Como perder o ônibus de maneira épica
8:45:33 - Estou terminando de comer meu café da manhã na padaria da esquina. A padaria é bem em frente ao ponto de ônibus que eu usaria para chegar ao trabalho (já que a CPTM tava de greve).
Distraído, observo os ônibus passando enquanto dou minha última mordida no pão. Veio um, dois, cinco ônibus, e nenhum era o meu. Aí pensei: "aposto que, quando eu estiver pagando minha conta no caixa, meu ônibus vai passar e eu vou perder".
8:45:40 - "Bom, já que é assim eu não vou levantar, assim não perderei o ônibus".
8:45:45 - "Tá, mas se eu não me levantar eu não chego no trabalho, então não tenho muita opção".
8:46:02 - Estou na fila do caixa. Olho para o lado e - adivinha! - é o meu ônibus. Sorrio um sorriso amarelo de descrença e self-schadenfreude e começo a me sentir duplamente um idiota: por acreditar nessa superstição de que eu perderia o ônibus e por ela realmente ter acontecido.
8:46:04 - Reparei que haviam mais dois ônibus na frente do meu, fazendo uma espécie de fila no ponto. Olhei para a fila do caixa e só havia uma pessoa na minha frente.
E me deu um estalo: se eu for rápido o suficiente e entregar o dinheiro trocado, dá pra correr até o ponto em tempo de pegar o ônibus.
8:46:06 - O primeiro ônibus arranca e vai embora. Olho pra conta na minha mão: 3,00 do suco de laranja mais 1,50 do pão na chapa. Abro a carteira apressado, retiro duas notas de R$ 2 e começo a escarafunchar o compartimento de moedas, rezando para achar cinquenta centavos.
8:46:08 - Olho de novo pro ponto. O segundo ônibus já havia parado e saído, e só sobrou meu ônibus, já abrindo as portas pro embarque/desembarque. A fila do caixa continuava parada e, no meio das minhas moedas, só achei uma de R$ 1.
8:46:09 - "Que se dane!", pensei. Peguei os R$ 5, deixei em cima do balcão junto com a conta e comecei a correr em direção ao ponto.
8:46:10 - Meu ônibus arrancou e saiu.