O guarda-chuva amarelo
Interrompemos o hiato de vinte e um dias sem post para informá-los do momento surreal que vivi ontem no trabalho.
Eu e meu consultor-líder (chamemo-lo de Obi-Wan Kenobi) entramos em uma reunião às 11:30 da manhã para fazer uma apresentação com duração de uma hora. Acontece que slides de PowerPoint distorcem o espaço-tempo de tal maneira que a reunião foi acabar lá pras quinze pras duas da tarde, e na hora que nós dois, famigerados, botamos o pé na rua para ir almoçar, Brasília se dissolvia em chuva. “Ok, vamos dar um tempinho aqui que a chuva já deve passar”, combinamos.
Nem preciso dizer que ela não somente não passou como engrossou ainda mais, e as lombrigas do estômago lá, agonizando, enquanto eu olhava desconsolado o pessoal que era precavido e veio trabalhar com guarda-chuva voltando pra dentro do prédio, todo almoçadinho. “Putz, Obi-Wan, se pelo menos a gente tivesse um guarda-chuva…”, disse eu, desavisadamente.
E então, sem a menor cerimônia, Obi-Wan aborda o completo desconhecido que está passando na nossa frente com um guarda-chuva amarelo na mão.
- Ei, onde você arrumou esse guarda-chuva?
O cara faz uma cara de absolutamente perplexo (igualzinha a minha) e responde, hesitante:
- Err… é meu, eu comprei e tal.
E aí segue-se um momento absolutamente surrealista, onde a situação é tão ridícula que, apesar de todo mundo saber a intenção de todo mundo, ninguém se dispõe a expressar o ridículo da situação em palavras, e então a coisa toda é combinada com frases pela metade, tipo:
- Mas vocês querem…?
- É, tem problema se a gente…?
- Não, eu acho… vocês trabalham aqui no…
- Sim, você fica em qual andar?
- Ah, no décimo, depois vocês podiam…
- Claro, claro…
E então lá estávamos nós com o guarda-chuva do completo desconhecido em mãos. E eu lá, esperando pra ver como diabos Obi-Wan explicaria o que acabou de acontecer: pura e simples cara-de-pau? Foco no resultado? Um simples apelo à solidariedade humana? Fome em nível grande o suficiente para atravessar quaisquer inibições? E então ele diz:
- Putz, que coisa, achei que o guarda-chuva era de algum restaurante ou coisa assim…