Compras do mês d'O Primo
Atrasado quase dois meses. Mas.. vamulá:
Blonde Redhead - 23

Esta era uma compra imperdível após "Misery is a butterfly", o último lançamento da banda e que, pra mim, foi o melhor disco de 2004.
Até os videoclipes da banda denunciam que o Blonde Redhead está cada vez mais atraído para uma sonoridade cada vez menos "rock sujo" e cada vez mais bem-produzida, melódica, esteticamente bonita. Portanto, "23" nasce como um disco-irmão de "Misery is a butterfly", igualmente agradável, igualmente classudo. Faz sentido, se considerarmos que dois membros da banda são irmãos gêmeos...
As faixas alternam momentos de sonhos tristes, nas faixas onde Kazu Makino canta, com momentos mais "reality" na voz de Simone (ou Amedeo, sei lá, um dos gêmeos). O vocal não é convencional e quem nunca ouviu a banda acaba estranhando a voz aveludada e assustadora de Kazu e os agudos miados de Simone (ou Amedeo). Mas após umas duas ou três ouvidas, o disco desce igual uma Skol.
Destaque para "Silently", com uma letra melosa, vergonhosa e clichezenta e que, ainda assim, consegue ser a melhor faixa do disco.
Daedelus - Rethinking the weather

Daedelus basicamente copia e reorganiza samples e trechos de música dos outros, o que, teoricamente, nem poderia classificá-lo como um "criador". No entanto, Daedelus é um dos maiores gênios criativos que já vi na música eletrônica. Afinal, é preciso ser muito foda pra misturar coisas diametralmente opostas, como folclore japonês e batidas de hip-hop, e deixar tudo soando como se tivesse nascido um para o outro.
O interessante é que cada faixa se desenvolve em volta de um sample específico, que puxa variações do tema, que puxam improvisos diversos e assim em diante. Mais ou menos como quando você pensa alguma coisa e um pensamento puxa outro, que por sua vez puxa outro, e quando você vê já está viajando em uma idéia muito diversa da original. Pois é: a música de Daedelus é mais ou menos assim.
Destaque para "Dark days", que junta um coral de menininhas dos anos 60 com uma batida jungle e cujo efeito colateral é fazer você sair ricocheteando pelas paredes.
N.LN - Astronomy for Children

É engraçado: as músicas do The Sea and Cake são muito mais gays, e os discos deles não tem capas com pinturas de viadinhos...
Bem, mas falando do que realmente importa, N.LN praticamente implora para ser comparado ao Boards of Canada. As premissas musicais são as mesmas: sonoridade bem "amiga", ampla e suave, casada com melodias e batidas simples que se repetem por longos períodos. Mas ao contrário das "pranchas canadenses", o espectro por onde o N.LN passeia é mais variado, onde são usados elementos "glitch", arranjos mais sombrios - ou com menos climão de "sonho" -, batidas mais complexas e tal. Apesar disso, no fundo, o DNA da música é o mesmo do Boards of Canada. Taí, comparei de novo.
Destaque para a faixa "That spun my head", que significa "aquilo fez minha cabeça rodar" e é perfeita para ouvir quando você está na janela do avião, à noite, e a paisagem passa beeeeeeem lentamente debaixo de você.
Taylor Deupree - Nodal Points

Eu não sei por que compro essas coisas. Na verdade só eu devo comprar essas coisas. O próprio Taylor Deupree deve acessar o eMusic de vez em quando e falar: "que bosta, só uma pessoa comprou meu disco". E essa pessoa sou eu.
O desabafo é porque "Nodal Points" é um disco de música eletrônica experimental. Ou "eletroacústica", como chamam alguns. Essas coisas, quando não soam como CD riscado, soam como computadores dando erro ou como ruído elétrico do seu amplificador velho. Mas na verdade não é isso, é o compositor, supostamente um gênio musical de vanguarda, que está compondo de uma forma muito fora do comum: trabalhando timbres ultra-agudos, usando fórmulas matemáticas para gerar ondas sonoras (ou adulterá-las), explorando a expressividade que pode nascer de pedaçículos ínfimos de som repetidos muito rapidamente, e por aí vai.
Escrevendo assim parece que eu odiei o disco. Na verdade não, porque uma parte de mim entende o que ele está fazendo e aprecia com avidez cada blip ou tóing da maluquice toda.
Destaque para "Cell_H. 65.69.87", um ótimo exemplo de que, quando muita pouca coisa acontece, muita coisa está acontecendo. Entendeu? Meu Deus, comecei a escrever como aqueles críticos de arte...
Panda Bear - Person pitch

Vocais, reverb, mais vocais, muito reverb... hmm... aposto que substâncias ilegais foram usadas na concepção deste disco.
"Person pitch" vai pro lado da psicodelia estilão "anos 60". Guitarrinha, vocais, tudo embebido em quantidades absurdas de reverb. É basicamente isso, e... eu já disse que tem reverb o tempo todo?
Panda Bear, ao que parece, está em todas atualmente. Está entre os mais baixados do eMusic, se deu bem no Pitchfork (9.4), surgiu no (maravilhoso) podcast da XLR8R, e tal. O disco é bem bonzinho mesmo, apesar de ser um pouco "mesmice" demais. Sacumé, muito reverb.