Um instante nonsense na segunda-feira
Mais ou menos duas e pouco da tarde. Eu estou em casa, no notebook, estudando o emocionante capítulo de "Quality Management" do Livro da Rita - o livro preparatório para o PMP, que pretendo tirar ainda este ano. Já até paguei (caro) para fazer a prova, só falta marcar o dia. Pavlov está dormindo debaixo da mesa, em frente ao subwoofer, como de costume. Aí toca o interfone.
- Quem é?
- Correio. Tem que assinar.
Tem que assinar porque é carta registrada urgente. Bem, pelo menos é isso que diz no selinho dos Correios, porque, pelo carimbo da postagem, ela levou sete dias pra ser entregue.
Levantei e fui colocar uma roupa. É que eu estava estudando de cueca, já que aqui em casa faz um calor absurdo de dia, e a janela do escritório dá de frente para o telhado de amianto de um galpão, que reflete o calor todinho pra dentro da minha casa.
Enquanto eu vestia uma bermuda, Pavlov entra em modo "enlouquecido": ele já aprendeu que, quando estou me vestindo ou calçando algo, é porque provavelmente vou levá-lo para passear. Bem, o passeio é só até a garagem, mas ainda assim ele se empolga como se fosse viajar para o Tibet.
Aí eu abro a porta da garagem e vou até o carteiro. Pavlov vai na frente, alucinado, e fica parado no portão, abanando o rabo. Botei ele no colo para que ele não fugisse e comecei a assinar a papelada. Aí Pavlov começa a se contorcer alucinadamente:
- Ei, peraí Pavlov, senão você vai ca...
"Cair", eu ia dizer. Mas completei a palavra quando ele já tinha se espatifado no chão e saído correndo. Alguns segundos depois eu entendi a razão do desespero: ele viu Toby, o cachorro do vizinho, que apareceu na garagem para fazer não-sei-o-quê com uns pneus velhos. Pavlov e Toby tem uma rixa de longa data: Toby acha que é o dono do prédio e acha que Pavlov é seu concorrente. Pavlov não está nem aí pra isso e só quer "conhecer" Toby. Digo "conhecer" num sentido sexualmente ativo...
O carteiro percebeu e ficou rindo da minha cara:
- Peraí, os dois são machos? Pô, cara, bate um papo lá com seu cachorro, ele tem que se ligar que o lance é outro...
Assinei logo a papelada e corri para tentar colocar alguma clareza nos pensamentos de Pavlov. Toby estava completamente irado e começou a fazer xixi em todos os cantos, como que para mostrar que aquele território era dele e de mais ninguém. Pavlov, completamente sem noção, só queria saber de cheirar a genitália de Toby - inclusive DURANTE os momentos onde ele fazia xixi. Por sinal, eu já mencionei aqui que Pavlov até hoje não levanta a patinha pra fazer xixi? Pois é: ele faz o equivalente canino a "homem mijar sentado no vaso". Decepcionante.
Pra piorar ainda mais a situação, o meu vizinho, dono do Toby, é um ex-presidiário. Daqueles clássicos, cheios de tatuagem feita com tinta de caneta Bic e tal. Ele cumpriu pena porque vendia drogas mas, considerando o tanto de "amigos" que atualmente passam pelo meu prédio para visitá-lo, acho que ele ainda trabalha no ramo de "comércio". Tanto que, enquanto eu apartava os cachorros, ele veio fazendo um "merchan":
- Cara, se você tiver precisando aí de uns Nike Shox, umas roupas de marca e tal, depois cê passa lá em casa pra dar uma olhada, tem umas paradas lá...
E eu lá, confuso, sem saber se ficava no "'ahan' pra não render" com meu vizinho ou se separava os cachorros.
Agora estou aqui, escrevendo este post, de cueca, olhando pro telhado de amianto e suando. Pavlov está ali, dormindo de barriga pra cima, possivelmente tendo sonhos eróticos com Toby. E tem 35 páginas do capítulo de "Human Resource Management" me esperando.