Posts da categoria “Arte”
Feliz Natal
2009-11-13 02:56:17 +0000
“Feliz Natal” é o nome da obra aí em cima, da artista Isabela Magalhães, exposta no hall de entrada do prédio do meu cliente aqui em Brasília (tá rolando uma exposição de obras feitas por funcionários e familiares). A maioria dos colegas da minha equipe detestaram “Feliz Natal”. Eu fiquei absolutamente fascinado.
Você pode apreciar “Feliz Natal” parando no grotesco e percebendo apenas um Papai Noel decapitado e com o olho esquerdo arrancado, ou pode reparar na posição do corpo do Papai Noel, fixado na madeira, de braços abertos, com pregos nas mãos e com os pés sobrepostos. Por acaso isso te faz lembrar de alguma outra figura relacionada com o Natal? Talvez aquele famoso profeta cristão que morreu na cruz e que – ora veja! – nasceu no dia de Natal? É exatamente por isso que eu adorei essa obra – porque ela diz, visualmente, veementemente, coisas que desde 2003 eu fico berrando aqui no blog. Coisas sobre o tanto que o Natal deixou de ser o nascimento de Jesus Cristo e virou a festança do “bom velhinho” e da comilança na ceia de natal e do boom do comércio por causa da trocação de presentes.
Outra parte do brilho artístico de “Feliz Natal” vêm também da reação de quem vê a obra. Alguns colegas ficaram ultrajados com a agressão sofrida pelo Papai Noel. No entanto a figura daquele outro cara relacionado com o Natal ensanguentada na cruz é cultuada no mundo católico e não costuma despertar nem um pouco da comoção que o Noel aí despertou. E se o Jesus crucificado serviu para “tirar o pecado do mundo”, talvez o Noel crucificado tente servir um propósito semelhante, mas dessa vez em pecados mais modernos, impossíveis na antiga Jerusalém aonde não existia capitalismo. Talvez este seja o presente da artista para o mundo.
Eu, com certeza, me senti presenteado.
P.s.: Eu até daria outras informações da exposição pra você poder ver a obra, mas isso implica em dizer onde tou trabalhando, e tem contrato de confidencialidade, e meus empregadores são paranóicos, etc. Então, não.
A agenda do fim dos tempos drásticos
2009-09-10 04:40:50 +0000
Eu queria compartilhar com vocês uma das ferramentas do meu dia-a-dia que mais gosto: minha agenda de anotações.
Sim, eu sei, você deve estar se perguntando que diabos é aquilo de “necrofilia do mundo final”. É que isto não é exatamente uma agenda: é um livreto que foi distribuído ano passado na Bienal, em São Paulo, e que na verdade é parte de uma obra de arte de Javier Peñafiel. A agenda foi apresentada ao público na própria Bienal, em uma performance do artista, e cópias da agenda estavam disponíveis para quem quisesse levar.
O nome da agenda dá título a este post: “Agenda do fim dos tempos drásticos”.
Por dentro ela é cheia de ilustrações, pequenos textos e de um bocado de espaço em branco – aonde passaram a morar minhas anotações de trabalho.
Pode parecer estranho, mas ter arte na sua frente dá a perspectiva correta aos dias de trabalho cheio de gente engravatada, cafezinhos e reuniões. Mesmo porque os textos de Javier questionam – ainda que de forma bem hermética – o próprio passar dos dias, descritos pela agenda como “impróprios”, “plurais”, “comuns”, “similares” e por aí vai.
O ruim é que a agenda é curtinha e o espaço da minha se esgotou esta semana, então terei que recorrer às agendas convencionais. Mas pra não perder a perspectiva, pelo menos ainda posso resistir às convenções na forma de anotar – como no exemplo abaixo, que é uma observação sobre ausência de função estratégia feita em estilo Cersibon:
Qualquer criança de cinco anos faria igual?
2009-08-04 12:47:54 +0000
Não faz nem duas semanas que eu iniciei um post no Impop dizendo assim:
Nas artes visuais, especialmente as modernas, aonde conceitos de forma, estética e plástica foram bastante, digamos, "dilatados", paira sempre aquele incômodo do que é que separa o trabalho de um artista real do que "qualquer criança de cinco anos faria igual".
Pois então.
No último fim-de-semana recebemos um casal de amigos queridíssimos de Belo Horizonte, e nos nossos passeios estava incluída uma visita à pinacoteca, que abrigava uma exposição chamada “Norberto Nicola – Tapeçaria Contemporânea”.
Sim, tapeçaria. Noberto Nicola criou arte em tapetes. Como esse, da foto.
A exposição incluía também gravuras e estudos do artista, e algumas das gravuras eram feitas em computador. Achei-as meio bobas, mas como o foco do trabalho do artista eram os tapetes, deixei as gravuras pra lá.
No meio da exposição havia uma tevê exibindo um documentário sobre Nicola e sua arte. No vídeo, ele (fumava compulsivamente e) contava das suas extensas pesquisas, mostrava seu ateliê, seu tear, seus métodos de trabalho e tudo o mais. Várias cenas depois, o diretor-narrador do documentário corta para fora do ateliê e segue anunciando que Nicola “não tem medo da tecnologia”, e a câmera mostra o artista ligando seu computador.
E então Nicola abre o Microsoft Paint e começa a trabalhar.
Sim, você leu certo: o artista fez suas gravuras computadorizadas no MS Paint. E elas estavam ali, expostas nas paredes da Pinacoteca. Sim, eram desenhos feitos no MS Paint, parecidos com aqueles que você, eu e todo mundo fez quando mexeu num MS Paint pela primeira vez, impressos a jato de tinta e pendurados nas paredes da Pinacoteca. Sim, MS PAINT EM EXPOSIÇÃO NA PINACOTECA.
Minha cabeça explodiu e eu fiquei lá, travado, olhando ele clicar no baldinho e preencher os espaços de seu desenho. Depois ele pegou o spray e passou nas bordas de um grande círculo colorido; “para suavizar as bordas”, explicou. Na sequência, mostrando-se totalmente à vontade com a ferramenta, clicou em Editar/Inverter e inverteu as cores da figura.
E isto, meus amigos, era a técnica de produção de gravuras de um artista renomado em exposição num dos melhores museus de São Paulo. Eu tentei achar o documentário online ou reproduções dos desenhos do artista, mas sem sucesso. E eu fiquei tão passado que não tive nem a presença de espírito para fotografar as gravuras pra postar aqui.
E também não sei como termino este post.
Fly Pan Am
2009-07-23 03:08:16 +0000
Nas artes visuais, especialmente as modernas, aonde conceitos de forma, estética e plástica foram bastante, digamos, "dilatados", paira sempre aquele incômodo do que é que separa o trabalho de um artista real do que "qualquer criança de cinco anos faria igual". Mas uma coisa que eu percebi em minhas observações (absolutamente amadoras, vale lembrar) é que o trabalho dos bons artistas, apesar de parecer sem sentido ou pueril, sempre "cutuca" algum lugar diferente dentro da sua mente.
É como um quadro de Basquiat. Uma olhada rápida dá a impressão de que é desenho de jardim de infância. Mas continue olhando e um certo incômodo se apresenta, como se sua mente dissesse que "aquilo não é o que parece" ou que há algo muito mais profundo por trás da impressão inicial.
Isso é o que eu acho mais fascinante na arte: a capacidade de se adulterar percepções inconscientes e de visitar recônditos da alma que jamais seriam tocados pela ciência, religião ou coisa que o valha.
E depois dessa explicação toda aí em cima podemos, finalmente, falar da banda que torna-se cada vez mais uma das minhas favoritas: o Fly Pan Am. Que faz EXATAMENTE ISTO que eu falei, mas usando música.
A formação da banda, formada por canadenses de Montreal, segue as convenções de guitarra/baixo/bateria costumeiras. Aí você vai ouvir as músicas e elas são longas, difíceis e até sufocantes... e depois de algum tempo de aclimação, absolutamente geniais. Acostumar-se com Fly Pan Am é mais ou menos como aprender a fumar - aparte as complicações para a saúde.
Não dá pra dizer que Fly Pan Am é experimental, porque ele sabem muito bem o que estão fazendo. Os riffs que se repetem longamente não são experimentos: são a forma de acessar aqueles recônditos intocados da alma, de transparecer musicalmente coisas que você jamais esperava encontrar em uma gravação, como o sarcasmo de "La Vie Se Doit D'Etre Vecue Ou Commençons a Vivre" ou a sabotagem (explicitada inclusive no nome) de "Partially Sabotaged Distraction Partiellement Sabotee" - aonde você será enganado e vai achar que há algo de errado com seu aparelho de som. São músicas que andam por caminhos que eu jamais imaginava existirem.
Uma pena o Fly Pan Am estar em um "hiato" indefinido e ter nos deixado apenas três discos e um EP. Mas o que falta em quantidade é fartamente compensado em profundidade.
Site oficial - Página do All Music Guide
P.s.: Este post foi originalmente publicado no Impop, blog da Verbeat, hoje extinto.
Da magia e das ofensas
2009-02-16 14:57:29 +0000
No dia-a-dia eu não costumo ser desajeitado, mas quando estou perto da minha esposa eu viro um desastrado completo. Não é incomum ela acabar levando pisada no pé, cotovelada e outras formas, digamos, menos ortodoxas de carinho. Agora há pouco estávamos no quarto e o que seria uma agradável convivência de casal terminou com a coitada metendo o cotovelo na porta.
A explicação pra isso é simples: perto dela eu perco uns dois pontos de DEX, donde conclui-se que minha esposa é mágica.
Pra não perder o costume, falemos do GTA IV.
Agora a onda aqui em casa é jogar o multiplayer. O duro é que não tem Playstation Network no Brasil e eu sou obrigado a me conectar com os servidores dos EUA, e por conta do lag eu fico em desvantagem. No modo deathmatch – onde os décimos de segundo fazem toda a diferença - quando eu começo a pensar em mirar no meu oponente, olha lá meu corpo estendido no chão. Pra piorar, o jogo ainda dá uma mensagem diferente a cada vez que você mata ou morre, e uma delas diz mais ou menos assim:
JohnDoe083 has 3rd worlded OPrimo_
E por causa do “3rd worlded” eu, além de morto, fico ofendido.
Um dos comerciais das rádios do GTA é uma propaganda de um candidato a prefeito. O locutor fica enumerando seus feitos políticos, que incluem coisas como:
…o candidato propõe retirar todos os fundos para financiamento de centros comunitários e dar o dinheiro diretamente para os drogados da cidade.
Eu dava risada todas as vezes que ouvia esta propaganda – até um dia em que me lembrei do bolsa-família do Lula. Então fiquei ofendido.
Em 1965, o jovem austríaco Gottfried Helnwein foi admitido no Instituto Experimental de Alta Educação Gráfica. Revoltado porque a escola não tinha nada de “experimental” na sua alta educação, Helnwein cortou a mão com uma gilete e, usando o próprio sangue, fez um desenho de Adolf Hitler.
Helnwein foi expulso da escola – o que lhe ensinou uma importante lição sobre o poder que certas imagens podem ter.
Gottfried Helnwein atua até hoje. Sua obra inclui coisas grotescas como pinturas de crianças mutiladas e até um quadro (abaixo) retratanto o nascimento de Jesus e os três reis magos – todos com uniformes de militares nazistas.
O curador de uma de suas exposições, Robert Flynn Johnson, definiu a arte de Helnwein como “o equivalente visual a um esporte de contato”.
E isto não me ofende nem um tiquinho.
Obama vs. McCain… the remix
2008-11-03 01:29:31 +0000
Mais um da série “links legais demais para simplesmente jogar ali no meu Delicious”.
Enquanto aqui no Brasil o TSE mal deixa as eleições figurarem na internet, nos EUA o debate político vira até arte…
Nos EUA há um grupo chamado Sosolimited que faz um trabalho interessantíssimo. Segundo o website deles…
ReConstitution é um remix audiovisual feito ao vivo com os debates presidenciais de 2008. (…) Nós desenvolvemos um software que permite captar e analisar o vídeo, áudio e o texto do closed caption da transmissão. Através de uma série de transformações auditivas e visuais nós reconstruímos o material, revelando padrões linguísticos, expondo conteúdo e estrutura, e fundamentalmente alterando a maneira que você assiste aos debates.
A imagem acima é trecho de um vídeo onde a fala de Obama é lida pelo software através do closed caption (aquela legenda para deficientes auditivos), as palavras são contadas e a quantidade de cada uma delas aparece em vermelho. E lembre-se: tudo isso feito AO VIVO, DURANTE a exibição dos debates. Coisa de gênio.
O site do ReConstitution tem vários outros vídeos e vale muito a visita.
(Link via Waxy.org)
O incrível Image Fulgurator
2008-06-26 04:42:29 +0000
Mais uma da série "links legais demais pra simplesmente jogar no meu del.icio.us": O incrível "Image Fulgurator"!
Julius Von Bismarck, esse hacker alemão aí em cima, criou um dispositivo de "manipulação minimamente invasiva de fotos alheias": ele colocou um flash dentro do corpo de uma câmera normal, que serve para projetar um slide colocado dentro do aparelho. Além disso ele instalou um sensor de luz, daqueles que os fotógrafos usam para fotografar raios, que dispara quando detecta claridade repentina.
Funciona assim: enquanto alguém na rua está tirando uma foto, o Image Fulgurator detecta quando o flash dispara e projeta uma imagem por cima da foto que a pessoa está tirando. Como a coisa acontece numa fração de segundo, a "vítima" só percebe quando vai ver a foto que foi tirada e percebe que ela tem um "algo a mais"...
...como esse pessoal do vídeo aí embaixo:
O mundo se cansou de novidades?
2008-01-21 15:12:38 +0000
Primeiro, uma historinha.
Nunca vou me esquecer da primeira vez em que ouvi "Glass Museum", do Tortoise. Eram 6:30 da manhã de uma terça-feira de 1997. Eu estava sonolento, no meu antigo Fiat Uno, indo para uma aula de natação e ouvindo uma fita cassete do Tortoise que Luiz, meu primo, havia gravado. Assim que parei no estacionamento, "Glass museum" começou a tocar e eu vivi os cinco minutos e vinte e sete segundos mais surpreendentes de toda a minha vivência musical. Aquilo era absolutamente lindo, diferente, inusitado, tocado de uma maneira que eu nunca havia visto antes.
Tortoise virou uma das minhas bandas favoritas. Glass Museum virou uma das minhas músicas favoritas. Só que aí veio o século XXI e, com ele, uma horrível tendência que vou explicar abaixo.
Na foto da esquerda, o barbudo com a mocinha é Prabhu Deva, astro da música pop indiana que ficou bastante conhecido no Brasil por causa do clássico vídeo legendado "Rivaldo sai desse lago".
A foto da direita NÃO é uma cena do mesmo vídeo, e sim do vídeo da campanha de lançamento da Coca Cola Clothing que foi, obviamente, inspirado no clipe de Prabhu Deva. Parece que essa é a estratégia da Coca-cola: ao invés de vídeos inéditos, clipes "inspirados". Ou você não se lembra daquele comercial que é igualzinho o jogo Grand Theft Auto?
Mas a inspiração alheia não está só nos comerciais. Zapeando na TV outro dia, dei de cara com um programa da MTV chamado "Fist of Zen" - uns caras numa mesa de biblioteca disputando provas bobas estilo "jackass", só que em silêncio, sem poder rir. As chamadas do Fist of Zen alardeiam com todas as letras: "It's brand new" (é inédito), mas no instante em que vi o programa me lembrei do vídeo de um game show japonês exatamente igual e que eu havia assistido muito tempo antes.
Agora vamos dar uma olhadinha nos 10 filmes que mais deram dinheiro em 2007, segundo a Wikipedia:
- Piratas do Caribe: no fim do mundo (terceira continuação de uma franquia)
- Harry Potter e a ordem da Fênix (quinta continuação de uma franquia adaptada de um livro)
- Homem-Aranha 3 (terceira continuação de uma franquia inspirada em quadrinhos)
- Shrek Terceiro (terceira continuação da franquia)
- Transformers (inspirado em desenhos animados/quadrinhos)
- Ratatouille
- Os Simpsons (Inspirado na série de TV homônima)
- Eu Sou a Lenda (terceiro remake inspirado em um livro - pois é, eu também não sabia)
- 300 (Inspirado em quadrinhos)
- O Ultimato Bourne (terceira continuação de uma franquia)
Olhe bem a lista. Temos 5 continuações. Temos também 6 filmes de livros, desenhos animados ou quadrinhos. Temos apenas UM filme 100% original, com personagens inéditos e roteiro inédito (em 1997 eram seis originais, apenas duas continuações e apenas um filme inspirado em quadrinhos).
Em 2008 a coisa não deve mudar muito:
Espera-se para 2008 outra batalha das continuações, conforme muitas franquias lançam novas edições, incluindo: As Crônicas de Narnia, Indiana Jones, O Incrível Hulk, A Múmia, Batman, Hellboy (...) Rambo, 007, Jogos Mortais, Madagascar, Harry Potter, Star Trek e Arquivo X.
Fora as continuações, temos entre os lançamentos deste ano... er... Speed Racer, Homem de Ferro, Sex And The City, Dragonball, Scanners...
Na música - surpresa! - a mesma coisa acontece. Exemplinhos:
- Bandas novas que repetem fórmulas antigas. Um exemplo que eu gosto de dar é o Wolfmother. É tipo um xerox mal feito do Black Sabbath. O vocal é igual, os riffs de guitarra são iguais... só falta o vocalista comer uns morcegos no palco.
- Músicas feitas em cima de músicas. Não estou falando de usar samples de outras músicas e sim de pegar faixas inteiras, cantar por cima e chamar de música nova. "Pump it", sucesso dos Black Eyed Peas, nada mais é que o famoso tema de abertura do filme "Pulp Fiction" com um vocal
idiotadiferente. Kanye West fez a mesma coisa em Stronger, cuja base é Harder Better Faster Stronger, do Daft Punk. Não dá pra chamar essas músicas de novas, mas ainda assim o público adora.
E então acho que podemos chegar à uma conclusão: o público em geral está curtindo bastante essa onda de "mais do mesmo" - rever personagens antigos, histórias conhecidas, sons familiares, etc. A indústria do entretenimento sacou isso e adorou, pois a aceitação pelo público é mais fácil e a "reciclagem" de conteúdo é mais rápida/barata/fácil do que criar do zero.
Olhando assim parece que todo mundo sai ganhando, mas no longo prazo eu fico preocupado. Afinal, aquele espírito de ignorar convenções e fazer o que ninguém havia pensado (ou ousado) fazer é o que gera obras-primas na música, no cinema e nas artes em geral, e este espírito está ficando pra escanteio.
Será mesmo que as novas obras-primas do século XXI vão nascer de "remastigações" de criações antigas? Os caminhos que os novos artistas vão trilhar serão os mesmos dos artistas de hoje, que por sua vez são os mesmos de algumas décadas atrás? Será que vamos mesmo começar a andar em círculos ou alguém vai se dispor a continuar "audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve"? (Pelo visto não, já que, ironicamente, até Star Trek também sera re-re-relançado no cinema em 2008).
Isso me deixa triste. Porque uma das coisas que mais gosto é da sensação fantástica de ser surpreendido por alguma coisa inédita, inovadora. Lembram de "Glass Museum", do Tortoise? Pois é.
Artista constrói apartamento secreto dentro de um shopping
2007-10-03 03:59:48 +0000
Eu adoro essas coisas. Olha o nível do "apartamento"...
Michael Townsend, o artista responsável por isto (que ele considera como uma instalação de arte) usou uma sala que foi usada como depósito durante a construção do shopping e que depois ficou abandonada. Aos poucos ele foi comprando utensílios e mobília, colocou tábuas corridas no chão, instalou uma TV, etc. Tinha até um Playstation 2. Só não tinha água e esgoto, mas não precisava - ele usava o banheiro do shopping.
Ele usou o apartamento por QUATRO ANOS até ser pego. O site do "projeto" tinha mais detalhes mas tá fora do ar.
(Vi no Popurls)
The Mp3 Experiment
2007-09-04 11:58:00 +0000
Imagine 853 pessoas se encontrando ao sul de Manhattan. Agora imagine que todos estão com fones de ouvido e baixaram um MP3 especialmente preparado para o evento, com músicas e uma narração que diz o que fazer.
Aí, pontualmente, às 4 da tarde, todos pressionam play ao mesmo tempo.
Este é o MP3 Experiment número quatro, idéia dos malucos do Improv Everywhere. É genial e imperdível.
Pavlov - Um artista de vanguarda (parte 4)
2007-08-20 22:27:00 +0000
(Leia também a parte um, dois, três e o "bônus")
No último sabado eu estava no computador quando Pavlov chegou e se assentou ao meu lado. Estava roendo alguma coisa.
Passei a mão em sua cabeça e perguntei: "E aí, o que você está comendo?"
Instantes depois eu estava praticamente em estado de choque, completamente sem palavras: Pavlov tinha em suas garras uma nova obra de arte...
Celular
(Plástico e materiais diversos - 2007 - Acervo do artista)
Este é mais um genial trabalho plástico, um work in progress de "evisceração" de ready-mades eletrônicos. É toda a fúria animal de Pavlov, expressada em suas dentadas e garradas, buscando evocar em quem contempla seu trabalho toda uma gama de sentimentos primitivos de ódio, revolta e violência (como eu mesmo senti).
Curiosamente, o celular não ficou completamente destruído: apenas a tampinha traseira foi mastigada. Com isto, Pavlov manda uma clara e curiosa mensagem de que "sem a casca, o conteúdo perde o valor" e, assim, confronta o valor estético do aparelho contra seu valor funcional. E neste confronto apenas o artista sai ganhando...
Pavlov - Um artista de vanguarda (parte 3)
2007-07-27 01:35:00 +0000
(Leia a parte 1 aqui e a parte 2 aqui - e um "bonus track" aqui)
A vida moderna nos liberta ou nos escraviza? A tecnologia expande horizontes ou constrange as mentes? Viver num mundo sem fio significa viver acorrentado?
Todas estas questões são levantadas no novo, simples e genial trabalho do artista plástico Pavlov, intitulado Controle.

Controle
(plástico, circuito impresso e borracha)
2007 - Acervo do artista
Este trabalho simples tem muito mais do que os olhos vêem. O que parece ser apenas o controle remoto do meu DVD semi-devorado pelo meu cachorro é uma obra-prima de múltiplos significados, em múltiplas instâncias de meta-realidades que convergem tanto para o agora quanto para futuros apocalípticos distantes. A começar pelo título: o controle perde sua função ao ser devorado, pois passa de controlador a controlado. Não é ele quem diz o que vamos ver: agora ele só serve para ser visto.
A evisceração do controle remoto foi feita por Pavlov usando a sua famosa técnica de manipulação oral: mordidas e dentadas, uma catarse aonde o instinto mais animalesco faz nascer a arte mais sublime. A violência do trabalho serve a um fim nobre: mostrar o vazio que realmente há por dentro de toda esta modernidade eletro-eletrônica que nos cerca, revelando o que há por trás da casca destes monolitos bebedores de sangue elétrico que usamos para praticamente tudo (inclusive para ler este post).

Pavlov, com um ar meio blasé
Cinema ruim, robôs, decepções e arte moderna.
2007-07-23 20:20:00 +0000
Sexta-feira eu assisti Transformers. Que é um filme bem mais ou menos. Eu fui animado por ver os reviews que alguns blogueiros postaram após uma pré-estréia, mas me decepcionei.
Transformers é um episódio de Malhação com eventuais aparições de robôs.
O roteiro é patético e só não cai aos pedaços por causa do carisma de Sam Witwicky, o personagem principal (interpretado por Shia LaBeouf). Falar dos efeitos especiais é desnecessário - bons efeitos são commodities em qualquer filme não-independente feito depois de 2001 - mas o diretor exagerou. O combate final, por exemplo, fica impossível de acompanhar: tem coisas demais acontecendo na tela e roteiro de menos para dar sequência àquilo tudo.
Por sinal, acabei decepcionado em todas as vezes que fui ao cinema este ano. O que diabos aconteceu em 2007? Onde estão os filmes realmente bons? Eu devia ter lido o Vilaça, que deu duas estrelas pra essa joça, antes de gastar R$ 7 no ingresso...
No domingo eu finalmente visitei o Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho, à uma hora de carro de Belo Horizonte.
O Inhotim é um mashup (hehe) de museu de arte moderna com parque e jardins planejados. É um ótimo programa para um domingão de sol.

O acervo do Inhotim é excelente, mas uma obra em particular me chamou a atenção: foi Samson, de Chris Burden (foto ao lado). Samson ("Sansão") é uma escultura conceitual, composta por uma máquina com dois pilares de madeira pressionando as paredes laterais da galeria. No meio deles há um martelo hidráulico de 100 toneladas, que fica conectado à roleta que dá entrada para a galeria. O funcionamento (mostrado com detalhes neste vídeo) é assim: Cada pessoa que passa pela roleta aciona um mecanismo que aciona o martelo e afasta, milímetro a milímetro, os pilares que pressionam as paredes. Assim, se passar gente suficiente pela roleta, a escultura vai acabar demolindo a galeria.
Genial. É por isso que eu adoro arte moderna...
Bump, tick, scratch - desconstruindo para construir
2007-07-16 22:55:00 +0000
Tipo que eu parei de fazer posts que só replicam conteúdo de outros sites: o que eu vejo na net e acho interessante eu boto no meu del.icio.us e aparece ali na coluninha à direita.
Mas esse é muito foda e precisa ser mostrado aqui, com destaque.
Vi no Urbe um pequenino curta chamado "Bump, tick, scratch" que mostra o processo de criação de loops usado por John Pugh, baterista do !!! (leia-se "chk chk chk"). É lindo. É muito lindo. É genial. É um Ctrl+C, Ctrl+V só que de verdade.
Três conselhos que tornam meu casamento mais feliz
2007-05-25 23:04:00 +0000
Conselho 1
A posição das xícaras na mesa interfere diretamente no bem-estar da minha esposa.

Assim está ERRADO!! Esposa em pânico!! Morte, dor e sofrimento!!!

Assim está CERTO! Esposa feliz! Prosperidade conjugal!
Conselho 2
A qualidade da panela de pressão de seu lar interfere diretamente no branco do seu fogão e de tudo que o circunda. A razão disto é que, quando você cozinhar feijão preto numa panela vagabunda, a válvula de segurança vai estourar e você terá fotos bem nojentas para postar no blog.


...e ainda faltaram fotos dos armários (brancos) e do teto (branco), que ficaram imundos. É sério, voou feijão até o teto.
Conselho 3
As criações em artes plásticas dos seus animais de estimação (leia aqui e aqui para entender) interferem diretamente na integridade física da decoração do lar, bem como no nível de pressão sanguínea dos seus proprietários.
Digo isto porque Pavlov canalizou seu ímpeto criativo/destrutivo para os livros de arte que ficam na mesinha de centro da sala, num trabalho instigante que expressa, ao mesmo tempo, o desprezo pela arte e o desejo de consumí-la, devorá-la. Coisa de gênio.


"Hopper" - Técnica mista (mordidas/patadas) sobre papel impresso
Acervo do artista - 2007
P.s.: Falando em Hopper, alguém mais notou que a propaganda do Ford Fiesta tem um cenário "chupado" do seu quadro mais famoso, o "Nighthawks"?
Pavlov - Um Artista de Vanguarda (parte 2)
2007-02-26 23:15:00 +0000
Parte um aqui
O tempo traz consigo a maturidade para os jovens artistas. O ímpeto criativo, por vezes descontrolado, pouco a pouco vai ganhando forma e direção. Normalmente é nesta fase da carreira que os artistas produzem suas obras-primas.
Pavlov, artista precoce, não precisou dos favores do tempo e da maturidade para demonstrar direcionamento criativo, e surpreendeu mais uma vez ao produzir as obras da série intitulada "quinas".

Quina 1
Plástico, terra, plantas, pedras decorativas - 2007
Acervo do artista
Em sua arte, continuam onipresentes o sentimento da fúria primal e da oralidade: Pavlov executa todos os seus trabalhos com a boca, nas madrugadas onde fica sozinho e livre em sua casa. Mas a novidade agora é o objeto do trabalho: as quinas. Quinas que, destruídas, tornam-se "ex-quinas", e que ilustram o sentimento de estar à beira de algo, à margem, até mesmo encurralado.

Quina 2
Madeira, metal e plástico - 2007
Acervo do artista
As obras da série "quinas" também fazem uma brincadeira com a sua crescente popularidade no mercado da arte. O release publicado no mês passado foi um dos posts mais populares de todos os tempos - bateu o recorde de comentários, por sinal -, mas ainda assim Pavlov se coloca à beira das suas obras, compostas basicamente por grandes móveis, adulterados em apenas uma de suas beiradas. Esta também é uma referência ao poder de sua arte: com simples mordidas, alterações aparentemente insignificantes quando se considera a dimensão do objeto adulterado, Pavlov praticamente os inutiliza e os despe de sua função estética original, depreciando profundamente seu valor - causando assim um impacto e horror profundos em quem os encontra semidestruídos.
Este horror provocou uma reação interessante em Bethania Duarte, a responsável pela curadoria de suas obras: tomada de um sentimento de repulsa pela destruição do móvel usado em "Quina 2", Bethania cobriu a beirada semidestruída do móvel com pimenta, para impedir que Pavlov concluísse sua obra. No dia seguinte, o móvel continuou sendo trabalhado: Pavlov adorou o sabor da pimenta.
Esta é, sem dúvida, a marca inegável de seu gênio.
Pavlov - Um artista de vanguarda
2007-01-30 02:44:00 +0000
Bem que eu achei que estava ganhando apenas uma bola de pêlo saltitante quando concordei com a história toda de ter cachorro em casa.
Mal sabia eu. Pavlov, apesar do nome de cientista, na verdade é um artista plástico. Até escrevi um release pra ele...
Pavlov - O ego feroz por trás de uma arte instigante

Pavlov em casa, manipulando tecidos para um projeto
Uma arte movida por um desejo primal. Talvez esta seja uma das formas de descrever o trabalho do jovem Pavlov. Sua produção é o produto de um pensamento não-contínuo, algo bestial, que se traduz num desejo incontido recalcado na oralidade da infância e que produz obras cheias de símbolos expressivos, violentos, destrutivos.

"Óculos"
Metal, plástico e resina - 2007
Acervo do artista
Pavlov usa como meio de expressão os readymades da vida moderna: objetos comuns do cotidiano. Em seu processo criativo estes objetos são destruídos pelo artista, numa catarse irracional, usando sua própria boca (Pavlov chega a "mastigá-los" por horas a fio) E é neste ponto que começa a beleza de sua obra, que constrói partindo do caminho inverso: o da aniquilação.
A complexidade da arte de Pavlov pode ser percebida em vários outros níveis, ao se considerar, por exemplo, a forma com a qual as peças são trabalhadas. Em "Óculos" percebe-se a "quebra", a "divisão" da "visão" interior do artista. Teria ele, distorcendo este símbolo de filtro da visão, obtido uma percepção ainda maior da realidade que nos cerca? Teria a sua obra uma mensagem implícita, convidando-nos a jogar fora nosso antigo método de observar o mundo?

"Sapato"
Couro e borracha - 2007
Acervo do artista
Em "Sapato", esta abordagem é ainda mais evidente. Com sua boca, Pavlov trabalha a "língua" do sapato e constrói nele uma nova boca, distorcida e sem voz - como a boca do próprio artista (que não costuma falar muito). A escolha dos objetos também demonstra uma clara afronta a tudo que é rotineiro, corporativo, ligado a escritórios e a trabalho, e ao mundo humano comum. Nada parece escapar ao seu ímpeto criador-destruidor.
A manipulação de objetos representa uma nova fase da carreira de Pavlov, que anteriormente trabalhava de forma ainda inocente, mas agressiva, usando seus excrementos como forma de expressão. O material de produção de suas obras evoluiu, mas sua criação ainda conserva a mesma determinação em chocar seu público e despertar confusão e raiva. Pois é nisto que está o cerne da obra de Pavlov e sua consequente genialidade: em sua obstinação de ser infantil e irracional, ele nos mostra o quão animalizada a criatura humana pode ser quando os objetos-ícones de sua rotina são brutalmente (e oralmente) reestruturados.
Patins e artes cênicas
2006-06-20 16:02:00 +0000
Ah, o feriado. O feriado serviu, basicamente, para preparativos do casamento, que se aproxima em altíssima velocidade.
O feriado era de Corpus Christi, portanto eu e Bethania fomos pagar nossos pecados fazendo uma peregrinação pelas lojas de móveis de Belo Horizonte. Consegui a proeza de gastar quase 40 litros de gasolina em quatro dias, e muitos outros dinheirinhos com mobília. A coisa tava tão preta que eu e Bethania estávamos pechinchando até na hora de comprar um varal.
Mas como diria Jack Torrance, muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão, então aproveitamos uma das noites para conhecer um restaurante chamado Esopo.
O Esopo é obra de um cara que fez um restaurante no seu ateliê de pintura e que contratou atores para se vestirem de pierrôs e ficarem fazendo brincadeiras com os clientes a noite toda. Os pierrôs trocam o pessoal de mesa, levam o pessoal pra dançar no palco, declaram poesia, é uma balbúrdia. Mas uma balbúrdia divertida.

Momento "todos dançando e rodando" no palco...
Teve também um momento "castanholas", onde uma senhora, vestida num vestido preto de bolinhas brancas, saiu clac-claquezando, rodopiando por entre as mesas e gritando coisas em espanhol, completamente despirocada, como se tivesse tido uma overdose de guaraná em pó. Ela levou um pessoal para o meio do palco e sapateou com o público. E para horror geral, ela levantava a saia para mostrar como era o sapateado. Mas levantava a saia TODA. Eu ainda estou com essa imagem impregnada no meu cérebro.
E o ponto alto da noite foi numa hora em que os pierrôs e umas dançarinas de flamenco estavam no palco com alguns clientes, e de repente um senhor, baixinho, barbudo e grisalho, sobe no palco e começa a gesticular com as mãos para o alto, e depois começa a "comandar" as bailarinas com gestos e poses estilo "eu sou foda pra caralho", como se ele fosse um deus, completamente alheio à movimentação do resto do pessoal. A "performance" dele foi tão autista que até os garçons pararam pra ver.
Era ninguém menos que o dono do lugar...
O cara é o típico artista doido. Atrás do palco fica uma tela enorme de 4 metros de altura e 8 metros de comprimento, intitulada "O Equilíbrio Humano", que levou 4 anos pra ser pintada (e outros 15 só de preparação, estudos e concepção). Não perca a explicação da tela, dada pelo próprio autor, no site.
Em outra das noites, após a peregrinação obrigatória, fomos experimentar um ringue de patinação no gelo que montaram num shopping. Levei de brinde algumas bolhas nos pés e essa foto aí do lado, que minha irmã bateu. É de um gayzinho que passou horas rodando, como uma bailarina, no centro do ringue.

Nunca imaginei que ser gay fosse uma coisa tão... gay.
O artista arteiro
2006-04-12 04:10:00 +0000
Em janeiro de 2006 o artista plástico japonês Souzousareta Geijutsuka foi convidado especial do Museu de Arte Contemporânea de Fortaleza, com a mostra "Geijitsu Kakuu". Os jornais publicaram belas resenhas do cara, que até deu entrevista por e-mail.
Aí no dia da exposição não tinha obra nenhuma do cara. Nem mesmo o cara tava lá. Só umas mensagens na parede. Uma delas dizia:
"O que me interessa é interrogar sobre a qualidade do que compõe todo esse sistema de legitimação estética: críticos, jornais, artistas, curadores, galerias, museus e o próprio público"
Souzousareta Geijutsuka, em japonês, significa "artista inventado". Geijitsu Kakuu (o nome da mostra) significa "arte e ficção". Ou seja, era tudo inventado. O golpe todo aí foi obra de um artista plástico real, cearense, chamado Yuri Firmeza.
Eu li isso no avião hoje, e achei simplesmente magnífico. Pena que o link com mais informações que achei saiu do ar.
A Última Pergunta (ou: filmes vs. livros)
2006-01-23 21:30:00 +0000
Eu nunca tive muita paciência para livros.
Não que eu não goste de ler, mas é que, em se tratando da arte de contar histórias, eu preferia muito mais os filmes do que os livros, em grande parte por pressa. É que, numa análise superficial, é bem mais rápido assistir a trilogia de O Senhor dos Anéis no cinema do que passar os olhos, letra a letra, pelas milhares de páginas da obra de Tolkien. E olha que são umas nove horas de filme no total.
Eu já sabia que este meu argumento era falho. Mas foi hoje que percebi o quanto ele é falho.
Tava vendo os links no populicio.us e tinha um deles intitulado The Last Question (A Última Pergunta) - É um conto de Isaac Asimov que eu nunca tinha lido e que estava prefaciado no site mais ou menos assim:
Isaac Asimov foi o autor de ficção científica mais prolífico de todos os tempos. Em cinquenta anos ele produziu, em média, um artigo de revista, conto ou livro novo a cada duas semanas, a maioria deles numa máquina de escrever mecânica. Asimov considerava "A Última Pergunta" (...) como o melhor conto que já escreveu. Mesmo que você não tenha conhecimento científico suficiente para entender todos os conceitos apresentados, a história possui um final mais impactante do que qualquer outro livro que já li. Não leia o final da história antes!
Como o conto é curtinho, li rapidamente... e meu queixo foi no chão logo após ver as palavras finais da história. Há tempos eu não lia nada tão genial quanto aquilo, e pelo visto vão passar ainda mais muitos anos até que eu leia algo tão genial novamente.
Aí eu lembrei dos filmes e percebi a dimensão do meu erro ao comparar uma coisa com a outra: um filme sobre este conto JAMAIS faria jus à sua grandiosidade. Esta é uma história cuja dimensão só pode ser concebida mentalmente quando lida - imagens num filme representariam apenas uma fração da história - até limitariam a percepção dela - e no final estragariam tudo.
Eu recomendo que você pare o que estiver fazendo e vá ler o conto. Tem uma tradução meio tosca aqui. E, repetindo: NÃO LEIA O FINAL antes!
Um post, uma semana
2006-01-20 18:30:00 +0000
O tempo é curto e serei, portanto, lacônico:
Fim de semana passado foi dia de comprar tintas e coisas de reforma. É para o apartamento onde eu e Bethania vamos morar depois de casados. Sobrou pouco tempo pra lazer, que consistiu basicamente em ir ao teatro. Vimos:
- Estado de Sítio, baseado na obra homônima de Albert Camus. Surpreendentemente boa em todos os aspectos: montagem inovadora, texto espetacular, cenografia super criativa. Altamente recomendada. Vou até botar uma foto da peça aí embaixo.

- Os Sete Gatinhos, texto de Nelson Rodrigues. Pra resumir minha opinião sobre a peça, eu diria que o gênero pastelão está para a comédia assim como Nelson Rodrigues está para o drama. Não é que a peça é ruim, mas que ela estava assim um tanto quanto exagerada. Um pouco over, como diria o pessoal lá da emissora de tevê.
As últimas quatro noites que passei aqui em São Paulo foram em três hotéis diferentes, por incrível que pareça. Tudo culpa do São Paulo Fashion Week.
É que a cidade está lotada por causa do SPFW, e nossas reservas no "habitáculo" caem após as 18 horas. Chegamos lá, eram dez da noite, e a fila para o check-in era tão grande que saía do saguão.
Acabou sendo uma coisa boa, porque fomos parar no Blue Tree Faria Lima, com quartos grandes, vista bonita e modelos magricelas perambulando pelo saguão a toda hora...

Blue Tree Faria Lima
Até o elevador era sofisticado e tinha uma tela de cristal líquido que passava notícias (e paus do Windows).
No dia seguinte, após mais confusão com reservas de hotel, fomos parar em outro Blue Tree, dessa vez o da Av. Ibirapuera.

Blue Tree Ibirapuera
O resto da semana eu passei no flat (que já mostrei aqui). Por sinal alguns colegas da indústria química foram vítimas do assalto clássico cometido por motoqueiros armados. A diferença é que eles estavam dentro do saguão do hotel...
Cinema, Música e Arte
2006-01-10 20:25:00 +0000
Glitch Browser. Página que carrega uma página pra você, tomando o cuidado de estragar levemente o seu conteúdo. O resultado? Arte.
O link ali em cima faz o Glitch Browser "estragar" a página com imagens interessantes da semana do Flickr. Elas ficam ainda mais interessantes, por sinal.
Por outro lado, vejamos os cinco primeiros filmes do ranking das bilheterias americanas de 6 de janeiro:
1. Hostel
2. As Crônicas de Nárnia - O leão, a feiticeira e o guarda-roupa
3. King Kong
4. As Loucuras de Dick e Jane
5. Doze é Demais 2
Destes, apenas Hostel possui roteiro original - Nárnia é baseado no livro homônimo, escrito por C.S. Lewis, King Kong é um remake, As Loucuras de Dick e Jane é uma releitura da série original de 1979 e Doze é Demais 2 é, obviamente, uma continuação.
Além disso, o número de filmes inspirados ou baseados em "terceiros" nunca foi tão grande - seja de livros (O Senhor dos Anéis, Harry Potter) ou de quadrinhos (Homem-Aranha, Batman, Sin City, Quarteto Fantástico, Elektra, Demolidor, etc).
Será que acabou a gasolina criativa em Hollywood? Ou os estúdios estão apostando nos remakes e filmes "baseados em" porque seriam mais rentáveis?
O funk realmente vai dominar o mundo.
O Pablo Vilaça, no seu blog, está linkando uma música de Kevin Federline (o marido de Britney Spears). A música é um single do seu álbum de estréia como rapper e foi lançada na virada do ano. Kevin canta, em "português":
Gatchenha, sai do xau, vai descendo o popossau...
E no meu exemplar quinzenal eletrônico da revista eletrônica sobre música eletrônica (hehe) Earplug tinha um link para um DJ set das Sick Girls que ficou tão popular que derrubou o republish.de, que é onde o set estava hospedado.
Estou ouvindo o set neste exato momento. O que os meus fones de ouvido estão dizendo, em bom português, é:
Vai, popozuda, vai descendo até o chão
Requebrando na batida do Miami Reggaeton
Eu tenho a força, cavaleiro de Jedi
então vem popozuda, vai! Vai! Vai
Sim, é exatamente isso que você está pensando.
O post do final do final de semana
2006-01-09 02:48:00 +0000
...que foi, basicamente, duas coisas: rápido e cheio.
Como tem um casamento se aproximando em alta velocidade, eu e Bethania passamos a maior parte do tempo com a cara enfiada em revistas de decoração, debatendo animadamente sobre qual deve ser a cor da parede da cozinha. Aí, para relaxar, saíamos em peregrinação pelas lojas de material de construção, em amigável contato com as criaturas do ramo da construção civil: tinha desde o vendedor que faz cara feia pra te atender (mas é todo sorrisos com a sua noiva) até o marceneiro lendário, que contou que era motoqueiro, que quebrou a perna e botou 25 parafusos no tornozelo, que toca nove (nove!) instrumentos musicais, que já tocou com Milton Nascimento e já compôs músicas com Lô Borges... e que me fez pensar o que diabos um cara assim está fazendo no ramo da marcenaria.
Entre um orçamento e outro deu tempo de fazer alguma coisa mais relaxante, como ir ao teatro. Fomos ver O Tempo e os Conways, peça de J.B. Priestley, em montagem do grupo EnCena. Eu fiquei fascinado com o texto de Priestley, e a montagem ficou extremamente competente. O Primo recomenda.
No domingo - além de mais uns orçamentos - deu pra assistir em DVD Maria Cheia de Graça, filme sobre uma jovem colombiana que trabalha como "mula", ou seja, come papelotes de cocaína, embarca em aviões para os EUA e... bem, digamos que quando ela passa por "Chicago", em vez de "Boston" temos um pouquinho a mais de droga em território americano. O filme é mais ou menos como este trocadilho: horrível. Mas foi premiado em Cannes, a atriz principal foi indicada ao Oscar e até o Vilaça, por alguma estranha razão, gostou.
E acabou. Agora, às vésperas de passar mais uma semana em São Paulo, eu penso em como é bom... voltar pra casa.
Quando o avião está quase tocando a pista do aeroporto de Congonhas, eu olho pela janela e até consigo me localizar: "Aquilo ali é a marginal Pinheiros... e aquilo é o Ibirapuera". E me dá um desconforto estranho depois do pouso, quando entro no táxi. Desconforto de estar num lugar familiar mas estranho ao mesmo tempo. É exatamente o contrário do vôo de sexta, quando o avião está prestes a pousar em Belo Horizonte, e eu olho para cada avenida no chão e sei exatamente onde ela vai parar. E aí eu desço do avião e vejo a portinha do terminal do aeroporto penso nas centenas de vezes que eu vou ver aquela mesma portinha - e nas centenas de vezes em que vai ser bom ver de novo aquela portinha.
FDS Cultural
2005-11-07 05:15:00 +0000
Pois é. Esse fim de semana foi bem rico.
Sexta: O Guia do Mochileiro das Galáxias. Filme cômico...
Finalmente descobri de onde vinham algumas frases que eu via picadas por aí, como a resposta à principal pergunta do universo (é 42) e a frase clássica de Marvin: "Life. Don't talk to me about life"...
Sábado:
Cidade Baixa, filme recém-estreado (que tem até blog oficial). Filme brasileiro do jeito que eu gosto: urbano e cru. E bem executado, principalmente em termos de fotografia e de som. O som direto, então, é delicioso: tem uma cena onde Karinna está no banho, chorando, e o barulho da água caindo e reverberando pelo pequeno banheiro é de uma nitidez magnífica. Eu só achei o roteiro um pouco sem amarras, principalmente no final, mas é uma falha que não desmerece o longa. Eu recomendo.
Destaque para a quantidade absurda de palavrões (incluindo xingamentos inacreditáveis do tipo "vá se f**** no meio da desgraça seu filho de uma p***") e para o personagem chamado Dois Mundos (?!), interpretado por... Dois Mundos (?!?). Pode conferir nos créditos...
À noite teve dança folclórica, dessa vez do grupo Sarandeiros, "concorrente" daquele onde Bethania dança. Era um espetáculo novo, com cenário elaborado e elementos de interpretação. Eu, que nem gosto de dança, acabei achando bem interessante.
Domingo:
Mais dança, por incrível que pareça. Vi o Nó, o novo espetáculo da Cia. Deborah Colker. No primeiro ato o palco é tomado por dezenas de cordas onde os dançarinos se penduram e se amarram. O segundo ato usa uma grande caixa vermelha, no centro do palco. A coreografia é expressiva e muito bem executada, o suficiente para deixar todo mundo de queixo caído, desde o pessoal do ramo até os ilustres leigos como eu. Ah, e a trilha sonora é magnífica, criada pela dupla chamada Monoaural (sem site).
Falando em trilha, eu mal consegui conter minha satisfação no intervalo entre o primeiro e o segundo ato. Porque a música ambiente que deixaram tocando era The Dead Flag Blues, do Godspeed You! Black Emperor...
O prédio (virtual) mais alto do mundo
2004-08-25 03:17:00 +0000
O maior prédio de apartamentos em pixel-art do mundo.
Fiquei uns 15 minutos apreciando este site e nem percebi.
DHTML?
2004-08-24 15:25:00 +0000
DHTML não é um padrão, é arte.
Reflexo da cara de pau
2003-08-09 03:36:00 +0000
Bitforms, uma exibição de arte digital que, entre outras coisas, tem um espelho de madeira.
É, um espelho de madeira. Você passa em frente, uma câmera digital filma você e a madeira do espelho muda para refletir sua imagem.
Eu te digo... nunca vi nada tão criativo. Sério.
Robos Artistas
2003-07-16 22:18:00 +0000
Vi uma interessantíssima matéria do site Wired News sobre a mostra ArtBots, em NY. São robôs que fazem arte.
Achei lindíssima a parte dos "artistas semivivos" - Neurônios de rato cultivados em laboratório, cujos impulsos elétricos são traduzidos em desenhos por um computador. Os desenhos são realimentados, via estímulos elétricos, nos neurônios, pra servir de retroalimentação ao impulso "artístico". Bizarro? Que nada, genial.
Computadores fazem arte; Robôs fazem também
2003-07-16 22:17:00 +0000
Vi uma matéria interessantíssima do site Wired News sobre a mostra ArtBots, em NY. São robôs que fazem arte.
Achei lindíssima a parte dos "artistas semivivos" - Neurônios de rato cultivados em laboratório, cujos impulsos elétricos são traduzidos em desenhos por um computador. Os desenhos são realimentados, via estímulos elétricos, nos neurônios, pra servir de retroalimentação ao impulso "artístico" dos neurônios. Bizarro? Que nada, genial.
(Update: Acessando artbots.org você é levado ao site da exposição do ano corrente. Os arquivos desde 2001 estão lá também)
Computadores fazem arte; Robôs fazem também
2003-07-16 22:16:00 +0000
Vi uma interessantíssima matéria do site Wired News sobre a mostra ArtBots, em NY. São robôs que fazem arte.
Achei lindíssima a parte dos "artistas semivivos" - Neurônios de rato cultivados em laboratório, cujos impulsos elétricos são traduzidos em desenhos por um computador. Os desenhos são realimentados, via estímulos elétricos, nos neurônios. Bizarro? Que nada, genial.
A Arte de Penetrar
2002-04-16 12:49:00 +0000
Arte é isso aí... acabei de ler na folha: "Direção da Bienal interfere em obra que permite entrar de graça na mostra"
Sei lá viu, a proposta é interessante, mas essas coisas "vanguardistas revolucionárias" tão começando a ficar manjadas.