Uma mente brilhante (no caixa do restaurante)
No lugar onde trabalho pelo meu projeto atual, em se tratando de restaurantes na vizinhança, estamos mal servidos (pegou o trocadilho? Hein? Hein?).
São apenas duas opções. Uma delas foi apelidada por nós de extreme self-service, porque você não só se serve como também frita seu próprio bife e pega sua própria bebida na geladeira. É isso mesmo: você entra, passa pelo bufê e do lado dele tem uma grelha e um balde com um tanto de bifes semi-crus. Aí você frita seu bife e, logo adiante, tem a geladeira com as bebidas. Só tem funcionários na balança e no caixa e mesmo assim desconfiamos que, se o Brasil fosse um país de gente honesta, nem eles estariam lá.
Além do extreme, tem apenas outro restaurante, bem mais apresentável. Ele é um pouco mais caro, mas oferece um desconto de 15% pros funcionários da nossa empresa-cliente. E é aí que a coisa fica interessante.
Um dos nossos colegas notou que a menina do caixa anotava o preço com desconto na comanda. Ela pegava o papel, via o preço sem desconto, escrevia o preço com desconto - instantes depois, e sem usar calculadora - e recebia o dinheiro. Na velocidade com a qual ela escrevia ela tinha que ser uma geniozinha para, mentalmente e naquela rapidez, calcular o desconto e subtraí-lo do preço.
Como bons consultores que somos (cof, cof), tínhamos que investigar. Então, ontem, aproveitando que ela não estava no caixa, fiz uma pergunta para a funcionária que estava no lugar dela:
- Vem cá, como é que aquela menina calcula os 15% de desconto tão rápido?
- Ela não calcula. Ela decorou todos os valores.
Não podia ser verdade. Os valores variam centavo a centavo. Supondo que os pratos de comida custam de R$ 2 (anoréxica) a R$ 15 (peão de obra) ela teria que saber, de cor, dois mil e seiscentos números diferentes.
Ontem eu contei isso para o outro assistente e pro líder do projeto, que, obviamente, não acreditou quando contei. Então ele bolou um plano simples para uma auditoria no desconto: antes de ir para o caixa a gente faria a conta de qual seria o desconto, pra conferir se o valor que ela escreve não é invenção da cabeça dela.
Assim, depois do almoço de hoje, usamos a calculadora dos celulares para determinar o valor de cada um com o desconto correto. Memorizamos os números e fomos os três para o caixa, para a hora da verdade.
Primeiro foi o assistente. A mocinha pegou o papel e, de imediato, anotou o valor com desconto. Pela cara que "putaqueoparéu" que ele fez, ela provavelmente tinha acertado na mosca.
Na sequência, entreguei minha comanda. A mocinha pegou, olhou e escreveu o valor exato (até os centavos!), sem pestanejar. Depois veio o líder do projeto. Ela pegou a comanda, parou por um segundo...
- Hmm... esse eu esqueci...
Aí pegou a minha comanda novamente, olhou sabe lá Deus o quê, lembrou-se do desconto e escreveu na comanda do líder.
Confesso que, depois disso, eu acabei ficando meio triste. Pense bem: temos ali uma pessoa com uma habilidade que é fantástica e inútil ao mesmo tempo. Além do mais, considerando a facilidade dela com números, ela deveria estar é num escritório de contabilidade ou em alguma faculdade de alguma ciência exata - e não num caixa de restaurante.