O "making of" da picanha bovina
Já vamos pra mais de dois meses de projeto no frigorífico. Eu já estou entendendo um bocado de como a coisa funciona...
Isso aí em cima é o início de uma linha de abate de bovinos (vulgo "matadouro"). Os bois da foto desmaiaram após receber uma paulada pneumática na cabeça. O brilho nos olhos deles é o flash da câmera, que reflete o sangue que corre, pela última vez, nas retinas dos animais.
A posição, er, pouco intuitiva dos bois na foto é porque estão pendurando-os por uma das patas traseiras a um sistema de trilhos que os transporta ao longo da linha de produção. Daí pra frente fotos não são recomendáveis, mas o que acontece é o seguinte: na sequência eles terão as gargantas cortadas e o sangue retirado. A sangria é estimulada com choques elétricos no corpo do boi, já que o coração do bicho não bate mais faz tempo. Depois é a hora da "esfola" (quando arrancam o couro do animal), depois cortam a cabeça, as patas, retiram as vísceras e, mais adiante, um funcionário divide a carcaça do boi em duas... usando uma motoserra.
Falando assim o abate parece a coisa mais desumana da face da terra. O pior é que esse jeito "industrial" de matar um boi é o jeito menos cruel para o animal. Lembram da "paulada pneumática" que eu mencionei? O boi apaga e não sente nada a partir dali. O duro mesmo é o abate kosher: segundo os judeus a Bíblia não diz nada sobre pauladas pneumáticas, então, se a carne vai ser exportada para um Oriente Médio da vida, o boi tem que ser degolado e sangrado ainda consciente. E tudo sob a supervisão de um rabino. Pior que isso só quando o povo da roça inventa de matar boi e faz tudo sem equipamento, tentando nocautear o boi com pauladas "manuais", cortando com facas nem sempre afiadas e que fazem cortes demorados, etc. Aí sim o boi sofre de verdade, como ouvi dizer.
Em tempo: a foto não é minha, é de uma das meninas da minha equipe. Eu ainda não consegui ver isso tudo ao vivo, mas desconfio que o momento esteja próximo...