Tortoise - A Lazarus Taxon

Esse CD eu não comprei em MP3: acabei importando do jeito "analógico" mesmo, já que A Lazarus Taxon não é exatamente um CD novo do Tortoise, e sim um "box" com 3 CDs e 1 DVD cheios de remixes, versões ao vivo, faixas bônus, etc. Coisa de colecionador.

Musicalmente falando, A Lazarus Taxon é ótimo. Os remixes são formas de revisitar tudo de bom que o Tortoise já produziu. As faixas bônus são uma dose extra daquela sonoridade de jazz moderno, característica marcante da banda. E encerram em si algumas surpresas experimentais, como "Sexual for Elizabeth" que parece Tortoise tocando na Jovem Pan FM (!?) ou "A Grape Dope", que reinventa o tema usados em "The Taut and Tame" (do Millions now living...). Já o DVD eu ainda não tive tempo de ver direito.

Daedelus - Daedelus denies the day's demise

Todo dia de manhã eu rezo pra Deus e agradeço assim: "Senhor, obrigado por me fazer assinar o podcast da revista XLR8R". Pois é deste podcast que tenho tirado algumas coisas simplesmente geniais (como, por exemplo, J Dilla).

Daedelus apareceu num desses podcasts tocando "Remix for Nothing", uma faixa eletrônica-experimental feita de tudo misturado com tudo, com um objetivo muito bem definido: nenhum. Só pra ver no que dá. O resultado, despretensioso, divertido, ficou muito interessante. A letra do refrão é o máximo:

This... is it.
Yes it is, I say.
The remix, this is.
This is it, the remix.

Para aprofundar meu conhecimento de Daedelus, comprei o seu disco mais recente, chamado Daedelus denies the day's demise. E aí, surpresa: É nele que Daedelus descobriu o Brasil. Mais especificamente, o samba.

As faixas, batizadas de "Samba legrand", "Petite Samba", "Viva Vida", deixam bem claro que Daedelus anda curtindo bastante o repique do pandeiro e a miada da cuíca. Praticamente todas as faixas tem algum samba sampleado, ou usam a mesma estrutura rítmica do nosso velho e bom "paticumbum". "Bahia", então, dava pra tocar fácil neste carnaval. E ainda sobra espaço nas faixas para Daedelus esbanjar genialidade, usando ao contrário tudo que normalmente se usa em música eletrônica: os sintetizadores sóbrios tocam linhas melódicas animadas; os samples de músicas de antigamente não soam nostálgicos, e sim se empilham uns sobre os outros, tocando "chutadinhos", bem século 21. Tocando tudo errado, Daedelus acerta em cheio.

Em resumo, Daedelus denies the day's demise é imperdível. Taí um gringo que samba muito bem...

Set Fire to Flames - Telegraphs in negative

Set Fire to Flames é uma banda "irmã" do Godspeed You! Black Emperor. Ambas compartilham integrantes, soam similares, e tem uma atração forte pelo apocalíptico, pelo obscuro e pelo depressivo.

No site da gravadora Alien8, a história de Telegraphs in Negative é contada. Basicamente, os 13 integrantes da banda acharam um grande celeiro abandonado na área rural de Ontario, no Canadá, levaram o equipamento e se trancaram lá. "O álbum foi formado numa situação de isolamento auto-imposto, com a banda funcionando tanto individualmente quanto comunitariamente, em estágios de pouco ou nenhum sono, níveis variados de intoxicação, e confinados fisicamente", diz o site.

Telegraphs in negative NÃO é um disco divertido. NÃO é um disco fácil. NÃO é um passeio no parque. É uma jornada difícil por consciências atormentadas, por demônios escondidos atrás de cada pilha de feno e de madeira velha. É um disco que vai incomodar e vai lhe deixar deprimido.

No entanto, Telegraphs in negative é intenso, e por isso mesmo profundamente expressivo, atingindo extremos onde, por exemplo, uma faixa contendo apenas trechos gravados de telefonemas ("Mouths trapped in static") fica linda e é mais emocional do que quaisquer 20 minutos de guitarra urrando no último volume.

É preciso uma certa dose de coragem para ouvir telegraphs in negative. Coragem para se trancar com a banda naquele celeiro, no escuro, e ficar ouvindo os próprios fantasmas.

Laura - Radio Swan is Down

Este disco começa bem logo na bela pintura da capa. Já a música é rica, intensa. As guitarras cantam, guiando e construindo o som das cordas, do baixo e da bateria rumo a "paredes sonoras" espetaculares.

Quem conhece Explosions in the Sky vai achar esta fórmula bem familiar. Mas há diferenças. A intensidade rasgada de Radio swan is down é mais constante, e o que evolui nas músicas não é a melodia, e sim variações do timbre da banda inteira, que giram em torno de acordes mais sérios, solenes. Como se fosse um "Explosions in the Earth". Há também uma ou outra pitada eletrônica aqui e ali, como que para garantir o interesse ao longo do disco. Nem precisava: Radio swan is down soa maduro e seguro como poucas bandas conseguem.

Múm - Yesterday was dramatic, today is OK

Eu não entendi nada.

Na minha listinha de "saved for later" do emusic.com, este disco tinha a seguinte observação, feita por mim: "Baixar assim que der refresh nos downloads". Aí baixei, e até agora estou me perguntando por quê.

O disco é todo certinho: Ele soa quase como se não quisesse incomodar. Nenhum timbre é agressivo, todos ficam exatamente em seus lugares: a bateria sustenta, o baixo apóia, a linha melódica dá a... bem, a linha da música, e assim vai. É como um time que joga certo, faz o gol, ganha o jogo, mas só. Falta a ânsia de ganhar, de fazer coisas novas, de dar uma de Maradona e fazer gol com a mão.

Dizendo assim o disco parece uma porcaria, mas não. Yesterday was dramatic, today is OK tem seus méritos: as músicas tem um clima bom e tranquilo, evoluem sem pressa e levam o ouvinte a uma viagem de paisagens bem bonitas. Mas fica a impressão de que podia ter sido muito mais e não foi, parando apenas no "bom". E, como dizem, o bom é inimigo do ótimo - apesar de continuar sendo bom.