O buraco é mais embaixo
A minha saúde física é tão boa que até dá um tédio. O pessoal com quem convivo às vezes aparece com úlcera, pedra nos rins, insônia, gastrite e o escambau. Mas eu nunca variava de doença: era no máximo uma ou outra crise de sinusite, e só. Parece que já estava na hora de aparecer alguma novidade no meu portifólio de patologias clínicas.
Foi então que, neste último fim-de-semana, notei que uma parte bem específica do meu corpo não estava lá muito legal. Começou com um incômodo nos "países baixos", que foi aumentando, aumentando, até que, quando fui ao banheiro fazer um "download", senti algo que pode ser descrito como uma caneta Bic saindo de mim na horizontal. Não, definitivamente não foi nada agradável.
Com tantas moléstias diferentes por aí, dando sopa no mercado, eu comecei a temer que a mais vergonhosa delas tinha acontecido comigo. Então peguei um espelhinho e, na posição em que Napoleão perdeu a guerra, fiz um auto-exame visual do meu "terceiro olho". A coisa não parecia nada boa.
No domingo de manhã, temendo que eu fosse precisar de uma daquelas almofadinhas infláveis pra conseguir trabalhar, fui me consultar com o mais temido dos médicos: o proctologista.
Consultar-se com um proctologista é uma experiência bem degradante. Pior até do que visitar um urologista: afinal, neste caso, o cara pode até pegar o seu "thunder", puxar, apertar, mas pelo menos ele está manuseando um órgão do qual você tem pelo menos algum orgulho. É o órgão da masculinidade, da virilidade, o responsável pela nobre missão de preservar a espécie. No caso do proctologista, você tem que expor justamente a parte do seu corpo cuja única função é fazer merda.
A coisa começa mal logo que o doutor pergunta: "E então, o que está acontecendo com você". Imagine-se na frente de um desconhecido, tendo que dizer que, bem, seu "ânus" não vai lá muito bem das pernas? Imagine você tendo que descrever com detalhes gráficos tudo que sente quando está "passando um fax", porque o cara te enche de perguntas tipo: "Quando você começa a evacuar, tem a sensação de que as primeiras fezes saem mais ressecadas? E no final, ainda fica uma sensação de que ficaram fezes retidas no ânus?". As minhas crises de sinusite eram tão mais fáceis de explicar...
Depois disso, o doutor te manda deitar na cama, abaixar as calças e virar de lado. Aí ele vem com as duas mãos, bota uma em cada nádega, e carinhosamente te pede para abraçar os próprios joelhos e dizer adeus ao que te resta de dignidade, enquanto examina aqueles lugares aonde o sol não bate.
Antes que vocês perguntem, NÃO, ele NÃO precisou "ir a fundo" pra descobrir o que eu tinha. Foi preciso apenas uma rápida inspeção visual e ele já tinha o diagnóstico: hemorróidas inflamadas.
O tratamento não requer cirurgia nem nada radical: apenas umas pomadas, um comprimido anti-inflamatório e... err... supositórios (ok, podem rir, eu mereço). Além disso, ele baniu o papel higiênico da minha vida. Segundo ele, o papel espalha a sujeira em vez de limpar, além de irritar o "tuim". Pode acreditar, te falo por experiência própria: você não vai querer sentir na pele o que é ter um "furico" irritado.