O Primo nas eleições
E neste ano não foi diferente: me convocaram para ser mesário nas eleições municipais. Até tentei sair dessa, havia ido à minha zona eleitoral tentar jogar uma conversa no juiz mas não colou.
Esta eleição foi bastante sossegada. Até passei a manhã em casa, já que os outros pobres-coitados como eu resolveram fazer um revezamento para os trabalhos. Dos fatos dignos de mênção, ressalto estes:
>> Minha primeira providência quando cheguei: pregar, na porta da seção, o cartaz que diz: "Se você quer ser mesário, procure o TRE". Aproveitei e fiz uma seta enorme com fita crepe, apontando para o cartaz.
>> Havia uma nota do juiz na capa dos cadernos de votação. Ele ressaltava que um dos eleitores estava impedido de votar porque faleceu. E acrescentava: "Favor instruir o eleitor a comparecer ao cartório eleitoral..."
>> Ah, os eleitores. Tem os bêbados, tem os que trazem toda a família, tem os lerdos que ficam perguntando se "é aqui que eu voto", tem as velhinhas que continuam votando mesmo depois de terminar de votar (e você tem que avisar pra sair da urna porque já acabou a votação)...
Pra descarregar minhas frustrações com eles, peguei um papel e escrevi, bem grande, no topo da folha:
SUGESTÕES DE ELEITORES PARA MESÁRIOS
E mantive a folha ao meu lado, bem visível sobre a mesa, o tempo todo. Às vezes acrescentava o nome de alguém que aparentava condições de trabalhar. Normalmente meu critério era: ser jovem ou ter pinta de riquinho ou ser antipático.
>> Também abusei do sarcasmo. Às vezes encaminhava o eleitor até a urna com uma frase do tipo "pode ir lá exercer seus direitos de cidadão" ou "vá lá participar da festa da democracia". Mas o mais legal era quando chegavam pra nós perguntando "ooh, vocês estão aí o dia todo? Nossa...", e eu perguntava de volta:
- Por quê, quer ser mesário ano que vem?
- NÃO, não, não, não, não!!....
Eu me deliciava com o pânico das pessoas. Mas elas também assustam: um eleitor entrou na seção e me deu o título dele. Me virei para digitar o título e liberar a urna:
- Pronto, senhor, pode ir lá vot... ei, cadê ele?!??
E saem eu e mais dois mesários desesperados pela porta, atrás do dito cujo. Ele havia saído da seção sem avisar, para conferir o número do seu candidato na listagem que estava no corredor.
>> No meio da tarde uma das fiscais de um dos candidatos a prefeito disse que ele estava na nossa zona eleitoral, passeando. Comentei com um dos colegas mesários:
"Vai ser até bom, vou poder virar pra ele e falar: Ei, cara, eu fiquei sabendo que você foi secretário de estado antes de ser candidato, e aí, o que é que você fez na secretaria, hein?"
No exato momento em que terminei a frase, olhei para a porta da seção e lá estava ele, dando tchauzinho para nós.
>> Às cinco em ponto encerramos a votação e fomos os primeiros a fechar tudo e devolver a urna. Fiz constar, na ata da votação, que eu NÃO quero ser convocado na próxima eleição (já participei de quatro, for christ's sake). E se me convocarem de novo eu juro que não vou. Podem me processar.