revista Seleções, que o pessoal até mandou email pedindo direito de resposta e tudo).

P.s.: No processo de escrever este post eu acabei entrando na parte corporativa do site da Tim. Descobri que eles tem seis diretorias e apenas três pessoas ocupando os cargos (sendo uma delas o diretor-presidente/presidente do conselho/diretor geral. Praticamente um super-homem). Mas o pior é que eu não vi uma diretoria de operações ou alguma que pareça cuidar do atendimento, ou seja, eu nem sei quem eu devo mandar tomar no cu.

P.p.s.: Pra não dizer que a Tim é pior em tudo, olha um lugar onde ela é campeã: no ranking de reclamações do ReclameAqui.com

reclameaqui

Sim, a Vivo tá lá também… bem como TODAS as grandes operadoras de telefonia móvel. Mas a tim tem o DOBRO de reclamações da Vivo, e com uma base de clientes muito menor.

Update (26/03): Me ligou uma mocinha da Tim pra agendar a entrega do meu aparelho. Tadinha. Expliquei a situação toda pra ela e falei que já tinha pulado fora. Segundo ela, o papo de "botão impressão check estragado" que me passaram foi um erro de interpretação do atendente: segundo ela, o botão estragado era do sistema da Tim, e não do telefone que iam me mandar. Mas ela mesma sacou que era tarde demais para tentar me ganhar de volta e apenas pediu desculpas por todo o ocorrido.

Por sinal a minha portabilidade já está funcionando, mas não imune a problemas. Primeiro foi a Vivo que me ligou dizendo que eu tinha que ligar pra Tim por conta de uma divergência de cadastro. Precisei ligar pra Tim umas SEIS vezes pra conseguir resolver, mas deu certo: meu telefone novo já recebe chamadas do meu número de sempre (inclusive, quem tentar me ligar e não conseguir, avise aí nos comentários). O problema é que o de Bethania, que está vinculado ao meu CPF mas não foi portado ainda. Isso não cheira bem...

E olhaí o Esparroman também se embrenhando com a Tim...

O fim de Dead Cow City

2009-01-15 08:24:40 +0000

Interrompemos nossa programação de posts das férias para contar aqui a coisa mais estapafúrdia que já me aconteceu em 15 anos no mercado de trabalho.

Não vou entrar em detalhes mas a coisa foi mais ou menos assim:

  • Meu projeto estava com uns problemas e resolvi conversar com os consultores-líderes para ver se eles me davam uma mãozinha.
  • Na conversa eu tentei explicar o problema mas o pessoal acabou me pedindo pra detalhar OUTRA coisa. Mas vá lá, fiz o que eles pediam e avisei que ainda precisava continuar o assunto. Mas aí veio o natal e o ano-novo e o assunto ficou pausado.
  • No meu primeiro dia de trabalho de 2009 o consultor-líder me liga e fala que meu projeto precisa de uma “virada de mesa” e que eu não tenho o perfil necessário para isto, e que estava contactando nossa empresa de consultoria pra discutir minha substituição. Obviamente eu levei um puta susto, mas como ele afirmou que nada estava resolvido e que conversaríamos na próxima semana, pensei que até lá a gente pudesse esclarecer seja lá o que foi que provocou uma reação tão extrema deles em tão pouco tempo. Problema de comunicação, talvez?
  • No dia seguinte, outro susto: recebo um email oficializando a minha saída do projeto. Mas o consultor-líder continua afirmando que “nada estava definido” e que conversaríamos na próxima semana.
  • Chega a próxima semana e eu me reúno com o consultor-líder. Discutimos longamente os problemas do projeto e os acontecimentos recentes. No fim, ele vira pra mim e diz que meu substituto estava na sala ao lado e que ele ia chamá-lo para eu passar a ele as informações sobre o trabalho.

Não, não. É sério. Vou resumir ainda mais pra fazer ainda menos sentido: Fui discutir os problemas do projeto com meus superiores e eles me expulsaram do projeto.

Aí você pergunta: “Mas por quê?”. É estranho mesmo. O cliente gostava do nosso trabalho, o chefe da engenharia chegou a dizer que “estaria perdido” se nós não estivéssemos lá. Outro dia me contaram que uma das meninas da minha equipe (que o cliente até tentou contratar, veja você) comentou que eu fui a “salvação” do projeto. As opiniões das pessoas que conversei e que acompanharam a história variam. Umas acham que eu fui usado de bode expiatório para o caso do projeto fracassar. Outras acham que eu posso ter ferido o ego dos líderes e estava pagando o preço. Alguns especularam que eu fui removido para dar lugar a alguém da “panelinha” deles que devia estar em casa, sem trabalho (e sem honorários a receber). Mas eu prefiro a explicação, sucinta e assertiva, de um amigo meu: “É, o mundo corporativo é assim mesmo”.

Pois então. Como diz o mestre Tom Zé, a gente “passa mal, toma Sonrisal, se engana mas vai em frente”. Então, no fim da tarde da última terça-feira, fui embora de Dead Cow City para nunca mais voltar. E digo que fui embora com a cabeça erguida e com a consciência tranquila de que fiz um bom trabalho nos sete meses em que estive por lá.

Mas o mais legal é a sequência da história: coisa de alguns DIAS depois e me liga outro consultor-líder, avisando que nosso antigo cliente de Brasília - um que vive aparecendo no jornal, especialmente nessa época de crise - está mesmo querendo fechar um contratão de consultoria e pergunta se eu não tenho interesse em ficar full time (todos os dias do mês) no projeto.

Sabe o que me impedia de trabalhar full time com eles antes? O projeto do qual fui expulso.

Hoje o consultor-líder me ligou contando que o cliente ficou feliz da vida com minha nova disponibilidade. “Eles gostam mesmo de você”, acrescentou. O projeto deve começar em março, e até lá terei que fazer o grande sacrifício de ficar em casa, jogando GTA IV.

É, o mundo corporativo é assim mesmo :)

As Férias do Primo, Parte 1: A viagem

2009-01-06 03:02:02 +0000

Sim, meus amigos! Minhas mini-férias de uma semana foram tão boas (e cheias de histórias) que serão contadas em pedaços. O primeiro deles é a viagem de ida para o lugar escolhido.

A premissa das férias era viajar para descansar, gastando minhas milhas que estavam vencendo e indo para um lugar sossegado, distante da bagunça de reveillon. Após um bocado de adoração ao Deus Google, Bethania, minha esposa, encontrou um lugar que parecia absolutamente perfeito.

Aí você se pergunta: “mas para onde vocês foram?”. Bem, vamos começar dizendo que nós acordamos às 4:30 da manhã do dia 26/12 e voamos até o meio-dia para pousar… em João Pessoa.

João Pessoa
A simpática capital paraibana (foto by Bethania Duarte)

Mas espere: não satisfeitos por estarmos no meio da Paraíba, saímos do aeroporto, almoçamos e fomos direto para… a rodoviária, porque ainda tínhamos uns 100km nos separando de nosso destino final.

Sabe, rodoviárias são um bom espelho do que as cidades realmente contém. A do Rio é abafada e caótica, a de São Paulo é SEMPRE lotada, a de Beagá parece rodoviária de cidade do interior, a de Brasília serve como um bom lembrete do que existe além do plano piloto… e a de João Pessoa tinha uma espécie de “feirinha do paraguai” no andar de cima. E tocava música de crente o tempo todo.

Então chegou o nosso ônibus. E aí eu, este serzinho que viaja por tudo que é buraco desse Brasilzão sem porteira, temi pela minha vida: o ônibus era velho, mas MUITO velho, o que ficava evidente em especial pelo cheiro de carpete velho misturado com o do revestimento dos bancos, feito num couro vermelho já há muito judiado pelo tempo. No vidro que separava o motorista dos passageiros tinha até um adesivo indicando a última vez que o ônibus havia sido dedetizado – mas o adesivo era tão velho que a data já tinha se apagado. E não tinha ar condicionado. E nós na Paraíba, lembram?

Sente o drama:

onibus1
onibus3

 

E os passageiros iam embarcando: Famílias inteiras com a meninada fazendo bagunça, um deficiente com sua muleta, um tiozinho com boné da Lubrax, calça jeans surrada e camiseta do Treze Futebol Clube e por aí vai. Era um legítimo ônibus cata-jeca. E pra terminar de me matar de susto, bem nesta hora, minha digníssima esposa resolve me dizer o seguinte:

- Sabia que o lugar pra onde a gente vai nem aparece no Google Maps?

E o motorista entrou, bateu a porta sem muita cerimônia e pegou a estrada – com uns cinco passageiros em pé e obviamente com uma parada a cada 10 minutos pra pegar ainda mais gente (a parte “cata-jeca” da viagem). Tanto que Bethania sugeriu que a gente cedesse nossos lugares a duas senhoras com crianças e viajamos boa parte do tempo em pé.

Eu ainda estava estupefato com a coisa toda quando numa destas paradas embarcou nada menos do que um vendedor de salgados, de camisa branca e gravata (naquele calor absurdo, nunca é demais lembrar), com uma bacia branca enorme cheia de coxinhas, empadinhas, “cocretes” e outras coisas cujo cheiro de gordura, somado com o cheiro de velho do ônibus, deixou o ar ainda mais empesteado. E o cara se acotovelando conosco no corredor do ônibus, e os passageiros conversando alto enquanto o vendedor gritava “ÓI A COXINHA! ÓI O SALGADO!”, e eu e Bethania nos entreolhando sem acreditar que aquilo tudo estava acontecendo.

onibus2

Algum tempo depois o ônibus sai da estrada, entra no município de Mamanguape e, numa avenida, pára de repente. O burburinho entre os passageiros começa imediatamente:

- Oxe, o que é que foi?
- Ih, foi batida. Olhe ali o carro.
- Mas o cabra tem que tirar o carro da frente, ué.
- Vixe, vai tirar não, o hôme nem saiu do carro… num deve tá querendo tirar o carro do lugar por causa de perícia, seguro ou sei lá.

Aí um tiozinho mete a cabeça pra fora do ônibus e começa a gritar: “TIRE ESSE CARRO DAÍ SEU JUMENTO!”. O burburinho aumenta. O motorista buzina, depois começa a discutir com o cobrador. Duas senhoras desistem da viagem e descem do ônibus, resmungando. E como se o nonsense não estivesse suficiente, aparentemente o dono do carro resmungou alguma coisa que irritou o tiozinho da janela do ônibus, que logo disse:

- Ah é? Deixe esse folgado aí que ele vai ver só uma coisa!

E, esticando o braço até o meio das costas, saca de lá nada menos do que um facão. “Se ele falar mais alguma coisa eu vou lá e lhe encho de furo”, disse. E enquanto isso o motorista ia dando ré no ônibus pra tentar desviar, com o cobrador do lado de fora ajudando a manobrar e o tiozinho branindo seu facão (mais de exibido do que de corajoso), disparando bravatas tipo “na favela onde eu mora nêgo folgado igual esse aí já tinha morrido”. E eu pensando onde diabos fui me meter…

Muitas manobras depois o motorista consegue se desviar do acidente e o balaio segue viagem. E o tempo passa, a noite vem chegando, os passageiros começam a desembarcar e eu ali, perguntando o trocador (sim, tinha trocador) de 10 em 10 minutos se ainda faltava muito… até que, depois de quase duas horas na estrada nós, finalmente, chegamos.

(Continua…)

O Primo’s Amazonic Project Management Saga

2008-11-22 17:51:13 +0000

A imagem era idêntica as que se vê nos documentários da tevê sobre a amazônia: um mar de árvores. Mata fechada, cortada apenas por rios sinuosos de água marrom. Num deles tinha até uma canoa passando. Aì, de repente, aparece uma cidade.

Foi vendo isto da janela do avião que eu pousei em Marabá, interior do Pará...

maraba1

Minha missão era simples: atualizar o cronograma de um projeto de reforma de um frigorífico. O problema é que os engenheiros responsáveis estão "fugindo ostensivamente" de mim. Não atendem telefone, não respondem email... outro dia achei um deles no Skype e ele me disse: "Como você me achou? Tava me escondendo de você"…

Então resolvi visitar a obra pessoalmente. Só que esta foi a última semana de reforma antes do frigorífico voltar a operar e está tudo um pandemônio, portanto ninguém teria tempo de se sentar comigo e me atualizar sobre o projeto.

maraba2 A solução? Arrumei um capacete e me enfiei audaciosamente pelo canteiro de obra, no calor paraense, atolado até o tornozelo na lama do canteiro de obra (porque choveu horrores), com um cronograma impresso numa mão e uma planta do frigorífico em outra. E tive que descobrir, por conta própria, o que foi ou não executado e, então, atualizar o status do projeto.

Acho que nunca trabalhei em condições tão insalubres de trabalho. Eu vi placas de aço caindo a alguns metros de mim, vi fagulhas de solda e de metal incandescente voando pra tudo que é lado, vi caminhões atolando na lama, vi um trator quase atropelar dois peões, andei por cima do forro do telhado a uns 5 ou 6 metros do chão, me apoiando em tubos e trepando por cima de dutos de ventilação, saí pelo canteiro de obra à noite em locais onde os peões viviam achando cobras (amazônia, lembram?), e por aí vai…

Mas o saldo final foi positivo: os engenheiros fujões viram que eu não estou de brincadeira e me evitar apenas vai adiar o inevitável e, de brinde, comecei a acompanhar um outro projeto de reforma de uma das fábricas anexas – coisa que vai deixar Darth Vader, meu chefe, bastante contente.

A saga do pacote de dados da Tim

2008-10-21 23:30:54 +0000

Eu costumo dizer que operadora de celular é igual cassino: você acha que está levando vantagem mas, no fim, "a casa sempre ganha". E não adianta: a concorrência aumenta, a Anatel aperta na regulamentação mas o serviço continua péssimo e caro.

Eu coleciono "sagas" épicas de atendimento vagabundo. Quando era cliente da Oi eu ganhei um desconto em aparelho... e precisei de oitenta e um dias e cinquenta e duas ligações para o Oi Atende até conseguir receber o dito cujo em casa. Aí mudei pra Tim - não porque quis, e sim porque os planos são mais baratos pra quem viaja muito - e já precisei recorrer à Anatel duas vezes: uma por um problema de cobrança quando me mudei pra São Paulo e outra porque, por incrível que pareça, um atendente da "central de relacionamento Tim" deu piti e GRITOU comigo no telefone.

Comparativo operadoras de celular

Mas meu episódio mais absurdo com a Tim foi quando tentei, simplesmente, comprar um simples plano de dados pra usar com meu smartphone. Era coisa simples: um pacote de 250MB, pra botar no meu plano (Tim Família) e poder compartilhar a franquia de dados com minha esposa. Só que normalmente estes pacotes são vendidos junto com aqueles modems USB, então o primeiro desafio era explicar para os atendentes que eu NÃO queria um modem USB, só o pacote de dados. Vários não entendiam, então eu tinha que ligar de novo e ver se eu dava sorte de pegar alguém com um pouquinho mais de boa-vontade. Quando finalmente consegui, a atendente me disse que eu só poderia comprar este pacote de dados numa loja Tim. Aí fui numa loja, esperei umas DUAS HORAS para ser atendido... e me disseram que não dava pra comprar meu pacote de dados na loja, só por telefone. "M-mas me mandaram ir à loja!", disse eu. Não adiantou.

Então retomei a maratona de ligações para a Tim. Os atendentes continuavam insistindo que eu devia ir à uma loja, mas eu dizia que tinha acabado de vir de lá. Depois de muita insistência, um dos atendentes disse que tinha um tal "novo contrato" que eu devia assinar pessoalmente. Como eu não tinha o que contra-argumentar para isso, acabei aceitando a explicação.

No último sábado, eu e Bethania estávamos atoa no Shopping Ibirapuera e resolvemos passar na loja da Tim. Mas dessa vez eu não era mais um "garotinho juvenil" inocente e, sabendo da demora, pegamos uma senha, saímos para passear pelo shopping e voltamos mais ou menos 1h depois... bem na hora em que chamaram nosso número.

E aí aconteceu a coisa mais tragicômica que eu já vi. Eu sentei em frente ao atendente, disse que queria um plano de dados e a PRIMEIRA coisa que ele falou foi:

- Plano de dados é só por telefone, com a central.

Eu e Bethania rimos bastante na cara dele e contamos nossa história de pingue-pongue entre loja e central telefônica. Aí ele fuçou no sistema, perguntou alguns colegas e concluiu que, sim, tinha como fazer na loja. Correu tudo bem... até eu mencionar que era para eu e minha esposa compartilharmos a franquia. Aí ele soltou a bomba:

- Olha, aqui no sistema eu só consigo cadastrar o plano em uma das linhas: pra poder compartilhar entre as duas linhas, só ligando para a central...

Era inacreditável. Mas, sem pensar muito, respondi:

- Então liga aí pra nós.

Aí termina a parte "trágica" e começa a parte "cômica". Primeiro o cara pediu o celular da minha esposa emprestado, porque o dele era pré-pago e, segundo ele, ia demorar muito mais para ser atendido. O diálogo dele com a central foi mais ou menos assim:

- Sim, é um plano de dados de 250 MB, compartilhado... não, eles não tem que ir à loja, EU sou o atendente da loja, se eu pudesse já tinha feito, mas só vocês aí podem fazer... não, não tem modem USB junto... tá bom, eu aguardo...

Muitos minutos depois:

- Como é? Seu sistema tá fora do ar?... Ah, é só o SEU sistema, o dos outros atendentes está funcionando??... Então me transfere pra outro atendente...

Instantes depois ele afastou o celular da orelha e disse, frustrado: "Caiu a ligação"...

Imagine a cena: um FUNCIONÁRIO da Tim sendo enrolado pelo atendimento tosco DA PRÓPRIA TIM, ali, na nossa frente. Eu saboreei cada momento de forma sádica e deliciosa. Mas como somos bonzinhos, pegamos o meu celular e ficamos tentando falar na central pra ajudar. E só assim, numa loja Tim, com um funcionário "físico" na nossa frente e DOIS telefones ligando insistentemente para a central da Tim, conseguimos, finalmente, habilitar o plano de dados.

Mas como é difícil dar dinheiro pra essas operadoras, viu...

O Primo's Sunday Traveling Saga

2008-02-19 04:00:42 +0000

Domingo. Acordei sozinho, às nove da manhã, no quarto de um hotel em Joaçaba, interior de Santa Catarina. Trabalhei sexta e sábado dando um curso, mas vôo para me levar de volta pra São Paulo que é bom, só no domingo. O término do horário de verão, que foi bom pra todo mundo, pra mim significou uma hora a mais para ficar longe de casa. Nada bom.

Tomei um café e o taxista apareceu para me levar ao aeroporto... de Chapecó, a duas horas e meia de distância (sei lá quantos quilômetros eram, pra mim o que importa é em quanto tempo eu conseguiria atravessá-los). A viagem incluiu passagens por lugares de nomes pitorescos como Xanxerê, Xaxim e a inacreditável Faxinal dos Guedes, tudo ao som do melhor da música de corno sertaneja no rádio do carro. Como por exemplo a belíssima "Não me procura", de Alan e Aladin. Sente só uma das estrofes (mas leia com bastante vibrato na voz, para dar efeito):

Voce caprichou dessa vez
Fez tudo como manda o figurino
Bati o escanteio dos meus sonhos
E a bola deu na trave do destino

O vôo atrasou uma hora (normal) e quando embarquei, havia um moleque sentado no meu assento. O assento que eu havia escolhido cuidadosamente, com DIAS de antecedência, porque era uma janela e ficava do lado oposto ao que o sol ia bater durante o vôo. Assim eu não sentiria calor e a luz seria perfeita para eu fazer o que mais gosto: botar meus fones de ouvido, ficar olhando a paisagem e me esquecer do mundo por algumas horas. Mas o moleque birrento estava chorando tanto que não tive outra opção e fui me sentar no corredor. E só aí percebi a enrascada onde me meti:

20080218

Eu estava cercado por nada menos do que QUATRO crianças. A mãe dos meninos da minha esquerda (que andavam de avião pela primeira vez) estava longe e falava com eles o tempo todo. Eu não podia simplesmente botar o meu superfone de ouvido e ficar surdo para o resto do mundo porque, de cinco em cinco minutos, ela me perguntava se as crianças estavam incomodando. "Eles não, mas a senhora está", foi o que pensei, mais vezes do que é saudável para um rapaz cristão. E o bebê de colo, como todo bom bebê em avião, estava chorando.

Na hora do serviço de bordo, o menino da minha esquerda solta a pérola:

- Eu quero ir no banheiro.

Até aí tudo bem, não fosse o fato do layout da cabine naquele momento ser mais ou menos o do desenho abaixo:

20080218_2

Depois de um empurra-empurra e um trança-trança entre cadeiras básico, o menino foi lá se aliviar.

Alguns minutos depois o avião ficou estranhamente sereno e eu achei que os instantes finais de viagem (até a escala em Floripa) seriam, finalmente, sossegados. Mas a aeromoça, nos alto-falantes, mandou apertar o cinto por causa de uma "área de instabilidade".

Eu acho que no crachá dela devia estar escrito "Nostradamus" ou "Mãe Dinah", porque no EXATO momento em que ela terminou de dizer "instabilidade" o avião começou a chacoalhar. Mas chacoalhar MUITO. Mas MUITO MESMO, dava pra ver a cabine se retorcendo e ouvir as malas batendo umas nas outras nos bagageiros. Era meu "personal turbulência record" sendo batido.

Agora adivinha a reação das crianças em volta de mim. Pânico? "Eu quero minha mãe"? Choro e ranger de dentes? Pelo contrário: as crianças estavam adorando a turbulência! O bebê de colo morria de rir das sacolejadas do avião e o moleque do xixi gritava:

- Uhuuu!! Dá friozinho na barriga, olha!!

Eu não tenho medo dessas coisas e estava tranquilo... até que olhei pro assento do menino mijão e vi que o copo de coca-cola dele estava desgovernado, patinando na mesinha. "SEGURA SEU COPO!!", gritava a mãe, mas o menino estava tão entretido com a turbulência que eu tive que me salvar de levar um banho de coca-cola por umas três vezes. E quando a situação não podia piorar, a mãe dos meninos me cutucou e disse:

- Rápido, me passa seu saquinho de vômito, ela vai vomitar!

A mãe do birrento estava branca como defunto e com aquela cara típica de quem vai chamar o Hugo. E eu não achei saquinho de vômito na minha cadeira. E o copo do menino-mijão continuava esquecido na mesinha, deslizando perigosamente. Ou eu procurava o saquinho e me arriscava a levar um banho de coca, ou segurava o copo e ganhava um avião cheirando a vômito até São Paulo.

Foram instantes tensos. Mas uns 15 minutos depois o avião sossegou e pousou em Floripa. Os meninos, hiperativos, queriam descer do avião antes mesmo dele parar no terminal. Confesso que eu também queria, mas a mãe deles foi bem direta e disse:

- Nós vamos descer por último!

O avião parou no terminal e eu fiquei lá, desolado, esperando a hora do jardim de infância aéreo ir embora. O menino-mijão, impaciente, me cutucou e pediu licença. Respondi, resignado:

- Não posso, estou obedecendo sua mãe.

A saga da instalação do varal

2007-12-03 23:11:25 +0000

Semana passada eu instalei um dos varais lá em casa. Eu mesmo, com furadeira e tudo. E, como disse o publicitário Luli Radfahrer, "pouco importa seu sucesso profissional: é a habilidade com uma FURADEIRA que separa os meninos dos homens".

Assim sendo, provei que, definitivamente, não sou moleque (tampouco caveira, vale lembrar). Só que não passei por esta prova com a altivez característica dos grandes homens. Na verdade, se alguém tivesse filmado a instalação toda, as semelhanças com um episódio do "Mr. Bean" ficariam bem evidentes.

O problema maior da coisa foi que eu não tinha uma escada, então fiz tudo de cima de um banquinho vagabundo. Aí eu tinha que me espichar todo com a trena para medir o teto, aí a treina caía e eu recomeçava, aí o braço doía e a trena caía e eu começava mais uma vez. E no final das medições - que era apenas o começo do trabalho - eu já estava cansado, doído, sujo e desmotivado.

Na hora de furar o teto a coisa ficou ainda pior. Logo no primeiro furo eu devo ter atingido um vergalhão ou alguma coisa assim, e a furadeira não entrava mais. Eu já estava bastante frustrado, então apelei, peguei a furadeira, empurrei com toda a força pra cima... e comecei a gritar daquele jeito "Rambo" que Hollywood me ensinou via Sessão da Tarde ao longo dos anos. Comi poeira adoidado, mas consegui fazer o furo.

Na hora de parafusar o varal no teto, mais frustração. Levei uns 20 minutos pra conseguir subir no banquinho sem me embolar todo com os cordões do varal. E, quando finalmente consegui, percebi que esqueci a chave de fenda no chão. Manifestação óbvia do divino espírito santo de Murphy...

Levei umas duas horas pra instalar apenas UM dos varais. O outro eu não tive condições psicológicas pra instalar. A coisa foi tão vergonhosa que até Pavlov ficou sem graça e, no meio da instalação, desistiu de me fazer companhia e foi pra sala cochilar. Porque, se ele pudesse falar, diria: "Véio, larga isso aí e vai dar consultoria que é melhor".

Madness? This... is... MUDANÇAAAA!!

2007-11-22 00:05:48 +0000

O plano era simples: na quinta do feriado, carregar o caminhão. Na sexta, eu, Bethania e Pavlov vamos de carro pra São Paulo, assinamos o contrato de aluguel e pegamos as chaves. No sábado o caminhão com a mudança chega e até domingo arrumamos tudo.

Falando assim parece simples, mas tem uma infinidade de detalhes que faz a coisa se tornar uma odisséia épica misturada com uma graphic novel (com roteirista ruim) e com um remake estadunidense de "Betty, a Feia".

Por exemplo, a lei brasileira diz que em viagens assim você precisa de um atestado de boa saúde canina - mas calma, não é para o motorista, e sim para transportar seu cachorro pelas estradas. Obviamente NENHUM policial vai parar seu carro no instante em que você obter o atestado - efeito da lei de Murphy. Mesmo assim, na quinta-feira à noite, ao invés de dormir para viajar descansados, eu e Bethania fomos levar Pavlov a um veterinário.

A coisa foi surreal, porque chegamos na clínica e estava tendo uma "emergência médica canina" no melhor estilo de episódio de "E.R.": uma cachorrinha com leishmaniose havia dado entrada tendo convulsões. A dona dela estava na recepção, chorando desesperada. Chamaram até outro cachorro - um rottweiler ENORME - para doar sangue pra ela. Mas depois de um tempo apareceu a veterinária, com aquela cara de más notícias, e começa a falar:

- Olha, sua cachorrinha estava realmente mal, nós tentamos fazer uma transfusão de sangue, demos efedrina, adrenalina, mas o coraçãozinho dela não resistiu...

Segue-se choros e ranger de dentes. E eu lá, perplexo.

Outro detalhe de viagens com cachorro é que recomenda-se que o cão viaje sedado, então compramos um psicotrópico canino que a veterinária receitou. O troço é tão maléfico que as farmácias só vendem o remédio com cadastro e retenção da receita. E Pavlov não é bobo, detesta remédios e sabe quando estamos tentando dopá-lo medicá-lo, então misturamos o "psicotrópico do mal" em um pouco de Toddy e demos para ele.

Se cães pudessem falar, eu tenho certeza que Pavlov teria dito: "oba oba, chocolate!!" e, na sequência, conforme estava ficando sonolento, diria: "Traidores!! O que vocês... fizeram... comiiiigoooooo....". Porque a cara dele dizia exatamente isso.

Além da trabalheira canina, outro inconveniente da mudança é que você tem que desativar toda a sua vida na cidade-origem e reativá-la na cidade-destino, ou seja, cancelar internet, telefone fixo, celular, TV a cabo e mais duzentas mil coisas. No caso da TV a cabo lá de casa a situação era mais complicada, porque ela estava no nome de Bethania e eu era o único com tempo para ligar pra fazer o cancelamento. A situação parecia sem saída mas parei, pensei por um instante, peguei o telefone e liguei para a operadora de TV a cabo:

- Bom dia, eu queria cancelar minha assinatura.
- Pois não, qual o seu nome?
- Bethania.

O atendente faz uma longa pausa e pergunta, confuso: "Uhh... é 'Senhor' Bethania?"

- Não, não. Senhora Bethania. - Confirmei, na maior naturalidade do mundo.

Pensa bem: o que diabos o atendente poderia dizer? Que minha voz era grossa demais para uma mulher? Se eu deixasse de confirmar alguma informação do cadastro tudo bem, mas qualquer suspeita que ele levantasse com base em minha voz poderia ser rotulada de preconceito, portanto ele não tinha nenhuma outra opção a não ser atender a "senhora Bethania" de voz grossa. E funcionou: das três vezes que precisei ligar pra lá, nenhum atendente questionou a minha voz.

Além das questões vocais, a mudança ainda teve inúmeros outros "detalhes" trabalhosos: o zelador do prédio novo encrencou com mudanças antes das 9 da manhã. e as leis de trânsito paulistanas proíbem tráfego de caminhões no meu novo bairro após as 9 da manhã. Alguns serviços que você quer contratar pro apê novo (internet, TV a cabo) requerem comprovante de endereço, que, obviamente, você só vai ter depois que receber contas de algum serviço, como internet ou TV a cabo. E aí o chuveiro de 110V que veio na mudança não pode ser usado na instalação 220V do apê novo. E então o contrato de aluguel tem uma cláusula que proíbe animais - e você vê isso no instante de assinar o contrato. Aí as assinaturas do contrato de aluguel tem que ter firma reconhecida, e você tem que abrir firma num cartório paulistano, e o cartório te pede - além de uma escaneada nas digitais do seu dedo indicador (sabia dessa?) - uma cópia da certidão de casamento, e a certidão ficou em Belo Horizonte. E na hora de receber as chaves do apartamento, você descobre um vazamento de água no teto de um dos cômodos. E por aí vai...

Moral da história: mudar de cidade é um pandemônio. Se bobear, mudança de sexo deve ser mais fácil do que isso.

Mas eu não podia deixar este post acabar sem mencionar o lado bom de mudar pra São Paulo, que é... morar em São Paulo, por incrível que pareça. Nosso bairro é excelente, Bethania mora a 15 minutos de caminhada do trabalho, temos tudo a apenas alguns quarteirões de distância, o prédio onde moramos é ótimo, é grande, é seguro, e o apartamento novo é muito espaçoso. Claro que isso não custa barato, mas se é pra morarmos longe das famílias e dos amigos, pelo menos que seja num lugar legal...

P.s.: Por conta da mudança perdi o BlogCamp MG. Uma pena, queria conhecer as caras por trás dos blogs que leio. Mas pelo que li sobre os debates, a coisa foi exatamente como eu previa: em torno de monetização e, consequentemente, chata.

P.p.s.: E logo após a mudança, adivinha qual a primeira coisa que fiz? Peguei um avião e fui trabalhar em... Belo Horizonte!

P.p.p.s.: E depois de ir pra BH eu estou escrevendo este post diretamente da cidade de... Joaçaba, interior de Santa Catarina!!

A Saga do Esquenta

2007-10-12 17:00:07 +0000

Então, como parte da preparação para o BlogCamp MG que rola em novembro, o pessoal resolveu fazer um "esquenta" - um encontro informal num boteco.

Eu, como estou apostando bastante nessa movimentação dos blogs belorizontinos, não ia perder uma coisa dessas, então fui direto do aeroporto (estava chegando do Rio) para o boteco combinado. Cheguei lá umas 22:30.

Do grupo eu conhecia no máximo duas ou três pessoas "ao vivo", mas fora isso o plano era alguém deixar uma "plaquinha" avisando que aquela mesa era a do BlogCamp. Então eu entrei, olhei, procurei... e nada. Aí fiquei "panguando" na porta do lugar por um tempo, olhando pras mesas, vendo se reconhecia alguém. Entrei no meu email (Deus abençoe o Opera Mini!) para ver se alguém havia mandado alguma mensagem, mudando o lugar do encontro ou avisando que havia sido cancelado. Nada. No Twitter, nada também. Tentei ligar pra Bethania, para dar um "abort mission" e pedir a ela pra me buscar, mas o telefone estava desligado (ela estava vendo uma ópera no Palácio das Artes). Aí, não me sobraram muitas outras opções senão achar o pessoal - isso se eles realmente estivessem reunidos em algum lugar.

Era hora do "plano B" - fui pra frente da Cantina do Lucas (um restaurante próximo que fica dentro do prédio e que é menos barulhento e mais seguro) e liguei para a ÚNICA pessoa do grupo que eu sabia o telefone: Jorge Rocha, o Exu Caveira Cover.

Detalhe que eu nunca havia conversado ao telefone com o cidadão até aquele instante:

- Alô, Jorge?
- Sim...
- Aqui é José Carlos... "O Primo"... tudo bem?
- Fala cara, beleza?
- Tranquilo. Onde você está?
- Uhh... em casa?

E mais uma vez eu estava sem opções de como encontrar o pessoal. Mas, de repente, enquanto os punks e demais criaturas mutantes do Edifício Maletta passavam na minha frente, eu tive um outro lampejo de criatividade e bolei um "plano C" - descobrir o telefone de Esparroman.

Esparroman trabalha na mesma empresa que eu, lê meu blog, eu leio o blog dele, e nós NUNCA nos encontramos ou falamos pessoalmente. Acontece que Michael Jackson (o trainee da época de Windturn City) conhecia Esparroman e uma vez me disse o nome real dele. E Esparroman havia dito, na lista de discussão do BlogCamp, que iria ao "esquenta". Acionei o Opera Mini de novo, fui na extranet da nossa empresa e procurei o telefone dele na lista de contatos. E lá estava o nome dele (que, digamos, era "Eduardo").

- Alô, Eduardo?
- É.
- Eduardo... esparroman?
- É.
- Aqui é O Primo...

Momento épico! E ainda tem a diversão adicional de ver ele narrando este mesmo telefonema no blog dele. Mas no fim das contas descobri que Esparroman também não achou o pessoal no boteco e acabou indo parar em outro bar, com uma amiga.

Bethania continuava com o celular desligado, e eu continuava sem opções de achar o pessoal. Aí resolvi usar a última carta da manga, o "plano D". Eu não queria ter que usar o "plano D" porque ele, bem, geraria um certo desconforto. Mas peguei o telefone e disquei:

- Alô, Norton? Bão?
- Bão...
- Cara, posso te fazer uma pergunta muito esquisita?
- Manda.
- Me passa o telefone da sua ex-namorada..?

Pois é. Renata também tinha dito que ia ao "esquenta". Confesso que liguei pra ela esperando uma resposta do tipo "ah, estou em Sete Lagoas jogando Zelda no meu Wii". E qual não foi a minha surpresa quando ela disse:

- Estou no Redentor com o Bressane.

Bingo - o plano D, a última cartada que eu tinha, funcionou. Fui pro Redentor me encontrar com os dois. Foi bem legal. No fim das contas, pelo que entendi, os dois deram o "esquenta" como fracassado e saíram por conta própria. Naquela altura eu também tinha imaginado que todos haviam dado o bolo em todo mundo e que o "esquenta" sequer tinha acontecido.

Aí, hoje de manhã, começam a chegar os emails na lista do BlogCamp e eu não entendi nada:

"Excelente, deve rolar mais esquentas, a galera se entrosou bem e a conversa rolou solta!"

"Até o Carlos, caladinho aqui na lista apareceu!"

Peraí, o troço rolou? Mas eu não vi ninguém lá! E o comentário no email sobre as plaquinhas foi...

"As plaquinhas duraram só até a garrafa de Anisio chegar na metade, daí pra frente nós acabamos indo parar num mundo paralelo e esquecendo de levar as plaquinhas conosco."

Só esclareci o mistério hoje, depois de chamar Camila no GTalk. Ela me contou que, sim, rolou o "esquenta". Mas como o lugar estava "cheio, abafado e barulhento", eles se mudaram de boteco e foram para a Cantina do Lucas, e lá ficaram até pouco antes das onze da noite.

Lembra do quarto parágrafo deste post? A Cantina do Lucas era o lugar onde fiquei telefonando pro pessoal!

Resumo da ópera: aparentemente, eu cheguei por coincidência no lugar onde o grupo do "esquenta" oficial estava e me desencontrei deles por uma questão de minutos. E, por sorte, encontrei Renata e Bressane no que acabou se tornando um "esquenta paralelo". Maravilha!

O dia de aniversário do Primo

2007-10-11 11:23:08 +0000

06:50 - O celular toca Squarepusher e eu acordo. Sem minha mulher do lado, já que estou no Rio, a trabalho.

06:53 - Ao entrar no banheiro eu lembro que, por alguma razão, o pessoal do hotel (Mar Palace Copacabana - logo vocês verão por quê estou citando o nome) me colocou em um quarto para idosos/deficientes, que não tem box. "O banho matinal vai ser uma lambança", pensei.

Banheiro 07:00 - Dito e feito. Depois do banho eu nem consigo usar a pia direito porque tem um lago de água ensaboada correndo entre eu e ela.

07:30 - Frutas frescas, depois ovos mexidos no café da manhã. Adoro café da manhã de hotel. É uma das poucas vantagens de trabalhar viajando.

07:50 - Me encontro com o "Professor", o colega-consultor que vai dar o curso de hoje, e pegamos um táxi. O trabalho de hoje é simples: eu tenho que assistir o treinamento de Gerenciamento de Projetos que o Professor vai dar.

Já é a terceira vez que assisto este treinamento. E, sim, eu vim ao Rio só pra isso. Mas é por uma causa justa: em algumas semanas eu vou me tornar "professor" do treinamento, então tem esse pequeno "calvário" de assistir o curso repetidas vezes como parte da minha formação.

Agora, imagine como é divertido rever por três vezes um treinamento de dois dias sobre um assunto que você está cansado de saber porque trabalha diariamente com ele desde que se tornou consultor...

09:47 - Começa o primeiro exercício em grupo do dia. Eu adoro os exercícios do curso, porque durante o tempo dos exercícios eu posso efetivamente FAZER alguma coisa: bancar o "monitor", passando pelos grupos, ajudando o pessoal, tirando dúvidas e tal.

Só que, enquanto um dos grupos me explicava uma dúvida, eu senti um "encosto", uma presença sobrenatural atrás de mim. Era o Professor, com a cara a apenas alguns centímetros de distância do meu ombro.

Aí, no exato instante em que eu comecei a responder a dúvida do grupo, o instrutor me interrompe e começa a responder ele mesmo. Só que o "interromper" dele significa falar no DOBRO do volume de uma pessoa normal, e com a cara colada no meu pobre ouvidinho.

Depois da terceira interrupção seguida eu desisti de tentar ajudar os grupos.

10:30 - Pra não morrer de tédio, abri o notebook, abri o Excel e comecei a montar um cronograma detalhado do curso, pra usar quando fosse a minha vez de dar o treinamento.

11:30 - Comecei a me empolgar com o cronograma...

15:32 - O que nasceu como "cronograma" acabou virando uma planilha que se atualizava automaticamente, em tempo real, mostrando o ponto onde o curso estava (de verde) e onde deveria estar (em vermelho), e também o atraso estimado, em minutos, em um outro canto da tela.

20071011

O legal é que a coluna "progresso" vai colorindo automaticamente, para mostrar o quanto cada item do cronograma deveria estar concluído. Assim, na hora do curso, você sabe visualmente quanto tempo tem para terminar de ensinar cada assunto.

Sim, eu exagerei. Quem mandou não me deixar tirar as dúvidas dos grupos?

(Update: Quem quiser baixar a planilha, clique aqui)

18:30 - Voltamos para o hotel. Eu até pensei em sair pra jantar num lugar legal, mas sozinho ia ser meio deprê. Aí fui pra internet, ver os scraps de parabéns do Orkut, ler meus feeds, terminar de baixar o Heroes novo, etc.

Só que a internet começou a cair. De cinco em cinco minutos eu dava de cara com a página de login do hotel.

Liguei para a recepção e perguntei o que estava acontecendo. A recepcionista só faltou me mandar pastar:

- Olha, senhor, não tem nada errado. Nesse exato momento tem outros 11 quartos usando a internet e ninguém reclamou. Aqui no lobby mesmo tem um senhor usando o computador há mais de uma hora.

- Tá, mas comigo não funciona. Alguém pode vir aqui e ver o que está acontecendo?

- O técnico da internet já foi embora.

Depois disso eu passei mais de uma hora tentando fazer a internet funcionar. Testei em outros navegadores, tentei com a rede sem fio, tentei com a rede com fio, tentei descobrir a senha da página da administração da intranet do hotel, mas não deu.

21:30 - Pedi meu jantar. Eu sempre me divirto com o inglês macarrônico do menu bilíngue do hotel. Você pode ir ao "looby bar" e pedir uma "ceazar salad" com um "sandwhiche".

22:10 - Ligo de novo para a recepção:

- Eu pedi comida há mais de meia hora e não veio nada ainda!

- É mesmo, senhor?

Eu juro por Deus que o "é mesmo" do cara foi tão sarcástico que a primeira coisa que veio à minha cabeça foi...

20071011_2

23:50 - Depois de comer e ver tevê, fui dormir.

05:30 - Acordo com um pernilongo dando "rasantes" na minha cabeça. Enfiei a cabeça debaixo da colcha, mas ela era muito fina e o pernilongo continuava me sobrevoando.

Passei alguns minutos pensando se era mais vantagem tentar dormir ou matar o maldito pernilongo. Alguns rasantes adicionais e eu decidi ir à caça.

Acendi a luz, botei os óculos e comecei a olhar em volta. O pernilongo eu não vi, mas em compensação, achei uma barata, enorme, passeando pelo chão do quarto. Dei nela uma sapatada e dei graças a Deus pelos rasantes do pernilongo: não fossem eles e eu nem teria visto essa minha "companheira" aí embaixo.

mar palace copacabana

O pior é que já é a segunda vez que eu acordo e dou de cara com baratas no quarto do hotel - a primeira, obviamente, foi em Windturn City.

E, só pra constar, o hotel onde estou é o Mar Palace Copacabana. Viu, Google? Quando indexar esta página, lembre-se: "baratas, Mar Palace Copacabana", ok?

05:40 - Eu não ia conseguir dormir de novo e, como o celular ia despertar daqui a uma hora mesmo, resolvi escrever este post.

P.s.: Veja você, tem mais seis anos de aniversários registrados aqui no blog. Em 2006 eu também estava no Rio, em 2005 eu estava trabalhando no mesmo hospital onde nasci, em 2004 teve festinha com chapeuzinhos da Turma da Mônica e tudo, em 2003 eu escrevi um post "socialmente responsável" que hoje me dá vergonha porque parece emo demais, em 2002 eu não tive tempo nem de almoçar no dia, e em 2001 Luiz ainda postava aqui e me deu um "remix" de aniversário.

A saga do notebook novo - Capítulo Final?

2007-10-03 01:21:14 +0000

Resumo para quem ligou agora seu televisor (os links tem os posts detalhados): tive a idéia super-idiota de comprar um notebook no Mercado Livre. Quase levei um golpe, mas escapei. Aí oito meses depois o notebook novo começou a dar uns paus bizarros que muita gente pelo mundo também está tendo e não achando solução, então encomendei outro computador... que chegou na última sexta.

Assim sendo, este post está sendo escrito direto do notebook novo - um Dell Vostro 1000, comprado pelo site da Dell e "customizado" pra ficar com a mesma configuração do maldito HP Pavilion DV6045nl (série DV6000).

Até agora o notebook novo é só alegrias:

  • Tem garantia "de verdade" de 1 ano - coisa que só se sente falta quando precisa (meu caso);
  • Foi baratíssimo: o modelo mais básico custa R$ 1.700, e minha configuração, praticamente igual a do HP, saiu a uns R$ 1.200 a menos do que paguei (trouxa, trouxa, eu sei, eu sei);
  • Vou pagar em suaves prestações (10x sem juros);
  • É bem mais leve que o HP;
  • Não esquenta como o HP - que mais parecia um George Foreman Grill e era inviável de usar no colo ou por longos períodos;
  • Vem com Windows XP (que, na atualidade, é uma opção muito melhor que o Vista);
  • NÃO vem entulhado de crapware, aqueles programas inúteis que deixam o micro lento e você tem que ficar horas desinstalando.

Na funcionalidade ele está bem, mas por fora... ele é feio pra carvalho. A começar pelo nome: "Vostro"? Como assim? Parece uma palavra escrita errado - e toda hora me lembra a palavra "colostro". E a feiúra do nome reflete na máquina: ele parece um protótipo de chão de fábrica, ou um computador robustecido daqueles que instalam em viatura de polícia, ou simplesmente um notebook que esqueceram de pintar - o que é verdade, já que ele é, basicamente, a "caixa" de vários outros modelos da Dell sem nenhum acabamento.

Notebook Dell Vostro 1000

Também não gostei do teclado, que é meio duro, possivelmente por causa de um tal "revestimento de mylar", contra respingos. Outro ponto negativo são alguns conectores importantes (energia, rede e dois USB) colocados na parte de trás ao invés das laterais, ficando bem ruins de acessar.

O setup inicial foi até rápido - umas quatro ou cinco horas e a maioria dos meus programas do dia-a-dia já estavam "positivos e operantes". Agora é deixar passar um tempo e ver se a minha urucubaca não afeta esse novo notebook. Vou rezar pra Deus, Alá, Iemanjá, Plutão, Kratos e Alanis Morrisette pra não acontecer nada.

Quanto ao notebook maldito, se souberem de alguém que queira comprar um HP Pavilion seminovo e meio lesado (pra aproveitar as peças ou consertar e revender), me avisem aí nos comentários.

O pau do meu notebook é pop

2007-09-22 15:32:41 +0000

Numa boa. Olha o fórum oficial da HP. Olha a média de respostas por tópico. Agora olha a penúltima linha, que é o tópico sobre o meu problema com wireless do notebook...

Eu estou acompanhando o tópico e, via de regra, é assim: o wireless dá pau, o cara liga pro suporte da HP, eles fazem de tudo (incluindo restaurar as configurações de fábrica no computador), nada funciona, eles mandam o notebook pro conserto, o notebook volta funcionando e pára de funcionar de novo depois de algumas semanas. Depois de umas duas idas e vindas para reparo a HP acaba mandando um notebook novinho (outro modelo, obviamente) pra pessoa. É uma solução extrema e cara para a HP, mas é a única que existe.

A cada dia eu me convenço mais de que a série DV6000 da HP é problemática por design. Tipo, o computador foi projetado errado. Não pensaram direito no isolamento térmico.

A saga do notebook novo, parte 2 - No leito de morte

2007-09-10 14:50:04 +0000

No começo do ano eu vivenciei a terrível saga do notebook novo, onde tive a idéia idiota de comprar um notebook pelo Mercado Livre.

A saga havia terminado razoavelmente bem: depois de vários telefonemas, ameaças de processo e da necessidade de acionar contatos em Curitiba para poder trocar o computador pessoalmente (porque, por SEDEX, eu jamais ia vê-lo de novo), eu finalmente estava com meu HP DV6000 (modelo DV6045nl) funcionando.

Os meses se passavam e tudo corria bem. Até que, no meio do mês de julho, eu estava em uma reunião e resolvi checar meus emails. Apertei o botão de ligar o wireless e... nada. Depois de muitos boots e de um extenso diagnóstico no computador, eu comecei a desconfiar que minha plaquinha wireless havia ido pro céu. A confirmação disso veio quando descobri que no site da HP tem um fórum oficial, e o assunto "meu wireless parou de funcionar" é, de longe, o mais popular: o tópico mais popular sobre isso tem mais de 170 respostas de gente dizendo "o meu também" e descrevendo exatamente o mesmo problema que tive.

Acontece que antes de descobrir o fórum da HP eu fiz uma última tentativa de ressuscitar o wireless: baixei a atualização mais recente de BIOS do site oficial e instalei. Acabei tendo que dar um system restore porque o Windows parou de funcionar depois disso.

Durante o longo processo de reinstalar/reconfigurar tudo depois do system restore, o notebook começou a ter problemas pra ligar. Eu só consigo fazê-lo funcionar após o seguinte procedimento:

1) Ligar o computador e verificar que a tela fica preta e ele acende as luzes por uns 10 segundos, apaga todas, acende por mais 10 segundos, apaga, e assim vai, ad infinitum.

2) Quando as luzes ligarem, segurar o botão "power" por 4 segundos, o que força um desligamento. Nem sempre isso funciona, então tenho que tentar várias vezes.

3) Se o desligamento forçado funcionar, tenho que religar o computador em, no máximo, um segundo. Sim, é como se fosse um "tranco". Depois disso ele, eventualmente, funciona.

Como esse "tranco" força o disco rígido eu passei a não desligá-lo mais, porque não tenho certeza que ele vai religar. Pra conseguir vir trabalhar hoje, por exemplo, eu trouxe o notebook ligado, dentro da mochila. No fórum da HP o tópico deste problema está, rapidamente, ganhando popularidade.

Mas espere! Ainda não acabou! Eu já mencionei que o computador fica absurdamente quente? O lugar onde fica a palma da minha mão direita é bem em cima do processador e do disco rígido, os dois maiores produtores de calor do computador. Durante o dia eu me sinto digitando em cima de um George Foreman Grill, tamanho o desconforto. O terceiro maior "esquentadinho" do computador é a placa de vídeo, que fica bem debaixo da plaquinha wireless. Coincidência? Eu acho que não. Pra mim os engenheiros não calcularam bem a dissipação de calor do computador, aí ele esquenta muito e vai estragando aos poucos. Em resumo, o notebook é bichado por design.

Assim, concluo que o notebook está agonizando lentamente e que em breve vai morrer de vez. Se eu quiser garantia, vou precisar ir até Curitiba e espancar um certo Neto Palone (o salafrário que me vendeu o notebook). A minha única saída vai ser vender o computador para alguma assistência técnica que queira "franksteinizar" o computador e aproveitar as partes que ainda funcionam. O preço vai lá pra baixo, mas é melhor do que nada.

Como preciso de notebook pra trabalhar, estou tendo que procurar outro. Até agora a opção vencedora é um Dell Vostro, que está em promoção no site da Dell esta semana, tem nota fiscal e garantia real (sem precisar espancar vendedor) e posso dividir no cartão em zilhões de parcelas, já que a grana anda curta. Pois é. Como dizia o famoso slogan... "dude! I'm getting a Dell!"

The Windturn City Logistics Saga

2007-03-12 21:10:00 +0000

12:29 - Sexta-feira. Eu e Michael Jackson almoçávamos, felizes, no refeitório da fábrica de Windturn City.

A felicidade não era porque estávamos em WTCity, e sim porque, em alguns instantes, um motorista da empresa-cliente estaria nos levando até o Aeroporto de Guarulhos, para embarcar às 16:30. Com sorte, antes das 19h eu estaria no conforto do meu lar...

12:30 - No momento em que eu dava a última garfada, aparece a secretária:

- Gente... já avisaram pra vocês do motorista?
- Uhhh... não, o que ouve?
- É que não tem nenhum motorista pra levar vocês em Guarulhos.

A comida se embolou toda no meu estômago.

- Mas nosso vôo é 16:30... o que a gente faz então?
- Não sei...
- Mas quais são nossas opções?
- Bem, a gente pode deixar a chave do hotel com vocês...
- Não dá, temos que ir embora hoje!
- Pois é, mas eu não posso fazer nada... vocês podem tentar conversar com um dos diretores...

12:45 - Eu e Michael entramos na diretoria, que estava completamente deserta por causa do horário do almoço. Aí fudeu tudo.

Basicamente, estávamos entregues à própria sorte. Nossa única saída era um ônibus para São Paulo que saía às 13:30 de Buraco City, a cidade vizinha. Só precisávamos arrumar algum jeito de chegar em Buraco City. Mas como? Os motoristas estavam todos ocupados, não tem táxi em Windturn City e o ônibus intermunicipal que faz a linha "Windturn-Buraco" não seria rápido o suficiente.

Enquanto pensava nisso, vi o carro do Capitão parado na rua. O Capitão é um dos funcionários da empresa-cliente. Pela posição do carro, ele deveria morar na mesma rua onde estávamos. Ele poderia nos levar até Buraco City a tempo. Só faltava descobrir em qual daquelas casas ele morava...

12:48 - "Ô de casa!! Por favor, o Capitão mora aqui? Não? Tá bom, desculpe..."

Corridinha rápida até o portão do lado:

- Ô de casa!!

12:51 - E finalmente, numa casa cheia de crianças brincando no quintal, apareceu o Capitão. Explicamos o problema e ele rapidamente se prontificou a nos ajudar.

A esposa dele gritou lá da cozinha:

- Benhê, tem que levar os meninos na escola antes!

12:55 - Ficou assim: O Capitão foi dirigindo. No banco do passageiro estava eu, com uma pilha de mochilas coloridas no colo.

No banco de trás, Michael carregava outra pilha de mochilas. E do lado dele estavam esses anjinhos aí embaixo:

Sim, eu sei que foi imprudente deixar Michael Jackson perto de crianças, mas não tínhamos outra opção.

13:02 - Algumas centenas de metros depois (sim, Windturn City é muito pequena) e chegamos na escola. Uma rápida distribuição de mochilas e beijos na testa e a meninada já estava correndo pra sala de aula. Só faltava o Capitão nos levar até a rodoviária de Buraco City.

13:18 - Lá estávamos nós, com o coração na mão, entrando em Buraco City. Mas o Capitão resolveu fazer um caminho alternativo. Era para "tangenciar o centro da cidade" e chegar mais rápido, segundo ele.

Do lado de fora, as placas indicando a rodoviária iam ficando pra trás...

13:27 - Depois de vários "tangenciamentos" a rodoviária, finalmente, apareceu. Mas teríamos que ser rápidos.

Enquanto eu pensava nisso, o Capitão entrou no estacionamento da rodoviária e parou o carro... a uns 100 metros do ônibus.

- Não, Capitão!! Pare mais perto, senão a gente não consegue carregar todas as malas e chegar a tempo!
- Ah, sim! Pode deixar...

Aí o Capitão deu partida e começou a dar meia-volta, pra pegar a rua novamente...

- Não, Capitão!! Vai por dentro do estacionamento mesmo!!

13:31 - Deu tempo. Eu e Michael conseguimos embarcar.

O vôo de Guarulhos sairia às 16:30, mas ele não era mais uma opção. Nesse horário nosso ônibus deveria estar chegando no Terminal Rodoviário Tietê, dentro de São Paulo. De lá, teríamos que ir até o Aeroporto de Congonhas e procurar algum outro vôo para Belo Horizonte.

16:22 - Chegamos na rodoviária e fomos direto para o táxi. Michael perguntou ao taxista:

- Quanto tempo pra chegarmos em Congonhas?
- Uns vinte minutos, se o trânsito estiver bom.

É claro que eu não acreditei. A minha estimativa era passar uma hora, no mínimo, enfiado nos engarrafamentos paulistas. Mas Michael estava esperançoso:

- Cara! Acho que vai dar tempo de entrarmos naquele vôo da Pampulha!

"Aquele vôo da Pampulha" é o famoso e desejado TAM das 17:57, que tem este apelido porque pousa no Aeroporto da Pampulha. Pra quem não sabe, vôos para a Pampulha são raridade: a maioria deles pousa em Confins. A imagem abaixo mostra o quanto isto faz diferença...

16:37 - Eu mal podia acreditar: o tráfego estava fluindo tão bem que já estávamos pertinho do Ibirapuera, a uns 2 ou 3 quilômetros do aeroporto. Aí eu me animei: liguei para a secretária da empresa-cliente e pedi pra ela mudar nosso bilhete para "aquele vôo da Pampulha".

16:39 - O trânsito inteiro parou.

17:02 - Depois de passar os últimos vinte minutos andando a 10km/h, avistamos o aeroporto. O nosso tão sonhado vôo provavelmente encerraria o check-in às 17:10.

Era hora de medidas extremas.

- Michael, vamos ter que descer aqui e atravessar aquela passarela a pé. Vai ser mais rápido do que fazer o retorno e entrar com o táxi no aeroporto.

Por alguma estranha razão, todo mundo estava motivado a conseguir. Até o taxista entrou no clima de desespero:

- Faz sinal de braço aí que eu vou encostar então, vamulá!!

17:04 - O táxi encostou a alguns metros da passarela. Olhei o taxímetro: 36 reais. Catei rapidamente o dinheiro da carteira, joguei em cima do painel e fui descendo para pegar a mala.

O taxista se assustou:

- Peraí que a tarifa aumentou, deixa eu ver a tabelinh...

Joguei mais cinco reais e saí correndo. Desci do carro, fui até o porta-malas, catei minha mala, virei para o lado para chamar o Michael e... ele estava abraçado com uma mulher.

Eu juro por Deus que não era ilusão. O vôo iria fechar em cinco minutos e Michael Jackson estava abraçado com uma desconhecida no meio da rua.

Depois do abraço a mulher olhou bem para o Michael e disse:

- Uhh... desculpe, te confundi com outra pessoa...

17:06 - Eu e Michael largamos a mulher e começamos a subir as escadas da passarela... correndo e segurando as malas sobre as cabeças.

Já que eu sou o chefe da equipe, tomei a iniciativa de gritar algumas palavras de motivação:

- Vambora Michael! Faz valer essa academia que você frequenta todo dia! CORRE!!

Acontece que, graças à visita do Bush, a passarela estava cheia de militares armados. Um deles se assustou e já ia levantando o fuzil pra atirar em nós. Felizmente ele percebeu a tempo que não éramos terroristas malucos.

17:08 - Finalmente chegamos ao saguão do aeroporto, ainda correndo. As minhas costas estavam suadas, a mochila ia saltitando e se esfregando no suor, e as rodinhas da mala giravam loucamente pelo chão, eventualmente acertando um ou outro pé desavisado pelo caminho. E eu ia pensando: "odeio chegar em cima da hora... odeio chegar em cima da hora... odeio..."

Pulei no primeiro guichê da TAM que estava vazio e perguntei, ofegante:

- O vôo da Pampulha já fechou??
- Não, senhor...

Respirei aliviado. A mocinha continuou a resposta, num tom sarcástico:

- Os vôos estão todos atrasados mesmo...

Nestas horas Murphy e suas leis sempre se fazem presentes. Naquele momento valia aquela que diz: "O atraso do seu vôo é diretamente proporcional ao esforço que você faz para chegar no horário". A mocinha fez nossos check-ins e fomos embora, suados, cansados, mas embarcados. Então Michael disse:

- Acho que você nem notou né?
- O quê?
- Você furou a fila de deficiente físico pra fazer o check-in...

19:40 - Depois de fazer um lanche, trabalhar um pouco, conversar fiado, ver o Lima Duarte e a Feiticeira, o embarque do nosso vôo finalmente começou. Decolamos lá pelas 20h e às 21h eu, finalmente, pousei em Belo Horizonte...

A saga do notebook novo

2007-03-06 05:03:00 +0000

Eu estava devendo este post já faz um tempo. É uma história loooonga e triste, mas que acabou (razoavelmente) bem.

É o seguinte: no começo do ano eu resolvi comprar um notebook novo pra mim. Afinal, meu fiel Toshiba Satellite já apresentava as bicheiras normais da idade avançada (relatadas aqui), e desde antes do casamento eu já estava com vontade de ter uma máquina mais poderosa, pra poder jogar Doom 3 no aeroporto abrir mais facilmente aqueles arquivos Excel de trabalho que tem 10 MB :)

Muita pesquisa depois, optei por um HP Pavilion dv6045nr. Só faltava decidir onde comprar. E é neste ponto que eu tive a idéia mais imbecil de toda a minha vida: comprar pelo Mercado Livre.

Sim, eu sei, podem me xingar porque eu mereço. Não sei que espírito maligno tomou conta de mim e me fez ter essa idéia de jirico, porque toda vida eu sempre achei o ML um covil de caloteiros. Mas aí Bethania comprou meus (deliciosos) fones Shure E3C usando o ML, e eles vieram do Japão até a porta da minha casa sem problemas, e aí o jumento aqui começou a achar que o ML podia ser uma boa opção por causa dos preços. Acabou que, com todo o gasto extra que tive, dava pra comprar o mesmo computador na Americanas.com. Parcelado, direitinho, com garantia...

Enfim: na segunda quinzena de janeiro dei o lance fatídico numa oferta do usuário ARPALONE, de Curitiba, que até parecia honesto com 96% de avaliações positivas no ML, medalhinha e tudo. Até site pra vender online o cara tem. No dia seguinte ao lance, todo gentil, ele respondeu meus emails, combinamos pagamento e envio via Sedex a cobrar - por segurança (aff...), pra eu pagar só ao retirar nos Correios - e, alguns dias depois, tinha uma caixa grandona lá em casa.

Eu nem bem comecei a abrir a caixa e me bateu um péssimo pressentimento, confirmado instantes depois. O computador estava lá, mas:

1) O modelo era diferente do que eu encomendei, e...
2) O notebook era USADO, e tinha sido até aberto/desmontado!!

Fisicamente, o modelo que encomendei (dv6045) é idêntico ao o cara enviou (dv6058). A única (e sutil) diferença é o processador mais lento: 1,6 GHz, em vez de 1,8 GHz. E os indicativos de que o notebook tinha sido mexido eram bem discretos: tampa mal encaixada, arranhões nas costas do LCD, marcas de chave de fenda nas laterais... um cara mais trouxa cairia fácil no golpe. Mas um cara realmente inteligente JAMAIS compraria notebook no Mercado Livre, então digamos que ele estava pegando o "semi-trouxa" que aqui vos fala.

Bem, no dia seguinte (um sábado) liguei pro cara. Atendeu um tal Marcelo. Educadamente, expliquei que me mandaram o modelo errado e que o micro era usado. Marcelo disse que foi um engano, que foi o sobrinho dele (chamado Neto) que errou na hora de enviar e que ele ia falar com ele pra fazer a troca. Cortei na hora dizendo que queria é meu dinheiro de volta. E as canelas cabeludas das pernas curtas das mentiras dele começaram a aparecer:

- Então tá, te devolvo seu dinheiro na sexta que vem.
- Sexta não, quero esse dinheiro na segunda-feira.
- Num dá, eu não tenho o dinheiro, tenho que esperar o tempo de compensação do Sedex a cobrar, que é de cinco dias, aí eu recebo seu dinheiro e te devolvo.
- Ok, e você não tem mais NENHUM dinheiro em caixa pra devolver pra mim?
- Não tenho não.
- E você quer que eu acredite nisso?? Vocês tem uma penca de anúncios no ML, vendem computadores o tempo todo, e não sobra NENHUM dinheiro no caixa?

A discussão foi esquentando até que eu disse que iria ter que "negativá-lo", ou seja, tacar uma avaliação negativa no ML indicando problemas na negociação (e melando um bocado a reputação dele). Nessa hora ele encrespou e disse:

- Se você me negativar, nunca mais vai ver a cor do seu dinheiro.

Pois é. Se arrependimento matasse eu tinha morrido e reencarnado umas três vezes, logo depois daquela frase. Naquele ponto ficou óbvio que a coisa toda era golpe. Mas continuei discutindo: Marcelo, irritado, não arredava pé e só devolveria meu dinheiro sexta-feira. Aí, na hora que ele ia desligar o telefone, eu percebi um detalhe:

- Marcelo, peraí.
- O quê?
- Como é que você vai me devolver o dinheiro sendo que nem pegou o número da minha conta-corrente?

"Owned", diriam os gringos. Ele ficou possesso:

- Ué! Eu não desliguei ainda!! Tá vendo? Ainda tou falando com você!!
- Mas se eu não dissesse nada nós dois sabemos o que ia acontecer, não é?

O resto da discussão não deu em nada, ele continuou com o papo de que "entrava em contato" até sexta-feira, desligou e passou a não atender mais o telefone. Provavelmente marcou o meu número no identificador de chamadas dele.

Na segunda-feira seguinte eu estava no Rio e liguei de novo. Só assim, usando outro número de telefone fixo, consegui que alguém atendesse o telefone. Dessa vez era o tal "Neto". Ele disse que ficou sabendo do problema e já estava providenciando a troca. Repeti que não aceitava troca e queria o dinheiro de volta, e o Neto disse que isso era "impossível". E tome briga telefônica, tudo de novo. Irritado, ele veio com um papo de que ia conversar com o Marcelo e depois me retornava.

Deixei que ele quase desligasse o telefone e...

- Peraí Neto.
- O que foi?
- Como é que você vai me ligar se já está desligando e nem pediu meu número de telefone?
- Er... peraí só um instante...

E desligou. E adivinhe só? Também passou a não atender mais o telefone...

À noite liguei para o Léo, um amigo que é advogado e que me deu um atendimento totalmente VIP sobre como eu devia proceder judicialmente (valeu demais, Léo!). No entanto a recomendação dele era a de que eu esgotasse, primeiro, a negociação normal. Então resolvi me "armar" pra ela, e fui direto pedir ajuda ao Tio Google.

Algumas horas de pesquisa e eu tinha o Orkut dele, sabia que ele fez Engenharia Elétrica (um professor deixou as notas na web. Ele tomou pau em "introdução à programação", coitado), e o mais importante: achei o endereço e telefone vinculados ao website deles (usando o registro.br e a lista telefônica online de Curitiba)...

No dia seguinte, usando este novo telefone, consegui que ele me atendesse. A desculpa de que o outro telefone não atende é que a loja (fantasma) dele não abre antes das 10:30. Sem cerimônias, avisei que havia ligado para meu advogado e que eles seriam notificados judicialmente porque estavam agindo de má fé. Ele veio com um "deixa disso", dizendo que era só mandar o computador que ele trocava. Respondi:

- Cê tá brincando né? E que garantia eu tenho de que vocês não vão sumir com o computador e nunca mais me dar retorno?
- Manda só o micro e fica com a nota fiscal, como garantia - disse ele.
- Mas a nota fiscal que você me mandou não tem validade nenhuma!!
- Claro que tem! Pergunta esse seu advogado aí, eu também sou advogado, eu entendo disso!

Viu só a outra perna curta da mentira aparecendo? Não perdi a chance:

- Advogado? Pensei que você estudava engenharia elétrica...

Gaguejando, o Neto respondeu:

- E-eu sou advogado mas também fez engenharia. E como você sabe disso??
- Tenho meus meios... - respondi, com um sorrisinho no canto da boca.
- E-eu também tenho os meus, viu! - Disse ele de volta, tentando segurar os cacos da mentira.

Mesmo assim a negociação, de novo, não deu em nada.

A essa altura a maioria dos meus amigos e colegas de trabalho já sabia do que estava acontecendo, e todos estavam sendo bastante solidários comigo. Pelo MSN, Luiz deu uma boa sugestão: mandar o computador para alguém em Curitiba, que poderia levá-lo até o Neto e trocá-lo em pessoa. Papo vai, papo vem, descobri que tinha um consultor, conhecido do meu chefe (mas que eu não conhecia), chamado Theóphilo, alocado num projeto justamente em Curitiba. Liguei pra ele na cara dura, contei a história e fiquei surpreso com a boa-vontade dele, que se prontificou na hora a me ajudar.

No dia seguinte eu fui para Windturn City. Como meu DDD e telefone fixo mudaram, consegui que o Neto me atendesse mais uma vez. Expliquei que iria mandar o computador para um amigo, que o trocaria pessoalmente. E ainda sobrou espaço para mais uma mentirinha do Neto, que disse:

- Tá certo. Eu só preciso de uns dois dias pra minha importadora em São Paulo me enviar o computador.
- São Paulo?
- É, São Paulo...
- Pô, sexta-feira eu vou passar por São Paulo, me fala o endereço da importadora que eu passo lá!
- Num dá...
- Que porra é essa de "não dá"??
- É que não tem equipe de vendas lá, é só um funcionário...
- Porra, liga pro tal funcionário e fala que eu vou lá ué!
- Errr, não dá, tem que mandar pra cá mesmo...

Obviamente não existia importadora em São Paulo. O porquê desta mentira adicional eu só entendi no final da história toda.

Mandei o computador para o Theóphilo trocar. Por email, o Neto pediu mais dois dias para "receber os computadores da importadora". Mas a enrolação toda acabou quando recebi um telefonema, na noite de quarta-feira, 07 de fevereiro: era o Theóphilo avisando que tinha acabado de trocar os notebooks. Segundo ele, dessa vez o Neto entregou o micro certo - e novo.

E, pela primeira vez em mais de três semanas, eu consegui dormir tranquilo.

Neste ponto algumas mentiras já tinham caído por terra: Como eu esperava, não havia loja nenhuma, o tal Neto era um playboy bombadinho que atendeu o Theóphilo em seu apartamento de classe média-alta. Segundo ele, o quarto do tal Neto era cheio de gadgets e eletrônicos caros: TV de plasma, home theater, o escambau.

Com o notebook em mãos, só faltava entrar no Mercado Livre e, enfim, "negativar" o salafrário. Qual não foi a minha surpresa ao ver que o prazo para negativá-lo tinha vencido, e que ELE tinha avaliado a negociação como "neutra" dizendo que a venda não foi concretizada. Só então o burro aqui entendeu por que ele estava demorando pra fazer a troca do computador: é que assim ele evita ser negativado, já que se eu o negativasse antes de trocar o notebook, "jamais veria a cor do dinheiro"... lembram?

E foi assim que acabou. Apesar de estar digitando este post no notebook novo, continuo me sentindo enganado. E, enquanto isso, ele continua aplicando seus golpes naqueles cuja burrice é igual ou maior à minha.

Se quiserem usar os comentários pra me xingar, estejam à vontade. Eu mereço...

Update: Esqueci de mencionar que durante esta saga encontrei o site veja.org, que é um ponto de encontro onde os lesados pelo Mercado Livre podem contar suas histórias. É bom para pesquisar nomes de usuários do ML que já lesaram alguém. Infelizmente o ARPALONE que me vendeu o notebook não está citado lá, mas já estou tomando providências quanto a isso...

The Windturn City meeting saga

2007-02-15 18:57:00 +0000

Parte um: A viagem

Terça-feira. Era dia de eu me enfiar num ônibus para fazer uma reunião importantíssima em Windturn City.

O ônibus saía às seis da tarde. Eu cheguei na rodoviária faltando cinco minutos para as seis.

Quatro minutos para as seis e eu ainda estava correndo, arrastando a mala e com mochila nas costas, para atravessar a plataforma da rodoviária, chegar até o guichê e comprar uma passagem. No meio do caminho eu passei pelo ônibus, de motor ligado, e com o motorista já se preparando pra sair. Medo.

Três minutos para as seis e eu estava furando a fila do guichê para comprar as passagens. Gritei pro balconista:

- Pelo amor de Deus, me vende uma passagem pro ônibus das seis!
- Compra direto com o motorista lá embaixo que é mais rápido - disse o balconista.

Beleza. Basicamente, eu corri até o guichê sem necessidade, gastando preciosos segundos.

Dois minutos para as seis e eu estava no portãozinho do início da rampa que ziguezagueia até o andar de baixo, aonde estava o meu ônibus. No portãozinho tinha uma roleta e um funcionário:

- A passagem, por favor.
- Eu vou comprar com o motorista, abre pra mim!
- Não, precisa ter a passagem...
- Mas eu vou comprar com o motorista!! Abre peloamordedeus, o ônibus tá saindo!!
- Não, tem que ir ali no guichê.
- Mas eu ACABEI de vir do guichê!
- Não, aquele guichê ali...

E apontou para um outro guichê de acesso à rampa que leva aos ônibus. Eu não entendi direito por causa da pressa, mas acho que era um guichê onde gente sem passagem - acompanhantes de passageiros - pagam uma taxa pra poder descer até a plataforma de embarque.

Faltava só um minuto para as seis. Tinha um velhinho na fila do guichê. Eu pulei NA FRENTE DELE e gritei pra atendente:

- Quanto é??
- R$ 1,25...

Enquanto eu pegava o dinheiro da carteira, o velhinho disse um "dá licença" meio azedo e passou na minha frente. Joguei uma nota de R$ 2 dentro do guichê e passei voando pela roleta.

Já eram seis horas quando comecei a descer a rampa. Olhei pra baixo e vi o motorista fechando a porta do ônibus. Era hora de medidas extremas. Abri mão do resto de dignidade que ainda tinha e comecei a assobiar e gritar para chamar a atenção do motorista. A parte do "chamar a atenção" funcionou, porque todo o resto das pessoas na rodoviária percebeu, deu uns gritinhos de "aee atrasado!" e tal. Mas o motorista não estava nem aí e começou a arrancar com o ônibus.

Depois de ziguezaguear a rampa toda eu finalmente consegui pular na frente do ônibus e acenar pro motorista. Só então ele abriu a porta e eu, felizmente, embarquei.

Era o ponto de partida daquela que seria a pior viagem de ônibus da minha carreira de consultoria.

Fisicamente a minha situação não era boa: eu estava saindo de uma intoxicação alimentar maluca, com diarréia, cólicas, febre de 39 graus e tudo. Pra dar uma idéia da gravidade da coisa basta mencionar duas coisas:

1) Eu passei a madrugada do sábado na enfermaria do hospital, tomando remédio na veia, e...
2) Durante a febre, meu cérebro começou a dar pau e eu cantarolava sem parar um trecho de uma música da Wanessa Camargo:

"Vou me arrepender de-poix
Mas eu não resisto a nóix doix... ooooh nããão..."

Na segunda eu já estava bem melhor, mas a tensão dos últimos dois dias (e todo meu tempo de bunda-na-cadeira) acabou virando uma dor horrível nas minhas costas. Imagine o que é ficar num ônibus, por quatro horas, com as costas doendo a cada sacolejada do balaio. Mesmo depois de chegar no hotel, mesmo deitado e imóvel, as costas continuavam doendo. Comecei a ter febre novamente. Era hora de medidas extremas.

Então rezei pra que a dor passasse. A prece funcionou. Recebi uma iluminação divina que me disse assim:

"Seu burro, lembra que tem uns comprimidos de Novalgina na sua mochila?"

Tomei um deles. Por volta de uma da manhã a dor DESAPARECEU. Foi uma delícia, foi como um orgasmo ao contrário.

Parte dois: A reunião

Às seis da manhã meu celular tocou Tommib, música do Squarepusher que está na trilha sonora do filme Encontros e Desencontros. É o toque que uso como despertador. Eu me senti um pouco Bob Harris mesmo, perdido num lugar estranho e sofrendo de jet bus lag.

Passamos a manhã toda nos preparando para a bendita reunião. Às duas da tarde, nosso consultor-líder subiu no palco e começou a apresentar o PowerPoint que me ocupou durante as últimas madrugadas.

Era o ponto de partida daquela que seria a reunião mais bizarra da minha carreira de consultoria.

A primeira bizarrice começou no slide número sete, que mostrava a previsão de gastos com os projetos para o ano de 2007. O presidente da empresa se levantou da cadeira e gritou:

- Eu NÃO CONCORDO com esses números!!

Todo mundo gelou, especialmente eu, que passei os últimos dias debruçado exatamente em cima daqueles números.

- Nós já enfiamos num-sei-quantos milhões nestes projetos no ano passado e vocês ainda dizem que precisam de mais?!?!?

Aí eu respirei aliviado. Na verdade ele não entendeu que os projetos atrasaram e que o dinheiro mostrado ali era pra concluir o planejamento de 2006. O vice-presidente tentou acalmá-lo e explicar o mal entendido, mas não adiantou. Ele estava furioso. A saliva se acumulava nos cantos da boca enquanto ele vociferava. Até que num determinado momento ele disse:

- Sabe por que isso está assim? Porque essa empresa não tem dono!!

Sim, é isso mesmo. O dono da empresa reclamando que a empresa não tinha dono. Ele reclamou mais algumas coisas e, para espanto geral, saiu da reunião e não voltou mais. Acho que este foi o momento mais "what the fuck" da minha carreira.

Aí o consultor-líder foi embora (tinha um vôo pra pegar) e o resto da reunião foi conduzida por mim. As minhas costas estavam doendo de novo, o pessoal questionava os números, todo mundo falava ao mesmo tempo. Foi um pandemônio. E no meio do caos Michael Jackson ainda me interrompia para fazer perguntas altamente significativas, do tipo: "quer que desligue o datashow?"...

No final o vice-presidente foi dizer algumas palavras e acabou dando uma palestra de 30 minutos. Foi assim:

Começou pedindo a todo mundo que tivesse "calma"
Contou que a mulher dele reclamou que ele anda dizendo muito palavrão. "É a minha válvula de escape para o stress", disse ele.
Fez um ranking detalhado dos diretores mais "explosivos" da empresa: "Primeiro vem o fulano, sem dúvida. Esse é hours concours. Depois o ciclano"...
Comentou que estava louco pra ir fazer a caminhada noturna de sempre com o presidente, pra ouvir ele desabafar e tal.
Gastou alguns clichês motivacionais, dizendo coisas do tipo "vamos ganhar essa guerra".
Encerrou dizendo: "Muita paz e muita felicidade para todos vocês!"

Foi uma coisa surreal. Mitológica, até. Mas não deu tempo de aproveitar o pós-reunião porque eu tinha que pegar um ônibus na cidade vizinha e voltar pro Rio. Tomei outra novalgina, entrei no táxi e tive outro orgasmo invertido enquanto a dor nas costas passava com o efeito do remédio.

O ônibus ia parar num daqueles postos de gasolina metidos a besta, com restaurantes, lojinhas e tal. Tudo que eu precisava fazer era comprar uma passagem e esquecer o sofrimento dos últimos dias. Aí fui até o guichê, abri minha carteira... e não tinha NENHUM REAL dentro dela.

- Moça... me diz que você aceita cheque, por favor...
- Não - respondeu ela, rindo.
- Então, por favor, me diz que tem um caixa eletrônico aqui perto...
- Tem um ali atrás...

Era um do Banco 24 Horas. Meti meu cartão nele e pensei: "só falta não estar funcionando". Adivinha...

Felizmente, o gerente do restaurante foi extremamente legal comigo, passou R$ 50 no meu cartão de crédito e me deu o dinheiro. Comprei a passagem, entrei no ônibus e tive uma grata surpresa: ele era bem espaçoso, tinha cobertores, travesseiros e uma TV que passava filmes durante a viagem. Pensei que, finalmente, meu sofrimento havia acabado.

Aí o filme começou. Era Batman e Robin... dublado!

Um email

2006-07-27 20:02:00 +0000

Para: "Fale Conosco" da Tok&Stok ([email protected])

Prezados,

Acho que vocês sabem como é realizar sonhos. Fazer planos, ter idéias, se preparar, criar coragem e perseguir seu objetivo. Sonhos tornam a existência de qualquer pessoa um pouco mais mágica.

Já pararam pra pensar quantos sonhos a Tok&Stok viabiliza? Vocês não vendem simplesmente uma mesa, uma cama ou uma cadeira: muitas vezes vocês vendem o item que faltava pra construir um quarto ou uma sala dos sonhos de alguém.

Foi assim comigo e com a minha noiva. Meu casamento é daqui a dezesseis dias e estamos nos últimos detalhes de decoração do nosso futuro lar. Decoramos todos os cômodos do jeitinho do nosso sonho, com as cores que desejávamos e os móveis mais bonitos que encontramos. Não sei se quem vai ler este email é casado(a) ou não, mas acredite: construir um sonho deste tamanho junto com alguém que se ama é uma das maiores alegrias deste mundo.

Só faltava uma mesa para o escritório. Curiosamente, um item simples como esse estava dando muito trabalho: perdi a conta de quantas lojas percorremos procurando uma boa mesa. Todas elas eram medonhas. Algumas eram tão feias que pareciam que iriam pular em cima de você e devorar o seu fígado (é sério!).

Até que passamos pela Tok&Stok aqui de Belo Horizonte e encontramos uma mesa modelo Cross (cód. CROSSMCT). Foi um alívio para nossos joelhos cansados de perambular pela cidade. Era a mesa perfeita! Bem, na verdade seria, não fosse por um detalhe: o preço. Não que ela seja cara, mas faltavam duas semanas para o casamento, tudo que podíamos (e não podíamos) ter gasto já tinha sido pago, e a mesa estava um pouco acima das nossas possibilidades. E aí é que começa o problema...

Até então nós havíamos conseguido negociar o preço de TUDO que compramos para nossa nova casa. Absolutamente tudo. Choramos desconto na geladeira, pedimos um precinho melhor no colchão... até quantias minúsculas, como 10 reais a menos no preço de um varal, a gente pechinchou. O preço de TODOS os nossos móveis foi negociado. Era bom pra todo mundo: saíamos das lojas felizes porque compramos a cama ou o sofá dos nossos sonhos a um preço melhor, e a loja ficava contente com um dinheiro extra no caixa. Mas na Tok&Stok, para meu espanto, eu fui informado que mesmo numa compra daquele valor eu não teria como conseguir nenhum tipo de desconto à vista, no máximo um parcelamento dito "sem juros" (sejamos francos: os juros já estão embutidos no preço. Ou isso, ou vocês precisam de um novo gerente comercial)...

Eu insisti muito com a vendedora. Queríamos muito aquela mesa, tanto que eu me ofereci até para levar a que estava no mostruário por um preço menor. Mas não teve jeito.

Foi um balde de água fria no sonho do nosso escritório. Era um contrasenso: a melhor loja de móveis que visitamos era a que tinha a pior condição comercial. Mas não tinha jeito: a mesa dos nossos sonhos não podia ser outra. Era a que estava lá no showroom de vocês.

Assim, foi com um sentimento de derrota que voltei à Tok&Stok para comprar a mesa. Não foi com aquela alegria gostosa de estar realizando um sonho. Pra piorar, precisávamos comprar também um gaveteiro para acompanhar a mesa. Pelo menos achamos um daqueles "últimos itens" cujo preço já tinha baixado, porque o gaveteiro sugerido para acompanhar a mesa custava quase o mesmo que ela. O vendedor nos instruiu (muito bem, por sinal) a pagar o "preço casa" (incluindo montagem e entrega) para o gaveteiro, pois a montagem era complexa e podia estragá-lo.

Quando eu estava quase me conformando com a situação, o vendedor nos mostrou as opções de puxadores para o gaveteiro. Após escolhermos, ele disse a coisa mais ultrajante que já ouvi:

- A taxa de entrega para cada puxador é de um real.

Em todos os meus vinte e sete anos de vida eu nunca havia ouvido um absurdo como aquele. Reflita comigo: eu queria realizar um sonho de ter um móvel legal no escritório, e até agora estava pagando o dobro do que queria, numa condição comercial que poderia ser resumida como "do nosso jeito ou de jeito nenhum", e ainda teria que pagar um real de taxa de entrega para os puxadores do móvel.

Na semana anterior, em outra loja, nós tínhamos comprado uma cômoda para o quarto, com 10% de desconto à vista e com várias modificações personalizadas no acabamento (incluindo seis puxadores!) que graças à boa vontade da vendedora foram feitas sem custo. Mas na Tok&Stok, infelizmente, era diferente.

Acabei aprendendo, do pior jeito possível, a nunca mais comprar nada na Tok&Stok.

Este email é só pra contar como foi que o sonho de uma mesa legal no nosso lar tornou-se uma história que contarei a meus amigos com uma expressão desanimada no rosto. Ah, antes que me esqueça: tomei a liberdade de reproduzir uma cópia desta carta em meu blog.

Atenciosamente,

José Carlos

O Primo vs. Caixa Econômica

2006-07-11 21:33:00 +0000

Casório tá chegando: Faltam 32 dias...

Semana passada eu ganhei um presente de casamento da minha finada mãe: foi uma correção de saldo de FGTS dela, do antigo Plano Verão, que saiu numa decisão judicial. Eu, minha irmã e meu pai tínhamos direito a receber uma parte do valor, só precisávamos ir numa agência da Caixa pra receber.

Hoje eu fui numa agência tentar sacar o dinheiro. Fiquei quarenta e cinco minutos na fila do, er... caixa da Caixa, e ele me disse que não estava liberado. Aí fiquei mais quarenta e cinco minutos na fila do guichê do FGTS. A mulherzinha me atendeu e, meia hora depois, me disse que não podia liberar o saque enquanto eu não comprovasse o vínculo empregatício da minha mãe com as empresas onde ela trabalhou... em 1970. "A carteira de trabalho dela serve", me disse a atendente.

Observe que eu precisava de um documento de uma pessoa morta há quase dez anos, para comprovar algo completamente inútil: afinal, teriam as empresas recolhido FGTS pra minha mãe apenas por caridade, sem que ela trabalhasse nelas? A atendente achava que sim. Pra piorar, meu pai já tinha conseguido, em outra agência, liberar o saque da parte do dinheiro que era dele sem essas canseiras.

O problema só se resolveu quando eu virei pra atendente e disse que não levantaria daquela cadeira enquanto ela não liberasse o saque.

No total eu fiquei duas horas e meia na agência. Agora, só preciso voltar semana que vem, encarar novamente a fila de 45 minutos do caixa, e tirar o dinheiro...

O Primo NÃO recomenda - Ticketmaster

2006-07-05 18:09:00 +0000

Não, peraí, vou repetir:

O Primo NÃO RECOMENDA DE JEITO NENHUM e está a fim de processar a Ticketmaster

Pronto. Agora posso contar a minha história.

Na última quarta-feira eu acessei o Ticketmaster pra comprar quatro ingressos para o Cirque du Soleil; dois pra mim e Bethania, e dois pra um casal de amigos. Combinamos de passar o feriado de Finados no Rio, fazer um turisminho básico (afinal eu só vou lá a trabalho e ainda não conheço nada), e assistir ao espetáculo.

Fazer a compra foi um suplício, já que o Ticketmaster é, sem dúvida, um dos sites de e-commerce mais confusos da internet brasileira. Ele é lacônico nas instruções, abre popup em cima de popup, complica coisas simples (como a compra de "inteiras" e "meias" num mesmo pedido), e por aí vai. Neste ponto eu já estava insatisfeito o suficiente pra escrever um post "desrecomendando" o Ticketmaster. Mal sabia eu...

Quando eu ia finalmente terminando, notei que a "taxa de conveniência" (conveniência?? mal sabia eu!) que eles cobravam era de R$ 140. Veja bem, CENTO E QUARENTA reais, 20% do valor dos ingressos. E não é só isso, tem também mais R$ 6 de "taxa para retirada dos ingressos no balcão no dia do evento"(*). Aí desisti e, como contei há alguns dias, tentei comprar os ingressos pessoalmente na quinta-feira, mas a fila me fez voltar à internet e pagar essa roubação em forma de taxa.

Recebi a confirmação do pedido por email, que dizia o seguinte:

"ATENÇÃO: Sua compra estará sujeita a confirmação do pagamento do cartão de crédito e a disponibilidade de lugares em nosso sistema. Sua confirmação de venda deverá ser enviada em um prazo máximo de 3 dias úteis, por e-mail ou telefone."

Ontem era o quarto dia útil e eu não tinha recebido nada. Acessei o site, tentei fazer o login com o email que usei na compra dos ingressos, botei a senha, e deu "senha inválida". Estranhei, fui no "esqueci a senha" pra ele me mandar o lembrete da senha por e-mail, e deu "E-mail não cadastrado".

Gastei uns cinco minutos procurando um telefone de contato no site, desisti, liguei pro tele-vendas e só lá, escondido nos menus, achei o telefone do SAC (que é (11)6846-6200).

Liguei para o SAC e fiquei uns dez minutos esperando pra ser atendido. A sorte é que eu estava em São Paulo, caso contrário seriam 10 minutos de interurbano pra onerar ainda mais meu pobre bolso judiado pelo casamento. Quando finalmente consegui falar, a atendente me disse:

- É que seu pedido foi recusado, senhor.
- Como é que é??
- Foi recusado, senhor.
- E ninguém me avisa disso não??
- Pois é, seu pedido foi recusado, provavelmente por algum problema de cadastro ou no cartão...

Note que ela fica repetindo a primeira resposta e ignora o que eu disse. Isso aconteceu em todas as vezes que liguei pra lá, com três atendentes diferentes. É extremamente irritante, principalmente quando é sobre uma compra de mais de R$ 800 em ingressos que naquela altura já estavam esgotados e que foi cancelada sem aviso.

Pra piorar, perguntei a atendente porque diabos eu não conseguia nem entrar no site pra ver o status do pedido. A resposta que recebi foi a coisa mais espetacular que já ouvi:

- É que quando um pedido é recusado o sistema apaga o cliente do cadastro do site...

Eu juro que, depois de ouvir essa frase, fiquei dez segundos paralisado, segurando o telefone, sem conseguir dizer nada. Eu nunca havia me sentido tão ridicularizado em toda a minha vida. Era como se eu estivesse em pessoa, na bilheteria, comprando os ingressos, e de repente dois seguranças me agarrassem e me chutassem pra fora da fila.

Pelo MSN, Bethania sugeriu ligar para a Visa e ver se foi problema no limite do meu cartão de crédito. A resposta deles?

- Senhor, não consta nenhuma operação recusada no seu cartão...
- Mas olha aí direitinho, na última quinta-feira... ou nos dias subsequentes...
- Pois é senhor, não tem nenhuma.

Ou seja, meu pedido foi recusado e sequer tentaram fazer a compra. Eu mal podia acreditar. Liguei de novo pro SAC do Ticketmaster. Dessa vez foram vinte minutos de espera. Expliquei a situação pela segunda vez, contei que liguei para a Visa e tal. E achei que não tinha jeito da coisa ficar pior.

Mas eu subestimei a incompetência do Ticketmaster...

- Senhor, consta aqui que o pedido foi cancelado pelo senhor mesmo, por telefone, na última segunda-feira...

Aí eu perdi a paciência por completo e comecei a gritar no telefone como nunca havia gritado antes. Nem da vez que precisei ligar 52 vezes pra Oi eu fiquei tão nervoso.

- Minha filha, você ficou maluca??? De onde você tirou que eu cancelei esse pedido??? Me prove que eu liguei pra vocês!! Vocês não gravam as ligações?? Provem AGORA!! QUERO VER!!!
- Senhor, peço que mantenha o nível dessa conversa...

Já não dava mais. Quanto mais eu perguntava, pior ficava:

- Senhor, me fala o que você está fazendo de errado pra entrar no site e ver o status do seu pedido que eu te ajudo...
- De onde você tirou que sou eu que estou fazendo coisa errada??? Vocês que sumiram com meu cadastro!!!
- Mas o cadastro está aqui, o email é [email protected]...
- Hein??
- carolina xis - ipsilon - zê arroba rótimêio...
- Meu email NÃO É ESSE!!!
- Mas está aqui, o endereço é "Estrada da Vendinha número xis, Barra da Guaratiba, Rio de Janeiro"...
- Eu moro em BELO HORIZONTE!! Esse cadastro aí é outro!!!
- Bom, mas nós não temos como alterar os dados aqui no sistema, ele é só pra consulta.
- Minha filha!!! Este NÃO É MEU ENDEREÇO!!!!
- Sim, mas nós não temos como alterar os dados aqui no sistema...
- Dãããã! Isso você já me disse! Não quero nem saber, quero saber onde estão os ingressos!
- Mas foi cancelado, senhor...
- Eu quero falar com a sua supervisora.
- Ela vai lhe dar as mesmas informações que eu, senhor.
- Eu quero falar com a sua supervisora!!
- Ela vai lhe dar as mesmas inf...
- EU QUERO A SUA SUPERVISORA AGORA!!

Recomecei o papo com a supervisora, dessa vez segurando pra não mandá-la pra aquele lugar. Ela veio com o mesmo papo que eu é que havia cancelado, eu expliquei de novo que sequer tinha ligado pra eles e que eles é que tinham sumido com meu pedido e com meu cadastro, ela me deixou na espera por uns dois minutos e, no final, disse:

- Bom, senhor, acabei de ter uma desistência de quatro lugares aqui, me confirma seu email e endereço corretos por favor...

Que conveniente... "desistência" agora significa "putz, fizemos uma bela cagada e vamos te arrumar assentos senão você nos processa"...

No final a supervisora até admitiu que o pau no meu cadastro tinha sido por erro de sistema mesmo, contradizendo as duas informações anteriores. Não peguei mais detalhes na hora porque precisava correr pro aeroporto (onde, por sinal, perdi o vôo).

Hoje de manhã chegaram novos emails do Ticketmaster, confirmando o novo pedido e, algumas horas depois, confirmando a compra. Agora é rezar para que nada mais dê errado até o dia do show. E aprendi a lição: "Jamais comprarás do Ticketmaster". Aprenda você também.

(*) - E ainda me cobraram essa taxa em duplicidade, mas ainda estou criando coragem pra ligar pra lá novamente.

O Primo's Casamento Saga

2006-04-01 06:31:00 +0000

(Putz, ficou horrível o título)

Por alguma estranha razão eu ainda não contei muito sobre a minha saga mais importante: a dos preparativos para o casamento.

Bom, vamos a algumas historinhas:

A reforma infinita devoradora de dinheiros

O primeiro apartamento da família, onde passei a minha infância, foi escolhido pra ser a minha nova casa após o casório. Ele é mais velho que eu e estava alugado, então era só pintar e dar uma ajeitadinha nos armários e ele ficaria perfeito.

Mas só na minha mente inocente. A "reforminha" começou em janeiro, ainda não acabou, e o que gastamos já é 166% do que foi orçado.

A história mais tétrica da reforma é a do eletricista. Logo depois de terminarmos a pintura do apartamento, descobrimos que o relógio de luz estava rodando sozinho mesmo sem nada ligado. Chamamos um eletricista (cujo pseudônimo é Joselito), que disse que a fiação antiga devia estar em curto e que precisava trocar tudo.

No sábado seguinte fomos ao apartamento ver como andava o serviço. Os fios estavam todos trocados, conforme prometido. Só que as paredes, recém pintadas, estavam com dezenas de marcas da mão suja de Joselito. Ele conseguiu a proeza de manchar TODAS as paredes e os armários.

Bethania entrou em pânico quando viu a sujeira. Eu ainda estava calmo e falei:

- Tá, você vai limpar isso tudo aí não é?
- Ah, isso aí é fácil - respondeu Joselito - é só dar uma retocada com essas tintas que tão aí...
- Ma de jeito nenhum! Aconteça o que acontecer, NÃO TOQUE NAS TINTAS. Tenta limpar primeiro.

Joselito mandou seu ajudante começar a limpar. Ele pegou uma flanela amarela e um sabonete Lux Luxo e começou a esfregar. Aí as paredes foram ganhando novas manchas amarelas por causa da flanela...

- Pára, pára!! Eu vou em casa buscar panos limpos e um sabonete decente.

Saímos, buscamos material de limpeza e voltamos. E o que não podia ter ficado pior, subitamente, piorou: nesse meio tempo Joselito ignorou minha ordem, pegou tinta e saiu passando nas manchas. Tinta da cor errada. As paredes e armários agora tinham três manchas: sujeira, flanela amarela e tinta errada.

Aí entreguei a ele o telefone do pintor e falei: "Agora resolva isso com ele. Você vai ter que pagar o estrago".

Na quinta-feira seguinte eu estava em São Paulo, achando que ia achar tudo resolvido no outro fim-de-semana. Até que toca o celular e Bethania fala:

- Zé, o pintor me ligou aqui, disse que o Joselito foi no apartamento combinar com ele de consertar a pintura. O pintor disse que deu o preço, o Joselito falou "tá muito caro" e saiu!

Passei a tarde inteira brigando por celular com o maldito Joselito, que teimou que não iria pagar o preço do pintor, porque era só pra retocar e o pintor tá querendo pintar tudo de novo (necessário, porque o retoque ia ficar ruim). No final das contas eu desisti e absorvi o prejuízo sozinho; afinal, a única saída era brigar na justiça, e Joselito nem teria como pagar mesmo.

Pra justificar um pouco mais seu pseudônimo, o pintor contou ainda que Joselito, quando usou as tintas, deixou os rolos todos molhados de tinta e secando ao ar livre, e portanto todos estragaram...

Interação interpessoal a nível de pessoa humana

2006-03-21 02:41:00 +0000

Ah, os terminais de auto-atendimento. Jóias da tecnologia que me poupam do contato com outros seres humanos.

Ou não, como constatei hoje de manhã no aeroporto.

Como de costume, fui até o terminal de auto-atendimento da TAM fazer o meu check-in. Do lado dele havia uma jovem e sorridente funcionária, cuja função era ajudar as pessoas a usarem o auto-atendimento. Quer você precise ou não...

Parei em frente a máquina, cartão fidelidade na mão. A tela dizia: "Passe seu cartão fidelidade". A menina sorridente me diz:

- O senhor me empresta seu cartão fidelidade para eu poder passá-lo na máquina?

Numa olhada rápida, estimei que a minha mão com o cartão estava a uns dez centímetros da fenda onde eu deveria passá-lo. Estimei também que minha capacidade mental era suficiente para que eu conseguisse coordenar os movimentos da minha mão para passar o cartão pela fenda (ela era realmente estreita, mas eu estava bastante confiante). Olhei novamente para a menina, e ela continuou sorrindo. Acho que ela devia ter alguma meta, do tipo "passar 250 cartões de clientes pela máquina do auto-atendimento até a hora do almoço", então entreguei o cartão a ela.

A tela passou a dizer: "Digite sua senha". A menina sorridente disse:

- Agora o senhor deve digitar sua s...

Antes que ela terminasse a frase eu já tinha digitado a senha. Por alguma razão, ela continuou calada enquanto eu digitava o resto das coisas. Pensei que ela tinha finalmente percebido que eu era capaz de usar aquela maquininha.

Eu estava enganado. Não demorou cinco segundos e um dedo indicador com uma unha enorme e bem pintada atravessou bem na frente da tela:

- Olha, senhor, você tem uma reserva de assento no 19C, que é um assento no corredor, mas você pode escolher outro assento se desejar, é só apertar aqui...

A situação era crítica. Ela estava obstinada a me ajudar de qualquer jeito. Tentei uma estratégia diferente: distraí-la com conversa fiada...

- Pois é, vou escolher essa janela aqui, eu acho que vou dormir o vôo todo mesmo aí é melhor, sabe...

E continuei falando coisas sem sentido enquanto a máquina imprimia meu cartão de embarque. Era preciso ser rápido. Eu arrancaria rapidamente o cartão, diria um "brigado" e sairia correndo.

Falhei miseravelmente.

A impressão acabou e aquela mão cheia de unhas grandes e bem pintadas pegou o cartão bem antes de mim. A menina se debruçou sobre ele com sua caneta BIC e disse:

- Olha senhor, seu destino é São Paulo...

E fez um grande círculo no papel, onde dizia "SÃO PAULO", em letras maiúsculas e em negrito. Enquanto isso eu me perguntava porque ela estava me dizendo aquilo. Será que existem pessoas que fazem viagens-surpresa? Tipo, elas vão até o aeroporto sem saber para onde vão? Deve ser divertido isso, receber seu cartão de embarque e dizer, com espanto, "oh! Estou indo para o Amapá"! Adrenalina pura. E a menina continuou a fazer círculos no papel.

- ...e o seu vôo é o 3211, o embarque começa às sete horas, no portão B8...

Ela basicamente circulou tudo que estava em negrito no papel, sorrindo o tempo todo. Agradeci e saí rapidamente, antes que ela se oferecesse para me pegar pela mão e levar até o avião.

Ah, os terminais de auto-atendimento...

O Primo's Airport Saga

2006-02-20 17:44:00 +0000

Eram 16:30 quando o notebook deslizou suavemente para dentro da minha mochila e comecei a me despedir dos meus colegas de trabalho. Hora de entrar no táxi e ir para o aeroporto.

De trás pra frente, meus horários eram os seguintes: o vôo decolava às 17:57, o check-in encerraria umas 17:20. Eu queria chegar no aeroporto às 17:10, o táxi iria levar uns 20 minutos até o aeroporto - bom, pelo menos na minha mente inocente - então eu deveria estar dentro dele às 16:50.

Só que o pessoal da empresa ficou puxando papo e só consegui entrar no táxi às 17:00, e já tinha trânsito, então cheguei no aeroporto às 17:30.

Desci apressado do táxi. A porta automática do aeroporto deslizou para as laterais e me deu a primeira visão do balcão de check-in da TAM. Era um contraste fabuloso: os funcionários em seus uniformes impecáveis, os passageiros em seus ternos bem cortados e seus tailleurs sofisticados... e todos urrando e se acotovelando como bichos.

É assim mesmo. Pra eu conseguir cruzar os céus tenho que passar pelo inferno primeiro.

Catei a primeira funcionária que passou:

- Já encerrou o check-in do vôo para Belo Horizonte?
- Já encerrou, senhor...
- Olha, falta meia hora pro vôo sair, por favor, vai lá e vê se ainda dá tempo, eu nem tenho bagagem para despachar nem nada...

Ela foi até o balcão e eu fiquei esperançoso, afinal a probabilidade do vôo estar atrasado era de no mínimo 90%.

Minha esperança durou exatamente trinta segundos:

- Já encerrou mesmo, senhor. O próximo vôo é as 19:30 mas está lotado. O balcão para lista de espera é o de número dezenove.

O resto da comunicação entre eu e a funcionária durou dois segundos e foi não-verbal. Minha cara de desespero dizia: Mas como assim não dá pra embarcar? Me bota nesse vôo minha filha!!!.

A cara dela dizia: Olha, eu vou ficar aqui com essa cara de paisagem até você entender que eu não vou resolver o seu problema.

Então fui ao guichê 19, que era o pior deles. Os passageiros urravam diretamente na cara dos funcionários, que pareciam à beira de um ataque de nervos. Atrás do balcão os atendentes subiam nas cadeiras para berrar os nomes. Parecia a ONU distribuindo comida na África.

Fiquei na fila do guichê 19 por uns cinco minutos. Aí percebi que a ação de verdade acontecia era na muvuca que se aglomerava no balcão, e que não respeitava fila nenhuma. Me senti um idiota e catei outro funcionário:

- Com quem é que está a lista de espera para Belo Horizonte?
- Aquele cara ali já está chamando a lista.

Era um cara no guichê 23, segurando a lista na mão, e cercado dos primatas engravatados, prestes a atacar. Concluí que boa educação não ia me colocar em nenhum avião, avancei no meio da massa humana, me esqueci de todos os "com licenças" e "obrigados", me debrucei sobre o balcão e assoviei como se estivesse num estádio de futebol:

- FFFIIIUUU!!! Ô CARA! Me ajuda aqui!

E veio um funcionário baixinho e franzino. Dei a ele minha carteira de identidade e falei:

- Me bota na lista de espera pra BH pelo amor de Deus!
- Tá certo.

E saiu com meus documentos. Um minuto depois ele voltou, passou direto por mim e começou a digitar alguma coisa no seu computador.

- Ei!! Mas e meu nome na lista?
- Não vou colocar não, senhor, vou fazer o seu check-in aqui. Ainda dá tempo de pegar o seu vôo.

Lembrei da funcionária que me disse que o check-in havia encerrado. Eu queria bater nela. Eu queria vê-la sangrar. A única coisa que interrompeu meu instinto sanguinário foi a visão do cara me entregando o cartão de embarque.

A minha carta de alforria...

- Como você se chama? - Perguntei.
- Rodrigo.
- Rodrigo, meu caro... eu vou ligar para a TAM e vou falar bem de você. Muito obrigado!!

Agora só faltava a parte dois da saga: embarcar a tempo. Nos dias normais, quando eu chego cedo, costumo ficar de papo com algum colega, ou lendo um livro ou fuçando na internet enquanto o embarque não começa. E costumo rir daqueles tipos apressados que ficam correndo, ofegantes e cheios de malas, pelos longos corredores da sala de embarque porque estão prestes a perder o avião.

Naquela tarde eu era um deles.

Meu portão era o portão 11, o último do andar de cima do aeroporto. Eu tinha uns 100 metros para percorrer (com mala e mochila nas costas) e um vôo que deveria estar saindo em cinco minutos. Eu corria e olhava através das paredes envidraçadas. Via os logotipos das companhias aéreas, enfileirados, estampados no leme dos aviões, e torcia para que o último deles fosse o da TAM. E que não estivesse em movimento...

Quando eu estava quase chegando no portão, eis que surge no corredor a funcionária que me disse que o check-in estava encerrado. Aquela mesma que eu queria matar...

Parei minha corrida na hora:

- Qual o seu nome mesmo?
- Alexa...

Sacudi meu cartão de embarque bem na cara dela:

- Um colega seu fez meu check-in. Eu vou ligar para a TAM e vou reclamar de você.

E recomecei a corrida maluca. Nem olhei pra trás. Só deu tempo de ouvir um "conseguiu embarcar, senhor?"

Faltavam apenas alguns metros e eu já podia ver a fila do portão 11. Pra aumentar meu desespero, ela já estava terminando de embarcar. A plaquinha eletrônica sobre o portão indicava que o vôo ia para... Vitória?!?

Vitória significava minha derrota. Entrei no meu modo selvagem novamente, atravessei a fila como louco e perguntei outro funcionário:

- Mas cadê o vôo para Belo Horizonte?!??
- Portão 10, senhor - disse ele, olhando para a tela do computador.

Não entendi, nem perguntei. Recomecei a corrida. O portão 10 estava mais pertinho, mas em compensação estava completamente vazio. Não havia ninguém. Nem avião.

E lá estava eu, ofegante e em pânico, em frente ao portão vazio. Só um milagre pra me salvar.

Ele veio pelo alto-falante:

"Senhores passageiros do vôo com destino à Belo Horizonte, informamos que devido ao reposicionamento de aeronave no pátio o seu embarque mudou para o portão de número dez, e o embarque será iniciado após a chegada da aeronave..."

No fim das contas, com a mudança, eu estava no portão certo, antes do avião e de TODOS os outros passageiros.

Quinze minutos atrás e eu estava perdendo o vôo. Agora eu era o primeiro a chegar...

Finalmente estava tudo certo. Só me restava esperar. E isso eu fiz bastante. O embarque atrasou ainda mais meia hora. Depois, a decolagem atrasou mais uns vinte minutos. "Muito tráfego aéreo", disse o piloto. Pousei em Belo Horizonte com uma hora e meia de atraso.

O Primo's Working Saga - The Forgotten Names

2005-12-14 12:25:00 +0000

07:12 - Estou no corredor da emissora de tevê, aqui em São Paulo. Ando até o banheiro, vou até o mictório, abro o zíper da calça mas penso: "Ei, não posso fazer isso, estou na cama". Aí eu acordo na cama do hotel.

Levanto, vou ao banheiro, volto pra cama sonolento e penso: "Ahhh, tou aliviado... quantas horas de sono eu ainda devo ter?"

O despertador toca.

10:10 - O trabalho da manhã já está a todo vapor.

Isto é, o meu trabalho está a todo vapor. Por cima do meu ombro, o meu chefe, o consultor-sênior chamado Temístocles (nome fictício - sorte dele!) vai dizendo onde eu devo ou não clicar na minha planilha de excel.

Temístocles é um sênior bem legal. Ele só tem um lado ruim: ele costuma cortar minhas frases no meio, o que é irritante. Temístocles também é bastante eficiente, portanto ele deve cortar uns 95% das minhas frases.

10:45 - Recebo um email intitulado "Avaliação Nutricional".

É que algumas semanas atrás havia um time de nutricionistas no refeitório da emissora. Elas pesavam você, colhiam alguns dados, depois o seu email e lhe enviavam o resultado.

Altura: 1,76 m
Peso: 90 kg

Você está com SOBREPESO

Podem levantar as plaquinhas de "eu já sabia".

14:45 - Hora de fazer uma reunião com a editora executiva do telejornal.

Lucinéia (putz, adoro pseudônimos) estava debruçada sobre o computador, os dedos comendo o teclado freneticamente. Ela olhava para esquerda e lia um pedaço da Folha de São Paulo. Ela olhava para o outro e xingava um de seus repórteres:

- MAS É UM ABSURDO MESMO! EU TE MANDO LÁ PRO INTERIOR PRA VOCÊ FAZER A MATÉRIA E VOCÊ NÃO SABE NEM ME DIZER O QUE É QUE ESSE ENTREVISTADO AQUI FAZ?!?

Aí ela olha pro meio: lá estou eu, laptop debaixo do braço, com minha melhor cara de "não me mate"...

Um detalhe: por alguma estranha razão, o cantor Lobão estava em reunião na sala ao lado.

15:12 - E lá vou eu passando apressado pelo longo corredor da controladoria. Aí, um barulho:

aaaaaaaaa...

E eu andava e o barulho aumentava.

aaaaaaAAAAAAAAAAA...

E aí eu notei que aquilo era uma mulher gritando!

Parei assustado e olhei em volta. Estava em frente a uma porta fechada. Nela, um cartaz:

"Reservado para a fonoaudiologia"

15:40 - Na sala, meus outros colegas consultores estão debruçados sobre os computadores quando um deles pergunta para mim:

- Ei, foi você que deu os nossos nomes para a lista de entrada da festa de hoje à noite né?

E num canto obscuro dos meus neurônios estava a memória de algumas semanas atrás, quando uma mulher desconhecida me ligou, perguntando o nome de todo mundo da consultoria. Era para uns brindes de fim de ano, segundo ela.

Só aí eu percebi que na verdade os nomes eram para a super-festa de fim de ano da emissora, a ser realizada no Jóquei Clube e tudo o mais...

- Você falou o nome de todo mundo né? Senão a gente vai ser barrado na porta...

Eu não lembrava nem o nome da menina que me pediu os nomes. Pelo visto, as emoções da minha noite estavam garantidas.

17:10 - Abri meu programa de email para mais um trabalho.

Amanhã os diretores de sete programas diferentes fariam uma apresentação. Eu tinha sete "pedaços" de apresentação e precisava enviá-los para cada um.

Abri o bloco de notas do Windows e digitei o email padrão:

"Prezado XXXX, anexo apresentação para a reunião blábláblá..."

Aí eu só copiava o texto para o programa de email, mudava o XXXX para o nome da pessoa, anexava o arquivo e clicava em "Enviar".

Tudo correu bem. O último email foi o da Lucinéia, a editora do telejornal. Anexei o arquivo, suspirei e dei o último clique em "enviar".

Na fração de segundo entre o clique e o envio do email eu pude ver o cabeçalho da mensagem: "Prezado XXXX..."

19:01 - Todos os outros consultores já estavam com os notebooks devidamente "enmochilados", e estavam indo, sorridentes, para a super-festa no Jóquei Clube.

Eu e Temístocles estávamos esperando ser chamados para uma reunião importante, com o vice-presidente e mais uma pá de gente.

20:12 - Temístocles resolveu ligar para a secretária do vice-presidente:

- Por favor, queria falar com o vice-presidente, pra saber quando é que começa a nossa reunião...

Pausa.

- Como assim ele já foi embora?

20:45 - Alguns engarrafamentos depois e estávamos no Jóquei Clube.

A recepcionista perguntou nossos nomes e foi verificar a lista de convidados. O meu nome e os nomes de todos os meus colegas consultores estavam lá...

...exceto o do Temístocles.

A coisa só não ficou pior porque a recepcionista acabou deixando que nós dois entrássemos. Mas tive que ficar meia hora ouvindo a sequência já esperada de gozações com a minha cara:

- Queisso cara! Cê foi esquecer logo o nome do seu chefe?!? Putz... nessa você realmente cagou fora do penico hein!

Se eu tivesse um penico, eu juro que pulava nele e fugia boiando pelo Rio Pinheiros.

21:20 - A música parou. O diretor comercial pegou o microfone e anunciou o início do sorteio dos brindes da noite. DVDs, TVs tela plana, aparelhos de som e outras "lembrancinhas".

Eu tinha certeza que eu ia ganhar alguma coisa. Pelas seguintes razões:

O sorteio provavalmente seria com base na lista de convidados
O nome de Temístocles não estava na lista de convidados - por minha causa
Existe uma lei chamada "Lei de Murphy"...

Por sorte, o próprio Temístocles sinalizou que queria ir embora. "Vai que a gente ganha alguma coisa, vai pegar mal, a festa é deles e tal"...

22:01 - O táxi parou na porta do hotel. Eu só pensava no meu "habitáculo", quentinho e solitário, pra eu poder dormir e esquecer esse dia.

Abri a porta e fui recebido com uma "frente fria" batendo direto na minha cara: a maldita da camareira deixou o ar condicionado ligado, no máximo.

Tive que me lembrar de não mexer muito a bunda enquanto escrevo este post: é que a cadeira ainda estava gelada...

Oi(tenta dias pra comprar um celular) - Parte final

2004-12-12 00:14:00 +0000

(Partes anteriores: Zero Um Dois Três Quatro)

No dia 21 de setembro de 2004 eu contava aqui neste blog que tinha encomendado um celular novo:

"E o escolhido foi o Nokia 6100, que me será entregue em aproximadamente 15 dias"

Não foram bem 15 dias.

Hoje, exatamente oitenta e um dias depois, eu recebi o telefone.

Oitenta e um dias... eu tinha começado a batizar esses posts de "Oitenta dias para comprar um celular" de gozação, fazendo trocadilho com o nome da Oi. Quase acertei.

Nestes oitenta e um dias eu contei, numa página do meu caderno, cada ligação que fiz para o Oi Atende...

Foram cinquenta e duas ligações.

Na semana que vem eles vão receber uma longa carta de reclamação...

Oi(tenta dias para comprar um celular) - Parte quatro

2004-11-11 18:31:00 +0000

(Partes anteriores: Zero(new!) Um Dois Três)

Update: Eu encontrei um leitor deste blog hoje à noite. Ele me perguntou porque diabos eu não ia numa loja da Oi e comprava o bendito telefone. A explicação está aqui, na etapa "zero" desta saga.

Antes de mais nada, eu devo explicações aos fiéis leitores que devem estar me achando um trouxa de ainda não ter cancelado minha assinatura com a Oi.

Primeiramente, quem me conhece sabe que eu sou muito paciente. Mas MUITO paciente, tanto que chega a ser um defeito. Concordo com quem disser que eu estou exagerando na paciência em relação a este problema, porque eu realmente estou e sei disso. Quantos de vocês têm defeitos, os conhecem, mas não conseguem passar por cima? Pois é.

Além disso, os argumentos para continuar na Oi são bastante consideráveis:

- Bethania e a maioria dos meus contatos mais freqüentes também estão na Oi, portanto eu ligo de graça pra eles no fim de semana. No longo prazo, essa economia compensa os planos de outras operadoras.

- Meu número de celular está impresso em milhares de cartões de visita que eu distribuo por aí. Outros muitos contatos importantes, dos quais eu às vezes não tenho o número, só tem meu celular atual. Em suma: trocar de celular é meio que um "reset" em meu networking.

- Parafraseando um colega de trabalho, cliente da Tim: "operadora de celular é um mal necessário". Basicamente, os problemas de sinal, de atendimento, etc., serão encontrados em todas as outras operadoras.

Além do mais eu nunca tive problemas para o uso diário do telefone: minhas contas sempre vieram corretas, ninguém nunca reclamou que não consegue me ligar. Cancelar minha assinatura, a essa altura do campeonato, nem vai representar nada pra Oi: eu seria apenas um que sai, entre um milhão que continuam. O ideal seria processar a Oi, mas isso iria consumir ainda mais dinheiro e paciência.

Mas voltemos à saga do telefone. Hoje saí um pouco mais cedo para o almoço e fui a uma outra agência tentar fazer o depósito identificado. Deu na mesma: o caixa ficou me olhando com cara de paisagem e dizendo que "não posso fazer o depósito porque o identificador é inválido".

Saí do banco e, com meu celular, liguei de novo pra Oi (pela 41a vez). Expliquei novamente o problema e ela disse:

- Bom, você é o primeiro cliente que apresenta este problema no depósito...
- E daí? Eu quero fazer esse depósito em outro banco.
- Mas senhor, pra fazer isso você vai ter que cancelar este pedido e fazer outro...
- Cancelar é o caralho, minha filha. Se você cancela meu pedido o celular vai sumir do estoque, como sempre some, e eu vou ficar mais um mês ligando praí?
- Mas para mudar a forma de pagamento o pedido tem que ser cancelado...
- Minha filha, eu estou cagando e andando pra como você vai resolver este problema. Eu só sei que quero fazer essa porra de depósito, e rápido.
- O senhor vai ter que mudar o seu linguajar para que eu possa continuar o atendimento, senhor.
- Ah é... ok então, serei bonzinho e afetuoso com vossa senhoria. É importante que você perceba que, devido aos inúmeros telefonemas que já me vi obrigado a fazer a este serviço telefônico de atendimento, minha paciência vá estar um tanto quanto abalada. Portanto eu gostaria que vsa. sra. usasse de celeridade na resolução deste problema...

Então a menina começou a fazer o cancelamento e um novo pedido quando, de repente, a ligação caiu. Liguei mais duas vezes (42a e 43a, respectivamente), a ligação caiu nas duas vezes. Fui até um orelhão mas, com aquele teclado horrível, eu não passava nem da primeira digitação do número do celular. Então, voltei ao serviço e liguei de um telefone fixo (44a vez). E a atendente falou:

- Senhor, todos os outros clientes conseguem fazer este depósito sem problemas...
- OK, então eu sou um incapaz mesmo.
- N-não, não é que o senh...
- Olha, eu queria fazer este depósito em outro banco porque o banco não aceita o identificador.
- Um momento.

Depois de alguns minutos de espera, a atendente me falou que eu podia fazer o depósito no mesmo banco, usando apenas o número do pedido, sem as letras problemáticas que o caixa não aceita. Perguntei a ela três vezes se isso era verdade. Ela confirmou. Anotei o nome dela e o do supervisor dela, só pra garantir, e fui ao posto bancário.

E consegui fazer o depósito. Até digitei uma réplica do comprovante e salvei no micro, como backup. Esse papelzinho vale ouro.

Na parte cinco (e, se Deus quiser, final) desta saga eu conto os problemas que acontecerão quando tentarem entregar o telefone. Obviamente ainda devem restar mais umas três ou quatro ligações a fazer para o Oi Atende. Uma delas é garantida: será aquela onde eu vou fazer uma reclamação formal por tudo que passei.

Oi(tenta dias para comprar um celular) - Parte 3

2004-11-10 20:34:00 +0000

(Partes anteriores: Um Dois)

Hoje eu completei minha trigésima quinta ligação (yeah, 35) para o Oi Atende. As últimas que fiz foram baseadas numa estratégia que uma das atendentes me passou uma vez: ligar de manhã, porque a probabilidade deles terem o telefone em estoque seria maior.

O serviço de atendimento deles abre às oito da manhã. Eu programei um lembrete no meu antigo celular para 8:01.

E, por incrível que pareça, a estratégia funcionou: liguei e o celular estava no estoque.

Fiz meu pedido, pela terceira vez, mas não vou tentar pagar no cartão. Vai ser via depósito identificado. Basicamente, depois de 35 ligações, eu ainda terei que encarar uma fila de banco, já que o bendito depósito tem que ser feito na boca do caixa.

De cara, precisei fazer uma trigésima sexta (36a) ligação, porque percebi que a atendente me deu todos os dados para o depósito, exceto um: o valor. Liguei mais para confirmar e evitar dores de cabeça posteriores.

Habilmente, escolhi fazer o depósito num banco específico porque tem um posto de atendimento aqui onde estou trabalhando. Aí, depois do almoço, saquei o dinheiro, anotei os dados do depósito e fui ao banco.

Aparentemente, Murphy estava comigo:

- Olá, eu queria fazer um depósito identificado...
- Sim... - respondeu a simpática senhora do caixa - pode me emprestar esse papel com os dados?
- Claro, tome...

A simpática (mas algo avoada) senhora do caixa olhou com uma cara enigmática para o papel:

- Agência tal... conta tal... "GeForce FX5200", esse que é o identificador do depósito?!
- Não, não! Isso é uma peça de computador que estou comprando. O identificador é esse aqui, ó...
- Ahn... 1234JOS... ok...

O identificador era composto do número do meu pedido e das três primeiras letras do meu nome. Mas a senhora lerda do caixa estranhou uma coisa.

- Mas... mas não posso digitar letras como identificador do depósito...
- Como assim?! Droga, bom, tente usar meu CPF então, a mulher da Oi falou que podia...
- Hmmm... ai, deu "identificador inválido"...

Aí eu deixei o posto de atendimento e fiz minha trigésima sétima (37a) ligação para a Oi. Essa foi ainda mais bizarra.

- Oi, aqui é Gilselena, boa tarde, número do seu Oi com DDD por gentileza...

Depois de confirmar e reconfirmar meus dados pessoais pela vigésima vez, falei para a atendente:

- Seguinte. A mulher do banco falou que o identificador do depósito que eu preciso fazer pra pagar o aparelho novo é inválido... ele termina com as três primeiras letras do meu nome e a mulher do banco falou que o terminal não aceita letras...
- Só um momento por favor...

CINCO minutos de espera depois, a mulher retorna

- Senhor José, desculpe a demora e obrigado por aguardar. Olha, o identificador do seu depósito é as três primeiras letras do seu nome.
- ...
- Senhor?
- Olha aqui, minha amiga, você me deixou esperando CINCO minutos pra me dar uma informação que eu já sabia?!?
- Uhh...
- Vou explicar de novo.

Falei tudo de novo e ela começou a tentar responder.

- Senhor, provavelmente a mulher do banco está lhe dando uma informação errada...
- E o que eu faço então?
- Olha, o senhor prec...

De repente entra a musiquinha de espera na linha e, segundos depois, outra voz de outra atendente:

- Oi, aqui é Vanuska, boa tarde, número do seu Oi com DDD por gentileza...
- *gasp*
- Oi, aqui é Vanuska, boa t...
- Que diabos é isso?! Eu estava falando com outra atendente!!
- Sua ligação foi transferida, senhor.
- Então tá. 31, 8804...

Depois de repetir meu número, Vanuska perguntou:

- OK, qual a sua solicitação, senhor?
- Eu queria que você fosse pro inferno.

E desliguei o telefone na cara de Vanuska. O meu celular tocou. Uma mulher dizia:

- Alô, eu falo com a Creuza nesse número?
- Não, não é esse número.
- Esse é o 8804-XXXX?
- Exatamente, mas não é da Creuza.
- Você conhece a Creuza?
- Uhh... não?
- Há quanto tempo você tem esse número?
- Olha, eu não vou estar me sentindo à vontade pra ficar te dando informações pessoais e sentimentais sobre minha linha de telefone não...

Meus colegas de trabalho começam a olhar pra trás e me fazer aquela cara de "WTF!!". A mulher que procurava a Creuza ficou bastante desconfortável:

- Uhhh, desculpe, n-não é uma pergunta sentimental não, é só sobre... ah, obrigado.

E desligou.

Voltei ao Posto de Atendimento. Falei com a gerente, que confirmou que meu identificador maluco era inválido. Segundo ela, os teclados dos caixas não aceitam letras. Sentei na frente dela e liguei pra Oi de novo.

38a ligação - Caiu quando me transferiram.
39a ligação - Enquanto eu falava no setor, transferiram-me sem avisar para um telefone que chamava, chamava e ninguém atendia
40a ligação - A diaba da atendente falou, novamente, que o identificador era aquele mesmo. Eu falava pra gerente do banco, ela falava que não. Ela falou pra eu tentar com o CPF (coisa que eu já tinha feito), e não funcionou de novo. Aí deu quatro horas e decidi que vou tentar ir a uma outra agência amanhã.

Não perca as próximas partes da saga que, infelizmente, vai continuar. Ah, nesse meio tempo me ligaram novamente no celular, perguntando pela Creuza...

Oi(tenta dias para comprar um celular) - Parte 2

2004-11-05 15:14:00 +0000

Outro dia eu contei que estou duelando com o telemarketing da Oi pra tentar comprar meu celular novo. Ainda não resolveu, e ontem eu tive uma conversa surreal com um dos atendentes:

- Vem cá, eu fiz um pedido mas agora não tem o celular no estoque?
- Senhor, é que seu cartão de crédito deu problemas e aí o celular volta para o estoque e é vendido...
- E eu não tenho nem uma chance de resolver o problema com o cartão?
- É a política da empresa, senhor.
- Ah é? Então se eu estivesse numa loja, com o celular na minha frente, e alguém fosse passar meu cartão, e se nesse meio tempo...
- Mas senh...
- Eu ainda não terminei. E se nesse meio tempo meu cartão desse problema, vocês pegariam o telefone...
- É que o senh...
- EU AINDA NÃO TERMINEI. E vocês pegariam o telefone e venderiam pra qualquer outra pessoa da loja? É essa a política da empresa?

Silêncio na linha. O atendente, depois de uns dois segundos, fala:

- Posso estar falando agora?

O Primo's Working Saga - O Relatório Importantíssimo que não foi

2004-10-01 23:09:00 +0000

Hoje receberíamos a visita de uma representante de um importante patrocinador do nosso projeto. Eu fiquei encarregado de recebê-la.

Eu sei que por questões de confidencialidade não deveria postar isso no blog, mas... foda-se, eu quero desabafar.

Ontem

15:33 - Estava tudo no jeito para a chegada da representante (que vou chamar de Mary), exceto por uma coisa: faltava imprimir o "relatório importantíssimo", o documento mais importante do nosso trabalho, que é impresso num plotter, em uma grande folha formato A1, e que fica orgulhosamente pregado na parede todo mês. Quem estava por conta do relatório era nosso colega de trabalho, o Rudy.

Perguntei ao Rudy:

- E aí cara, vai dar pra imprimir o Relatório Importantíssimo até amanhã?
- Ah, claro... fica tranquilo... ele fecha hoje, aí rola de imprimir.

16:02 - Resolvi fazer um upgrade no Office XP do meu notebook (por causa do bug que permite que uma imagem JPEG tome conta do meu computador). Ele me pediu o CD de instalação do Office, eu não estava com ele, aí dei um "cancelar" na instalação e deixei pra lá.

16:40 - Me sentei com Akuma, o consultor-líder do nosso projeto. Eu queria lhe mostrar, orgulhoso, uma planilha poderosa que eu havia feito na última semana. Assim que cliquei no arquivo, veio a telinha de instalação do Office. Eu podia inserir o CD de instalação ou cancelar. Optei por dar uma desculpa para o Akuma, amaldiçoar Bill Gates até a sua décima terceira geração e resolver o problema em casa.

19:50 - Já em casa, fui procurar meu CD do Office XP para reparar a instalação.

21:10 - Depois de revirar meu quarto inteiro, achei cinco CDs de Playstation que estavam perdidos, três CDs regraváveis que eu não via há tempos, um mix-CD do Jeff Mills que eu achava que tinha sido roubado, mas não encontrei o CD do Office XP.

Aí é que me lembrei que o Rudy havia me pedido o CD emprestado e ele nunca voltou...

22:02 - Fiquei ligando para amigos e parentes como louco para tentar achar outro CD que eu pudesse copiar, mas não tive sucesso.

Hoje

09:12 - Me rendi ao desespero e peguei um CD do Office 2000, de uma outra colega, para instalar. Tentei instalar o Office a partir do CD três vezes e não deu. O motivo: o CD estava pela metade, faltavam 60% dos arquivos de instalação.

09:33 - Pedi a ela o restante dos arquivos, ela não podia me passá-los porque estava no meio da instalação do Service Pack 2 do Windows XP do notebook dela. Pedi que ela pusesse os arquivos no servidor da rede. O micro dela estava lentíssimo por causa do Service Pack.

09:45 - Aproveitei a lerdeza da cópia dos arquivos e perguntei ao Rudy, de novo, sobre o Relatório Importantíssimo. Ele disse que iria prepará-lo até de tarde, que era quando Mary chegaria.

10:30 - A cópia dos arquivos terminou e consegui instalar o Office. Aí fui ver a apresentação que havia preparado para a Mary e notei que o PowerPoint havia, gentilmente, substituido todas as minhas imagens por uns "Xis" vermelhos. Gritei um pouco e fui consertar o problema.

12:20 - Fomos almoçar. Rudy sugeriu que fôssemos ao shopping:

- Mas você não odeia o shopping? - disse todo mundo
- Ah, é que agora eu adotei uma política de fazer tudo o que eu não gosto, porque assim eu me tornarei uma pessoa melhor - respondeu ele.

14:00 - De volta do almoço, ia perguntar ao Rudy se ele ia imprimir o Relatório Importantíssimo, mas vi pela tela do notebook que era nele que ele estava trabalhando. A chegada de Mary estava prevista para 15:30, então me sentei com Akuma para resolver outras coisas.

14:45 - Perguntei ao Rudy:

- E aí cara, vai rolar o Relatório Importantíssimo?
- Ah, cara, outra pessoa vai ter que fazer aí.
- QUÊ?? Por que??
- É que o Dhalsim me pediu uma outra coisa...

O Dhalsim é um diretor nada-a-ver da nossa empresa-cliente, de quem o Rudy adora puxar o saco. Akuma, distraído, virou para mim e disse:

- É, então você vai ter que fazer.

14:50 - Furioso, peguei os arquivos do Relatório Importantíssimo, para prepará-los para impressão. Como eles são impressos num plotter, eu precisava ajustá-los ao tamanho da página. Mas por causa das dimensões exageradas e da quantidade desumana de informação, o que ele mostrava na tela não era o que era mostrado no "Visualizar Impressão".

Então eu tinha que:

1) Ajustar um pouquinho a altura da linha da planilha
2) Clicar "Visualizar impressão"
3) Conferir se a altura deu certo, se deixou muito espaço em branco ou se "comeu" alguma informação
4) Clicar "voltar" e repetir desde o passo 1, até dar certo.
5) Repetir tudo na próxima linha. O relatório tinha umas 45 linhas.

O bom é que nessas horas, quando a pressa se soma com a raiva, eu entro "in the zone", que é um estado alterado de consciência típico de programadores, onde o cérebro dá uma turbinada. Quando eu entro "in the zone" os sintomas são:

- Eu não enxergo nada além da tela
- Eu não escuto nada que me falam
- Meus dedos se mexem 30% mais rápido no teclado (e os erros de digitação desaparecem)
- Alguma música bizarra entra em loop na minha cabeça. A música da vez foi Madonna, "Get Into the Groove", não me pergunte por quê.

15:12 - Terminei o relatório: copiei num disquete e saí correndo até o quarto andar, que é onde o plotter fica. Cheguei lá, encontrei o plotter imprimindo umas faixas enormes, além de dois funcionários: um desenhando no Paint e outro ouvindo MP3. Pedi ao do MP3 para imprimir o relatório. Ele me disse que a fila de impressão do plotter estava meio grande e eu falei que voltava em 10 minutos.

Na volta, encontrei Franz, o "capitão" do nosso time de consultores. Ele viu que eu estava furioso com a atitude do Rudy e me disse:

- Pode ficar tranquilo, cara, esse negócio do relatório está errado mesmo, não vai ficar assim não. Pode ficar tranquilo.

15:30 - Era o horário previsto de Mary chegar. Corri de volta ao quarto andar para pegar o relatório. O plotter estava vazio e o funcionário do MP3 agora estava no Orkut. Ele se assustou comigo e disse:

- Oh, as outras impressões acabaram agorinha, vou imprimir as suas...

15:42 - E, finalmente, Mary chegou. Mas o Relatório Importantíssimo não estava na parede. Enquanto todo mundo dizia "oi como vai", cochichei para o Franz que fosse até o quarto andar e pegasse o relatório. Aí me sentei com Mary e comecei a falar das belezas do nosso trabalho.

15:55 - Durante o papo com Mary, havia uma outra mulher da empresa-cliente que fazia alguns "adendos" na minha fala. Num destes adendos notei meus outros colegas de trabalho, desesperados, sacudindo os braços atrás da Mary. Eles mexiam os lábios, como quem grita, mas sem produzir som. E eu entendi o recado: "O Relatório Importantíssimo deu pau na impressão!!!"

Franz estava comigo. Aproveitei que Mary estava distraída e cochichei para ele:

- E agora!! O Relatório deu pau...
- Não se preocupe... - disse ele, enquanto tirava da pasta uma cópia do relatório, impressa em papel A4.

Aí eu entendi o que aconteceu. Quando eu pedi ao Franz que buscasse o relatório, ele pediu a outros colegas que fizessem isso pra ele, já que ele ficaria com Mary e comigo. Os outros colegas foram lá, viram que deu pau na impressão e providenciaram, por conta própria, uma outra cópia do relatório.

É por isso que eu adoro ser consultor: porque as pessoas trabalham como um time, antenadas o tempo todo, e isso às vezes salva o dia. Claro que o Rudy não é bem assim, mas deixa pra lá.

16:30 - Finalmente, Mary foi embora. Aí eu consegui me sentar um pouco e relaxar. Eu só conseguia pensar no final de semana. Mas aí me lembrei que não poderei aproveitar o domingo porque estarei de mesário nas eleições.

Fim.

A noite do Primo

2004-06-16 13:02:00 +0000

11:55 - Debaixo das cobertas, lendo um pouco. Haha, o Amyr Klink dormiu no barco e quase bateu num iceberg...

00:10 - Zzzz...

00:16 - EAAAARRGH!!! Que diabo de dor é essa no meu ombro direito?!?? Ah, deve ser o frio e os meus tendões reclamando da digitação de sempre. Vou ficar quietinho que deve parar de doer.

00:22 - EAAARRGHH!!!!

00:35 - UUNGGGG!!!!

00:44 - AAAAIEEEE!!!! Mas que droga de dor maldita que não pára!!! Ok, vou ficar imóvel e me deitar nessa posição de defunto. Hmm, parece que a dor está passando...

01:10 - Zzzzz...

02:40 - EEEAAAAAAARRRGHHHH!!!! AIEEEEE!!! Maldição, preciso de um analgésico, tá doendo muito!

02:45 - Droga, não tem analgésicos na gaveta de remédios do meu banheiro... meu pai deve ter, mas acordar ele é sacanagem. Vou tentar dormir na "posição de defunto" de novo.

02:50 - AIEEEEEEEE!!!!

02:53 -

- Pai...
- Nnnhg...
- Pai, preciso de um analgésico, você tem?
- Hmm, tem sim. O que você tem?
- Meu ombro direito tá doendo?
- Como assim seu ombro tá doendo? É o braço que você usa pra carregar sua pasta com o notebook?
- É sim...

Minha madrasta, do outro lado da cama, me entrega um frasco de "Nevralgina Gotas". Penso eu: "Mas que nome esquisitAAAAIEEEE!!!"

02:58 - Eu na cozinha, lendo a bula do remédio: Dosagem para adultos: 20 a 40 gotas... hmm, quantas será que eu EEAAAAARRGHH!!!!!! Ok, 40 gotas. Hmm, e está escrito aqui que começa a fazer efeito em 30 minutos...

03:05 - Eu na cama, posição de defunto, pensando: UUUUUNGGH!!! Droga, não devia ter lido aquela história dos 30 minutos, acabei me auto-induzindo um efeito placebo ao contrário e só vai parar de doer daqui a exatos 30 minutos.

03:15 - AAAIEEE!!!

03:25 - EAARGH!!! Ei, está diminuindo...

03:28 - Zzzzz...

06:02 - AAAAIEEEE!!! Acho que o efeito do remédio acabou... mas ainda é cedo, vou tentar dormir...

06:12 - AAAAIIIII!!!!

06:19 - EAAARGH!! Ah, foda-se, vou levantar, tomar um banho e ligar pra um ortopedista.

06:25 - Eu no banho. De repente, a dor... sumiu.

08:59 - Eu, no trabalho (desde 7:50) terminando este post. O braço não doeu mais, mas está com uma sensação estranha, tipo um formigamento de que "tem algo errado".

The End

2004-03-01 23:17:00 +0000

Está consumado. Acabei de fazer a temida banca examinadora.

Logo que cheguei encontrei um colega na porta, que me contou como havia sido pra ele: zilhões de perguntas. Incontáveis perguntas depois da apresentação. Mas que era aquilo mesmo, se você sabe, sabe, se não sabe, Deus te ajude e tal.

Subi e fiquei na salinha de espera. Na sala em frente, um colega estava no meio da sua avaliação. Alguns minutos depois, ele saiu e lá fui eu. E pude ver meus avaliadores.

Eram quatro os cavaleiros do apocalipse: um era o gerente de RH, outros dois, o "Normal" e o "Gordinho", eu não conhecia. O quarto era um super sênior, especialista em finanças, e eu havia visto, com a boca aberta e a baba escorrendo, uma palestra dele em Brasília. O cara era o samurai da coisa, vou dar a ele o pseudônimo de Musashi.

Musashi viu meu nome e, obviamente, fez a piada básica: "Tinoco... nada a ver com o Tonico não né?"

- Toda vez me fazem essa piada - disse eu...
- Pois é né, não fui nada criativo - retrucou Musashi.
- Quando quiser - disse o Gerente.

E fui para a parte um da apresentação: mostrar que eu era bom de Power Point. Por uma graça divina ou por pau psicológico mesmo, eu NUNCA estive tão calmo em toda a minha vida. Parecia um conferencista com 40 anos de experiência: o português era impecável, a entonação era perfeita. Exatos quinze minutos depois, a apresentação terminava e eu, cheio de autoconfiança, esperava a parte dois: mostrar que eu sou bom em evadir perguntas difíceis. Estranhamente, Musashi não parecia muito interessado na apresentação: raros foram os momentos em que ele olhou para a tela...

Existe um livro na minha empresa que é a pedra fundamental de tudo: é o ramo no qual somos especialistas. Este livro, a "bíblia", estava sobre a mesa, ao lado de Musashi. Como se fosse sua espada samurai. E aí... ele começou a cortar...

Quem me visse respondendo as perguntas acharia que sou um especialista na Bíblia. Consegui manter a mesma autoconfiança da apresentação e respondia naturalmente a tudo que me perguntavam. Eu entendia perfeitamente as perguntas, fazia analogias para respondê-las, eu estava o máximo. Umas dez perguntas depois o Normal virou-se para Musashi e disse:

- Estou satisfeito.
- Também - respondeu Musashi.
- Eu também - completou o Gordinho. Normal tomou a palavra e disse:
- Bem, sua formação técnica com certeza teve um impacto na sua apresentação. Você usou uns recursos aí que eu nunca tinha visto... depois me manda ela por email!

"Fabuloso. Provei que sou bom de Power Point", pensei. Aí, Musashi subiu na mesa, gritou "EEEAAAAARRGHH!!" e segundos depois meu pescoço rolou no chão, ensanguentando o carpete. Na verdade, ele me perguntou, apontando para a Bíblia:

- Quantas vezes você leu este livro?
- Duas. Na terceira eu li resumindo...
- Tá precisando estudar mais.

E aí o mundo caiu... pra completar, o Gordinho cuspiu sobre minha cabeça degolada, dizendo:

- Ah, e uma dica: não fique com as mãos no bolso enquanto fala...

Conclusão: tudo que eu achava que tinha ido bem foi ruim. Exceto o Power Point. No momento em que deveria coroar meu conhecimento gerencial, adquirido a duras penas, só consegui provar que sou bom de Power Point.

Eu quero morrer.

P.s.: O resultado oficial da banca? Só Deus sabe. Qualquer dia vai cair um email na minha caixa postal dizendo se eu ainda tenho esperanças ou se eu devo me tornar um Microsoft Office Specialist pra ganhar a vida.

Double Post!

2004-02-20 19:49:00 +0000

Post duplo. Fo' shizzle, my nizzle!

Zé's Working Saga - Véspera de Carnaval

09:00 - Chego no trabalho. Passarei a manhã fazendo um serviço estúpido: ajudando Cristina (nome fictício) a preparar uns relatórios com o andamento do antigo projeto onde eu estava, que já está no fim. Estes relatórios deveriam ser entregues a outra pessoa, chamada Marcela (nome fic... ah, você já sabe).

Em resumo, vou ajudá-la usar o Word e Excel. Vale lembrar que Cristina é burra como uma porta e passou a noite em claro (o tio dela está no hospital).

09:20 - Depois de Cristina tentar me explicar o que Marcela pediu, eu telefono pra Marcela e descubro que é tudo completamente diferente do que Cristina falou.

10:10 - Neste meio tempo meu telefone toca: é a equipe do outro projeto. Saí da sala para atender.

- Ei cara! Precisamos fazer a apresentação pro site pra reunião de amanhã...
- Mas... mas de tarde eu tenho outra reunião, dura a tarde toda, não vai dar tempo...
- Ah, se vira...

Olho pela janela e vejo o tempo do meu almoço, que saiu voando. Quando eu volto pra sala, Cristina está lá. LENDO O JORNAL.

Parei do lado dela e dei uns 15 segundos para ela se lembrar que eu existo. Não funcionou.

- Cristina...
- Ah! Vamo lá. Continuando aqui...

12:00 - Hora do almoço. Vou resolver o pepino do site. Me sento com o cara do CPD, que tenta reconstruir a página inicial (o micro dele deu pau). Nas caixinhas de som do computador dele, toca Tribalistas, alternado com músicas de forró. Meu cérebro grita.

Na sala ao lado, um casal conversa. O homem diz:

- Putz, tou com dor de cabeça... Você tem Novalgina?
- Tenho...
- Ah, mas não posso tomar "Navagina" não, porque senão minha pressão cai.
- Ah, quando eu tomo "navagina" a minha pressão sobe!

13:05 - Almoço. McDonalds.

13:40 - Saindo do almoço e indo para a reunião da tarde. O pneu do carro fura, mas não dá tempo de colá-lo. Páro num posto e encho o pneu furado só pra conseguir chegar no local da reunião.

14:00 - Reunião. Meu notebook está conectado no datashow. Fiquei "micrando" alegremente a tarde toda, enquanto me dopava com cafeína para não dormir.

22:00 - O dia acabou. Voltando pra casa, um véio dá seta pra entrar na rua onde eu estava. Aí, ele não olhou e foi. Derrapada, impacto, e calota voando em frente ao meu pára-brisa, para meu desespero. Danos no paralama dianteiro direito e arranhões no pára-choque, além da calota (que foi pro limbo).

Os dois paralamas traseiros já estavam arranhados (obra da minha irmã). Só falta agora algum motoqueiro lenhar o paralama esquerdo pra ficar tudo
simétrico.

O bom dos dias em que nada mais pode dar errado é que o dia seguinte só tem uma possibilidade: a de ser melhor.

Da bomb

Meu consultor sênior acaba de me fazer um elogio. Está me parabenizando pelo trabalho que fiz na apresentação de hoje de manhã, que consistiu em:

1) Abrir o Internet Explorer e ver a página inicial do maldito site que estou fazendo.
2) Apertar PRINT SCREEN
3) Abrir o Power Point e colar

Legal né! Aí, exatamente na sequência, um colega comunicou que está pedindo demissão. As coisas ultimamente estão altamente intensas. É bomba atrás de bomba.

Zé's Working Saga - The Consulting Files

2003-10-23 17:34:00 +0000

07:00 - Estou dormindo desde 1:40 da manhã (é...)

07:01 - Um alarme de carro dispara, a buzina é igual a do meu carro. Acordo sobressaltado e fico uns 20 segundos tentando descobrir se eu saio pro terraço pela janela ou pela porta do meu quarto. Aí o alarme parou e eu vi que era num vizinho. OK, vamos dormir de novo. Meu horário de acordar estava marcado pras 7:50, já que pego serviço só as 9.

07:03 - Eu ainda estava taquicárdico quando, do nada, cai um pensamento dentro da minha cabeça:

"Daqui a alguns dias você vai botar o som na festa de Halloween e nem começou o playlist. Pior, você não ouve rádio há meses. Pior ainda, o rádio do seu carro foi roubado e você nem tem como se atualizar. E agora?"

07:35 - Passei os últimos 32 minutos tentando resolver esta questão enquanto rolava na cama, AINDA taquicárdico. Ah, o vizinho ligou o som dele, tocando pagode, nesse meio tempo, o que contribuiu ainda mais para meu bom humor. Desisti de dormir de novo e resolvi ligar o rádio do meu quarto. Tocou uns 2 Rythm & Blues manjados e depois aquela música da Shania Twain - "Man! I feel like a woman!"

Ufa, se isso AINDA toca no rádio eu não estou muito desatualizado. Aí, mais calmo, começo a pegar no sono quando...

07:50 - O celular desperta...

09:00 - Estou no serviço, aqui no Ed. "Washington". Às 11 eu tenho uma reunião com um superintendente. A razão da reunião é ótima: eu estou fazendo um site...

"Como assim um site, você não é consultor agora?", você deve estar se perguntando. Se não estava se perguntando, pergunte-se agora, ô vacilão. Mas é que nesse novo projeto onde fui alocado, a razão de terem me trazido pra cá é pelos meus conhecimentos de informática, e NÃO pela parte "consultortiva" da coisa. "Ah, mas que injustiça" e tal. Pois é. Mas voltemos ao assunto.

Eu estou fazendo um site para os projetos que estamos acompanhando. Tudo ia bem até que ontem o superintendente (chamemo-lo de Xisto) virou pra mim enquanto eu ia embora e disse:

- Pois é Tinoco, eu não sei se esse site vai agregar algum valor pro nosso trabalho, vamo conversar sobre isso amanhã...

E TCHAM, agora eu ia lá convencê-lo de que o bendito site é bom pra ele mesmo. E então fui preparando um exemplo do conteúdo com um dos projetos, o mais rápido que pude.

Digo o mais rápido que pude porque o consultor-líder do projeto me orientou sobre o que ele queria ver no site. Isso incluia, por exemplo, um cronograma feito no Excel (sim, a gente tem o MS Project, mas ele queria porque queria que fizesse no Excel) que me deu trabalho por mais de uma hora.

10:21 - Toca o meu celular. Era o consultor sênior do meu outro projeto (o que tem a Kelly). Chamemo-lo de "Ubiratan". O "Bira" diz:

- Fala, meu jovem! Tou precisando de um favor. Estamos sem impressora e sem rede aqui, e tem reunião às cinco, precisamos entregar o relatório final do processo que você trabalhou...
- Ué, vou dar um jeito de levar pra você na hora do almoço então...

O Bira fica em outro prédio, o "Ed. Roosevelt", na Praça da Liberdade. Maaaas, tudo bem, vamos nos encher de boa vontade e gastar nosso horário de almoço.

11:02 - Fomos para a reunião com o Xisto. Peguei o notebook e fui mostrar pra ele o que tínhamos planejado para o site. Abri o arquivo e meu "cronograma-excel", fruto de mais de uma hora de raiv... digo, trabalho, não estava lá. Eu havia copiado o arquivo errado da rede, o atualizado ficou no servidor... é bom ver Murphy colaborar conosco.

Depois de uma hora de bate-papo, conseguimos convencê-lo de que o site seria útil. Mas por outro lado ele disse com bastante clareza o que ele queria ver no site. E era beeem diferente do que estava pronto. Resultado da reunião: Xisto convencido e Tinoco na estaca zero do maldito serviço de web-designer que eu não estava gostando nem um pouco.

12:15 - Bom, paciência, então vamos atender ao pedido do Bira. Conferi todos os arquivos que compoem o relatório (quase 100 páginas). Agora só faltava descobrir onde imprimir.

Podia imprimir aqui mesmo, mas a impressora é uma laser P&B, e o relatório é cheio de figurinhas coloridas. E como ele ia parar nas mãos do Secretário, a apresentação contava... resolvi ir direto me encontrar com o Bira e imprimir o relatório numa gráfica rápida que fica quase ao lado do prédio dele. Ah, se eu soubesse...

12:18 - Na pressa toda, lembrei de Bethania! Ela queria almoçar comigo e eu estava lá correndo como louco. Liguei pra ela, ofegante, e ela atendeu toda sorridente:

- Oie!
- Oi... não vai dar pra almoçar com você...
- Ah, tudo bem, eu tou indo remar com o Uriel na Lagoa dos Ingleses mesmo...
- AHHHH!! Eu todo preocupado porque você queria almoçar comigo e cê vai é passear? E com um HOMEM? VÁ TOMAR BANHO!!!
- Hihihi!!

E no final das contas eu ainda vou me casar com essa mulher sádica.

12:23 - Copiei as coisas num disquete, mas a lembrança de Murphy me assolava... "aposto que esse disquete vai dar pau lá na gráfica"... aí, catei meu notebook e saí com ele rumo ao Ed. Roosevelt.

Obviamente, nem precisei dele. Se eu NÃO tivesse levado, com certeza ia precisar. Mas, para "cancelar" os efeitos maléficos da Lei de Murphy, tive que sair com aquele trambolho de 64MB de RAM a tiracolo.

12:44 - Cheguei na gráfica.

- Oi, preciso imprimir um arquivo do Word aqui, quanto você cobra?
- R$ 0,25 a folha.
(Pausa)
- Quanto?!
- R$ 0,25 a folha. Quer falar com o gerente?

Ótimo. Na pressa toda nem cogitei a possibilidade da impressão sair a esse preço. Se cada relatório tivesse 100 páginas (eu precisava de 2 cópias), eu gastaria R$ 50 em impressão.

- E aí, vai querer? - Disse a moça da gráfica
- Não, eu prefiro meus dois olhos na cara mesmo.

Saí da gráfica. Perdi a viagem, ia ter que voltar ao Ed. Washington e imprimir na laser de lá mesmo.

O problema é que todas as ruas convergem para o Ed. Roosevelt, mas quase tudo é contramão para chegar no Ed. Washington. Resultado: passei uns 30 minutos no trânsito para dirigir apenas 10 quarteirões.

13:20 - Deus abençoe as impressoras laser! Rapidinho o trabalho estava pronto. Depois de bater a cabeça na mesa umas 120 vezes pra eu aprender a não ser tão burro, peguei o carro e fui, de novo, pro Ed. Roosevelt, entregar o relatório pro Bira.

13:30 - Cheguei e já ia deixando o relatório na mesa quando Bira e Kelly chegam. Cada um com um picolé de uva na mão. Eu nem tinha almoçado.

Depois dos cumprimentos habituais eu ia tentar falar com o Bira sobre o que estava impresso, mas Kelly já começou a falação habitual e eu não consegui dizer nada.

INTERLÚDIO:
Falando em falação, na outra semana estávamos eu, Bira e Kelly esperando uma reunião começar. Kelly, pra variar, falava sem parar sobre a vida dela mesma. Numa dessas, ela soltou:

- Pois é, meu irmão aprendeu a falar só com um ano e 8 meses, eu com 9 meses já falava...

"Começou cedo né, nojenta", pensei eu... aí, pra minha surpresa, o Bira começa a rir e fala, sarcasticamente:
- Começou cedo pra falar mais, hein!!!

Eu tenho que aprender a ser menos bonzinho...

FIM DO INTERLÚDIO

Mas enquanto a Kelly papagaiava, eu notei que ela não abaixava os braços. Parecia uma galinha querendo voar.

- Queisso, Kelly, seu sovaco tá ardendo?
- Não, é calor...

E continuou falando, naquela posição ridícula. Ela estava encostada na mesa, os relatórios impressos com tanto sofrimento tavam ali, na frente dela. Aí a Kelly se empolga (isso "quase nunca" acontece) e começa a falar ainda MAIS desembestadamente, e a gesticular com o picolé na mão.

Quando eu olho para a mesa, as gotinhas azuis de uva começavam a cair... AO LADO dos relatórios... arregalei o olho:

- MEDO!! MEEEDO!!! - Gritei, enquanto tirava os relatórios de perto dela. Ninguém entendeu nada, até que eu expliquei que o picolé estava pingando.

Só faltava essa, depois de tudo a Kelly cair na minha tela arruinar os relatórios com picolé de uva.

14:10 - Voltei ao Ed. Washington... e agora estava tudo bem. Almocei (afinal, pão de queijo e pastel assado de padaria são um ótimo almoço) e estou aqui, com calor, sono, e medo de voltar ao trabalho.

Ze's Working Saga - Saturday Might Life

2003-01-18 16:00:00 +0000

E estava eu em Sete Lagoas, a uns 70 km daqui de BH, tranquilo como um grilo na casa do meu primo... com um Unreal Tournament 2003 no meu micro, prontinho para ser desbravado... com mais 4 computadores esperando para serem ligados em rede e servirem única e exclusivamente à jogatina... com uma mesa de sinuca ou uma piscina ou até uma sauna, tudo disponível para outras necessidades de relaxamento que se fizessem necessárias...

E eu acordo no sábado, 9 da manhã, pego o carro e volto pra BH. Pra quê, você pergunta. Pra trabalhar. Sim, eu estou de férias, e estou vindo trabalhar no sábado. Na verdade este post está sendo enviado diretamente do meu computador do serviço.

O pessoal consertou o servidor onde estava o disco "ressuscitado", e só faltava eu vir e fazer os meus ajustes finais (que só eu sei fazer) no sistema pra voltar tudo à normalidade. E foi o que fiz, vim, vi e venci. Rodou certinho.

O mais engraçado: ironicamente, logo que cheguei aqui deu pau na rede do serviço e eu não conseguia acessar remotamente o servidor, tive que ir "ao vivo" na Produção acessar o servidor in loco. Inclusive, na Produção, tinham dois caras do Suporte tentando consertar outro servidor defeituoso, que, pelo que ouvi da conversa, deu o mesmo problema que o meu...

Aí quando tudo funcionou, mais ironia: entrei no programa de email (Lotus Notes) para enviar uma mensagem avisando que estava tudo OK e o programa deu pau quando eu estava no meio da mensagem: o servidor de arquivos onde fica o Notes caiu...

E agora vou apertar o botão "Post", tomara que não dê pau.

Meu (inacreditavelmente cheio de problemas) último dia de trabalho antes das (agora semi) férias

2003-01-11 00:57:00 +0000

08:15 - Chego no serviço. No exato momento em que minha bunda toca a cadeira, o telefone toca. É o pessoal do suporte, dizendo que o servidor do meu sistema tá apresentando outra mensagem de "disco corrompido". Desço pra ver qual é a da mensagem... dessa vez o arquivo está num lugar bem pouco importante: a pasta Windows/System. Temos que esperar os administradores dos servidores chegarem. Não me pergunte por quê mas eles não se incluem na regra de "chegar às 8 no serviço como todo mundo".

08:45 - Me ocorreu uma coisa... o backup rodou? Liguei pro suporte e perguntei. Diz a mulher lá que não tem como saber já que o servidor tá fora do ar e "yadda yadda yadda". Deixo pra lá.

09:05 - Cansei de esperar e liguei pro suporte. Diz que chegou uma das administradoras, mas ela não sabe o que fazer com a mensagem de erro. Nessa hora me deu vontade de gritar no telefone: "Então PRA QUE DIABOS vocês existem?? E essas suas certificaçõezinhas Microsoft, não valem porra nenhuma na hora do problema?!?? Vocês não conseguem sequer interpretar uma mensagem de erro?!??? Pelamordedeus, vocês ficam aí nessa vidinha de chegar as 9, sair as 5, ganhar 3 paus por mês, achar que nós analistas somos ralé e quando a merda fede vocês fodões são os primeiros a correr?!? Vão todos tomar nos seus..."

Optei por um "então tá bom" e desliguei.

09:15 - O chefe me chama na sala dele, querendo saber o que houve e o impacto no funcionamento do Banco. Eu fico impressionado, nessas horas, de ver pelas perguntas dele o tanto que ele não faz a menor idéia do que diabos eu faço e de como meu sistema está inserido no fluxo de negócio.

09:18 - O pessoal do suporte me liga, respondendo a pergunta do backup. Não teve backup. Se perder dados, vão-se DOIS DIAS de processamento, e não só um. Fudeu. Mas os administradores chegaram todos, e estão vendo o problema. Acho que vou procurá-los pra rir da igorância deles. Quando faltam 7 horas e 40 minutos pras férias a gente se sente um pouco sádico né...

09:19 - Entro na sala dos servidores e lá estão os dois admins. Animado, pergunto:

- E aí, como estamos?

- Nada bem, Tinoco - diz um

- Seu sistema tem contingência, né? - diz o outro

Gelei, muito. Perguntei:

- Mas né possível, tem dois discos aí, espelhados, o que houve com eles?

- Eu acho que os dois foram pro saco.

Olhei pra tela do servidor e lá estava a mais temida das mensagens de erro: "Setor de boot não encontrado. Insira o disquete de boot no drive A: e pressione F1 para continuar"

Nessa hora eu, literalmente, precisei me sentar. Exatamente como no ano passado, os dois discos queimam. DOIS DISCOS, espelhados, teoricamente confiáveis (SCSI RAID), pro saco. Eu tenho lá em casa um HD Maxtor de 280 MB (é, mega), foi do meu primeiro computador. Ele tem mais de 10 anos e ainda funciona. Eu NUNCA tive crash de HD em casa ou em outro local de trabalho. Nunca. E acontece comigo quando faltam ALGUMAS HORAS pra eu entrar de férias.

09:45 - Fizemos uma reunião-relâmpago com o pessoal envolvido, da Produção, do Suporte e tal, pra ver o plano de ação de contingência. Íamos ter que pegar o servidor de testes e botar no lugar. No meio da reunião, eu ainda não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Eu via o trabalho IMENSO que íamos ter que fazer e aquilo simplesmente não entrava na minha cabeça. Eu literalmente pensei com força que aquilo não estava acontecendo pra tentar acordar do pesadelo. Mas não teve jeito.

10:15 - Uma das DBAs (database administrators) vêm até minha sala com uma boa notícia: há algum tempo fizemos um (sofrido, estressante, cheio de problemas, mal planejado, às pressas e com um bando de gente incompetente junto) upgrade de software no servidor, e para isso pegamos um servidor emprestado e configuramos para substituir o de produção. E esse servidor (que me cobraram o tempo todo que fizesse tudo rápido porque sei-lá-quem estava precisando urgentééézimo do servidor emprestado) ainda não tinha sido formatado. Na verdade tem meses que ninguém mexe nele (e me pediram urgência). Mas, nessa altura do campeonato, eu é que não vou reclamar. Usar este servidor vai nos fazer ganhar algum tempo, mas mesmo assim ainda não entrou na minha cabeça o fato de que minhas férias vão sofrer adiamento.

E num ato de extrema ironia, as teclas CTRL do meu teclado pararam de funcionar. As duas.

11:20 - Dei uma ajeitada no banco de dados, está pronto para as mudanças. Passei no servidor e lá estava o técnico da IBM (um negão grandão de 2 metros de altura E largura) atualizando o firmware da controladora de disco. E dizendo: "Acho que já era mesmo". Eu ainda estava depositando minhas esperanças nos discos queimados, eles podiam dar uma de Jesus Cristo e ressuscitarem dos mortos. Mas isso só aconteceu há 2000 anos atrás, e lá eles tinham uma tecnologia que a gente ainda não tem :)

12:03 - Passei na sala dos servidores de novo, pra ver se o disco voltou. E recebi a notícia fatídica... Os discos realmente morreram. Os dois. OS DOIS!!!!! Perguntei pro técnico como diabos morrem DOIS discos de uma vez só, mas ele não soube me responder. É. Como eu imaginava. Descansem em paz, discos... porque eu não faço idéia de quando vou ter paz ou descanso.

14:00 - Voltei do almoço. Liguei pra DBA, saber como está a recuperação dos arquivos com as bases de dados do dia 08. Ela me disse:

- Tá indo aqui, Tinoco... mas, peraí... a data do arquivo tá de 04/01/2003...

Pronto. Ou a Produção tá fazendo burrada e voltando o backup errado, ou NÃO HÁ backup a partir do dia 04/01. Aí vai fuder mesmo.

14:10 - O negócio do backup foi só susto, é que um dos arquivos não havia sido atualizado desde o dia 4. Vendi minha alma ao satanás e combinei com o chefe do pessoal me ligar nas férias, quando essa tarefa de consertar o servidor estiver toda pronta só esperando interferência minha. Aí eu (TCHAAMMM) venho pro serviço e (TCHAMMMM) resolvo a minha parte. Eu ainda vou me odiar pelo resto da vida por essa atitude, mas não tem jeito, o filho é meu, ninguém tá com tempo de cuidar, todo mundo sabe disso, inclusive eu, que não podia fazer nada, e agora que a merda está no ventilador ela vem com mais intensidade pra quem tá mais perto, né... vai ser uma beleza. Ah, e pelo andamento da recuperação do backup, o sistema só vai voltar pro ar lá na segunda-feira.

15:41 - Está quase pronto o servidor "reserva". Eu estou reunindo o que me resta de boa-vontade pra ir lá arrumar o que falta. O que falta mesmo é boa-vontade.

15:53 - Eu tenho uns estágios de estresse. Quando acontece algo chato, eu só reclamo. Quando é muito chato, eu fico emburrado. Quando é uma problema enorme, eu fico igual um zumbi, "anestesiado", e quando a coisa é preta MESMO eu piro a cabeça, fico "surtado" e começo a fazer piada com tudo. Um exemplo é o povo sem educação que liga pra cá querendo falar com o povo da sala e eu atendo. Tem uma mulher que ligou, atendi assim:

- Alô...

- A Sônia?

Quase que eu respondo "O Tinoco?", tive que me segurar. E quando liga a Daisy? O sobrenome dela é "Freesz", e toda vez que ela liga eu fico repetindo, igual os caras da SWAT no filme Matrix: "Freeze!!!"

15:56 - Estou lembrando aqui... no final de toda semana eu preciso mandar um relatório sobre as atividades do meu sistema... o dessa semana vai ser bem engraçado. "O sistema está fora do ar por tempo indeterminado em virtude de problema físico nos discos do servidor, que queimaram. Na próxima semana estarei de férias..."

16:30 - Estou só esperando os backups ficarem prontos pra botar a bagaça no ar e sair correndo. Hoje, pelo visto, vou ficar no celular por um boooom tempo com os colegas (ha ha ha) da Produção.

18:05 - O que está me salvando nesses momentos de espera ansiosa é a tirinha filha da tirinha mais legal da Internet... Kernel Panic, filha do Help Desk.

18:36 - Desci para pegar um refrigerante na máquina e, na volta, decidi passar pelo suporte. Chegando lá, encontro o pessoal, coincidentemente, falando sobre o problema no meu servidor. Só que entre as frases soltas, ouvi uma mais ou menos assim:

- Nó, se a gente conseguir recuperar o servidor sem ter que reinstalar, vai ser uma boa hein...

- Como assim, que papo é esse? - Perguntei

- Os caras da IBM estão aí, descobriram que o problema no disco era problema lógico...

TCHAMM... e subitamente, o impensável começou a acontecer.

- Então... os discos não morreram? - perguntei

- Não, era problema de software. O hardware está OK, mas a instalação do Windows, não... vamos ver o que podemos fazer nela.

E, subitamente, OS DISCOS VOLTARAM DOS MORTOS. Eu não acredito!!! E eu com aquele papo de ressureição ali em cima, e aconteceu!!! Claro que isso não exclui o fato de termos que usar o outro servidor enquanto consertamos o velho, mas já economiza 70% da dor-de-cabeça de reconfigurar o servidor.

20:08 - Olha a hora. Ainda estou no serviço. Esperando um processamento terminar pra poder botar meu sistema no ar. E hoje eu tava planejando de sair, fazer alguma coisa legal, tá indo pro saco meu planejamento.

Enquanto isso fico vendo foto de gente no CocadaPreta, botei pra mostrar "mulheres até 30 anos em Belo Horizonte" pra ver se achava alguém conhecido. Olha o nível da minha atoíce. Detalhe: TODAS as mulheres bonitas que estão lá são bi ou homossexuais. TODAS. TODAS as que eu vi e falei "nó, que gata", cliquei na foto e tá lá, "homossexual.. bissexual... somente msgs de mulher plz..."

AAARGH! Cliquei numa loira cuja preferência sexual é "Grupal"!!!!!!!!!

20:25 - Finalmente o processamento terminou!!! Agora é a hora da verdade: tentar botar o sistema em pé.

20:54 - Mandei o sistema rodar. Ele está agindo de uma forma que nós, analistas de sistemas, definimos como "não testado o suficiente", porque não tá dando NENHUM PROBLEMA!!

Uff, fase 1 resolvida. Acho que agora dá pra ir pra casa. O ruim é que não vou ter nem o gostinho de me sentir de férias ainda.

Cinco, quatro, três, dois, erro.

2003-01-09 21:37:00 +0000

Eu vou virar devoto de Murphy. Queisso. O cara é infalível.

Faltam DOIS dias pra eu entrar de férias. Conforme eu disse antes, não acontecia nada de errado com meu sistema, estava rodando redondíssimo. E as alterações que o povo pedia estavam sendo feitas tranquilamente, sem pressa. Aí Murphy atuou e veio uma mudança monstruosa no sistema, pra essa semana. Ou eu fazia até sexta ou não saía de férias.

Comecei a trabalhar como louco. Paralelamente a isso, o sistema começou a dar umas travadas do nada, sem nenhum motivo. Segunda atuação de Murphy. Fazia MESES que nada desse tipo acontecia com o sistema.

Mas hoje no meio da tarde eu estava, feliz, implantando a mudança-monstro: dei um show de competência e fiz do limão uma limonada. Tudo estava pronto adiantado, pra eu poder ficar amanhã só na maciota esperando dar a hora de ir embora. Até que de repente o sistema dá pau de novo. Liguei pro pessoal da produção e pedi pra reiniciarem o sistema. Eles disseram que o servidor não estava respondendo.

"Isso é problema do suporte, liguem pra eles", respondi. Logo depois, me liga o chefão do suporte, avisando que o servidor deu um aviso que estava acabando a memória virtual e ele achou que devíamos dar um boot só pra garantir. "Ah, custa nada né, pode dar o boot", eu disse. Desliguei o telefone e pensei: "Nó, do jeito que tá dando azar só falta esse boot fazer o sistema dar pau de novo... mas né possível, não vai acontecer isso não".

Errado.

Uns 20 minutos depois o sistema ainda estava fora do ar. Liguei pra produção:

- E aí, cês não botaram o sistema no ar ainda não?
- Não, tá com problema no servidor.
- Como assim?
- Tá com uma mensagem de disco corrompido...

E nessa hora eu gelei. Lembrei do que aconteceu no dia 28 de fevereiro do ano passado, quando o disco do servidor fritou do nada (contei tudo aqui no blog). Se isso tudo tivesse acontecendo de novo, eu ia virar devoto de Murphy na hora, porque essa ia ser uma desgraça quase artística que, definitivamente, ia adiar minhas férias.

Vieram os caboclos do suporte pra ver o servidor, deram outro boot e no outro boot o Scandisk (CHKDSK no Windows 2000 e no DOS, hehe) começou a dizer coisas emocionantes, como:

Seu disco precisa ter a integridade checada. Aguarde.
Verificando setores...

"Por favor, por favor, não dê nada, não dê nada", rezava eu, inutilmente.

Consertando bloco 9265 do arquivo
Consertando bloco 1633 do arquivo

"Fiduaégua, fiduaégua, por favor, não mele os arquivos do meu sistema, por favor..."

Espaço em disco insuficiente para reparar o disco

"Como assim?!???"

E continuou o boot. Já comecei a imaginar, segunda que vem, eu acordando cedo pra vir parar aqui, no meio das férias... mas o servidor deu boot corretamente e parecia estar funcionando direito, embora o log de erros mostrasse várias mensagens de erro no disco.

O pessoal do suporte resolveu chamar um técnico da IBM pra fazer um diagnóstico no servidor, ele deve vir amanhã. E vai diagnosticar, por tabela, as minhas férias, vai dizer se elas vão ser sossegadas, tumultuadas ou inexistentes.

Espero que São Murphy não seja muito cruel comigo.

O Primo quer um cheque especial - Drama em quatro atos

2002-12-09 21:04:00 +0000

ATO 1 - Tudo são flores - O encanto inicial

Há muitos meses atrás, estava eu trabalhando quando a gerente da minha agência, Raquel, surgiu aqui na Tecnologia oferecendo Cheques Especiais e Créditos Pessoais para todo mundo. Ela era muito bonita e simpática, um doce, virava pra você e dizia com uma voz de menina pidona: "Ahhh, faz um cheque especial comiiiiiiigo..."

Obviamente, preenchi uma proposta e deixei com ela.

Meses depois... NADA de Cheque Especial. Ninguém me ligou, meu cheque não foi "promovido", mas acabei esquecendo...

ATO 2 - Surge uma inimiga mortal - a Ficha Cadastral

Hoje me lembrei desse Cheque Especial e resolvi tentar contratá-lo de novo. Não que eu queira usá-lo, mas é que eu passo uns dois apertos financeiros por ano e é bom eu ter uma precaução contra eles.

Fui até o posto bancário, onde o gentil (ah tá) atendente me mandou ligar para um tal de Júlio na agência. Este Júlio me informou que minha ficha cadastral estava desatualizada e que eu precisava enviar pra eles um xerox de identidade, CPF, comprovantes de renda e endereço. Detalhe: eu TRABALHO no maldito banco. São ELES que me pagam e ainda assim eu tenho que comprovar renda. É, eu estou tentando conseguir um Cheque Especial no banco onde eu trabalho, e tá difícil.

Peguei a documentação e mandei pra agência... passou-se um dia... dois dias... no terceiro dia, liguei pra lá. Me atendeu um qualquer lá.

- Alô?
- Oi, aqui é o Tinoco, da Tecnologia... queria saber se vocês receberam meu malote com documentação pra atualizar minha ficha...
- Deixa eu ver, me dá o número da sua conta...

O cara consultou, consultou.... e disse:

- Me dá seu ramal, vou olhar e te ligo daqui a pouco...

Tou esperando até hoje ele me retornar a ligação.

ATO 3 - Colocando as mãos na massa (ou seja, me sujando todo e passando raiva)

Apelei e resolvi ir na agência pessoalmente. Lá, encontrei a gerente do primeiro ato, a Raquel. Não era aquela moça bonita de antes, estava mais gordinha... e a simpatia deu lugar a uma grosseria impressionante. Cheguei na mesa dela e ela falou, num tom "imperativo":

- Senta.
- Er, bem... Raquel, deixa eu te contar minha situação...

Expliquei tudo. Ela, com uma legítima cara de bunda, perguntou:

- Cê tá com a documentação toda aí, identidade, CPF e tal?
- Er.. não, ué, eu enviei tudo pra cá, será que você não consegue encontrar por aí não?

Raquel me deu um sorriso laranja (duplamente amarelo) e saiu pra procurar. Voltou com uma cara de bunda enhanced version e veio falando:

- Mas esse seu comprovante de endereço é um extrato aqui do Banco... não serve, correspondência do banco não serve de comprovante de endereço.

E meu cérebro dizia: "Erro geral de proteção"...

Eu até hoje quero entender por que diabos a correspondência desse MALDITO banco, banco onde EU TRABALHO, não serve de comprovante de endereço. Mas nem questionei, xeroquei uma conta qualquer lá de casa e mandei pra ela, via fax. Aí passaram-se mais uns três dias, ninguém me disse nada. Eu vi, pelo sistema, que tinham atualizado minha ficha cadastral, só faltava nossa amiga Raquel ter a boa vontade de entrar no sistema e incluir a proposta.

Dias depois, nada. Mandei um email para a Raquel, e nada. Aí hoje liguei pra lá e tive a conversa mais esquisita de todo este drama:

ATO 4 - Tapas e Beijos - Um final surpreendente

- Raquel, aqui é Tinoco, tudo bom? Olha, mandei um email pra você outro dia... (contei a situação)
- Mas, Tinoco, o gerente da sua conta não sou eu não, é o Walter!
- Hein?!
- É, já te falei isso mil vezes!! Vou passar a ligação pra ele.
- Hein?!
- Um beeeijo!!
- HEIN!?!

E passou a ligação. Eu não sabia se ria ou chorava. A diaba da gerente de repente não era mais a minha gerente, me xingou ("já falei mil vezes!!") e depois me manda um beijo!!! Um beijo!!! A gerente do seu banco faz isso com você?! Aposto que não, porque isso é altamente sem noção!!!!

Mas aí o tal do Walter atendeu e, FINALMENTE, fez a proposta. Conferi e estou vendo-a, aqui na minha tela. Segundo ele, na quarta-feira o cheque já deve estar rolando... portanto, não percam o próximo episódio desta saga bancária...

Especial - O Primo nas Eleições

2002-10-07 02:20:00 +0000

E hoje foi o grande dia, o dia de participar da "festa da democracia", ou seja, trabalhar forçado como mesário na eleição e ganhar em troca:

1) Um incrível tícket restaurante, para o almoço. O valor? Cinco reais! Tenho certeza que, se você é belorizontino, pensou: "Dá pra comprar uma capa de sofá".
2) Um atestado que lhe dá 2 dias de férias do serviço! E sabe o que é mais legal? Eu não consegui nem usar os da última eleição, quem dirá dessa...
3) Ter meu nome escrito na história da democracia brasileira... sei, não sabia que "história da democracia" era sinônimo de "livro de otários que vão trabalhar na próxima eleição".

O início: Medo e morte
(e pior que o papo de morte é sério)

O babaca aqui chega na zona eleitoral às 7 da manhã, depois de 4 semi-revigorantes horas de sono... e nem o maldito presidente da minha seção tinha chegado. Nota mental: nunca mais chegar no horário.

Aí, chega o presidente da seção: o mesmo da última eleição. Detalhes importantes: ele foi convocado nas últimas CINCO eleições, ele mudou-se pra uma cidade do interior e, como teria que dirigir 120 km pra ser mesário, fez um pedido de dispensa. O filho da **** do juiz do TRE indeferiu o pedido e disse assim pra ele:

- Se for o caso você pode chegar atrasado... tem problema não.

E se estão tratando assim o presidente da seção, eu estou vendo que nunca mais saio dessa. Me dei mal. Mas o pior foi quando todo mundo chegou na seção e uma das mesárias da última eleição, a Carolina, uma simpática moça de 25 anos, não tinha vindo e nem sido convocada. Já estávamos fazendo as piadas, falando que íamos esperar ela chegar pra votar e perguntar qual o "esquema" que ela arrumou pra sair dessa, quando abrimos o livro de votantes e, do lado do nome dela, um carimbo azul, escrito: "FALECIDA".

Depois, ficamos sabendo o que houve: Carolina se suicidou, segundo o primo dela, com 2 tiros na cabeça (não me perguntem como). Chegou ao hospital ainda viva o suficiente pra dizer que tinha se arrependido da tentativa, mas morreu no CTI. O motivo do suicídio: um ex-namorado.

As portas do inferno tem filas

Obviamente todas as velhinhas que assistem Esperança toda noite e acabam pegando um pedaço do Jornal Nacional por engano vieram votar mais cedo pra evitar filas. E justamente por isso, causaram filas. Não foi tão caótico quando a Globo (outra FDP) anda mostrando, mas deu uma boa baguncinha.

O feitiço do número 13

Um dos velhinhos já era esperado pelos outros mesários: era o senhor Jesuíno. Jesuíno teve um derrame e, portanto, não consegue nem se vestir direito; e ninguém achava que ele ia conseguir fazer 7 votos na urna eletrônica.

Mas seu Jesuíno deu um show: entrou na seção com as mãos para o alto, mostrando todos os (dois) botões abotoados (trocados) em sua camisa, cumprimentou todos e foi pra urna. O presidente da mesa ficou por perto para ajudar (isso é permitido, sabia?). E, incrivelmente, Jesuíno começou a digitar "13" até aparecer a foto de alguém. Quando aparecia, ele digitava "Confirma".

E assim, Jesuíno votou no Lula e em todos os outros candidatos do PT com números 13, 131, 13131 e etc...

Classificação de Linée para os eleitores

De tão entediado que eu estava, deu até pra classificar os tipos de eleitores que apareceram por lá:

Os Normais - O povo mais tranquilo, gente entre seus 20 e 50 anos, vai, vota rápido, não fala nada, é educado e não dá trabalho.

Os "Shiny Happy People Voting" - Entram rindo, acham tudo lindo, cumprimentam todo mundo, parece aquele momento da "paz de cristo" que tem na missa.

Os velhinhos - Esses são especiais, no bom e no mau sentido. Tem os "Paz e Amor", são gentis mas demoram uma hora na urna e depois aparecem com uma cara envergonhada saindo de trás da cabine e dizendo "Ix... errei". E tem os velhos ranzinzas, que te entregam o título de eleitor resmungando, vão pra urna, ficam lá meia hora e saem dizendo, cheios de letras: "Esta urna está com defeito!"

Os "Você Sabe Com Quem Está Falando" - São os que acham que ser eleitor e fazer um voto dentre centenas de milhares os torna pessoas melhores. Ou são os que estão putos porque tem que encarar fila e se juntar ao "povinho" pra vir votar. Ou os que pensam as duas coisas: esses geralmente são advogados. Esses aí não conhecem as palavras "por favor" ou "obrigado".

Os bêbados - São os que estocam bebida por causa da lei seca e bebem todo o estoque antes das 4 da manhã. Votam rindo sem razão e levam 5 minutos pra assinar o livro de eleitores. Por causa da tremedeira.

Os "We Are Family" - Os pais e mães que vão votar com os três filhos pequenos. Inclusive algumas mães tem a cara-de-pau de ir com a filha pequena só porque mãe com criança de colo pode furar a fila e votar primeiro. Eu juro que vi uma mulher no corredor falando com outra: "Se você tá com menino eles te passam na frente". É isso aí, com essa mentalidade o Brasil vai pra frente.

Os Renascidos do Inferno - São os ex-mesários. Obviamente, conhecem o povo mais antigo da seção, ficam fazendo piada com você que é um imbecil e foi convocado e passam mais tempo jogando conversa fora do que votando. E mesmo assim você morre de vontade de se tornar um deles.

O almoço - Desbravando a selva de eleitores furiosos

Até sair pra almoçar é chato: tem que encarar o empurra-empurra dos corredores e tal. Na saída, os carros estacionados em fila "xístupla" em frente à minha seção. Um Kadett bloqueava a minha saída, por poucos centímetros. O motorista lendo o jornal, sossegado. Esperei uns 10 segundos e, como ele nem me viu, falei:

- Ô amigo... será que dá pra você arredar seu carro um pouquinho pro lado pra eu poder sa...
- Ahhh, logo eu?? Porra!!

Era pra mexer o carro uns 20 cm, e o cara ficou assim. Fiz questão de parar do lado dele e falar, irônico:

- Olha, meu senhor, me desculpe por esse grande incômodo viu...

E o almoço é tão sem-graça... a cidade deserta, você come olhando pro relógio e pensando nas quatro horas de barulho de urna na sua orelha...

O fim da tarde - Contagem regressiva

Na minha seção o pessoal desenvolveu o peculiar hábito de, perto do horário do fim da votação, ficar gritando no corredor: "Faltam 20 minutos!!!". Até que é uma diversão (sádica) ir na janela, gritar e ver os eleitores retardatários começando a correr, desesperados.

Depois das cinco, é só encaixotar tudo, assinar os lances lá e ir embora com a incrível sensação de ter sido feito de bobo o domingo todo.

Fatos completamente inúteis sobre a eleição

:: Todo mundo que me apresentou carteira de motorista como documento de identidade possuía carteira "AB"
:: Dá pra notar, pelo som, quando é que o cara tá votando em branco.
:: Só vi um gay votar. E foi por ele que descobri o lance do voto em branco.
:: Os disquetes usados na urna não são Verbatim da vida, parecem ser fabricação própria, tem o brasão da Justiça Eleitoral naquela parte metálica do disco, inclusive.
:: Na minha seção foram consumidos 2 litros de Coca-Cola, 2 de Sprite, 2 pacotes de Baconzitos e 4 pães de queijo.

O Primo na Academia

2002-08-02 19:40:00 +0000

Antes de mais nada, eu odeio exercícios físicos. Você sua e fica nojento, leva três horas pra voltar à temperatura normal, o corpo dói todo e, no final de tudo, você gastou um monte de energia pra fazer coisa nenhuma: andar numa bicicleta que nem se moveu, levantar um peso que continua no mesmo lugar... essa idéia do trabalho inútil (tá, pode rir) me deixa neurado.

Mas como eu estou muito gordo e isso não é nada saudável e como não há nada que eu odeie mais em mim do que minha "barriga de cerveja feita sem cerveja", adotei a filosofia do "no pain no gain" e fui à academia hoje. Fui fazer uma aula experimental de spinning.

Spinning é uma daquelas "ginásticas da moda": a aula toda é numa bicicleta ergométrica, com musiquinhas dance o tempo todo e um instrutor monstruosamente musculoso que fica gritando palavras de estímulo como :"Vaaaaai!!! Mais ráááápido!!!". Aí, pedala-se em pé, sentado, devagar, correndo igual doido, com a mão aqui, ali, acolá...

Como era sexta-feira a aula estava vazia: eu, o instrutor e mais duas pessoas. O instrutor tinha o apelido de "feijão" (sabe lá Deus porquê). De início, o "Feijão" ia explicando como preparar a bicicleta: altura do banco, do guidão, etc... sentei na bicicleta e a aula começou.

A aula ia indo bem, tudo tranquilo... pelos primeiros dois minutos. Cansado, comecei a diminuir o ritmo : e o Feijão gritou: "Aííí! Levanta!!! Põe carga na bike e acelera!!". E eu realmente me senti na minha lenta e torturante morte chamada malhação. O Feijão, vendo meu cansaço, vira pra mim e pergunta: "Você trouxe uma garrafinha de água?". Fiz que não com a cabeça e ele fez aquela cara de "Isso não é NADA bom". Mas, gentil como um, er, "feijão", ele me arrumou uma.

E a aula foi indo, e eu me esforçando pra manter o ritmo (impossível). A coisa realmente foi ficando preta quando começou a tocar Jota Quest, a terceira música. Até meus ombros doíam. A sola dos meus pés formigava e o único pensamento que vinha em minha cabeça era: "isso é suicídio. E as pessoas pagam pra fazer isso". Aí, olhei para o relógio, imaginando que naquela altura a aula já estava acabando.

Faziam DEZ MINUTOS que eu estava pedalando.

Olhei para frente: no espelho, via minhas coxas com o DOBRO do tamanho normal, inchadaças pelo esforço. Eu estava anormalmente diferente, morrendo aos poucos, e pedia pelo amor de Deus para que aquilo acabasse rápido. Aí, começa a tocar: "I feel good!! Tchararannarararan"... Irônico né...

A música que veio na sequência foi aquela com o sample do filme que o cara fica gritando "All right, pussy! Pussy! Come on in, pussy!". E a música seguia: "White pussy! Black pussy! Red pussy! Bald pussy!", e a última coisa na qual eu conseguia pensar era em "pussy"... aí, a música foi acabando e o Feijão gritou: "Aí, mais uma pra acabar!!"

Aliviado, pensei: "Meu Deus, eu vou sobreviver a isso! Com todas as coronárias inteiras!"

Depois de mais uma tortu... digo, música, veio um reggae para relaxar...aí, era só pedalar e alongar os braços e ombros. Depois, paramos e fizemos alongamento nas pernas... e eu havia sobrevivido aos 40 minutos mais longos da minha vida. Mas o mais interessante estava pra começar.

Fui ao vestiário tomar um banho... parei em frente ao espelho e olhei para as minhas pernas desumanamente inchadas. Eu estava monstruoso, só não fiquei mais desproporcional porque a barriga também está grande. Eu estava meio tonto e tremia igual vara verde. O mais engraçado era ao levantar a perna: ela pareceia pesar uma tonelada. Pior ainda... eu fazia isso no banho e ficava rindo sozinho... mal sabia eu o que estava acontecendo.

O que estava acontecendo tem nome: endorfinas...

Aí tudo fez sentido: eu estava dopado de endorfina. Quase tropecei na escada de saída da academia, e aquilo foi a coisa mais engraçada do mundo... peguei o carro para almoçar e o dia estava lindo, radiante, ensolarado... era uma felicidade quase gay. Cheguei ao restaurante para almoçar dando um sorridente "boa tarde" para o caixa, o garçom... colocava a comida no prato falando sozinho ("Quero isso, um pouco disso, hmm e mais isso..."), sentei na mesa com um prato cheio de cenoura, beterraba, repolho, alface e outras coisas extremamente nutritivas (ou seja, com gosto horrível) e, como um imbecil, falava "hhmmmmm" a cada garfada.

Eu parecia um idiota drogado.

Por sinal, sabia que endorfinas chamam-se endorfinas por serem "morfinas endógenas"? Agora dá pra entender porque tem tanta gente viciada no mundo.

Justiça seja feita: eu quase morri, suei como um porco, paguei um mico no meio dos atletas saradézimos da academia... mas tou rindo até agora.

Mais saga de Zé

2002-03-12 03:41:00 +0000

E vocês lembram do que rolou na sexta, que eu fiquei até meia-noite no
serviço e tal... a continuação da saga foi hoje:

Segunda, de manhã. A diretoria do Banco está feliz e elogiando a
Tecnologia por ter conseguido entregar os relatórios em tempo hábil e
pelo esforço dos analistas em trabalhar até tarde e tal. A alegria dura
apenas uma hora: Os relatórios estavam errados. Um detalhe que eu só
soube hoje: são relatórios de RECEITA do Banco, coisa importantésima,
de Presidente olhar. Na verdade acho que isso é tudo que o Presidente
do Banco faz: pegar um papel e ver quanto dinheiro ele ganhou. O
gerente da Tecnologia fica com um carão daqueles, tentando se explicar.

A bomba vai descendo e cai na Tecnologia. Os analistas conferem,
conferem, e descobrem o problema: dois campos dos que foram consertados
às pressas na sexta-feira, das tabelas de onde se originam TODOS os
relatórios, estavam trocados. Era pra atualizar uma coluna chamada
"JURO_CONTABIL_DIA" e acabou atualizando "JURO_CONTABIL_REM"

Adivinhem quem foi que digitou "REM" em vez de "DIA" num programinha
feito às pressas numa noite de sexta-feira?

O que me salvou é que eu não tinha como conferir o resultado dos meus
programinhas... daí o chefe não me comeu o fígado, apenas falou para
"não assumir responsabilidade de coisa que não dá pra conferir". E hoje
eu também não tenho hora pra chegar em casa. Jardinagem, aí vou eu.

Saldo da caca toda: Fodi com uma reunião da diretoria executiva do Banco, queimei meu filme com o chefe (apesar do meu bom histórico, com certeza vai ter uma pulga atrás da orelha dele depois dessa) e obriguei vários colegas de trabalho a passar outra noite trabalhando (incluíndo eu). Por causa de três letrinhas trocadas. No meio da culpa toda, a lição: não ceder à pressão e perder 10 minutos conferindo minuciosamente o trabalho pode lhe render uma noite tranquila em casa e o filme intacto com o chefe.

Pra piorar, ou como castigo divino digital, cada consulta ao banco de dados, pra conferir o que estamos fazendo, leva uns 10 minutos. Estou me sentindo como a Carrie-Anne Moss, no filme "Planeta Vermelho", onde as mensagens que ela enviava para a Terra levavam 40 minutos para serem respondidas...

Daí, pra piorar o remorso todo pelo erro cometido, chega a Ritinha (que está "presa" aqui comigo por causa disso) e diz que hoje é aniversário do marido dela. Eu segurei a mulher no serviço no dia do aniversário do marido dela. Tem como as coisas piorarem?

Acho que é melhor eu ficar longe de jardinagem também. Vai dar tela azul nas árvores...

Mais um capítulo emocionante da Saga de Zé

2002-03-09 04:59:00 +0000

Sexta-feira:

14:00 - Ahh, voltando do almoço... sexta básica, vou poder ir cedo pra casa e brincar bastante com o Reason... com meu irmãozinho... dar aquela boa dormida... ver o E.R. das 23h sem preocupar em acordar cedo no dia seguinte...

15:23 - Chegam no meu email uns arquivos para atualizar no servidor SQL Server. Preguiçosamente, começo a preparar o processo de atualização. Já tinha um pronto, é só reconfigurar... sem pressa...

15:30 - Descubro que o arquivo origem não está no formato certo. Consulto a simpática (mesmo) analista que me mandou os arquivos. Ela se chama Rita e tem menos de 1 metro e 50 centímetros de altura. Ela até saiu no Estado de Minas uma vez... mas isso não vem ao caso.
Descubro que vou ter que refazer o processo de atualização, pois é pra atualizar outra tabela. Argh, vou ter que começar do zero...

16:10 - Prontinho, o processo novo está nos trinques. Vou testar. Pau... o usuário do banco de dados não é válido. Droga, vou ter que testar com outro.

16:25 - É, não tá dando certo. Ah, vou deixar isso pra Segunda-feira... enquanto isso, fico rolando de rir das "capas de CD que não deram certo", no b3ta.com (esse site é excelente!)

17:10 - Oba, 20 minutos para a liberdade...

17:25 - O chefe vem até minha mesa. Dou um alt+tab discreto para ele não ver meu navegador. Ele começa a falar:
_Cê que tá fazendo a atualização com os arquivos da Ritinha né, Tinoco?
_Eu mesmo. Ela me mandou o mês todo de Fevereiro pra atualizar.
_Olha, isso tem que ser feito hoje. Você não pode ir embora enquanto não tiver atualizado tudo lá.
_Tá bom - respondo, sem pensar muito

O chefe começa a andar e de repente eu caio na real:
1) Ele disse "você não pode ir embora"
2) Ele disse "emergencial"
3) Ele disse "tem que ser feito hoje"

Olho para a janela e vejo minha noite de sexta-feira indo embora.

17:27 - Vou até a sala do chefe para saber a seriedade da coisa. Lá dentro tem uma pá de gente, e eu escuto, entre as frases desconexas: "ficar até de madrugada", "vir amanhã (sábado) de manhã", "ficar pronto até sábado à noite, no máximo".

17:31 - Descubro o que aconteceu.
A Diretoria do Banco usa os dados que estão sendo corrigidos por mim em uma série de relatórios. Só que, como não foi tudo corrigido, não dá pra emitir os relatórios para a semana que vem. O "chefe do meu chefe", sabendo disso, foi falar com a Diretoria para que a reunião fosse adiada. O Sr. Diretor Executivo disse ser "inadmissível" o adiamento e falou que quer tudo pronto até segunda de manhã. Só que ele falou isso há meia hora atrás.
Com uma palavra, esse filho da @*¨#%# aí estragou o fim-de-semana de uns 10 analistas, incluindo eu.
A única chance de conseguirmos concluir a correção em tempo e não atrapalhar todo o processamento do fim de semana é deixar tudo pronto até o sábado de noite.
Tinha um monte de coisa prevista para o fim de semana, troca de cabeamento de servidores, manutenção na rede... o chefe está igual doido, cancelando tudo pelo telefone.

Um detalhe: A correção toda começa a partir do trabalho que EU fizer...

17:32 - Ligo para a Produção para saber se dá pra agendar os processos para rodar (assim eu não preciso ficar aqui). A resposta do cara: "São 5:30, Tinoco... não dá não".

17:40 - Ligo para os DBAs, para saber se tem problema eu mesmo rodar meus processos de correção durante a noite...
_Tem sim, Tinoco... você não pode rodar junto com a replicação do DB2 não.
_Tudo bem, qual o horário dessa replicação?
_Começa às 9 da noite de hoje...
_E termina quando?
_Só amanhã de manhã.

17:41 - Corro para a sala do chefe para dar as boas notícias. A chefa dos Administradores de Dados também está lá. Ela é uma mulher medonha, a voz dela tem (sem brincadeira) o dobro do volume da voz de uma mulher que fala alto.
Depois que conto o ocorrido ela sai gritando com o chefe: "Tem que cancelar a replicação!!"
Explicando, se não cancelar a replicação: a) Atrasa tudo; b) Eu tenho que vir trabalhar no sábado.

17:50 - Felizmente a replicação pode ser cancelada. Saio e vou trabalhar nos meus processos...

18:10 - Quando vou acessar o servidor, descubro que o login usado para a atualização não está funcionando.

18:20 - O login volta a funcionar.

18:30 - Conecto no servidor de teste para testar o processo antes de rodar. A tabela de teste está vazia, não dá pra testar a menos que eu carregue a tabela com alguma coisa. Pra fazer isso eu tenho que bolar OUTRO processo que conecte no servidor de produção e puxe alguns dados para o servidor de teste. Alguns = no mínimo 10.000

18:37 - Todos os logins começam a se misturar na minha cabeça. Os dados do servidor de teste estão em um lugar e os de produção estão em outro, o que me faz ter que alterar o processo toda hora que vou testar. Uma hora a tabela chama "D_ATIVO_DIARIO" e outra hora chama "DATE002D"

18:45 - Desisto de testar, resolvo mandar o processo rodar mas, por precaução, configuro para que ele atualize somente 1 linha (que assim eu posso conferir se deu certo)

18:46 - Atentem para o horário... apertei ENTER e o processo acaba de começar...

18:59 - O processo acaba de terminar. Ele levou 14 minutos para atualizar UMA LINHA.

19:00 - Vou até a Ritinha e pergunto quantas linhas são no total. Ela pega a sua calculadora (HP 12C) e digita: "Vejamos... 200.000 do primeiro arquivo mais..."

Sobe um frio na minha espinha.

19:01 - Total de linhas: 1.417.212 (Um milhão, quatrocentas e dezessete mil, duzentas e doze linhas).
Show do Milhão.

19:05 - Coloco o processo para rodar assim mesmo.

19:15 - Ele demora 10 minutos para as primeiras 1000 linhas. Vou até a sala do chefe. Ele me dá o telefone da casa do gerente do suporte.
O apelido do gerente é "O Breve", pelo pouco que ele fala, e ele é conhecido pelo suave jeito de xingar e humilhar, além de sua simpática mania de coçar o saco em público. Segundo alguns colegas, é uma coçada que vai da bunda até o umbigo. Ligo pra ele e digo: "Não vai dar tempo"

19:20 - Depois de muito falar, ele me lembra de uma coisa chamada "checkpoint", ou "commit". Isso, em linguajar de banco de dados, significa um ponto onde o banco de dados "salva" as informações. Segundo ele, se eu não der checkpoint de tempos em tempos, acontece uma coisa chamada "estouro de log". A primeira palavra define bem o que acontece, "estouro". E perco tudo.
Felizmente, o log só estoura a partir de 500.000 linhas, e eu estou atualizando de 200 em 200 mil.

19:23 - Depois de muito conversar, "o breve" me pergunta quantas linhas já foram atualizadas. Corro até a minha máquina, pelas lerdeza que estava eu previa que estivesse em 3000 ou 4000 linhas.

Estava em 66.000.

Esfreguei o olho. Olhei de novo. 67.000 linhas. A coisa começou a andar, umas 1000 a cada 15 segundos. Antes eram 1000 a cada 15 minutos. Murphy só pode estar de brincadeira comigo. Peço desculpas ao "breve" e desligo o telefone.

19:30 - Notei que a atualização fica rápida por um tempo, depois fica lenta de novo. E se alterna assim aleatoriamente, o que não me deixa prever quanto tempo isso vai levar.
Ligo para casa e digo: "Não sei que horas vou chegar aí".

Algumas informações para o leitor, enquanto as linhas são (leeeentamente) processadas:
1) Esta atualização é para consertar um erro que não é responsabilidade minha. Só estou fazendo isso porque fiz um curso de DTS (o processo usado para consertar a caca)
2) As únicas duas pessoas da minha área que sabem DTS são eu e o "Rato". O "Rato" é um ilustre colega de trabalho que escreve "atrazar" nos e-mails para o chefe e que acha que mutilação é um cara gordo que não consegue passar pela porta.
3) O rato teve que operar de apêndice na semana passada, de surpresa. O apêndice inflamou do nada. Enquanto ele entrava na faca, o trabalho que hoje está me segurando aqui chegou. Se ele não tivesse tido esse problema, seria ele que estaria no meu lugar nesse exato momento.

19:53 - A luz piscou duas vezes. Todos os estabilizadores da sala fizeram um "clique". Mas os computadores aguentaram.
Se minha máquina desligasse, mais de 100.000 linhas iam pro beleléu. Medo. Cemig, seja competente.

20:27 - Tédio... contagem de registros: 278.000
Falta só 1 milhão e 200 mil...
Coincidentemente, achei um gerador automático de xingamentos (link não existe mais). Olha o que ele gerou para mim, nesse momento de alegria e felicidade:
"Fuck yourself you choad perspiration sniffing, prostitute filching, pish ass raping, armpit incesting, saints sipping, minge questioning, retard elephant-jizz-guzzling, skank cock knocking, adam chady shell suit wearing, nob cheese lailey at ripley school wanking, goat sleeping, hairy backed teenage boys banger! "

21:38 - Contagem de registros: 435.000
Tou aqui, lendo a história da palavra SPAM... e vendo as histórias do novo testamento ilustradas com lego (impressionante!)
Um detalhe... além de mim, a única pessoa que ficou aqui foi um cara chato nas duas galochas. O cara é metido a entendido de tudo: acabou de sair daqui, tava comentando do "aquário marinho de 1 metro e 30 centímetros de largura" que ele tem na casa dele.
Mas eu não esqueço no dia em que cometi o grave erro de sair pra almoçar com o pessoal daqui e ele começou a conversar na mesa, falando: "Esse povo de informática quer sistema estável? Ué, é só usar DOS e Windows 3.1! Não trava nunca..."

21:50 - O chefe ligou da casa dele pra cá... "como tá o cenário aí?"
Contagem de registros: 476.000

22:30 - 681.000 registros até agora.
Achei um site chamado stinkfactor.com, com desafios grotescos, como comer um vidro de tempero ou comer uma colher de chá de canela sem cuspir. Com fotos. Meu Deus, o que aconteceu com meu cérebro?
Por sinal, o cara da canela conseguiu.

23:43 - Minha camisa já está pra fora da calça, estou sem sapatos, suando... um milhão de registros já foram...

23:54 - A qualquer momento pode piscar o botãozinho do SQL Server na minha barra de tarefas, indicando que o tormento acabou...

23:57 - ACABOU!!!! ACABOU!!! Foi tudo atualizado!!! FINALMENTE eu vou poder ir pra casa!...
Meu cérebro está frito, a minha mesa está uma zona, estou com olheiras e com sono. Definitivamente meu salário não justifica isso...
Segunda-feira o chefe vai ver. Cheguei no meu limite da exploração trabalhista. Ou as coisas mudam por aqui ou o Primo procura outro emprego. Nem que seja de jardineiro. Só quero minha úlcera e meu enfarto depois dos 40.

O Primo's Working Saga, parte 2

2002-02-28 14:14:00 +0000

Ontem, final da tarde: O Chefe me chama na sala dele, para conversar sobre a situação atual do meu sistema. Uma matemática simples explica a vocês como a coisa está:

Sistema tem 210.000 propostas para processar com a máxima urgência.
Sistema faz uma média de, no máximo, quando ele está de bom humor, 100 propostas por hora.
Sistema levaria, com esses números, três meses para fazer tudo. Ininterruptos. Considerando que o tempo esteja bom e que não dê nenhum problema (lenda).

O chefe quer isso em menos de duas semanas. Na verdade não é só o chefe, a DIRETORIA do Banco está pressionando para que fique pronto em tempo hábil. Palavras do chefe: "Se a gente não conseguir agilizar o processo, eles vão entregar para outra empresa fazer, isso é inadmissível, não vai queimar só o nosso filme, vai queimar o do setor de Tecnologia inteiro".

Saio da sala do chefe, cabisbaixo, pensativo... basicamente o que ele quer que eu faça é meio impossível. Mas de repente... surge uma idéia. Igual naquele filme "Uma Mente Brilhante", quando o John Nash olha para uma mensagem encriptada e os números começam a pular do papel e o código vai se revelando...

Das 17:30 (hora da minha saída) até as 21:00 eu trabalhei na idéia, implementei, testei, e ficou tudo pronto. Na hora de colocar pra funcionar, desci até a sala gelada dos servidores e copiei a nova versão do sistema. Na hora de colocar tudo no ar... tela azul do Windows.

Tá. Tuuudo bem... boot... e durante a inicialização aquela tela preta me diz: "Disk failure. Operational system not found". Traduzindo, "Seu disco rígido fritou".

Eu uso computadores desde os meus 13 anos. Já trabalhei com manutenção de computadores. Em toda a minha vida técnica, eu NUNCA vi um disco dar pau físico do nada, como este deu. Geralmente você chuta a máquina, ela cai no chão, aí sim o disco dá pau. Mas eu nem tive o prazer de chutar o servidor, ele deu pau sozinho. E é um disco SCSI RAID, essas letras aí deveriam dizer "confiável"...

Resolvo pedir aos lendários colegas da Produção, responsáveis pelos servidores (e por uma provável úlcera no meu estômago daqui a uns anos), para bipar o responsável pelos servidores, que fica de plantão para estes casos. Eles nem sabiam quem era o responsável. Depois de muito pesquisar, acharam o cara, que chegou às 22:00 pra me ajudar.

Até lá eu não estava muito preocupado, pois como se tratava de um servidor, ele tinha o disco "espelhado": se um frita, o outro continua funcionando, com uma réplica exata dos dados. O responsável pelo servidor chegou, mexeu, mexeu... e disse:

"Eu acho que os dois discos foram pro saco".

Em linhas gerais, isso significa a perda de 2 dias de processamento e de todas as modificações que implantei nesses dois dias, além de um dia inteiro para reconfigurar o servidor. Sem falar no MUITO azar. Consequentemente essa é a hora em que você gela, sua frio, o coração dispara, dá um medão e tal... mas eu não senti nada disso. Sentei-me numa cadeira daquelas giratórias e fiquei rodando... para um lado... para outro...

Às 00:30 o responsável lá conseguiu usar o disco "espelhado": ainda estava funcionando, felizmente eu não perdi nada, só várias horas de sono. Combinamos de fazer a substituição do disco defeituoso pela manhã. Cheguei em casa, eram 1 da manhã. Fui dormir.

Às 4:30 toca o telefone. É o pessoal da Produção. Dizem que o servidor travou de novo. Detalhe: O horário do meu plantão vai até a meia-noite. Eram 4:30. Eu já falei isso com eles umas três vezes. Sorte deles que eu estava com muito sono para xingar, disse pra deixar como estava e voltei a dormir. O pior dessas coisas não é nem o fato de acordar de madrugada, é voltar a dormir sabendo que você vai ter que acordar depois de 2 horas.

Quarta

2002-02-21 23:08:00 +0000

6:15 - Telefone toca. É o pessoal da produção. Querem saber se eles precisam retirar meu sistema do ar para executar um outro processamento lá. Meu horário de plantão (onde posso receber essas ligações) vai de 8 da manhã até a meia-noite, apenas. Deixo pra lá e instruo os pobres coitados.

8:00 - Chego no serviço. Descubro que meu sistema estava é travado. Detalhe: os mesmos "colegas" da Produção são responsáveis por monitorar o sistema para ver se ele travou ou não. Eles deveriam fazer isso de hora em hora. O sistema estava travado faz 8 horas e NINGUÉM percebeu.

8:30 - Sistema volta ao ar, mas o envio de mensagens não funciona. Começo a tentar solucionar o problema.

11:00 - Desisto de solucionar o problema depois de tentar todas as alternativas possíveis e imagináveis.

13:30 - Volta do almoço, o usuário reclama de umas ocorrências erradas para algumas propostas processadas ontem pelo sistema. Estava muito ocupado para corrigir, e pedi uma colega para deletar as ocorrências erradas.

13:55 - A colega diz "ops".

13:58 - Descubro que a colega deletou TODAS as ocorrências de 408 propostas, não só as de ontem. Aproveito o fato de que quando você fica furioso o sangue circula mais rápido no cérebro e começo a pensar em uma maneira de solucionar o problema:

Maneira 1 - Restaurar backups - Como o backup é feito de madrugada, todo o trabalho do dia de hoje e de ontem, feito pelos usuários, seria desfeito.
Maneira 2 - Reprocessar as propostas - É impossível fazer isso para as propostas antigas e o trabalho manual dos usuários também seria desfeito.

15:00 - Desisto de procurar solução para o problema. Digo "foda-se" e espero que os usuários não percebam que as propostas estão sem ocorrência.

15:30 - O consultor de São Paulo, que veio para implementar uma mudança no sistema, me pede para limpar o banco de dados de teste, para testarmos a nova versão. Insisto com ele que isso não é necessário. Ele insiste que é. Para não ter mais encheção de saco, resolvo limpar.

16:15 - Descubro que as tabelas são muito grandes. O servidor de teste é um Pentium 90 com 192 MB de RAM. Rodando Windows NT, um servidor SQL Server e Visual Basic, ao mesmo tempo. Some isso tudo e você tem a performance de um 386.

16:23 - Como a deleção das tabelas estava demorando muito, resolvo usar um comando chamado "truncate table" para apagar a tabela mais rapidamente.

16:25 - Digito "truncate table" e ENTER. O sistema responde: "Seu banco de dados se tornou corrompido. A integridade das informações foi comprometida e o banco de dados foi marcado como inacessível até ser corrigido".

16:27 - Ligo desesperado para o depto. dos DBAs, as únicas pessoas que tem senha de administrador para resolver problemas desse tipo. Ninguém atende.

16:29 - Saio correndo até os DBAs. Chego e descubro que estão TODOS entrando em uma reunião. Corro até a sala de reunião e seguro a porta no exato instante em que o chefe deles estava fechando-a. Imploro à ele que libere alguém para resolver meu problema. Ele nega. Pergunto, então, quanto tempo a reunião vai durar. "Uma hora, mais ou menos", ele me responde. Meu horário normal de saída é 17:30. Mas hoje (como ontem e ante-ontem) não será.

16:31 - Volto para a minha sala, nervos em frangalhos, sem dizer uma palavra. Pego uma revista "Info Exame" e vou ao banheiro cagar.

17:30 - Uma das DBAs finalmente vem nos ajudar. Ela se senta no servidor e diz: "Você sabe a senha do administrador do Banco de Dados?".

A resposta que vem ao meu cérebro é : "Sua *$¨#!, se eu soubesse a P*$¨#! da senha eu não tinha te ligado!! E você ganha seus CINCO MIL REAIS é pra saber as M*$¨#! das senhas!!"

A resposta que sai da boca é: "Não..."

17:40 - Descobrimos que a outra DBA que sabia a senha tirou férias. Volta em 2 semanas.

17:55 - Depois de pedir o pessoal da rede para alterar a senha da DBA que está de férias, conseguimos entrar no servidor.

18:10 - Instantes antes de apertar ENTER para restaurar o banco de dados, a DBA pergunta: "Vai precisar de espaço em disco... quanto espaço tem sobrando nessa máquina?"

Detalhe: O incrível Pentium 90 tem um HD de apenas 2 giga. Nele tem Windows NT, Visual Basic, SQL Server e bases de dados. O disco C: tinha apenas 2 MB livres.

18:20 - Depois de desinstalar quase tudo do servidor (inclusive WinZip e outras coisas minúsculas), a restauração funciona.

18:30 - Sento-me na cadeira, dou um grande suspiro enquanto começam os testes. Resolvo olhar se a versão de produção do sistema está funcionando. Não está.

18:50 - Identifico a proposta que causou o travamento do sistema e apago-a. Anoto o número da proposta problemática na minha "lista negra" de propostas. Agora ela tem 12 propostas.

18:55 - Vou até o servidor ver o que aconteceu. A tela está cheia de mensagens de erro. O gerenciador de tarefas mostra dezenas de cópias do programa de envio de mensagens, rodando aleatoriamente, aparecendo e sumindo da lista como vírus. Eu nunca vi nada assim em toda a minha vida. Retiro meu chaveiro do Galo do bolso e uso a chave do carro para dar um reset no servidor.

19:00 - O servidor voltou ao ar, mas o programa chamado CICS não. Ele não faz diferença no processamento noturno, então informo o pessoal que monitora o sistema que não precisam se preocupar com isso.

19:10 - O pessoal da monitoração me liga e fala que o CICS está fora do ar. Repito que não faz diferença, que não afeta o processamento, e continuo a trabalhar.

19:20 - Saio do serviço (meu horário normal de saída é 17:30)

19:40 - O celular toca, no trânsito, com chuva. É o pessoal da monitoração, me dizendo (adivinhem) que o CICS está fora do ar. Me encho de paciência, que à essa altura me sai sabe lá Deus de onde, e explico tudo de novo à eles.

20:00 - Colação de grau de um amigo. Depois, deixo minha namorada em casa. Chego em casa às 23:30 e vou dormir.

Quinta

8:00 - Chego no trabalho. O servidor de teste travou ontem às 23 horas e entupiu minha caixa postal de mensagens de erro.

8:10 - Descubro que o servidor de produção TAMBÉM travou no mesmo horário. Perdi uma noite inteira de processamento, para um serviço que já está atrasado. Detalhe: Os caras do monitoramento deveriam monitorar o sistema de uma em uma hora, durante a noite. Passaram-se OITO HORAS e ninguém viu que ele estava travado. Sinto um déja-vu em relação ao dia de ontem...

8:40 - Coloco novamente o sistema no ar.

9:10 - Ligo para o chefe do setor de Suporte. Pergunto a ele como anda o novo servidor de testes que supostamente foi comprado para substituir o empoeirado Pentium 90. A única funcionária que poderia dar andamento nisso é a DBA que está de férias.

Ela volta em 2 semanas.

9:50 - Descubro que o sistema travou. Resolvo deixá-lo assim, para que o pessoal do monitoramento não detecte o problema e eu possa ir até lá esfregar isso na cara de cada um dos filhos da @*%$%@ que trabalham naquela espelunca.

10:15 - Começo uma reunião com o consultor de São Paulo. A reunião é para discutir uma lista de problemas do sistema. Ele faz um tremendo esforço para me convencer que metade dos problemas ali descritos não existem. Briga, acha ruim, suspira, faz caras e bocas. O sangue esquenta, mas não perco a pose.

11:10 - Um colega interrompe a reunião, me procurando e dizendo que o pessoal do servidor de e-mail me procura com urgência. Ligo para a responsável, que me diz que o meu sistema entrou em loop e enviou 25.000 e-mails de erro e que o roteador de mensagens travou. Em resumo, meu sistema derrubou o sistema de e-mail inteiro da empresa.

11:15 - Dou um RESET no servidor sem pensar duas vezes. Depois, vou até a sala da responsável pelo servidor de email. Chego lá e tem cinco pessoas com cara de desesperados em volta do computador dela, inclusive o chefe do setor. Todos me olham com uma grande exclamação em todas as caras.

11:20 - Polidamente, o chefe do suporte me pergunta o que aconteceu. Traduzindo, ele me disse: "Mas que p@%¨#% é essa que seu %$$ de sistema fez?!". Passo os próximos 10 minutos tentando dar nó em pingo d'água, ou seja, me explicar.

Detalhe: quem implantou o envio de emails no sistema foi o consultor de São Paulo.

12:00 - Resolvo manter o sistema parado e saio para almoçar.

13:30 - Reunião com meu chefe e o consultor de São Paulo, sobre a lista de problemas.

13:50 - O consultor de São Paulo insiste que coloquemos o novo sistema (com 2 dias de vida e mal testado) para funcionar em produção, com a desculpa de que "toda implantação é problemática mesmo". O chefe está com os olhos brilhando porque quer ver é resultado. Tento, em vão, convencer os dois que isso é loucura, que o volume de problemas vai triplicar e não vou dar conta de resolver tudo. O consultor de São Paulo mal me deixa falar.

14:30 - De repente, a tensão passa, o suor some, o coração pára de disparar. Minha mente chegou ao ponto onde se leva tanta porrada que tudo fica anestesiado. Respondo ao chefe que sim, que vou implantar o sistema novo. Além disso, ainda levo a tarefa de criar uma tabela com toda a lista de pendências, para dividir responsabilidades (90% minhas, 10% do consultor de São Paulo). Sorrio e digo "sim".

15:00 - Começo a implantar o sistema novo. O sistema está parado faz três horas. Tem 210 agências no Brasil inteiro enviando propostas para meu sistema processar. Imagino o tamanho da fila de propostas atrasadas, de clientes esperando, de gerentes arrancando os cabelos e xingando a minha falecida mãe. Num ato mentalmente descoordenado, sorrio.

16:00 - O consultor de São Paulo vai embora, pegar o avião. Sorrio e dou abraços. "Foi um prazer quase sexual, hahahaha!", digo. Me assusto com o quanto posso ser irônico.

16:30 - O sistema novo está no ar.

16:40 - Vou até os colegas da monitoração, lembrá-los de que o sistema está no ar e que ele deve ser monitorado de hora em hora. Sinto-me triste pelo tempo que estou perdendo.

16:55 - E aí, quando tudo acaba, eu volto pra sala e vejo meu vizinho de mesa jogando um joguinho em shockwave. O objetivo do jogo: mirar bem a bunda e cagar dentro de uma privada que anda de um lado para outro da tela. Tudo que ele diz é : "He... he... he... joguim massa..."

The Primo's Evangelion Saga

2002-01-07 05:06:00 +0000

Há alguns posts atrás eu contei que viciei em Evangelion. E falei pra mim mesmo: "Putz, essa série eu tenho que ver toda!!". E então comecei a correr atrás dos episódios e horários.

No site do Locomotion, canal onde a série passa, a grade de horários que está lá é do mês de novembro... e tudo com uma hora de atraso por causa do horário de verão. O horário do fim de semana também tá todo trocado e não bate com a grade da Directv. Basicamente, tá difícil descobrir que horas passam os episódios e as reprises. Sem contar que não dá pra saber qual episódio será passado em qual dia da semana (o que é relativamente fácil de descobrir para séries como Friends, por causa dos inúmeros fan sites). Além disso, eu tive que confiar no meu véio videocassete Panasonic G21 (você se lembra?), que só grava nas velocidades SP e LP (na SLP ele não consegue reproduzir a fita direito.

A partir do momento em que eu disse pra mim mesmo que ia acompanhar a série, sempre acontecia alguma coisa que me fazia perder os episódios, como:

1) O telefone tocava no meio do desenho (e só eu podia atender)
2) Eu programava o vídeo mas não programava a caixinha da Directv
3) Eu programava o vídeo e a caixinha da Directv no horário certo... mas no canal errado
4) Eu não programava o vídeo porque às 10:30 da manhã eu já iria estar acordado pra assistir o episódio... e acordava 11:30
5) Eu programava o vídeo e a caixinha no horário certo e no canal certo... mas meu pai ou minha madrasta vinham ver TV exatamente na hora que eu programei e tiravam a Directv do canal.
6) Eu ficava em casa pra gravar o episódio pessoalmente... daí a Directv saía do ar, do nada, e voltava exatamente depois do horáiro do desenho.

Já estava ficando irritado porque nunca conseguia assistir um episódio direito, e em uma semana e meia de férias, com um episódio por dia (mais a reprise), eu só tinha conseguido assistir a TRÊS episódios de toda a série... Daí hoje eu chego em casa, ligo a TV e descubro que vão reprisar o capítulo de hoje (que eu perdi) daqui a 20 minutos!! Que alegria!! Que emoção!! Peguei as almofadas, desliguei o telefone, sentei no sofá e fiquei na expectativa do episódio começar... a música de abertura do episódio soou como uma sinfonia de Beethoven.... zaaanko ku na tenshi no youni...

Daí vem a primeira cena do episódio... e a decepção: Era um dos três episódios que eu havia assistido.