Esse disquinho estava no lote de 47 discos em MP3 que eu trouxe de Sete Lagoas. O normal seria eu falar brevemente do disco, como tenho feito com os outros, mas tive que fazer uma honrosa exceção para este aqui.

Porque Misery is a Butterfly é, sem sombra de dúvida, o melhor disco de 2004 até agora.

A produção é simplesmente impecável: músicas ricas, intensas, e sobretudo bem arranjadas. Violinos, violoncelos e demais cordas não são economizados. Culpa do Guy Piccioto (Fugazi), o produtor, e de Eyvind Kang, assistente de composição (o "hômi" dos arranjos).

Eu sou um grande fã de música instrumental e não ligo muito pra vocal. Mas nesse disco, o vocal... tinha TUDO pra ser extremamente irritante. Kazu Makino, a cantora nascida em Kyoto, parece uma menininha cantando, ora com doçura, ora com firmeza. Amadeo Pace, vindo de Milão para NY, beira o esganiçado nos seus agudos. Mas só beira, e por isto a voz fica única e interessante.

O equilíbrio das músicas do disco é arrepiante. Elephant Woman, faixa de abertura, menciona o "unfortunate" acidente sofrido por Kazu, que a obrigou a manter a boca amarrada por um bom tempo e atrasou a gravação do disco. Depois vem Messenger que, droga, me lembra o MSN toda hora. Piadas à parte, esta primeira participação de Amadeo nos vocais é marcada pela melancolia, mas de um jeito classudo e bonito, o que mais tarde mostra-se como a identidade deste disco.

Depois vem Melody que é, meu Deus, maravilhosa. Desde a longa e belíssima introdução (com teclados incluídos), passando pelos vocais etéreos de Kazu, até o fade out do final, Melody mostra até onde o Blonde Redhead pode ir. O clima intenso é mantido por Doll is mine e pela faixa título, que é permeada por violinos de suspense durante quase toda sua extensão. Falling man, na sequência, mostra um habilidoso Amadeo em uma catarse vocal. Aqui, a letra pedante (I am what I am / And what I am is who I am) nem é percebida no meio do elegante desenvolvimento melódico.

Segue a celeste Anticipation e depois, Maddening cloud, talvez a faixa mais fácil deste disco diferente. Magic mountain lança o disco rapidamente de volta ao mundo da sonoridade leve. Leva mesmo à "montanha mágica" da letra, simples e bonita por sinal. Depois, Pink love tem uma dobradinha vocal Kazu e Amadeo. Kazu assume a faixa final, a mais legal, Equus. Equus é Melody com a polaridade invertida: pura porrada. O refrão, forte no som, contrasta com a educação da letra:

Allow me to show you
The way which I adore you

É assim que o Blonde Redhead encerra esta obra-prima. Normalmente eu não usaria de tanto lirismo e tanta "nove hora" no português pra falar de um disco. Mas escrevi isso tudo enquanto as músicas rolavam no meu fone de ouvido, então fui um pouco influenciado. Acho que é efeito da maturidade e da riqueza do som...

Isso sim é que é um disco "fino"! Eu recomendo.

P.s.: Luiz diz que o disco perfeito do Blonde Redhead é o La Mia Vita Violenta. Mas há muito eu não ouço esse aí, depois vou até pegar pra ver de novo...
P.p.s.: Luiz, os MP3 deste disco, que você me passou, estão todos com os nomes errados... tive que reordenar/renomear todos eles.