20080526 A figura do maestro é um tanto quanto "mitológica". Tanto que, recentemente, a Folha deu a notícia que um robô regeu a orquestra sinfônica de Detroit e todo mundo se encheu de "oohs" e "aahs". Mas você sabe o que o maestro realmente faz na hora de reger uma orquestra?

Da próxima vez que você for a um concerto, repare nos músicos: eles raramente olham para o maestro. Eu sempre achei isso muito estranho, até que um dia, conversando com o tio da minha esposa (que toca oboé numa orquestra), o mistério começou a se dissipar. Segundo ele:

Nas apresentações a orquestra toca praticamente sozinha. O maestro poderia apenas dar a primeira nota e sair do palco que não faria diferença.

De fato, o maestro até parece ser o responsável por tudo que está acontecendo - e portanto é quem leva o crédito pela apresentação (e os aplausos) no final. Mas na verdade ele é responsável pela função mais ridícula de todas: a de metrônomo.

Tudo que o maestro faz é marcar, com o movimento dos braços e da batuta, o tempo (andamento) da música - ou seja, se é pra ir mais rápido ou devagar. Ele também pode indicar as "entradas" (a hora de um instrumento começar a tocar) e também a dinâmica da música (se é pra tocar mais forte, mais fraco, etc.), mas isso já vem anotado na partitura. É um trabalho tão simples que um violinista pode tocar e reger seus colegas ao mesmo tempo - usando o arco do violino ou mexendo a própria cabeça. Isso acontece mesmo, tá lá no verbete da Wikipédia sobre regência, pode olhar se quiser.

Falando assim o maestro parece ser o maior de todos os picaretas. Mas seu mérito é merecido. Segundo o mesmo tio oboísta da minha esposa...

O maestro é realmente importante para preparar a orquestra.

Essa sim, meus caros, é a grande função do maestro: os melhores são os que, nos ensaios, conseguem tirar o melhor som possível de seus músicos - habilidade esta que tornou famoso o regente austríaco Herbert von Karajan: ele era tão bom nisso que seu jeito de moldar a orquestra resultava no chamado "som Karajan"...

...um som multifacetado, altamente refinado, laqueado, calculadamente voluptuoso que podia ser aplicado, com as modificações de estilo que ele julgasse apropriadas, à Bach e Puccini, Mozart e Mahler, Beethoven e Wagner...

Confesso que eu não me importaria se chamassem o meu trabalho de "calculadamente voluptuoso"...

20080526_2
Karajan, possivelmente fingindo que está trabalhando

Além de talentoso, Karajan (que, dizem, já foi do partido nazista) parecia também ser um ótimo businessman: ele foi um dos maiores apoiadores do CD na época do seu lançamento. Dizem até que foi por insistência dele que os CDs tem 72 minutos: era para, segundo ele, caber a nona sinfonia de Beethoven num único disco. Karajan também é tido como responsável por inflacionar os preços das apresentações, pagando salários exorbitantes para músicos convidados e fazendo subir o preço das apresentações. No fim, ele, como maestro, recebia mais.

De fato, os bons maestros são verdadeiros gênios - mas não necessariamente na hora em que pegam na batuta...