Qualquer criança de cinco anos faria igual?
Não faz nem duas semanas que eu iniciei um post no Impop dizendo assim:
Nas artes visuais, especialmente as modernas, aonde conceitos de forma, estética e plástica foram bastante, digamos, "dilatados", paira sempre aquele incômodo do que é que separa o trabalho de um artista real do que "qualquer criança de cinco anos faria igual".
Pois então.
No último fim-de-semana recebemos um casal de amigos queridíssimos de Belo Horizonte, e nos nossos passeios estava incluída uma visita à pinacoteca, que abrigava uma exposição chamada “Norberto Nicola – Tapeçaria Contemporânea”.
Sim, tapeçaria. Noberto Nicola criou arte em tapetes. Como esse, da foto.
A exposição incluía também gravuras e estudos do artista, e algumas das gravuras eram feitas em computador. Achei-as meio bobas, mas como o foco do trabalho do artista eram os tapetes, deixei as gravuras pra lá.
No meio da exposição havia uma tevê exibindo um documentário sobre Nicola e sua arte. No vídeo, ele (fumava compulsivamente e) contava das suas extensas pesquisas, mostrava seu ateliê, seu tear, seus métodos de trabalho e tudo o mais. Várias cenas depois, o diretor-narrador do documentário corta para fora do ateliê e segue anunciando que Nicola “não tem medo da tecnologia”, e a câmera mostra o artista ligando seu computador.
E então Nicola abre o Microsoft Paint e começa a trabalhar.
Sim, você leu certo: o artista fez suas gravuras computadorizadas no MS Paint. E elas estavam ali, expostas nas paredes da Pinacoteca. Sim, eram desenhos feitos no MS Paint, parecidos com aqueles que você, eu e todo mundo fez quando mexeu num MS Paint pela primeira vez, impressos a jato de tinta e pendurados nas paredes da Pinacoteca. Sim, MS PAINT EM EXPOSIÇÃO NA PINACOTECA.
Minha cabeça explodiu e eu fiquei lá, travado, olhando ele clicar no baldinho e preencher os espaços de seu desenho. Depois ele pegou o spray e passou nas bordas de um grande círculo colorido; “para suavizar as bordas”, explicou. Na sequência, mostrando-se totalmente à vontade com a ferramenta, clicou em Editar/Inverter e inverteu as cores da figura.
E isto, meus amigos, era a técnica de produção de gravuras de um artista renomado em exposição num dos melhores museus de São Paulo. Eu tentei achar o documentário online ou reproduções dos desenhos do artista, mas sem sucesso. E eu fiquei tão passado que não tive nem a presença de espírito para fotografar as gravuras pra postar aqui.
E também não sei como termino este post.