Em 2007 escrevia eu sobre "Telegraphs in Negative/Mouths Trapped in Static", disco do Set Fire to Flames:

No site da gravadora Alien8, a história de Telegraphs in Negative é contada. Basicamente, os 13 integrantes da banda acharam um grande celeiro abandonado na área rural de Ontario, no Canadá, levaram o equipamento e se trancaram lá. "O álbum foi formado numa situação de isolamento auto-imposto, com a banda funcionando tanto individualmente quanto comunitariamente, em estágios de pouco ou nenhum sono, níveis variados de intoxicação, e confinados fisicamente", diz o site.

Telegraphs in negative NÃO é um disco divertido. NÃO é um disco fácil. NÃO é um passeio no parque. É uma jornada difícil por consciências atormentadas, por demônios escondidos atrás de cada pilha de feno e de madeira velha.

Mas a penúltima música, uma semi-faixa-título, é o tema deste post. Possivelmente ela foi produzida espontaneamente por algum dos integrantes da banda telefonando para a namorada, após dias de sofrimento auto-imposto. Como ela é a penúltima faixa você chega nela emocionalmente esgotado após passar pelo resto do disco - mais ou menos como a banda deveria estar após os muitos dias de gravação. E "Mouths Trapped in Static" é o necessário contraponto de tudo isso. Não fosse por esta faixa e "Telegraphs in Negative" seria um disco inaudível.

Creio ser uma das maiores músicas de amor que já ouvi.

(P.s.: Se o inglês estiver ruim:)

- Você pode falar aí?
- Sim.
- Quem está aí?
- ...nos caminhões. Não, posso falar sim.
- Tem mais alguém aí?
- Não.
(pausa)
- Um minuto.
- *longo suspiro* Cara...
- Você está realmente cansado. Eu sei. Sua voz está horrível.
(pausa)
- Te amo.
- Também te amo. (pausa) Eu não quero ficar aqui, quero ficar com você.

*ESTÁTICA*

- Eu estava sentada na cama...
- Sim.
- E estava meio que sonhando acordada...
- Mm-hm.
- E estava me lembrando... (longa pausa) hmm... sei lá, estava me lembrando de um monte de coisa.
- Como o quê?
- Estava me lembrando de quando você veio me ver depois da... coleção?
- Sim.
- E de como você simplesmente entrou pela porta.
- Sim.
- E largou tudo no chão.
- Sim.
- Eu estava só me lembrando disso, fazia muito tempo que eu não pensava nisso.
- Sim.
- E do quanto isso foi incrível.
- Sim. Mm-hm.
- Você tem que desligar?
- Não. Sei lá, não vou desligar com você conversando assim comigo.
- (Risos)
- Hm...
- Tem alguém perto de você?
- Ah, eles não estão prestando atenção.
- Hmm.
- Continue.

*ESTÁTICA*

- Você pode falar comigo quanto tempo quiser falar comigo ou você tem que desligar?
- Não, posso falar com você quanto tempo quiser.
- Eu quero falar com você.

*ESTÁTICA*

- ...saudades suas. Não é incrível *ESTÁTICA* quanto eu tenho saudades suas? *ESTÁTICA* E o quanto eu quero sentir meu corpo *ESTÁTICA* estar contra o seu?
- Bem, eu *ESTÁTICA* sentimento. *ESTÁTICA*
- Isso é bom!
- Sim. *ESTÁTICA*
- É bom que seja m*ESTÁTICA*útuo.
- Sim (risos).
- *ESTÁTICA* o quê?
- Mm-hm.
- Sabe, *ESTÁTICA*ensando hoje?
- O quê?
- *ESTÁTICA*mais sortudos do mundo porq*ESTÁTICA* isto, vai *ESTÁTICA* cada vez mais forte e *ESTÁTICA* sempre.
- E no *ESTÁTICA*

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(Este post foi originalmente publicado no Impop, saudoso blog da Verbeat, hoje extinto)