Ah, tantas novidades, tão pouco tempo pra escrever aqui... vamos a um resumo dos dois últimos dias:

Domingo

Eram oito da manhã, hora local, quando acordei. Ainda não estou totalmente adaptado ao fuso horário e não consegui pegar mais no sono. Aproveitei pra matar a saudade de Bethania e do pessoal da minha casa, graças ao Skype e ao MSN.

Como todos os meus colegas de trabalho estavam dormindo, resolvi fazer um passeiozinho ao ar livre e andei em direção à Frenchmen's Bay, que é o "braço" do Lago Ontario logo atrás da casa onde estou.

Esta parte do lago está totalmente congelada. E, mais ou menos 600 metros à frente, haviam carros no meio do lago. Abaixo, na foto, eu estou de pé sobre o gelo da beirada.

Havia um rastro que iniciava onde eu estava e ia até bem longe no meio do gelo. Aí tomei coragem e resolvi dar uma de Jesus Cristo: "caminhar sobre as águas". Andei alguns minutos e cheguei ao meio da baía.

Os carros eram de canadenses que estavam pescando. Eles traziam uns "saca-rolhas" gigantes, usavam-os para furar o gelo (que tinha uns 40cm de espessura) e deixavam varas apoiadas em suportes. As varas tem sininhos nas pontas, de modo que quando um peixe morde, o sininho toca e os pescadores saem correndo pra tentar pegar o peixe.

Conversei um pouco com um dos pescadores, um velho banguela, com brinquinho na orelha e que arrotava sem parar. Depois voltei pra casa e fomos almoçar em Toronto.

Além do lugar onde almoçamos (chamado Red Lobster), passeamos um pouco pela cidade. Visitei a famosa loja de ofertas chamada Honest Ed's. A loja tem a fachada de um cassino e por dentro, zilhões de cartazes de musicais e filmes antigos. E mais zilhões de cartazes de preços, pintados à mão, e outros com dizeres sobre o quanto o Ed era um idiota de vender tão barato.

Por sinal, o Canadá é o país dos trocadilhos. Do lado da minha casa tem um cartaz de uma imobiliária que diz que "X-Sell". Em Toronto vi uma loja de botas chamada "Body and Sole" e, no Ed's, vi um cartaz que dizia:

Ed's got prices just like the birds - Cheap, cheap, cheap!

Quando saímos do Ed's acabei vendo, do lado do prédio, uma portinhola escondida sob um tanto de cartazes esquisitos: era uma locadora de vídeos underground. Mas MUITO underground mesmo, com todo tipo de bizarrice que você imaginar. Tanto que lá dentro a prateleira dos vídeos pornôs fica no meio dos filmes normais e tem categorias inacreditáveis, como "Sexploitation & other weirdnesses". E na porta tem um cartaz procurando atrizes jovens para estrelar em um filme que envolvia "retro roleplaying and some nudity". Medo.

Outras coisas curiosas que vi em Toronto:

Sem-teto pedindo esmola na rua
Sinal de pedestre com aviso sonoro de que está aberto
Pichações
Cartazes, daqueles baratos de papel mesmo, anunciando o lançamento do GTA San Andreas, espalhados pelos tapumes de madeira de uma construção.
(Update: Acabo de ver um comercial na TV também!)

Depois voltamos para o centro. Um colega resolveu patinar em frente ao modernoso City Hall (abaixo) e o resto da equipe foi ao Eaton Mall, que já estava fechando.

Acabei descobrindo que no Canadá, quando uma loja está fechando, ninguém vai atendê-lo, porque os atendentes não recebem hora extra. E eles são bem disciplinados quanto a isso.

À noite o fuso horário somado com a noite mal dormida acabou me fazendo ir pra cama mais cedo. Afinal, o dia seguinte ia ser um dia de trabalho: meu primeiro dia de trabalho aqui no país da folhinha vermelha.

Segunda

Eu e um dos meus housemates acabamos madrugando pra buscar outro colega no aeroporto, e depois fomos trabalhar. Acho que bati meu Personal Frio Record no estacionamento do trabalho, porque estava ventando e a sensação térmica me fez sentir algo que até então, curiosamente, eu não tinha sentido: frio.

O escritório onde estamos é um típico escritório do hemisfério norte: baias por toda parte. Até o corredorzinho da máquina de xerox e da máquina de café é exatamente igual à aqueles dos filmes. Mas o pessoal se veste bastante informalmente por lá.

Agora, o mais inacreditável foi quando entrei na sala de um gerente, pra ser apresentado, e na parede do seu escritório havia nada mais nada menos que uma reprodução, em tamanho natural, daquela pintura do Kramer que é feita num dos episódios de Seinfeld (que pode ser comprado aqui)

Eu estou embasbacado até agora.

O dia de trabalho foi bom e corrido: na hora do almoço comemos fast-food num lugar chamado Wendy's e só voltamos cedo do trabalho porque meu colega mal dormiu no vôo da noite anterior e está ali agora, capotado no sofá, enquanto escrevo essas palavras. Por sinal, não preciso procurar por nenhum colega canadense de trabalho depois das 4:30 da tarde: todos vão embora nesse horário.

Um detalhe: quem dirigiu no trajeto de volta do trabalho fui eu. Foi a primeira vez que peguei na direção aqui. O trânsito canadense é muito peculiar por uma série de coisas:

Toda conversão à direita é livre. Se você estiver num sinal vermelho e quiser virar à direita, não precisa esperar o sinal abrir.
TODO MUNDO, eu disse, TODO MUNDO dá seta quando vai virar ou mudar de faixa. Estou fascinado!!!
As highways são excelentes transportes entre as cidades. Estou trabalhando numa cidade chamada Whitby e morando em outra chamada Pickering, ambas ao leste de Toronto. Tem uns 25km entre Whitby e Pickering, mas a viagem de volta depois do trabalho leva apenas 15 minutos numa velocidade média de 120km/h. E é perfeitamente seguro dirigir nesta velocidade na auto-estrada.
A gasolina aqui é caríssima. Encher o tanque do carro custou uns 70 dólares canadenses.

Por sinal, nosso carro é alugado: um Ford Explorer supermodernoso. Ele tem câmbio automático: foi difícil conter o impulso de pisar na embreagem a cada sinal vermelho...