Que saco, é mais um post sobre São Paulo. Azar o de vocês. Aguentem, porque eu não consigo ir embora e não falar daqui de novo.

Ter me mudado pra São Paulo foi, com sublinhado e tudo, uma das melhores decisões que já tomei na vida. Acho que só perde pra ter me casado.

Depois de sete anos morando aqui posso afirmar que aquela frase manjada do Criolo de que "não existe amor em SP" é totalmente verdade. Como tudo aqui é mais difícil - porque é mais caro, mais lotado, mais neurótico ou mais distante - sua visão romântica da vida vai embora rapidinho. A vida aqui não é um mar de rosas e nunca vai ser.

E isso é ótimo.

Eu gosto muito de uma artista iugoslava chamada Marina Abramovic. Aquela, que ficou famosa em 2010 com o "The Artist is Present" no MOMA. Pra quem não conhece ela faz a chamada "arte de performance", onde o próprio artista usa o corpo como meio de expressão. E Marina é louca: nas suas "obras" ela se coloca em situações extremamente desconfortáveis, dolorosas e corre riscos reais de se ferir ou morrer. Uma vez, numa entrevista, ela disse algo que se tornou minha frase predileta por muitos e muitos anos:

"Você não cresce quando está fazendo o que gosta".

São Paulo representa muito disso pra mim. Não vim pra cá para curtir um mar de rosas: vim para trabalhar duro. E isso foi incrivelmente recompensador. Aqui aprendi a lidar com a rejeição e com a derrota. Aprendi que nenhum problema é grande demais se você tem disciplina e paciência. Foi aqui que me tornei adulto, e por isso conquistei muita coisa boa. Consegui comprar meu apartamento bem no meio do boom dos preços dos imóveis. Emagreci 12 quilos mesmo com jornadas de trabalho de 12 horas, e retomei o controle da minha própria saúde. E mesmo em 2014, um ano de incertezas profissionais, consegui juntar dinheiro suficiente pra poder ir estudar no Canadá. Eu jamais conseguiria isso tudo em outra cidade.

Mas falando assim parece que eu só sofri em São Paulo. Muito pelo contrário: meus anos aqui talvez tenham sido os mais ricos em termos de cultura e diversão - tanto que os amigos de Beagá chegaram a comentar que viramos "baladeiros" depois que nos mudamos pra SP. De fato, Só no quesito "shows de música boa" teve os quatro shows seguidos do Tortoise, teve o Girl Talk no Planeta Terra, teve o primeiro show do Radiohead no Brasil (e com Kraftwerk!), tiveram os inacreditáveis shows de R$ 5 no SESC Pompéia com nomes absurdos tipo Jaga Jazzist (melhor show de 2014), Mouse on Mars, Gonjasufi, The Sea and Cake... teve o Sónar 2012 com o lineup mais inacreditável de todos os tempos, teve o Oval na Trackers, Daedelus (de graça!) na PUC, teve o Pet Duo na Augusta... e isso é só a ponta do iceberg: tiveram os museus e bienais, as tardes no Ibirapuera, as voltas de bicicleta na ciclovia da marginal... teve também muita comida boa: o fantástico ovo mollet do Le Jazz, o ceviche inacreditável do Rinconcito Peruano (na cracolândia!), o inigualável lomo saltado do Don Mariano, e os chopps e conversas fiadas com os amigos no São Cristóvão, toda terça. Amigos, amigas e até "esposas novas" que vão fazer muita falta.

A vida aqui foi intensa, e eu nem sempre tive a chance de fazer o que gostava. E por isso eu só tenho a agradecer.