A conquista do Sudoku
Terça-feira. Depois de duas horas preso no Aeroporto Santos Dumont por causa do mau tempo, finalmente entrei num avião rumo à São Paulo. Aí cismei de pegar uma daquelas revistinhas de passatempos da Tam para fazer umas palavras cruzadas e foi então que me deparei com alguns exemplares do jogo da moda, aquele que é a sensação nos aeroportos brasileiros: o Sudoku.
Você sabe, Sudoku ("único número" em japonês), esse joguinho aí do lado, dos quadradinhos. Tem que preencher com números de 1 a 9 sem repetir os números nas linhas, colunas e nos quadrados grandes de 3x3. Moleza né? NOT!
Sabe, eu tenho uma certa resistência à Sudoku porque ele é com números, e números expoem o lado imbecil do meu cérebro - o que mexe com números. Matemática nunca foi o meu forte: foi nela que tirei meu único (e traumático) zero numa prova, na quinta série. Eu sei lá como sobrevivi às aulas de cálculo na faculdade, sempre passava raspando, enquanto nas outras matérias eu mandava bem sem muito estudo. Meu ápice de genialidade acadêmica foi quando tirei total na temida prova final de Compiladores, a matéria mais difícil do curso de Ciência da Computação (que frequentemente reprovava metade da turma). Mas me dê um punhado de números e eu me enrolo todo. Erro as coisas mais idiotas - idiotas MESMO, tipo somar os 10% de gorjeta num restaurante.
Aí uma vez eu vi um casal de amigos meus - que são dois geniozinhos da matemática, diga-se de passagem (sim, vocês mesmos, André e Ju) - esmigalhando páginas de Sudoku na maior facilidade. Aí peguei um pra fazer e, dez minutos depois, meu cérebro deu tela azul.
Desde então fiquei com essa antipatia de Sudoku. "Não é atoa que tem Ku no nome", pensava eu. Mas naquela hora, no avião, eu senti que aquele Sudokuzinho poderia ser meu. E mandei ver.
Dez minutos depois, ao invés de tela azul, meu cérebro estava TOTALMENTE ALUCINADO de um jeito tipo John Nash: eu tava "enxergando" tudo, as possibilidades do jogo, as estratégias e tal. Fui sapecando os numerozinhos nos quadradinhos, feliz, achando que finalmente tinha espantado o fantasma do Sudoku, até que...
- Peraí, nesse quadradinho aqui não dá pra colocar nenhum número.
Chequei, rechequei e era verdade: eu havia cometido um erro em algum lugar. Aí a empolgação virou pânico: eu tentei fazer um backtracking, descobrir onde eu tinha feito caquinha, rabisquei uma ou duas casinhas e quando vi o avião havia pousado. Conclusão: depois de mais de uma hora debruçado sobre o Sudoku, tudo que eu tinha era isso aí do lado.
Cheguei em casa e fui chorar as mágoas com Bethania. Ela disse "ah, esse aí tá facinho" e completou um outro jogo da mesma página. Só pra humilhar.
Fui dormir me sentindo tão inteligente quanto Márcia Goldschmidt.
No dia seguinte o Sudoku continuava lá, em cima da mesa. Copiei o jogo numa planilha do Excel (coisa de nerd, não pergunte) e, para marcar a hora de início, twittei:
- OK, Sudoku. Você e eu. Agora.
Meu cérebro entrou em modo "(se achando) John Nash" de novo, mas eu redobrei a atenção pra não errar nada. Muita insistência e exatos 65 minutos depois... a vitória:
Finalmente o fantasma do Sudoku foi exterminado da minha vida. E confesso que foi até divertido.
Agora posso alçar vôos matemáticos mais altos. Dividir uma conta no restaurante, talvez?