YouTube Brasil: um problema sério?

Já faz algumas semanas que temos YouTube em "versão brasileira", com interface em português e destaque para o conteúdo nacional. Isto é um marco importante no mundo online brasileiro, certo?
Não pra mim. Eu acho que o YouTube brasileiro, do jeito que está, pode significar um golpe sério na nossa frágil internet, por causa de duas coisinhas:
1) O destaque para o conteúdo da tevê (principalmente a Globo) e dos grandes portais (UOL, Terra, iG, etc.);
2) A falta de conteúdo produzido pelos próprios usuários.
Pois é. Já notou a quantidade enorme de clipes da novela Malhação que aparecem em destaque? E as notícias da TV Terra? E os clipes do iG? A razão está nesta nota da Folha, com o interessante título de "YouTube brasileiro reproduz TV aberta em seu primeiro dia": o portal está fechando parcerias com os grandes conglomerados de comunicação do mundo. Uma pena.
Pra mim o melhor do YouTube era o "you". Era o usuário criando uma opção de conteúdo diferente do que o que está na televisão. Eu tinha um sonho de que o YouTube se tornaria a tevê que você faz para você mesmo assistir, e que consequentemente teria a sua cara, a sua cultura.
É isso o que acontece lá fora: o YouTube internacional pode até ter um monte de conteúdo retirado da tevê, mas o que domina a página de destaques são clipes produzidos por gente normal, que se filma tocando violão, soltando fogos de artifício por conta do dia da independência ou construíndo uma Millenium Falcon com lego. O destaque não é o que a mídia empurra, e sim o que o povo produz.
Já aqui no Brasil, para fazer um teste, acessei a página de vídeos mais vistos. Ela tem 20 vídeos. Eu contei 15 com conteúdo retirado da tevê - incluindo 6 do Ídolos do SBT e 6 de futebol. Dos cinco restantes, um era um show do portal iG, outros dois eram pornográficos e os outros 2 eram "reprise" de vídeos americanos. Não tinha NADA criado pelos usuários.
Neste ritmo, o YouTube do Brasil vai perder rapidinho todo o seu potencial e acabar servindo muito mais como uma extensão da tevê do que como um canal de mídia diferente, focado no usuário. E a culpa não é da Globo, e sim da nossa atitude leecher em relação a internet: todos querem consumir, mas não querem produzir. Mas isso é assunto para um outro post...