Porque vivemos na era do rapidshare, do speeddating, do quicktime e do fasttracking.

Nem todo mundo anda com tempo de ouvir música comprida. Exemplinho: lembra do Daft Punk? Fez "One More Time", que tem 6:05 minutos na sua versão original. Aí botou pra tocar no rádio. E o rádio não tinha "time" para "one more time" inteira, então passaram a faca no break de dois minutos que ela tinha bem no meio, sem cerimônia. Dois minutos, cara! "Dá pra tocar uma Rihanna nesses dois minutos", devem ter dito.

Aí tem gente que faz músicas com oito, dez, vinte minutos. Algumas são tão boas que é o resto do mundo que pára para elas tocarem. Assim, para inaugurar minha participação neste blog (primeiro post êêê!), aqui vai meu TOP 10 músicas longas.

10) "Everything lay still", Colleen (10 minutos e 47 segundos)
Imagine que você ficou preso dentro de uma caixinha de música...

9) "Another near miss", Laura (8 minutos e 51 segundos)
Laura é australiana e muito interessante. Esta faixa fecha o disco "Radio Swan is Down", a obra-prima da banda. Mas atenção para o spoiler: a música morre no final.

8) "13 angels standing guard 'round the side of your bed", A Silver Mt. Zion (7 minutos e 22 segundos)
É exatamente como 13 anjos da guarda em volta da sua cama soariam. E o engraçado é que esta faixa é uma exceção no trabalho normal do A Silver Mt. Zion, que normalmente faz música bem mais seca e difícil. (Curiosidade: "A Silver Mt. Zion" é apenas um resumo do nome correto da banda, "Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra & Tra-La-La Band")

7) "Autobahn", Kraftwerk (22 minutos e 43 segundos)
A música é mais velha que eu. E os mais velhos tem muito a ensinar. Vovô Schneider e Vovô Hutter já sabiam, há 34 anos, como construir belas experiências através de música - até mesmo experiências como a de viajar de carro.

(p.s.: descanse em paz, Klaus Dinger)

6) "Milano", Sigur Rós (10 minutos e 25 segundos)
O segredo da boa música longa são longos crescendos que desembocam em momentos de completa apoteose sonora, guitarra esmigalhando, bateria destruíndo, etc., como a que acontece bem no meio de "Milano". Você nem repara a voz de mulherzinha do vocalista....

5) "First breath after coma", Explosions in the sky (9 minutos e 33 segundos)
É como "Milano", mas não tem vocalista com voz de mulherzinha. De fato, não tem vocal nenhum. Mas muita coisa é dita pela melodia das guitarras.

4) "TNT", Tortoise (7 minutos e 33 segundos)
Essa música me lembra um amigo que, ao ouví-la pela primeira vez, fez uma cara inesquecível de "estou absolutamente fascinado com essa bateria".

3) "Djed", Tortoise (20 minutos e 59 segundos)
Os caras do Tortoise parecem se relacionar com a música em um patamar diferente das pessoas comuns. É como se eles morassem naquele andar 7 e 1/2 do filme "Quero Ser John Malkovich".

2) "La canción de gurb", Migala (8 minutos e 30 segundos)
É meio que uma versão mais longa para "Gurb's song", gravada três anos antes. "Gurb's song" conta, com um inglês cheio de sotaque español, a história de um amor súbito e incrivelmente intenso. E "La canción de Gurb" mostra, sem vocais mas com incrível nitidez de detalhes, a intensidade desse amor. Ouça com fones, bem alto.

1) "Storm", Godspeed You! Black Emperor (22 minutos e 32 segundos)
Storm é perfeição. Primeiro a música sobe aos céus num looongo e maravilhoso crescendo de 10 minutos. Depois você é arrebatado por sete minutos da "tempestade" que dá nome à faixa. E o que resta pelos últimos cinco minutos não é a bonança, e sim uma paisagem destruída, pós-apocalíptica, magistralmente bela em sua tristeza profunda.

Eu conto na mão esquerda do Lula as bandas que eu tenho vontade de ver ao vivo. O GY!BE é a banda do dedão, a primeirona da lista. Reza a lenda que o som ao vivo é tão alto que o público tem que ir se afastando do palco aos poucos. Eu acho que nessa hora eu também me afastaria. De joelhos.