Ontem eu fiz seis meses de casado.

Às vezes eu encontro com amigos e eles me perguntam: "e aí, como vai a vida de casado?". Eu sempre respondo que é ótimo, que eu estou adorando e que eu recomendo pra todo mundo. Mas isso é uma resposta muito incompleta.

No último sábado eu estava em casa com Bethania, e fomos tomar um banho. Digo "fomos" porque fomos juntos pra debaixo do chuveiro. Nós temos tomado muitos banhos juntos. Não por causa de sexo ou nada do tipo, mas porque é simplesmente bom passarmos tempo juntos. É bom conversar fiado, jogar água um no outro, inventar brincadeiras bobas - tipo ensaboar o outro na hora em que ele vai sair, de sacanagem, só pra ele ter que se enxaguar de novo.

Mas no banho de sábado eu estava febril e com os intestinos revirando, graças a alguma comida de Windturn City que provavelmente tinha salmonella entre os ingredientes. Bethania estava cuidando de mim com um zelo enorme: fez sopa, media minha temperatura de meia em meia hora, reclamava porque eu me sentava em frente ao computador em vez de repousar, e por último me botou no chuveiro para abaixar a febre. E estava lá comigo, conversando trivialidades.

Eu nunca me esqueci de uma conversa que tivemos logo que o namoro começou, há sete anos. A gente falava sobre como deveria ser um amor realmente intenso de uma pessoa pela outra, e acabamos concordando que, se esse amor fosse realmente vivo, não precisaria de flores e música lenta pra ser percebido. Ele apareceria em momentos completamente comuns do dia-a-dia, como quando um estivesse na cozinha e dissesse, por exemplo, "o açúcar acabou". Como se todas as atitudes de um pelo outro fossem entremeadas por uma ternura tão forte que qualquer coisa feita ou dita iria querer dizer "eu te amo" nas entrelinhas.

E eu estava ali, tomando banho com a mesma namorada daquela conversa de sete anos atrás. E ela olhava pra mim e dizia coisas triviais, e eu entendia apenas "eu te amo, eu te amo". Era exatamente a utopia de sete anos atrás se tornando uma experiência real, bem diante dos meus olhos.

Eu nunca havia me sentido tão feliz quanto naquele momento.

Eu queria que o mundo soubesse o tamanho do que eu estava sentindo, mas não cabia nenhuma palavra no sentimento. A única coisa que consegui fazer foi abraçá-la, em silêncio, pra responder que também a amava - profundamente, intensamente, completamente. E, como que para não sobrar nenhuma dúvida da realização da utopia, ela entendeu, me olhou e disse:

- Eu também.