Tive uma cena meio surreal hoje à noite.

Cheguei em casa moído depois do trabalho de hoje. Minha irmã ligou e acabei saindo com ela pra um... jantar dançante. Era beneficente, era do centro espírita que frequento. No jantar encontrei uma velha amiga da minha mãe, que de tão amiga é considerada como se fosse nossa tia. Aí fomos colocar o papo em dia, saber das novidades, etc.

Meia hora de papo depois eu fico sabendo que ela se separou do marido, curtiu a "liberdade" por um ano, arrumou namorado, terminou com o namorado, caiu em depressão, perdeu o emprego e só agora está entrando de novo nos eixos. Ao contar essa história toda ela ainda menciona, casualmente, que tentou se matar. Disse que tentou jogar o carro de uma ribanceira, mas não conseguiu porque havia uma vala no caminho e o carro ficou preso antes de despencar.

É muito, muito surreal ouvir um parente contando, sorridente, numa festa beneficente, com todo mundo elegantemente vestido, no meio de um papo animado, com uma bandinha tocando Tim Maia ao fundo, que ela tentou jogar o carro de um barranco.

Pensando no assunto eu acabo percebendo que tenho muito mais histórias suicidas na família do que o que eu consideraria "saudável": o quadro que enfeita o hall de entrada do meu apartamento, por exemplo, foi pintado por um primo que anda meio depressivo e volta e meia fala em tirar a própria vida. Dia desses um sobrinho do meu pai foi visitá-lo e contou que sua esposa, mãe de dois filhos, tentou se matar pela segunda vez.

Sob esta ótica eu concluo que realmente tenho que ser grato pela minha família estilo "propaganda de Doriana": marido e esposa apaixonados que ficam dando risada ao ver o cachorrinho sapeca fazendo bagunça pela casa. Eu achava que isso é que era o normal. Talvez não seja.