Está consumado. Acabei de fazer a temida banca examinadora.

Logo que cheguei encontrei um colega na porta, que me contou como havia sido pra ele: zilhões de perguntas. Incontáveis perguntas depois da apresentação. Mas que era aquilo mesmo, se você sabe, sabe, se não sabe, Deus te ajude e tal.

Subi e fiquei na salinha de espera. Na sala em frente, um colega estava no meio da sua avaliação. Alguns minutos depois, ele saiu e lá fui eu. E pude ver meus avaliadores.

Eram quatro os cavaleiros do apocalipse: um era o gerente de RH, outros dois, o "Normal" e o "Gordinho", eu não conhecia. O quarto era um super sênior, especialista em finanças, e eu havia visto, com a boca aberta e a baba escorrendo, uma palestra dele em Brasília. O cara era o samurai da coisa, vou dar a ele o pseudônimo de Musashi.

Musashi viu meu nome e, obviamente, fez a piada básica: "Tinoco... nada a ver com o Tonico não né?"

- Toda vez me fazem essa piada - disse eu...
- Pois é né, não fui nada criativo - retrucou Musashi.
- Quando quiser - disse o Gerente.

E fui para a parte um da apresentação: mostrar que eu era bom de Power Point. Por uma graça divina ou por pau psicológico mesmo, eu NUNCA estive tão calmo em toda a minha vida. Parecia um conferencista com 40 anos de experiência: o português era impecável, a entonação era perfeita. Exatos quinze minutos depois, a apresentação terminava e eu, cheio de autoconfiança, esperava a parte dois: mostrar que eu sou bom em evadir perguntas difíceis. Estranhamente, Musashi não parecia muito interessado na apresentação: raros foram os momentos em que ele olhou para a tela...

Existe um livro na minha empresa que é a pedra fundamental de tudo: é o ramo no qual somos especialistas. Este livro, a "bíblia", estava sobre a mesa, ao lado de Musashi. Como se fosse sua espada samurai. E aí... ele começou a cortar...

Quem me visse respondendo as perguntas acharia que sou um especialista na Bíblia. Consegui manter a mesma autoconfiança da apresentação e respondia naturalmente a tudo que me perguntavam. Eu entendia perfeitamente as perguntas, fazia analogias para respondê-las, eu estava o máximo. Umas dez perguntas depois o Normal virou-se para Musashi e disse:

- Estou satisfeito.
- Também - respondeu Musashi.
- Eu também - completou o Gordinho. Normal tomou a palavra e disse:
- Bem, sua formação técnica com certeza teve um impacto na sua apresentação. Você usou uns recursos aí que eu nunca tinha visto... depois me manda ela por email!

"Fabuloso. Provei que sou bom de Power Point", pensei. Aí, Musashi subiu na mesa, gritou "EEEAAAAARRGHH!!" e segundos depois meu pescoço rolou no chão, ensanguentando o carpete. Na verdade, ele me perguntou, apontando para a Bíblia:

- Quantas vezes você leu este livro?
- Duas. Na terceira eu li resumindo...
- Tá precisando estudar mais.

E aí o mundo caiu... pra completar, o Gordinho cuspiu sobre minha cabeça degolada, dizendo:

- Ah, e uma dica: não fique com as mãos no bolso enquanto fala...

Conclusão: tudo que eu achava que tinha ido bem foi ruim. Exceto o Power Point. No momento em que deveria coroar meu conhecimento gerencial, adquirido a duras penas, só consegui provar que sou bom de Power Point.

Eu quero morrer.

P.s.: O resultado oficial da banca? Só Deus sabe. Qualquer dia vai cair um email na minha caixa postal dizendo se eu ainda tenho esperanças ou se eu devo me tornar um Microsoft Office Specialist pra ganhar a vida.