Compras do mês d'O Primo
Sim, eu comprei tudo na eMusic e continuo achando que você também deveria. E, sim, eu também fiz um "mini-podcast" com músicas de cada um dos discos, pra você ouvir enquanto lê. Aperte o play aí embaixo e seja feliz.
Podcast do Primo 02 - Compras do mês de Agosto
Tracklist
1) Girl Talk - Cleveland, Shake (0:00-3:38)
2) M.I.A. - Boyz (3:39 - 6:57)
3) Lusine - The Stop (6:58 - 10:32)
Girl Talk - Unstoppable
É engraçado: eu me lembro perfeitamente de, alguns meses atrás, ter dado uma olhada no "Night Ripper", o disco mais novo do Girl Talk. Na época minha opinião foi algo parecida com "ah nem" e eu deixei o disco passar batido.
Agora, todas as (muitas) repetidas vezes em que eu escuto o Unstoppable, eu me pergunto como diabos não percebi o quanto a música desse cara é genial.
O processo criativo de Gregg Gillis é totalmente Frankenstein: as músicas são mashups, construídos com zilhões de samples de outras músicas. E é exatamente aí que a diversão começa: ele sampleia desde os píncaros da Billboard (50 Cent, Beyoncé, Justin Timberlake, etc.) até clássicos dos anos 80 e 90, e também obscuridades como Christian Fennesz ou - Deus que me perdoe! - Pixies. E o bicho que sai dessa mistureba toda pode ser definido com apenas uma palavra: divertidíssimo.
Tudo na música de Girl Talk evoca diversão. Desde a batida freneticamente acelerada até a distorção proposital dos vocais e a mistura de trechos da letra de um com a letra de outro formando combinações inimagináveis e bem-humoradas. O resultado final é extremamente diferente dos originais, mas continua sendo estranhamente familiar, porque, afinal, ali no meio daquela bagunça toda tem músicas que você, com certeza, já ouviu antes.
É daí que nasce outro aspecto divertido do Unstoppable: o de reconhecer os samples que Girl Talk usa. Para os viciados em música (como eu) é muito legal botar Cleveland Shake pra tocar e pensar: "ei, esta guitarrinha é do começo de Celebrity Skin!" (do Hole). E logo na sequência vê-la misturada com vocais que dizem "Shake that ass! Bitch here let me see what you got!". Bem, eu, pelo menos, racho de rir.
Girl Talk consegue operar o milagre de transformar porcarias pop em música da melhor qualidade.
M.I.A. - Kala
Pela popularização de M.I.A. depois do primeiro disco, e o consequente networking advindo desse sucesso, eu estava esperando que Kala fosse vir empesteado de participações especiais. É a maldição do "featuring": avacalhou com o Daft Punk, matou e enterrou Fatboy Slim (lembram das músicas com a Macy Gray, que desastre?), deu um soco no rim dos até então inatacáveis Chemical Brothers...
Kala, felizmente, tem só três participações especiais: Timbaland (ugh!), Afrikan Boy e The Wilcannia Mob. Elas passam rápido e não obscurecem a verdadeira qualidade de Kala, que é, obviamente, a própria M.I.A.
A moça está cada vez melhor. Boyz, a terceira faixa, é a prova cabal disso: tudo que M.I.A. precisa fazer para cativar o ouvinte é cantar "boys, eh!". Acho que eu nunca vi tanto talento vocal em tão pouca letra. A produção do disco praticamente não mudou e continua lo-fi, multifacetada e com a quela cara de "foi feito no meio da rua" - o que é bom.
Lusine - Serial Hodgepodge
Definir o som de Lusine é difícil. Pense numa atmosfera entre o Boards of Canada e o minimal, tocando sobre uma base rítmica que transita entre o soul do Nightmares on Wax e o house do Basement Jaxx. É mais ou menos isso que este produtor de Seattle anda fazendo.
Esse trânsito amplo entre o som ambient intimista e o house mais largado faz com que o Serial Hodgepodge funcione tanto como música de fundo - pra ouvir no trabalho, por exemplo - quanto música "de frente", aquela que você ouve atentamente, com um par de fones, consumindo todas as nuances, as viradas, as mexidas de textura, etc.
Do ponto de vista criativo, não tem nenhuma novidade no trabalho de Lusine. Nada é inédito, nada é inovador: é tudo mais do mesmo. E é justamente por isso que o disco é bom, pois funciona perfeitamente naqueles momentos onde você quer descansar o ouvido com sons familiares, de qualidade e que nem sempre requerem sua total atenção.