Hoje, com o fim dos jogos olímpicos, eu me peguei pensando no critério para classificar os países no quadro de medalhas. O Comitê Olímpico (e o resto do mundo) acha que é a quantidade de medalhas de ouro e coloca a China em primeiro lugar. Já o New York Times acha que é a quantidade de medalhas de qualquer tipo e coloca os Estados Unidos na frente...

Mas o que me incomoda no ranking é que ele compara países que levam delegações com mais de 600 atletas (como a China) com outros que levaram apenas seis. Então fiquei pensando: e se comparássemos não apenas as medalhas conquistadas, mas sim quantos atletas de cada país voltaram pra casa com medalhas? E se contássemos o número de "medalhas per capita"? Aí a comparação seria mais justa, pois o que conta não seria o número de atletas para cada país, e sim a qualidade deles...

Foi assim que bolei rapidamente um "índice de aproveitamento olímpico", um percentual do quanto cada delegação olímpica rendeu nas olimpíadas, calculado assim:

 Fórmula do Índice de Aproveitamento Olímpico

Assim, se um país levou cinco atletas e os cinco voltaram com medalhas de ouro, considera-se que o país teve 100% de aproveitamento na Olimpíada. Os percentuais multiplicados para as medalhas de prata e bronze na fórmula servem para que um país onde todos os atletas ganharam medalha de bronze, por exemplo, não fique também com os 100% de aproveitamento. Além disso, no caso dos esportes coletivos, contam-se as medalhas "físicas" recebidas, ou seja, o ouro do Brasil no vôlei feminino conta como 12 medalhas para não avacalhar o cálculo.

E como ficaria o resultado das olimpíadas deste ano sob este critério? Um domingo inteiro e muitas gambiarras no Excel depois (muitas MESMO, até macro eu fiz), eis o meu quadro de medalhas com os 20 primeiros colocados ordenados pelo percentual de aproveitamento:

Quadro de medalhas (com % de aproveitamento)
Clique na imagem para ver o quadro completo (JPG) ou aqui para baixar a planilha Excel.

Sob este critério o Brasil fica em vigésimo, três posições acima de sua posição no ranking oficial. E ainda tem algumas surpresas interessantes:

  • O grande destaque é a Nigéria, onde três de cada quatro atletas voltaram pra casa com medalhas. Mas como nenhuma delas foi de ouro, no ranking oficial a Nigéria ficou na posição 61. E alguns dos seus vizinhos africanos também tiveram ótima performance: a Etiópia e o Zimbábue tem o sétimo e oitavo melhor índice, respectivamente, e mesmo com apenas 56 atletas o Quênia obteve um melhor aproveitamento do que o Brasil - inclusive no ranking oficial.
  • A segunda maior delegação dos jogos é a dos Estados Unidos, com 596 atletas - e mais da metade deles recebeu medalhas. É, de fato, um desempenho impressionante. E mesmo com mais de 600 atletas e vencendo mais competições, a China ficou apenas na posição 13 deste ranking, com uma medalha para cada três atletas.
  • Países com delegações pequenas e performances invejáveis, como a Islândia, o Panamá, as Bahamas ou a Indonésia mal aparecem no ranking oficial. A Islândia competiu apenas no handebol mas foi a segunda melhor, levando a medalha de prata. O Panamá levou apenas três atletas, mas um deles fez o melhor salto em distância da competição e levou o ouro.
  • Na América Latina o destaque são nostros hermanos da Argentina, que mandou menos da metade de atletas que o Brasil e obteve 22,8% de aproveitamento - 6,4 pontos percentuais a mais do que nós.
  • A pior performance é da Venezuela, que mandou 109 atletas e voltou apenas com uma medalha de bronze. Mas ainda assim ela foi melhor do que os 117 países (e seus mais de 800 atletas) que voltaram pra casa de mãos vazias.