Venturas pela TV aberta
Noite de segunda, quarto de hotel, TV, a gente pensa um bocado:
Na Globo tem novela. Um monte de atrizes se esfregam no meio de um baile funk. A letra é assim:
É som de preto
De favelado
Mas quando toca ninguém fica parado
Eu não acredito que vou digitar isso, mas... a cada dia que passa eu respeito mais o funk carioca pela sua expressividade.
Não, não é sarcasmo. O funk é o que sai da favela quando você oprime o favelado com uma cultura de massa "bundalizada" e composta de podridão estilo "É o Tchan" e "Rouge". O MC que canta coisas do tipo "sessenta e nove, frango assado, de ladinho a gente gosta", o funkeiro que vai pro baile pra dar porrada na gangue rival, isso tudo é a catarse coletiva de um povo que não tem muito mais para se entreter além de sexo e violência.
Aí vem a reviravolta fantástica: esse "re-produto" cultural é tão vibrante e contagiante que agora é idolatrado pela elite, toca na novela das oito e tudo o mais. A letra que reproduzi ali em cima não poderia ser mais perfeita. "Vocês nos ensinaram a não pensar e mexer a bunda, então é isso que fazemos, e é tão bom que você fará também", diria a massa...
A Record passava "Guiness - O Mundo Dos Recordes". Tava mais para o "lado B" dos recordes: teve um indiano que bateu o recorde para descascar um coco com a boca e um vendedor de carros que engoliu (sem mastigar) sete salsichas em menos de um minuto. Antes da propaganda, anunciaram o recorde do bloco seguinte: um cara que catapultava geladeiras na maior altura possível. Não deu pra continuar vendo...
Na MTV tinha Beastie Boys com Root Down e eu fui obrigado a parar pra ver. Demais.
Na sequência, Wander Wildner, andando de moto por uma paisagem lisérgica-retrô e cantando uma letra simplesmente medonha. Nunca tinha ouvido Wander Wildner, e a minha primeira impressão não foi muito boa.
Depois, Shirley Manson, do Garbage. Pelo teor da música, o Garbage continua competente. Agora, essa Shirley Manson, é uma coisa...
Mais MTV, dessa vez nos comerciais:
Exibiram três propagandas, seguidas, de celular. A da Claro exibe textos "ixkritus axxim" e alardeia uma "revolução dos dedos", estimulando o uso das mensagens SMS. Consumir e escrever errado é algo assim, tão revolucionário...
A da Oi, teoricamente uma empresa jovem e moderna, investe no "retrô": as pessoas que duvidam das promoções modernas que aparecem no comercial são "regredidas" visualmente aos anos 60, cabelo "black power", roupas estampadas "tie dye" e tudo. Uma droga. A modernidade que eu esperava veio foi na sequência...
Era um quadro de animação, com um belo desenho de uma menina, andando em silêncio, pela rua. A cena era linda, artística. A menina seguiu por mais alguns segundos, cabelos ao vento, e eu achava que aquela era uma bela vinheta da MTV. Até que, no vento, vieram uns celulares e na sequência a logomarca do anunciante: era uma propaganda das... Casas Bahia.