Ah, os terminais de auto-atendimento. Jóias da tecnologia que me poupam do contato com outros seres humanos.

Ou não, como constatei hoje de manhã no aeroporto.

Como de costume, fui até o terminal de auto-atendimento da TAM fazer o meu check-in. Do lado dele havia uma jovem e sorridente funcionária, cuja função era ajudar as pessoas a usarem o auto-atendimento. Quer você precise ou não...

Parei em frente a máquina, cartão fidelidade na mão. A tela dizia: "Passe seu cartão fidelidade". A menina sorridente me diz:

- O senhor me empresta seu cartão fidelidade para eu poder passá-lo na máquina?

Numa olhada rápida, estimei que a minha mão com o cartão estava a uns dez centímetros da fenda onde eu deveria passá-lo. Estimei também que minha capacidade mental era suficiente para que eu conseguisse coordenar os movimentos da minha mão para passar o cartão pela fenda (ela era realmente estreita, mas eu estava bastante confiante). Olhei novamente para a menina, e ela continuou sorrindo. Acho que ela devia ter alguma meta, do tipo "passar 250 cartões de clientes pela máquina do auto-atendimento até a hora do almoço", então entreguei o cartão a ela.

A tela passou a dizer: "Digite sua senha". A menina sorridente disse:

- Agora o senhor deve digitar sua s...

Antes que ela terminasse a frase eu já tinha digitado a senha. Por alguma razão, ela continuou calada enquanto eu digitava o resto das coisas. Pensei que ela tinha finalmente percebido que eu era capaz de usar aquela maquininha.

Eu estava enganado. Não demorou cinco segundos e um dedo indicador com uma unha enorme e bem pintada atravessou bem na frente da tela:

- Olha, senhor, você tem uma reserva de assento no 19C, que é um assento no corredor, mas você pode escolher outro assento se desejar, é só apertar aqui...

A situação era crítica. Ela estava obstinada a me ajudar de qualquer jeito. Tentei uma estratégia diferente: distraí-la com conversa fiada...

- Pois é, vou escolher essa janela aqui, eu acho que vou dormir o vôo todo mesmo aí é melhor, sabe...

E continuei falando coisas sem sentido enquanto a máquina imprimia meu cartão de embarque. Era preciso ser rápido. Eu arrancaria rapidamente o cartão, diria um "brigado" e sairia correndo.

Falhei miseravelmente.

A impressão acabou e aquela mão cheia de unhas grandes e bem pintadas pegou o cartão bem antes de mim. A menina se debruçou sobre ele com sua caneta BIC e disse:

- Olha senhor, seu destino é São Paulo...

E fez um grande círculo no papel, onde dizia "SÃO PAULO", em letras maiúsculas e em negrito. Enquanto isso eu me perguntava porque ela estava me dizendo aquilo. Será que existem pessoas que fazem viagens-surpresa? Tipo, elas vão até o aeroporto sem saber para onde vão? Deve ser divertido isso, receber seu cartão de embarque e dizer, com espanto, "oh! Estou indo para o Amapá"! Adrenalina pura. E a menina continuou a fazer círculos no papel.

- ...e o seu vôo é o 3211, o embarque começa às sete horas, no portão B8...

Ela basicamente circulou tudo que estava em negrito no papel, sorrindo o tempo todo. Agradeci e saí rapidamente, antes que ela se oferecesse para me pegar pela mão e levar até o avião.

Ah, os terminais de auto-atendimento...