O fim de Dead Cow City
Interrompemos nossa programação de posts das férias para contar aqui a coisa mais estapafúrdia que já me aconteceu em 15 anos no mercado de trabalho.
Não vou entrar em detalhes mas a coisa foi mais ou menos assim:
- Meu projeto estava com uns problemas e resolvi conversar com os consultores-líderes para ver se eles me davam uma mãozinha.
- Na conversa eu tentei explicar o problema mas o pessoal acabou me pedindo pra detalhar OUTRA coisa. Mas vá lá, fiz o que eles pediam e avisei que ainda precisava continuar o assunto. Mas aí veio o natal e o ano-novo e o assunto ficou pausado.
- No meu primeiro dia de trabalho de 2009 o consultor-líder me liga e fala que meu projeto precisa de uma “virada de mesa” e que eu não tenho o perfil necessário para isto, e que estava contactando nossa empresa de consultoria pra discutir minha substituição. Obviamente eu levei um puta susto, mas como ele afirmou que nada estava resolvido e que conversaríamos na próxima semana, pensei que até lá a gente pudesse esclarecer seja lá o que foi que provocou uma reação tão extrema deles em tão pouco tempo. Problema de comunicação, talvez?
- No dia seguinte, outro susto: recebo um email oficializando a minha saída do projeto. Mas o consultor-líder continua afirmando que “nada estava definido” e que conversaríamos na próxima semana.
- Chega a próxima semana e eu me reúno com o consultor-líder. Discutimos longamente os problemas do projeto e os acontecimentos recentes. No fim, ele vira pra mim e diz que meu substituto estava na sala ao lado e que ele ia chamá-lo para eu passar a ele as informações sobre o trabalho.
Não, não. É sério. Vou resumir ainda mais pra fazer ainda menos sentido: Fui discutir os problemas do projeto com meus superiores e eles me expulsaram do projeto.
Aí você pergunta: “Mas por quê?”. É estranho mesmo. O cliente gostava do nosso trabalho, o chefe da engenharia chegou a dizer que “estaria perdido” se nós não estivéssemos lá. Outro dia me contaram que uma das meninas da minha equipe (que o cliente até tentou contratar, veja você) comentou que eu fui a “salvação” do projeto. As opiniões das pessoas que conversei e que acompanharam a história variam. Umas acham que eu fui usado de bode expiatório para o caso do projeto fracassar. Outras acham que eu posso ter ferido o ego dos líderes e estava pagando o preço. Alguns especularam que eu fui removido para dar lugar a alguém da “panelinha” deles que devia estar em casa, sem trabalho (e sem honorários a receber). Mas eu prefiro a explicação, sucinta e assertiva, de um amigo meu: “É, o mundo corporativo é assim mesmo”.
Pois então. Como diz o mestre Tom Zé, a gente “passa mal, toma Sonrisal, se engana mas vai em frente”. Então, no fim da tarde da última terça-feira, fui embora de Dead Cow City para nunca mais voltar. E digo que fui embora com a cabeça erguida e com a consciência tranquila de que fiz um bom trabalho nos sete meses em que estive por lá.
Mas o mais legal é a sequência da história: coisa de alguns DIAS depois e me liga outro consultor-líder, avisando que nosso antigo cliente de Brasília - um que vive aparecendo no jornal, especialmente nessa época de crise - está mesmo querendo fechar um contratão de consultoria e pergunta se eu não tenho interesse em ficar full time (todos os dias do mês) no projeto.
Sabe o que me impedia de trabalhar full time com eles antes? O projeto do qual fui expulso.
Hoje o consultor-líder me ligou contando que o cliente ficou feliz da vida com minha nova disponibilidade. “Eles gostam mesmo de você”, acrescentou. O projeto deve começar em março, e até lá terei que fazer o grande sacrifício de ficar em casa, jogando GTA IV.
É, o mundo corporativo é assim mesmo :)